domingo, 30 de setembro de 2012

EMÍLIA

 EMÍLIA


Beleza que não tem nenhuma igual
Passeia pela sala, vai desnuda,
É fogo que se alastra, é carnaval.
É pássaro que canta em plena muda.

Doçura tal? Achei canavial,
Meu Deus, eu necessito Sua ajuda,
Me dizes onde andaste neste astral,
O que é que faço Pai? Vem e me ajuda!

Amores quando muitos são terríveis
As brigas e discórdias invencíveis.
Voando meus talheres e mobília

A casa se transforma num segundo!
E tudo se desaba acaba o mundo!
Amor da minha vida és tu, Emília!

MARCOS LOURES

ELZA

ELZA

Das águas surge bela e calma ninfa,
Seus olhos refletindo todo o céu
Das festas e dos cantos paraninfa
Beleza que emoldura, traz no véu.

Ao vê-la, o coração entra em vertigem,
Dispara como fosse carrossel
No corpo dessa amada e linda virgem,
Amores e promessas no papel.

Pergunto aos deuses como te fizeram
Respostas não ouvi nem ouvirei.
A fórmula, por certo não me deram,

Nem eles mesmos sabem com certeza
Amar essa mulher me fez um rei.
És Elza, destas ninfas, a princesa!

MARCOS LOURES

ELISANGELA

ELISANGELA

Fortuitos sentimentos são ferozes
São facas que machucam com dois gumes.
As mãos que acariciam são velozes,
Amor que não se cuida, sem costumes...

Os cantos que não trazes perdem vozes
Meus dedos não procuram por estrumes
As ruas dos silêncios são atrozes
Nas noites dos meus sonhos cadê lumes?

Singelos meus defeitos são completos
Completam-se nos erros que não fiz.
Amores são meus pratos prediletos,

Embalde nesta vida sou feliz
Violas quando plangem serenata
De amores Elisângela é a nata!

MARCOS LOURES

ELISA

 ELISA

Nas horas complicadas desta vida.
Comparsa e companheira, minha amiga.
Navegas por meus mares sem intriga
Minha alma se emparelha, repartida...

Não quero mais saber se vai perdida
Ou se encontra nos braços ou periga,
P’ras dores deste mundo: trago figa,
Nem quero mais ficar, venha e decida!

Meus olhos vagamundos vergalhões.
Vão vesgos vasculhando a decisão.
Embarco-me na toca dos leões;

Do mundo quero amor e mansa brisa.
Aguardas que me exploda o coração?
Te espero atrás da curva amada Elisa!

MARCOS LOURES

HELENA

HELENA

Tal qual uma princesa cintilante,
És dona dos mistérios de um farol.
A lua, nos teus olhos navegante,
Ardendo muito mais do que o sol.

Transbordas de emoção a cada instante,
Cobrindo este universo com lençol
De estrelas coloridas, delirante...
Ao vê-la no castelo, sou reinol,

(Um brilho em teu sorriso, diamante!)

Por vezes nesta esplêndida visagem,
Meus olhos qual falenas pedem lume,
Escravos, imploravam à paisagem,

Um resto deste brilho encantador...
Nos raios, um incrível bom perfume,
(Helena), Esta princesa e seu amor...

MARCOS LOURES 

AMOR EM ARIDEZ

 AMOR EM ARIDEZ

Nos teus níveos sorrisos, as promessas...
Sultana que escraviza um coração!
Meu mundo transtornaste e não confessas,
Rastejo te implorando teu perdão!

Tantas vezes, a vida prega peças
É preciso encontrar um guardião.
No meu flácido rumo, não me peças
Que deixe de prestar tanta atenção.

Não posso caminhar sem os teus pés.
Não posso respirar sem o teu ar...
A vida não perdoa: és meu convés!

Guardiã dos desejos e delírios...
De que vale, sem frutas, meu pomar?
Amor em aridez, tantos martírios...

MARCOS LOURES

EDNA

EDNA

Eternidade! Sonho dos mortais
Escombro sem sentido, sentimentos...
As regiões profundas, abissais,
Demonstram minhas ânsias e tormentos...

As sombras dos amores, espectrais,
Vagando por meus loucos pensamentos.
Abrindo seus caminhos, meus portais,
Espraiam-se na fúrias destes ventos!

Quem me dera encontrar a compaixão
De quem fora imortal pressentimento...
Fantásticos meandros da paixão,

Devorando, ignorando resistência,
Amor em desespero bate lento...
És minha razão, Edna, de existência!

MARCOS LOURES

DULCE

DULCE

A encontrarei tão calma na alvorada
Dos dias que serei bem mais feliz.
A sua alma serena, iluminada,
Uma cor radiante em seu matiz.

Pois você tem tal dom locomotriz
Que não permite medo nem parada,
É de todas as forças, a raiz
É início e rumo desta estrada.

Como posso viver sem a ternura
Que emana de você, meiga e tão pura
É o fulcro que tanto procurei...

As feridas, com calma, já demulce
Aprendi a viver em sua lei,
É tão terna e tão doce, meiga Dulce...

MARCOS LOURES

DORA

DORA

Andava tão tristonho, tantas urzes...
Buscando um sentimento que pensara
Estar adormecido sem ter luzes
Que pudessem luzir joia tão rara.

Mal sabia, entretanto, que produzes,
Emanando dos olhos luz tão cara.
Me acalmando tal qual os alcaçuzes,
Ao mesmo tempo, forte, me antepara.

Essa força gentil, tão procurada,
Tantas vezes passou despercebida;
Quantas vezes pensei: não será nada!

Somente bem depois, há pouco, agora,
Percebendo a rudeza desta vida,
Descobri esta dádiva que é Dora!

MARCOS LOURES

DIVA

DIVA

Um dia me sentindo tão cansado
Das dores mais diversas desta vida;
Sonhei com novos campos, belo prado;
A paz, enfim, sonhada e conseguida.

Meu verso, tantas vezes disfarçado
Num canto agonizante de partida;
O fardo do viver, recompensado,
Nos braços desta deusa enlanguescida.

Um sonho tão perfeito, feito em paz;
Depois de ter lutado insanamente,
O barco finalmente, chega ao cais...

Minha alma sem grilhões, antes cativa,
Liberta, me remete a tanta gente!
Só meus olhos, ‘stão presos em ti, Diva...


MARCOS LOURES

DINORAH

DINORAH

Ao musicalizar teu nome amada,
Pressinto uma canção maravilhosa!
Homenagens te faço em verso e prosa,
Dedico uma cantiga apaixonada

Recendendo a pureza de uma rosa,
Trazendo bela noite enluarada.
Sentado aqui, na beira da calçada,
Em serenatas canto a terna fada!

Um simples andarilho na incerteza,
Encontra teu castelo iluminado.
Ao longe num respiro de princesa,

Mostrando que o palácio era encantado.
A voz linda se ouvia... Em tal beleza,
(Dinorah, Dinorah),iluminado!

MARCOS LOURES

DIANA

DIANA

Tantas vezes reveses e derrotas...
Pássaros que chilreiam meus lamentos;
Nas gaiolas, os pávidos tormentos...
Torturas, sofrimentos: plenas cotas!

Constantes meus martírios não derrotas.
Em plena insensatez, tais sentimentos
Revigoram-se, fortes como o vento.
Perdidos passarinhos caçam rotas...

Liberdade, refém de vil pantera
(saudade). Temerária noite engana.
Ataca a formidável, rara fera,

Nas mãos somente, versos, sou poeta...
Uma deusa surgindo mira a seta,
Me libertando. Salva-me Diana!

MARCOS LOURES

DENISE

DENISE

Lua nova, nos claustros e nos mares...
Meu sonho peregrino te procura.
Flamejas entre breus, trevas, olhares;
És guia, fosforesces noite escura...

Qual deusa rediviva nos altares,
Transcreves, nos caminhos, toda alvura
Encontrada somente nos luares...
Sombreias qualquer uma criatura!

Lua nova, comparsa dos meus planos!
Companheira de todos os enganos
E promessas que nunca cumprirei!

Aceitas, sem pensar, qualquer deslize
Pois sabes, teus desejos são a lei.
Lua nova, me traga, enfim, Denise!

MARCOS LOURES

DARLENE

DARLENE

Minhas cismas vagueiam, vão a esmo...
Confusas tempestades doidivanas...
Amor que se pretende ser o mesmo,
Não pode se esconder destas ciganas...

A sorte está lançada não quaresmo,
Nem tento descobrir as espartanas
Vontades. Tantas vezes me ensimesmo
Calado, minha ermida... Não me enganas!

Os olhos embuçados negam céu...
Explodem meus amores, tantas cismas...
Não quero que ninguém, louco, me apene...

Vênus adormecida em meu dossel...
A vida se explodindo em aneurismas,
Esperanças? Encontro em ti, Darlene...

MARCOS LOURES

A PLENA PAZ

A PLENA PAZ

No colar perolado do meu sonho,
Encontrei tal sereia em devaneios...
Pensei que novamente mal medronho
Viria destruir belos anseios...

Entretanto, ao sentir-me mais risonho,
Carinhos mergulhei, teus belos seios...
Cansado do viver tão enfadonho,
Penetro por teus mares, rios, veios...

Relances imprecisos, meu passado,
Um beijo tão sutil, amor perfaz
Reflete-se em teus olhos verde prado,

Como a me convidar a ser feliz.
Floresce neste campo a flor de lis;
Deixando no caminho a plena paz...








MARCOS LOURES

sábado, 29 de setembro de 2012

CUSTÓDIA


 CUSTÓDIA

Biparti meus desejos, hoje choro...
Amores não permitem tais propostas.
De lágrimas ferozes me decoro,
Os lanhos deste açoite fazem postas.

Perdão, filha do sonho, eu já te imploro!
Aguardo ansiosamente essas respostas.
Truão, vero canalha, mas te adoro!
Punhais que aprofundei nas tuas costas!

Falar de traição é tão difícil!
É como disparar um torpe míssil
Matando todo amor que sempre deste.

Quem dera não houvesse essa rapsódia!
A dor nunca seria minha veste.
Imploro teu perdão; volta Custódia!

MARCOS LOURES

CREUZA

CREUZA

Amor marmorizado na lembrança,
Em todo seu primor, se destruiu...
No pedestal erguido pela esperança
O meu peito artesão; o amor buril...

Teu corpo contornado de pujança,
Alumbrando meu sonho mais viril.
Eterno reviver desta aliança,
Do amor mais vigoroso e dor sutil...

No páramo tristonho, solitário,
As mãos tão delicadas, maltratei...
Desejo se tornou totalitário,

Ferindo ferozmente a minha deusa...
Assim quem, tolamente, achou-se rei,
Em prantos vem pedir: te espero, Creuza!

MARCOS LOURES

CONCEIÇÃO

CONCEIÇÃO

Mina aurífera, fonte cristalina
Etéreo sentimento penetrando...
Cobrindo meus delírios na cortina
Alvirubram desejos misturando!

Cores, formas, anseios e a menina
Diáfana, redentora... Completando
Este cenário audaz, lua divina!
Meus humores, prazeres até quando?

Os céus se multiplicam em primores,
As hordas de falenas que desfilam,
Em busca do teu lume; nos odores

Perfumantes que exalas, na paixão!
Nossos desejos, carinhos já destilam,
Na música que emanas, Conceição!

MARCOS LOURES

CLÁUDIA

CLÁUDIA

Cordilheiras andinas, os condores
Trazendo liberdade em suas asas...
Desfraldam-se dezenas de pendores
Abertos encimando tantas casas.

Seus vôos, maviosos, redentores!
Embaixo, as dores lembram outras Gazas,
Triste povo, sofrendo suas dores,
As chamas da miséria, vivas brasas...

Cordilheiras andinas, liberdade!
Os altos das montanhas são nevados.
O frio que maltrata também arde,

Assim como meus olhos congelados
Na espreita deste amor que nunca vem...
Condores, liberdade, Cláudia, bem...

MARCOS LOURES

CLARA

 CLARA

Os ventos e as nuvens, tempestade!
A noite se nublou, escureceu...
Na vida procurando claridade,
O mundo que sonhava, já morreu.

Tantas vezes vivendo ansiedade,
Mal posso definir, em pleno breu,
Àquela a quem amava de verdade.
A noite em minha vida, já choveu!

Minha alma em plenitude procelária,
Espera ansiosamente por um lume.
A morte, que antes fora imaginária,

Num átimo ressurge, já se aclara.
Minha esperança, frágil vaga-lume,
Repousa em teu desejo, ilustre Clara!

MARCOS LOURES

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

CÍNTIA

CÍNTIA

Nas luzes tão serenas, minha amada,
Nos montes, nas florestas e nas matas.
Por entre cachoeiras e cascatas;
A vida se transcorre iluminada!

A sorte que me deste, minha fada,
Nas horas mais difíceis, me desatas.
Os cardos mais cruéis, tu não maltratas,
A seta que carregas, perfumada!

Os meus desejos são tuas vontades...
Dominas meus anseios com vigor.
Nas lutas pela vida, claridades,

És poderosa chama, sou fumaça;
Na vida sempre fui um caçador,
Mas, em teus braços, Cíntia, sou a caça!


MARCOS LOURES

CIBELE

CIBELE

Acima do que posso imaginar,
Repousa tão fantástica beleza!
O Olimpo, certamente faz brilhar,
Com lume e com potência de princesa.

Dos seus braços, nasceram terra e mar
Seu seio amamentou a realeza!
À noite resplandece no luar,
A vida fez nascer, sua grandeza.

O mundo, seus pecados e delícias,
Etéreos passageiros, sombra e luz.
O campo das estrelas, as malícias.

As ninfas, seu carinho e sua pele.
Nas Plêiades, desejo seu transluz,
Consorte, lhe encontrei, minha Cibele!

MARCOS LOURES

CELINA

CELINA

Nasceste na nascente do universo,
Olhar primaveril tão envolvente!
Te canto mergulhado no meu verso,
Procuro teu olhar em toda a gente.

Meu mundo sem teu canto é tão disperso,
Em tristes melodias, de repente,
Transborda neste mundo. Sou reverso,
Avesso, sem te amar perdidamente!

Nos céus donde vieste, na alvorada,
Promessas benfazejas de fortuna!
A noite em tempestades, mais soturna,

Espreita, de tocaia, me alucina!
Eu canto esta canção desesperada,
Na espera de te amar, linda Celina!

MARCOS LOURES

CECÍLIA

CECÍLIA

Não podes ver o brilho deste sol,
A tarde emoldurada, várias cores.
O lume não te serve de farol,
Nem beleza incerta destas flores!

Porém, toda a candura dos olores,
A forma delicada, o girassol,
Ternura que carregas, teus pendores!
No canto mais feliz do rouxinol

(Delícia de saber tantos amores!)

Por certo teus sorrisos em malícias
Demonstram feminino ar, armadilha...
Carinhos e desejos, nas carícias,

No olor e maciez da bela tília.
A vida se transborda nas delícias
Dos olhos deste amor. Minha Cecília!

MARCOS LOURES

CATARINA

CATARINA

Mocidade vibrante, me estonteia...
Audácias e desejos são constantes.
Nas luas e nas ruas tece teia,
Viaja por planetas mais distantes.

A noite, nas delícias, incendeia,
Os raios do luar, simples amantes...
Nos cantos e motéis, noturna ceia,
Os corpos se entrelaçam, delirantes.

Mocidade... Faz tempo que não vejo...
Meus carinhos dormitam na incerteza,
O peito, démodé qual realejo,

Na visão de teu corpo se alucina...
És manto de pureza e de beleza.
Por que tu demoraste, Catarina?

MARCOS LOURES

CÁSSIA

CÁSSIA

Minerva, num delírio sedutor,
Ao ver esta mulher que caminhava.
Momento de raríssimo esplendor,
Um pássaro a voar, manso, cantava

Os hinos mais perfeitos ao amor.
Aurora deslumbrante demonstrava
Belezas e perfumes, rara flor...
Vulcânicos fulgores formam lava.

Minerva, se encantado, prontamente,
Mandou iluminar os teus caminhos...
Levando seus talentos para a mente

Desta mulher. Das flores, fez acácia
Beleza feita em cachos de carinhos...
Ao mundo, então, brindou contigo, Cássia!

MARCOS LOURES

CAROLINA

CAROLINA

Nos campos verdejantes, belas flores...
Perfumes de diversas qualidades.
Abelhas, passarinhos, tantas cores.
Batendo um coração, tristes saudades...

Nos céus as alvoradas são favores
Divinos. Nestes campos, nas cidades,
Procuro pelos rastros dos amores;
Embalde, nunca vejo claridade!

A vida sem te ter, já se amofina,
O mundo não permite um triste canto.
A noite, no meu peito descortina,

Ofusca essa beleza, nega encanto.
Meus dias procurando Carolina,
Nas águas deste rio, todo o pranto!

MARCOS LOURES

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CARMEM

CARMEM

Quem dera ser poeta e te dizer
Das nuvens e das chuvas que não trazes
Da noite que te encontra meu prazer.
Da vida que te trouxe tantos ases.

Das asas que carregas, sem saber.
Tua vinda renasce em mim, as frases
Vindas do coração. Tento ler
No livro de esperanças, luas, fases...

Quem dera em mansos versos proclamar
Beleza que encontrei no teu olhar.
Quem dera conhecer a fantasia

Que encharca tua noite de luar.
Que traz toda a pureza deste dia,
Quando encontrei-te, Carmem, poesia...

MARCOS LOURES

CARINA

CARINA

Tuas mãos delicadas, tão sensíveis.
Promessas de carinhos e de paz...
Teus passos pelas ruas, inaudíveis,
Flutuas, com certeza! Sou capaz
De naufragar meus sonhos impossíveis
Nos mares que me trazes. Tanto faz
Se, nas estradas loucas, invisíveis
Preciso for voar, serei audaz!
Teus dias se transcorrem graciosos,
A vida sem teu beijo, desatina...
Os dias se tornando belicosos
Se não estás comigo, cristalina!
Meus olhos te procuram, ansiosos,
Onde está delicado amor? Carina...

MARCOS LOURES

CAMILA

CAMILA

Liberdade! Meu canto te procura
Nas penumbras longínquas, siderais...
A noite terminou bem mais escura,
Espreita negras nuvens colossais.

A dor de amar demais jamais se cura.
Crepúsculos tristonhos, abismais...
Bebendo desta mágoa, sem brandura,
A vida emoldurando catedrais!

Nos dourados veludos, no cetim
A maciez da pele, veleidade...
Encantamentos, lábio carmesim...

O mel que tua boca já destila,
O canto deste amor à liberdade:
Só encontrei no teu cantar, Camila!

MARCOS LOURES

BRÍGIDA

BRÍGIDA

Na derradeira noite deste amor
Que nos trouxe tristeza e alegria
A vida se mostrou ao teu dispor,
Em plenas convulsões da fantasia

Dançávamos felizes sem temor
Das horas de torpor, melancolia...
Esquecemos que toda bela flor
Por certo murchará, num triste dia!

Dores antigas matam sentimento.
Nada mais restará senão adeus...
Palavra sem sentido, leva o vento.

Minha alma não se cansa de lembrar
O beijo que trocamos, sonhos meus,
Ah! Brígida! No amor, foste ao luar!


MARCOS LOURES

BETHÂNIA

BETHÂNIA

Trago as sombras antigas de quimeras,
Caminhando por pedras entre urzes...
As fontes desejadas, as esperas,
Já se despedaçaram, velhas cruzes...

Derradeiros prazeres, mortas eras,
Invernaram-se inteiros, negam luzes...
Soledades, tristezas, vis crateras;
Em guerra corações, setas, obuses...

Distante do castelo das perfídias,
Uma bela mulher adormecida...
Em volta da tapera, mil orquídeas.

Toda simplicidade da beleza...
És última esperança desta vida,
Betânia, teu amor, uma riqueza!

MARCOS LOURES

BERNARDA

 BERNARDA

Eu ando a mendigar pelas estradas
Buscando por amparo e nada vem...
Ninguém a me sorrir, noites geladas,
Anseio por carinhos, mas ninguém!

As rosas se morreram desfolhadas,
Os cálices de vinho, quero alguém!
As ondas se passaram naufragadas
Distantes dos meus sonhos. Perco o trem...

Não tenho mais saída, sou revés.
Rastejo pelo mundo, quebro os pés.
A morte, redentora, não se tarda!

Uma esperança frágil inda resta,
Quem sabe voltarei de novo à festa
Da vida, nas mãos santas de Bernarda!

MARCOS LOURES

BERENICE

BERENICE

Esmolei tantas vezes teu carinho!
Meus versos em total monotonia...
Um coração morrendo, pobrezinho,
Espera enfim, nascer de novo, um dia...

Meu velho paletó recende linho,
A chuva no meu peito, nunca estia...
No meu canto, assum preto fez o ninho,
Calada, adormecida, a poesia!

Cinzentas brumas, mares inconstantes,
Derrotado procuro por teu colo.
Um dia fomos lúdicos amantes,

O tempo tão cruel tudo desdisse...
Altos céus mergulhei, caí ao solo.
Tu és vitoriosa, Berenice!

MARCOS LOURES

BENEDITA

BENEDITA

Nossa casa, resquícios dum passado
Cruel, difícil, livre, encantador!
Vivemos triste mundo amortalhado,
A vida já não tem nenhum valor!

Maldita esta saudade, vou de lado,
Espero por um dia redentor!
De colmo, nossa casa, seu telhado,
Porém era sincero, teu amor.

Num êxtase vivemos nossa história.
Idílico caminho sem volta
O tempo derramou a nossa glória.

A noite que nos viu, morrendo aflita,
Em loucos sentimentos, se revolta...
Saudades do teu brilho, Benedita!

MARCOS LOURES

BÁRBARA

BÁRBARA

As cinzas apagadas, quero o fogo!
Nas chamas destes braços, meus confeitos
Eu peço, te repeço, tanto rogo!
Amores que plantei eram perfeitos...

Nas sendas dos meus sonhos, teu olhar...
No mundo que encontrei és um vulcão!
Por tantos universos vou te amar!
Explodes em delírios coração.

Na brasa que trouxeste meu desejo.
Quimeras esquecidas não as tenho...
Embora tantas vezes feche o cenho.

Na noite que rolamos verdadeira...
Sentidos e carícias relampejo.
Bárbara, meu amor, luz estrangeira!

MARCOS LOURES

AUGUSTA

AUGUSTA

Pensei que conhecesse meus desejos...
Pensei apenas soube dos meus erros
Ao conhecer os campos dos desterros
Onde repousam, néscios, nossos beijos!

Procurei por entranhas e sentidos,
Os vales, cordilheiras, foram vãos.
Pensávamos amores como irmãos
No fundo, sentimentos corrompidos...

Agora que conheço meus defeitos,
Meus lábios te procuram como um sol...
Meus olhos devorando fartos peitos.

Na vida, esse delírio já me incrusta
Eu te amo! Te procuro, girassol,
Na tua majestade, amada Augusta!

MARCOS LOURES

ANTONIETA

ANTONIETA

Amor que recomeça e não termina,
Se faz destas terríveis emoções.
É fonte do desejo, minha mina,
Embalde procurando corações.

Escuto tua voz; é minha sina,
A vida vai passando aluviões...
Gorjeio da saudade me alucina,
As pálpebras verbênicas, paixões!

Os olhos baços, tristes te procuram,
Num átimo te encontram, mas cometa...
As dores que provocas não se curam.

A morte se aproxima, mas me engana...
Noutro momento, lúbrica espartana
Deitada em minha cama, Antonieta!

MARCOS LOURES

ANGELINA

ANGELINA

Num vestido de chita bem rodado
Caminha esta princesa e me domina.
No tempo que sofri, e foi passado,
Procurando, nas matas, rica mina.

Meu mundo parecia desgraçado,
A lua no meu céu já não domina.
Embalde vasculhei o povoado,
Queria te encontrar, bela menina!

Olhando para o chão, onde buscava,
Não pude discernir tua beleza.
A luz do sol já não iluminava,

Meu mundo resumia-se em tristeza.
Mas, quando mais eu me desesperava
Achei em Angelina, tal pureza!

MARCOS LOURES

ARACI

ARACI

Noite que me traria teu amor,
É noite engalanada maviosa.
Explode-se nas chamas, esplendor!
Perfuma meu desejo, linda rosa,

Vestido carmesim, cadê rubor?
Se entrega no festim, audaciosa,
Vulcânica, desmancha-se em calor,
Em meus braços, dilui-se, vaporosa!

Na noite dos desejos e carícias,
Imerso em teus delírios e delícias,
Prazeres que em loucura revesti.

É mar que, enluarado, me convida,
Orgástico, fecunda e se engravida,
Na aurora, mãe do dia, em Araci...

MARCOS LOURES

ANITA

ANITA

A luz que te traria me enganou,
Não trouxe nem sequer um vago lume.
Saudade que senti, ressuscitou
Nas asas desse amor, um vaga-lume!

Carrego o muito pouco que sobrou,
A dor, o medo, a ponta de ciúme,
A dúvida feroz, ser o que sou?
Não posso perseguir o teu perfume,

(A rosa que deixaste, não brotou...)

Perdoe se não posso estar contigo,
Meu grito nunca mais te importará.
À noite, adormecido, não consigo,

Saber o quanto a dor traga infinita,
Estrela dos teus olhos brilhará
No que me restará de vida, Anita!

MARCOS LOURES

Andréia...

Andréia...

O mundo não me trouxe tais respostas,
Aguardo calmamente este desfecho.
Chicotes vão lanhando as minhas costas,
Na luz dos meus amores, nenhum fecho...

Quem dera minha sorte sem desleixo,
Quem dera meu destino, vida em postas,
O peso desta vida, não me queixo.
Queria só saber se tu me gostas!

Apostas que já fiz, perdi de vista.
Amor não é nenhuma panacéia...
Não creio em sentimento que resista

Aos ventos e tempestas da saudade...
A noite de meus sonhos, claridade
Encontra nos teus olhos, linda Andréia...

MARCOS LOURES

POR AMAR ASSIM

POR AMAR ASSIM

Por amar assim, sendo verdadeiro,
Jamais conseguirei viver liberto
Amando de tal sorte, por inteiro,
Sem perceber que andei mais incompleto.

Amor sugando, tudo, meu ceifeiro,
Não restando, portanto, nem meu teto,
Sem ter início, sequer paradeiro.
Amor o precipício deste afeto...

Num desejo cruel, sou seu escravo,
Noutro momento cego, sou vazio,
Meus passos, indecisos, logo travo,

Quem me dera pudesse não ser cio,
talvez inda tivesse amor perfeito,
Mas cego sigo estando satisfeito.

MARCOS LOURES

BAITA LUAR!

BAITA LUAR!

Nas montanhas Gerais, terra mineira;
Onde o mar se transforma na lagoa.
Terra minha, Alterosa, verdadeira.
Da cachaça, torresmo, vida boa...

Vontade de não ser, sendo a primeira.
Caçando melodia na garoa...
Sapo boi, na boiada, a galopeira.
É muito bom viver assim, à toa...

O suor escorrendo pela cara,
A vida transcorrendo devagar.
Vê, repara, teimosa, pensa, para...

Faz que irá, mas nem tenta começar
A saudade chega devagar,
E vem me comover. Baita luar!

MARCOS LOURES

FELIZ

FELIZ

A vida se fez maga e feiticeira
Tornando-me feliz em teu remanso,
Do amor que tanto quis, agora alcanço
Razão para viver, mais verdadeira.

Tu és a minha eterna companheira,
Contigo vou vivendo sem ter ranço
Com coração sereno e sempre manso.
A flecha de Cupido foi certeira...

Estarei sempre ao teu lado, amada minha,
Em todos os momentos desta vida.
Não quero e nem aceito despedida.

A sorte que eu quisera nunca vinha
Até chegar teu canto em meus ouvidos
Tomando firmemente meus sentidos...

MARCOS LOURES

QUANDO EU TE TOQUEI

QUANDO EU TE TOQUEI

Quando eu te toquei nem percebeste?
Desculpe se não pude convencer.
De todo este carinho que te veste
Em roupas mais profanas do prazer.

Não sei como jamais tu concebeste
Verdade feita em gosto e em teu lazer.
Não tenho mais verdade que te ateste
Além de todo o gozo de viver.

Tu chamas irreal amor que toca?
Tu chamas fantasia, intenso beijo?
Meu rio no teu mar em pororoca

Fazendo tempestade mais sagaz,
Vibrando assim contigo, meu desejo,
É feito deste amor que a gente faz...

MARCOS LOURES

REFLEXOS DESTE AMOR

REFLEXOS DESTE AMOR

Nessa tristeza sinto, mesa e bar,
Distâncias se completam na aguardente;
Quem me dera, poder, tão de repente,
Rever a tua boca e te beijar...

Minha cabeça roda sem parar,
Despeço-me da pútrida serpente.
Nesse bar melancólico e demente,
As cadeiras vazias têm lugar...

Amei demais e sinto que perdi,
Não tenho outra verdade; pois, sem ti,
nada de mim restou, estou no fim

Na pele, tens delícias de cetim,
Na boca a sutileza do carmim
Reflexos deste amor roçando em mim.

MARCOS LOURES

TANTA SAUDADE

TANTA SAUDADE

Nunca mais sentirei tanta saudade,
Nem de ti, nem das dores que me trazes,
Caminhando, sozinho, na cidade,
Vou mutante, permito tantas fases.

Qual inseto, crisálida da tarde,
Voarei no futuro, são audazes
Os meus sonhos, buscar felicidade...
De todas migrações, o novo invade...

Eu serei novamente o que perdi,
A larva rastejante que morreu,
Tanto tive, calado estou aqui...

Ressuscito meu cálice no breu.
Trevas, pregas, praguejo; vou a ti.
Pensamento persegue, sigo ateu...

MARCOS LOURES

NÃO QUERO NEM SABER DE TER SAUDADE

NÃO QUERO NEM SABER DE TER SAUDADE

Guinada da saudade, faz doer...
Não quero nem saber de ter saudade.
Saudade muitas vezes, faz morrer,
Saudade faz estrago, de verdade...

A saudade traduz verbo sofrer,
Conheci tal saudade, tenra idade...
Tenho tanta saudade de você,
Saudade dos seus olhos, claridade...

No que saudade mata, sei de cor.
As luas da saudade me torturam,
Saudade desse amor, meu bem maior,

Saudade da saudade que não tenho,
Os olhos da saudade acompanharam
Meus olhos desde sempre de onde venho.

MARCOS LOURES

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

IMERSOS NOS DESEJOS

 IMERSOS NOS DESEJOS

Amarmos como dois desesperados
A noite inteira imersos nos desejos
Que trazem em milhões de toques, beijos,
Carinhos e delírios compassados.

Gritar amor querida, em altos brados
Nos céus brilhando fogos em lampejos,
Mostrando nos trejeitos, os traquejos
Dos sonhos que vivemos pareados.

Provando cada gota de saliva
Queimando de vontade de te ter.
Teu corpo, meu calor por certo criva

De convulsas vontades em fogueiras
Formando uma corrente de prazer
Em mãos, olhos e bocas feiticeiras...

MARCOS LOURES

CANSADO DE ESPERAR

CANSADO DE ESPERAR

Cansado de esperar a tua volta,
Pensando na distância que deixaste;
Não vou querer perdão, nem mais revolta...
Num átimo, meu mundo, terminaste...
 Vencido pela dor, não quero escolta,
Tampouco quero o canto que entoaste;
Me transformei, tira essas garras, solta
Meus braços, deixe-me viver! Sangraste
Todos os poros, me perdeste, enfim...
Não quero o gosto de saber se sim,
Ou se não; nada mais importa, agora...
Foste cruel, nada mais temo, vivo...
Se me negaste, sou nefasto, altivo.
Suma de vista já. Vá logo embora...

MARCOS LOURES

EM CADA PORO 052



EM CADA PORO         052

Buscando em cada poro deste imenso
Desejo que se faça em claridade
Além do quanto houvera sempre invade
O tanto quando em paz já me convenço

E beijo a imensidão em ritmo intenso
Vivendo esta real cumplicidade
E nela outra beleza em claridade
Depois de tanto medo enredo tenso,

Mudando a cada instante faço além
Do todo quando o muito em paz contém
Restauro esta alegria em rara luz,

Ao passo mais sutil e convergente
Ao nosso delirar que amor consente
Encontro o quanto em ti me reproduz...

MARCOS LOURES

NA BATUCADA DESTA VIDA

 NA BATUCADA DESTA VIDA

Nasci na batucada dessa vida,
Em pleno carnaval, sem esperanças.
A marca dum cigarro foi tingida,
A primeira e mais forte das lembranças...

Minha mãe, colombina noutra lida,
Fazia cada noite mais crianças.
Suas pernas abertas, foi tangida
Feito gado, nas danças, contradanças...

A velha prostituta enfim morreu,
Tuberculose escarra podridão.
Desses dez que pariu, sobreviveu

Um só moleque, feito solidão,
Minha sorte vadia, feito meu.
É que inda vou cuspir nesse teu chão.

MARCOS LOURES

NOITE PRIMORDIAL

NOITE PRIMORDIAL

Noite primordial, desde o infinito,
O Pai, sem perceber, abriu a porta;
Rondando, percebendo, uma alma torta;
Evadiu-se, deixando um triste rito...
 Deus, absorto, criando homem, seu mito;
Não se deu conta d’essa alma que aborta,
Destrói, carpe, retrata a vida morta;
Espalha o sofrimento, eleva o grito...
A porta aberta, trouxe tal tormento,
Que jamais permitiu um só momento
De total felicidade. Tiveste
Por toda eternidade bem marcada,
A sorte mais cruel, desesperada,
Essa alma fugidia, vera Peste!

MARCOS LOURES

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ABORTAMENTO INCOMPLETO

ABORTAMENTO INCOMPLETO

Essa me foi contada por Maurício Padilha, amigo de infância de Muriaé, colega de faculdade no Rio, onde eu fazia Medicina e ele Bioquímica, companheiro de longas e inesquecíveis viagens a bordo do 634, linha de ônibus que dava voltas pelos subúrbios cariocas até, depois de hora e meia, nos deixar nas cercanias da UFRJ.
Quis o destino que eu reencontrasse o bom amigo na Espera Feliz que nos adotou e fez de nossos filhos conterrâneos também.
Conta-me Mauricio que, antes que eu me mudasse para lá, havia na cidade um ginecologista de muito renome, homem amável e que gostava muito da noite, companheiro de longos e proveitosos serões, geralmente movidos a generosos goles de cerveja.
Nas noitadas por Espera Feliz, várias vezes tive o prazer de encontrar e bebemorar a cada encontro, com essa figura simpática.
Tudo bem, voltemos aos fatos.
Na Exposição de Espera Feliz, viera dar um show um famoso cantor, já falecido e extremamente simpático.
Acompanhava-o uma elegante senhora, muito alta, com um rosto bonito, muito educada, perfumada, mas, para quem reparasse bem, apresentando um gogó, digamos para sermos discretos, um tanto quanto desigual com a feminilidade apresentada pela jovem senhora.
Apresentada ao nosso ginecologista, já meio “chumbado”, a “noiva” do cantor, se desfez em queixas um tanto quanto estranhas, estranhas de fato e estranhas à hora, pois já passava das três da manhã, o cantor já dera seu show e estava sentado à mesa, com os outros convivas.
Espera Feliz é muito próxima ao Pico da Bandeira e faz parte do Parque Nacional do Caparaó, portanto é extremamente fria, principalmente à época da sua FESTA AGROPECUÁRIA.
Nosso amigo solícito e gentil, se oferece para examinar a “noiva” do cantor.
Numa sala improvisada dentro da barraca do Rotary, onde se deu esse fato, ocorreu o também improvisado exame.
Nesse momento, surge o nosso amigo ginecologista empalidecido.
“Um carro, por favor, que o caso é grave”.
Ao ser indagado sobre o que estava acontecendo, ele olha para o lado e responde:
“Abortamento incompleto, precisa ser feita a curetagem com urgência!”CAI O PANO RÁPIDO... MAS RÁPIDO MESMO!
 
MARCOS LOURES

O VASO SALVADOR, OU NINGUÉM VAI RECLAMAR ESSAS FLORES

O VASO SALVADOR, OU NINGUÉM VAI RECLAMAR ESSAS FLORES

Edson Siqueira Lima grande médico de Espera Feliz, amigo e companheiro, bom contador de histórias, me falava das circunstâncias que cercaram o credenciamento do Hospital de Espera Feliz pelo INAMPS.
Havia um atendente de enfermagem no Hospital, cujo nome me declino de citar, sujeito muito prolixo e famoso por suas “tiradas” muitas vezes geniais, principalmente nos relatórios de plantão; verdadeiras peças de literatura.
Uma simples briga de marido e mulher transformava-se em uma novela melodramática, com as descrições das lesões superpondo-se aos relatos dos partícipes e testemunhas do entrevero.
Pois bem, era necessário que o Hospital obtivesse uma pontuação mínima para que fosse credenciado; tudo bem, mas a auditoria classificatória para tal credenciamento, por tanto tempo adiada foi, mercê do atraso nos correios, comunicada na véspera de ser executada.
A chegada de tal comunicação levou todo mundo a polvorosa; já que não daria tempo para completar alguns itens que estavam faltando.
Quando os auditores chegaram, esse enfermeiro, loquaz e simpático, começou a falar, não deixando nem o Diretor Clínico, o próprio Dr. Edson abrir a boca.
E foi um tal de cafezinho pra cá, aguinha gelada pra lá, simpatia distribuída a torto e a direito.
Lá pelas tantas, começa o nosso herói a mostrar os equipamentos exigidos pelos auditores, “Essa é a maca do pronto socorro, espera um pouco, Dr. Edson, leva os moços para conhecer o aparelho de RX”.
Edson sem saber nem o porquê tanta solicitude, levou os auditores ao RX, ao retornar a mesma maca, porém com um lençol diferente era apresentada como a “maca do Centro Cirúrgico” e assim foi.
A cada coisa apresentada, multiplicava-se por muitas, a cadeira de rodas velha e abandonada, nessa altura do campeonato já tinha sido mostrada 3 vezes, cada vez com uma nova vestimenta.
Tudo muito bem, tudo muito bom, mas no final dessa averiguação, faltava meio ponto para completar o total necessário para o credenciamento.
Os auditores, após discutirem muito e não aceitarem nenhum tipo de proposta, já estavam se retirando quando, lá do meio do corredor do Hospital surge o nosso enfermeiro escritor, com um VASO DE FLORES NA MÃO.
“Hei, esse vaso não merece meio ponto não?” arriscou.
Os auditores ou por cansaço ou pena por tal esforço sobre humano de agradar, aceitaram o vaso, e deram-se por satisfeitos, credenciando o Hospital.
Alegria à parte, Dr. Edson, com sua matreirice de sempre perguntou de onde havia surgido tal vaso de flores, ao que o nosso amigo, mais que prontamente esclarece o mistério.
Ao levantar o “vaso” é que se reparou que o mesmo não passava do cesto de lixo, com um pano à volta, já as flores... Com certeza o defunto que estava na capela esperando o sepultamento não iria reclamar os galhos de cravo e margaridas retirados às pressas...

DE MACACO TIÃO AO SÍMIO TIÃO...

DE MACACO TIÃO AO SÍMIO TIÃO...

No Rio de Janeiro de grandes alegrias e de algumas decepções, o principal “candidato a prefeito” era o Macaco Tião, chimpanzé de gloriosa história no zoológico carioca.
O espírito jocoso do carioca já tinha criado o “candidato” Cacarecos, se não me engano um rinoceronte, e nos idos da década de 80, o Macaco Tião reeditava o sucesso do seu “companheiro” de partido.
Havia um conhecido nosso, homem muito simplório, mas de bom poder de comunicação, principalmente entre os porteiros, zeladores e empregadas domésticas e do comércio, nos arredores do Largo da Segunda Feira, onde morávamos.
O pacato cidadão era um senhor de idade mediana cronologicamente e da idade média, intelectualmente falando.
Tinha aspirações políticas e sua filiação ao partido de Leonel Brizola, o PDT, já daria, segundo afirmava, uma real possibilidade de se eleger vereador.
Já que contava com centenas, quem sabe milhares de votos entre os seus amigos, devido ao fato de ter contabilizado já alguns milhares de “votos certos”, pois, a cada um que respondia que iria votar nele, o caderninho com que andava na mão, marcava “mais um voto”.
Pois bem, no decorrer de sua “campanha” insólita, caiu na besteira de pedir um slogan a meu pai.
O velho Marcos Coutinho Loures, com sua habitual picardia e, interado da “campanha” pelo Macaco Tião associando-se ao fato de tal “candidato” se chamar Sebastião, saiu-se logo com essa:
“Dê uma banana aos políticos tradicionais, para vereador vote no SÍMIO TIÃO”.
Não é preciso dizer que o singelo camarada, adorou o slogan.
Mandou fazer alguns bottons e faixas com os dizeres supracitados.
Porém, um dia, eis que surge Sebastião irritado e querendo briga.
Meu pai, placidamente foi perguntar o porquê de tal irritação.
Algum demancha-prazer havia explicado a ele o SIGNIFICADO DA PALAVRA SÍMIO.
CAI O PANO RAPIDAMENTE!
 
MARCOS LOURES

UMA PERERECA ASSANHADA

UMA PERERECA ASSANHADA



Nos idos do começo da década de 90, na minha amada Espera Feliz, morando com a minha primeira esposa e seus filhos, me recordo de um fato inusitado,
Marcos Davi, o mais velho dos meninos, com seus 17 ou 18 anos, não me recordo bem , ao viajar para o Rio de Janeiro, me surgiu com essa, que a memória faz questão de lembrar.
Nos ônibus que faziam a ligação Rio x Espera Feliz, começaram a surgir, do lado do passageiro, um suporte que era usado para colocar copos, latas de refrigerante entre outras coisas. Pois bem, como a viagem era noturna e o coletivo saia da Rodoviária de Espera Feliz às 22:00 e chegava no Rio de Janeiro por volta das 4 horas e meia, a partir de Carangola, apagavam-se as luzes do ônibus para melhor comodidade dos passageiros.
Bem, lá pelas tantas, os passageiros adormecidos, eis que um senhor bem idoso, com seus oitenta e poucos anos, começa a gritar desesperado.
Acenderam-se as luzes do ônibus e os passageiros acordaram assustados com tal gritaria.
Não é que o pobre senhor, desconhecendo a serventia dos “apoios” laterais, não havia colocado a perereca, vulga dentadura no tal buraco?
Então, esclarecido o fato, foi um tal de gente levantando-se de um lado e do outro, procurando pela prótese dentária do desalentado senhor.
E procura pra cá e procura pra lá , até que, lá num dos bancos de trás, já que com o balançar das curvas, a dentadura, fazendo jus ao apelido, tinha pulado para uma das últimas poltronas do ônibus, sob os pés desavisados de um rapaz que dormia, abraçadinho com sua namorada. Ao ver a tão desejada perereca em tal situação, o velho bradando contra o rapaz, acorda-o e, de súbito pega a dentadura e ali mesmo, como se tivesse reencontrado o principal tesouro da vida, recoloca-a na boca, sem ao menos lavá-la e com um ar de indignação misturado com o de satisfação, grita para o motorista:
-Ei, pode seguir viagem que já tou com a perereca na boca!
CAI O PANO RÁPIDO...
 
 
MARCOS LOURES

A CEBOLA TARADA

 A CEBOLA TARADA



Nas minhas andanças pelo interior de Minas, lá pros lados de Caiana, cidadezinha próxima a Espera Feliz, onde morei por vários e felizes anos, conheci um senhor, dessas antiguidades ambulantes que soem só serem encontradas nos grotões do país.
Um homem sisudo, caladão quase sem palavras.
Pois bem estava eu, um dia de plantão quando o enfermeiro me chama, lá pelas duas horas da manhã, para atender uma urgência, na verdade, um caso insólito.
Para minha perplexidade, o tal senhor me chamou de lado e me afirmou meio que envergonhado, que ao se levantar para ir à cozinha tinha escorregado e...
Não sei como, e também por respeito ao cidadão, cujo nome me recuso até a morte em declinar, segundo o próprio, ao escorregar, caíra sentado sobre uma cebola. Na hora não atinei bem para o fato, o quê que uma cebola poderia causar de mal a um cidadão?
Como ortopedista que sou, fui logo perguntando ao mesmo se tinha machucado ou se estava sentindo alguma dor, já meio aborrecido de ter sido chamado às pressas para atender um caso aparentemente sem maiores conseqüências, pois o cidadão estava caminhando com certa normalidade, embora sentisse que estava mais empertigado do que de costume.
Para meu espanto, aquele homem, tão sisudo, com aspecto de seriedade inconteste ao se ver sozinho comigo me disse:
- Doutor, o senhor não está entendendo, eu caí sentado sobre a cebola e... Como posso dizer? Ela entrou...
Tentei me atinar por que aquele senhor estaria desnudo àquela hora da madrugada, pois já passava das 2 horas da manhã, mas, na hora fiquei quieto, inibido talvez pelo inédito fato.
Claro que, a cebola seria expulsa naturalmente sem nenhum problema, mas devido ao constrangimento e pânico de tal cidadão, resolvi “ajudar a natureza”.
Pois bem, ao ser anestesiado o esfíncter, para minha surpresa, a cebola era das grandes e, pelo fato de estar devidamente intumescida, não foi muito fácil retirá-la.
A partir daquele dia, o “sisudo” senhor, cada vez que me encontrava, abaixava a cabeça, e nunca mais voltou ao Hospital, pelo que me consta, a partir daquele dia, sempre que sentia alguma coisa, se dirigia imediatamente à Carangola, cidade mais próxima, onde o risco de alguém saber de suas preferências, digamos, leguminísticas, eram desconhecidas...

MARCOS LOURES

DOS "DEMÔNIOS" E DA HISTERIA

DOS "DEMÔNIOS" E DA HISTERIA

O radicalismo religioso tem seus efeitos nefastos, além da criação de um Garotinho da vida.
Mas também tem seus aspectos cômicos, trabalho no Pronto Socorro Municipal de Guaçuí – ES há vários anos e acumulo muitas histórias dos mais variados matizes, no dia a dia dessa profissão, um tanto quanto difícil, mas com seus momentos curiosos.
Pois bem, num dos muitos plantões que participei, me lembro de um em que não protagonizei, mas testemunhei.
Estava já no final do plantão diurno quando, lá pelas 6 e meia da tarde de um domingo, se estabeleceu uma confusão na porta do PS.
Um aglomerado de pessoas trazia um cidadão pelos braços, se debatendo ferozmente e grunhindo desesperadamente, fazendo um alarde enorme e assustador.
Na frente havia um senhor, já com seus 60 anos de idade, portando uma Bíblia na mão e, sem sucesso, tentando exorcizar a qualquer preço tal “endemoniado”!
A situação se agravava a cada momento e, como estava defronte a um caso clássico de conversão histérica, já tinha pedido para a enfermeira preparar uma medicação sedativa, quando um amigo meu, que estava no Pronto Socorro naquele momento, se saiu com essa:
-Espera um pouco que eu vou resolver isso!
Saí de perto, já que o colega, mais experiente em assuntos de “demônios e afins” tinha tomado o pulso da situação.
Qual não foi a minha surpresa quando, de repente, ouvi o estalar de vários bofetes na face do “demônio” e os gritos de:
-Sai capeta! Some desse corpo capeta! Abandona esse corpo que não te pertence capeta!
Paralelamente a isso, várias pessoas, com as Bíblias abertas oravam sobre o “espetáculo” dantesco!
No meio dessa cena meio hilária, meio confusa, eis que o “demônio”, realmente com medo dos tabefes, some e abandona o corpo do pobre cidadão.
Ao abandonar a vítima, deixou-a meio inerte e assustada, afirmando:
- Pastor, o quê que aconteceu, pastor...
A partir desse dia, pelo menos aos domingos, o “diabo” deu férias ao pobre cidadão.
E o colega, médico e pastor, passou a ser o “exorcista” mais eficiente, da cidade...
 
MARCOS LOURES

DE OLHOS VERDES E DE ASA BRANCA

DE OLHOS VERDES E DE ASA BRANCA 

 

 

 

Tanta tristreza na terra
Sem chuva no meu sertão
Os bichos solto na serra
Morrendo de insolação
Os home me aprometero
Traze pro nosso rincão
Um cadinho de esperança
Um dias nóis já se cansa
Dessas tanta enganação
De falar pru móde a gente
Votar nus home safado
Que pur engano, serpente
Dexano o povo doente
Sem oiá dispois pru lado
Dispois de nóis ter votado,
A mando dos coroné,
Prometeno prus roçado
Ajuda mode brotar
As semente semeada
Do mío e desse feijão
Nossa gente tá cansada
Já num qué sê inganada;
Já pensei inté parti
Lá pros lado de Sum Paulo
Tenta vê e consegui
Um trabaio mais decente
Que possa faze da gente
Mais que a gente é aqui,
Aqui nóis tudo é sufrido
Nosso povo ta perdido,
Num tem quem ajuda nóis
Meus fío passano fome
No calor a chuva some,
Nem restando a asa branca
Que bateu asa e voou
Lá pra riba da barranca
Nem água o rio restô
Seca matou tudo aqui
Eu já tenho que parti
Pra mode sobrevivê
Vo dexa meu bem querer
Dexá minha pobrezinha
Adeus amor, a Rosinha
Dos óio verde bonito
Esse canto mais aflito
Foi composto pra você
Mas hoje esse sertanejo,
Homem que com muito pejo
Nunca manteve o desejo
De sair do próprio chão
Pois bem sabe e é verdade
Que mesmo na mocidade
“Quem sai da terra natal
Em outros canto não pára”
Fazendo do seu varal
“No último pau de arara”.
Esse homem tão brioso
Vindo do mundo horroroso
De miséria e exploração
Sabe bem que esse seu chão
É a maior das bandeiras
Tem significação
Contra todas bandalheiras
Feitas nesse seu sertão
Com a morte das meninas
Com as vidas severinas
Dessa grande multidão
De brasileiros famintos,
De esperança mais extintos
No sangue pouca tintura
No pele já tão escura
Pelo sol tão ressecado
Quanto mais desesperado
Lutando qual bicho solto
Não adianta o revolto
A luta é pra não morrer
De fome quando criança,
Velhice antes dos trinta,
Miséria no pouco a pouco,
Tentando não ficar louco,
Pedindo a Deus o perdão,
Pelo seu grande pecado
Que foi ser depositado,
No meio desse sertão
Do amor despreparado
Que gera sempre um bocado
A mais do que permitido
Perdão pedindo ao Senhor
Só pru mode ter nascido!
Mas eis que uma coisa vem
Notícias da capital,
Parece que tem alguém
Filho das mesmas paragem
Pernambucano da terra
Severino como a gente
Como Luiz batizado,
Um nordestino arretado,
Cabra de muito valor.
Foi eleito presidente
O maior representante
Do nosso povo carente
Que sonhou com esse instante
E ele não decepcionou
Agora, mesmo na seca,
Essa fome não assusta
Como antes ela assustou
As coisas tão melhorando
Já ta, no povo deixando
Essa nova sensação.
De já não ter tanta fome
Dando pro povo o que come,
Os homens e não os bichos,
Viver já dá, sem caprichos
Mas isso é o começo eu sei
Por isso nele votei
E quero ter já de novo
Para o bem do nosso povo
Esse cabra presidente
Pois bem sei que ele já sente
O quanto a gente quer bem
A quem nos trata por gente
Pra quem nós somos alguém;
Pro nosso povo sofrido
Que julgava ter nascido
Por castigo ou por vingança
Esse nosso povo dança
Nos olhos traz esperança
Nem é preciso asa branca
Aparecer na barranca
Nem carregar na sua anca
Nem procurar por partida
No pau de arara, sofrida
Sua lida vai mudando
Conforme Deus espalhando
Pelo sertão mais inteiro
Um belo e doce janeiro
Invernando o coração.
Olhos de sua Rosinha
Espelhando o meu sertão
Do verde dessa esperança
A espalhar na plantação!
 
MARCOS LOURES