domingo, 31 de janeiro de 2010

23950

Aventando uma sorte expressa em luz sombria,
Aonde se fez calma a rota tempestade
E o gosto do vazio ainda chega e invade,
Mostrando a realidade imersa em fantasia,

Na sorte que buscara a dor que não queria,
O mar sempre bravio; ausente liberdade,
Nas mãos do cantador a voz que desagrade
Emoldurando assim, o que fora utopia.

Arcar com cada engano e teimar prosseguir,
Negando desde já qualquer doce porvir,
Assim, não poderei sentir outra emoção,

Já que não mais traria o quadro que me alente,
Caminhos em que eu ande, eu finjo estar contente
Sabendo que depois, borrascas voltarão...

23949

Fechado dentro em mim oceano sombrio
Nefasta sinfonia expondo a morte em vida
Estátua do vazio, aos poucos consumida,
Esculpo deste mar, em mármol duro e frio

Auto retrato aonde; os engodos desfio.
Por mais que esta desdita, ataque e mesmo agrida,
A solução; não vindo, o apocalipse cria
Do velho tabernáculo um campo nu, vazio.

Ensimesmado e quieto, atrozes dias passo,
Deste universo imenso, apenas leve traço,
Rascunho concebido em simples garatuja.

Fantoche que se expõe um tosco caricato,
O Fado traiçoeiro, insano eu desacato
Minha alma apodrecida, agora, imunda e suja...

23948

Os dias turvos; tenho, ainda dentro da alma
Eterna viajante em busca do infinito,
Aonde se escondera eu tento e não me omito
Sabendo que o amor; deveras sempre acalma.

Não quero imaginar a dor, terrível trauma
Que agora transformada, apenas neste mito,
Não deixa que eu explane, em brado, sonho ou grito,
Mantendo-se distante, onde encontrara a calma.

Perguntas sem resposta, a vida não permite,
E tudo o que eu conheço, expõe no seu limite
A realidade tosca à qual já não enfrento,

Moldado pela foice, o corte da navalha,
A mão já calejada entrega quem trabalha,
Ferida se aprofunda, agora em vão tormento...

23947

Inócua resistência aonde eu quis um dia
Mostrar algum poder; disforme sonhador,
Bebendo desta fonte até se recompor
O que talvez transforme o mundo que eu queria.

Atento ao caminhar, a tola poesia
Permite que se veja um dia num sol-pôr
Matizes tão sutis que mostrem num amor
A senda mais brilhante, exposta em fantasia.

Romântico fantoche, atravessando o tempo
A cada nova curva, um novo contratempo
E assim vou procurando ao menos quem me queira,

Esgoto minha força, a busca sendo inútil,
O coração se mostra agora bem mais fútil,
Mas traz esta esperança, amiga e companheira...

23946

Por mares navegando em busca de algum cais
Antigo timoneiro esconde-se do frio,
E o medo do não ter; enfrento e desafio
Por mais que a vida mostre e grite: nunca mais.

Os dias do passado, as noites magistrais
A lua sertaneja, o tempo que desfio
A mansidão da sombra argêntea sobre o rio
Viagens sem limite, em astros siderais.

O gozo da vitória, a história não tem fim,
Quem dera, meu amor, a vida fosse assim,
Mas sabe o navegante aonde o seu tesouro

Perdido em ilha imensa, agora tão distante
E mesmo que oceano ainda belo; encante
O barco não tem força e busca ancoradouro...

23945

Pudesse ter do sol, fogo equatorial
Traria o brilho farto aonde recompenso
Os erros do passado, este terror imenso,
Momento de alegria, em paz fenomenal.

Mas quando vejo a sorte envolta em baixo astral
Percorro sem saber um mundo amargo e tenso,
E mesmo num vazio, ainda temo e penso,
E traiçoeiramente a vida, então, banal.

Já não suporto mais hibernar sem proveito,
As ordens do senhor, amor eu sempre aceito,
E nada me impedindo até de imaginar

Que o tempo se permite ainda em crer possível
Um templo feito em luz, diverso do irascível
Caminho que prevejo: ausente luz solar...

23944

Cadenciando a vida, encontro a paz que quero,
Não posso me furtar à dura realidade
Por mais que um verso tolo ainda não te agrade,
Encontro neste mundo, o rosto amargo e fero

Mostrando a todo mundo o quanto duro e austero
Porém traduz assim a luz de uma verdade
Que molda sem saber a cruz sem liberdade
Matando a cada dia, o mundo que inda espero

Aonde eu possa então cantar sem ter censura,
A sorte imaginada aonde se procura
Trazendo uma alegria ao coração ferido,

Ainda sendo belo o nobre amanhecer
Que é feito em claridade e traz farto prazer
Expressando este amor, cinzel com o qual lido

23943

Meu verso diz da trama aonde eu te encontrei
Vagando sem destino uma estrela perdida
Que jamais poderia encontrar a saída
Do imenso labirinto aonde o medo é lei,

Dourado brilho farto, iluminando a grei,
Que tanto imaginara, em plena despedida,
Agora vejo enfim, a glória concebida
Mudando este destino aonde vão, tracei.

Escrevo num soneto o quanto desejara
Amor em noite imensa, intensa, bela e clara,
Apenas por saber da vida que se faz

Enquanto ainda sonho, o mundo se revolta
A sombra do passado, aonde encontro escolta
Permite que se pense ausente e louca paz...

23942

Pudesse transformar a perda em algum ganho
Não sofreria tanto e enquanto houvesse chance
Visagem se moldando a cada bom nuance
A dor já se esvaindo e o medo agora, estranho.

A queda se prepara, e nela não me banho
Aonde se imagina e amor; portanto alcance
Eu posso imaginar um redentor romance
Nas ondas do poema, embarco e já me assanho.

Assim navegador que sabe a correnteza
Não teme maremoto e encara a natureza
Sabendo respeitar anseios e limites.

Por isso é que eu te peço, e nisto não segredo,
Que à sorte não entregue o mapa deste enredo,
E que afinal querida em mim tu acredites..

23941

Imagético sonho exposto na paisagem
Qual fora simplesmente um ato insano e vil
O quadro se desfaz aonde repartiu
O lúdico prazer, sem ter quem inda ultrajem

Corvos que de Allan Poe crocitam tal miragem,
Traçando sobre o busto em tétrico e sutil,
Mas desalentador cenário em que se viu
Apenas o vazio, estática estalagem.

Assim faço da vida a flâmula dispersa
Sobre a qual meu canto, ainda teima e versa
Espasmo convulsivo, insano caminhar,

Bebendo deste espectro aonde o nunca mais
Explode-se num rito, ondas fenomenais
Moldando o meu futuro em noites sem luar...

23940

Sarcasmos entre riso; irônico e estridente
Assoma-se o terror e nele me encaixando
A vida qual uma ave exposta em negro bando
Devora mais voraz, e mostra-se envolvente

Aonde quer que eu vá, por mais que ainda ausente
Estende-se sombria apátrida fadando
A sorte da querência, um mundo bem mais brando
Helênica traição ao fundo se pressente.

Aquiliana glória expondo o calcanhar
Aonde fragilmente houvera sem pensar
Histriônico gozo esgueira-se entre cruzes

Deixando um rito atônito aonde se buscara
Homérica epopéia, adentrando esta escara
Expondo no canteiro, abrolhos entre as urzes...

23939

Execrável caminho; humanidade trilha
Excêntricos, sutis, exacerbados ritos
Esguia criatura encilha velhos mitos
E nada do que fora, ainda vive e brilha,

A morte se expandindo aonde esta matilha
Expõe em dissabor os asquerosos gritos,
Os dias que tentara alçar bens infinitos
Morrendo neste tédio, a vida; uma armadilha

Lacustre placidez, apenas utopia
Herético e profano, o dito ser humano
Aonde se esperava até sabedoria

O rio desta foz, aos poucos já desvia
Da funesta heresia, estúpido me ufano
Traçando invés de paz, dor, incúria, agonia...

23938

Dos versos e versões violas e volteios
Aonde perseguira apenas os caminhos
Adentro sem saber os mais audazes ninhos,
E o sonho passarinho, explora novos veios.

Aonde se mostrara apenas meus anseios
Agora se moldando os dias mais sozinhos,
Expresso a solidão, em busca de vizinhos,
Mas nada tendo então, retorno aos meus receios.

Nos recreios de uma alma aonde em cristalina
Luz se imaginara a sorte que fascina
E nada tendo então, descrevo a sorte ausente

E bebo desta vida, uma amarga aguardente
Aguardando calado; a luz que me apascente
Enquanto o nada ter, deveras me ilumina...

23937

Austera maravilha em áurea luz composta,
Ascendo ao teu caminho, estrela radiosa,
E a noite se devassa e enquanto a deusa goza
Desnuda-se a beleza, e assim se mostra exposta.

Encontro neste encanto a mais plena resposta
E sorvo cada gota, esgoto a fonte airosa
Brilho espetacular, lúbrica e caprichosa
Num ar mais provocante alma orgástica posta.

Exímio timoneiro, o cais eu reconheço
E bebo desta mina até que saciada
Amante em luzes farta encontra na alvorada

Querendo desde já o insano recomeço
E ao lasso cavaleiro, enlaça-se a princesa
Acesa essa ardentia, a fera espreita a presa;

23936

Suprema maravilha adivinhada em gozo
Moldando esta beleza, em tons argênteos claros
Flavos cabelos; tens. Destes matizes raros
Em sonhos divinais o encanto mavioso,

Aonde se mostrara um ar mais caprichoso
A brônzea e bela tez, dos solares amparos
Esboça-se suprema, aonde outrora amaros
Caminhos mais sutis, num ar voluptuoso.

Esgueiro-me na noite e adentrando teu quarto,
Da sílfide sublime, agora não me aparto
E bebo a claridade emanada de ti

Efervescência plena; esgota-se em si mesma
Minha alma seduzida; encanta-se e ensimesma
Sorvendo essa elegância expressa imensa, aqui...

23935

Deslumbra-me a Natura exposta nua e bela,
E quando em verso audaz expresso esta emoção
Numa ávida loucura a vida; ebulição,
Num átimo se entrega e a paz já se revela.

Aonde se tecesse a mais sublime tela
A sorte se emoldura e traz a explicação
Assoma-se a beleza incrível sedução
E esse corcel do sonho, amor deveras sela.

Adentro com meu verso o cenário sutil
Aonde se mostrara intensa a luz se viu
O brilho encantador, essencialmente raro

Na trama em dramas feita, o amor nos apascenta
E a chama que devora, em brasas violenta
Expondo num anseio, o amor que ora declaro...

23934

Delírio de um poeta, exposta em galeria
A vida não passara ainda do vazio
E neste vago tom estóico ainda crio
O quase que talvez trouxesse uma alegria,

As asas que não tenho; o sonho fantasia
E neste sonho eu vejo um mundo que desfio
Em verso e vastidão, num tom de desafio
Atrevo-me a pensar, sutil melancolia.

Exímio sedutor, o amor se maculando
Aflora-se em loucura o que já fora brando
E tudo não passando apenas de promessa.

O peso entesa as mãos e o tempo desampara,
Aclara-se em perdão, a sorte assaz amara
E a sanha desse encanto, em cantos recomeça...

23933

Voláteis sensações em asas libertárias
Presença anunciada, assaz maravilhosa
Encilho o meu corcel, anseio seda e rosa
Ascendo assim ao céu; em sinas procelárias,

Acesa essa luzerna expondo as adversárias
Excita-se em fulgor a ausência caprichosa
Das estrelas sutis, a sorte ensina e glosa
Cenário sedutor, espessas luminárias.

Escassas ilusões, a senda se desvenda
E sendo o que se sonha, assoma-se essa lenda
Em sombras o vazio expressa a solidão,

Mas servo dessa luz; sensíveis sons; escuto,
Excêntrica sonata; um ás sonoro e arguto
Essencialmente expõe estranha solução...

23932

Num êxtase profano, açoda-me o desejo
E beijo mansamente a boca que se expõe
O amor que fartamente amor cedo compõe
Permite mavioso orgasmo que antevejo.

Em coralinos tons, lençóis, sedas; prevejo
Uma explosão soberba e nela já se põe
Tecida em raro brilho, a luz que recompõe
Luar catuliano, um sonho sertanejo.

A senda sempre flórea esgota-se em tais dons
Na formidável noite, envolvem-me mil sons.
Hedônica loucura atraindo faróis

Em êxtase percorro a madrugada e insone
Permito que amargura, ao largo já ressone
Bebendo numa aurora a fúria feita em sóis...

23931

Láctea maravilha exposta em noite clara
Adentrando meu quarto; imensa alegoria
Poética ternura, uma alma fantasia
E o verso em luz intensa, imensidade aclara.

Brilhante sedutora, a lúdica ardentia
Qual fora perolada, uma jóia tão rara
Na sideral beleza o amor pleno declara
Na voz do sonhador, etérea melodia.

Plangência se denota em lúbricas canções,
Emaranhados tece a luz em tais visões
Versando em vários tons atônito cantor

Desnudam-se na noite, esplêndidos novelos,
Que simplesmente até, somente por revê-los
Revela-se o corcel denominado amor...

23930

Rebrilha em mansidão volátil luz, mas farta
Parábola descreve antes do tombo e queda
E quando no vazio a vida em vão se enreda
A sorte fragilmente a mente já descarta.

O quanto deste sonho a realidade aparta
Na mão que acaricia o olhar jamais se veda
Ruína da emoção, tempo enfim depreda,
Na manga se escondendo a derradeira carta.

Eclode a nebulosa e forma nova estrela,
Aportam-se sutis; as luzes. Ao revê-la
Lembrando-me venal do fogaréu intenso
Incendiando, inglório, arcando com terrores
Jamais eu julgaria antes de recompores;
Mas hoje ao te rever na solidão, eu penso...

23929

Imerso na loucura expressa em fantasia
Adentro o vago mundo aonde eu talvez fosse
Além de mero ser por vezes agridoce
O quase que em verdade em versos se recria.

Enlanguescidamente o olhar profano guia
E molda o que pensara um fóssil que se trouxe
Dum tempo feito em luz que agora em vão; findou-se
Tramando escuridão noturna alegoria,

Herético caminho algoz de cada passo,
Hermético desejo um rebuscado traço
Esgoto-me na fera, aguardo atocaiado

O quanto do que fora eu mesmo já desfaço,
E embora mais venal, arguto, porém lasso,
Escondo dentro em mim, as sombras do passado...

23928

Se queres inda ou não, que faço senão ir
Buscando a minha própria amarga desventura
Nas mãos de quem outrora eu percebera a cura
Somente este vazio estampando o porvir.

Mesquinho descaminho aonde prosseguir
Se enfim a tal desdita em lágrimas perdura,
A noite que me traz uma alma em treva, escura
Deveras já me impele; então devo partir...

Não deixo nem a sombra ou rastro que inda possa
Falar de uma alegria, antigamente nossa
E agora se mostrando em pálida expressão.

Do solo que julgara um fértil, doce abrigo
Encontro esta aridez, deveras não consigo
Sequer saber dos cais que os barcos não terão.

23927

Já não suportaria o grande desafeto
Que tu me demonstraste ao negar a esperança,
E quando em mar sombrio uma alma enfim se lança
O gozo do passado, em mágoas, eu repleto.

Não pude perceber do outrora predileto
Caminho sobre o qual a vida já balança
E o tempo se transforma e sinto na mudança
O quanto que perdi no sórdido concreto

Granítica verdade esconde a fantasia
Enquanto no passado, estúpido trazia
No olhar torpe sorriso; agora lacrimejo

Expondo enfim tão nua a clara realidade
Sem ter sequer nas mãos a luz que ainda aguarde
O tolo caminheiro envolto num desejo...

23926

Globalizado mundo e eu seguindo disperso
Ainda preso ao tempo insólito tutor
Penando por pensar se ainda existe amor,
Esqueço a realidade e volto ao velho verso.

E quando no passado adentro e sigo imerso
Volvendo a ter no olhar, diversa e opaca cor,
Quem dera se pudesse ainda no sol-pôr
Trazer para um soneto a luz deste universo.

Mas sei que na verdade, ultrapassado e velho,
Cadáver de um poeta, um vago escaravelho
Medonha criatura, em naftalina, eu guardo

A foto em preto e branco aonde me desnudo,
Empoeirado verso; eu sei quanto me iludo
Globalizado mundo: imenso e duro fardo...

23925

Não posso me calar ao ver tantos desdéns
Aonde eu poderia um dia até compor
Um verso em que talvez dissesse de um amor
Embora na verdade, eu sei que não conténs.

Vendido numa esquina até por uns vinténs
O amor que me deste, incrível sedutor,
No fundo não valia e, mesmo tentador,
Já não traduziria os sonhos, raros bens.

Mesclando a realidade em tons fantasiosos,
Os versos que mandaste, eu sei tão mentirosos
Mergulhos num abismo; aonde se percebe

A podridão escusa em lágrimas e risos,
Apenas no final, enormes prejuízos
E o fim da longa estrada, uma espinhosa sebe...

23924

Tomado pela dor, em pleno esquecimento
Não pude prosseguir, vasculho meus guardados,
Os sonhos nada são senão dias mofados
Nem mesmo a poesia ainda traz alento

A quem já se perdeu; por isso não sustento
Com canto e fantasia, os tempos já passados,
Aonde eu poderia, entregue às sinas, Fados,
O mar que quis suave agora é turbulento...

No vento e na vertente aonde me envolvera
A Morte se aproxima e quando num desdém
A sorte nega o sumo e apenas vão contém

A vida se desmancha, a vela feita em cera
Ao fogaréu do gozo, expõe-se em louco cio,
Porém a realidade apaga algum pavio...

23923

O nada se apresenta e mostra o quanto em nada
A vida se transforma após a tempestade
A cada tempo eu vejo o quanto se degrade
Quem busca a solução há tanto abandonada.

Pudera ter no olhar a sublime florada,
Porém se no jardim a seca chega e invade
Não resta do que outrora imaginei verdade
Sequer algum perfume em flor despetalada.

Mesquinharias são comuns e recorrentes,
Atando-me em galés, algemas e correntes
Não posso nem talvez pensar na libertária

Manhã que não virá, pois sei da noite eterna
E enquanto me esvazio, a vida amarga inverna
O que pensara ser imensa luminária...

23922

Rasgando o coração; expondo a nu meu sonho
Em volta do que fora outrora uma ilusão,
Esgota-se em si mesmo, o gozo da paixão,
E nele cada verso em que me recomponho,

Abarco nesta noite o vago e tão medonho
Momento do vazio, exposto em explosão
Marcado pela dor, incrível sedução
Ao mesmo tempo em gozo um mar turvo e tristonho.

Açoda-me a borrasca e nela vejo ao fundo
Abismo sem medida e quando me aprofundo
Em água turbulenta a escuridão se faz.

Mascaro com soneto o quadro mais cruel,
Minha alma se tornando a torre de Babel,
Vagando sem destino; ausência busca a paz...

23921

Dizer do que sonhei em noites turbulentas
Ao mesmo tempo eu sei o quanto nada faço
Senão seguir o rumo e traço em cada passo
As horas mais sutis enquanto me apascentas.

Pudesse contornar estradas violentas
A sorte vai moldando usando o seu compasso
Um novo amanhecer, bisonho em cada traço,
Aguardo este final afastando tormentas.

Entoas com carinho as mais belas cantigas
A dor que me tortura enquanto desabrigas
Não deixa que eu perceba ao fim uma saída,

Eterno labirinto, o amor não tem respostas,
E quando nos retalha, as carnes sendo expostas
Traduz o sem sentido e nisto molda a vida...

23920

Nos versos me desnudo e mostro quem eu sou,
Protejo-me da fera a quem já me entreguei,
E moldo com palavra um templo em cada grei,
Aonde tanta vez, a sorte me encontrou

E quando me pergunto, esqueço se inda vou,
Mas tudo na verdade, é como eu te falei,
A poesia é ópio e traça a própria lei,
Anárquica e sensata, eclode em “body and soul”.

Vagando sobre o tema, aonde poderia
Vestindo a minha pele, apenas fantasia
Ou mesmo andando nu à noite na calada,

Metáfora, lirismo, expressão do não ser
Nas mãos com ironia, a vida ao bel prazer
Do tudo que não pude ao mais provável nada...

23919

Olhando neste espelho eu vejo o que em verdade
Talvez até pareça a ti um pedregulho,
E quando ensimesmado eu busco num mergulho
O quanto a vida traz e até já não agrade

A quem procura a paz, ausente realidade,
Poeta sem critério; expresso-me no entulho,
Mas sei que disto tudo, ainda sinto orgulho
Por mais que nada veja; a luz assim me invade.

Eu quero ser somente um velho passarinho
Voando mansamente em busca de algum ninho,
Se tudo o que já fiz um nada representa,

Essencialmente sou; deveras, um poeta
E tendo a fantasia uma ardilosa meta,
Por onde há calmaria, uma onda violenta.

23918

Eu sei que cada verso; uma expressão de dor,
Traduz a mesma história em repetidas cenas,
Assim ao prosseguir expondo minhas penas
Repito na verdade, a luz do desamor.

E quando novamente um novo amo, compor,
Enquanto em calmaria, eu sei que me serenas
As noites voltarão a serem mais amenas,
E assim continuamente espinho dita a flor.

Excêntrico caminho, amor não mais suporta,
Na mansidão abrindo e expondo qualquer porta
Permite ao andarilho a paz de um tenro abrigo.

Tempestuosamente a vida não se acalma,
Num ir e vir contínuo expressando minha alma
A paz tão necessária, insano, eu não consigo...

23917

Crisântemos, jasmins, verbenas, violetas
Canteiros da esperança; aonde eu cultivara
A flor mais desejada, a orquídea bela e rara,
Apenas aridez; nos dias que prometas

Além deste vazio, as cores dos planetas
No infinito sonho, a sorte não me aclara
E o tempo se escoando, aos sonhos, desampara.
Descrevendo este nada, empunho estas canetas

E sei que na verdade ao fim, a solidão
Tomando cada espaço, as nuvens que virão
Trarão a tempestade e nela o vento frio.

Medonha fantasia, escombros do que fui,
Castelo de esperança, ao vendaval se rui
Daninhas ervas, urze; apenas o que eu crio...

23916

Durante a minha vida; amenos dias; tive
Mas quando conheci a deusa feita em luz,
Beleza que envolvente, aconchega e produz
Incandescência e brilho; eu já não me contive.

Eu sei que quem deseja o amor que inda não vive
É como um tolo louco, às vésperas da cruz,
Como algum doente aguarda pelo SUS
Vivendo de um passado embora nunca estive.

Arcar com o delírio imposto pelo amor
Sem nada que receba; o que mais vou propor?
Seguir em manso passo em pleno temporal?

Não posso mais conter a lágrima e o anseio,
O dia que virá; a sorte que receio
O medo em cada olhar, insano ritual...

23914

Meus versos deste amor apenas são escravos,
E quando renegado, esqueço a própria vida
No imenso caminhar, a rota já perdida
Aonde quis roseira, apenas lírios, cravos.

Invés de um riso manso, ausentes desagravos
Adentra-me o vazio, a paz sempre esquecida,
Mortalha se prepara em lágrimas tecida
Do lago em placidez, mares em fúria, bravos;

Assim não poderia então pensar que tudo
Não fosse; na verdade, aquém do quão me iludo
Podendo-me despir do que fora ternura.

Usando o mesmo luto; eterno companheiro,
E quando do vazio, em trevas eu me inteiro
O rio sem ter foz, na lástima eu perduro...

23915

Enlouquecido sigo os rastros que deixaste
Ainda não consigo a plena liberdade
O amor quando demais, eterna e firme grade
Causando a quem deseja a dor feita em desgaste

E a luz quando na treva encontra-se em contraste
Percebo que perdendo aos poucos qualidade
A vida é como um mar que uma alma cega nade
Mordaz, sem poesia, assim o que legaste.

Insânia se entornando, apenas um tormento
Aonde imaginara a paz procuro e tento
Encontra um vestígio e nada me responde.

No quanto ainda posso, uma alma vaga crê
Procuro cada rastro, em vão busco e cadê?
Estrela vida ou morte; eu teimo, mas aonde?

23913

Num último suspiro, as dores e alegrias
Se dicotomizando expõem nossa nudez
E dela se percebe, a própria insensatez
Conforme em outro tempo, ainda proferias.

No quanto se demonstra em vagas profecias
O todo que na vida em momentos se fez
Permite-me dizer além do que tu crês
A sideral beleza em luzes, fantasias.

Assíduo navegante em meio aos temporais
Perguntas sem resposta, ausente ou parco cais.
Satânico caminho ou lúdica esperança?

Só restando de tudo, a mesma indagação
Se luz ou treva, cor. Aos dias que virão
O olhar ensimesmado à dúvida se lança...

23912

Do amor que nesta vida ainda desfrutara
Vivendo em poesia a sorte de te ter
E nela com loucura, um grã, doce prazer
Comendo desta fruta amena e sempre rara.

No beijo que me deste o amor já se escancara
E molda este futuro expresso em manso ser
Vivenciando assim o quanto posso crer
Na fonte que não cessa e traz uma água clara.

Potável caminhar em luas, prata e sol,
No encanto deste olhar, a fúria de um farol
Que embora em noite escura; emite em tons brilhosos

A cândida delícia em versos desnudada
Trazendo em claridade, a bela e terna estrada
Num átimo desfia em tons voluptuosos...

23911

A luz que assim se emana expressando a raiz
Demonstra em tons suaves o quanto prazeroso
É ter nas mãos o fogo e nele o próprio gozo
Momento auspicioso aonde estou feliz.

A base demonstrando o que deveras quis
Por mais que isto pareça um pouco caprichoso
Esqueço-me da fera e bebo o majestoso
Caminho sem tocaia, o céu em seu matiz.

Por vezes me defendo usando da palavra
Que quem com tal denodo; aguarda e sempre lavra
E tendo em mansidão a fonte quase lúdica.

Do amor que sei divino e mostra-se tranqüilo
Por onde o caminhar na paz que ora desfilo
Deixando para trás o tom feérico e lúbrico...

23910

Nascemos e depois em ritmo alucinante
A sorte nos conduz à mera persistência
Tomando por exemplo a própria resistência
O tempo prosseguindo, agora, ontem e avante.

Tampouco feito um livro esquecido na estante
O gozo de um prazer, e nele a penitência
Do quanto se transforma e molda-se a ciência
Um rito que denota o quanto é triunfante

O parto que refaz o riso após o pranto
E nele com certeza, ainda um raro encanto
Do qual se tem o brilho após a noite escura,

Essencial caminho aonde se percebe
O variável tom expressa o rumo e a sebe
Aonde imagem turva ainda assim perdura...

23909

A carne se apodrece e dela se refaz
A vida que dá vida e morte ressurgida
Após o que seria apenas simples vida
E da continuidade eternidade traz.

Não posso mais negar, por ser um incapaz
Esta verdade plena em norma concebida
Uma existência clara embora construída
Por sobre base opaca extrema unção da paz.

Urdindo em dor e pranto a etérea e vã matéria
Em átomos composta eternamente. Espere-a
E verás depois disso o quanto ainda existe

Num infindável ritmo expressa-se a verdade
Que a cada renascer incorporando invade
E sobre a Terra a vida, em vida sempre insiste..

23908

Deveras proibindo algum grande prazer
É que se, escravizando assim se tem domínio
E desta forma vejo aquém de algum fascínio
A história do pecado e aonde me faz crer

Que após a liberdade existe algum poder
E nele a realidade um fogo traz. Domine-o
E tudo será teu. Pois então; incrimine-o
E terás com certeza o que não podes ter

Usando da razão, espécie em extinção
Vagando sobre tudo, o amor feito em perdão.
E nisto se moldando um mundo mais complexo.

A Igreja soberana impede desta forma
Já que comer, beber; são da existência, norma,
Mais fácil proibir o prazer feito em sexo.

23907

ETERNIDADE

Para muitos um conceito meramente filosófico
Que transcende o espaço e não se mede pelo tempo
Seu verdadeiro sentido é sublime e *acrosófico
Debatê-lo é envolver-se num terrível contratempo.

Ela é antes do princípio e seu fim é inexistente
Nada há que a supere, nem sequer por um momento:
Ela é da mesma essência que o Deus Onipotente
Pois, Ele é antes de tudo; e é maior que o firmamento.

Do infinito ela é a linha que flui de forma eterna
Sem sucessão de momentos, sem sofrer alterações
Atrelada ao próprio tempo, ela é mui subalterna.

Sobre o assunto eternidade, não cabe comparações
Pois o tema é mui profundo e de beleza superna
Que encanta nossas almas e os nossos corações.

*acrosófico: palavra derivada de acrosofia cujo significado é: a
suprema sabedoria, a sabedoria divina, portanto, no soneto traz o
sentido de ligado à suprema sabedoria; à sabedoria divina.
NATHANPOETA. Abraços


Nossa fragilidade expressa em lusco-fusco
Ausência de resposta e dúvida, deveras
Desde o nosso principio em belas primaveras
O mundo se mostrando aquém do que inda busco.

Por vezes mansidão esconde um ato brusco,
Ainda, na verdade eu sei que somos feras
A morte após a morte em morte degeneras
E neste ato contínuo, eternidade; ofusco.

A vã filosofia emana um ar sombrio,
E nela a fantasia, aonde eu me recrio
Permanecendo nua, a pele quase edênica.

Comemos desta fruta e nada respondemos,
Ciência não nos veste e assim permanecemos
A fé ou esperança, etérea ou ecumênica...

23906

Por vezes me pergunto aonde encontro a paz
Um velho marinheiro, ausente de seu cais
Espera pela sorte, e teme o nunca mais,
Aonde fora outrora intrépido e voraz

Agora simplesmente, o medo vivo traz
Deixando para trás momentos magistrais
O porto da esperança, ondas fenomenais
E o encanto que a sereia entorna mais audaz...

Eu sei que na verdade existe algum remanso
Após a tempestade, e nele ainda alcanço
Momentos de prazer e glória feita em luz.

No amor que tanto quis, e sei que me domina
A luz que ora me guia, expressa a doce sina
E leva o marinheiro, ao porto que é Jesus...

23905

Dos erros que cometo a dor penitencia
E trago ainda aberta a escara terminal,
Aonde imaginara um dia triunfal
Apenas encontrei amarga fantasia.

Pudesse renascer um pouco a cada dia
Traria em meu olhar o sonho sem igual
Da vida que, refeita, expressa a magistral
E rara divindade à qual em luz se alia.

Mas sei que nada disso é possível, amigo;
E quando em desespero aquém do que persigo
Encontro tão somente uma resposta vaga

Não posso mais deixar que tudo fique assim,
Expresso o meu desejo e esqueço se há um fim,
E o brilho da esperança, ainda vem e afaga...

23904

A cada anoitecer o sonho que transporte
Levando ao nada ou tanto o quanto que inda resta.
A sórdida lembrança, às vezes tão funesta
Ou mesmo a maravilha expressa em rara sorte.

Assim num ir e vir, o medo diz da morte,
A vinda do futuro, o quanto que se gesta,
Numa aridez do solo aos vastos da floresta
O início de uma vida, o trágico que aborte.

Morfeu a divindade em suas variantes
Transporta a eternidade em poucos, vãos instantes
E tudo se refaz após o amanhecer,

Excêntrica loucura, insânia poderosa
Em luz ou pesadelo, em pântanos, a rosa
Sendo fuga ou resposta expondo ao sonho o ser.

23903

Ainda nos restando o gozo genesíaco
De um éter que se faz ao éter que voltamos,
E quando perceber, dos arvoredos, ramos,
As forças deste signo, expressas no zodíaco.

A sorte se mostrando um bom afrodisíaco
Dizendo do que em vida, ainda desfrutamos,
Por mais que alguma vez; dispersos relutamos
Numa ânsia temerosa, espasmos de um cardíaco.

E assim ao vermos logo em fogo, em espetáculo
O que se fora vida, apenas um obstáculo
Que meramente é posto aonde prosseguimos

E nisto se percebe a formação do eclipse
Embora se prepare o fim no Apocalipse
Tosca mesquinharia enquanto nos ferimos...

23902

Abortar a esperança é como se perder
No oceano sombrio envolto por neblinas,
E quando a sorte; assim, deveras assassinas
É como em plena vida, a morte do teu ser.

Ainda nos restando após o nada ter
Seguras pelas mãos, as fontes cristalinas
Das quais mesmo não vendo etéreo sol dominas
E chegando ao final, decerto renascer.

Dispersa fantasia uma esperança traz
No front desta batalha a doce e mansa paz
Supera a barricada e avança destemida.

Não teme a turva treva e bebe os dissabores,
Por isso esteja atento, e por onde tu fores,
Mantenha-a,pois nela existe a própria vida...

23901

A vida após a morte, um sonho e nada mais?
Dúvida eterna; algoz de nossos pensamentos,
Grandes Olimpos, Céus; ou excrementos?
Ínfimos seres ou figuras magistrais?

Há um Deus, respondo. Entes originais.
E nós? O que dizer? Movido a sentimentos
Procuro que me dê ao menos tais alentos,
Eternidade após ou mero nunca mais?

Traçamos nossa história um pouco a cada dia
E nisto prosseguir até que chegue o fim,
Edênica loucura, imensidão; Jardim?

Ou vazio absoluto; uma alma se esvazia,
E a dúvida persiste, e um vago som se lança
Restando tão somente, a força da esperança...

sábado, 30 de janeiro de 2010

23899

Imensa ansiedade envolve o sonhador
Que tanto se entregara e nada vendo em troca
Aos poucos se desvia e em vão já se desloca
Vagando sem destino e nada a se propor.

Teimando com estrela o velho trovador,
O sonho mais audaz, um barco em mansa doca,
O seresteiro faz da lua a quem invoca
A deusa preferida, argênteo, claro amor.

Percebe-se no olhar de quem enamorado
Ainda se mostrando em luzes encantado,
Vagando sem destino em rua, beco ou vila

Soltando a sua voz em alto som, num brado,
Vivendo sem temor, do amor que vislumbrado
Emana a maravilha e em luzes já desfila...

23900

A Via Láctea deita imensa claridade
Derrama este caminho em maga e bela luz
E enquanto se apresenta intensa nos seduz
Trazendo para o céu, um ar de liberdade,

Envolto em tal beleza, o brilho que me invade
Durante a noite inteira, imagem me conduz
Num êxtase supremo uma alma em paz reluz
Deixando-se levar, total tranqüilidade...

Poeta deslumbrado ao ver a Natureza
Entrega-se ao delírio e em plena correnteza
Esvai-se o vão terror que há tanto o consumia,

Enquanto a senda clara, em láctea maravilha
Etérea realeza, em mansidão rebrilha
E um verso se elabora imerso em fantasia...

23898

Apenas esperando o dia em redenção
Eu sei que tanto medo espalha-se entre nós
A vida se é da vida amargo e duro algoz
Impede que se veja as luzes que virão,

E tendo neste olhar, o brilho e a sensação
De um mundo aonde possa em paz seguir a voz
De quem quando nos guia expressa estreitos nós
Aonde encontraria o amor em louvação.

Mas quando a voz se torna estúpida e venal
Rebanho se desvia e bebe deste fel
Amargando o terror, em dose tão cruel,

Serpente que desvia em rito sensual,
Demônio se apresenta e toma toda cena,
Enquanto mais distante, a paz ainda acena...

23896

Pudesse ter nas mãos as linhas do futuro
Cigano coração, vagando mesa em mesa,
Adentra a solidão, prepara uma surpresa
E deixa o meu viver amargo e sempre escuro;

A solução; não sei. E quando em vão procuro
A vida se defende e mostra com destreza
A luz tão farta e rara expondo-se em beleza
E neste lusco-fusco; indômito, eu perduro.

Decerto quanta vez num brilho raro e nobre
A sorte sem desdém, aos poucos me recobre,
Mas quando vejo enfim, do corte a santa cura,

As mãos sonegam luz, e o medo continua
Aonde houvera amor, neblina cobre a lua
Deixando como rastro apenas a loucura.

23897

Onde perpetuamente a luz já se escondera
Deixando a fria treva erguer-se soberana
Uma alma sem destino, aos poucos já se engana
Derrama-se depressa e como fosse cera

Aonde o fogaréu que amor louco acendera
Expressando a vontade uma alma que é cigana
Da plena liberdade, a todos já se ufana
E em meio a tal loucura inda sobrevivera.

Assaz rebelde sonho aonde me entregara,
Vivendo esta certeza, a vida sendo cara
Aporto em cais seguro ouvindo a voz do vento,

Que tanto me trazia a doce melodia
E agora tão somente a realidade cria
Moldando um mundo calmo aonde em paz, me alento...

23895

A luta prosseguindo em termos mais insanos
Não deixa sequer que se possa crer na sorte
E pesando este fardo aonde vejo a morte
Em passos sem descanso, andares soberanos,

E os dias transcorrendo em meio aos desenganos
Deveras poderia ainda ver no aporte
Da luz imensa e clara, amor que me conforte
Porém ao perceber, desvias estes planos.

E mudas novamente, audaz e soberana,
Uma alma que procura a paz em ti se engana
E morre a cada instante, um pouco e sempre mais,

As mãos pedem clemência e negas com sorrisos
Irônica serpente; invades paraísos
Preparas com sarcasmo amargos funerais...

23894

Indubitavelmente entregue aos teus desmandos
Não tento prosseguir sabendo dos anseios
Que entornas quando vês abertos mansos veios
Transbordando na guerra os dias que eram brandos.

Assim ao perceber deveras teus comandos,
Procuro algum refúgio em outros tantos meios
O pensamente invade espaços vãos e alheios
Ao vê-la qual abutre em incansáveis bandos.

Pudera ter decerto a doce sensação
Que possa permitir os dias de verão
Deixando para trás invernoso caminho,

Adentro a mansidão e bebo a calmaria
Enquanto percebendo a luz que se irradia,
Nas tramas deste encanto – AMOR – eu já me aninho...

23893

Minha alma se projeta além da eternidade
E busca a mansidão aonde eu poderia
Viver com plenitude um sonho, a fantasia
Expõe dentro do peito o canto que me invade.

Sem nada mais temer, e nada que degrade
O mundo que componho; a solidão desvia
Na braça de outro rio, e envolto em alegria
Deixando esta agonia apenas na saudade.

Seria muito bom se tudo fosse assim,
Florada garantida, a paz tocando em mim
E a vida renovada em meio às esperanças,

Mas quando tu me vês em sórdida tormenta,
O quanto eu poderia, apenas se lamenta
Não quero a piedade à qual; olhares lanças...

23892

Tragicamente eu vi depois da calmaria
Ainda imaginando um dia mais feliz
A dura tempestade, aonde a paz desfiz
E tão somente a dor em pântanos se cria.

Vencida pela fúria o mundo se esvazia
Somente vislumbrando imensa cicatriz
A sorte com desdém imenso contradiz
O que pensara ser além da fantasia.

Mas nada me restando apenas minha voz
Num brado que incessante audaz e até feroz
Não contenho o silêncio e dele faço o brado

Num êxtase profundo escrevo este soneto
E a luta que não pára; incessante, eu prometo
Deixando qualquer medo apenas no passado..

23891

Não vejo mais a luz aonde tanta vez
Pensara ter nas mãos destino, sorte e vida,
Agora que em verdade a história me convida
Mostrando aonde eu quis o amor que não se fez

E enquanto se perdera o rumo e a sensatez
A sorte se esvaindo e a glória em despedida
Não posso mais conter e a voz já vai perdida
Cansado de lutar, aonde há lucidez?

Não tendo esta resposta eu vejo que afinal
O mundo que eu buscara expressa-se venal
E em turbulento sonho eu tento inda revê-lo,

Mas nada me acompanha e exposto à fantasia
O quanto imaginara aos poucos se esvazia
Deixando tão somente o medo e o pesadelo...

23890

Herético demônio invade a Terra inteira
Espectro sanguinário entorpece os sentidos
Enquanto os homens vão, assim tão divididos
A solidão se mostra a eterna companheira,

E quando a noite chega e mostra a traiçoeira
Vontade soberana, adentrando libidos
Num êxtase supremo, os dias esquecidos
E a morte em riso farto expõe-se lisonjeira.

Impetuosamente ao fim de certo tempo
Aonde houvera luz, apenas contratempo
E o medo se espalhando invade cada casa

Nefasta madrugada anunciando o fim,
Trombetas vão tocando o amargo querubim
E o fogaréu se espalha aonde houvera brasa...

23889

Insólita figura andando sobre a Terra
Aonde se imagina a imensidão profana
A sorte tanta vez a quem sonega engana
E o coração vazio aos poucos se desterra.

Enquanto a poesia é morta e já se enterra
O gozo sem limite, imagem soberana
Destrói a eternidade; a geração se dana
E morta desde então, a peça enfim se encerra.

Aonde poderia existir a semente
A pétrea insensatez soberba e poderosa
Matando em nascedouro, enquanto a sorte glosa

Não deixa que respire um ar bem mais tranqüilo,
Invés do pleno amor, peçonha já destilo
Moldando em turbulência um sol vão e inclemente...

23888

A fé que nos movendo espalha a luz intensa
E trama no futuro um dia feito em glória
Ao ser humano então, o Pai trouxe a vitória
Eternidade sendo a maga recompensa,

A paz que existe em Cristo exala a força imensa,
Mas quando existe em nós, apenas a vanglória
Aquele em semelhança, agora sendo escória
No hedônico prazer, somente a fera pensa.

E quando o fim chegar e a luz celestial
Mostrada sem temor, à toda humanidade
Virão anjos do Céu e finda a impunidade

Rolando em fogaréu, tomando todo astral
A Mão que nos redime ao Fado se entregando,
Trazendo a plenitude apenas ao que é brando...

23887

Putrefação de uma alma expressa agora o fim,
Convulsa tempestade adota a humanidade
Satânico prazer cruel, enquanto invade
Espalha farto abrolho em árido jardim.

Distante da esperança, a voz de um querubim
Clamando pela paz, chamando à realidade
Enquanto em vã tolice, um ser que se degrade
Ditando solitário o que não sabe enfim.

Perdoe-me Senhor, se tanto magoei
E tanto descumpri a Tua santa lei
Pensando na alegria, apenas nada mais,

E agora quando a morte exala seus odores
Aonde imaginara ainda colher flores
Encontro em meu retrato imagens tão venais...

23886

Encontro no Senhor, amor de irmão e Pai
E louvo em oração agradecendo a luz
Que em meio a tanta treva a Ti, já me conduz,
Embora a realidade amarga e tanto trai

A luxúria e o prazer profano, nos seduz
E neles toda a glória, aos poucos já se esvai
E quando a noite chega e a escuridão distrai
A queda se prepara e o medo dita a cruz.

Nas urzes o Jardim se fez improdutivo
Também assim sou eu, porém em Ti eu vivo
E trago uma esperança, além do imaginário

Não posso me calar e sigo-Te Senhor,
Vivendo a plenitude eterna deste Amor
E o coração mais manso expressa este cenário...

23885

Caminha sempre surda a turva humanidade
Bebendo a solidão em taças de cristal,
Aonde se pudera amor fenomenal
Apenas encontrando a dor que nos invade

E teima simplesmente erguendo cada grade
Sem ter sequer notícia aonde este final
Nos levará contudo, a cada vão degrau
Escada nos conduz ao cume que degrade

Resíduo tão profano aonde houvera um sonho
Eu mesmo não escapo e em trevas decomponho
O tanto que foi dado em pleno e farto amor

Deveras deveria haver bem mais cuidado,
Porém no olhar ateu apenas o pecado
Merece tanto aplauso e até, glória e louvor.
Parágrafo que em brado evoca a salvação
Aonde se fez Deus presente em sacrifício
A multidão faminta ainda espera o ofício
E nele com certeza, os ditas da Paixão,

Mas sei que depois disso, o mundo segue em vão,
A cada novo dia, imenso precipício
Cavado pelos pés que desde o mero início
Trouxeram para a Terra o medo e a podridão,

Demônio disfarçado em anjo ou num pastor,
Esconde-se num antro, e mostra em suas garras
Libidinoso riso, em orgias e farras

Aonde se pregara o perdão feito amor
Descubro esta senzala e nela cada escravo
Nas ânsias do poder, o amor se torna agravo...

23884

Eu vejo o renascer de um tempo mais amigo
Na voz de um cantador, promessas se cumprindo
E o tempo se moldando em dia e claro e lindo
Trazendo ao sofredor, amparo feito abrigo,

Assim um trovador; deveras, já consigo
Pensar com lucidez no sonho que deslindo,
Um mundo bem mais justo amor se torna infindo,
E depois disto tudo; encontro o que persigo.

Quem dera fosse assim, mas não é a verdade
A podre realidade expressa a humanidade
Que aos poucos já destrói a casa aonde mora,

Bebendo deste sangue incrível virulência
Aonde houvera luz agora em inclemência
O mundo pouco a pouco a si mesmo devora...

23883

Apenas sobrará a ossada e nada mais
Por isso para que soberba em teu olhar
Depois de certo tempo, o nada há de encontrar
Aquela que sonhara em dias magistrais

Ser mais do que pensara, além de todo cais
A deusa soberana, esposa do luar
Ao ver-se transformada em pó irá brilhar?
Enquanto a voz do bardo em tons fenomenais

Eternizada em glória, um dia a bela diva
Agora já desfeita, em rugas e terrores
Ouvindo a melodia encarnará tais cores

Que a poesia trama e mantém sempre viva
A força que se impele e molda tais matizes
Diversos das que tens, imensas cicatrizes...

23882

Atônito encontrara escombros do que fui,
Aonde se imagina um tempo mais amável
Decerto em luz intensa, a noite memorável
Porém na solidão, castelo queda e rui,

E enquanto a luz se afasta o medo tanto flui
E tudo o que pensara, outrora em solo arável
Destrói-se num segundo além do imaginável
E no conjunto inteiro, a parte sempre influi.

Eviscerado sonho aonde te perdi?
Só sei que em pouco tempo eu me afastei de ti
E quando percebi o nada se instalara

E o medo me tomando, invade e não descanso
Minha alma busca em vão, a paz de algum remanso
Aonde quis o amor, apenas funda escara...

23881

Aonde imaginara um mundo feito em paz
Num tumular anseio a morte se deslinda
E quando na verdade é cedo, mesmo ainda
Assim a realidade o tempo diz e traz.

Percebo que afinal, o medo satisfaz
E o templo onde julgara a vida bem mais linda
Aos poucos com o tempo, enfim também se finda,
Mostrando a dor que sinto e esconde-se detrás

Enquanto a poesia outrora feita em luz
Agora em medo e treva, apenas reconduz
Ao pó de onde surgi ao pó que já me espera

Extremos que percebo aos poucos já se tocam,
As ilusões esqueço, as glórias não se estocam,
E aonde houvera amor, agora a vida é fera...

23880

Delírios sensuais em noite convulsiva
Expressam violência aonde quis a paz,
A sorte desvirtua o quanto sou capaz
Mantendo a velha chama ainda sempre viva,

Por mais que na verdade a vida já me priva
Do quanto desejara e nada satisfaz
Poeta se perdendo, a glória não se faz
Enquanto a fantasia, em tantas dores criva

O peito que se encanta e morre sem remédios,
Aguardo a solução; e imerso em frios tédios
Ingratidão se mostra amiga e companheira,

O medo se desnuda e chego ao fim de tudo,
Mesquinha sedução, na qual inda me iludo,
A morte mansamente assim de mim se inteira...

23879

Excêntrico cantor um dia quis poeta,
Quem sabe do silêncio escuta a voz maldita
De quem se fez em mágoa e dela esta desdita
Esvaziando o encanto e assim já se completa.

Amena madrugada? A sorte mais dileta
Morrendo sem o brilho, a luz não se credita
Em quem se fez sombrio aonde houve pepita
E tem a fantasia ainda como meta.

Mal pude perceber o quanto sou assim,
A paz não me domina, e morto chego ao fim
Deveras, temporais; espalho quando canto

Trazendo pra quem sonha uma verdade em pranto
Medonhas ilusões; já não cultivaria
Apenas tão somente espalho esta agonia...

23878

Haurindo um ar profano a vida em dores tantas
Exausto caminheiro aguarda pelo fim
E quando se percebe aonde e quando vim
Eu sei que na verdade ao ver-me desencantas.

Pudesse ter a glória, embalde quando cantas
Demonstras o vazio e mesmo sendo assim,
Ainda me pergunto o quanto sei de mim
Nas ondas do oceano; infaustos tu levantas.

E sabes discernir o que pudesse ser
Além do nada imenso, a glória de um prazer
Que jamais poderia encontrar em quem trama

A vida em voz nefasta, assim do quanto queres,
Não posso te servir sequer pratos, talheres,
Tampouco manteria acesa em nós a chama...

23877

Acreditar na vida, embora complicada
Às vezes com paixão em outras; desespero
Mergulho no vazio e nele me tempero
Sabendo que afinal o tudo trama o nada,

Mas quero me encontrar e sei que abandonada
Uma alma transpirando um desejo mais fero
Permite que se creia ainda no que eu quero,
Aguardo a lua cheia e vejo da calçada

O brilho que se espalha e toma toda a Terra
E quanta maravilha eu sinto que se encerra
Fazendo acreditar num dia claro e bom.

Mas quando na verdade, a lua surge imensa,
Não pode ter; sequer pensar na recompensa,
Segue ofuscada então, por luzes de neon...

23876

Fruindo mansamente em mim doce ternura
Aonde imaginara a dor e a virulência
Apenas só te peço, enfim tenhas clemência
Que a sorte a cada tempo em quadros emoldura

Diversa maravilha, às vezes amargura
E tendo disto tudo eterna consciência
Tu saberás viver e tendo esta ciência
Verás que na verdade, o amor já te procura

Amarga desventura, a terra mal plantada
E tudo o que eu vivera; eu sei não fora nada
Senão inútil noite aonde em vão granizo

O frio acometendo e a geada espalha
Por sobre a plantação a turva cordoalha
Deveras hibernando o sonho que preciso...

23875

Sombria madrugada envolta na neblina
A morte se aproxima invadindo o meu quarto,
Encontra-me cansado e de tudo já farto
Imagem que te assusta, a mim doma e fascina.

Pudesse ter agora a fria e dura sina
E quanto mais da vida afasto-me descarto
O sofrimento imenso e sei; feliz, eu parto
Deixando para trás a treva que assassina.

Outrora tive o brilho em plena mocidade
Agora tão somente o medo chega e invade
Tomando todo espaço insânia me acomete

Por isso no velório, um pedido eu te faço,
E peço que isto siga, em cada ponto e traço,
Invés do carpir falso, apenas luz, confete...

23874

Percebo que acabou a festa em que talvez
Pudéssemos saber da nossa plenitude,
Sem ter sequer alguém que ainda nos ajude
A vida se perdendo, em loucura se fez

E o renovar do sonho, a cada dia ou mês
Mudando na verdade omite esta atitude
Aonde se fez seca, ausência de um açude
Aonde se fez treva, procuro a lucidez.

Diógenes moderno; acendo esta lanterna
E nada encontrarei, carrego tal certeza,
A sorte está lançada, os dados sobre a mesa,

Felicidade morre, e enquanto o sonho hiberna
Aguardo melhor dia e sei que não terei,
Nem mesmo tendo a glória e sendo escravo ou rei...

23873

Cruel assassinato a cada novo dia,
Assim se espalha a dor e o mundo se perdendo,
Aonde houvera luz, agora se escondendo
Apenas ilusão, amor não se recria,

Viver este momento, estática agonia
Pudesse imaginar o medo como adendo,
Mas hoje numa esquina, o terror eu desvendo
E a noite se tornando eternamente fria.

Pudesse ainda crer na tal humanidade
Que se matando assim, em águas turvas nade
Deixando como herança a Terra inabitável,

Aos poucos que me lêem; perdoem desabafo,
Alexandrino verso, invés do que fez Safo
Um mundo solidário: um tempo memorável...

23872

Cadáveres no chão, exposta em guerra
A vida não valendo o pão sequer o vinho,
Caminho em solidão; no vago já me aninho
E o coração guerreiro, agora a paz encerra.

Enquanto desfilar a morte sobre a Terra
Deveras cabe a nós em forma de carinho
Saber o quão é bom chegar bem de mansinho
Deixando para trás, a dor imensa serra.

Quem sabe esta mortalha usada sem clemência
Um dia se transforme e trague a paciência
Na convivência plena ensinamentos vários

Além da complacência a luz guiando os passos,
Aprendo a respeitar do próximo os espaços
Meus aliados são antigos adversários...

23871

Humana insensatez destrói nosso planeta
Deixando para trás a vida em louca esfera,
Aos olhos de quem ama, esmagar a pantera
É tudo o que devia à paz da baioneta

Porém com simples arma, a ponta da caneta
Um sonhador qualquer, ainda a sorte espera
E bebe da ilusão, vazia e vã quimera
Até já parecendo, às vezes tão ranheta.

Não posso e nem devia enfim silenciar
A sertaneja luz intensa do luar
Derrama sobre nós a imensidão de um céu

Aonde se permite o brilho do futuro,
E mesmo que este solo ainda árido e duro
Só nos cabe fazer em paz nosso papel.

23870

Proliferando a guerra aonde se quis paz,
Vencida este ilusão, apenas realidade
Embrutecida sorte embora não se aguarde
Ainda creio em Deus e o bem que Ele me traz.

Enquanto humanidade aos poucos já desfaz
O Amor que recebeu num ódio eis a verdade
Transforma esta venal; tanta imbecilidade
Total insensatez num mundo mais mordaz.

Escuto ainda o grito emanado em senzalas
Ao ver tal sofrimento, estúpido te calas
Terrível omissão matando assim, futuro,

Permite que se creia – apocalipse vem
E no final de tudo, a solidão, ninguém.
Apenas o Senhor, que em lágrimas procuro...

23869

A consciência nada em águas turbulentas
Medonhas ilusões, estúpidas quimeras
Aonde no passado, a paz que ainda esperas
Trouxera uma alegria em lutas violentas,

Não posso me calar, já nem mais se agüentas
As tramas da loucura, as garras destas feras
Imensos temporais, vagando em vãs esferas
Temperas a alegria em cores virulentas.

Assim nada terás senão este vazio,
Que a cada novo verso, embalde desafio
E sinto tal horror aonde busquei glória,

Porém a solitária e amarga juventude
Sem ter a luz que guie e a mão que ainda ajude
Não pode nem pensar nos louros da vitória...

23867

Vivendo esta amargura à luz de cada instante
Um velho marinheiro ainda busca um cais
Embora na verdade, eu sei que não tem mais
Sequer ancoradouro, aonde radiante

Divino e fabuloso em dias magistrais
Agora nada vendo; o mundo, este mutante
Aonde se pudera encontrar diamante
Apenas o vazio em que vos transformais

Dizendo desta luta inglória e sem vencidos
Tomando já de assalto embarga meus sentidos
E sei que nada tendo, ao fim amargo fel,

Bebendo da esperança um mel que não sacia,
Encontro tão somente à luz da fantasia
O coração vadio andando sempre ao léu...

23868

Num mar aonde outrora imaginara a sorte
Sereias e tritões; mergulho em águas fundas
Deveras neste instante a dor da qual me inundas
Provoca a sensação sombria de uma morte

Aonde não pudesse entrar num novo norte
Nas vagas ilusões, deveras aprofundas
A seca se espalhando em terras mais fecundas
Não posso me furtar ao ver já sem suporte

Quem tanto se entregou e quis felicidade,
Agora tão somente o frio da saudade
Matando pouco a pouco, o nada como herança,

Mas sei que quem labuta, um dia há de vencer
E ter em suas mãos, as tramas do prazer
Com tal perseverança a paz ao fim se alcança...

23866

Destino em desatino, a rima se produz
E tudo o que pensara ainda não se fez
O amor com sua glória; expressando altivez
Aonde imaginara os sonhos belos, nus,

Apenas o vazio, entranha-se sem luz
E deixa como herança amarga insensatez
Vivendo por viver, buscando a lucidez
Eu sei do amor imenso, ao qual já se conduz

O coração que sonha em novo amanhecer
Aonde se emoldura uma ânsia em tal prazer
Que nada mais segura o fogo que nos toma,

Porém sem ter amor, do nada ao mesmo nada,
A angústia se anuncia e invés de uma alvorada
A névoa sem final, meu mundo entrando em coma...

23864

A imagem caricata à qual já se entregara
Quem tanto se fez guerra e agora busca a calma
Eterno desamor, destroçando tua alma
A mesma mão que amansa, agora desampara.

Não sabes distinguir; a jóia sendo rara
Lapida-se com arte enquanto ali se acalma
O coração do artista esquece qualquer trauma
E a vida neste instante, em paz, logo se aclara.

Medonha estupidez; infausto desengano,
O mundo em que viveste embalde tão profano
Traduz e tão somente o fim que se aproxima,

Aonde houvera brilho as trevas entornando
Tempestuosamente, um mundo outrora brando
Desfaz em um instante o que se fez estima...

23865

A Terra atormentada expressa-se deveras
Envolta em tal neblina a sorte amortalhada
Apenas o vazio aonde se fez nada
Enquanto sigo exposto e enfrento tais quimeras

Aonde poderia haver mais primaveras
Minha alma já vislumbra a noite, a madrugada
Em trevas, solidão; buscando a bem amada
Bem sei que no final, mais nada ainda esperas.

E sigo como fosse um velho timoneiro
Borrasca nunca finda e o tempo se nublando
As aves lá no céu esgueiram-se num bando

E tudo o que pensara agora acontecendo,
A vida traz na morte, a sorte e o dividendo,
E apenas um pedaço o que foi feito inteiro...

23862

Aonde poderia em paz a criatura
Encontrar o remanso aonde se fez luta,
Minha alma sem cuidado, apenas já reluta
E vive amargamente a insânia da procura.

Enquanto a noite cai e o frio então perdura,
A solidão atroz, o amor em força bruta
Hermético eremita adentra em sua gruta
Sabendo mais distante a paz feita em ternura.

Assim a cada dia enfrento os descaminhos,
Os olhos entre vãos, dos medos são vizinhos
E sinto na amplidão, brilhantes astros; sóis.

Quem dera fossem meus, eu poderia ter
A doce imensidão do mundo em que o prazer
Amantes; já transforma em loucos girassóis...

23863

Percebo entre as gentis, suaves maravilhas
O Brilho encantador por onde deveria
Seguir em calma rota, a imensa fantasia,
Diverso da tristeza aonde agora trilhas,

As sortes e o prazer, que em vão já não palmilhas
Permitem me falar do quanto poderia
Viver em plenitude o amor, esta alegria
Que sabe verdadeiro e; tola, sempre humilhas.

Cansado de tentar buscar a claridade
Meu peito já se expõe na luz da liberdade
Deixando para trás uma amargura imensa,

A vida nos ensina através do tropeço,
Buscar numa esperança a paz que ora mereço,
Diversa direção; amor nos recompensa...

23861

Qual fora um galopante e tonto desvairado
Andando sem destino em meio às tantas trevas
Procuro pela paz distante que inda cevas
Às cegas sem domínio, envolto em tal pecado,

Aonde poderia exposto ao meu passado
Trazer de volta à vida o amor se ainda nevas
E bebes da ilusão; traiçoeiras conservas
Longevas emoções, o tempo abandonado

E em pleno sortilégio, egrégias maravilhas
Dizendo desta lua aonde em brilhos trilhas,
Moldando a sensação supérflua e tão venal

Da eternidade expressa em gozo e riso tanto,
Apenas a verdade em tristes árias canto
Sabendo sem ter cais, naufrágio desta nau...

23860

Atormentado; eu busco alguma paz possível
E sinto que talvez ainda não consiga
Vencer a tempestade, embora tão antiga
A vida sem amor, não se tornando crível,

Mudando de estação, o vento ao longe, audível
Permite se pensar na sorte que periga
Imenso temporal; em fúria desabriga
No quanto o desamor se mostra tão factível.

No desagregador e temerário adeus
As lágrimas tomando os olhos tristes, meus,
Somente uma lembrança, apenas nada mais

De um tempo em que feliz, julgara-me qual Rei,
Agora percebendo o quanto tanto errei,
A sorte que tentara, eu não terei jamais...

23859

Eu penso no teu corpo exposto sobre a cama
Deitando esta nudez divina e soberana
Minha alma se entregando embarca-se profana
Enquanto à tal delírio o anseio já me chama,

Vivendo plenamente, as loucuras da trama
Da intensa claridade, a fúria que se emana
Daquela deusa nua, à qual vida se explana
Moldando com firmeza, a paz que se reclama.

Numa expressão suprema, aos gozos magistrais
Descendo pelo rio em margens fabulosas,
Enquanto num momento, em loucura tu gozas,

Da fonte que se mostra eu peço e quero mais
Até poder, cansado enfim saber que o sonho
É feito deste amor, que em luzes eu proponho...

23858

Meu corpo se entregando ao pânico e cansaço
Buscara há tanto tempo um canto em que pudesse
Viver a eternidade imensa feita em prece
Dizendo de um amor, que em sonhos inda traço,

Quem sabe se bebendo a luz de teu abraço
A sorte num momento então visse e viesse
Minha alma sendo exposta à venda em tal quermesse
Da qual não restaria ainda um leve traço

Não fosse a fantasia embalde vaga e tola,
A cruz que inda carrego expondo a nudez. Pô-la
Aonde eu poderia com calma decifrar

O quanto nada existe em lúgubre temor,
Arcando com meu erro, exposto ao novo amor
Bebido nesta noite, em raios de luar.

23857

Aonde se pensara apenas convulsões
Encontro finalmente a luz que procurava,
Vulcânica beleza, expressa em fogo e lava
Demonstrando divina, intensas sensações.

Pudesse ter meus pés sem algemas, grilhões
E a liberdade então, de uma alma outrora escrava
Na qual a fantasia em luzes claras lava
O tempo em que julgara exposto às ilusões,

Vencendo calmamente a fúria em desalento
Deveras outro tempo, ainda gozo e tento
Expressando no verso o amor que desejara,

Vivendo esta loucura a cada novo tempo,
Sem ter sequer mais medo, embora o contratempo
Cadenciando o passo, aos poucos curo a escara.

23856

Voluptuosamente em ti eu mergulhei
Bebendo a falsa luz que tanto ainda emanas
E quando, temerária a sorte desenganas
Mudando a fantasia, encontro noutra grei

Os restos do passado, à sombra do que eu sei
Passando pela dor, por dias e semanas
Tristeza rapineira em águas tão mundanas
Fazendo do vazio a sua norma, a lei.

E tudo não passou de simples ilusão,
Aonde poderia em paz, a atracação
Se desde que me entendo, o velho ancoradouro

Deveras destruído, expondo nas ruínas
Realidade tosca, à qual já não dominas
E o sol deste verão; aonde, em vão me douro...

23854

A voz da morte açoda em plena tempestade
A sorte se perdeu em meio aos vãos tormentos
Aonde inda pudera em tolos pensamentos
Apenas o vazio agora inda me invade...

Sabendo da esperança, amarga e fria grade
Ouvindo mais distante; apelos e lamentos,
Pudera ter a paz, ao menos por momentos,
Talvez eu nunca visse a luz que me degrade.

Espero em ansiedade; a dor, supremo infausto
Entregue ao seu domínio, aguardo este holocausto
No qual me fiz cordeiro, insânia em plena fúria.

Do todo que vivera; encontro a solidão
E nela mergulhando ao ver esta amplidão
Minha alma apodrecida, aguardando a paz. Cure-a!

23855

O quanto penso em crer num dia temerário
Exposto a mais cruel, terrível esperança
Que enquanto nos sacia, embalde não avança
Pudesse ter amor ainda em vida. Prepare-o.

E a sorte talvez mostre aonde eu quis sacrário
Sem medos nem engodo, a mão da temperança
Mudando a direção do dia já me alcança
E traz em alegria o amor tão necessário.

Pudesse ser real a doce fantasia
Que transforme em perdão a dor que tanto urgia
Medonho temporal; meu barco num naufrágio.

Porém o amor cobrando imensidade em ágio
Não deixa que se creia em luzes e perdão,
Matando o que pensara ainda: salvação...

23853

Iremos neste instante; adeuses proclamar
Aonde imaginara a paz que nos redime
A mera sensação amarga feita um crime
Entoa-se a mentira, e o vento no solar

Trazendo em dura sanha o quanto quis amar
E nada do que fora ainda o bem que estime
A mão que acaricia a mesma que me oprime
Deixando à própria sorte o quanto quis lutar...

E quando ao perceber no meio da batalha
A fúria de quem busca a sede da navalha
Exposto ao mais sombrio e trágico momento
Na angústia que se assoma, a boca escancarada
Esboço de ternura, agora não diz nada
E a sorte decomposta, apático, eu lamento...

23852

A noite se aproxima e traz esta derrota
Que tanto eu evitara e agora se percebe.
Aonde percorrera; escura e turva sebe
A turba em fria insânia aos poucos se denota

O medo inda estampado; amargura se nota
E toda a fantasia em vão já se concebe
Enquanto a dor venal, minha alma em transe bebe
O gozo permitido, além de qualquer cota

Transforma-se em terror, mudando a direção
Dos ventos que pensara em pacificação
E agora só terror invés de calmaria

Macabras sensações, a morte se aproxima
Trazendo em voz intensa, o fim do ameno clima
Tremulando este espectro escuso em que eu vivia...

23851

Não quero apenas crer na imensa desventura
Que tanto me maltrata e morde feito um cão,
Imaginando então as luzes que virão
E em lágrima e sorriso, o amor já não perdura.

Sentindo a mansidão, bebendo esta loucura
Adentro sem saber, imenso e fundo chão
Teimando no vazio, ainda crer no grão
Que a mão de um lavrador embalde faz cultura.

Ascendo num momento os infinitos ares
E tento procurar, embora saiba escuso
Deixando esta armadura aonde tu notares

Perpetuando a dor que tanto está presente
Escudo que em defesa, ainda – um tolo- eu uso
Arcando com o fim que em ti vida pressente...

23850

O amor que nos tramando a sorte em firme laço
Trazendo num sorriso a paz e a redenção
Ao mesmo tempo em fogo ardendo em sedução
Tramando a fantasia aonde em ti me enlaço

Intenso fogaréu que até em mero abraço
Causando num momento imenso furacão
Da brasa mansa eu vejo as chamas que virão
Tormento tão suave, em cada verso eu traço

Usando o meu buril; invento mil palavras
Enquanto a vida ceva, o amor em que me lavras
Gerando esta loucura imersa em fantasia

Poeta, bem queria então eu te mostrava
Da fúria de um vulcão, incêndio feito em lava
Da vida, solução, que me apascentaria...

23849

Ouvindo deste amor o som que me entorpece
Deixando à flor da pele anseios mais ferozes,
É como se talvez ainda em paz pudesse
Vencer a tempestade e as mãos destes algozes.

O amor quando demais, se faz além de prece
Enquanto caminheiro, escuto em mansas vozes
O canto que procuro e tanto me enlouquece
Deixando no passado angústias tão atrozes.

Seria muito bom poder ter a certeza
Da imensidão do rio em plena correnteza
Descendo para a foz que encontra nos teus braços,

Vivendo fartamente a imensidão da luz
No sonho mais premente o amor que nos conduz
No rastro que persigo; amenos, finos traços...

23847

Viajo na palavra e em versos bebo a vida
Ascendo em poesia ao mundo mais feliz
Ou mesmo demonstrando a antiga cicatriz
Que embora tão distante ainda é dolorida,

E enquanto a realidade aos poucos me convida
Viver da fantasia é tudo o que mais quis
E sei que na verdade a vida se desdiz
E trago uma ilusão; encarno esta ferida.

Escrevo pelo amor de ter em liberdade
Embora com certeza o verso não agrade
Agrido-me sem ter sequer algum motivo,

Mas sei que libertária a vida do poeta
Trazendo a plenitude, e nela se completa
Nas mãos este rastelo; e por ele inda vivo...

23848

Ainda sinto ao longe o encanto da ternura
Que tanto procurara e não tendo notícias
Embora no passado envolto em tais delícias
Sabendo do terror que ainda em mim perdura,

Alçando a liberdade em forma de candura
Melodias; sonhara em mansa paz. Ouvisse-as
E terias noção do encanto que em primícias
Promete tão somente imensidão, fartura.

E assim ouvindo a voz de um tolo cantador
Que fez a sua vida envolta em tal amor
Terás dentro de ti certeza absoluta

Do quão se faz em vão a vida de quem ama,
Por mais que ainda exista, acesa última chama,
Quem tendo a fantasia, em crer no fim; reluta.

23846

Entrego-me ao vazio aonde ainda via
Possível ter a sorte em leves emoções
Porém a vida traz perversas sensações
Deixando para o fim a morte em agonia.

Procuro finalmente a mansa sintonia
Que possa me trazer diversas direções
Vivendo em solidão entranham-me visões
E tudo, de repente explode em fantasia.

Não posso mais negar o quanto fui feliz
Bebendo da ilusão, fantásticas loucuras
E quando a realidade; em sombras emolduras

Diverso deste todo, o verso que ora fiz
Pudesse renascer em glória e paz tão terna
A luz de um amor imenso, ainda viva, e eterna...

23845

Envelhecendo o corpo uma alma há muito morta
Expondo em podridão aquilo que foi vida
Na decomposição a sorte adormecida
O quanto que inda resta; eu sei; já não importa.

Apenas o terror, ainda me conforta
Espero pela glória há tanto em vão, perdida,
Quem crê numa esperança e disto inda duvida
Num mar em calmaria aguarda um manso porto.

Etérea fantasia, o canto em doces tons,
A sorte se mostrando envolta nos neons
Mas sei que nada disso expressa a realidade;

Procuro em negro céu, o brilho de uma estrela
Não consigo jamais, embora busque vê-la.
Descobrir soluções, pergunto em vão, quem há de?

23844

Vontade de morrer em meio aos tantos medos
Percebo que o vazio aos poucos me domina
E aonde imaginara a luz mais cristalina
Apenas encontrando o imenso dos degredos,

Pudesse ainda crer e ter mansa paz. Ledos
Descaminhos tendo e deles me alucina
A sorte em vagos tons enquanto em podre sina
Escondo o que podia imaginar segredos.

E quando num soneto aos vastos eu me entrego
Bebendo da aguardente amarga em rumo cego
Escondo-me em tocaia, aguardo a fúria e a fera

Percebo quão tolo o estúpido que tenta
Enfrentar os leões; a morte violenta
É tudo o que decerto ainda ao torpe espera.

23842

Entregue à solidão; meu velho camarada
Depois de tanta luta o final do espetáculo
Conforme imaginara, aquém do tabernáculo
Seguindo em vago sonho entranho-me do nada

A partir do vazio eu busco uma alvorada
Dissera em poesia, um tolo e falso oráculo
A vida em desencanto; o amor sendo um obstáculo
Expressando-me em vão; a sorte abandonada.

Decifro em tal marulho as ânsias deste mar
Pudesse finalmente, o tempo decifrar
Enigmático canto, aonde em luz profana

Herético momento, em busca do prazer
Hedônico imbecil; aguarda no não ter
A noite que inda trague a paz que tanto engana...

23843

Eclética emoção se desnudando agora
Trazendo avassalado o sonho que inda busco,
Embora no teu canto a luz em que me ofusco
Permite à solidão, matiz onde decora

O sonho em podridão; que sei não se demora
E tento ainda crer aonde em lusco-fusco
Um mundo que não seja amargo e um tanto brusco
Apaixonadamente o templo se decora,

Porém num desencanto amargura se dá
E vejo o que não quero aqui ou acolá
A sorte se desfaz na turba que, enigmática

Expõe a cada tempo um féretro diverso
No qual eu me sentindo entregue e quase imerso
Na voz dura e sombria o dom de estar estático...

23840

O tempo se mostrando mais amigo,
Embora progredisse em desafeto,
Causando no passado o desabrigo,
Agora noutro encanto me completo.
Se o todo novamente assim persigo,
Nas tramas da loucura me arremeto,
E tudo o que em verdade inda consigo
Além do que dissera algo concreto,
Não pude discernir razão e gozo,
O dia se mostrando caprichoso
Demonstra as variáveis da emoção.
Enquanto me disfarço noutra senda
A sanha que procuro se desvenda
Ditames mais diversos da paixão...

23839

O quanto Amor se faz imprevidente
Mudando a direção dos nossos dias,
Aonde a realidade; poderias
A vida na verdade já te mente.
E nada no futuro se pressente
Mordazes ou sublimes alegrias
Audazes e diversas agonias
O Amor no próprio Amor já se desmente.
Assim navega contra o mar imenso,
E mesmo quando nele, ainda penso
Alçando a majestade da ilusão.
Nefastas tempestades e procelas,
Destino que em destino, Amor, tu selas,
Dizendo destes dias que virão...

23841

Num beco sem saída me trumbico
E quebro a minha cara todo dia,
Quem faz dos seus remendos poesia
Não atingindo nunca mais o pico.
Não quero mais saber se vou ou fico
Apenas o que a sorte me diria
Mergulho o meu cantar na fantasia
E quanto mais cutuco me complico.
O berço outro esplêndido adormece
E o quadro que a verdade ainda tece
Demonstrando o vazio que virá.
Não sei o que deveras eu pretendo,
Mas quando sem saída; vou bebendo
A sorte que se molda desde já...

23838

Miséria não se acaba, pois sustenta
A corja mais pilantra que conheço,
O mundo é sempre assim desde o começo
Por mais que a sociedade se diz benta.

O fardo que ninguém jamais agüenta,
Pesado muitas vezes, reconheço,
Mas sei destes canalhas, o endereço
Na ação que ao próprio Cristo violenta.

Melhores dias; sei que não virão,
E tendo apocalíptica visão
Piora se fazendo mais notada

A cada novo tempo; mais imunda
Na súcia tão cruel e vagabunda
Miséria sendo sempre alimentada...

23837

Sossega que eu te mando algum dinheiro
Depois de deduzidos estes gastos,
Terás como pensar nos teus repastos
Ao menos sentirás um breve cheiro.
E quando da verdade enfim me inteiro
O gado se fartando nos seus pastos,
Os olhos pecadores, ora castos,
Num ato tão gentil e corriqueiro...

A sopa não é sopa, tem substância
Até uns tomatinhos lá boiando,
E assim o dia segue bem mais brando

A velha burguesia em elegância
Devolvem o que roubam na surdina,
E pensam numa ação, quase divina...

23834

A chuva que chovera chuva fina
Agora chove intensa tempestade
Por mais que a chuvarada desagrade
Esta enxurrada sempre me fascina,
Chovendo o tempo todo sem parar,
Achando que esta chuva traz a sorte,
Chuvisco sei quem já nem mais suporte
Depois deste chuveiro, vem luar.
Há quanto te imagino garoando
E sabe que deveras desde quando
Garoas com cuidado tu transformas
Um aguaceiro enorme em mansidão
Já não suportaria inundação
Se até para chover existem normas...

23835

A fome que na fome se sacia
Derrama suas marcas pela Terra,
Verdade que a verdade não encerra,
E quanto for pior, mais alegria.
O tempo em contratempo me dizia
Ganância diz trambique nesta terra
Neste alambique bêbedo se ferra
Dinheiro sempre acerta a pontaria.
Velhacos em barracos fazem festa,
E quando a podridão tal mundo gesta
Imunda cercania diz favor,
É tanta e tão profana pedição,
Na perdição fizeste a doação,
Miséria alimentando o protetor...

23836

Expondo um miserável pelas ruas
Arranjo alguns trocados, sempre assim,
Um belo cidadão, um querubim
Nas doações diversas, tu flutuas...

E quanto mais otário, continuas
Maiores os desejos do chupim,
Às vezes disfarçado de cupim,
Verdades peçonhentas? Não. São cruas.

Invés do desgoverno ser cobrado
Melhor é se pedir por caridade,
Assim apodrecendo a humanidade,

Livrando todo mundo do pecado,
A paz adormecendo o travesseiro,
O povo empobrecido? Um bom cordeiro...

23832

Apego-me ao pecado sem perdão
E pego cada rabo de foguete,
Aonde se podia ser cadete
Apenas um soldado; capitão.
O beijo foi apenas armação
Ação de quem buscara algum banquete
E tudo no final desce o cacete
Afunda o barco e toma a direção.
Corpúsculos, crepúsculos e sinas
Opérculos, apáticos poetas
Se nada do que fazes, tu completas
Complexos os desejos mais normais.
Pecado sem perdão é safadeza,
Garanto, meu amor, uma beleza...

23833

O preço deste apreço é o desapreço?
Não faço neste caso distinção
Dissesse pelo menos sim ou não
As ordens deste encanto eu obedeço.

Mas sei que a cada passo outro tropeço
Aonde se perdeu a direção?
O tempo se mostrara qual vilão
Da sorte, por favor, qual o endereço?

Engesso-me em palavras, sigo teu
E quando este horizonte escureceu
Das nuvens fiz a chuva que é bendita

Do solo mais agreste, um lavrador
Ainda crê deveras num amor,
Por mais que ele jamais nele acredita...

23830

Sem plágio, sem naufrágio, ágil sou
E sendo frágil frasco não me quebro,
O tempo quando em templo já celebro
Metáfora do quase me restou.
Debruço sobre os sóbrios e ébrios brios
E brinco com palavras, lavro a sorte
A boca desemboca tal suporte
Causando quando em vez os calafrios.
Calabares pescara, escara funda
Os velhos escafandros, antros entram.
E quando neste antanho se concentram
Abaixa-se demais, mostrando bunda.
O povo não reprova cada prova
Comprova que soneto não é trova...

23831

Um pássaro sem asas, ases guarda
Nas ancas das morenas sensuais,
Aonde se mostrou consensuais
Palavras a verdade não resguarda.
E quando o quanto mais jamais aguarda
Em meio a tais calores vós suais
Os dias são assim e sempre iguais
Por mais que vos viseis a tal vanguarda.
Enquanto em vegetais vos vegetais
Delírios das mulatas são as tais
Mortais ou imortais ao fim; podê-las
É tudo o que eu queria e vós negais,
Se não puder, deveras mais contê-las
Que faço meu amor destas estrelas?

23828

A forma pela forma sendo norma
Metade diz que sim outra diz não
E aonde se centrara a decisão
Apenas pena vária te deforma.
E nada do que teimo já me informa
Se peso mais um pouco a minha mão
O beijo transformado no formão
Perfomance diversa mundo forma.

Dormindo sobre penas, pobres gansos,
Os dias entre chuvas sem remansos
Alcanço o que não cansa, e já me diz.
O palco se ilumina a mina esgota
Abrindo das represas a compota
Inundo do que outrora quis feliz...

23829

Nos arvoredos; idas entre as vindas
Bem vindas ilusões dizem do pouco
Aonde em fantasia fico rouco
Enquanto tu desfilas e deslindas
As ondas nas marés por mais infindas
Formando a maravilha em que treslouco
Pudesse ser ao menos quase mouco,
Belezas com as quais ainda brindas.
Metódicos sonetos, atos ouço
E teimo num etéreo calabouço
Algemas me transmitem versos frios.
E o tema que em problema não desfaço
Bebendo do meu verso cada espaço
Mexendo assim deveras com meus brios...

23827

Se aprumo ou se não prumo o rumo busco
Aonde não podia ser disperso,
E quando noutros termos desconverso
O quanto de mim mesmo sei mais brusco,
No peso do passado ainda ofusco
O que não poderia crer imerso,
Serpente se mostrando onde disperso
O pensamento eterno lusco-fusco.

Pereço quando faço o que não quero,
Mereço pelo menos bem mais fero
O férreo desafio ser ao menos.
O quanto desfiara dos teus dias,
Bem sei que tantas vezes desafias
Os tempos mais felizes e serenos...

23826

Ouviram vozes tantas, medos fartos
E nada do que outrora se fez paz
Agora se mostrando mais capaz
Invade sem saber, salas e quartos,
Os dias em que foram feitos partos
No tempo a fantasia já desfaz
O que pensara ser inda mordaz,
Já não mais os queria então, reparto-os.
Sigo assim mergulhando no vazio
E o vendaval, quimera que desfio,
Desfiro como um golpe à flor da pele.
No peito esta medalha feita em tiro,
Se tudo o que não quero inda prefiro,
Ao longo descaminho me compele...

23826

Semânticas diversas, sendo assim,
Românticos os versos que fizeste
Aonde se pensara mais agreste
A chuva vem molhando o teu jardim.
Jazigos entre pedras e florais,
Ascendo aos teus encantos, meus tormentos
E deixo-me levar pelos momentos
Aonde desejara ter jamais
O ser e o nunca ser; dúvida traz
Questões muito comuns; não mais adentro
Queria na verdade ser o centro
E o cetro depois disso diz a paz.
Apaziguada fera que carrego,
O amor mesmo sincero segue cego...

23825

Atento aos mais profundos sentimentos
Adentro os meus engodos e disfarço,
Se tudo o que me prende é um cadarço,
Alcanço desafetos, desalentos.
E enquanto ainda tenho brisas, ventos
Os dias entre os dias; sigo esparso
E tudo o que pudera, fera esgarço
Galgando mais velozes pensamentos.
Atestam-se momentos que não pude,
E mentalizo a sorte feito um grude
Que ancora barcos vários, tempestades.
Não peço-te perdão e nem defino
O que se fosse audaz ou cristalino
Importa-me bem pouco que te agrades...

23824

Estímulos diversos me afetando
O tanto verso quanto não me vejo
E sendo sempre à custa de um desejo
O quanto se fizera o mesmo quando.

E beijo tuas mãos, amanso o brando
E sendo mais profético prevejo
O quadro que diverge do lampejo
Aonde quis a vida despejando.

Oprime-me o primor do quase ser
Encontro o tanto ainda me gradua
Mineiramente bebo a luz da lua

E sei reconhecer o seu poder.
No palco aonde quis iluminado
O tempo se mostrara ultrapassado.

23823

Expondo esta ossatura imagem de um demônio
Estende-se no leito, envolto em ar sombrio,
A morte se aproxima, e enquanto a desafio
O riso em ironia; último patrimônio.

A pele se esgarçando, a vida de um campônio
Entregue à sua lavra, em larvas já desfio
O quanto desejara e o tempo tão vazio
Atônito e voraz aonde eu quis idôneo

Mas quando a vida traz ainda algum suspiro,
Minha alma em forma bruta expõe a sua face
Procura a salvação enquanto a vista embace

Um náufrago somente, e enquanto inda respiro
Bebendo do sarcasmo, exponho-me deveras
Que tanto se fez lobo agora entregue às feras...

23822

Não posso me calar enquanto a fúria volta
E tomando de assalto o coração insone
Por mais que a fantasia ainda reste e abone
A vida se transforma e envolto em tal revolta

Minha alma apodrecida, as mãos dos sonhos solta
Enquanto a solidão impede que abandone
A senda em que talvez uma alegria clone
E muda cada fase, o amor sendo esta escolta.

Mas vejo que afinal o corpo se desfaz
Deixando esta carcaça aos rapineiros lobos,
Em torno deste verme, os sentimentos probos

Ainda que distante, avista-se na paz
O que talvez pudesse enfim me redimir,
Porém cedo se amarga o que fora porvir...

23821

Enfrento dentro da alma angústia e sofrimento
Vou reduzido ao pó do qual não deveria
Jamais ser transformado em vida; onde se cria
A sorte se perdendo. O quanto já lamento

O dia que se foi redoma o pensamento
E a noite se transforma e torna-se sombria
Recebo em desalento o mundo em que queria
Invés da solidão, liberto sentimento.

Sentindo envilecida a sorte em turvas águas,
Restando deste encanto apenas frias mágoas
Deságuo nesta foz aonde se fez trágico

O caminho em que buscara ao menos claridade
Agora o desafeto e o medo que me invade
Mudando o meu destino, anteriormente mágico...

23820

Impotência tomando o coração senil
Além desta esperança aonde eu poderia
Viver a plenitude envolta em fantasia,
Diverso do que outrora o sonhador previu

Estúpida memória aguarda o final vil
De quem há tanto tempo enfrenta a noite fria
Esboço a reação; porém tal vilania
Não deixa que prossiga embora vá gentil

O término da vida, angústia sem limites
No desamor completo, aquém do que credites
Auspiciosamente o mundo ainda traz

Num riso semi-roto, aurora em tal neblina
Enquanto uma alma tenta a luz mais cristalina
Buscando em desespero, ao menos certa paz...

23819

Quando imortalidade enfim puder tocar
De amores, a saudade expressa em tal beleza
Incontestavelmente o encanto e a grandeza
De um sonho que permita aos raios do luar

Perceber a delícia envolta neste amar
Além da própria vida entendo tal leveza
Indubitavelmente o mundo que se preza
Transcende a realidade invade o imaginar.

E assim perceberei que tudo se fez raro,
No gozo mais sublime o verso em que declaro
As magas sensações esmagam cada medo

E sei que tanta luz há de brilhar eterna,
Minha alma se entregando ao canto que se externa
Defronte a tanta luz, não luto e manso cedo...

23818

Se deste sentimento ardentes ilusões
Moldando o que seria um tempo mais tranqüilo
Vivendo a nossa história em vastas dimensões
O quando se deseja em novo e claro estilo

Trazendo no seu bojo o bem das emoções.
Não posso me calar defronte o amor. Senti-lo
É ter esta certeza envolta em seduções
De um mundo mais feliz no qual me desopilo.

E sigo em verso manso a direção de um rio
Chegando então à foz, o mar eu desafio
Desfio na palavra o tempo em que pretendo

Ter nas mãos a verdade e a paz que me transforme
Um ser outrora frio, um coração disforme
Encontra na alegria, imenso dividendo...

23817

No imenso frenesi procuro a calmaria
Aonde talvez fosse um pouco mais suave
A vida que tentei sem ter maior entrave
Num terno desejar; que me renovaria.

Porém em vasta senda, amarga fantasia
Na qual realidade a estaca fria crave
Trazendo então a dor; a liberdade, uma ave
Sem grades nem temor em doce sintonia.

Distante do que posso; ausente de esperança
Vislumbro a claridade e nela o sonho lança
Num último lamento um brado que redima

Abrindo este caminho aonde eu possa ter
Além de um sonho tolo, as tramas de um prazer
Moldado em alegria, em vida e farta estima.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

23815

Pudesse então vibrar em meio aos vários ritos
Descrentes ilusões, ardentes caminhares,
Vivendo deste encanto aonde tu buscares
Os dias que; decerto, espero os mais bonitos

Adentrando este espaço, encontro os infinitos
Por onde desejei erguer nossos altares
Estranho sortilégio: envolvo-me em luares
Distantes do que um dia embalde foram mitos.

Poeta; retornai que a lua em vã neblina
Há muito que esquecida, agora não fascina
Tampouco a serenata ainda se faz bela

Na lua do sertão, mergulho no passado
E vejo desde então, qual templo destroçado
Imensa maravilha, envolta em rota tela...

23816

Pudesse inda conter nos olhos este brilho
Que tantas vezes foi um marco em minha vida,
A sorte se desnuda e vendo assim perdida
Caminho mais diverso, ainda teimo e trilho

Enquanto sob a luz senda bela palmilho
Bebendo da ilusão; encontro-a distraída
Seguindo cada passo aonde a lua ungida
Derrama argênteo fogo aonde louco encilho

Corcel de uma esperança atroz e vingativa,
Aonde já se lança uma alma quase viva
Vivenciando a dor de ter em olhos fixos

A imensa fantasia, agora abandonada
Numa avidez tamanha apenas vejo o nada
Qual fora feito em cruz, terríveis crucifixos...

23814

Sentindo esta vontade audaz, fremente
De ter em minhas mãos, a dor da liberdade
Enquanto a fantasia entregue à realidade
A cada novo dia, a história se desmente

E falta ao sonhador, ainda o remetente
Por mais que em calmaria ainda teima e nade
A sorte em dissabor, por mais que desagrade
Permite que inda crie um dia pertinente.

Alvissareiro sonho embalde não resiste
E a vida se fazendo ainda amarga e triste
Não deixa sequer sombra aonde se descanse

Tenaz, velho guerreiro acostumado à dor
Um guerrilheiro entende a voz de um sonhador
Ainda que pareça ausente deste alcance...

23813

Envolto pela luz buscando noutras formas
A solução final aonde eu poderia
Dizer do quanto vale a imensa fantasia,
Porém logo ao me ouvir, o que eu disse, deformas.

E fazes do meu canto ameno tuas normas
Causando ao coração; imensa e vã sangria
Ainda posso ouvir distante melodia
Falando em voz macia, o quanto que em reformas

Seria necessário ao homem se quisesse
Além de simplesmente uma oração ou prece
Um claro amanhecer em brilhos mais constantes

Mudando deste vento, a marcha e a direção,
Trazendo enfim alento e paz, transformação
Ao lapidar assim; perfeitos diamantes...

23812

Clarão imaginário em tempos invernais
Provoca este alvoroço invade todos nós,
O mundo agora hiberna e mostra-se feroz
Enquanto este castelo; agora derrubais

Vós sois o que se faz na ausência de algum cais
O lobo se mostrando em fúria mais atroz
Devora o próprio lobo e tudo segue após
No verso mais sincero; a fera; demonstrais.

Sendo-vos mais tranqüilo o dia feito em guerra
O tempo sem ter tempo, a morte cedo encerra
E trama desumano o dia que virá,

Espécie decomposta exposta à tal peçonha
Ainda se omitindo, um novo dia sonha
Apocalipse então é feito desde já...

23811

Percebo na alvorada a luz destes clarões
Aonde imaginara a névoa persistente,
A vida se mostrando ainda renitente
Embora se perdendo em várias direções.

Entoas com soberba as mais belas canções
E enquanto cantas livre, a dor já se pressente
Envolta num abraço a luz que me apascente
Demonstra após a chuva, imensos turbilhões

Que a doce calmaria, uma ilusão apenas.
E quando novo mundo; em lástimas encenas
Desejas o poder e dele usufruindo

O esgoto se reabre em fendas magistrais
Deixando-se antever medonhos animais,
Porém o dia nasce envolto em manto lindo...

23810

Pudera simplesmente em chamas perceber
Vulcânica promessa expressa em plenitude
Por mais que num momento a história seja rude
O mundo que procuro ainda penso em ter

Vencendo a cada dia o enorme desprazer
Espero com certeza o bem que ainda ajude
A ter nas mãos o sonho e com firmeza mude
Aquilo que não quero e não posso mover.

Sincero verso canta amanhecer dourado,
Deixando todo o medo envolto no passado,
Entoando a canção em que se fez mais terno,

O velho coração, abrindo-se ao futuro,
Encontra na alegria, o todo que procuro,
E nisto se percebe, embora morto; eterno.

23809

Pudesse navegar e ter nas mãos o leme
Naufrágio mais distante; audaz o timoneiro
Que trama em sorte imensa, um sonho em que me inteiro
E nada, nem procela, o navegante teme.

Sem medo nem temor, por mais que já se extreme
Caminho descoberto em céu mais altaneiro
Do solo da esperança apenas passageiro,
Enquanto em poesia a Terra toda treme

Imenso terremoto, amor se revelando,
Aonde imaginara um dia bem mais brando
Tempestuosamente a mente seduzida

Envolta pelo afeto, abraça esta alegria
E enquanto se faz luz, o novo mundo cria
Refaz a cada verso a mansa e bela vida...

23808

Intraduzíveis sons espalham-se na Terra
Aonde houvera paz a fome em campo farto,
Aborta-se a esperança; indefectível parto
E imensa solidão no olha já se descerra.

Quem dera se pudesse arar a mansa terra,
Porém esta ilusão, aos poucos eu descarto,
E sinto-me sozinho, imenso e vago quarto
Olhando para a luz por sobre a nobre serra

Percebo quão perfeito, o Deus que nos criou
Humanidade tosca em triste rebeldia
Enquanto Deus criava, o humano destruía

E agora que percebo o pouco que sobrou
No olhar desta rapina, a gula se espalhando,
Um fogaréu imenso, abutres vêm em bando...

23807

Procuro neste céu azulejadas cores
Que possam me trazer a luz que tanto espero,
O amor além de tudo, o bem suave e fero
Moldando em alegria o medo em mil horrores,

Seguindo cada passo aonde ainda fores
Nas sendas deste encanto o sonho em paz tempero,
Vivendo da esperança um dia em que venero
Jardim onde plantei e cultivei tais flores.

Percebo que este eterno e nobre sentimento,
No qual eu muita vez ainda me atormento
Vivendo a magnitude expressa em cada verso

Alçando num segundo infinito delírio
Deixando no passado o que fora martírio,
Contendo em minhas mãos, deveras, o universo...

23806

Pudesse eternizar do amor cada momento
Quem sabe enfim teria a paz que se procura
E enquanto se espalhasse entre nós a loucura
A vida então seria além do sentimento

Ao qual em fantasia imerso, eu alimento
Trazendo ao sonhador um mundo em tal alvura
Que mesmo o grande mal, em tanto amor se cura
Tramando a cada dia, um claro e manso alento.

Não pude discernir, outrora sem saber
Do quanto se podia, em ti viver prazer
Deveras fora um tolo, apenas, nada além,

E quando ao acordar sublime maravilha
Que em meio à farta luz, mais forte ainda brilha
Alertando afinal, que o imenso amor já vem...

23805

No mármore em que é feita a deusa dos meus sonhos
Eternidade traz além de tal beleza
A sorte que pensara, emana esta grandeza
Aonde outrora houvera os dias mais medonhos,

Agora em primavera os sóis deixam risonhos
Caminhos em que a luz qual fora em correnteza
Desfila-se divina e envolta na leveza
Deixando no passado, os medos mais bisonhos...

Ascendo ao infinito, embarco em cada estrela
Alçando a maravilha ao menos por revê-la
Exposta no meu quarto, amante mais febril,

Enlanguescidamente encontro-te desnuda
Minha alma então se cala, e enquanto se faz muda
Formosura em nudez, igual jamais se viu...

23804

Eternos bronzes, prata à bela luz da lua
Estende-se divina a mais sublime diva
E quando vejo a luz desta figura altiva
Deitada sobre a cama, etereamente nua

Minha alma se perdendo aos poucos te cultua
E mesmo que distante, ainda sobreviva
O sonho mais audaz, que de prazeres criva
Quem sabe distinguir o belo e enfim flutua.

Na brônzea e rara tez entrego-me deveras
Além do que talvez bem sei que não esperas
Moldando em sintonia, amor claro e perfeito

Aviva-se a emoção, e bebo deste encanto,
Deveras deveria alçar em brado e em canto
A glória em perfeição enquanto eu me deleito...

23803

Aonde o meu desejo se acendera
Avança em noite imensa, a lua cheia,
E quando em fantasias se permeia
Quem tanto se perdeu, sobrevivera;

Ascendo ao coração, velas e cera
Liberdade se faz e já clareia
A vida que deveras se incendeia
No barco em que minha alma se escondera,

Espreito as velhas dores e não vendo
O tempo se mostrando sem adendo
Vivendo a maravilha de poder

Sentir em plenitude esta emoção,
Vigor e poesia, a direção
Num oceano em paz, a me perder...

23802

Há quanto a liberdade acende o facho
Trazendo na ardentia o caminhar,
Apõe-se sobre os raios do luar,
Enquanto os meus desejos; em ti acho.

Realço as maravilhas que me trazes
Nos versos em que traço o teu porvir,
Vivendo todo o amor vou repetir
Qual lua se entregando às suas fases.

Medonhas artimanhas da ilusão,
Mesquinharias tantas que jamais
Pudessem ser assim, cruéis, banais
Os ventos num naufrágio, embarcação.

Ainda destes sonhos, timoneiro,
No amor ao qual me dou e vou inteiro...

23801

Curvando sob o peso da ilusão
Que muitas vezes dita esta chibata,
Enquanto a fantasia me arrebata
A vida me mantendo sobre o chão,

Abismos que criara, em solidão,
O sonho mais feliz, já me maltrata
E quando a poesia me arremata
Esqueço qualquer rumo e direção,

Alçando eternidade num segundo,
Se em meio a tantos vagos me aprofundo
Nas vagas deste mar eu me perdi.

E preso aos teus desejos e vontades,
Aprendo a descobrir quando me invades
Trazendo o que melhor existe em ti...