sábado, 30 de setembro de 2006

textos 27/09/2006

Travessia
Com os botes tristonhos da saudade,
Procurei por teus olhos minha amada...
Meu caminho de pedra e vaidade...
A voz que solto vai desesperada...

Como posso saber felicidade?
Não tenho rumo, nunca tive nada...
Te procurei por toda essa cidade...
Não te achei! Minha vida anda cansada!!!

Mas, pensando melhor, não vou sofrer!
Preciso descobrir o meu caminho...
Não quero viver vida tão vazia!

Eu vou procurar novo bem querer...
Não quero mais seguir tão sozinho!
Noutro bote, fazer a travessia!




Igrejas Mineiras
Nas igrejas mineiras ouro e prata!
A crença dissemina esta esperança!
A mansidão voraz d’uma cascata
Nas duras tradições dessa criança!

Igrejas ricas, povo se arrebata.
Lamentos dos escravos na lembrança...
A mão que beija, é certo, te maltrata...
Morte e vida caminham na aliança!

As igrejas mineiras, funerais...
As chibatas cortando esses escravos!
A riqueza das minas, nunca mais...

Vila Rica, barroco, Aleijadinho...
Essas mãos doloridas, calos, cravos...
U’a sensação mineira, estar sozinho...


Irmão de Fé
Irmão, nossos destinos se cruzaram
Desde o primeiro instante desta vida...
Na fé que nos uniu, nos destrataram,
A vida nos parece distraída...

As cordas que prendiam se cortaram,
Os medos de tal sorte não cumprida,
Ferrenhos inimigos abortaram...
A vida nos parece tão comprida...

Nos atabaques loucos tanta glória,
Nos sons destas cantigas de ninar...
As loas que entoamos nos terreiros...

As portas se fecharam, nossa história...
Os dias nunca mais irão voltar...
Na fé que desunimos, derradeiros...



Cata-vento
Uma criança brinca na calçada...
Todo passante observa num momento...
Correndo contra a vida na lufada
Tão serena da brisa, deste vento...

Correndo essa criança, pensa em nada...
Não existem maldades nem tormento...
A manhã acordou apaixonada...
Correndo nessas mãos, um cata-vento!

Quem dera essa criança não morresse!
Quem dera esse meu mundo não mudasse!
Quem dera essa saudade não doesse!

Quem dera tal certeza não calasse...
Quem dera a tempestade não vivesse!
Quem dera o cata-vento não parasse!


"Morro Velho"
Os meninos brincando, o ribeirão!
A delícia da fruta amadurada...
Peixes fisgados, o luar, o chão...
A vida caminhando a longa estrada...

Os meninos brincando, meu sertão.
A viola tocando, enluarada,
Leves dedos solando uma canção!
A tarde não repete a caminhada!!!

Um menino cresceu, virou doutor...
O outro está trabalhando na fazenda,
Os dedos que tocavam já não sabem...

Instrumento a tocar, calejador...
Os dedos se cortando na moenda...
O riacho e a saudade já não cabem!


Lua Cigana
Lua cigana, quero teu perfume!
Nas voltas que transtornas, sempre vens...
A lua companheira no queixume,
A lua que roubou todos meus bens...

A lua que me mata de ciúme,
A lua já fugiu trás das nuvens...
A lua que desnuda meu costume,
A lua que mentiu nos meus totens...

Lua cigana, quero tua boca,
Beijar fundo teu brilho até luzir...
A mansa lucidez te fez mais louca...

Efeitos delirantes produzir...
A lua transformou os meus desejos...
Na lua procurei pelos meus queijos...


Triste Lamento
No meu triste lamento a minha dor!
Retirante das secas do sertão,
Procurei por destino cantador,
Nas ruas desta vaga escuridão.

Espalhei meu cansaço e meu amor!
As portas se fecharam, ouvi não!
Teus passos nesta escada, um estertor...
Nas cordas do meu pinho, solidão!

Infernos conheci, não faço cena...
A porta que entreabri não mais fechei...
As lutas que perdi foi contra o rei.

A morte sem sentidos nunca acena...
No meu triste lamento qu’angustia...
A luz que não recebo, foi meu dia...


Hora Final
Nada mais sou! Me restam poucas horas...
Meus olhos tão pesados. Vou calado...
Não tenho amores loucos que me imploras,
Nem tenho fantasia, alucinado!

Não tenho nem preciso de demoras...
Nada mais estou. Resta o triste fado...
Nas tortas que pedi, quiçá de amoras,
O gosto que ficou, amargurado!

Jamais pensei perder os meus desejos...
As loucas mascaradas juventudes...
Cordões umbilicais já se romperam...

A morte já me mostra os seus bafejos...
O céu vai cortando em amplitudes,
Meus medos em delírio converteram...



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Texto

Natimorto
Na dura frialdade do granito,
Reflexos do que fora o nosso caso...
Amor que se findou fora do prazo,
Amor que não resiste nem ao grito...

Amor que desconhece qualquer rito,
Nasceu já terminando num ocaso,
Viveu na teimosia, por acaso...
Amor, tanta mentira te fez mito...

Na dura certidão que não me dás,
Na dura solidão que me consola...
Amor tão vagabundo se desfaz...

Nas pedras das paixões derrapou triste...
Nas perdas da saudade entrou de sola.
Amor que não existe não resiste...


Amor de brincadeira
Amor se foi brinquedo, sempre fere!
Qual faca de dois gumes amolada...
Não há ninguém que possa que interfere,
Amor sem serventia vale nada...

Amor sem fantasia nem me espere...
Amor tem que ter rosa plantada,
Ter corrente, ter força, ter ampère!

Não podes zombar assim deste amor!
Preço que irás pagar não sabes qual!
Amor deve ter jeito eternidade...

Amor que não me traz sinceridade,
Amor que não perdura um carnaval...
Não é nada; jamais será o amor!


Soma
Na noite que passamos tão felizes,
Nem tínhamos certeza deste dia...
Pintávamos os sonhos com vernizes
As horas se fizeram poesia...

Amores se tornaram codornizes...
Rolávamos fantásticas orgias!
Nunca fomos tão mestres aprendizes...
As bocas se tornavam montarias!

Na noite que perdemos nosso rumo...
Trejeitos e maneiras deram pó...
As cordas se romperam... Nossas pernas..

Eu me invernava enquanto tu infernas.
As estrelas caídas pedem prumo...
Quem tentara somar, caminha só!


Refeito
Um momento de luta e de carinho...
Carinhoso, sou manso e sonhador...
Os meus dedos procuram pelo ninho,
O meu braço, remanso protetor...

Tateio por teu corpo, vagarinho...
Respiro teu cansaço, acolhedor.
Não quero discutir se estou sozinho...
Nas lutas que perdi, sem desamor!

Vencidas as primeiras madrugadas,
O riso fez-se mal e tão cruel.
As portas que vivi estão fechadas,

Não quero nem pretendo ter o céu!
As rosas que plantei despetaladas,
A vida que sonhei, vai solta ao léu!


Cavaquinho
Cavaquinho tocando este chorinho
Que me trouxe lembranças do passado...
Do tempo que passei sem teu carinho,
Da vida que tivestes ao meu lado...

O resto que pensei ser tão sozinho,
Muitas vezes vivi acompanhado,
O choro companheiro, de mansinho,
Jamais me fez assim, tão desolado...

Cavaquinho chorando me traz Glória,
Morena que ficou na minha história...
Nas noites do Sovaco, sem tristezas...

Misturando saudades contradança...
Cavaquinho me dando estas defesas,
Enquanto esta velhice já me alcança!


Desmonte
Queria ser teu mar mas não consigo.
Nas manhas e manhãs que são ferozes...
Aos trancos e barrancos não prossigo,
Nas noites mais silente ouvindo vozes...

Os motes que servidos não persigo,
Nos dentes que me restam quebro nozes...
Os cortes cicatrizam são antigos...
Os medos que percorro são velozes...

Minha alma angelical, carnes e sexo...
Espreito meu final por trás do monte...
Não quero matar sede nem complexo.

Atordoado penso sem ter nexo...
Os trapos que vendi nem sei a fonte...
A vida presenteia com desmonte!


Trapo
No resumo de tudo fui vencido.
Se não quis conhecer já nem pretendo...
Montanhas de desejos sigo tendo,
Meu dever tantas vezes não cumprido...

As moças que beijei, deixei no Lido,
Abortos que causei hoje revendo
São máscaras usadas me contendo!
Contendas sem perdão, num triste olvido...

Resumos do que nunca fui feliz...
Deixes, por favor, o teu recado...
A porta escancarada por um triz.

A vida me deixou seu cadeado...
Torturas que causei, pedindo bis...
Um trapo que caminha des’perado!


Viço
Tudo o que me mostraste foram ramas...
Minhas recordações não deixam telas.
Os pastos que passei nas velhas tramas
São maços dos cigarros onde revelas

As farpas que trocamos velhas chamas.
As tais melancolias queimam velas.
As partituras levas, não reclamas.
Minhas contas formam simples bagatelas...

Se tudo o que me deste foi restolho,
Se nada que te peço faz sentido,
A vida que prometo olho por olho.

O dente que quebrei era postiço,
O medo que me deste foi fingido.
Amor que me mentias perde o viço...


Jardins
Penélope não quero nem Amélia!
Quero essa companheira venenosa...
A rosa se perdeu com a camélia.
Eu não sou cravo, quero também rosa!

Venenos encontrei na tal lobélia
A vida se tornou mais pavorosa...
Eu quero os desatinos da bromélia,
Nem precisa que sejas tão formosa...

Olorosas as rosas que plantei,
No quadrado que chamo de jardim...
Nas entranhas da terra fecundei...

Nos meus olhos brilharam neste hibisco...
O perfume roubei deste jasmim...
As estrelas deixei como obelisco...


Lealdade
Quem tanto amou a vida morrerá
Deste jeito? Sozinho neste quarto,
Os amores deixei distantes, lá!
A morte, companheira é novo parto!

Inimigos perdi, bem acolá!
Da vida, simplesmente fiquei farto...
A morte nunca mais me deixará,
A fiel camarada, antigo trato!

Quem tanto amou percebe traição!
Vida feroz, mordaz, vil traiçoeira!
É justo ouvir assim tão duro não?

Vida, cigana atroz, por que me deixas?
Fingiste companheira, a vida inteira...
Somente a morte sabe minhas queixas!


Vampiro Internético

Um vampiro anda solto pelas ruas...
Devorando mocinhas e garçons...
As delicadas moças seminuas,
Escutam os gemidos semitons...

As carnes que devora estão bem cruas...
Incrível que pareça omitem sons...
Tendo por testemunhas alvas luas...
Causando tempestades e frissons...

Tal vampiro noturno tem segredos...
Os dentes cariados tem conserto.
Nas noites pernoitando nas boates...

Não dissemina sida nem traz medos...
Um vampiro internético por certo...
Bem vestido, prefere atacar iates...


Hiato
Cavalguei nesta noite sem Maria...
Das estrelas fiz norte e companheiras;
As minhas mãos cansadas, montaria...
As mantas que cobri, as derradeiras...

O vento passageiro melodia.
O sol que não pretendo deita esteiras...
Nas artimanhas loucas, meio dia.
Nas vésperas da vésper, corredeiras...

Mas quando percebi, nada restava...
A trama que engabela, foi gestora..
Martirizei comédias, fui gaiato...

O que não percebi não me enganava...
As trevas que nasci, na manjedoura...
A vida que vivi, simples hiato...


Procura
Um passageiro solto sem destino...
O rosto enlameado de saudade...
No canto que propus, eu desafino...
O resto que ficou, sem qualidade.

O parto que neguei, verde citrino,
Batuco do meu jeito, tento tarde.
No tanto que tentei não tento tino...
Nas tendas que teimaste, tempestade!

Nocivos nossos vícios são velados...
Passivos nossos passos são passados...
Nos trâmites tramitas teus tesouros...

Me mandas das manadas seus estouros...
Um passageiro alado, sem ter asas,
Meus olhos embaçando velhas casas!


Alva
Alva vinhas veloz alvorecer...
Beijo embarco na bela doce boca...
Trago o tato, temi tirar a touca
Adoço o sonho, quem me dera ser!

Não sei se sabes sinto não saber,
Aporto portos pútridos. Espoca
O meu medo, penedo a percorrer.
Meu trabalho foi falho, fel desloca!

O rombo dos arroubos foi rebento.
O traço dos meus passos foi errado.
Varais, vestidos, vértices do vento...

O que não sei serei ou desfaço...
O canto que cantei nunca encantado.
O resto que traguei, um simples traço!


Os Restos Estão Aqui!
Não quero o fero gozo desta fera...
Sorver a servidão sem serventia...
A pêra envenenada nada impera.
A volta que velei da valentia...

No Crato já cravei minha cratera.
O vento vai veloz é ventania...
Quem dera te mandar pra termosfera,
Acerca desta cerca e cercania!

Não quero o doce manso sem veneno.
O par que me deu parto já partiu.
Amor armou amores morreu pleno.

Os cacos tão caquéticos comi...
Meu prato foi o pranto que pariu.
Os restos recebi... E estão aqui!


Deserto
Onde estão esses bondes peço o trem!
Não me fujas, falsária sem fronteiras...
Nas algas que naufrago peço alguém.
Abutres vivem biltres brincadeiras...

Nos cortes que me deste sou acém,
Nos portos que morreste, vis bandeiras...
Te caço por espaços sem ninguém.
As urzes deram luzes, fusos, beiras...

És pústula e postulas altos tronos.
Não queres das esferas novo brilho.
As hostes que enfrentei nos abandonos.

Não sabes nem talvez nem bem por certo.
O que restou de ti, joguei no trilho
Onde deixei meu bonde, no deserto!


Medo da Vitória
No tépido verão um treponema.
No pálido sentido: tricomonas...
Das térmites templários roubam lema
Das amas que sofri, as amazonas...

Nos prédios que caí, velho cinema.
Nos sonhos delirei, com tais matronas.
As cotas foram poucas. Meu problema
Se esvai nos velhos quadros das madonas...

No gélido tormento que me dás
Respondo com penúria e sentimento.
Os olhos concebidos rompem paz...

As dívidas divido nunca nego...
O prazo que me deste, corro lento...
O medo da vitória não carrego!


Mocidade
A mocidade goza seu segredo!
Quem sabe não seria a minha conta...
Os ventos nunca deixam o arvoredo,
A lua embevecida anda tão tonta.

A faca decepando esse meu dedo,
O rastro que deixou de novo aponta
A ponta mais feroz deste torpedo.
Vencer a mocidade é nova afronta!

Mas venci meus tempos de menino,
Sem saber encarava meu calvário...
As orquestras fingiam um novo hino...

Espalhavas meus sonhos pelo mar...
Meu bisonho e decrépito salário,
Aprender conjugar o verbo amar!


Cipreste
Quem me dera viver como um cipreste,
Arvoredo da vida me deu prazo...
Ser eterno tal qual um velho vaso,
Espreitar tanta coisa que não deste...

Ir retirando, louco, tua veste
E deixar-te sem rumo, norte ou leste...
Quem me dera seguir não ter atraso,
Quem me dera, sentir o nosso caso...

A cortiça da vida me levita.
Na vital sensação de ter errado...
A morte que não quero se habilita

Nas montanhas da sorte que não subo.
Pelas cotas completas sobra um tubo,
Que me leva ao meu túmulo, meu fado...


Teu Manto
Teu manto, velho encanto, servidão!
Meu pranto, tanto quanto sei, servil.
Decoras com decoro o coração,
Das cores que decoras sou anil...

Nas tardes que traduzes tentação,
Nos meses que me dás sou teu abril!
Nas vagas vergastadas dás vergão.
Acenas com teus seios, sou senil!

Teu manto que me cobre, cobra caro...
Cobras se reconhecem pelo faro...
De botas já me bates nem rebates...

Rebentas com as bentas águas mansas...
As mágoas que deixaste, são cobranças...
Nos medos, meus remendos sacros, bates!


Peste
Por que choras? Imploras acaso ar?
Casaste com contratos com meus trapos...
Os partos que tiveste por matar.
Nas portas que deixaste teus farrapos.

Nos abortos absortos naufragar,
Os cacos que cortamos nem fiapos...
Bastam somente botes, quero o mar!
As lágrimas esgrimam guardanapos.

Nos bares se bastaram bebedeiras.
Os cachos se confundem cabeleiras.
Choraste tanto traste que fizeste.

Os mártires não mentem nem desfazem...
Os mantras que me cantas não comprazem...
Nas postas me provaste que eras peste!



Veneno
Geraste tal veneno no teu ventre
Que nunca concebeste tanta dor.
Desculpas permitindo que se adentre,
O verme que cuspiu no teu amor...

Nas mortes que produz, peço concentre
Os olhos que não sugam mais calor...
A porta está fechada. Que não entre,
A cobra que pariste, e seu rancor!

Veneno que vomita tanto fere,
Os pântanos criados são vorazes...
Não deixe que este verme degenere

A vida que pensei sem aziúme!
O nojo que me tens, vem das mordazes
Lambidas desta peste: teu ciúme!

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

SONETOS 26/09/2006

Paladares
Quando quiseres nunca mais terás...
Minhas quimeras são mentiras tontas...
Nas cotas dessa vida, és o meu ás.
Aos tempos imortais já me remontas.

Não posso te esquecer nem quero mais
As mortes que penei, estavam prontas...
Brinquei de ter saudade, fui mordaz.
Teus olhos refletiam tantas contas!

A minha juventude faz a curva.
Capota nesta estrada, vida turva.
Não restam nem talvez nem faz de conta...

Amar-te nunca foi nenhuma afronta...
Volto para colher mais doce fruto.
Paladares divinos que desfruto!



Girassol
Quando caminho, distante de teu passo,
Dançando no pó livre desta estrada.
Ouro e prata, tesouros, madrugada...
As contas do que devo, não as faço...

Sem degredos, sem medos, devo nada...
A não ser porta aberta do teu braço!
Na dança deste vento, minha amada
Tempero meu cansaço em teu cansaço!

Minha lua mineira, uma cigana,
Respinga nos teus olhos serenatas...
Meus dias são caiados neste sol.

Amor que não machuca nunca engana,
Nas matas que matas as cascatas
Giro o mundo sou feito girassol!


Duas Cruzes
Duas cruzes cravadas no meu peito.
Amores que jamais esquecerei!
Não tenho nem temi, nem peço o jeito,
Nas ondas do remanso fui teu rei!

Teu vestido dourado está desfeito,
Não quero um madrigal porque já sei,
Teus dentes vão cravados... Fino, estreito
O mundo que levavas , mas roubei!

Terei nos meus fantasmas, fantasias...
Farturas e faturas prá pagar
Fraturas, suas curas, infelizes...

Um gosto amargo, trouxe velhos dias,
Um pôster representa esse luar
As bocas que sangrei... Das meretrizes


Viva melodia
Finas mãos fartos balões soltos, partos...
Fortes dentes ferozes noites, farpas...
Músicas mensageiras seios fartos...
Nos acordes guarânias, sons e harpas...

Cavaleiro insensível negras carpas
Aspas castas petúnias nos meus quartos
Dardos soltos, segredos nas escarpas...
Subindo essas paredes seus lagartos...

Nos céus que te omiti nada encontrava...
Nos templos preciosos, tempo passa...
Solidão dissolvendo, cadeados...

Passeio nos teus olhos, viva lava.
Nos anéis de Saturno, viva a caça...
Na viva melodia, jogo os dados!



Ratos
Respirando essa boca bebo luz...
Tens os caminhos livres para a paz...
De cravos e canelas, ser capaz...
De vastas cabeleiras faço cruz...

Escondes tuas peras no capuz...
Esparsas tremedeiras, sou audaz...
Me mordes verdadeira, vero antraz.
Não quero-te primeira, faço pus...

Ratos lambendo a casa, velhos ratos...
São ratos que caminham no porão...
São ratos que te beijam tuas salas...

São ratos que desfrutam dos teus pratos.
São ratos que freqüentam coração
São ratos, simples ratos, nada falas...


Omissão
Vi teu sorriso tímido, safado...
Não quiseste pernoites nem ingressos.
As pragas que roguei, meu velho fado.
Os medos que senti nos teus regressos...

Vi teu sorriso cálido, marcado...
Não quiseste censuras nem congressos,
Nem quiseste palavras, vou calado...
As pragas que te dei viram abscessos

Num domingo qualquer, eu voltarei.
Num momento melhor, nunca te quis...
Nos trâmites legais, a dinamite...

Se quiseres não serei nem sei da lei...
Se pedires não serei sequer feliz...
Mas nada dizes, calas, tudo omite!


Onde te encontrar?
Não sei o que contei nem sei contar...
Respostas nem o vento saberia...
Sou manco, meu remanso foi o mar...
Vinho tinto, sanguíneo, deu Maria.

Esqueci os meus lagos, te encontrar!
Estorvei tanta luz e poesia.
Quero te contar nunca mais viria
Estás ao lado,dardo dado, bar...

Renovas esperanças e me negas...
Ostentas as miçangas que perdi...
Perturbas minhas noites incontestes...

Amor por que jamais eu te esqueci?
Onde estão velhos mares que navegas?
Mar, morte, sorte, norte, rumo, pestes?


Passarinho coração
Passa o vento, tempestas e brinquedos.
Passatempos, florestas e velórios...
Nunca mais passariam meus segredos,
Nas escadas escritas, escritórios...

Às margens de viagens, pajens, medos...
Cerros, berros, meus erros são notórios.
Aços, ázigos, álibis, degredos...
Olhos chorosos, tristes, merencórios!!!

Nas asas colibri beijando a flor...
Passa tempo passando o vento triste..
Haja o que houver, minha solidão.

Nas asas vão batendo o meu amor.
Esse amor qualquer coisa não resiste...
Meu canto, passarinho coração!


Declínio
Na casa casamata e cachoeira.
Nos trapos, meus farrapos e camisas...
A vida vadiou vagou inteira.
As brasas abraçaram mansas brisas.

Repelente, passei, qualquer maneira...
De repente vesti perdi as frisas...
Lá fora vou dormir na trepadeira.
Chegavam as falsárias mona lisas...

Perdido fui vencido sem ter chances...
Nas bocas que beijei forjei romances...
As tralhas carreguei, virei alforje...

Cavalos que fugi, quem dera Jorge.
Dragões que não venci, são meus fascínio.
Amores que perdi, finos declínios!


Revolução
Ira santa tanta luta, bruta força...
Quebram sinas, sinais dos assassinos...
Caçam moças, almoçam mansa corça...
Matam tempo, queimando os meninos...

Canalhas suas tralhas quebram louça
Farsas expostas rostos, desatinos...
Gerações abortadas, sangue, poça...
Destruindo desejos e destinos...

No sem juízo, escarro, convulsão.
Nos sem telhados, fados, riscos, chão;
Dos meus olhos vermelhos, verminose...

Gerações abortadas, fina hipnose...
Prelúdio de canções sem ter beleza
Os mortos esquecidos sobre a mesa!


A Mesma Chama
Na fruteira esquecida vida mansa...
Na dança que dançava minha gente...
Nos versos que entoava num repente.
A morte solitária vem, avança...

Os pés que estão descalços, contradança,
A força que fingi, viva serpente...
Cabelo que cortei não pede pente.
Maior do que a cabeça é vossa pança!

Não pensa que me engana quem não ama.
Amores são sensatas tempestades.
Pois tudo que já tive nada vale...

Na montanha, no campo verde vale...
Nas taperas, sertão ou nas cidades,
Fogareiros fogões, a mesma chama!


Florípedes
Quem fora flor, Florípedes, me mente...
Quem dera amor, quem dera fosse minha...
Nos atos mais felizes foste crente,
Nas aves que voaste mais daninha...

Bastavas não sabias certamente,
Sabiás te sabiam tão sozinha
Nas pontes que partistes, fui premente.
Quem me dera amor, nunca mais vizinha...

Nas cortinas das tardes tatuada.
Ao reboque das flores de Florípedes...
Nos teus passos compassos sempre bípedes!

Me pedes não impedes, peço nada...
Peçonha serpenteias pela sala...
Quem fora flor, morreu, virou cabala...


Falso Diamante
Vou me embora na tarde desse amor...
As horas mais felizes são peçonhas...
Na trava que impingiste furta cor,
As lembranças deixadas são medonhas!

Vai inconstantemente... Quero por
Meus dedos na ferida que hoje sonhas...
Vou delirantemente pr’onde for
O caso que repasso. Me envergonhas!

Dilaceraste o corpo, alma não vês!
Nos pátios destas casas, nos sobrados...
Um falso diamante no teu dedo.

Passaste doidivanas como rês,
Não ouviste sequer cantos nem brados...
No falso diamante, teu segredo!


Tigresa
Me esqueceste... Perfazes meus caminhos...
Nas tuas vestes, fogo... Covardia...
Nas marcas que deixaste, teus carinhos,
Nas horas que passamos, melodia...

Os rastros que percorro são daninhos,
Me transportam da noite para o dia...
Não me queres, jamais quis outros ninhos,
Uma noite somente bastaria...


Ah Morena, mendigo teus mistérios!
Amores que perdi, pedem critérios,
Perigosa tigresa me naufragas...

Não quero cultivar dores nem mágoas!
Dominaste meus palácios dos desejos...
As flores que colhi, foram teus beijos!


Ronda
Rondando pelas noites te procuro,
Meu tempo vai perdido nestes bares...
Mergulho neste mundo tão escuro,
As noites que sonhei perdem luares...

Intrigas e mentiras, tudo aturo,
Te procuro por tantos vãos lugares...
Noite fria, cansaço, esse chão duro,
Talvez possa te achar nesses altares!

Não quero descansar, sou insensato...
A sede que matei neste regato;
Amores que percebo foram loucos...

Momentos de ternura, são bem poucos.
As hóstias que me deste foram santas...
As bocas que profanas já são tantas!


Loucuras
Loucuras comecei a cometer,
Desde que conheci tal criatura...
Como, então, poderei sobreviver
Como procurar nesta noite escura?

Meus olhos que teimaram te perder.
A boca que me mata é a que me cura!
Quem me dera tivesse um novo ser,
Um misto de brandura e amargura...

No começo, tropeços sem valor...
Pouco a pouco transtornos fui mostrando...
Andava simplesmente por andar.

Lunático bebi ondas do mar.
Fanático caminho delirando;
Estático fiquei sem teu amor!



Palavras...
Muitas vezes pesadas as palavras...
Estúpido, agredindo a quem tanto amo!
Embora nessas flores, minhas lavras...
Embora tantas vezes eu te chamo...

As palavras escapam e maltratam,
Palavras simplesmente sem desculpa...
As mesmas mãos carinham, mansas tratam,
São que cortam, ferem... Minha culpa!

Muitas vezes errante caminheiro!
Busquei teus passos, soltos no deserto!
Amo-te tanto! É certo e verdadeiro...

Meus dias sem te ter nas caminhadas,
São trágicas feridas, peito aberto!
Não sei por que palavras tão pesadas!



Recompensa
Eu acabei com tudo! Não te quero...
Meus olhos lacrimosos nada falam...
O tempo que perdi, jamais espero,
As dores que vivi, jamais se calam!

Nos sonhos que passei, amor tão fero
As flores que plantei, já não exalam
Perfumes... Quem me dera fosse vero
Amor. Mas, maltratando, nos embalam...

Foste força feroz, fera deixaste...
Nas feridas profundas, cicatrizes...
Se nas plagas distantes me cobriste;

Nessa valas abertas, já cuspiste...
Mascaste o coração... Fomos felizes.
A morte, recompensa que pagaste!




Abelha
Abelha que precisa desta flor,
A flor que necessita desta abelha,
Amores que vivemos por amor,
São flores que iluminam qual centelha!

Do pólen produzimos, sonhador!
Das cores que vivemos, a vermelha!
A chuva que refresca esse calor,
Batendo, levemente em cada telha!!!

Te quero, tanto quanto te preciso.
Não sei viver; somente sobrevivo
Nas horas onde estou, de ti, distante!

Não vás, te necessito a cada instante....
Se fores, não terei sequer o siso!
Prisioneiro da abelha, sou cativo!


Como me queres?
Como me queres? Santo ou pecador?
Eu não sei se te trago o meu poema...
Eu não sei se te beijo com furor...
Não sei se mostrarei a piracema,

Ou quem sabe virei tal qual andor...
Não sei se tua clara ou tua gema,
Não sei se transtornado ou cantador!
Não sei se circunflexo ou talvez trema...

Como me queres? Diga-me, te imploro!
Sutil e transparente, manso, rio...
Rápido e voraz, fera louca, cio...

Noite calma serena ou transtornada...
Que te devore inteiro, ou triste choro...
Prefiro vir calado... Não fale nada!


Paixão
Na pálida tragédia irresistível!
Penhasco insensatez e tempestade.
A força que devora, é invencível
Arrasta toda pedra da cidade...

Nas trevas amazônicas, possível,
Nos olhos das serpentes qualidade...
Não cabem nem comportam tal desnível.
As luzes que roubamos, claridade...

Invade, arrebentando me arrebata!
Não sobram nem migalha arquitetônica
Enchentes que transbordam emoções...

Paixão assim, quem dera se platônica,
Me corta, me tortura, é vil chibata!
Sem medo se destrói nas explosões!


Álibi
Teu álibi, disseste é incabível!
Não tenho mais desculpas a forjar...
Olhaste um coração tão impassível,
As pedras sutilmente, vão rolar!

O resto que sobrou, indefectível,
Não passa de penugem sobre o mar...
Meu álibi, pensei fosse infalível,
Agora que percebo, perco o par...

Ávido dessa vida que vivi,
Não devia vestir tal sutileza...
Por favor, não me julgues de per si...

Mentiras fazem parte deste jogo!
Cobri com mil desculpas, na defesa,
Te peço envergonhado, ouça meu rogo!


Confissão
Confesso meus defeitos, são cruéis!
Te magoei por certo, bem o sei!
Na sorte tantas vezes, fui revés,
Nos sonhos que pensei, sempre era rei!

Não olhe assim de banda de viés,
Confesso que pequei, portanto errei!
Se fores nunca flores aos teus pés...
Nas horas que passamos, tanto amei!!!

Bem sei que não consegues perdoar!
Perdão não tem demora nem lugar!
Não quero este perdão, sempre educado!

Prefiro indiferença e solidão!
Perdão pra ser perdão tem que ser dado,
Com uma assinatura: coração!


Recomeço
Bem sei que não te importa como estou!
As dores que senti quase mataram...
As noites que sofri, me congelaram.
Do que eu fora, bem pouco me restou!

Mas, felizmente, tudo já passou.
Feridas que cortei, cicatrizaram....
Outras mulheres tive, e já passaram...
O tempo que maltrata, me deixou...

Os templos que conheço, da alegria!
De novo tatuados no meu peito!
A dança, o riso, toda fantasia...

A vida camarada deu seu jeito!
Agora se me veres posso rir!
Desculpas? Nem precisas mais pedir!


Ouça-me
Não tentes transformar o nosso caso!
A vida não permite tais loucuras...
Quem fora nascedouro morre ocaso
Não posso permitir noites escuras!

A fome não progride nas farturas,
Não tentes mais colar o velho vaso...
Amor sem ter carinho perde o prazo,
As dores que sentimos, tais fraturas...

Não tentes ocultar os teus segredos...
Os dias que perdemos não se voltam!
Mentiras desfiando seus enredos...

Meus passos desviando teu tropeço...
As ondas do que fomos se revoltam,
Amor assim não quero e nem mereço!



Loucuras
Quantas loucuras! Quantas... transtornaste
Meus dias... Já passamos por tempestas
Por orgias... Vivemos tantas festas,
Mas em loucura tantas coisas transformaste!

Na janela entreaberta várias frestas
Permitem penetrar dor e desgaste...
Imploro vorazmente que se afaste
Tentando preservar, mas não me emprestas

As tuas mãos... Teimosa, finges riso...
Gargalhas das desfeitas que me fazes...
Teus beijos tresloucados, são martírios!

Muita vez, a chorar, me martirizo...
Feridas não se curam só com gazes!
Embalde já lutei com teus delírios!

Prendas

Nas prendas que negaste minha sorte...
Andavas nua pelos belos pastos...
Nada nos prende, foges... Belo porte
Da princesa que tive; dias castos...

Não sabia por certo nem da morte,
Passávamos felizes, mundos vastos...
Nos universos livres fui tão forte!
As dores tinham cura nos emplastos!

Voavas pelos céus, angelical,
As viagens levavam aos espaços!
Cintilantes, teus olhos, meu astral,

Repetindo esse amor, sensacional!
Em nossas mãos unidas, belos laços,
Das dores nunca víamos nem traços!

terça-feira, 26 de setembro de 2006

NA ALAMEDA DA ESPERANÇA Clique no título

A PARTIR DE AGORA MEUS TEXTOS SERÃO TODOS POSTADOS NO LINK http://www.marcosloures.com espero vocês lá e seus comentários estão sendo aguardados com muita ansiedade. Muito obrigado Marcos Loures

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Sôdade

Minha sôdade martrata, machuca...
Os dia que passei num passo mais...
A dô qui feis estrago, inda batuca
Num peito que quiria só a paiz!

Sôdade matadêra inda cutuca
Num é coisa de Deus, de Satanais...
Sôdade dêxa a gente mais maluca,
Sôdade num me larga nunca mais!!

As hóra qui passei, triste distante...
Os día qui chorei sem seu amô,
Nunca mais que me dêxe ansim sozinho!

Sôdade vai dueno a cada instante,
Sôdade quando nasce faiz que é frô,
Mais quano a gente cóie vira espinho!

Ametista Inspirado em Ledalge

Teu anel de ametista bem guardado,
Olhando bem tranqüilo te suplica,
Incertos tantos dias do passado,
Carícias usam luvas de pelica...

Nas faces que este vidro multiplica,
O mundo, neste vidro preservado...
Teu choro refletindo no, ondulado,
Vidro; tanto corrói quanto te explica...

A garganta soprando várias formas,
Gaivotas do teu céu são invocadas...
Flutuas nestas curvas, tua porta...

Nesse retrato efêmero te informas
Imagens, no teu quarto, envernizadas!
Saudade permanece, finge morta!

Estrela Cadente

Melancólica noite... Lara partiu...
Tantos copos vazios neste bar!
Minha boca amargando esse luar!
Onde estás Lara? Nunca mais se viu!

Dia seguinte, céu bem claro, anil...
Nem rastros conseguiu, por fim, deixar...
Restando-me somente procurar...
Amor que se vai, tudo mata, vil...

Mas não quero teus olhos sem paixão!
Não quero tua boca sem mordê-la
Não posso conceber um coração

Sem força violenta p’ra bater...
Não posso perceber sequer estrela
Cadente, no meu céu desfalecer...

Aurora

Nas lilases auroras desse dia,
Encontro-me sozinho, sem ter Lara...
Minha boca espumando poesia;
A beleza se mostra, jóia rara!

Uma nuvem caminha, vai vadia,
Passageira, se muda e nunca para!
Suave brisa cantando, voz macia,
Saudade descortina e não m’ampara...

Aurora... Me recordo de teu canto...
Tua boca, teus lábios, minha fonte...
Lara, onde estarás? Nunca mais eu soube...

Nesta aurora, tão mágica, me encanto...
Procuro, atravessando a velha ponte,
Encontrar-te bem antes que alguém roube!

Noites Frias

Me enveredei por braços, pernas, bocas...
Nas camas das bacantes e vorazes...
Gargalhadas histéricas tão loucas,
De sonhos e penumbras são capazes!

Conheci, nas orgias, tantas tocas,
Nas noites sensuais e mais falazes...
Nos delírios carnais, tontos, que enfocas,
Perdido me encontrei nas mãos audazes!

As mulheres, fagulhas sensuais,
Incendiavam todos os meus dias...
Nas festas formidáveis, bacanais,

As pernas misturadas nas orgias!
As horas que passei não voltam mais.
Noites outrora em brasa, são tão frias!!!

Madrugada Vazia

Por certo tive noites mais felizes!
As dores nunca foram companheiras...
Dançava pelos bares, meretrizes,
Amantes tão febris e “verdadeiras”!

Mentiras e verdades são atrizes,
Que brincam nestes leitos, nas esteiras.
A vida multiplica-se em matizes.
Joguei a sorte pelas ribanceiras!

Nas noites conheci felicidade,
Tantos copos de rum na minha mesa!
Nos brindes mais ferozes da saudade,

Restou-me pouca coisa ou quase nada!
Morrer não causaria-me tristeza
Se não fosse vazia a madrugada!

Perguntas

Andando pelas ruas, vilarejos,
Encontro com teus olhos dispersivos...
Asfáltica saudade, dos teus beijos,
Delícias que se foram... Corrosivos,

Mortais e virulentos... Nos lampejos
Mais brilhantes, cortavam... Decisivos
Momentos onde tinhas meus desejos
Embutidos nos passos teus... Passivos,

Meus olhos que te viram prosseguir
Jamais conseguirão te esquecer, Lara...
A fera que explodia não se cala...

Andando pelas ruas, tua sala,
Pergunto-me: Por que me foste cara?
Se nunca foste minha, te perdi?

domingo, 24 de setembro de 2006

Flagelo

Flagelas essa mão que não consolas...
As vivas mãos suaves, aves plenas...
Nas pássaras alvíssaras esmolas...
As vivas mãos nas naves sorvem penas...

Retornas de teus tornos, traz estolas...
As mãos consagradoras, não acenas.
As pistas, teus alpistes são pistolas,
Nos solos tuas solas tudo assolas...

Flagelas essa mão que acaricia,
Cospes no prato sujo que comeste...
Não temo tuas noites... És vazia...

Morreste desde o dia em que nasceste!
Meu mundo, num segundo tudo muda...
Não quero teu conselho nem ajuda!

Temor da Morte

Falo da morte como quem não teme...
Nas lúdicas mensagens, não sou santo.
Meu modo de fugir do triste pranto,
A boca beija mas, no fundo, geme!

Quem poderia crer em tal encanto,
Se na verdade, minto... Tudo treme,
As pernas congeladas, meu espanto.
Meu barco naufragando, perde o leme!

Falo da morte, como quem duvida.
Espero ansiosamente minha cura!
Respiro a cada dia, a noite escura,

Lutando ferozmente pela vida!
A mão que me afagava, na brandura,
Açoita e me apresenta a despedida!

Versos Vãos

Meus versos são em vão, pra nada vivo...
As ondas nunca deixam de chegar.
Quem resta tão somente, vai altivo,
Meus olhos nunca pedem teu luar...

As dores vão chegando, estou passivo.
A tarde nunca mais vai terminar...
Procuro perceber pra quê que sirvo...
As ondas nunca deixam velho mar...

Meus versos são estúpida nudez,
Exponho assim, meu âmago no verso...
As formas que escondi da timidez,

Os templos que passei pelo universo.
Meu mundo tão comum e tão diverso,
Os versos repetidos, meus talvez!!!

Andorinha

Andorinha perdida faz verão?
As cores que roubei desse arco íris,
Num prisma repetido na amplidão,
Um coração pintado pede pires.

As forças se refletem no perdão.
Dos deuses que pensei tu eras Íris
Meus olhos nunca deixam meu sertão...
Nas hordas endeusei também Osires...

Solução pode ser, rima jamais...
Andorinha não pode mais voar...
Suas asas cortadas, sem Raimundo...

Mundo, mundo, me inundo e sou capaz,
Andorinha não tem onde chegar!
Como é vasto e cruel nefasto mundo!

Sertanejo

Nas terras mais bravias, sertanejo
Trazendo as mãos cansadas da batalha...
Sua fome estampada num desejo,
Na ponta do punhal ou da navalha...

A sorte amaldiçoa, finge um beijo,
Mas logo, perniciosa, traz trovejo...
O couro que vaqueija se retalha,
Ao sol tão inclemente que se espalha!

Os filhos são deixados na tapera,
Dividem toda a palma com o gado.
A noite devorando, fosse fera...

O mundo se perdendo, triste fado...
O sertanejo sonha com futuro,
Nas janelas trancadas, tudo escuro!

Noites de Luar

Seu dotô me discurpe pelas rima,
Num consigo falá de coisa boa.
As laranja que colho são as lima,
A chuva que me móia é garoa...

As corda da viola chora as prima,
Nas asa desses pásso que avoa...
Nóis já vamo subino morro acima.
Minhas perna cansada andano à toa...

Nas mata do sertão adonde móro,
As coisa mais mió de se cantá:
Os rio cum seus pêxe prá pescá;

Nas berada dos rio me demóro...
Nas noite mais bunita de luá,
A casa, com estrelas, eu decoro!

Belinha

Passarinho que canta na janela,
Sabiá laranjeira, companheiro...
Me responda se acaso o mundo inteiro,
Alguém pode falar onde está Bela?

Belinha, abelha, bela bel tinteiro
Das cores que roubei nem a amarela...
Responda passarinho... O verdadeiro
Brilho anda onde está tal Bela bela...

Os fios da meada já perdi.
As chaves desta entrada já não tenho.
No medo de ser morto já morri...

As horas que passei, nem de onde venho!
Apenas percebendo passarinho,
Sem Bela nunca mais faço meu ninho!

Vestido de Noiva

Teu vestido de noiva está rasgado,
Dilacerado pela face crua
Desse amor que julgavas conquistado,
Dessa noite que finge ser de lua...

A mão que acaricia, vil pecado,
A beleza estampada foi-se nua...
Teu vestido de noiva, avermelhado...
Tua boca sangrante, o corpo sua...

Jogado em algum canto desta casa...
Representando engodo, triste engano.
Mentiras que formaram todo o plano,

De uma vida mais bela e mais feliz.
O fogo que queimava virou brasa,
A brasa que te queima, a cicatriz...

Mensagem da Morte

Recebi a mensagem que esperava!
Agora poderei dormir em paz!
A sombra perseguia quem amava,
A noite tenebrosa, nunca mais...

Nosso tempo, passando, se contava
Em séculos ,milênios... Sou capaz
De perceber as mortes que encontrava...
Nas portas dos castelos ancestrais!

Recebi teu recado companheira...
Não tardas em beijar a triste face.
Nas horas que te quis fugiste inteira,

Teimavas em usar torpe disfarce...
Agora que se chega a derradeira
Hora. Faça um favor: não descompasse!

Amiga

Amiga, não perguntes por que choro!
A vida não me deu sequer escolha...
O vento me carrega, junto à folha
Onde escrevi meus versos. Hoje imploro

À solidão que deixe-me, recolha
Os restos que largaste sem decoro...
O mundo me trancou na triste bolha
Onde emolduras... Onde me demoro!

Amiga, não te peço que me escutes,
Apenas não desejo que me esqueças...
Das jóias que ganhei na triste vida,

Nas guerras que pedi, comigo lutes...
Batalhas que perdi, me convalesças..
A luta que forjei, já vai perdida...

Castelos

Nem preciso dizer quanto te quero...
As cordas esquecidas do meu pinho...
As notas que procuro enquanto espero,
Roubadas no cantar dum passarinho...

Nem preciso dizer quanto venero,
A boca que me morde, com jeitinho,
O mundo que navego, não tem clero,
Totalmente profano o meu carinho...

Nem preciso dizer que te esperava...
A tarde que sonhei, audaz e brava,
Nas mãos que acariciam, meus pecados...

Amores que perdi, desesperados...
Compensam esta espera que passei...
Castelos que constróis, neles sou rei...

Amor Canibal

Amor que me devora, canibal;
Desfaz as tais auroras que não tive...
A lua enamorada deste astral,
Viaja pelos mundos onde vive

A bela criatura angelical,
Com quem o meu amor nunca convive...
Das portas não transponho seu metal.
As rosas nunca brotam no declive...

Amor que me devora, pestilento,
Não cura nem permite usar ungüento.
Destrói quem nunca teve sobrevida...

Amor mordaz me corta, vil ferida...
Amor que sempre vem nunca se espraia...
A vida vai morrendo em sua praia!

Disfarce

Sonhaste com camelos no deserto.
Tu eras odalisca predileta,
Mil danças já dançavas, bela, ereta...
O mundo que sonhavas, estou certo,

Trazia a voz macia dum poeta...
Sonhavas acordada por completo,
Amores perseguias como seta...
De jóias, por sultões, corpo coberto...

Acordaste sozinha, sem ninguém...
Aos teus pés encontraste só comigo.
As dores dos amores que se tem,

Por certo são suaves, sem perigo.
Restando tão somente minha face...
Por amor, não te nego meu disfarce...

Beduíno

Pelo deserto, triste caminheiro.
Encontra nas areias seu tesouro.
Quem sonhava um amor mais verdadeiro,
Esmeraldas, opalas, prata e ouro...

Beduíno procura um companheiro,
Nada encontrando, o sol doura-lhe o couro...
Num oásis palmeiras num outeiro,
Uma bela odalisca, bom agouro...

A riqueza que traz não mais importa,
A beleza feroz, já o domina.
A lua no horizonte predomina;

A natureza abrindo sua porta...
Uma odalisca, bela como o sol...
Na fria noite cobre, qual lençol...

Eras a Princesa

Esperavas teu príncipe encantado...
A vida te negou tal fantasia.
A noite ludibria o belo dia,
O sonho que vivia, abandonado..

Princesa, não sabias que eu sabia,
Que espelho dos teus sonhos foi quebrado,
Negava à Cinderela essa magia...
Cruel mundo real manda o recado...

Dançavas tuas festas, lindos sonhos...
Pensavas noutros mares, u’a princesa.
Os medos transtornaram-te, medonhos.

A vida veio crua, sem beleza...
Quem brincava, tristezas teve par...
Quem sonhava, jamais pode encontrar!

Maquiagem

Espelho onde retocas maquiagem...
Nunca mente, mas finges não ouvir.
A noite transtornando tua imagem,
Madrugada teimosa não quer vir...

Espelho refletindo essa visagem,
O tempo vil mendigo vem pedir,
Nem espera resposta, por passagem.
Belas flores murchando... Vais sair...

O espelho respingando tanta mágoa,
As rugas mapearam o teu rosto.
As lágrimas descendo, dão um beijo...

A tristeza transforma-se nessa água
Que borra a maquiagem... No desgosto...
Mas, minha amada, como te desejo!!!!

Conter o Universo...

Nas ondas que perfazem tal mistério,
Estrelas vão pulsando num quasar.
Cometas peregrinos... Cemitério
Deste corpos celestes a vagar...

Universo criando seu critério,
Transformando tudo, sem parar...
Em momentos diversos, este império,
Transbordando violento em fogo e ar!

Nas ondas que recebo das estrelas,
As esferas são feras e tão mansas...
Quem me dera pudesse então bebê-las,

Transportando os espaços dentro em mim...
Percorrendo meus versos, novas danças...
Universos contidos, terão fim...

Casa Abandonada

A casa abandonada me trazia,
Criança curiosa não tem medo...
Descobre sem querer, tanto segredo...
A noite me deitava a fantasia...

Volta e meia, pensava que podia,
Tentava, me ocultava, saia cedo
Na entrada de tal casa um arvoredo,
Como fosse, da casa, um bom vigia...

Na casa abandonada, nunca fui,
Os fantasmas habitam o esqueleto...
A roupa que vesti o tempo pui,

Nada mais serviria por completo...
Na casa abandonada, minha vida,
Minha infância feliz, ‘stá escondida...

Patético

Meu amor opalesce tão patético...
Nesses cantos suaves das manhãs...
Amor hereditário, sim, genético!
Não desiste jamais das noites vãs...

Amor mais mentiroso, és hipotético
Persiste girassol, em meus afãs...
Oxalá sempre seja assim... Poético...
Amor que me devora os amanhãs...

Meu amor padecendo das saudades,
Mas sorri, tristemente, sem vergonhas.
Embalde adormecendo tuas fronhas,

Deslinda-se num poço de vaidades...
Amor que multiplica qualidades,
Esparso, se perdendo nas montanhas!!!

Agônico

Coveiro dessas minhas ilusões,
Um atroz serviçal das negras trevas...
Dilapida sem medo os corações,
Onde fora verão, sem perdão, nevas...

Fizeste minhas deusas, simples servas...
Trazes torpes problemas... Soluções
Ocultas; velha chaga, podridões!
Cadáveres de amores, sempre cevas...

A sórdida lembrança que deixaste
Reproduz fielmente meu tormento...
Nas pútridas manhãs que me beijaste,

As horas se verteram em lamento...
Não te quero mais, suma! És podre traste.
Deixe-me então em paz, por um momento....

Crisálida

Onde anda essa menina linda, pálida?
Os meus olhos buscando nada encontram...
Onde anda essa garota magra,esquálida?
Vou perguntando a todos, não me contam...

Tua tarde chegando, linda, válida,
Trazendo novos ventos que me espantam...
Transmuda-se, tão bela, na crisálida
Deixando para trás, tempos remontam...

Libertária terás as suas asas...
Borboleta, teus olhos sonhadores,
Aquecendo esse mundo, tuas brasas;

O tempo te trará prazeres, dores...
Das lágrimas felizes, terás casas,
Mesmas das tristes lágrimas de amores!

Deusa Maia

És uma deusa, linda deusa maia,
Uma noite virás para os meus braços!
E antes que isso aconteça, quebro os laços
Que impediriam de eu chegar à praia...

Bela deusa, levanto tua saia
E me embrenho feliz por teus espaços!
Não me permita Deus, que nunca eu saia
Do paraíso que encontrei... Meus passos

Titubeio, vencido o medo, sigo...
E cada vez que penso, não consigo
Imaginar-me só, deusa distante...

Meus sonhos virtuais, os meus delírios...
A noite que te trouxe, deu martírios!
Vento frio acordou-me neste instante!

Sonâmbulo

Andei por essa vida qual sonâmbulo!
Verti, da realidade, todo o senso...
Sorvi da crueldade esse preâmbulo
A transmudar nossa vida em imenso

Deserto. Nos cigarros, caranguejo;
Nessas minhas manhãs inconcebíveis,
Restando tão somente um vil desejo:
Penetrar teus desertos mais temíveis!

Andei por essa vida sem remédio,
As dores tão constantes causam tédio...
As fúnebres lembranças, solidão...

Tetânicos espasmos, coração...
Nem a fé acompanha mais meus passos...
A morte, sorridente, mostra os braços!

Nosso Caso

Nosso caso em perpétuas tempestades,
Carregando um mistério sem igual.
Atravessando campos e cidades,
Amor antigo, eterno, medieval!

Não permite penumbras nem maldades,
Caminha viagem transcendental!
Esvaindo-se etéreo em veleidades.
Amor eterno, lúdico, ancestral!


Nosso caso vencendo as intempéries...
Não permite qualquer outro caminho.
Tantas palavras ferem mas não matam...

Amor assim, jamais virá em séries,
Amor assim buscando sempre o ninho,
Numa face só, duas se retratam...

Deus

Encontrei um Deus livre, sem riquezas...
Andando sem calçado nas calçadas...
Um Deus manso, sensato... Das tristezas
Fazia um novo canto, madrugadas!

Um Deus mais solidário. De certezas
Rígidas e macias. Sem espadas,
Sem pensar em tais templos, realezas...
Um Deus Vivo caminha nas estradas!

Pobreza aliviada, miseráveis...
As dores mitigando com sorriso.
Um Deus amigo, brilho cristalino...

As palavras mais doces, mais amáveis;
Esse Deus verdadeiro, mais conciso,
Andava disfarçado de menino...

Solidão II

Priscas eras distantes da memória!
Nós éramos felizes, fortes nós...
Buscávamos, serenos, nossa história.
A noite chegou, veio mais atroz,

Não deixando restar nada... Da glória
Dos tempos idos, nada... Nem a voz
Que ouvíamos na noite, nem vitória
Sonhada, nem paz, nunca mais... Feroz

Solidão...Necrotério dos amores;
Morte lenta, punhal tanto lateja...
Solidão... Teimosia de quimera...

Carrego-te, guardada nos andores...
Solidão que destrói, não causa inveja,
Quem me dera morrer enfim, quem dera...

Bafio

O bafio da fera decomposta...
Na boca desse lixo escancarada,
A minha sorte morta esfacelada...
A mesa do banquete já foi posta...

Meu mundo destruído mostra, exposta,
A face mais cruel: sou simples nada!
Num momento fugaz, final de estrada,
A vida, sem sentido, a dor arrosta!

Destruído, sem rumo, espero a morte...
Se tiver, talvez, quem sabe, mais sorte,
Essa demora não será tardia!

A angústia tão voraz, já se demora...
Deitar eternamente, noite fria...
Me canso de esperar: quem sabe agora?

Chuva Derradeira

Se foi felicidade, hoje, agonia...
A chuva derradeira já não tarda
A sorte prisioneira, esta bastarda.
Me deixa... Mal a tarde inda morria...

A noite que se mostra gela, fria...
Melancolia chega, fera parda.
Minha esperança morta, grão, mostarda...
Lá fora, soprava o vento... Chovia...

Ilusão, devorada pelos vermes...
Neste esgoto, tão meu quanto dos ratos.
Plutão espera um velho... Julguei Hermes,

A mocidade cospe nestes pratos...
Minha alma apodrecida pede paz...
Quem m’ouve, tão somente Satanás!

Jardim sem Flores

Quem me dera saber, fosse um profeta,
Dos dias que virão, nosso futuro...
Qual o caminho? Qual a melhor meta?
Eu não caminharia assim, no escuro...

A vida, meu amor, p’ra ser completa
Espreitar essa presa, saltar muro...
Meu coração tristonho de poeta
Espera a calmaria... Foi tão duro

Perder-te, nada mais me importará!
De que me vale luas sem luar...
As ruas onde levo minhas dores,

Sei por certo, jamais chegarei lá...
Quem precisa de vida sem amar?
É como meu jardim, seco, sem flores!

Guerrilha

Nossa vida transcorre sem perfumes...
As portas se fecharam, sem quintal...
Repetes cada dia teus queixumes,
As dores promovendo um festival!

Por que tantas mentiras e ciúmes?
Amores não suportam... É letal!
Depois de perseguir, chegam aos cumes
Matando simplesmente... Um animal

Feroz... As cicatrizes me tomaram,
Envolvendo os meus restos de esperança...
No lugar da paz, tristes, deixaram

As marcas indeléveis da guerrilha.
A mão que procurava não alcança...
Amor perdido, tentando nova trilha!

Mormaço

Na tarde quente, queimam-me o mormaço...
O tempo demorando-se a passar...
Eu sinto tão pesado o meu cansaço,
A vida transcorrendo devagar...

Distante sempre estou do teu abraço,
Na tempestade amena, naufragar!
Nas orlas dos meus sonhos, simples traço...
Nas fontes dos desejos, mergulhar!

Mas essa quente tarde imobiliza.
O vento prometido nunca veio.
Nem ao menos percebo suave brisa.

Preciso te encontrar, procuro um meio...
A tarde agonizante não me deixa...
Nem os ventos carregam minha queixa!

De Todas as Maneiras

De todas as maneiras vou te amar!
Por todos os meus mares e campina...
Nas ondas que se vão, neste luar...
Coração que se entrega, descortina

A vida que jamais pode esperar...
Um bolero orquestrado, a louça fina...
O tempo amaciando sem sangrar...
Meu coração descrente hoje imagina...

De todas as maneiras... Tão distante...
Quando partiu, deixou um vazio peito...
Tempestade rugindo, delirante...

Quem partiu só saudade me deixou...
Nem a força, seguir para adiante...
Quem me dera esperanças, as levou!

Ressurreição

Quando a vi nem pensei fosse possível
Ter em meus braços bela criatura...
A vida a transcorrer tão impassível,
Na penumbra soturna, uma amargura...

Nunca imaginaria fosse crível,
Eu pudesse encontrar tal formosura...
Num momento feliz, fui mais sensível;
Pois jamais encontrara, amor, candura

E deixei minha vida flutuar...
As palavras que ouvi tão sedutoras,
Posseiras, invadindo devagar...

As noites que passamos tanto douras...
Quero a maciez límbica e certeira,
Ao te ver renasci p’ra vida inteira...

Gentil

Tens a marca gentil da formosura...
Nos teus olhos resplendes toda a luz...
Tua boca sanguínea, bela e pura
Em momentos divinos me seduz...

Os teus cabelos longos, tez escura,
Ao amarmos, cavalgas-me andaluz...
De beleza mais rara, a carne dura,
Num sorriso brilhoso que reluz...

Num amor tão brioso, mais sincero,
Quem conhece tua alma não te esquece...
Concebi meu poema em voz de prece

Para cantar–te inteira. Pois espero
Que não deixes jamais, minha rainha,
A minha alma tristonha, assim sozinha!

Açucena

Minha açucena, bela, porém álgica...
Nasceste em jardim fúnebre, espástico...
A vida me ensinou, defesa antálgica,
Um coração tão frio fosse plástico...

Minha açucena, flor de minha vida...
Quem nasce em tal jardim, recende a dor...
De todas cercanias, esquecida,
A beleza sutil, mágica flor...

Açucena, serena companheira...
Não me deixes sozinho, eu tanto peço...
És brilho de esperança verdadeira...

És o que me restou desse universo!
Resplendes toda a luz, minha existência!
Açucena, não vás... Peço clemência!

sábado, 23 de setembro de 2006

Ave de Rapina

Minhas costas lanhadas por vergastas
Que disparas, vadio coração.
Amores decompostos viram pastas.
Bebendo mal disfarço a solidão!

Os fortes que lutei dividem castas,
As ruas que marchei, um simples cão!
Se cada vez que nego, mais te abastas,
As pedras construíram meu porão!

Nestas costas sangradas nascem moscas.
Nas feridas estranhas, podres, toscas...
Arranco-te devoras as entranhas,

As dores que provocas são tamanhas!
Gargalhas sem pudores e nem penas.
Das mãos que me torturam nascem penas!

Fugiste

Fugiste... Nem deixaste tuas marcas...
Quando me ensolaravas, foste lépida...
Minha alma bronzeada quis as barcas.
A tarde que negavas, forte, tépida.

As horas de prazeres alçam vôo,
Fugiste... Me roubaste, Messalina!
Messianicamente te perdôo
Não quero me lembrar dessa menina!

Mas, quando a noite chega, velha chaga.
Reflexos desta sobre o mar...
Depressa o pensamento vem e estraga...

Os olhos recomeçam procurar...
Fugiste... Teus caminhos já não sei!
Meu Deus, onde se encontra quem amei?

Solstício

Quando te quis, fugiste num solstício...
Bem antes nem sabias de meus versos...
Agora meu querer não é fictício.
Procuro-te vagando os universos!!

A sorte me legou venal ofício,
Procuro meus sentidos mais diversos,
Nos píncaros mais altos, precipício,
Esses íngremes morros são adversos...

Quando te quis, levaste meu poema,
Sugaste todo sangue que pulsava...
Restando nem sequer um só emblema!

Nas pontes que passei, quedei pinguelas...
Vertidas muitas lágrimas, estava
Fechando tantas portas e janelas!

Racional

Quisera ser por certo racional,
Não pude, nem prefiro ser assim...
Amor que me maltrata, um ser fatal,
A noite adormecida chega ao fim...

Quem dera descobrisse mais leal
Aquela que levou o meu festim,
Quem fora fantasia, carnaval,
Vai agora acendendo o estopim!

Se fui frágil, sou ágil, não me alcanças...
Nas lutas que passei, audazes danças,
Restaram tão somente esse cansaço.

As horas já dormidas, teu abraço...
O rosto que estampaste num retrato,
Traduz num só delírio nosso quarto!

Vermes II

Sobrevivência exige persistência!
A vida se traduz vitalidade...
A fome que corrói, u’a pestilência
Nas torpes caminhadas. Ansiedade

Curtindo nossa gente tão faminta!
Quem já fora repúdio desta raça.
Quem sempre permitiu que tanto minta,
Quem fez em nosso solo tal devassa,


Levanta-se cruel, velha chibata.
A dor que sempre sangra, e que maltrata,
Mitigada por mãos que acariciam...

Agora, esta gente revoltosa,
Espinhos que negaram nova rosa,
Ameaçam calar os que saciam!!

Notório Amor

Em teus braços persisto sempre imerso...
Tu és vulgar, terrível ser ególatra.
Compartilho caminhos, vou disperso.
A boca que beijei, por certo idólatra!

Idolatrada amada. Cadafalsos
Reconheço através de teu delírio!
Os medos que possuo, todos falsos,
Não cabem nem sequer no meu martírio!

Quem me dera saprófita esperança.
Vivesse nos meandros da saudade...
Nos olhos mais sutis nunca se avança,

Quem fora mais criança, nunca há de!
Em teus braços resisto merencório!
Amor te reconheço tão notório!

Serpente II

Perpetuas amor por onde passas...
Nas camas que freqüentas não descansas.
Os corpos que devoras, são carcaças,
As bocas desfraldadas onde danças...

Te conheço, disfarço tuas farsas,
As vezes que te quis, fomos crianças,
Nas camas que dormimos, tão esparsas,
Rolamos amplidões, desesperanças!

Sutilezas profanas, tuas covas...
Amores que perecem já renovas.
Os dentes que me cravas, venenosos...

Nas vezes que apunhalas, distraída.
Escorre neste sangue tanta vida...
Os beijos que envenenas, mentirosos!

Seca

Não te falo em meu nome, sou poeta!
As dores eu encaro com sorriso...
A minha vida segue mais completa
Das trevas vou fazendo o paraíso!

Quando escrevo pensando na miséria,
Eu penso em nosso amado brasileiro.
A treva que se abate é coisa séria,
Orgulho se perdendo num braseiro.

Tendo as filhas vendidas nas estradas,
Tendo os filhos morrendo sem remédio!
Mulheres tão sofridas do sertão...

Os homens engolidos pela fome.
O calor, um incêndio que consome,
O sol vai congelado na amplidão!

A Dor

A dor que dilacera corações,
Reside nas profundas de minha alma...
Herdando velhas chagas, aflições,
Não tenho mais sequer quem me acalma!

As rosas exalando podridões,
Teu nome rabisquei na mão, na palma...
Vermelhos velhos vermes vendilhões,
Meus versos são versões antigo trauma...

Minha dor, resistente não perece...
A cada novo dia me envelhece,
Nas rugas que desenha minha face...

Desdenha sutil corda que embarace
Meus passos sertanejos na cidade.
A dor que já me enluta, a da saudade!

Loucura e Lucidez

Ao te encontrar serena, quis ser lúcido...
Doidivanas pensei que te enganava...
Mas por ser transparente, sou translúcido,
Sorrias, cada vez que me encontrava!

Dos porões, emergindo meus defeitos,
Percebeste num átimo: sou louco!
Não queres mais dormir meus mansos leitos...
Te grito embalde, foges, estou rouco...

A voz não me permite te chamar,
Não posso teus desejos transformar
Em simples valentia nem conquista.

Amor, te imploro, nunca mais insista,
Prazeres não nasceram para ti.
Transtornos são, pois, tudo que vivi!

Gaiola

Como posso cantar nessa gaiola?
Já não tenho horizontes nem futuro.
A dor que me castigam, vem, assola,
As pernas se quebraram, triste muro...

Liberdade, meu peito pede esmola,
Mas negas... Prisioneiro deste escuro,
Procuro me encontrar... Fizeste escola,
Não tenho minhas asas, sou anuro...

Não consigo equilíbrio, vou voar?
As cadeias me prendem, me torturas...
As noites que se foram, ditaduras...

Onde e como consigo meu cantar?
Nos colos desta serra que hoje vejo,
Ali, reside todo o meu desejo!

Adultério

Amanhecer, raiando um novo dia....
Passarinhos cantando na janela,
A boca escancarada, poesia...
Sonhei a noite inteira só com ela!

Nos sonhos tão feliz, a fantasia...
Aurora desfilando cor mais bela,
Acordes dissonantes, melodia...
A vida repetindo essa novela!

Amores são mentiras que sustentam,
Meus sonhos são remotas cachoeiras.
Nas horas mais tristonhas já me alentam,

As asas que voavas, verdadeiras!
Não quero decifrar o teu mistério.
Apenas não me tragas adultério!

Dias Invernosos

Os meus dias mais tristes, invernosos...
Não permitem meu sonho, vil quimera!
Meus tolos pensamentos, andrajosos,
Procuram acalmar aguda fera...

Os olhos que choravam, lacrimosos,
As cordas que jogaste, minha espera!
Os traços que negaste, radiosos,
Os beijos tão mortais desta pantera!

Não quero nem pressinto solidão,
A vida não me deu mas não tirou...
As cordas que ponteiam a canção,

O tempo mais feraz nunca negou.
A vida num silêncio, catedral,
Minha esperança jogo num bornal!

A Vingança dos covardes

A vergonha assolando meu país!
Pelos cantos a fome se aplacava.
Imprensa, oposição qual meretriz,
Ao ver que velha noite se acabava,

Um sonho mais gentil se acalentava,
Já tentam impedir de ser feliz
Aquele cuja fome não calava,
Aquele que vivia por um triz!

Silêncio sobre torpe corrupção
De quem sangrou, roubou,qual vendilhão,
Não deixando sequer resto de esperança...

Ao ver esse sorriso da criança
Faminta, não consegue se calar!
Ao povo por vingança, TRUCIDAR!

Céu

O céu que te guardou era tão límpido,
Os mares que mergulhas quando falas...
Destinos teus, homéricos... Insípido
Pensamento vagueia pelas salas...

Não tive nem sequer uma verdade,
As rosas expulsaram meus caminhos...
Não deram seus ouvidos p’ ra saudade,
Deixaram bem expostos, os espinhos...

Neste céu traiçoeiro, rasga o sol,
Girando transtornado um girassol.
Girando minha vida sem certeza...

Quem dera realidade à realeza,
Adormece segredos. É carnal.
O céu que me enganou, hoje é fatal!

Meus Desejos

Meus desejos transcorrem vivos, plenos...
Transformados em sonhos delicados..
Na beleza que tens, Ó minha Vênus,
Meu mundo viveria sem pecados...

A sorte que me lança de joelhos,
Não deixa mais verter as minhas lágrimas...
Das fontes que bebi, não sei de lástimas,
Os olhos que chorei, estão vermelhos!

Meus desejos deliram seu juízo.
O resto que carrego nem preciso.
O que fizeste enfim, dos tristes versos?

Percorro sem saber, mil universos...
Palavras beijam, cortam, dilaceram...
Amores que criei, nunca me esperam!

Peregrina

Minha vida passando peregrina
Procura por um porto de chegada...
Um medo me transtorna, me alucina,
O de perder-te enfim, não sobrar nada!

Matéria que formou-te era mais fina,
A mata onde brotaste iluminada...
A vida prometida, tua sina,
Descansa seus segredos na calçada...

A minha peregrina solidão,
Esquece de chegar ao teu caminho...
Quem nunca transformou meu coração ,

Procura, de repente, fazer ninho...
A porta já tranquei, passei tramela
A vida vai passando na janela...

Angelical II

O véu que te cobria era tão branco...
As asas que voavas assassinas!
Sorriso meigo, branco, amigo, franco...
Nas asas que voavas, minhas sinas...

O véu que te cobria, belo flanco
Descobria asas, suas asas finas...
Franco sorriso, siso franco. Manco
Coração... Suas asas descortinas...

No véu que te cobria teu sorriso...
Nas asas que voavas, coração!
Francos os teus sorrisos... Te preciso...

Não mintas por favor, não quero o não...
Nas asas que me mostras meu destino...
Os sonhos delicados dum menino!!!

Deusa Casta

Quando te vejo linda deusa casta;
Teus passos flutuando, me alucinam...
A mão mais carinhosa não te afasta,
Mas foges... Torpes dores determinam

Meu sonho tresloucado! Mas, já basta!
Não quero meus mares que terminam,
Na areia triste, vaga, tão nefasta!
Meus dias mais cruéis me desatinam!

Em pedaços ruína do que fui,
Espreito teus carinhos... Não me dás...
Amas, bem sei... Tu chamas por um Rui,

Me arruínas, destróis os meus desejos...
Nas noites que vaguei, fui Satanás...
Agora, mendicante, peço um beijo!!!

Angelical - com estrambote

Adormeces, suave, num divã...
Nunca sonhas comigo, bem o sei.
Os teus olhos fechados. Amanhã
O sol virá beijar o que sonhei...

Adormeces, tranqüila, vida vã...
Em toda fantasia que criei,
Vieste nua, bela cortesã...
Caminhavas, camurça, onde sou rei...

Eu sonhava acordado, nem me vias...
Voavas transparente, num corcel,
Caminhavas, angélica, no céu...

Lambiam-te serenos, ventanias...
As rosas que choravam tua ausência,
Imploravam pediam por clemência.

Mas não ouvias, ias solitária,
U’a passageira alada, temerária...
E a noite te abraçava, solidária!!!

Transparência

Olhava-te... Tão bela deusa pálida...
Na aldeia morta, triste sem sentido.
Meus braços procurando-te, estás cálida,
Deitada, mal percebes... Duvido

Que tenhas tantas luzes nos teus sonhos...
Os dias que virão trarão castelos...
As mãos calejarão-se nos rastelos
Quem dera acreditar dias risonhos!


Mas dormes, não consigo te esquecer...
Nas tuas transparências nem me notas.
Como, meu Deus, irei sobreviver...

Belos seios demonstra teu vestido...
Nossos mundos diversos, outras rotas...
Quem dera não tivesse conhecido!!!!

Estrambótica

Quando te percebi, tão estrambótica,
Pensei ter encontrado enfim, fantasma.
Quem sabe não seria ilusão d’ ótica?
Ou a terra s’abrindo um triste plasma.

Mas ao ver-te de perto não me engano.
O que me parecia fantasmal,
É por assim dizer um ser humano?
Embora parecesse um espectral

Ser, emergindo fétida, pântanos...
Nem que chovesse tétricos cântaros,
Não consigo chamar-te de querida.

És resto do que fora triste vida;
Hálito sulfuroso queres beijo...
Incrivelmente insano: te desejo!

Mãos

Minhas mãos percorrendo teus cabelos...
A boca aberta... Anseios se procuram...
Sementes que lançamos... Nos novelos
Das línguas mais ferozes se torturam...

Procuro por teus dentes, quero tê-los
Mordiscando... Delírios loucos curam...
Morena tez, serena fez vivê-los
Na fantasia louca se emolduram!

Minhas mãos dedilhando são macias,
Nas noites que brindamos, tão vadias...
Montanhas que escalamos toda noite...

Os beijos delirantes são açoites.
Os portos que naufragam nossos barcos.
As mãos a penetrar todos os arcos!

Anarquia

Quando te conheci eu não sabia,
Nem passava sequer um pensamento,
Um amor tresloucado uma anarquia,
Na nossa tempestade sobra o vento...

Mas, no fundo, bem sabes que este tormento
Esbarra na tristonha noite fria.
Quando juntos, unidos num momento,
Sabemos praticar democracia!

As invenções, amores se completam,
Os turbilhões, devoram-se, vorazes...
Democraticamente vão se injetam.

Nem desconfiam, loucos e audazes,
Que descobrimos... Manso, lasso terno,
O mais completo tipo de governo!

Afrodisíaco

Nosso amor assim paradisíaco,
Não descansa nem pode descansar...
As noites a rolar, afrodisíaco,
Afrodite não cansa de dançar...

Amor espúrio, sexo e caneladas!
As luas sem pecados, voyeuristas;
Não deixam de luzir as madrugadas,
Aplaudem, invejosas, dois artistas!

Nas orgias satúrnicas, bacantes...
A noite velha atriz, nos dá cometas...
As bocas se percorrem, delirantes.

Misturam tantos dedos, pernas, tetas...
Nosso amor, nas ternuras e delícias...
Nos desejos atrozes de carícias!

Amor Esquizofrênico

Este amor que me deste, esquizofrênico,
Às vezes distraído, outras vulcânico,
Nas tuas variantes, pensei cênico.
Quantas vezes traduzo assim, tetânico!

Este amor que se fez mais paranóico,
Quantas vezes machuca-me platônico...
Muitas vezes preciso ser estóico,
Outras, inerte, sinto estar atônico...

Este amor pedregulho sem falácias...
Sangue se anemiando sem hemácias...
Riso solto, meu risco sem esperas...

Um amor mentiroso que temperas...
Esquizóides maneiras de se amar.
Te tenho, não me tens, onde parar?

Minha Alma Vai Perdida

Minha alma, embalde, passa, vai perdida!
Não permita tristezas nem vinganças...
Das voltas que passei sem despedida,
As cordas que cortei das esperanças!

Na plantação dos sonhos, minha vida;
As flores não brotaram... Minhas lanças
Ultrapassam espaços. Já perdida,
A noite que busquei deixou lembranças.

Meu velho camarada não descanses...
A luta que se trava tem segredos.
Batalhas tem matizes, tem nuances,

Não se deixe enganar pelos teus medos...
As mãos que plantam tanto se calejam,
Por amores insanos já pelejam!

Desperta Minha Amada

Meu mundo mais silente e sem teu viço.
Num momento, perdeu o seu sentido.
Espinhos carregando qual ouriço,
Às portas da saudade, deste olvido.

Quem fora tão pudico, tão castiço,
Morreu sem nem saber, mais destruído.
A vida derrubando esse caniço,
A sorte não legava, distraído...

Me deste então sentido, mas sem rumo...
Desfazes todo leito em que descansas.
Nas vezes que tentei não me acostumo...

Desperta minha amada, temos danças!
Ao redor, maravilhas se deslindam...
As horas que sofri, lá fora, findam...

Funeral das Esperanças

Não temo o funeral dessa esperança...
Caminho transbordando meus enfados
Os dias já mataram tal criança,
Sem bosques, campos, perco os belos prados.

Quem me pedia estranha temperança
Prefere perceber seres alados.
Nos salões onde, louca, finges dança,
Meus olhos se fechando, enfim, cansados.

Anda, levante tuas mãos sangrentas!
Não tente sepultar as minhas tardes.
As formas de viver já não enfrentas.

Nas luas que queimaram, já não ardes.
Os olhos empapuças com mentiras.
Nas ondas deste mar, já não me atiras!

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Noite dos Amores

Meus olhos decifrando teus problemas,
Decoro minhas tendas com mentiras.
As ruas que iluminas, velhos temas.
As cancerosas bocas que me atiras.

Nas melindrosas luas, meus poemas.
As trevas que me deste, velhas tiras.
Nos medos que segredas torpes lemas.
Nos teus tantos dilemas já me estiras...

Adormecido nas guerras que me fazes,
Iluminando o brilho do meu túmulo.
As vezes que fingiste surdas pazes.

O começo e final, tu és o cúmulo!
As forças que roubaste fazem falta.
A noite dos amores, dorme incauta!

Decadência II

A decadência bate em minha porta...
Não me restam pernas ando cego.
Minha esperança luta, mas vai morta.
As dores do passado inda carrego.

Os tempos já são outros... Quem se importa?
As mãos já calejadas, nenhum prego.
O resto que desaba, sangra, corta...
As lutas que perdi, embalde, nego!

A decadência serve-se do resto,
Não tenho a lucidez para enfrentar
A morte. Companheira a quem empresto

O que sobrou dos raios do luar!
A mão vai descrevendo um simples gesto,
Coragem necessito: me matar!

Medo de Morrer

Olhando meu passado, hoje percebo.
Como pude mudar tão de repente?
Não posso nem pensar como concebo,
Quem fora mais feliz, vai simplesmente...

A morte bafejando me desmente,
Quem outrora já fora bel mancebo,
A pele se desmancha, um velho sebo.
Jogado às traças, morte está presente...

Não quero decifrar nenhuma esfinge.
Parábolas criadas não as temo.
A boca que hoje beijo, mente, finge.

Meu barco naufragado não tem remo...
A dor de não saber já vem, me atinge...
Com medo de morrer, então eu tremo!

Zombar do Amor

Quem zombava do amor, agora chora!
A vida tem perpétuas nuances...
Olhando assim de banda, tais relances,
Balançam derrubando tudo agora!

Quem zombava, jamais perdeu as chances
De sentir que essa vida nova aflora.
A vida repetindo velhos lances,
Quem diz nunca amaria, vai-se embora!

As lágrimas que vertes são piadas,
Contadas num passado inda recente...
As noites mal dormidas, soluçadas...

Verdades doloridas pra quem mente...
As grutas que negaste, nas estradas
Defloram, te penetram docemente!
Nas minhas hemorrágicas saudades,
Nas minhas verborrágicas canções.
As noites foram trágicas verdades.
As dores deram túrgidas sanções...

Ascensão e declínio, veleidades...
Nas manhãs um fascínio, soluções!
Meu amor longilíneo, tantas tardes...
Mas conheci declínio sem perdoes!

Essa penumbra histórica me seduz,
Toda minha retórica desfaz...
A minha dor teórica reluz...

Nos olhos teu martírio já me traz
A porta do delírio que não nego.
Esperanças dos lírios que carrego!

Lendas

Percorrendo teus vértices, natura,
Encontrei as tais sombras que perdi!
Reparei criador e criatura,
No mesmo instante, morte conheci!

Quem fingia viver doce candura,
Me lambia, dizia: Estou aqui!
Serpente disfarçada de brandura.
Em fatais sortilégios eu cai!

Agora, agonizante caminheiro,
As cruzes que me deixas me penetram!
Os sonhos que jamais pensei adentram,

Deixando suas marcas e remendas...
Quem sempre parecera verdadeiro.
No fundo não passou de simples lendas!

Extrato

A vida chega, sangra sem perdão.
Dilacerando todo triste sonho...
Nada mais rutilando, sou o não.
O resto desse barco tão medonho!

Cicatrizes abertas, podridão!
Fraturam minhas pernas.... Me exponho!
Em cada novo verso minha aversão;
Extraída por fórceps. Bisonho...

Nada mais restaria, simples parto...
Abortei das entranhas meu futuro!
De torpes cantilenas já me farto...

Perambulo vielas, salto o muro...
Acaricio vermes. Me procuro
E me encontro, jogado, resto, extrato!

Desdém

Por que me desdenhaste se te quis?
Nunca mais me deixaste, pensamento...
Quem me dera pudesse ser feliz.
A vida não seria sofrimento...

Tento escapar...Atiras... Qual perdiz
Ferida, me levanto. Caio... Tento...
Em vão... Tu conseguiste... Que fiz?
Destino não permite mais invento...

Por que me desdenhaste tanto assim.
A noite tenebrosa cai em mim.
Os olhos lacrimejo num delírio...

Os clarins vão tocando seu dobrado...
Amor que me deixou desesperado.
A vida deixará o seu martírio!

Vida

Tantos medos, sem te ter... És salvadora!
Essa porta entreaberta, a da saudade,
Permite adivinhar a mocidade
Esquecida num canto, redentora!

Não mais te esquecerei, jamais se fora
Quem me riscou os olhos, realidade!
A vida essa poeta e escritora,
Descreve seu lindo arco... Quem há de

Negar a sua força desmedida.
Caçar os teus destinos minha amada...
Verter os meus sentidos, incontida

Fera, que não me pede e perde nada...
Sem teus manejos, perco rumo e estrada.
Que seria de mim sem ti, ó vida!

Cura e Dor

Cadeias da tristeza, me livraste...
Deixando meus pés livres para a vida...
Das dores infinitas, me abjuraste.
Deixando essa mãos livres... Esquecida

Da proteção divina, me negaste...
Então mãos e pés, trazem despedida.
Quebraste sem saber toda fina haste
Que mantinha meus pés. Foste bandida!

Cadeias de tristezas, teu legado...
Preâmbulos mortais, velhas cantigas...
Um coração que fora apaixonado

Percebe velhas dores, tão antigas...
Um coração que bate, vai de lado...
Te imploro, vou tristonho, mas nem ligas!

Embriagado

Acaricio o corpo de quem amo...
Devagarzinho, manso, bem suave...
A voz macia, leve já te chamo
Para a vida, voarmos nossa nave.

Ao não te ver depois, então reclamo.
Não permitindo mais nenhum entrave,
O medo de perder-te. Nele inflamo.
Retirar de teus olhos triste trave...

O corpo de quem amo, acaricio...
Suave noite cai, trazendo ardor...
Em todos os momentos deste cio,

Amo-te demais; fina e bela flor!
Amar-te é droga, nela me vicio...
Embriagado, vivo desse amor!

Sonhos da Natureza

A natureza envolve-se em teus braços.
Adormece silente, tal beleza...
Dormindo calmamente teus abraços,
Esquece-se profana da tristeza!

Natureza adormecida, nos seus traços,
A vida se refaz bela certeza!
Os olhos que choravam, tristes baços,
Abertos, enamoram...Natureza...

Vindo o cheiro da terra que se molha,
Percebendo a meiguice, ser amada.
Acordando, tão mansa, pra tudo olha.

Procura teu sorriso, não vê nada!
A chuva caindo lágrimas, implora!
A natureza, entristece-se, chora!

Motivas

Motivas o soneto que hoje faço.
Manso, doce, pacífico, cru...
Tropeço, mergulhando me embaraço.
Desejo simplesmente o corpo nu.

Amada quero a boca, forte laço.
A rosa apodrecida, um abaju
Aceso, descobrindo meu cansaço.
Novas asas partidas, seminu...

Amor traga paixões e despedidas...
Estragando as cantigas, solidão...
Nossas portas fechadas, divididas...

As noites que enluaram o sertão...
Motivas meus sonetos, fomos vidas.
Destrambelhado bate o coração!

Teus Rastros

Procuro por teus rastros na campina...
A noite inteira, busco essas pegadas...
A lua, companheira me ilumina.
As horas que passei, nas madrugadas,

Nesta busca, beleza descortina...
Te quero, mais que tudo... São aladas
As velhas esperanças. Na menina
Que procuro, as ternuras encantadas!!

Procuro por teus passos, não os vejo!
Ao longe, vai tocando um realejo...
Um verde passarinho, da esperança,

Me mostra teu caminho, uma criança
Que aprendi tão risonho tanto amar!
Teus rastros encontrei. Vão dar no mar!

Fonte dos Desejos

Minha vida, que fora tão perdida,
Ao encontrar-te, livre como o vento.
Deixou a dor fatal na despedida,
E renasceu, matando o sofrimento!

Não quero mais viver tua partida,
Nem deixo suplantar-me tal tormento.
A solidão se encontra adormecida.
Saudade não deixou nem um lamento!

Te quero, amada, minha luz e glória!
A vida não repete velha história.
Quero ser teu eterno colibri.

Amo-te, bem sei, desde que nasci!
Eu encontrei em ti, deusa vivente,
A fonte dos desejos permanente!

Quem me dera...

Quem me dera conter tua saudade!
Quem me dera saber de teus desejos!
A vida não traria realidade
Na fantasia louca de teus beijos...

O dia nos pintando os azulejos
De fina cor mais viva, claridade!
A lua nos cedendo seus cortejos.
A paz dominaria humanidade!

Quem me dera saber de teus caminhos.
Viajando por espaços, passarinhos...
Navegando teu cansaço depois...

Nos mergulhos divinos de nós dois...
Meus sonhos e delírios de menino...
Vivendo até morrer num desatino!

Maior Amor

Não há maior amor, nem mais profundo...
Estrelas vão caindo, nos invejam.
De todos vários cantos, desse mundo.
Pérolas, esmeraldas te cravejam...

De ternuras, paixões, logo me inundo.
Telúricas manhãs já te desejam...
Nos cálices das flores eu vou fundo.
Belos azuis celestes se azulejam...

Não há maior amor, nem mesmo almejo...
Nas esperanças deixo meu barco ir...
Das ondas de teu mar, quero sentir,

As centelhas que brilham mal te beijo...
Não há maior amor, nem vou pedir...
Estrelas testemunham meu desejo.

Ansiada Manhã

Minhas lágrimas caem, são mendigas...
Imploram por teu beijo e tua boca.
As flores que murchamos, são antigas,
A vida que passamos, deixas louca!

Nos caminhos plantaste urzes, urtigas.
Minha voz, de implorar, ficando rouca.
Marinheiro, naufrágios, mas nem ligas.
Restou de tanta luta, luz bem pouca...

A minha namorada, minha amada,
Nas portas d’ilusão, perco meu mar...
Não espero teus ninhos, braços, nada...

Teus caminhos perderam-se... Amar...
Abra teus braços, dê-me esta ansiada
Manhã. Não me canso de esperar!

Negaste a Primavera...

Quando, enfim, me negaste a primavera,
A vida me sorria desdentada!
Não temia naufrágios, nem quimera,
Os meus dias sonhavam madrugada...

Mas vieste e roubaste, cruel fera,
As cores que pintavam deram nada.
As flores que teimavam, numa espera,
Morreram ao sentir tal invernada...

Nossa vida foi barco sem sentido,
Nossos olhos chorando na partida...
Nem posso lamentar tempo perdido.

Nem quero descobrir a nova vida...
Amor que se partiu, foi dividido.
Nada restou, senão a despedida!

Tarde Triste

Essa tarde caindo me entristece...
As nuvens decorando o entardecer...
Te peço, te implorando numa prece ,
Não me deixes jamais, melhor morrer!

Amada, mulher linda, não confesse
Teus pecados nem diga mais porque,
A noite que aproxima não merece...
Essa dor que se emana sem saber...

Capoeiras, sertões, as esperanças...
Trazendo minhas mansas ansiedades...
As forças naturais, nas velhas danças;

As portas se fechando, impropriedades.
Sequer te percebendo, vens, avanças...
A tarde vem caindo, traz saudades!!

E Agora?

Amiga, me trouxeste essa amargura.
Tristezas e saudades me roubaste...
Nas horas que passei, a vida escura,
Meus beijos sem malícias, me levaste...

A vida se passava sem ternura...
Num átimo num lúdico contraste,
Cobriste minha vida, vida dura.
Fizeste dessas dores, ledos trastes...

Amiga, que farei sem poesia?
Não deixaste sequer um só tormento.
Acabaste com todo sofrimento.

Minha vida morreu, sem fantasia...
Baios, os meus cavalos, num momento...
Cavalgam tua bela melodia!

Noite Atroz

Noite trazendo mágoas, não aguarda
Pela alvorada, passa muito lenta...
Serpenteia maltrata, pesa, enfarda,
A dor arrebanhando, violenta...

Noite cruel, vilã, u’a noite parda.
Nem o vento me acalma,nem alenta.
A noite vai passando, a manhã tarda!
Onda que nos penhascos se arrebenta!

Estropiado, morto, fatigado;
Arrasto meus chinelos pela casa...
Saudades e rancores, tudo arrasa!

Meu canto ecoa, vai desesperado!
Pisando tão sedento, dura brasa...
A noite se arrastando e eu parado...

Canto da Morte

Escutava o teu canto, longas noites...
Não te via nem sabia evidências...
Redondezas soavam estridências...
Penetrantes, ardentes feito açoites...

Não queria, mas vinhas,vis pernoites,
A cada instante mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...

Nada mais me restou, um nada ambulante...
Os meus dedos, cortados em teus dentes.
Do que me sobra, andando mendicante,

Farrapos me seguiram tão dementes!
Sem amanhãs, vazios adiante...
Pelo resto da noite, penitentes...

Companheira

A morte me sorria, linda, loura...
Estava angustiado à sua espera!
Meu tempo de viver cedo se estoura,
Não quero perceber sequer a fera...,

Esperava-te, morte redentora!
Perambulava à beira da cratera,
Vulcânica cratera, salvadora!
Da vida, chave d’ouro que tempera...

Nas minhas derrocadas, das batalhas,
Foste esperança trágica vitória!
Repousar meus defeitos, minhas falhas,

Na tua boca amiga, minha glória!
A morte, companheira mais fiel,
Vem, fechando as porteiras do bordel!

Pesadelos

Eu espero os delírios tresloucados
Dos noturnos flagelos... Noite escorre
Pelos dedos... Ouvindo os gritos dados,
Soltos pela altivez que me percorre;

Penso nos meus tormentos desgraçados!
Esperança insensata, porque morre?
Uns restos de tentáculos alados,
Meus pesadelos, nada me socorre!

Rebeliões gigantes, amazônicas...
Centelhas deflagradas dos meus sonhos
Fulguram paralíticas, atônicas...

Nesses redemoinhos mais medonhos,
Os meus delírios, chagas, mais risonhos,
São explosivos, loucos atômicos!

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Versos Mórbidos

Nestes meus versos mórbidos, nefastos,
Um resto de esperança apodrecendo..
Os vermes me passeiam, seus repastos,
Solitário vivi, mal percebendo

Teu afago funéreo, teus emplastos...
Se à sombra das angústias, vou vivendo.
Se a sorte me negou caminhos castos.
A vida vai nefasta me envolvendo...

Ri-se fantasmagórica miragem.
Espelhas meus fatídicos amores...
De tudo que passei, sequer imagem...

Os restos que sobraram vertem dores...
Da lama que me cobre, brotam flores.
As flores que apodreces, fina aragem...

Diamantinas Alvoradas

As cinzas que emanavam dos meus dias,
Criando tempestades sem descanso.
As rondas que faziam poesias
Meu rio procurando seu remanso...

As farpas que me deste, ventanias
Os píncaros sublimes não alcanço.
Não quero mais Renatas nem Marias...
Apenas restos sobram, então danço!

Minhas diamantinas alvoradas
Mentiram semelhanças e defeitos.
Carruagens divinas são levadas

Pelos corcéis velozes... Seus feitos
Espelharam as lendas e as fadas...
Os dias pareciam tão perfeitos!

Velhice

A velhice batendo em minha porta,
Trazendo as tempestades invernais...
A boca que beijava anda mais torta,
As pernas já não dançam carnavais.

O que fora vital, já não me importa.
As horas já não passam, voam mais.
A faca desdentada já não corta.
Os olhos que choravam pedem paz...

A velhice não deixa um só momento...
Não permite sequer esquecimento.
Representa fantásticas nevascas.

Da pele diferenças velhas cascas...
Aprendendo depressa a ter perdão.
Peço: Não envelheça o coração!

Rosas Murchas

As rosas que me destes já murcharam...
Crisântemos perdidos no jardim...
As horas que se foram não deixaram
Hortênsias, lírios, palmas nem jasmim...

Perfumes se perderam, não voltaram.
Adornos que plantaste, foram fim...
Nos campos nem certezas enluaram,
Tantos nãos ouvi, nunca mais um sim...

Mergulhei insensato, sem temor...
Velhas rosas murchadas sem alento...
Ressequidas torradas por calor

Excessivo, queimadas pelo vento...
As rosas vão mostrar o esquecimento.
Qual rosas que morreram, nosso amor!

Naufragando

Naufragando essa vida, num contexto,
Procuro por tais flechas que m’atiras...
Não quero mais saber de teu pretexto.
Nem quero conviver com tais mentiras.

Anos passam, amores são bissextos,
Velhas matas cascatas rotas tiras...
Esquecendo palavras do meu texto,
Nas sanfonas dançavas nos catiras...

As vozes que se calam sabiás;
As bocas que se beijam pedem paz.
Os olhos que se queimam nunca riem,

Impedem os que pensam vidas criem...
Não quero mais naufrágios da saudade...
Madrugaste tristezas falsidade...

Pedras

Das pedras insensíveis do caminho,
Dessas mansas ribeiras sem destino...
Não quero me encontrar jamais sozinho.
Nem quero mergulhar, ser assassino,

Cortar os pulsos, livre sem ter ninho,
As ondas me levaram, desatino...
Os portos que deixei, já me definho...
Vou de banda, pesado, torto, esquino...

Misturando essas dores com prazer,
Vivendo simplesmente por viver...
Não quero combater minhas tristezas,

Nem quero mergulhar nessas represas,
Onde escondes fatal impaciência.
Amar é destruir toda ciência!

Lua Sertaneja

Quem me dera ser lua sertaneja,
Iluminando as grotas da saudade.
Cariciando a mão que se caleja
Nas dores que disfarçam vaidade...

Beijando tão sutil quem se deseja,
Fazendo amor santa liberdade.
As falas já contidas, bela, arqueja...
Roubar dos verdes olhos, claridade...

Quem me dera nascer no plenilúnio.
Não caberia nunca mais esse infortúnio,
Nas carícias das fontes, matas, rios...

Iluminando cantos mais sombrios...
Quem me dera viver essa paixão,
Descansar os meus braços, ribeirão!

Dor Libertária

O que me invade, queima, arde traz luz,
Não me deixou jamais perder o canto.
As bodas entranhadas, minha cruz.
As cordas esquecidas, fino pranto.

Não quero nas esquinas um Jesus,
Já existe um mendigo e seu espanto.
Não quero a casa escura. Jorra pus
Das feridas rasgadas no teu manto...

Uma mortalha assaz fendida, pútrida.
A certeza voraz nova, antipútrida.
Nas esquinas que formam essa rua,

Vertentes solitárias, solidárias...
A tarde enlanguescida anda mais nua...
A dor que nos invade, libertária!

Força do Desejo

A força do desejo pulsa forte...
Cabe-nos simplesmente não temer.
A boca escancarada se é da morte,
Não deveria nunca mais comer...

Pelas ruas dos sonhos que se aporte
O novo, meus meninos, vão vencer!
Quem fora crueldade perca a sorte,
Que nunca mais respire um bem querer!

Nas margens violentas desses rios,
As canções abençoadas são hinos!
Não se permitam tétricos desvios.

Que a coragem de todos os meninos,
Seja a força maior. Seus desafios
Nos tragam novos dias, cristalinos!

Ocidental

Do lado ocidental, fétido lixo...
Das marcas das torturas sem sentido.
As trevas são restolhos, olho fixo.
A fome esmiuçada, sem partido..

O canto de teu povo, mais prolixo,
Traduz a velha forma dum olvido.
Nas paredes do peito, logo afixo
Cartaz, mensagem ,texto nunca lido!

Esqueço as canções, lutas e derrotas.
Destinos se cruzando, tontas rotas,
As vozes que te cantam se esmorecem...

Do lado acidental vidas padecem...
Esperanças transitam, novas, brotas...
Do lixo ocidental, as flores crescem!

Meus Leitos

Joguei todos os sonhos no estuário
Que percorre meus vales e montanhas...
As flores que colhi do mostruário,
Perfumam essas costas onde lanhas...

Não posso me livrar do teu cenário,
Nem posso achar amores nas entranhas.
Meu outubro ou outono passa hilário.
Carcomidos bastardos terços, banhas...

Quando partiste morto me deixaste!
Nas profundezas da alma, tais relíquias...
Nos dedos, dolorosas paroníquias...

Na vida que me roubas, mergulhaste.
Não quero conhecer os teus defeitos.
Somente irei dormir meus vários leitos...

Bocas Que Beijei

Nas bocas que beijei, um só veneno...
Na luz de um dia nasce meu amor!
As cordas que se cortam, sou pequeno.
Vou fazer faca, prata, luz e cor!

O brilho das mudanças, já te aceno.
Cabeças vão rolando meu torpor...
A dor sorrirá campos rios, fenos...
Não restará sementes nem calor...

Tanto sal escorrendo meu trabalho...
Venenos nas bocas que beijei.
As horas sem verdades que passei,

Temperam meus martírios, al dente, alho...
Amores que neguei num ato falho...
Nas bocas que beijei, nunca fui rei!

Meu Canto

Corro a te encontrar, triste como o vento...
As tortas caminhadas, céu de prata.
Perfazem meu telúrico lamento...
As flores se perderam, minha mata...

O pranto perseguindo novo invento,
As várias compleições dessa cascata.
Não quero saber pátria, me apascento...
Não tenho mais sustento nem bravata...

Todo meu canto, faca, enxada e foice,
Perdido navegante sem ter praia.
As hóstias engolidas, tudo foi-se,

Restou tal solidão que já se espraia...
Venha depressa ouvir o trem chegando...
Corro a te encontrar, vou procurando...

Burguesia

Os ratos devoraram sensatez...
Nas retinas queimadas pela luz...
Os ratos mortos pedem sua vez,
A carcaça inebria... Me seduz.

Olores decompostos, pequenez,
Abro a boca, escancaro velha cruz...
Nauseabundos seus beijos, mal me fez...
Os ratos devorando um avestruz...

Nas salas, nos meus quartos, meu sofá,
Roedores vorazes fazem festa...
Procurando carniça chegam lá.

As portas não resistem, abrem fresta.
A lua escancarada trava já
Os ratos devorando, pouco resta...

Ratos

As noites que passamos soluçantes...
As cordas do meu pinho te espreitavam.
As vozes que pedimos dois amantes...
Dormiam nas cadeiras nem chegavam...

Nas mortes que mordemos elegantes..
Fruteiras e morteiros misturavam...
As noites que salvamos mais dançantes
Mergulham nos passantes que se amavam...

Estrela que perdi, numa esplanada,
Vagueia poesia pelos bosques...
As frases se jogavam nos quiosques.

As fotos amarelas dizem nada...
Os ratos que comeram almanaques,
Nas nossas festas usam velhos fraques...

Violinos

Ouço, distantes, belos violinos...
Seus sons invadem toda minha vida..
Recordando meus velhos tempos... Hinos
Cantados por suaves vozes... Lida

Diária em busca de límpidos destinos.
A morte não deixou de ser sentida
Companheira fiel, meus desatinos...
Vida longa, arrastando a mão perdida...

Quem dera, violino, não parasses...
As cordas que traduzem fantasias.
Casas iluminadas, meus disfarces

Se escondem nas esquinas e nos dias...
Meu amor, por favor, nossos enlaces
Se repetem ao som das melodias...