domingo, 28 de fevereiro de 2010

0016

A Cesar o que é de Cesar, nada além
Assim ao proceder a cada dia
A liberdade plena se sacia
Enquanto outras tormentas sempre vêm.

O Amor que nos transforma, sabes bem
Encanta com sobeja maestria
E mesmo quando a noite se faz fria\
Palavra, o lenitivo já contém.

Não se pode servir a vários amos
Por mais que existam sim, diversos ramos
Somente o tronco à cúpula nos leva

E assim ao respeitares teu irmão
Do Pai terás decerto o Seu perdão
Deixando para trás o medo e a treva.

0015

A cólera que tanto nos maltrata
E ao mesmo tempo leva à perdição
Mostrando a plenitude de um vulcão
Na fúria que deveras arrebata

Produz a reação quase em cascata
E nela se traduz um turbilhão
Diversa magnitude a do perdão
Que até mais dura fera, ele arrebata.

Manter-se mais distante dos que tanto
Provocam e gerando o desencanto
Nos levam aos caminhos mais sombrios

Mais forte não é quem se torna fera
E sim na cautelosa e mansa espera
Decerto assim se vence os desafios.

0014

O ensinamento às vezes traz em si
Desejos que parecem conflitantes
Prazer incomparável por instantes
Diverso deste eterno que há em Ti.

Do todo que deveras aprendi
A dor que nos redime em tons brilhantes
Enquanto nos parecem torturantes
Libertam das algemas que vivi.

Poder me desnudar e ser inteiro,
De quem já me gosta, o companheiro
E amar quem me maltrata e me magoa,

Difícil caminhada? Disto eu sei,
Porém se assim se faz a Tua lei
Seara que virá tão terna e boa.

0013

Não basta conhecer só as palavras
Sozinhas qualquer vento as levará
Agir com consciência desde já
Garantirá decerto belas lavras

O Amor que não se pode mais medir
Traduz a perfeição do Meu Senhor,
E nele todo o brilho Redentor
Transformando o futuro em bom porvir.

Caminho para a Glória e a eternidade
O Pai que nos ensina a perdoar
E nisso; das algemas, libertar
O coração que Amor mais alto brade

Transforme em ação o ensinamento
Terás por recompensa eterno alento.

0012

Ouvir Tua palavra e recebê-la
Nas bênçãos de um Amor que nos liberta
A senda rumo à Glória estando aberta
Permite que se siga a bela estrela

Que um dia três reis mágicos levara
À manjedoura onde uma criança
De toda humanidade esta esperança
Sobeja em luz sublime nobre e rara

E quando necessito de Teus braços
Acolhe-me qual fosse Pai e Irmão
Destinos mais tranqüilos se farão
A quem tentar seguir difíceis passos,

Vencendo a tentação que ora me invade
Conhecerei em Ti, felicidade.

0011

Ainda que eu caminhe sobre espinhos
E veja a dor constante em cada passo,
Aumenta a cada dia mais o laço
No Pai que me permite mansos ninhos.

Meus dias Nunca foram mais sozinhos
Desde que reconheço cada traço
Do Amor inigualável e dele faço
Adega aonde guardo os nobres vinhos.

Percebo quantas vezes infeliz
Quem teima navegar em outros mares,
Por mais que se percebam naufragares

Humana criatura já desdiz
O que se mostra assim tão claramente
E vendo em Ti a Luz, o olhar desmente.

0010

Não Deixe que esta vida seja em vão
Senhor eu venho aqui humildemente
Pedir a piedade novamente
Meus olhos outros dias não verão.

Eu sei que se aproxima o fim da vida
E nisto me percebo tão venal,
Por vezes mais maligno e sensual
Uma alma com certeza já perdida,

Verdades que carrego no meu peito,
Medonhas as crateras, mil abismos,
Insólitos tremores, cataclismos
Qual besta fera; nunca satisfeito.

Mas peço-Te perdão por piedade
Somente em Ti Meu Pai toda a verdade.

0009

Senhor peço perdão por descaminhos
Que tanto freqüentei em minha vida,
A sorte noutra senda decidida
E os dias se tornando mais sozinhos

Enquanto procurara a solução
Em braços mais diversos, ritos vários
Momentos tantas vezes temerários
Levando à mais completa perdição.

E agora que percebo a Tua Voz
Ditando com palavras mais precisas
O rumo onde os pecados exorcizas
Por mais que o coração já fora atroz

Num arrependimento verdadeiro
Caminho para Ti, Pai Companheiro.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

0008

À Glória de Meu Pai eu oro e trago
No olhar enternecido esta razão
Mudando dos meus dias, direção
Vivendo a mansidão de um belo lago,

E quando dos Seus braços sinto o afago
E nele a mais superna proteção
Decerto novos sóis já me trarão
Sentido para a vida, belo e mago.

Assim eu me permito acreditar
Somente quem consegue o pleno amar
Terá visão completa em tom preciso

Da eternidade feita em paz e luz,
Sabendo conhecer Cristo Jesus
Abrindo enfim Portal do Paraíso.

0007

Caminhos que me levem ao Senhor
Traçados com ternura em luz intensa
Sabendo eternidade a recompensa
Erguendo cada altar feito em louvor

Vivendo a plenitude de um Amor
Que a cada novo dia mais compensa
E a vida se tornando menos tensa
Sabendo ter em Ti o alentador

Cordeiro que se deu em holocausto
Trazendo para uma alma a glória e o fausto,
O sofrimento ás vezes nos redime

E torna-nos deveras mais fiéis
Cumpramos, pois aqui nossos papéis
No próximo um irmão que eu tanto estime.

0006

Não creio ser possível crer no Céu
E não viver o Amor nem o Perdão,
Assim em plena Glória a negação
Deixando uma alma vaga, quase ao léu,

Nos Olhos do Meu Pai ternura e mel,
Por isso é necessária a Adoração
Trazendo com certeza a direção
E sendo ao Redentor, sempre fiel,

Assim nós poderemos ver enfim
A eternidade plena no Jardim
Distante do pecado e da serpente

E sendo Seu Amor sempre infinito
Na Salvação de uma alma eu acredito
E nela toda a Luz que enfim se sente.

0005

Senhor perdoe os erros cometidos
Por quem ao se envolver com luxo e festas
Trazendo estas imagens tão funestas
Acendendo somente as vãs libidos

Aos deuses mais profanos erigidos
Altares como Vês e sei Atestas
Deixando penetrar por tantas frestas
Demônios em desejos bem urdidos.

Mas quando percebi em Ti a glória
Um rumo bem diverso nesta história
Distante das entranhas do pecado

Seguindo sem olhar sequer pra trás
Encontro finalmente a vida e a paz,
Estando por MEU PAI, abençoado.

0004

Acende-se uma luz no fim da vida
Percebo quão difícil prosseguir
E tendo quase nada no porvir,
A sorte há muito tempo decidida.

Revejo os meus engodos, foram tantos
E neles a completa perdição,
Perdida sem sequer ter direção
Condeno-me afinal aos desencantos,

Mas quando a solidão cruel invade
Doente e sem ninguém que inda me alente
O coração ferido se faz crente
E assim reconhecendo a liberdade

Nas Mãos do Meu Senhor, que é Jesus Cristo,
Encontro a minha paz, e assim resisto.

0003

Maravilhoso encanto que Me Trazes
Ó Pai que se tomando em sacrifício
Impede o nosso eterno precipício
Mostrando quão seus filhos são capazes,

E quando os corações se tornam maus
Ausentes desta Luz que em Ti se emana,
Uma alma se volvendo enfim profana,
Tu mostras o caminho e traz as naus

Que ao perceber um porto mais seguro
Adentram a suprema Imensidão
Moldada neste Amor feito em Perdão,
Caminho pela qual a Ti procuro.

E sei que estando em Ti rompo a corrente
E libertado brado: em Deus sou crente.

0002

Durante tanto tempo procurara
Caminho mais suave que trouxesse
Além de simplesmente alguma prece
O Amor suprema jóia, bela e rara.

Depois de desventuras pela vida
Enganos tão comuns que se cometem
Hedônicas estradas arremetem
À seara há tanto envilecida;

Mas quando ouvi a VOZ do Meu Senhor
Eu pude descobrir Amor perfeito
E nele a cada dia me deleito,
Sabendo –Te, Meu Pai, o Redentor.

Perdoe pelos erros do passado,
Contigo sei que estou abençoado.

0001

Permita-me Senhor um dia calmo
Durante as mais diversas tempestades
E quando com ternura Tu me invades
Minha alma como fosse um brado, um salmo

Encontra o lenitivo que queria
Nestas adversidades corriqueiras,
No Amor encontro em paz minhas bandeiras
Motivo para a Glória em alegria.

No Teu Amor que sei incomparável,
A senda à qual me dou sem ter segredos
Deixando para trás antigos medos,
Tornando o coração, terreno arável,

E sendo Teu perdoe cada engano,
Pois reconheço em Ti meu Soberano.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

25475

Vivendo sem ternura sigo ausente
Do que se traduzira uma esperança
Apenas a mortalha que me alcança
Enquanto a vida ao largo se apresente.

Por mais que outro caminho ainda tente
Ao vago do não ser o amor me lança,
E tendo em suas mãos sede e vingança
Retrata o que se mostra enfim demente,

A vida não desmente e da navalha
Conheço cada fio e sei a dor
Morrendo a cada ausência, cada falha

Enquanto uma ilusão tosca batalha
Teimando num momento encantador,
Terror a morte aumenta e ora amealha.

25474

Em águas cristalinas concebera
Imensa placidez, porém a vida
Que tanto me maltrata decidida
Expondo tão somente a frágil cera

Aonde com terror sempre acendera
Imenso fogaréu. Não se duvida
Do quanto é necessário que decida
O passo antes que o fim acontecera.

Gerando do vazio outro vazio,
Assim a minha vida ora desfio
E mostro estas feridas quais troféus

Medalhas que eu herdei de longos anos
Momentos de terror em desenganos
Cerrando da esperança os claros véus.

25473

Jamais repetiria os mesmos erros,
E neles refazendo a minha vida
Por tanto quanto audaz, já destruída
Apenas me restando vãos desterros,

Aonde preferira mais aterros
A sorte sem sentido, corroída,
Expressa uma alma atroz, mas decaída
Alheia às cordilheiras, montes, cerros.

E sendo sempre assim, vago e vulgar,
O mundo que desejo desbravar
Expressa no final um vão imenso,

E quando neste nada ainda penso
Retenho nos meus olhos esta imagem
Que agora se percebe qual miragem.

25472

Mandando para a puta que pariu
Quem tanto se mostrara inconseqüente
Por mais que a vida às vezes violente
Eu não quero ser vil nem ser servil

E assim o quanto quis se repartiu
E neste repartir tão divergente
Do quanto desejara que aparente
O mundo preparando um novo ardil,

Nas ansiedades tolas ser ou não
Ainda se mostrara uma questão
Que tanto me incomoda vez em quando,

Mas logo que este enigma decifrara
Não vou expor ao tapa a minha cara
Tampouco noutra face me ofertando.

25471

Espúrios pensamentos dizem tanto
E deles desfiando este novelo
Medonho com certeza o pesadelo
E nele se percebe o desencanto,

Aonde se pensara em outro canto,
Diverso do que agora posso vê-lo
Não tendo mais sequer por que nem pelo
O quadro se destrói em vão quebranto,

Assisto à derrocada desta frota
E nela a minha vida já se esgota
Mostrando ser o fim a solução,

E morto para os sonhos, não pretendo
Seguir como se fora um mero adendo
Na espreita das tempestas que virão.

25469

Quão enfadonha vida se apresenta
A quem tentara a luz e não percebe
A imensa escuridão da dura sebe
Aonde se mostrara a violenta

Face desta insânia que aparenta
Momento de ternura, mas concebe
A fúria que deveras já me embebe
E dela a sorte inerte ora se ausenta.

Viver sem ter sequer noção do quanto
A vida poderia, mas enquanto
Houver alguma luz, não me sacio,

Esbarro nestas hordas do passado,
E o vento há tanto tempo desolado
Trazendo ao fim da vida imenso frio.

25470

Sistemas tão diversos se mostrando
Aonde não se vê qualquer disfarce
E nele a vida quanto mais esgarce
Puindo este momento outrora brando,

E vejo se mostrando desde quando
A corja que inundara destroçar-se
Vivendo por viver sem esforçar-se
O templo que sonhara desabando,

E meras ilusões vencendo o prazo,
Somente me restando o fim e o ocaso
Aonde se pensara em horizonte,

Acordo entre as estranhas armadilhas
E quanto mais ao longe ainda brilhas,
Maior o meu terror, maior desmonte.

25468

Estúpida quimera, esta ilusão
Aonde desmembrando cada sonho
Percebo quanto mais me decomponho
A imensa e insofismável podridão

E nela as rapineiras fartarão
Prazeres que deveras um medonho
Fantoche que ora sou já não me oponho
E morto em vida espero a solução

Que possa me acalmar e trazer luzes
Aonde se mostrando velhas urzes
A cruz que no caminho agora sela

Destino deste inútil ser insano
Às turras com seu mundo vão, profano,
Abrindo para o ocaso, última vela.

25467

Pisando nos espinhos que espalhaste
Nas sendas onde outrora fui feliz,
A vida se transforma e já desdiz
Moldando tão somente este desgaste,

Perambulando à toa, velho traste
A sorte derrotando este infeliz
Mergulho nesta imensa cicatriz
Aberta no meu peito em vil contraste

Esbarro nos cadáveres dos sonhos
E bebo sanguinário estes medonhos
Resíduos do que um dia fora vida,

A carne decomposta, o olhar ausente,
A morte em tal delícia se pressente
Há tempos desejada e agora urdida.

25466

Podando as esperanças vale imundo
Aonde em tempestades encontrei
O mundo que deveras já tentei
E nele com certeza me aprofundo

Na ausência de alegria, um vão profundo
Tomando neste instante toda a grei
E a morte que deveras procurei
De um tolo coração tão vagabundo

Esgoto minhas forças e me perco,
As dores vão fechando assim o cerco
Não restando sequer algum sorriso

Mortalha que desenho a cada dia
E nela este terror que me sacia,
Do sangue que ora bebo e mais preciso.

25465

Estremecidos passos rumo ao nada
Esgares entre risos histriônicos
Os dias se mostraram catatônicos
E a boca que desejo; envenenada

Aonde se pensara nova estada
Os dias são deveras mais irônicos
E quando se fizeram desarmônicos
Traçaram o final, plena calada.

Atocaiados botes desta quem
Enquanto a sorte amarga me provém
Arrasta-se qual serpe em luz sombria,

Assíduos espetáculos de horrores,
O céu já não possui mais brandas cores,
No fogo que satânico envolvia.

25464

Nos ávidos caminhos das rapinas
A podre chama traz\ a morte em glória
E quando se pensara merencória
A faca entre teus dedos, me alucinas

E bebo destas sortes cristalinas,
E delas percebendo uma vitória
Deixando para trás torpe memória
As noites tão vulgares e ladinas.

Anseio o fim da festa em velas, pranto,
E quando perceber fatal encanto
Deveras encontrando o meu final,

A fúria desdenhosa deste tempo,
Audaz a se entregar ao contratempo
Nos olhos desta fera tão venal.

25463

Não poderia ao menos ter notado
As ânsias de um vulgar verme que tenta
Após esta ilusão feroz, sedenta
Tornando insuportável o velho Fado

Adentro os descaminhos, tanto enfado
E morto sob o fogo violento
Aonde se pudesse estar atento,
O mundo a cada dia destroçado,

E quando nas escórias eu percebo
O amor como se fosse algum placebo
Inútil nem sequer mais remedia

E deixando os cadáveres dos sonhos,
Os dias que inda restam tão medonhos
Matando qualquer forma de utopia.

25462

A podridão em faces mais vulgares
Estraçalhando o resto de uma vida,
Ao mesmo tempo enceta outra ferida
Deixando para trás tantos lugares

Aonde se erigiram meus altares
Na senda tantas vezes destruída,
Aporto novamente e sem saída
O barco se perdendo em vastos mares,

Assíduas ilusões já não contenho
E quanto fosse audaz o vago empenho
Medonhas artimanhas da cobiça

Vergando minhas costas sob o peso
E vendo este mesquinho ser surpreso,
A sorte preparando a vã carniça.

25461

O ocaso deste sonho feito em vida
Agarrando meus pés cruel quimera,
E além do que deveras não se espera
A sorte muitas vezes corroída

Mostrando a face amarga construída
Nos ermos da emoção, terrível fera
E quando esta paisagem degenera
A face num esgar já destruída.

Amedrontados olhos nada vêm
Procuro uma esperança, mas ninguém
Somente esta vontade de morrer.

E nela bebo enfim farto veneno,
E quando com delírios eu aceno,
A podridão invade todo o ser.

25460

Não quero a luz do dia refletindo
Nos olhos o que fora sonhador
E quando vejo a imagem decompor,
E o tempo em minhas mãos já se esvaindo,

O quanto se mostrara outrora infindo
Agora transgredindo o falso amor,
Ainda se percebe sem valor
O chão que sob os pés eu sinto abrindo.

Estúpidos fantasmas me rondando,
As águias se aproximam, turvo bando
Falcões entre os abutres e as daninhas,

A morte se tornando a redenção
E nela minhas dores cessarão
Traduzem o vazio que continhas.

25459

Aborta-se a esperança a cada dia
E trago este vazio, após o quando
Deveras noutro mundo transformando
O que esta realidade fantasia

Felicidade é frágil utopia
E dela sem defesas me afastando,
Inerte poesia desmontando
Jogral que a realidade enfim desfia,

As presas em mortalha transformadas,
As ânsias muitas vezes debandadas
Angustiosamente nada resta

Senão tal gosto amargo do não ser,
E a morte se aproxima e passa a ter
Papel fundamental na insana festa.

25458

Estar sempre contigo o tempo inteiro
Morrendo a cada dia mais um tanto,
A vida se transcorre em desencanto
Cenário se mostrando o derradeiro,

A morte se aproxima e nela vejo
Além da claridade terminal,
O gozo quase insano e sensual,
Fomentando em delírio tal desejo,

Anseio este momento como fosse
Infecta maravilha à qual me empenho,
E quando percebendo o que contenho,
A sorte no passado em agridoce

Caminho se traduz em nunca ter,
Somente esta vontade de morrer.

25457

Do quanto que este sonho já venero
Em meio aos dissabores tão freqüentes
Por mais que outros caminhos inda inventes
Contigo tudo aquilo que mais quero,

O amor sendo deveras tão sincero
Permite esta alegria em que presentes
Delícias entre gozos envolventes
Traduzem o prazer onde me esmero

E vendo as luzes várias deste encanto,
Aonde se pensara noutro tanto
Refaço a cada dia outra ilusão

Temendo os descaminhos não me ausento,
O mundo solitário e tão violento,
Nos braços deste amor a redenção.

25456

O meu amor foi sempre verdadeiro
E embora muitas vezes nada fale,
Por mais que novos sonhos eu escale
O nosso com certeza é o derradeiro,

Ainda que pensasse no canteiro
Aonde outra emoção inda se instale,
Nas mãos de tanta luz, o amor embale
Dos deuses o sobejo mensageiro,

Seria muito bom se prosseguíssemos
E novos caminhares conseguíssemos
Legando o sofrimento ao vão passado,

Assim nas mãos de um deus feito menino,
Enquanto nos teus braços me fascino
Escuto deste amor mais alto brado.

25455

Por vezes eu me calo e nada mais
Traduz esta esperança tão ausente
O amor que em desamor planta a semente
Conforme muitas vezes demonstrais

Não tendo na verdade em vossas mãos,
Significado algum para quem trai,
E assim a fantasia já se esvai
Matando em nascedouro belos grãos

E frutificando o ódio ao vão se lança
Deixando para trás ética e gozo,
O quanto se demonstra pavoroso
Levando para nunca a confiança

Transforma a nossa vida neste inferno,
Aonde se quisera amor eterno.

25454

É meu jeito, querida tão somente;
Por isso não se assuste se ao voltares
Mudanças nesta casa tu notares,
O amor nos torna pleno de repente

E quando outro caminho já se invente
Moldando no prazer nossos altares
Bebendo a imensidão de vários mares
E neles toda a glória é mais premente.

Viver estas fantásticas torrentes
E nela uma ventura que pressentes
Transformações diárias e constantes,

Aonde se fizera luz sombria,
O amor com toda força se irradia
Momentos com certeza deslumbrantes.

25453

Sem ter tua presença eu perco o cais
E abandonado ao vento, não mais creio,
Exposto aos vagalhões e vendavais,
Apenas nos meus olhos o receio

De um dia em que este amor diga jamais
E nele se desmancha o belo veio
Que tanto desejara e nunca mais
Eu saberei em paz, gozo e recreio.

Vasculho nas gavetas da memória
E vejo a mesma luz tão merencória
Que um dia fora a tônica de um sonho,

E quando relembrando a imagem estúpida,
Quimera que se fora mansa e cúpida
Agora traduzindo um ar medonho.

25452

Se o rumo não encontro novamente
Depois de ter perdido a lucidez
O quanto deste sonho se desfez
Deveras traduzindo esta semente

Que antanho se fez glória e agora ausente
Não deixa que se entenda este talvez
E nele tu não queres ou não vês
O fim do nosso amor, a dor pressente.

E quando não houver mais claridade
Apenas tão somente a tempestade
Estrondos mais funestos, noite fria

Recordarás de tudo o que eu te disse,
Ainda parecendo vã tolice,
Mas que aos meus tristes se desfia.

25451

Não deixe que este sonho chegue ao fim,
Jamais aceitaria este momento
Se nele encontro paz e assim me alento
Perceba tão somente por que vim

Dizer desta esperança, um estopim
Aonde mesmo em glória me atormento,
Não abandona nunca o pensamento
Que amor seja deveras de festim.

Esqueço os meus anseios em teus braços
E deles faço sempre fortes laços
Que possam permitir a caminhada,

Sabendo que me espera um claro sol,
Guiado por teus olhos, meu farol,
Tornando a minha vida iluminada.

25450

A seca em que se fez nossa lavoura
Não deixa-se notar uma esperança
E quando esta intempérie mais avança
Um corvo crocitando nos agoura,

Espero outra impressão que possa dar
À vida uma beleza mais suave,
Na audácia do vazio já se agrave
Tomando o meu canteiro e meu pomar,

Não posso mais viver esta ilusão
Tampouco quero amenas fantasias,
E quando o meu caminho em vão desvias
Momentos mais soturnos mostrarão

O quanto se perdeu nesta colheita,
Do amor que em luzes frágeis não se deita.

25449

Talvez na irrigação encontre enfim
A solução final para a aridez
Na qual uma esperança se desfez
Tomando com furor nosso jardim

E quando vejo o mundo dentro em mim
Moldado por cruel insensatez
Escondo-me da dor e sei, talvez
Aonde quis princípio veja o fim.

Assento o meu olhar neste horizonte
Bem antes que a tempesta já desponte
Toando com terror vozes profanas,

E sinto nos teus olhos a inclemência
Do amor que se mostrando em tal ausência
Traduz o quanto ainda tu me enganas.

25447

Vencer as tempestades e quimeras
Depois das costumeiras derrocadas
Aonde se pensaram as estradas
A cada novo dia degeneras

E quando no sofrer decerto esmeras
E bebo deste etéreo e tenso nada,
A faca nos temores afiada
Refazem nos meus olhos outras eras.

Andara entre cometas, falsos astros,
A vida ao retirar de mim meus lastros
Deixando-me à mercê da própria sorte,

Naufrágios se tornando corriqueiros
Nesta aridez matando os meus canteiros,
Prenunciando enfim a minha morte.

25448

A chama que nos queima e que me doura
Transforma toda forma de poder,
Aonde se pudesse ter prazer
Mensagem mais feliz e duradoura,

Perpetuando a glória imorredoura
Do quanto se pensara sempre em ser
Além do que deveras possa ver
A vida nova luz em paz agoura

Estendo-me ao etéreo mundo aonde
A sorte se define e não se esconde,
Jogadas minhas cartas sobre a mesa,

Encontro no final desta viagem
Beleza sem igual rara paisagem
No amor que me prepara tal surpresa.

25446

Deixando renascer as primaveras
Depois destes invernos tão ferozes,
E quando se percebem torpes vozes
De velhas conhecidas, tais quimeras

Além do que talvez ainda esperas
Momentos se tornando mais atrozes,
Sequer perceberia quais algozes
Mostrando suas garras, dentes, feras.

Horripilantes fardos, dores tantas
E nelas quanto mais queres e encantas
Infundes tal pavor negando a luz

À qual a fantasia nos conduz
Qual fosse uma falena suicida
Deixando no prazer, a própria vida.

25445

Trazendo novamente os madrigais
Aonde um menestrel se permitira
A crer no amor imenso, fúria e pira
Que agora num delírio transformais,

Vencendo a dor intensa e nunca mais
Em nós ressurgiria então esta ira
Que em turva insensatez consumiria
O gozo deste encanto em manso cais,

Servindo-vos de guia, este farol
Aonde se reflete cada sol
Dourando nosso belo amanhecer,

E ter-vos sempre ao lado, sem demora,
O amor quando na paz em luz se ancora
Resume-se deveras no prazer.

25443

Eu vos amo e desejo muito mais
Que um simples e fatal momento atroz,
E quando escuto ao longe a vossa voz
Decerto noutras sendas derramais

O quanto se prepara em sensuais
Delírios, percebendo enfim em nós
O quão se fez do anseio tosco algoz
Além do que concebo e demonstrais,

Ansiava-vos em fontes radiantes
E quando vos bebesse em tais instantes
Medonho pesadelo saberia

Quem tanto se entregando ao mais profundo
Vivesse esta ilusão aonde inundo
Com gozo mais sobejo, a fantasia.

25444

Um sonho mavioso em dança e festa
Após os dissabores costumeiros,
Aonde se mostrassem mais inteiros
Delírios entre cores; mas não resta

Sequer uma alegria onde se atesta
Os sonhos tão reais e verdadeiros
Dos deuses os divinos mensageiros,
Deixando para trás noite funesta,

Assim eu poderia ver enfim
O renascer de flores no jardim,
Canteiro que cuidara com ternura,

Mas quando vejo a treva em que se faz
O passo mais dorido e tão mordaz,
Percebo que a agonia vã perdura.

25442

Nesta alucinação que a sorte empresta
Diversos os matizes percebidos,
E os dias entre fúrias e libidos
Adentram pesadelos, várias frestas,

E quando se permitem novas festas
As ânsias entre os sonhos mal vividos
Delírios disfarçados permitidos
Assentam suas luzes e tempestas,

Assisto à derrocada deste insano
Amor que se mostrara em novo plano
Diverso do que outrora se fez canto,

E morto sem qualquer explicação
Desejo novas sendas que trarão
Ao menos um resquício de um encanto.

25441

Às coisas corriqueiras e normais
Porquanto vos entrego em voz suave
Por mais que a realidade ainda entrave
Momentos que deveras transformais

Em luzes que permitam novo cais,
Enquanto a fantasia desagrave
Astuciosamente expondo a nave
Aonde muitas vezes decolais.

Vagando por espaços mais sombrios,
Os dias em terríveis desafios
Seriam para vós mais verdadeiros

E deles entre nuvens e tempestas,
O amor promete além de meras festas,
Mas vejo os dissabores costumeiros.

25440

Tua presença amada é o que me resta
Exposto às mais diversas intempéries
As dores em terríveis, longas séries
Tornando minha vida mais funesta

E toda a solidão que ainda vejo
Nos sonhos, pesadelos corriqueiros
Amores entre nuvens, mensageiros
Da insânia que domina este desejo

Arcando com tamanhas ilusões
As tantas tempestades que ora trago,
O mundo sem carinho e sem afago
Que em falsas faces sinto quando expões

Mecânicas vorazes dilaceram
As esperanças tolas que me esperam.

25439

No som desta delícia em melodia,
O amor não saberia outro momento
E quando me tomando o pensamento
Deveras tanta coisa fantasia

O velho coração sem agonia
Vivendo finalmente o manso alento
E quando outro desejo agora invento
Percebo de teus olhos a magia,

Alquímico poder que ora se emana
E toda a sorte audaz e soberana
Invade o sentimento do poeta,

Aonde novos dias mostrarão
A paz sendo decerto a solução
Além de simplesmente rumo e meta.

25438

No canto que te faço é que me guio
E sei que poderei ter a esperança
Da eterna sensação de ser criança
Etéreo mais contente desafio

Descendo esta ilusão sobejo rio
Aonde toda a glória ora se lança
Nas mãos carrego o fogo da lembrança
E toda a fantasia; em paz, desfio.

Escuto neste vento a voz do amor,
Deveras muitas vezes sedutor
Caminho pelo qual felicidade

Mostrando-se deveras já desnuda,
Enquanto a minha estrada assim transmuda,
E toda esta alegria em luz me invade.

25437

No delicado beijo da alegria
Rondando uma esperança que não vem,
O quanto a minha vida segue aquém
Do todo que deveras quero e guia

O amor não sendo apenas utopia
Em si toda a verdade já contém
E dela novamente sou refém
Nas ânsias desta imensa fantasia

Aonde poderia ter a sorte
Do encanto que deveras me conforte
Mudando a direção de cada passo,

E sendo sem limites, a emoção
Caminhos mais pacíficos trarão
As ilusões que em luzes várias traço.

25436

No mundo bem mais justo em que me fio,
Encontraria a sorte benfazeja
Além de uma justiça se deseja
A caridade em glória; um desafio

Mudando o caminhar em que desfio
Os dias mais atrozes, que assim seja
Felicidade plena que se almeja
Deixando para traz o imenso frio

No qual se desenhara cada instante
Vivido sem a luz que deslumbrante
Permite ao caminheiro uma esperança

Utópica e insensata fantasia
Produto de um poeta e a poesia
Que aos mais diversos rumos já se lança.

25435

Vaidosas emoções amor desfila
E traz a cada passo outra esperança
Promessa de delírios na lembrança
Que tanto me seduz e ora perfila

Momentos onde a vida demonstrara
Felicidade extrema em farta paz,
E quanto mais feliz o amor nos traz
Caminho feito em glória imensa e clara,

Andejas ilusões, mares profundos,
Sincrônicos andares, noites belas,
E quando novos rumos me revelas
Encontro nos teus braços raros mundos

E neles eu desfio esta emoção
Qual fora um belo sol, pleno verão.

25434

O néctar dos desejos, dos amores
Bebido em tua boca neste instante
Tornando este momento deslumbrante
Um colibri sedento encontra as flores

Em luzes divinais e multicores
Matizes deste sonho que agigante
Um mundo já deveras fascinante
Sem medo e sem algias, sem rancores.

Audaciosamente invado a noite
E tendo esta emoção que agora acoite
Os sentimentos vários que carrego,

Ouvindo a voz do mar que se repete
Enquanto a maravilha já reflete
Um mundo feito em luz ao qual me entrego.

25433

Sentindo o teu perfume que se exala
Tomando neste instante a casa inteira,
Revendo cena bela e costumeira
Revejo-te deitada em minha sala,

Enquanto esta emoção deveras cala
O coração dos sonhos já se inteira
E sente esta ternura mensageira
Do dia mais feliz em rara gala,

Refaço a caminhada aonde um dia
Vestindo esta ilusão que se recria
No aroma que recende ao farto amor

Eu tenho nos meus olhos esta imagem
Fantástica beleza qual miragem
De toda uma alegria, refletor.

25432

Vivendo deste sol, diversas flores
Que tornam meu canteiro mais bonito,
E quando se transporta ao infinito
Seguindo descaminhos onde fores

Bebendo a fantasia dos albores,
Fazendo da esperança quase um mito,
O outrora sentimento mais aflito
Agora se permite em novas cores,

Receba com carinho tal mensagem
E dela percebendo esta paisagem
Na qual insiro amor, fato incisivo,

Saber das dissonâncias da ilusão
O encanto mesmo sendo temporão
É dele e tão somente que inda vivo.

25431

Qual fora em minhas mãos a borboleta
Esvaecendo em luzes tão profusas,
Enquanto minhas noites são confusas
E ao devaneio o sonho me arremeta,

A vida se mostrando qual cometa,
Em ondas tão diversas quando me usas
E sei que sendo teu, o quanto abusas
Um erro costumeiro que acometa

Quem tanto se tornando assim amada,
Já sabe desfiar cada segundo
E quando nos teus braços me aprofundo,

Aos poucos emergindo noutra estrada
Revoas e levando assim contigo
O amor que me condena ao desabrigo.

25430

Vivem nestas sombras mais atrozes
Diversas criaturas e percebo
Que quanto mais audaz mundo concebo
Escuto do passado torpes vozes,

Momentos de prazer? Meros algozes
Diversa fantasia em que me embebo
O amor jamais passou de algum placebo
Em meio aos desvarios mais ferozes,

Saber das desventuras que virão
Nas sendas tão obscuras da paixão
Invado descaminhos e me perco

Nas ânsias onde outrora imaginara
A luz mais deslumbrante, imensa e rara
Diversa deste escuro em tosco cerco.

25429

Bebendo deste mel farto que dás
Transcendo ao próprio sonho, vivo além
E quando os temporais ferozes vêm
Encontro em teu recanto tanta paz,

Outrora a vida fora tão mordaz,
E sei que muitas vezes sem ninguém
Sabendo o sofrimento que contém
A ausência de um querer, mesmo fugaz,

Mereceria ao menos um momento
Poeira devagar tomando assento
Vontade saciada em doce mel,

Contigo desvendando tais segredos,
Deixando no passado velhos medos,
Alcanço mesmo em solo, o imenso céu.

25428

Sequioso de teus lábios não me canso
De crer ser mais possível ter nas mãos
Momentos decisivos sem os nãos
Tornando o meu caminho bem mais manso,

E quando outros delírios eu alcanço
Percebo ter deixando imensos vãos
E neles sepultado belos grãos
Agora se aflorando em tal remanso,

Um sonhador se mostra mais capaz
E quando o sonho invade e satisfaz
Realidade muda o nosso fado,

É como se pudesse não dormir
Vivendo sem temor e prosseguir,
Continuo a sonhar, mas acordado.

25427

Junto ao seio de quem desejo agora
E sei que também quer mesmo desejo,
Um dia mais feliz inda prevejo
No quanto deste amor que nos devora,

E quando a fantasia se assenhora
E toma este cenário em azulejo,
O amor deveras belo e mais sobejo
Já sabe que não tem segredo ou hora,

E ancora-se deveras nos meus braços,
Depois de tantos dias tristes lassos
Os passos permitiram a chegada

À glória onde este gozo propicia
Além de simplesmente uma alegria,
Belíssima fulgor tomando a estrada.

25426

Uma bela visão que me domina
Enfeitiçando o olhar e o pensamento,
O encanto que no encanto eu incremento
Transforma esta emoção em rica mina,

E vendo esta beleza cristalina
E nela me lançando, sinto o alento
Que tantas vezes quero, sempre tento,
E sei que a cada dia mais fascina,

Expondo em cada verso esta emoção
Eu sei que novos dias me trarão
A redentora paz que necessito,

Outrora muitas vezes mais aflito
Buscando qualquer porto, ancoradouro,
Agora em raios fartos eu me douro.

25425

Se abrindo sobre nós a lua plena
Tocando nossos corpos com seu brilho,
E quando em tal delírio maravilho
Caminho que decerto me serena

Cigana fantasia diz da amena
Beleza sobre a qual ainda trilho
Vagando pelo espaço, um andarilho,
Que à própria solidão já se condena,

Vestindo a claridade prateada
Da rara deusa nua, tão amada,
Vencendo os meus momentos de terror,

Eu sei que finalmente encontraria
Nos braços da mulher a estrela guia
Levando aos descaminhos deste amor.

25424

Pudesse adormecer ao lado teu
E ter as mesmas luzes que ora emanas,
Manhãs deveras raras, soberanas
Deixando para trás a treva e o breu,

O amor que neste amor tanto se deu
Por mais que se pensassem tão profanas
Loucuras onde a dor em paz enganas
Vivendo sem temor o que escolheu

Caminho redentor em plena glória
Aonde se traduz sem ter vanglória
A imensidão soberba do amanhã

Envolto em claridade e perfeição
Tramando estas belezas que virão
Negar melancolia tão malsã.

25423

As ondas derramando sobre a areia
Diversos caracóis, conchas e estrelas,
Vontade de poder enfim contê-las
Nas ânsias deste encanto, uma sereia

Que tanto me conquista e me incendeia,
Nas doces ilusões, poder vivê-las
E quando tais delícias percebê-las
O amor vai penetrando em cada veia,

E assim inebriado sonhador,
Num canto que se faz transformador
Adentra as emoções claras, sutis,

E pode finalmente em mansa voz,
Deixando para trás o medo atroz
Dizer-se neste instante mais feliz.

25422

Sonhara com enlevos e ternuras
Mudando a direção dos turvos dias
Além do que sobejas fantasias
As sendas mais felizes que procuras,

E quando na verdade mais querias
Momentos de prazer, mortas torturas
Deixando no passado as amarguras
E as noites sem ninguém, deveras frias,

Assisto ao caminhar de quem desejo
E nele a cada passo outro lampejo
Da luz que se irradia deste olhar,

Sonhando com teus beijos e carinhos,
Os passos que darei jamais sozinhos,
E um novo mundo agora, desvendar.

25421

Amor ao recender aos sonhos tantos
E neles traduzir o que se quer
Aonde uma esperança traz encantos
Desejos delicados da mulher

À qual se permitindo claros mantos
Transcende ao próprio amor e se puder
Traduz com elegância velhos cantos
Beleza que jamais se fez qualquer,

Argúcia em voz macia, conquistando
Deveras um caminho bem mais brando
E tudo se transforma e me serena

Na força incontestável deste fogo
Aonde muito além do simples rogo,
Quem vence traz palavra mais amena.

25419

Meus pés enfrentam tantos pedregulhos
E sei que na verdade não teria
A paz que muitas vezes a alegria
Demonstra com paixão, raros orgulhos

Nas ânsias dos desejos, os mergulhos
Nesta água mesmo turva, atroz e fria,
A sorte se lançando mostraria
O encanto de sereias e marulhos,

Extraviando barcos, perco o cais,
E quanto se procura por venais
Caminhos que deveras desconheço,

Não posso sonegar esta querência,
E quando se aproxima da demência
A vida se lançando sem tropeço.

25420

Aragens tão diversas vida e morte,
Ausência do querer e ter comigo
O amor que se mostrasse mais amigo
E a paz num raro enlevo que conforte,

Por mais que tantas vezes seja forte
Vencer os dissabores não consigo
E mesmo quando envolto em vão perigo
Não tenho nem pressinto melhor sorte.

Amar e ter apenas o vazio
Resposta costumeira, desafio
Ao qual já não consigo responder,

Apenas o silêncio me transporta
Além deste momento em que a comporta
Fechada não permite se escorrer.

25418

Pisando nas entranhas deste sonho
Audaciosamente nada temo,
E quando novamente aqui me algemo
Pensando num instante mais medonho,

A força que perdera recomponho
E vivo a liberdade, encontro o remo
Navego contra as ondas, medos cremo
Aos demos de minha alma, já me oponho

E contrapondo assim cada momento
Por mais que o prosseguir se mostre lento
Atento nada perco, nem desfaço

Os passos rumo à luz que ora nos guia,
Vibrando nesta mesma sintonia
Jamais demonstrarei qualquer cansaço.

25417

Vontade remodela esta quimera
Que outrora infernizara a minha vida,
Aonde se perpetra a despedida
O amor sonegaria a primavera,

E quanto mais se quer, deseja e espera
A história noutra cena ressurgida
A poesia invade a fria ermida
E com calor e paz já nos tempera,

Vestindo de emoção tal frialdade
Bem antes que esta sanha se degrade
Vencer os vários medos, prosseguir

Sabendo deste sol a clarear,
E o dia que deveras vai mostrar
O redentor refúgio no porvir.

25416

A mente clareada pelo sonho
Que tantas vezes traz felicidade
E mesmo em outro rumo rompe a grade
E traz este Eldorado que componho

Usando deste barco aonde ponho
A luz que me permita a liberdade
Alçando a imensidão que tanto agrade
Tornando o meu caminho mais risonho,

Perpetuando a voz de uma esperança
Que contra vendavais, peleja e avança
Tornados e tempestas desconhece,

Nas mãos este timão que nos transporta
Abrindo com certeza qualquer porta,
Nas teias deste amor que a vida tece.

25415

Se não houvesse mais a claridade
Que tanto nos impele e propicia
Caminho pelo qual a fantasia
Deveras nos encontra e quando invade

Por mais que tolha cedo a liberdade
Expressa esta emoção em raro dia,
Ouvindo estes acordes, melodia
Entranha dentro da alma; ansiedade.

Vestindo a transparência de quem ama,
Mantendo bem distante medo e drama
Seguindo em direção ao raro sol

Que a noite em lua imensa anunciara
Numa manhã brilhosa, mansa e clara
O amor vai dominando este arrebol.

25414

À fantasia tanta glória e luz
Bastante que deveras a permita
Enquanto tão fugaz; louca e bonita
Ao mesmo tempo dói e nos seduz,

Ansiosamente exposto em raros nus
O sonho aonde a sorte em vão palpita
Trazendo em suas sanhas a pepita
Que quando lapidada reproduz

Diamantino gozo da esperança
À qual a nossa vida já se lança
Após tantos tormentos, desvario.

E quando percebendo ao meu alcance,
Enquanto no vazio já se lance
O amor em luzes fartas eu recrio.

25413

Minha vontade expressa em poesia
Traduz novos anseios que bem sei
Deveras modificam cada lei
Aonde uma ilusão atroz se guia

Mergulho no silêncio e na ardentia
O fogo dominando toda a grei,
Além do pensara, imaginei
A vida que em belezas ressurgia,

Retrato de um amor que se desnuda
Uma alma outrora amarga e quase muda
Ao se envolver em luz, deveras tanta,

Renasce e neste instante se percebe
A claridade intensa desta sebe
E esta alma, antes calada, agora canta.

25412

Amor movendo os astros nos traria
Além de simples cores, belos raios,
A lua se espraiando e em seus desmaios
Deitando sobre o mar: alegoria,

E quando se percebe tal beleza
A vida refletindo imensidão,
Momentos mais felizes mostrarão
Ao fim do caminhar, farta grandeza

E quando me percebo em fina areia,
Tocado pelas ondas sob a lua
Uma alma em transparência continua
E enquanto em maravilhas se incendeia.

Volvendo o grande amor que um dia eu quis
Eu posso finalmente ser feliz.

25411

Em toda esta leveza que eu queria
Apenas encontrei mais dissabores
Aonde se pudesse sem rancores
Viver com emoção tal alegria,

Minha Alma noutro rumo seguiria
Tocada pelos raios dos albores
Seguindo cada passo aonde fores
No amor que tantas vezes me inebria.

Sentir o teu perfume e ser teu par
Sabendo desde sempre onde encontrar
Os rastros que deixaste pelo chão,

Na espreita de um momento mais feliz,
Provando deste entanto quero o bis
Que enfim raros prazeres nos trarão.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

25410

O mundo que entranhamos feito em luz
Ao grande amor recende e nos permite
Viver além do quanto se limite
A intensidade audaz que reproduz

Intensamente a força deste sonho
No qual me abandonando sou feliz,
E mesmo quando a vida contradiz,
Um novo amanhecer quero e componho,

Vencendo os meus terríveis dissabores
Alçando Paraíso imaginável,
O amor quando demais, inevitável
Colheita de sobejas, raras flores,

Inusitado sol que ora nos banha,
Erguendo-se por sobre esta montanha.

25409

Quisera podre crer no amor humano,
Seria então decerto um novo dia,
Mas quando a realidade propicia
Um ar bem mais cruel quase profano,

Percebo bem mais forte cada engano
Aonde se pensara em alforria,
Escravidão refeita na alquimia
Deste poder soberbo e desumano

Prostituindo enfim este Cordeiro,
Que agora simboliza algum dinheiro
Vendido como fosse um milagreiro,

Amigo, dos meus sonhos Companheiro,
Que em vida fora simples carpinteiro
Do AMOR MAIOR EXEMPLO, O VERDADEIRO.

25408

Perceba o quanto Deus se fez amor
E nisto simplesmente a realidade
Falando com total sinceridade
Aí reside todo o meu louvor,

Não quero nem preciso de pastor
Que leve para a falsa eternidade
Ganhando com poder, notoriedade
Achando-se deveras o Senhor,

Eu necessito, amigo e nisto insisto
Somente deste AMOR QUE TROUXE CRISTO
Acima de qualquer espúria IGREJA,

Pois dele é que se tem pleno perdão,
E DELE A COMPLETA REDENÇÃO
Que para o Eterno Amor, deveras seja.

25406

Terrível fedentina toma a rua
E ganhando os altares vem de chofre
Recendendo deveras ao enxofre
Que assim em pleno culto continua,

Perfumando deveras já se exala
Da face de um pastor tão exaltado,
No rabo do capeta em vão pisado
Tomando já de assalto a velha sala,

O quadro se repete todo dia
Depois é só correr a sacolinha
Socorre quem não tem e nunca tinha
Ao encher uma pança outra esvazia,

E Cristo numa cruz mui bem pregado
Olhando para a cena desolado.

25407

Não faça do teu voto algum penico,
Depois quem come a merda; amigo és tu,
Cocô assim assado, frito ou cru
Cobrando bem mais caro qualquer mico.

Político é safado? Mas retrata
A cara deste otário, do eleitor,
E seja da maneira como for
Da própria sociedade fina nata,

Mamata atrai mamata e a burguesia
Mantendo no poder essa cambada
O nome já diz tudo de putada
É prole que outra prole já recria,

E assim de pai pra filho, filho e neto,
Procriando esta praga, qual inseto.

25405

Antigas cortesãs e lupanares
Agora aposentadas, na mesmice
Se vê a realidade em que se disse
Usando para tal novos altares,

E quando perceberes e notares
Aonde chegará tanta crendice
A humanidade bebe esta tolice
Vendida em gritarias ou esgares.

Profetas transformando o pobre Cristo
Nesta mercadoria bem falsificada
Inextirpável mesmo o podre cisto

E drenar este abscesso é necessário,
Mas quando se percebe esta cambada
Gulosa qualquer passo é temerário.

25404

O amor que se traduz em Jeová
Depois de ter criado a humanidade
Jamais se percebeu saciedade,
E assim ainda agora, ontem e já.

Decerto novamente tomará
Por mais que uma verdade desagrade
À força o tal poder da sociedade
No inferno a cada dia mostrará

A garra desta fera insaciável
Movida pela fome de poder,
Tornando o ar assim irrespirável

E mesmo que inda tenha que morrer,
Num suicídio estúpido e venal,
E à plebe futebol e carnaval.

25403

Na arquitetura vária do universo
Perfeita sincronia se percebe,
E quanto à realidade, a velha plebe
Concebo num buraco sempre imerso

O sonho de igualdade; não converso,
Pois sei que o rico o sangue quando bebe
Não se sacia nunca e ainda recebe
As graças de um terror jamais disperso,

Pagando os seus pecados numa Igreja,
Maldito para sempre que assim seja
O abutre insaciável, este burguês,

Que enquanto esfacela uma esperança
Aos rumos mais insólitos se lança
Mantendo esta soberba em altivez.

25402

Como uma roda gera eternamente
O mesmo movimento, a rotação
Da Terra numa tal demonstração
Que outrora se pensara diferente

Assim noutro momento outra visão
Diversa da real tomando a mente
De quem tendo nas mãos o onipotente
Poder feito qual Santa Inquisição

Ardentes as fogueiras do passado
Ainda no presente demonstrado
Esta falácia tosca dita Igreja

Que em trevas mergulhou a humanidade
E nunca se percebe saciedade,
Ainda sem respaldo, vã, troveja.

25401

Aonde houvera luz se fez sombria
Terrível madrugada em solidão,
Aonde houvera outrora algum verão
Apenas noite imensa, amarga e fria

E muito aquém do quanto se pedia
Vazio aonde houvera multidão,
Os dias no futuro mostrarão
O quanto a cada tempo se esvaia

Do todo feito em brumas, tão somente
O nunca mais deveras se apresente
Tornando este cenário tão escuro,

E quando imaginara, de repente,
Um mundo mais feliz a sorte ausente
Da luz que insanamente em vão procuro.

25400

Ao tremular as folhas, vento atroz
Trazendo novidades mais espúrias
Exposto aos vendavais, terríveis fúrias
Não quero nem ouvir da sorte a voz,

A fera se escondendo em todos nós
Não ouve nem sequer dores, lamúrias
Professa com certeza vis incúrias
E traz no olhar soberbo um ar feroz.

Astuciosamente atocaiada
Depois de ver a presa destroçada
Gargalha-se esta hiena dita amor,

Ferrenhos companheiros de desgraça
Os sonhos desfilando em plena praça
Fazendo da mortalha seu andor.

25399

Lábios desejosos deste pus
Abscessos que deveras não rasgaste,
E quando se percebe este contraste
Ao qual decerto tanto já me opus

Percebo que afinal, faltando a luz,
A sorte se perdendo como um traste
Diversa do que tanto propalaste
Vivendo tão somente inferno e cruz.

Perenes abandonos, noites vãs
Aonde se pensara nas manhãs
Eterna madrugada em tom sombrio,

E quando se percorre outra alameda
Por mais que uma esperança se conceda,
Condenas ao terrível, ledo frio.

25398

De todos os rochedos e penhascos
Aonde se arrebenta o velho mar,
Apenas poderia decifrar
Momentos entre turvos, débeis ascos,

E sabes que deveras nestes frascos
O veneno entre o sangue a se banhar
A face desdenhosa a provocar
Sabendo desde já velhos fiascos,

Amargas com teus risos os meus dias,
E sinto em tuas mãos as rebeldias
Que outrora me trouxeram seduções

Nefastas armadilhas que ora expões
E nelas com tenazes homicidas
Demonstras tuas faces distorcidas.

25397

Trovoas em terríveis temporais
Deixando a placidez sempre de lado,
E quando se percebe derrotado
Caminho que deveras trouxe um cais,

Bebendo dos esgotos queres mais
Que um simples corpo nu e ensangüentado,
Cadáver insepulto vislumbrando
Exposto à torpe fúria dos chacais,

Apenas te servindo de regalo,
Olhando tal cenário nada falo
E sigo meu caminho simplesmente

A fera te domina e te transtorna,
Destroço de esperança que te adorna,
Um fétido destino se pressente.

25396

Outrora entre insensatas maravilhas
Vencemos insolentes desafios,
Agora quanto mais extensos fios
Diversa senda estúpida já trilhas

E mesmo que inda fossemos quais ilhas
Os deuses em soberbos desvarios
Levando para além mares e rios
Gerando a cada passo as armadilhas

Das quais não poderíamos fugir
Sem ter sequer no olhar qualquer porvir
Nosso horizonte em névoas se perdendo,

Felicidade um sonho tão distante,
E quando se pensara deslumbrante
O dia se nublando, anoitecendo.

25394

Brindando à morte em taças de cristal,
Esboço a reação que tu querias,
E as noites embalando as agonias
Num torpe desmedido ritual,

Olhar deveras tolo e sensual,
Que tanto vez em quando enaltecias,
Deveras com certeza não sabias
Do quanto parecia tão boçal

E agora com sarcasmos imbecis,
O todo que se foi se contradiz
Rasgando a velha roupa já puída,

Assim ao perceber este naufrágio
A dor volve cobrando com seu ágio
Esfacelando assim a rota vida.

25395

Amando o temporal que nos destroça
E tendo sob os olhos no horizonte
A morte que insensata já desponte
Fazendo da ilusão medonha troça,

As farpas entre os dardos atirados
Venenos desta vil zarabatana
Enquanto a realidade desengana,
Os dias entre nuvens traçam fados

Medonhos e talvez neles perceba
Um rastro de ilusão ainda viva,
E quanto mais a história sobreviva
Na multiplicação da espúria ameba

A sorte se desenha em luz sombria
Enquanto sortilégios vãos, desfia.

25393

Retratos do que fomos, as carrancas
Vagando pelo rio em noite escura
Na ausência de beleza, a dor perdura,
E apenas sofrimentos vis arrancas,

E quando se percebe frágeis laços
Que uniram sentimentos tão diversos,
Somente restarão então meus versos,
E neles os meus olhos, tristes, lassos,

Num enfadonho canto, a ladainha
Que tanto repetiste vida afora,
E sabes muito bem o quanto agora,
Uma esperança viva é tão daninha,

Não deixe qualquer rastro nesta sala,
Minha alma empedernida já se cala.

25391

Como outrora nos cantos a euforia
De quem se fez eterno sonhador,
Agora ao perceber já murcha a flor,
O quanto desejava se perdia

Nas ânsias mais vorazes, percebia
Que embora fosse um tolo trovador,
Envolto em armadilhas de um amor
Além do que deveras concebia

Cedendo às tentações inda reluta,
Mas sabe quanto a vida se faz bruta
E traz depois da luz a escuridão,

Perpetuando o sonho em seus poemas,
Atando o seu futuro às tais algemas,
Seus olhos alegrias não verão.

25392

Cantando o nada ter seguindo em frente
Destroços que recolho dos meus passos
E neles novos dias, velhos traços
O quanto se queria diferente

No fundo não se sabe nem se sente
Sequer nestes momentos bem mais lassos,
Os gozos entre dores e cansaços
Medonhas ilusões, pobre demente,

Arrisco-me e sabendo desta queda,
Pagando com a mesma vã moeda
A dor que me trouxeste como brinde,

Sem ter qualquer beleza que deslinde
A vida se perdendo em turbilhões
Aos quais os meus caminhos logo expões.

25390

Bebendo as amarguras que trouxeste
Em noites tão vazias, solidão,
Os dias que virão nos mostrarão
Aquém do que sonhara e que se ateste,

Ao menos ser feliz eu poderia
Se tudo não passasse deste nada,
Uma alma ao sofrimento destinada,
Já sabe que sonhar, dura utopia

A cada tempo trama outra falácia
E nela me conduz á luz espúria,
E aonde se fizesse tal incúria
Não posso ter sequer qualquer audácia,

Vencido pela tosca insensatez
O mundo que eu sonhara se desfez…

25389

Num abraço divino vejo a terra
Exposta à bela lua que se dá
E nela a fantasia mostrará
Beleza sem igual que ora se encerra

Na placidez sobeja que desterra
Qualquer tristeza ou dor e desde já
O dia novamente brilhará
Mudando esta paisagem: dor e guerra,

Assim nesta mutável realidade
O amor quando demais já nos invade
E não deixa sequer alguma chance

Aos tantos insucessos, solidão,
E noites de luar nos mostrarão
Eternidade em luz ao nosso alcance.

25387

Qual fora forte cedro, algum carvalho
Cipreste que deveras se mostrasse
Deixando no passado um vão impasse,
Nas horas em que amor, quero e batalho,

Enfrento o pedregulho e neste atalho
Por mais que outro caminho a vida trace,
Adentro sem temor, mostrando a face
Jamais cedendo ao corte, à faca e ao talho.

Mesquinharias lego ao triste olvido,
E sigo com vigor e decidido
Vencendo os desafetos e vinganças,

Enquanto neste olhar tranqüilo e firme,
A sorte a cada dia se confirme,
Comigo em meio às trevas vais, avanças.

25388

Findando a tormenta aonde havia
Perdido as esperanças, recupero
O dia após um dia duro e fero,
Renasce pouco a pouco a fantasia,

Uma alma delicada se extasia
E sabe muito além do que inda espero
O tempo aonde o sonho regenero
E nele se bebendo esta alegria

Percebo quão divina a vida trama
O sonho mais voraz que a própria chama
Eternizando o gozo de um instante

Defronte aos meus antigos desafetos,
Sensatos caminhares mais corretos
Levando a um novo tempo deslumbrante.

25386

Como se fora algum nobre concerto
Em vozes afinadas, instrumentos
Trazendo aos meus ouvidos sentimentos,
Diverso do terror que ora deserto,

Caminho pelo encanto descoberto
Encontro nos teus olhos meus alentos
E bebo a fantasia destes ventos,
O peito sem defesas segue aberto

E quanto mais te escuto mais me embrenho
Na cândida emoção em raro empenho
Vislumbrando o futuro mais tranqüilo,

E tudo o que se fora angustia e medo,
Agora em plenitude já concedo
Enquanto a paz imensa ora destilo.

25385

No palpitar dos sonhos, entranhado
Vivenciando o gozo quase incrível
Aonde se pensara um invencível
Caminho a ser devera desbravado

Agora que percebo-me ao teu lado,
Não tendo mais temor sinto plausível
O quanto desejara imperecível
Momento com denodo desfrutado,

Escuto a voz que outrora fora um canto
E nela me refaço em puro encanto
Perenizando em vida um sonho audaz,

Que tanto desejara e ora desnudo
Com fé, viva esperança eu não me iludo,
Mas sei o quanto em brilho satisfaz.

25384

Uma alma de poeta bebe o sonho
Aonde se imagina mansidão
Deveras novas luzes me trarão
Além do que em poesia ora componho,

Servindo como tela este risonho
Caminho aonde glórias mostrarão
A sorte de viver tal emoção
Aonde cada dia eu recomponho,

Vivendo a plenitude de poder
Saber da maravilha do nascer
De um sol que se irradia pela Terra

E nesta imensidão já traduzir
O sonho de um melhor, belo porvir
Que a cada novo dia se descerra.

25383

No sonho cantarei glórias a quem
Nos deu tanta fartura e se fez Pai
E enquanto a noite chega e a tarde cai
Beleza multicor o céu contém

Vislumbro nesta lua que ora vem
Um raio tão fantástico que atrai
O olhar deste poeta onde se esvai
A dor de se saber já sem ninguém.

E quando me envolvendo em tantas luzes,
Deixando no passado, abrolhos e urzes
Permito acreditar no amanhecer

Raiando com soberbo e belo sol
Tomando totalmente este arrebol
E nele ao Grande Deus, agradecer.

25382

O mar tocando a areia com ternura
Esfuma-se em beleza sem igual,
Assim ao refazer tal ritual
A vida se refaz e já perdura

Tocada pelas mãos desta candura
Que é feita em água, sol, mares e sal
Sobeja maravilha que ancestral
Na enfática deidade se emoldura.

Assisto a tal paisagem e me proponho
Além de simplesmente um mero sonho
Viver a eternidade deste instante

Que tanto procurara a vida inteira,
Da glória feita em luzes mensageira
Deveras divinal e deslumbrante.

25381

Quando finda a tormenta que me assola
E transformada em paz tal rebeldia,
Nascendo finalmente um claro dia
A glória perfilando nova escola

Aonde se pudesse ter nas mãos
A sorte benfazeja e desejada,
Depois de ter vivido esta alvorada
Momentos do passado sendo vãos,

Encontro a paz que tanto perseguira
E nela a claridade feita em festa,
Adentrando do amor sobeja fresta
Mantendo sempre acesa a intensa pira

Que tanto representa este laurel
Trazendo para a Terra o imenso céu.

25379

Andais em tal soberba, disfarçada
Vencendo os vossos medos, mas também
Enquanto as noites frias inda vêm
Uma alma se demonstra tão gelada

Que leva do não ser ao pleno nada
E se isto com certeza vos convêm
Eu não posso apostar mais um vintém
Na senda pouco a pouco desgraçada,

Salgando este riacho aonde um dia
A vida se mostrara menos fria
Entendo-vos, porém jamais aceito

Os ermos que me dais; cruel herança
E quanto mais além o passo avança
O amor perde bem mais que simples pleito.

25380

Nos sonhos cantarás as melodias
Que tantas vezes ouço em noite branda
A lua se espraiando na varanda
Aonde com prazeres sonhares crias,

Derramas sutilmente as alegrias
E danço como fosse uma ciranda
Realidade tola em vã demanda
Diversa da ilusão que ora porfias

Escravizando uma alma onde se vê
A luz que não pergunta se há por que
Apenas se algemando na paixão

Esgota qualquer força libertária,
E sabe muito bem quão grã e vária
A glória que outros dias nos trarão.

25378

Na grã vontade exposta em vossos olhos
Arpôo meus sentimentos mais vorazes,
E quando se demonstra em toscas fases
Apenas colherei urzes e abrolhos,

Orgásticas e insanas sensações
Diversas das que outrora não sentira,
Ainda posso crer acesa a pira
E sei que novos dias e verões

Virão para tornar bem aquecida
A história renegada desde quando
O amor em novas luzes se mostrando
Matara o ressurgir de alguma vida

Expresso o que sincera renegais
E sei que não vos tenho nunca mais.

25377

Mui alheio ao desmembrar de tal história
Aonde se mostrara ultimamente
Aquém do que se quer e se pressente
Apenas os resquícios da vanglória

E nela esta verdade peremptória
Tomando já de assalto minha mente
E quando em vós a luz se torna ausente
O amor se trancafia na memória.

Adentrais tais masmorras do sentir
E crer após o nada no porvir
Tarefa à qual não posso me entregar,

Servindo-vos deveras poderia
Criar ou navegar na fantasia,
Mas como se roubardes céu e mar?

25376

Alheio aos vossos dias em quimeras
Terríveis pesadelos, noite adentro,
No quanto ser feliz já me concentro
Teimando em ressurgidas primaveras,

Ser-vos-ei fiel enquanto houver
A luz que ora nos guia e que permite
Olhar novo horizonte no limite
Além do que este sonho propuser

E por amar-vos tanto é que me entranho
Em sendas tão confusas e diversas,
Por mais que escutais; vãs, tolas conversas
Refaço este caminho desde antanho

E vivo como fosse etérea luz
Que espelho distorcido reproduz.

25375

Em vós percebo agora ser presente
A condição terrível em que se expõe
O mundo que deveras não se opõe
Por mais que nova face se aparente

Argutos passos sendo-vos constantes
Não deixam que se espreite o bote enfim,
E quando se percebe está no fim,
Diverso do que vira, até bem antes.

Ser-vos-ia melhor ter outra face
E dela ao comprazer-se uma esperança
Que ao vago do infinito ora se lança
Por mais que o dia a dia nos embace,

Destino que se faz escorpiônico
Num suicídio lento e quase hedônico.

25374

Percebo em vós diversa senhoria
E dela ao alcançardes vossos rumos
Encontro-vos exposta ao vários fumos
Lapido em vós soberba pedraria,

Minha alma em vos servir se comprazia
Mantendo do passado seus aprumos,
Bebendo da ilusão, sobejos sumos
Enquanto no vagar, futuro espia

E vê que nada além do que deveras
Exposto sob o olhar das frias feras
Servindo-vos agora como um cais,

Que aos poucos, com soberba destroçardes
E a vida sem sequer medos e alardes,
Aos poucos com tal fúria devorais.

25372

Na limpidez das águas cristalinas
Riachos desaguando em grandes rios
Imensas correntezas, desafios,
Aonde certamente te alucinas,

E quando te embebendo em mansas minas
Deixando no passado os desvarios
Os faunos entre ninfas, rodopios
Futuro mais audaz, tu determinas

E sabes fontes raras de beleza,
Aonde com ternura e tal grandeza
Sobejas maravilhas reconheces

E tendo em tuas mãos o teu porvir,
Os dias mais felizes hão de vir
No enredo que ora em paz desejas, teces.

25373

Nas margens deste arroio em que te entregas
Aos sonhos de um passado tão remoto,
Aonde se pudesse ver eu noto
Mesmo que tantas vezes siga às cegas

Momentos maviosos que sonegas
E tramas ilusões no amor que adoto
E quando noutro rumo a dor emboto
Encontro doce vinho em tais adegas,

Os deuses protegendo cada passo,
De augustas emoções rumos eu traço
Desfaço velhos nós tão esgarçados,

E assim ao caminharmos para o mar
Percebo neste manso caminhar
A flórea divindade destes prados.

25371

Os Deuses tão nefastos, rudes seres
Espúrias garatujas do passado
Ainda resistindo vejo ao lado
Dos tantos delicados vãos poderes,

E quanto mais detalhes perceberes
Verás no olhar escuso deturpado
O sonho que pensara emoldurado
Entre as diversas luzes do quereres.

Argutas caricatas e medonhas
Enquanto com planície e vale; sonhas
Imensas cordilheiras, altas serras

Defronte ao teu espelho esta figura
Amarga e inconseqüente se afigura
E o sonho – ser feliz, agora enterras.

25370

Vibrando com as cordas deste pinho
Num mesmo e tão igual diapasão
Encontro em desafio a solução
E sigo noutra senda mais sozinho,

Compondo ou recompondo o velho ninho
Eu sei das desventuras que virão
Embora ao perceber novo verão
Inverno retornando de mansinho,

Astuciosamente o gelo invade
E tendo no final opacidade,
Hiberno a fantasia e me transtorno,

Do quando não devia já retorno
E trago em minhas mãos outra fornada
Da sorte há muito tempo embolorada.

25369

Ainda aguardo o fim e sei do esquife
Que a vida me prepara e sem saúde,
O sonho feito em lira ou alaúde
Enquanto neste solo eu me espatife

Ainda se quisera ser de grife
A roupa já puída que transmude
Transporta noutro tempo ou atitude
O que se fez mordaz, ledo e patife.

Assédios entre tédios e tensões
Não posso mais conter velhos grilhões
Grileiro do futuro nada além

Do que complete o sonho em desvario
Porquanto tanto quanto eu desafio
As dores se repetem, sempre vêm.

25368

Estrugindo os momentos onde ainda
Pudesse ter alguma lucidez,
A farpa que derramas já desfez
O que uma fantasia não deslinda,

E sendo muito cedo para tal
A morte ainda vejo mais distante,
Embora se perceba o seu brilhante
E gigantesco atroz, torpe caudal,

Espero noutras sendas a conquista
Do todo que pertence ao sonhador,
E seja tão somente como for,
Por mais que tanto doa não desista

Uma alma em aura turva e tão confusa
Dos erros mais comuns ainda abusa.

25367

Aonde se pensara em vã estrugem
Uma alma se rebela e ainda busca
Por mais que a noite seja amarga e fusca
Momento além do cais, que ora ressurgem

Vagando sem destino, quando rugem
Em torpes gargalhares; senda brusca,
Astuciosas feras; sonho ofusca
Qualquer delírio aonde os medos surgem

E traçam desatinos mais ferrenhos,
Aonde se tivera em vãos empenhos
Mecânicas diversas das comuns,

Os dias refletindo, pois, alguns
Reflexos de um passado tão medonho
Na ausência do que almejo e te proponho.

25366

Um Sátiro que expõe em multicores
Delírios as vontades mais atrozes
Enquanto disfarçando velhas vozes
Eclode nos projetos, são autores

Das endemias toscas sem pudores
Que mostram tais tenazes mais ferozes,
Pruriginosos sonhos quais micoses
Afloram nesta tez gerando horrores,

Em assertivas falsas, contraluzes,
Aquém do vão caminho onde conduzes
Expressas divindades picarescas

Deveras histriônicos truões
Nudez que neste instante tu me expões
Tornando as fantasias mais grotescas.

25364

Truões entre diversas fantasias
Expressam o que sou exposto às feras
E quando noutra sanha degeneras
Matando estas venais alegorias

Meus sonhos, ledos títeres que vias
Nas noites em silêncio, nas esperas,
Apresentando em dores as quimeras
Mergulho nesta insânia onde havias.

Medonhos os penhascos que enfrentara
Quem dera se visão tivesse clara
Destes cenários toscos que ora enfrento

Os dissabores vários de uma vida
Aos poucos sendo assim já destruída
Num raio tão voraz quão violento.

25365

Hediondos caricatos, velhos toscos,
Escrachos kamikazes da ilusão
Meus olhos sem futuro negarão
Os dias mesmo quando forem foscos,

E sei que nos meus ermos acalento
Vontades que deveras não desvendo
O amor não poderia ser adendo
Tampouco o passo assim, muito mais lento

Alcanço os meus primórdios e revejo
Momentos onde a sorte se desfez
Gerando a cada dia esta acidez
Aonde algum sorriso, vão lampejo

Ainda escancarado em rosto amargo,
Enquanto o meu caminho eu mesmo embargo.

25363

Aonde se fizesse em luz nefanda
As ansiosas horas solidão,
Vergastas entre fráguas mostrarão
O quanto a realidade já desanda,

E o tempo se pesando, assim de banda
Percebo terminando este verão
No outono tantas folhas cairão
E o coração sem nexo se debanda

Vasculho seus resquícios e não vejo
Sabujo sem o faro necessário
Apenas este frio temerário

Tomando desde já qualquer desejo,
Espúrias madrugadas, noites vãs,
As nuvens encobrindo estas manhãs.

25362

Tua presença; eterno e raro estio
Deliciosamente exposto em luz
Enquanto pouco a pouco me seduz
Promessa de desejo ao qual me alio,

E quando meu caminho em ti desvio
E sinto na imprudência, corpos nus,
Vencidos os pudores, contrapus
Vontades tão diversas, desafio.

E sinto o teu perfume junto a mim,
Deliro e quando vejo estás aqui
No quanto te desejo e pressenti

O amor batendo forte, até que enfim
Depois de tantos anos solitário
Num mundo sem razão, sem estuário.

25361

E vendo-te comigo, amanhecer
O dia que sonhamos e não vinha,
A sorte sendo nossa, sei que é minha
A rendição às tramas do prazer,

E quando vejo a luz nos envolver
O coração ao teu resta e se aninha
Além do que deveras me convinha,
Entregue sem defesas, passo a ser

Apenas um cativo deste encanto,
E quando noutro tom, ainda canto,
Percebo dissonantes ilusões

Diversas das que agora tu me expões
E salutares sonhos adentrando
Tornando nosso mundo bem mais brando.

25360

Nos madrigais da vida, renascer
Mudando as minhas velhas fantasias
E quando noutro rumo tu me guias
Encontro o que queria, meu prazer,

E sei que não devia me esquecer
Das mais terríveis horas, duros dias
E neles desfraldadas agonias
Enfáticos momentos a perder,

Engulo cada sapo no caminho,
Mas não quero seguir sempre sozinho
Sem ter qualquer momento de emoção,

Viver cada segundo como fosse
Um único e sabendo este agridoce
Destino sei das dores que virão.

25359

Sem medo de saber-me apaixonado
Quebrei a minha cara ao mesmo instante
Em que pensara ter um radiante
Caminho que deveras disfarçado

Agora se apresenta amortalhado
E deixa destroçado um diamante,
Por mais que a sorte ainda me acalante
O mundo terminou no meu passado,

E sei que não devia mais lutar,
Aonde se mostrasse devagar
Passada não levando ao que mais quero,

E sendo mais atroz, pois tão sincero,
Não vejo outro caminho e, de repente,
O fim do nosso caso se pressente.

25358

Fortalecendo sempre cada laço
Do quanto necessário para que
Se possa perceber e mesmo vê
O amor que se demora enquanto laço

A sorte que se foi sem um abraço
E mesmo quem conhece já não crê
Tampouco quando busca, mas cadê
O que deveras fora estardalhaço

Espero qualquer dia novo tempo
Vencido qualquer medo ou contratempo
Num ilusório rumo mais feliz,

E tudo não passando de promessa
A vida pouco a pouco recomeça,
Mas realidade chega e nos desdiz.

25357

Querendo estar contigo e não sabendo
O quanto é necessário perceber
Além de simplesmente algum prazer
Às ordens de um amor obedecendo,

Alhures entre estrelas, céus e fogos,
Os tempos não são mais conforme outrora
E quando esta paisagem se decora
Esqueço os velhos brados, tolos rogos,

E sinto a liberdade de fruir
Por entre cachoeiras, quedas d’água
E quando noutro mar amor deságua
Nas ondas vou tentando imiscuir

Vontades tão diversas e insensatas,
Mas logo qualquer elo tu desatas.

25356

Decifro no teu corpo, passo a passo,
Enigmas costumeiros e decerto
Ao penetrar no outrora vão deserto
Ocupo cada vez maior espaço

Vestindo esta emoção que mesmo rota
Permite uma alegria além do que
Se pensa quando nada mais se vê
Bebendo até fartar última gota.

Acordo em desacordo com teus atos,
Mas faço meus acordos mesmo quando
Sabendo que perdendo ou me encontrando
Os dias não serão de todo ingratos.

Pecar é se deixar sem ter lutado
Por isso é que inda estou sempre ao teu lado.

25355

O rumo que será nosso aliado
Depois da tempestade sem bonança
Aonde houver a luz de uma esperança
O dia não será tão destroçado,

Perenes emoções que ainda trago
Depois dos desvarios da paixão
Deveras novos dias nos trarão
Compensando com fé qualquer estrago,

Esgares não resolvem nosso caso,
Tampouco outras mentiras nem falácias,
E quando se percebem tais audácias
Eu vejo no final, simples ocaso,

Vestir esta ilusão que não nos cabe,
Bem antes que esta casa enfim desabe.

25353

Querendo ser por ti, somente amado,
Promessas vento leva; e nada fica
E quando a realidade não se explica,
O resto vou deixando assim de lado,

O gesto mais audaz se desfraldado
Permite esta ilusão que nos complica,
E quando fotografa e assim se clica
O tempo representa o teu passado,

Em vícios me perdendo, precipito
O encanto que já fora mais bonito
E agora se desfaz em leda história

Balofa fantasia fica esquálida
Figura tão formosa agora pálida
Bagunça com os lastros da memória.

25354

Derramo nosso amor, venho e te abraço,
Mas nada disso mais te impressiona,
O quanto da verdade já se adona
Não deixa para a sorte algum espaço,

Do verso que te fiz não lembro um traço,
O gosto do abandono pressiona
E quando vejo a vida vindo à tona
Eu bebo deste copo e me embaraço,

Farturas no passado, uma aridez
Presente neste tanto que desfez
O que já fora gozo e riso imenso,

No vértice da vida vejo o fim
Se aproximando e quando junto a mim
Na fuga que não há, teimoso eu penso.

25352

Paixão que nos tomou em poesia
Transporta o pensamento aos Eldorados
Há tanto noutro tanto imaginados
E quem deseja amar já fantasia

Vivendo desta estúpida alegria,
Os dias no futuro malfadados,
Bebendo da emoção em engradados
Caminhos que sonegam luz e dia,

Corteses, mas depois toscos, grotescos,
Carinhos se misturam quando frescos,
Mas amadurecidos viram tapas

Verdades absolutas e exceções
Na regra que deveras hoje expões
Da qual nem eu nem nós, jamais escapas.

25351

Formando imensidão de sonhos tantos
Diversos faroleiros, rota insana,
O que pensara rumo desengana
E gera noutras linhas desencantos,

Lutando contra medos, dores, prantos,
A porta escancarada ainda emana
O fétido bolor por mais que espana
A casa pelos quartos, salas, cantos.

Assentando a poeira vejo a luz
Que noutra mesma intensa reproduz
Eterna sensação de espelhos vários,

Até chegar ao nada que absoluto,
Que com a fantasia se eu permuto
Esconde-se no fundo dos armários.

25350

É forma de cantar em harmonia
Trazendo ao coração belos acordes
Por mais que na verdade não concordes
A vida novamente se recria

E enquanto com passados, fantasia
Sonhando com princesas reis e lordes,
Deveras o futuro onde recordes
À contraluz do espelho o velho dia.

Seqüelas do passado no amanhã
Tornando a mesma história antiga vã
Permite na passada algum tropeço,

Olhando para frente e para os lados,
Reflexos de outros tempos espelhados
Impedem no presente o recomeço.

25349

Meus ídolos depois de tanta grana
Agora aposentados coçam saco,
Cultura brasileira no buraco,
Quem sabe esconde o jogo ou mais engana,

Morena do passado, tropícana
No bonde das novinhas, mas empaco
E bebo de outros tempos, do Sovaco,
Chorinho com certeza era bacana,

Não posso reclamar da juventude
A culpa desta falta de atitude
É desta velharia aposentada,

Contando o vil metal, enchendo a pança
Enquanto a Melancia canta e dança
Do sonho que vivemos, resta nada.

25347

O pão e o circo fazem tal sucesso
Que novamente vejo a mesma cena,
Gastando sem poder mais outra pena
Estou ficando duro, eu te confesso,

Não vejo no meu bolso algum progresso,
A fama mais distante não acena,
Enquanto este país todo se antena
No circo ao esgotar qualquer ingresso,

Eu sou desafinado e inda por cima
Ainda me restando uma auto estima
Não entro nesta tal politicalha,

Sem ter nem vocação para ladrão,
Cultura no Brasil, desmancha-pão,
Porque não nasci burro nem canalha?

25348

E viva a nova velha cachorrada
Vendendo as esperanças numa esquina,
Passado no futuro determina,
Depois de tanto tempo, sobra nada,

Assim a coisa andando bagunçada
O quanto na verdade nos fascina
Por outro lado morde em voz canina
E a pobre da gentalha anda ferrada,

A genitália exposta na revista,
Não sei se é da piranha ou de uma artista
É nisso que se deu liberação,

Não adianta crer numa igualdade,
Vaquinha de presépio na verdade
Jogada nesta tosca exposição.

25346

Dizia um companheiro de pagode
Que a vida deve ser maravilhosa,
Por mais que a realidade mude a prosa
No fim se não der cabra vai dar bode,

Quem tenta e não consegue se sacode,
O cravo já não quer saber da rosa
Nos braços do jasmim a rebordosa
Curada como sabe e como pode.

A poesia é coisa de veado,
Vinicius de Moraes que assim o diga
Colher não vou meter na tua briga,

Senão sobra pra mim, e estou ferrado,
A terra só é virgem, nela bole
A pobre da minhoca, toda mole

25345

Pergunto se inda tens algum trocado
Além do que o pastor vai te levar,
Depositando oferta neste altar
Com juros vai pagando o teu pecado,

Milagre em prestações, bem parcelado,
Sem ter nenhum imposto pra pagar,
Só falta mesmo alguém ressuscitar,
Mas se isso acontecer tome cuidado,

A volta do Cordeiro carpinteiro
No meio deste povo milagreiro
Vai fazer com certeza estardalhaço,

Mistério que chicote desbarata
Apóstolo, pastor, padre pirata
Passando este sufoco num cagaço.

25344

A oposição parece brincadeira
Não tendo quem perturbe a caravana
Reinando sem problemas, soberana
O rei pode falar qualquer besteira,

Rainha vem depois, a companheira
Enquanto o de São Paulo não me engana
Um arrogante calvo já se ufana,
Mas vai perder o trona pra mineira,

Mineiro não quer nem saber de vice,
O que fora verdade ora desdisse
Pesando pros doía lados a balança

Assim nosso reinado agora avança
São tantos os corruptos, corruptores,
E o de Minas servindo aos dois senhores.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

25343

Se eu faço ou se desfaço que me dane,
Não tô mais pra ficar bancando o besta,
Mulher botando chifre em minha testa
Amor há muito tempo entrou em pane,

E quando esta desgraça se faz pouca,
O pobre está fodido e nada vê
Aonde se procura algum por que
A vida vai ficando bem mais louca,

Na toca do leão enfio a cara
Embora não me chame Daniel,
Não quero nem saber se existe Céu,
A porca torce o rabo e me escancara

Eu sei que a vara é curta, mas cutuco,
Pior do que o Raul; estou maluco.

25341

Maria; eu preparei uma surpresa
Parece que você vai adorar,
Depois de tanto tempo trabalhar,
A vida com certeza uma dureza

Cansado deste mundo de pobreza
Eu acertei deveras no milhar,
Agora vou poder só passear
Fartura vai sobrar em nossa mesa.

Você vai fazer pose lá pro Orkut
Não vou mais fazer parte nem da CUT
Agora vou virar novo burguês,

Contrata lavadeira, passadeira,
Babá, um jardineiro, cozinheira
Amantes? Só lourinhas quero três!

25342

Tomando uns graus nos bares desta vida
Enchendo a minha cara de cachaça
Aonde teve fogo tem fumaça
Eu faço coisa até que Deus duvida,

Pegando este capeta pelo rabo,
Na sogra dou pancada e pescoção,
No sogro um pontapé no seu culhão
Depois neste forró, eu já me acabo,

Cansado de lutar contra a maré,
A vida já me deu cada rasteira
Não vou ficar aqui mais de bobeira,
Com essa minha cara de mané,

Depois de ser romântico e gentil,
Mandei a lua à puta que a pariu.

25340

Melhor ser sanguessuga que operário,
Viver nas mordomias deste Estado
Bondoso guardião não vê pecado,
E ganha a cada dia um honorário

Maior do que o deveras necessário
Durante tanto tempo andando inchado
Enquanto o pobretão vive enrabado
Comprando um celular no aniversário.

Não quero ser escora nem escória,
Mas sei que é bem melhor cantar vitória
Do que ver empenhado os meus proventos,

Não posso correr contra a ventania,
Locupletando um pouco a cada dia
Espero todo mês novos aumentos.

25339

Jazigo da esperança, a realidade
Há tanto se disfarça em riso audaz,
O beijo traidor me satisfaz
Enquanto qualquer sonho ainda agrade.

Mas tomo esta cachaça vagabunda
Fingindo ser uísque paraguaio,
E quando noutro instante ainda caio,
Ralando o meu nariz, a perna e a bunda

Telhados são de vidro, sim senhor,
Mas dane-se quem pensa que me engana,
A moça se fazendo de bacana
Coloca a perereca no penhor,

E vende como fosse verdadeira
Mercadoria falsa, de terceira.

25338

Reveses que esta vida sempre traz
A quem batalha tanto e não consegue,
Um burro leva a carga, pobre jegue
Enquanto a burguesada se compraz,

Aonde a vaca for, o touro atrás
Jamais se permitindo que inda pegue,
A fonte já secou, e o mundo segue
Sem ter um só momento feito em paz.

Prefiro ser machado, pobre sândalo
Expondo-se à facada de algum vândalo
Ainda qual babaca dá perfume,

Capim sendo abundante mata a fome,
Depois quem ruminou vazando some
E o pobre se transforma em rico estrume.

25337

Vamos fazer então vasectomia,
Depois é só ligar as tuas trompas,
Aonde houvera outrora raras pompas
Miséria se transforma em dia a dia,

Por mais que a gente tenta e fantasia
E nestas ilusões ainda irrompas,
Com essa ordem vigente nunca rompas
Senão só restará u’a nostalgia

Dos tempos de menino onde corríamos
Libertos pelas ruas e calçadas
Decerto minha amiga não sabíamos

A que ponto chegasse humanidade
Multidões cabisbaixas vão caladas
Enquanto prolifera a iniqüidade.

25336

Espora na cacunda do sujeito
Faz sempre o desgraçado trabalhar,
Se não fizer assim nunca tem jeito
Escravo gosta mesmo é de apanhar,

Enquanto com chicote eu me deleito,
Nas costas do babaca a maltratar
O que parece ser algum defeito
É o que faz a banda desfilar.

Na força desta tal caricatura
Verdade com certeza se afigura,
E assim pensa deveras quem domina,

Depois na missa finge ser cristão,
Renova a cada tempo a escravidão,
Inesgotável fonte, imensa mina.

25335

É melhor ser cavaleiro que cavalo
Assim sempre pensou a humanidade
Vivendo com certeza esta verdade,
O pobre do infeliz ora avassalo,

E quanto mais desejo enfim montá-lo
Por mais que o escravizado ainda brade,
Adorando o chicote, algema e grade,
Também quer qualquer dia virar galo,

O pinto quando pia bem fraquinho,
A primo canto eu vejo este galinho
Já preparado enfim para a panela,

Mas dê alguma chance pro coitado,
Depois vai vê-lo enfim empoleirado
“Poder nunca corrompe, só revela”.

Como dizia o Frei Betto.

25334

Como dissera um tal Guerra Junqueiro
O Padre Eterno há tanto envelheceu
Enquanto toda a corja envileceu
A culpa com certeza é do dinheiro,

Do amor o mais sublime mensageiro,
Aquele bom sujeito, este judeu
Que o mundo há tanto tempo conheceu,
Da casa de Davi, real herdeiro

Somente por ter sido muito além
Da podre sociedade, não convém
Falar em alto tom, pois na verdade

Ainda se vendendo num balcão
O que se fez em GRAÇA E SALVAÇÃO,
Que a Santa Inquisição já nos resguarde.

25333

Picardias em pleno picadeiro,
Vestindo de bufão, povo idiota,
O bloco do moderno ou do janota
Movido por cangalha e por dinheiro,

E quando da verdade assim me inteiro
E falo o que desejo além da cota,
A roupa de palhaço se amarrota
E acaba toda a tinta do tinteiro,

Balança, mas não cai, o trapezista,
A puta vê na grana do turista
A cara do Brasil, imensa bunda.

Imposto se traduz em ladroagem
Dos tempos de Jesus a sacanagem
A cada geração mais se aprofunda.

25332

Ouvira do Ipiranga a ladainha
Dos marginais que antanho são modernos,
Disfarçam-se nos belos, caros ternos,
E a praga se espalhando assim daninha,

A cada novo dia mais continha
A fome insustentável dos infernos,
Repetem os exemplos dos externos
Ou exportam deveras podre linha.

Corruptos, corruptores são parceiros
E os pobres assaltando galinheiros
Pagando pelo pato magricela,

Aonde uma verdade se disfarça
Quem tem uma elegância feito garça
Comendo o milharal, não se revela.

25331

Barriga de ricaço, insaciável
Terríveis com certeza tais glutões,
E quando esta verdade agora expões,
De novo a história mostra o inevitável

Aonde existe otário o descartável
Alimentando o fogo das visões
Espalham por imensas plantações
Enganações de um jeito palatável,

A culpa de tamanho desvario,
É sempre de quem berra e o desafio
É se calar defronte a tal desmando,

Aonde se pensara solução
Tem gente que abusando do perdão
Articulando a fúria em contrabando.

25330

Usurários e avaros agiotas
Fazendo da trapaça o ganha pão
Futuros dias logo mostrarão
Verdades tão modernas e remotas.

Seja nas capitais, nas vilas, grotas,
A história repetindo este refrão,
Aonde existe gente tem ladrão,
Dividem cada saque em fartas cotas.

Antigamente assalto era à tacape
Desta verdade sei que não escape
Aquele que trabalha honestamente,

Pior quando nas mãos das governadas
As armas pelas leis são resguardadas,
Lutar contra esta súcia, nunca tente.

25329

O mundo desfilando os mesmos traços
Refaz a cada dia velharias
E nelas quão soberbas horas vias
Enquanto nos pintávamos, palhaços,

Aonde se fizeram torpes laços
Os casos se refletem nas orgias
Desfilam em hereges sintonias
Homens honestos sempre tão escassos,

Assenta-se a verdade em qualquer era
E quanto mais o povo ainda espera
O bem que não virá, a corja engorda,

Comendo da carcaça do plebeu,
Assim desde que o mundo em vão se deu
Só varia o tamanho desta corda.

25328

Cedendo mansamente aos teus encantos,
Jamais resistiria a tanto amor,
E quanto mais audaz a gente for
Os dias mostrarão mais belos cantos

E neles com certeza me envolvendo
Retendo em minhas mãos a claridade,
Que agora como sempre quando invade
Inteiro o pensamento percorrendo,

Atrozes descaminhos? Não mais vejo
Tampouco as intempéries que vivemos,
E quando novos rumos conhecemos,
Sabemos desfrutar cada desejo,

E assim na eternidade deste sonho,
O mundo mais feliz, quero e componho.

25327

Que bom saber da glória deste Fado,
Depois de tantas lutas, desavenças
Ainda manter vivas nossas crenças
Deixando o sofrimento no passado,

No dia com fulgor iluminado,
As horas de prazer serão imensas,
E nelas com certeza ainda pensas
Soltando o coração intenso brado,

Vivenciar a glória a cada dia,
E nele toda a sorte se desfia
Gerando um carrossel de luzes fartas,

Só peço que das dores, dos anseios
Esgote com fervor, doridos veios,
E destes dissabores tu te apartas.

25326

De ser assim, teu par e namorado
Depois das desavenças, tantas brigas,
Espero que deveras já consigas
Trazer os nossos rumos lado a lado,

Por mais que eu reconheça estar errado,
As nossas malquerenças tão antigas
Envoltas em fantasias ou intrigas
Traduzem um caminho abandonado

Há tanto traduzindo o disparate
Por mais que ainda volte e nos maltrate
Não cabe mais na vida que hoje ostentas,

Sentir os dissabores de outras eras,
Alimentando assim tolas quimeras
É como alimentar vis feras, violentas.

25325

Cortando, penetrando devagar,
Gerando as dores tantas que ora trago,
Vivesse pelo menos algum trago
Do quanto quis e nunca soube dar,

Percebo em vagas luzes o luar
Que outrora fora imenso, doce e mago,
Se os olhos no passado ainda trago,
Talvez seja preciso repensar

E ver que sempre existe algum futuro
Mesmo que nos pareça mais escuro
Ou tanto dolorido que não possa

Servir como parâmetro preciso,
Mas quando a dor invade sem aviso
Irônica ilusão transborda em troça.

25324

Dilacera, sangrando esta navalha
Que há tanto se fizera companheira,
Quem traz uma esperança passageira
Por velhos descaminhos não atalha

A vida se perdera sem ao menos
Teimar em perceber alguma chance
E tendo a fantasia que se alcance
Momentos podem ser bem mais amenos,

Fragilizado então, perdendo o prumo,
Vasculho nas gavetas e não vejo
Sequer a sombra amarga de um desejo
Que agora, pós tempestas, logo assumo,

Não deixe que esta luz se apague agora,
No instante em que esperança em vão se ancora.

25323

Triscando a melodia do vagar
Encontro; refletida a velha imagem
De quem ao se perder nesta paisagem
Permite uma miragem desvendar,

Escolho descaminhos variados
E neles perpetuo os meus engodos,
Momentos de prazer? Queria todos,
Angústias penetrando pelos lados

Espalham dissabores, mas persigo
Ainda algum alento; mesmo pálido,
E o quanto se quisera bem mais cálido
Traduz ora somente o desabrigo,

Versejo sobre velhas melodias
Em partituras toscas que recrias.

25322

Meu tempo, contratempo, Deus me valha
espúrias madrugadas, dias frios,
Não posso mais pensar nestes vadios
Momentos sempre ao fio da navalha,

E quando a realidade me atrapalha
Acendo da esperança os seus pavios,
E teimo em perceber nos desafios
A fúria que deveras já se espalha

Tomando este deserto que ora habito,
Rondando o meu caminho, e estando aflito
Esgoto minhas forças nesta luta

Inútil, disto eu sei, mas não desisto,
E quando em tal batalha ainda insisto,
O sonho uma alma audaz busca e recruta.

25321

Se quando estou vagando bar em bar
Na busca de talvez algum alento
Sentindo no meu rosto, o manso vento
Bebendo da esperança de um luar

Eu creio na alegria a me tocar
Roçando minha pele, e o pensamento
Mantendo o meu olhar bem mais atento,
No intento de deveras me encantar

Com toda a sutileza de um amor
Que há tanto procurara sem sucesso,
Mas quando solitário estou regresso

Ao nada que deveras muda a cor
Do sonho iridescente de um poeta,
Que apenas noutro sonho se completa.

25320

Comércio feito em nome do Cordeiro
Que tanto nos amando em holocausto
Se deu e neste instante, duro infausto
Traduziu farto amor, mais verdadeiro,

Agora a cada esquina um vendilhão
E nele se reflete a gula imensa,
O crime em nome Dele, já compensa
Transforma qualquer farsa em oração.

Vergonha assola a tosca humanidade
Na busca de saúde ou de fortuna
Corrupta canalhice coaduna
E faz do Amor sublime falsidade,

Antigamente à porta de algum templo,
A corja dentro dele, hoje contemplo.

25319

O Amor que desmedido diz do quanto
Amortalhando às vezes trama a cura
Além do que deveras me amargura
Promete ser além do simples canto

Por vezes solitário desencanto
Mergulho nesta noite vaga e escura
E sinto tanta dor que me amargura
Gerando angústia e mesmo dor e pranto;

Mas sei que na verdade quero e gosto
De quem mesmo que cause algum desgosto
Expõe no olhar volúpia em fúria insana

O verso se mostrando em contra senso
Traduz por muitas vezes o que penso
E nisto satisfaz e desengana.

25308 a 25318

Vivera o grande amor e não pensara
Que tudo tendo fim, também as acaba
O sonho que deveras já desaba
Turvando uma água outrora mansa e clara,

Assim a realidade se apresenta
E o tempo consumindo a fantasia
Devasta e nada após se mostraria
Mudança radical, por vezes lenta

E o passo que se dá rumo ao futuro
Encontra os pedregulhos naturais,
Depois vem o sabor do nunca mais,
E quando em voz sombria eu me amarguro

Pensando ter deserta esta esperança,
Um novo amanhecer, o amor nos lança.


2


Viver desta emoção as variáveis
Que possam nos trazer dor e alegria
E quando nela mesma se recria
Momentos de prazer ora alcançáveis

Vislumbro novos tempos adoráveis
E sei que o quanto a vida impediria
Um passo mais audaz; melancolia
Traçando descaminhos intragáveis.

Herege companheiro do não ser,
Astuciosamente; o desprazer
Engana enquanto beija e nos encanta.

Audácias se perdendo no vazio,
Sem nada em minhas mãos, aguardo o estio,
E um pássaro agoniza enquanto canta.


3


Os sonhos mais gostosos de sonhar
Perdidos numa noite de verão
Somente vãs tristezas mostrarão
A quem não aprendera a navegar

Distantes oceanos, perco o mar
E vivo na completa solidão
Angustiadamente sinto então
O mundo neste instante desabar.

Houvera uma esperança que, ilusória
Trouxera um falso gosto de vitória,
E agora sem ter nada em minhas mãos

Percebo quão difícil ter certezas
E ao enfrentar diversas correntezas,
Os sonhos que eu tivera, todos vãos.


4


Buscando, no luar, ser o que sou,
Apenas um fantasma perambula,
E traz no seu olhar a imensa gula
De quem por tanto tempo imaginou

O mundo bem diverso do que agora
Desnuda-se defronte ao seu olhar,
Cansado de tentar e de lutar,
A morte salvadora não demora,

Bebendo da ilusão em farta dose
Um tétrico fantoche, um vil bufão
Percebe quanto a vida foi em vão,
Por mais que a fantasia ainda goze

Espalha pelas ruas seus retalhos,
Já sabe do sofrer vários atalhos.



5



Reflito tanto amor, mas vou sozinho
Nas ânsias tão comuns de um sonhador,
O peso tão diverso deste andor
Às vezes em tempestas ou carinho

E quando deste rumo, descaminho,
Não tendo nem sequer por onde for,
Do quanto imaginara bela flor,
Apenas vislumbrando cada espinho,

Acrescentando o nada à minha vida,
A sorte há tanto tempo vã, perdida,
O que resta de mim, puro abandono.

E quando da esperança algum reflexo
Encontro; sem certezas, perco o nexo
Somente do vazio enfim me adono.


6


O quanto eu desejara se resume
No quase acontecer que me persegue,
Enquanto a fantasia sempre negue
Não tenho da esperança o seu perfume,

Aonde imaginara raro lume,
A luz em tom sombrio já renegue
Caminho que talvez inda sossegue
O coração de um tolo, que se esfume

Em vária caricata face escusa,
Ousando ser além que a paz conduza
E possa ter nos olhos florescência

Diversa desta opaca estupidez
Que agora se mostrando de uma vez,
Levando pouco a pouco à vil demência.



7


Amante sem ter cama, sem ter ninho
Voluptuosamente em sonhos, vago,
Mas quando me percebo sem afago
Seguindo para a morte; assim sozinho

Encontro alguns resquícios do que fora
E vejo que vivi, mesmo que pouco,
Andara em descaminhos feito um louco
Uma alma muitas vezes sonhadora,

A juventude ao longe, o fim por perto,
Não quero o sofrimento, sigo só,
Da imensidão da estrada, ledo pó,
De tanta turbulência, ora o deserto,

Mas fui feliz e basta; no último ato
Da peça feita em vida o que retrato.


8



Servindo de repasto para a dor
Um velho coração se desatina
E sabe que afinal em triste sina
Imagem retratando o sonhador

Seguindo sem destino aonde for,
Passado dia a dia determina
A seca que deveras mata a mina,
Negando o nascimento desta flor

Que outrora fora apenas esperança
E quanto mais a vida segue e avança
Percebe-se a aridez do chão inglório,

Não tendo mais por que ainda explore-o
O solo que deveras quis fecundo
Somente em vãos abrolhos, ora inundo.


9


Vivendo sem ter cálice nem vinho
Não posso mais brindar à sorte insana
Que tanto me acarinha quanto dana
Deixando-me deveras tão sozinho,

E quanto mais audaz o passo eu tento
Maior a queda, eu sei que não valera
Sequer saber da rara primavera
Moldada nesta teia, sofrimento.

Astuciosamente a vida trama
Momentos que decerto não saciam,
E os olhos num instante se desviam,
Deixando para trás a intensa chama

Que um dia norteara uma existência,
Agora só restando esta inclemência.



10


São tantos que naufrago nesse mar
Perigos entre as ondas e tempestas
O quanto de carinho ainda emprestas
Permitem este sonho navegar,

Procelas e borrascas a enfrentar
Não deixam claridades, meras frestas
E nelas ilusões que enquanto gestas
Tramitam entre céus; louco vagar.

Às vezes acredito que algum porto
Exista, mas sabendo o quão absorto
Meu passo em meio aos vários temporais

Escusas madrugadas, noites frias,
E enquanto mais distante; fantasias,
Restando inacessível qualquer cais.



11


Amores mal vividos, qual mortalha
Vestida pelo tolo caminheiro,
Aonde se pensara verdadeiro
Apenas ilusão fria navalha,

E quando em cada espaço a dor retalha,
Não deixa nem sequer ainda inteiro
O sonho muitas vezes mensageiro
No qual a realidade ainda atalha

Mudando a direção dos ventos, vejo
A sombra inusitada de um desejo
Inconseqüente rumo que ora tento,

E numa ansiedade sem limite
No tanto quanto quero que acredite
Esqueço por momentos, sofrimento.