segunda-feira, 31 de julho de 2006

Tucanolândia - capítulo 26 - Caçando os Marajás

Houve um rei, em Tucanolândia, conhecido pela promessa de caça aos grandes salários do funcionalismo público, aos quais denominara de Marajás, numa alusão aos ricos donos do petróleo árabe.Esse rei, Dom Fernando Collo Melloso, conseguira o apoio dos seus súditos com esse programa de governo. Algo genial para quem pretendia assumir um reinado tão importante quanto Tucanolândia.No primeiro ato de governo, confiscou as riquezas da grande maioria dos súditos, que depositavam suas fabulosas fortunas nas cadernetas de poupança e em outras aplicações financeiras. Com esse ato, caçou todos os marajás do reino, inclusive as empregadas domésticas, pequenos comerciantes, aposentados, toda sorte de marajás...Collo Melloso descobriu, então, que os maiores responsáveis pela miséria do país eram os funcionários públicos, multimilionários e preguiçosos, que abundavam no reino. Abundavam e desbundavam, passeando com seus carros importados pelas estradas maravilhosamente bem cuidadas de Tucanolândia.Criou-se o mito de que “funcionário público” é sinônimo de marajá; no que Dom Gerald Aidimin conocorda plenamente, sob inspiração de Dom Fernando Henrique Caudaloso.Sob esta inspiração, além de venderem várias estatais a preço de saldão, resolveram fazer um congelamento de salários que durou todo o reinado de Dom Fernando e o Governo de Dom Gerald, à frente da província de Saint Paul.Como podemos observar, isso teve um aspecto extremamente benéfico para o povo, constituído em sua maioria por investidores nas afamadas Cadernetas de Poupança confiscadas, com justiça, por Dom Fernando Collo Melloso.Se analisarmos com cuidado, veremos que o congelamento de salários afetou somente setores de menor importância para o reino; assim como:Educação, Saúde, Segurança Pública, Setores de Serviço, etc.Realmente, a evasão de vários professores e médicos para o setor privado, abandonando o setor público, foi extremamente salutar para o miliardário povo tucanolandês.Em outra coisa, Dom Gerald foi extremamente coerente: tendo como ídolo Fernando Brant, aquele irmão do Roberto, o mineiro do PFL, tinha como música de cabeceira o sucesso – Canção da América; principalmente na parte onde dizia “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito”.A coerência se dá, principalmente, quando as contratações suplantaram em muito, os concursos públicos.Aliás, concursos para quê?Sabemos todos que um amigo trabalha bem melhor do que um estranho, sendo essa a principal justificativa para o salutar hábito do nepotismo.A defasagem do salário entre o começo e o final dos mandatos dos tucanos, tanto a nível federal quanto estadual, minimizou, pelo menos em parte, o problema tão bem focalizado por Dom Fernando Collo Melloso.Hoje, os antigos Marajás podem ser considerados, no máximo, como uns paxazinhos de meia tigela.Dom Gerald, assim que assumir o poder como Rei da Tucanolândia, deverá colocar esse pessoal do funcionalismo público no seu devido lugar.Em pouco tempo a meia tigela virará tigela vazia, para regozijo de todos aqueles milionários das cadernetas de poupança.Ah, falando nisso, o governo devolveu, claro que defasado, o dinheiro confiscado; mas, os empréstimos compulsórios da gasolina...Para quem gosta de estatísticas os números que comprovam a história são esses: Em 1998, o gasto com ativos e inativos representava 42,51% das despesas totais do Estado. Em 2004, este gasto caiu para 40,95%, resultado da política de arrocho salarial e redução das contratações via concurso público, porém com aumento dos cargos por nomeação do governador.

domingo, 30 de julho de 2006

A nova Guernica

O massacre de Qana me recorda Guernica.
Tanto nas fotos quanto no quadro de Picasso, a dura realidade de uma guerra insana e indecente.
O Estado Terrorista de Israel, contando com o beneplácito norte americano, fere profundamente qualquer sentido de ética e de humanidade, repetindo o fascista Franco na Espanha de 1937.
Com essas atitudes, infelizmente, vejo ressurgir o anti-semitismo tão horrível quanto qualquer forma de racismo e discriminação.
As atitudes irresponsáveis de um Estado passam a ter, sob uma ótica radical e inaceitável, um caráter extremamente perigoso para todo um povo.
E, com certeza, a maioria esmagadora da população judaica do mundo não concorda com essa carnificina idiota e desnecessária.
A crise no Oriente Médio tende a se agravar ao extremo, com uma guerra generalizada e, contando com a omissão criminosa dos Estados Unidos, criar um caos que não interessa a ninguém, muito menos aos próprios judeus e árabes.
As frentes de ataque israelitas, tanto na Palestina quanto no sul do Líbano, com a política de terra arrasada, destruindo vidas e a infra-estrutura de um país livre é indesculpável.
Não concordo com as atitudes dos terroristas nem árabes e nem judeus, sendo que esses têm, como agravante, o fato de ser, pelo que consta, Israel um Estado Livre e membro das Organizações das NAÇÕES Unidas.
Me pergunto até que ponto, se pode chamar de NAÇÃO quem se equipara em atitudes, a um grupo terrorista.
As desculpas pedidas por Israel não têm cabimento, e não servem para nada.
O assassinato de 34 crianças e 16 mulheres não tem perdão.
A alegação de que houve “erro de alvo” é tão obscena quanto a destruição das torres gêmeas.
A diferença é que a Al Kaeda é uma entidade terrorista assumida e vive à margem da lei, com seus líderes ocultos e perseguidos como bandidos.
Enquanto o Estado israelense é uma entidade terrorista disfarçada e com representantes no mundo inteiro.
Mais uma vez, se demonstra a inutilidade da ONU, órgão criado pelos mais fortes para se protegerem dos mais fracos.
Assim como nos episódios da Chechênia e do Iraque, essa entidade inútil e frágil, não irá fazer nada, a não ser emitir opiniões. O Estado terrorista de Israel conta com o apoio do assassino norte-americano.
Bush, outra vez, nesse seu mandato como presidente dos EUA, mantém a tradição republicana de produzir presidentes com excessiva miosina e parca mielina.
Após Nixon, com suas aventuras no Vietnã e no Sudeste Asiático; Reagan, com seu radicalismo de direita, levando à tensão constante com o agravamento da Guerra Fria; Bush pai, nas interferências no Iraque e no Afeganistão, embriões das crises enfrentadas pelo seu embrião oligóide, Bush filho, temos este que é o maior responsável de todas estas lambanças que estão acontecendo.
Por ação e por omissão.
O pior de tudo é que o anti-sionismo ressurge com força total, sendo que o ódio ao Estado Terrorista de Israel se internacionaliza, dia-a-dia.
O bom senso, algo impossível nesta hora, é a única forma de se evitar o pior, e bom senso, diga-se de passagem é o que não existe nem na cabeça dos dirigentes israelenses e muito menos no que resta de cérebro em Bush.

Melancolia.

No cais do porto, esperando pelo nada, os olhos vazios mirando o ontem, na desesperança de um amanhã, tão sombrio quanto o hoje.
O vestido curto, as pernas marcadas pelas cicatrizes e pelas varizes, celulites até e, principalmente, na alma...
O menino, mal coberto pelos farrapos, último e único troféu que sobrou.
Menino macilento, olhos fundos, mas com aquela força inerente da luta feroz pela sobrevivência.
Uma sobrevivência sem futuro, sem esperança, um ocaso ao amanhecer.
Amores, foram mais de mil, amores de uma noite, de um momento, de uma semana, as brasas ardendo entre as pernas abertas por ofício e automáticas, sem prazer, sem sentido, somente abertas.
Amor um só, o marinheiro forte e violento, responsável por muitas das marcas, feitas a brasa de cigarro e ponta de facão.
Marcas no rosto, nas coxas, nas costas, na vida. Cicatrizes eternas, território marcado, gado marcado, sofrimento.
Mas o prazer, esse não dava para esquecer, prazer violento, doloroso, doce...
As ondas levavam e traziam, o mar revolto anunciava a tempestade, que era bem vinda, mantendo no cais do porto, o navio. E na casa humilde, o marinheiro.
Bem que sabia que não era dela, era do mar, de tantas sereias quantos portos houvesse. Não adiantavam nem as preces que, escondida, fazia.
Os Santos não poderiam ajudá-la e ela bem sabia disso.
Da última vez, ele fora embora mas ficara, ficara dentro dela, nas entranhas, trazendo náuseas e alegrias, dores e esperanças.
Um restinho do que fora, um troféu, um eterno troféu pela vida afora.
A gravidez trouxe a miséria, diminuíam os fregueses, a porta vivia aberta a espera de um cliente, de um real, de um almoço...
Mas, se não fosse a solidariedade de uns poucos...
Entre trancos e barrancos, nascera o menino.
Menino magro e guloso, querendo as mesmas tetas onde o pai mamara tanto, tanto...
Os peitos fartos, agora flácidos eram devorados pelo faminto, mas a sensação de prazer que ficara na memória, teimava em arder e, por isso, nunca negava o leite àquela criança.
O cais do porto, os olhos parados, a desesperança.
E Jesus, olhando para o ontem, assim como a mãe, sem saber por que, repetindo os mesmos gestos e a desesperança a descorarem os olhos azuis...

O que não será destaque na Imprensa 2 - dos alimentos orgânicos

Diário do Nordeste - 29/07/2006
Brasil pode se tornar o maior exportador de orgânicos em dez anos
A partir das políticas públicas de estímulo à prática da agricultura orgânica, é possível que em uma década o Brasil se torne o maior exportador do mundo. A avaliação foi feita pelo agrônomo José Carlos Polidoro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Solos). A concretização dessa estimativa depende de apoio político, principalmente na questão de exportações ligadas ao setor orgânico, com destaque para hortaliças e frutas, observou o especialista. "Esse mercado é extremamente positivo para a entrada de mais agricultores nesse sistema", disse. A participação da Embrapa nesse processo se dá através do projeto "Desenvolvimento Tecnológico dos Sistemas Orgânicos de Produção Agropecuária com Base Ecológica", do qual participam cerca de 250 pesquisadores de 16 unidades da empresa e de 45 instituições parceiras, inclusive privadas. O projeto é coordenado pela Embrapa Agrobiologia. Polidoro informou que este é o maior programa mundial de pesquisa e desenvolvimento de agricultura orgânica e está em vias de aprovação para renovação na Embrapa. O projeto se insere nos Desafios Nacionais do Agronegócio, que têm a agricultura orgânica como um grande negócio.


Há uma necessidade imperativa de se inovar para competir a nível de mercado internacional, isso é quase uma unanimidade entre os especialistas em comércio exterior.
Além disso, para os pequenos agricultores, há a necessidade urgente de se diferenciarem para poderem manter a lucratividade.
O estímulo a essa forma, cada vez mais valorizada, de agricultura, especialmente na produção de frutas e hortaliças, como visto acima, é de vital importância para que o país se sobressaia dentro de um mundo globalizado.
A produção de alimentos orgânicos necessita de maior quantidade de mão de obra e se faz de forma quase artesanal, o que possibilita a fixação do homem no campo, diminuindo o êxodo e, por conseguinte, o inchaço das cidades, principalmente as metrópoles.
Da mesma forma que a mecanização expulsou o lavrador, a produção de orgânicos, o mantêm.
Essa é uma das principais, senão a mais importante, contribuição social dessa modalidade de produção.
Além disto, a lucratividade e a garantia de consumidores cada vez mais exigentes se tornam, a cada dia maiores.
Esse projeto de pesquisa e desenvolvimento, feito em parceria do governo com a iniciativa privada, é o maior do mundo.
A possibilidade de se transformar o Brasil no maior exportador de alimentos orgânicos do mundo é de vital importância para o futuro e sobrevivência dos pequenos e médios agricultores.
Como isso não interessa aos grandes latifundiários, o destaque dado a essa notícia não terá a mesma dimensão que foi dada, por exemplo, ao movimento da UDR para que se subvencionasse as dívidas dos grandes agricultores, nem sempre com investimentos feitos no campo, por exemplo.
Mas, sem dúvida, o impacto social do aumento da produção de orgânicos será gigantesco, direta ou indiretamente falando...

O que não será destaque na Imprensa 2 - dos alimentos orgânicos

Diário do Nordeste - 29/07/2006
Brasil pode se tornar o maior exportador de orgânicos em dez anos
A partir das políticas públicas de estímulo à prática da agricultura orgânica, é possível que em uma década o Brasil se torne o maior exportador do mundo. A avaliação foi feita pelo agrônomo José Carlos Polidoro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Solos). A concretização dessa estimativa depende de apoio político, principalmente na questão de exportações ligadas ao setor orgânico, com destaque para hortaliças e frutas, observou o especialista. "Esse mercado é extremamente positivo para a entrada de mais agricultores nesse sistema", disse. A participação da Embrapa nesse processo se dá através do projeto "Desenvolvimento Tecnológico dos Sistemas Orgânicos de Produção Agropecuária com Base Ecológica", do qual participam cerca de 250 pesquisadores de 16 unidades da empresa e de 45 instituições parceiras, inclusive privadas. O projeto é coordenado pela Embrapa Agrobiologia. Polidoro informou que este é o maior programa mundial de pesquisa e desenvolvimento de agricultura orgânica e está em vias de aprovação para renovação na Embrapa. O projeto se insere nos Desafios Nacionais do Agronegócio, que têm a agricultura orgânica como um grande negócio.


Há uma necessidade imperativa de se inovar para competir a nível de mercado internacional, isso é quase uma unanimidade entre os especialistas em comércio exterior.
Além disso, para os pequenos agricultores, há a necessidade urgente de se diferenciarem para poderem manter a lucratividade.
O estímulo a essa forma, cada vez mais valorizada, de agricultura, especialmente na produção de frutas e hortaliças, como visto acima, é de vital importância para que o país se sobressaia dentro de um mundo globalizado.
A produção de alimentos orgânicos necessita de maior quantidade de mão de obra e se faz de forma quase artesanal, o que possibilita a fixação do homem no campo, diminuindo o êxodo e, por conseguinte, o inchaço das cidades, principalmente as metrópoles.
Da mesma forma que a mecanização expulsou o lavrador, a produção de orgânicos, o mantêm.
Essa é uma das principais, senão a mais importante, contribuição social dessa modalidade de produção.
Além disto, a lucratividade e a garantia de consumidores cada vez mais exigentes se tornam, a cada dia maiores.
Esse projeto de pesquisa e desenvolvimento, feito em parceria do governo com a iniciativa privada, é o maior do mundo.
A possibilidade de se transformar o Brasil no maior exportador de alimentos orgânicos do mundo é de vital importância para o futuro e sobrevivência dos pequenos e médios agricultores.
Como isso não interessa aos grandes latifundiários, o destaque dado a essa notícia não terá a mesma dimensão que foi dada, por exemplo, ao movimento da UDR para que se subvencionasse as dívidas dos grandes agricultores, nem sempre com investimentos feitos no campo, por exemplo.
Mas, sem dúvida, o impacto social do aumento da produção de orgânicos será gigantesco, direta ou indiretamente falando...

Trovas

Vaga mundo, devagar
Vago o tempo, sem demora
Tanto tempo por passar,
Relógio, marcando a hora...


Cálice de vinho tinto,
Trazendo sangue na boca,
Amores são tantos, sinto
Louca vida, vida pouca...

Na verdade, foste santa
Perdoando meus pecados,
Tua alegria me encanta,
Belas flores, belos prados...

Em teus seios, sei saudade;
Tua boca me devora,
Vem viver felicidade,
Nosso tempo não demora...


Água correndo no teu rio,
Do teu rio, vai pro mar.
Moça, me dê o teu cio,
Teu corpo, vou navegar...

Viver sem medo, cigano,
Sem segredo e covardia
Passando dia, mês, ano;
Montado na fantasia...

Soneto

Trazendo meu silêncio concebido
No momento fatal da despedida,
Sangro tanto, meu tempo já perdido,
Na procura da minha própria vida...

Eu não quero saber se tem havido
A que nunca mais fora percebida,
Nem amada no tempo sem sentido,
No gosto amargo, fruta apodrecida.

Vagando só, sem tempo e sem espaço,
Vou lavrando a paz, vendo meu cansaço
Nesse momento torpe do senão,

Vivendo por viver, meu coração,
Procurando limites, neste abraço.
Por onde vou, vagueia essa amplidão!

O que não será destaque na Imprensa 1

Portal do MEC (28/07/06)
Aumentam a oferta e a procura de cursos profissionalizantes de nível médio
Cresceram a oferta e a procura de cursos de educação profissional de nível médio em todo país, de acordo com números do último Censo Escolar. Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) demonstram que o número de brasileiros que se matricularam nestes cursos cresceu de 589.383, em 2003, para 747.892, em 2005. As unidades que oferecem esta modalidade de ensino no Brasil aumentaram de 2.789, em 2003, para 3.294, no ano passado. O crescimento de instituições de ensino e de matrículas no período analisado revela um aumento significativo: 18,1% no de estabelecimentos e 26,9% no de matrículas. Os ingressos na rede federal, nessa fase, aumentaram de 79,5 mil para 89.114.

Uma das coisas mais reclamadas com relação a preparação dos adolescentes brasileiros, sempre foi a qualificação destes para o mercado de trabalho.
A baixa percentagem de alunos em cursos profissionalizantes, os chamados “cursos técnicos”, sempre foi uma das principais reivindicações, tanto da área de formação quanto na da utilização desta mão de obra especializada.
Pois bem, pelos dados acima, temos uma acentuada melhora neste aspecto, já que um aumento de mais de vinte e cinco por cento de formaturas em apenas dois anos, demonstra o quanto este aspecto não está sendo esquecido.
Obviamente, como a maioria dos alunos dos cursos técnicos pertence a camadas sociais mais humildes da população, isso não merece destaque na imprensa.
Esses aspectos podem ser irrelevantes para as classes dominantes, mas para quem almeja emprego e melhores salários, são fundamentais.

Tucanolândia - capítulo 25- Salário e Congelamento


Esse pessoal da oposição não tendo o que falar, difama.
Dom Gerald Aidimin, como todos sabemos, é um excelente vendedor e, tendo como origem sírio libanesa, tem fama de ser pão duro.
Me desculpe quem se sentir ofendido, isso é apenas uma crença popular que, muitas vezes é desmentida no dia-a-dia.
O problema é que, com a venda das estatais, esperava-se um aumento nos investimentos públicos, já que a principal motivação para que se fizessem estas privatizações era esse, segundo a propaganda oficial.
Mas, o temperamento de Dom Gerald é muito forte, a ponto de ser conhecido como “Picolé de chuchu”e chuchu, para quem não conhece é um legume conhecido pelo paladar forte e apimentado.
Por conta deste temperamento, ninguém conseguia fazer com que ele mudasse de idéia. E a economia nos gastos era um de seus mais fortes dons e características.
Isso viera desde os tempos de infância quando, menino criado no interior, economizava as moedinhas que ganhava e que encontrava no porquinho que sua avó tinha lhe dado no Natal.
No Natal do outro ano, quebrava o cofrinho e comprava o seu presentinho.
Teve um Natal inesquecível, onde ele conseguiu comprar um velocípede, tão bonito que nunca mais se esqueceu...
E essas lembranças fizeram de Dom Gerald um homem seguro, famoso mão de vaca, avaro, parecendo que anda com um escorpião no bolso, pão duro...
E, por conta disso, nada o fazia mudar de idéia, economizar! A ordem é economizar.
Tanto que, apesar de todas as reclamações desse pessoal da Educação, da Saúde, da Segurança Pública, ele passou a economizar nos investimentos públicos.
Para se ter uma idéia, em 1998 os investimentos perfaziam 5, 39% do gasto total. Já em 2003 e 2004, passaram a ser de 3,75%.
Agora tem camarada safado da oposição dizendo que essa economia, santa economia, pode ter sido uma das causas do aumento da violência no Estado, só porque o salário dos policiais se manteve congelado nestes anos todos.
Ora bolas, salário vem de sal, e com o que esse pessoal ganha, dá pra comprar quantos quilos de sal em um mês? E congelamento é um dos princípios básicos para se fazer um bom picolé, mesmo que seja do picante chuchu...

sábado, 29 de julho de 2006

O trabalho enobrece o homem...

Menino criado na roça desde cedo aprende a lidar com a enxada e a foice.
Não fora diferente com Inaldo, rei nos seus oito anos.
Aos quatro, o pai já o levava para ajudar a debulhar o milho e a colocar as sementes nas covas feitas com o enxadão.
Terra pouca, terra dura e ruim, dinheiro para adubo não havia, mas tinha que ser assim.
Deus provém quem trabalha e a lida era sagrada.
Quando chovia no tempo certo, que maravilha! Dava até para sobrar dinheiro para comprar umas bugigangas para a mulher e para os filhos.
Coisa boba, mas Zezito não esquecia da prole não.
Prole grande, comum naquelas bandas. Sete filhos, entre meninos e meninas.
O mais velho tinha treze anos, parrudo e trabalhador, Deus é bom...
As meninas eram muito bonitas, os olhos verdes delas realçavam os cabelos loiros, espiga, como a do milho.
A mina jorrava água boa, suculenta.
Pelo menos isso não faltava, ao contrário do sertão de Jequitinhonha, onde o pai de Zezito nascera, lá em Pedra Azul.
Pedra Azul, nome bonito pra terra seca, para a feiúra do gado e a magreza do povo.
Mas ali em Espera Feliz era diferente.
O que queimava era o frio, frio do Caparaó, perto do pico da Bandeira.
Doutor pediatra tinha dois; dos bons: O doutor Aníba e a doutora Tânia, se os meninos precisassem sabia que podia contar com a boa vontade deles.
Agora , uma coisa ele não havia se acostumado ainda: Por que esses doutores insistiam tanto em que ele deveria comprar um filtro? A água de mina é pura, e não tem doença não doutor...
De uns tempos para cá, Inaldo estava começando a estudar.
Isso deixava ele meio cabreiro, estudo para quê?
Coisa de rico essas modernices, menino tem é que trabalhar, não entendia porque a assistente social tinha chamado a atenção dele. Se menino não trabalhar, vira vagabundo e depois que virar cadê a assistente social?
Assim aprendera com o pai e assim ia ser com seus filhos...
Tinha um tal de PETI, a moça falou nisso, mas ele não queria o dinheiro não, queria era dar rumo na vida dos meninos...
A enxada ensina mais que qualquer caneta, moça.
Enxada faz o homem ficar forte e ter dignidade.
Estudo não, isso não dá futuro não.
E nem uns tapas podia dar nos meninos mais não, tinha um tal de conselho tutelar que, se soubesse disso, até pra cadeia era capaz de mandar.
Essas novidades eram difíceis para serem compreendidas por Zezito.
Igual a esse negócio de ter filho em Hospital, coisa mais estúpida. Filho forte nasce é em casa, e com umbigo curado pela avó de preferência com teia de aranha. Isso seca a ferida bem melhor do que os remédios que os doutores passam.
Quando a moça que trabalha na saúde, a Fatinha, filha da dona Cremilda, veio com essa história de preventivo, a casa quase caiu!
O tal de Doutor Paulo não vai ver as partes da mulher não. Só por cima do meu cadáver.
Vê se pode! A mulher ficar nuinha perto do homem, e com as pernas abertas!
Mas, esse ano, ia ter que trabalhar a meia na colheita de café, não ia ter jeito não.
O problema era os meninos na escola, isso ia atrapalhar muito.
A mulher tava com um problema de fígado, segundo o Doutor Ben-Hur, coisa chata que tinha até que operar.
Trabalhar sozinho, não tinha mais idade, beirando os quarenta anos, a coluna doía e o doutor Marcos não dava jeito. Mandava fazer repouso.
Engraçado, como fazer repouso? Esses homens não têm a menor idéia do que é a vida na roça.
Caboclo nasce trabalhando e morre trabalhando.
A colheita do milho e do feijão, tinha sido bem menor do que nos outros anos. Não dera nem para cobrir as despesas com a comida.
Ainda bem que tinha aquele empréstimo do governo, o tal do Pronaf, mas isso não ia bastar.
Precisava trabalhar no café.
O caminhão de bóia fria passava lá pelas seis e meia, e o frio era de rachar, ia pegar uma carona até a propriedade do Seu Jorge Grillo, homem bom e honesto, filho do seu Nenzinho...
Ia trabalhar à meia, ainda bem que o seu Jorge teve a bondade da dar aquela colheita à meia.
Senão o negócio ia ficar feio, feio de cara...
Partindo pra lá, teve que deixar os filhos irem para a escola, a mulher ficou em casa, esperando uns exames de sangue para marcar a cirurgia.
Jararaca. Jararaca atrás de jararaca. A roça é difícil e complicada.
Uma picada da danada e tudo acabado...
Colheita complicada, sem dinheiro.
Pois bem, não deu outra.
A picada foi dolorida e o tornozelo começou a inchar depressa.
Correu para o Hospital, soro antibotrópico, repouso e pé para cima.
A úlcera no tornozelo ficou grande, infeccionou.
Jararaca disgramada.
Que o desculpasse a assistente social, podia chamar até o juiz e o promotor.
Os meninos no caminhão de bóia fria.
Trabalho a dia, adiando a escola, adiando o futuro...
Zezito curando a perna, a duras penas.
Perna inchada e minando água, toda rachada.
O sol frio do Caparaó observando tudo...
Inaldo, mais um dia, outro dia. Inaldo e seus irmãos...
Vida de pobre é difícil, mas os meninos estão na labuta.
O pai, orgulhoso, espera a perna ficar boa e que a tal assistente social nunca mais apareça na sua frente...

Tucanolândia - capítulo 24 - Socialismo em Tucanolândia


“Sujeito bacana é esse Dom Gerald Aidimin”.
Onze entre dez devedores de tributos, na província de Saint Paul dizem isto.
Os devedores de impostos estão todos animados com a possibilidade da sucessão do reinado de Tucanolândia ir parar nas mãos de Dom Gerald.
Para se ter uma idéia, entre 1998 e 2004, houve uma queda de cinqüenta e dois por cento na arrecadação junto aos devedores.
Isso representa somente um bilhão de reais, ou seja, quase nada.
Com essa grana doada, de boa vontade, poderíamos ter alguns benefícios para a camada mais pobre da população do reino.
Mas súdito é súdito e amigo é amigo, nada mais bonito do que uma verdadeira amizade, isso é fato e irrefutável.
Se a gente parar para pensar, os súditos, realmente não precisam de dinheiro.
A pobreza dignifica o ser humano, e isso é uma das coisas mais realistas que existe.
Um súdito educado, com saúde, com condições de moradias mais dignas é um mal agradecido em potencial.
Nada melhor do que a gente investir naqueles que, por uma questão de princípios, vai nos agradecer, imensamente.
Principalmente em tempos mais bicudos.
Ninguém sabe o dia de hoje e, nada melhor do que perdoar para ser perdoado, mesmo que sejam dívidas ou tributos.
E, ninguém pode negar, quem gera empregos e impostos tem o direito de sonegar, de vez em quando, senão, como fica?
Cada empresário que falir, são empregos a menos que deixam de ser gerados.
E emprego é coisa primordial para o bem estar do cidadão, confere?
E, por último, temos que analisar o seguinte: aqueles impostos que todos pagam no consumo, idênticos para todos os cidadãos, são a mais perfeita demonstração de socialismo, igualdade entre todos, ricos e pobres.
Se o rico paga quando compra, o pobre tem, por princípios socialistas, que pagar o mesmo.
Afinal, Deus é Pai de Todos e todos somos iguais perante a Ele...

Trovas

Resta um pouco de perfume
Nas minhas mãos tão cansadas,
Essa mulher, meu queixume,
Tantas noites, recordadas...


Para que vou protelar,
O que não tem serventia,
Eu só queria um lugar,
Repousar a valentia...

Tanto tempo, tudo pode
Nada a prazo, tudo à vista,
Me escondendo num pagode,
Eu vou acabar budista.

Nos teus pés, já bem cansados
Belos pés, se estás descalça,
Nas danças, abençoados;
Na serenata de valsa...

Não quero mais valentia
Nem tampouco tempestades,
No tanto que me cabia,
Não cabe felicidade...

Te proponho conhecer
O que em mim não saberia,
No teu corpo, me perder,
Raiando essa poesia...

Galo cantando, manhã,
O sol vem devagar, manso,
Meu amor sem amanhã,
Maremoto no remanso...

Cansaço de tantos medos
Segredos destes cansaços,
Quero saber teus segredos,
Me prendendo nos teus braços...

Trova

Vírgulas da minha vida,
Ponto final da paixão,
Dois pontos: a despedida.
Meu amor; exclamação!

Trova

“Beijei a ponta da faca”
Me disse certa menina,
No peito, cravada a estaca,
Da saudade; assassina!

Trova

Vou fazer a serenata,
Cantando pro meu amor,
Tanto vive, tanto mata,
Tanto encanta, canta a dor...

Trova

Na tinta dessa caneta,
Percorrendo esse papel,
Brilhando, vivo cometa,
Iluminando esse céu!

Trova

Quis um outro barracão,
Fiz de zinco, meu castelo,
Em você, a solução,
Amor batendo o martelo...

Trova

Sabia ser sabiá
Que cantava na tardinha
Meu amor, vou te encontrar,
Nessa vida, tão sozinha...

Trova

Quero o gosto da maçã
Quero saber da beleza...
Noite passa, noite vã,
Carregando esta tristeza...

Trova

Sabendo ser tão calada,
Falando tanto, tão quieta,
Nessa vida, minha amada,
Essa dor de ser poeta.

Trova

Na montanha, na planície,
Nos altos deste sertão,
Amando-te tanto, Dirce,
Procurando teu perdão...

Trova

No copo da vida, bebo,
Na embriaguez da saudade.
Tantos planos, não concebo,
Traduzir felicidade!

Trovas

Teus olhos azuis, serenos,
Me lembram de imenso mar,
Neles, conheço os venenos,
Que, tão doces, vão matar...

trova

Minha vida vai passando
Pelos campos, devagar.
Tantos verbos conjugando,
Viver, sofrer e lutar...

trova

Nesse copo de aguardente
Vejo a imagem de quem amo,
Tudo muda, de repente,
Quando por teu nome chamo...

trova

Nasci no meio do mato,
Entre montanhas e serras
E, nadando no regato,
Vou em busca d’outras terras...

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Soneto

Nas palavras, eu sei, bem me confundo,
Qual fossem as estrelas lá do céu,
Mundo vasto, tão vasto esse meu mundo,
Perdido procurando o carretel

Que prenda minha calma, indo tão fundo,
A moça mais bonita do bordel,
Coragem, coração tão vagabundo,
Corado vai subindo, num rapel.

Bem sei da serventia desses versos,
Inversos, são meus últimos delírios.
Carrego, procissão, levo meus círios,

Trafego nesses tantos universos,
Causando sofrimentos e martírios,
Sem medo dos tormentos adversos...

Soneto

Marta, tanto temor por não te ter,
Não cabe no meu peito sem sentido
Não sabes, contrafeito, sem querer
Meu mundo mudo, muda, desvalido...

A seca que sufoca meu poder,
Consegue destruir. Tudo perdido...
Recomeçar, contudo, quem há de?
Se nada, nunca mais, foi construído...

Quero o vício delícia toda em ti
Nessa procura insana por meu ego.
Vivendo por viver, já que perdi,

O mundo que não creio, mas carrego.
A luta que na vida, conheci.
Amores que já tive, mas que nego...

Soneto

Vivendo meu tormento, por viver
Sabendo cada dia de saudade,
Tentando sem tentar vou esquecer
A vida que deixei nessa cidade.

Fingindo te querer por não poder
Saber se tens ou não felicidade,
Morrendo devagar, prá não morrer
Queimando cada chama que não arde...

Seguindo tantos falsos mandamentos,
Mascate, vou atrás dessa lembrança,
De quando não havia sentimentos,

Querendo traduzir em esperança
Os dias mais cruéis, nos pensamentos,
Que trazem velhos tempos, qual criança...

Soneto

Sinto a ausência de tudo que já tive;
Os mares navegados no passado,
Os cantos que cantei, por onde estive,
Amores que passei, apaixonado...

A vida vai traçando seu declive.
O tempo transportando, transformado.
A solidão feroz, de dores vive,
Das dores que esqueci, abandonado...

Já tive forças, lutas foram tantas...
Mas, cansado, adormeço no relento.
Essas vozes que escuto, já não cantas.

São as vozes ferozes desse vento,
Que me dizem: ao tempo, todos mantras,
Nada servem, não calam teu tormento...

Soneto

Na tristeza que trago nos meus dias;
Nos medos que me fazem tão calado,
Vivendo cada canto em poesias,
Nos braços que me perco, tão cansado...

Querendo salpicar de fantasias,
O vento que sacode meu telhado.
O cheiro que me vem das maresias;
No pranto, tanto tempo, consolado.

Querendo amor por todas minhas horas;
Inverno que procuro traduzir
Nas horas em que teimas e que choras.

No nada ter nem tento prosseguir,
Nem quero teu silêncio que me imploras,
E nem estar tão perto mais de ti...

trova

Essa solidão que mata,
Maltrata tanto, sem pena,
No canto, na serenata,
Sereno olhar, Madalena...

trova

Saberia te encontrar,
Entre mais de mil amores,
Eu iria te encontrar
No perfume dessas flores...

trova

Amor, por te querer tanto
Esqueci meu próprio nome.
Vítima do teu encanto,
Que, entretanto, me consome...

Amiga

Minha amiga, vida e mar, amar a vida em ti é tudo. Mudo e contrafeito, feito de cada momento, novo tempo e pesadelo.
No novelo em que me envolvem teus lábios, olhares e alma. Calma e chama, chamando por ti.
Amiga, no amargo âmago de cada dia, num novo amor, acidez e luto.
No culto a tudo que invade e persevera, na vera mansidão onde houvera sido o precipício e o meu vazio cálice.
O ápice e a parcimônia, a embriaguez do nada, de nada, contudo...
Vindo o passo, contradança e pasmo, a esmo.
Meu amor esbarra em teus pés, alados e cansados com os vôos incessantes. Mas claudicas, mendigo e me negas, refutas e maltratas.
Sem querer me matas a cada instante, onde não tenho-te e te teimo.
Onde queimo e me destruo, num uno que pretendo duo.
No nada que queria tanto, num esmo que seria canto, meu solo que, em não, erosões transformas...
Na transparência que desfilas, na languidez que me definhas, nas artimanhas que não percebes e usas.
A blusa entreaberta, desperta, acende e pulveriza.
A brisa que emanas, a astúcia que não percebes, delícia e pelúcia.
Amiga, quisera amante; antes e ante tudo, vago por ondas que produzes com as luzes que emites e remetes, confetes e serpenteantes serpentinas do teu andar audacioso e delicado.
Meu fado, meu enfado e fardo. Meu amor risonho e sorrateiro, um último cigarro no cinzeiro, derradeiro e fátuo.
No umbral da janela, onde te vejo, distante e solitária, a esmo, olhares soltos e vadios; adivinho o vinho que não tomarei.
Olhares que não serão meus, ateus, teus olhos procuram por um deus...
Um deus que mal sabes e nem te concebe, que segue outra trilha, noutra ilha, noutro mar.
Amar, armas e almas conjugadas; no fim serão mais nada, ainda nadas em águas com algas que não as minhas...
As unhas arrancam e cravam, travam os meus segredos. Meus medos inundando toda mansidão.
Teu não é, enfim, minha queda. Ácida queda...
Que há de ti? Onde estarias se fosses minha. Minha amiga...
Perigo são teus lábios, ócios e ósculos, oráculos...
As máculas onde calculas minhas mágoas estariam, são as máscaras que uso, abuso e, confuso, o fuso perdi...
Paridas as lágrimas, últimas que derramo, te amo, amiga...
Perdoe a dor e a doença, a luz e a crença, não quero pena e recompensa, apenas que me entendas, estendas a mão e não canses...
Te amar é atar os nós, os pós escondidos nos calçados, após a jornada.
Agora, a hora é embora, partida.
Tida como vida, a lida não espera e grita.
Rito, rituais e tais atos. O contato satisfaz.
Ser feliz é por um triz.
Da vida, pedir bis.
Mas, bisonho, sonho, nada mais...

Tucanolândia - capítulo 23 - Tudo por amor aos súditos

Lena Azevedo

Na tentativa de privatizar, a qualquer custo, o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), o governo se envolveu num dos maiores escândalos da administração pública. Telefonemas gravados pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, mostraram o balcão de negócios na Assembléia Legislativa para aprovar a matéria que permitia ao governo leiloar o banco. A prisão do empresário Carlos Guilherme Lima, no dia 12 de dezembro deste ano, trouxe à tona a negociação nebulosa entre governo e Assembléia, com a intermediação de Lima.

No dia seguinte à sua prisão, a missão especial federal, que apura a ação do crime organizado no Espírito Santo, divulgou as 24 primeiras gravações de conversas entre Carlos Guilherme Lima, deputados, dois secretários de governo (João Luiz Tovar, da Fazenda, e Jorge Hélio Leal, de Transportes e Obras), a assessora da Secretaria da Fazenda do Estado (Sefa), Lenise Batista, e o subsecretário da pasta José Mário Bispo.

A polícia afirma que Carlos Guilherme Lima é o operador financeiro do crime organizado, com atribuição de organizar concorrências fraudulentas em várias prefeituras, cuidar das finanças de vários deputados estaduais e ainda fazer lobby na Assembléia para aprovação de matérias de interesse do governo.

A tentativa de privatização do Banestes iniciou-se no final do ano passado, quando o governo enviou para a Assembléia o projeto. Era final de mês, véspera de feriado. José Ignácio Ferreira (sem partido) queria pegar deputados oposicionistas de surpresa e tentar passar a matéria sem alarde. Não conseguiu.

O que seguiu depois, foram inúmeras ações judiciais impetradas pelo Sindicato dos Bancários - argumento de erros no edital e desobediência à Constituição Federal -, passeatas contra a venda do banco. Mas o que mais chamou a atenção de Organizações Não Governamentais (ONGs) e entidades de classe foi o excesso de gastos com consultorias para privatizar a instituição.

O governo gastou quase R$ 5 milhões com empresas contratadas sem licitação, o que equivale ao lucro líquido do banco em um ano. Apesar do processo ser duramente questionado pela sociedade (pesquisas apontavam uma rejeição de 74% à proposta do governo), o Executivo ignorou pressões e seguiu em frente em sua intenção. Às vésperas do leilão, marcado para 13 de dezembro, a Justiça impediu o processo de privatização.

A prisão de Carlos Guilherme e a divulgação das gravações enterraram de vez as intenções de um governo que julgava estar acima da lei e da Constituição. Deputados, secretários de Estado e assessores vão ser indiciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e fraudes licitatórias. O delegado Rogério Marcus Gonçalves Gomes afirmou que todos os envolvidos na cobrança de propina para a aprovação da privatização do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) vão ser intimados a prestarem depoimentos e podem ser indiciados. O delegado Gonçalves, que está coordenando os trabalhos de investigação da missão especial federal, disse ainda que outras prisões devem ocorrer nas próximas semanas.

Um dos que devem ser indiciados pela PF é o secretário de Estado de Obras e Transportes, Jorge Hélio Leal. O superintendente interino da Polícia Federal no Estado, o delegado Wallace Tarcísio Pontes, afirmou que o secretário sabia do esquema de corrupção. "Jorge Hélio se omitiu, cometendo o crime de prevaricação", ressaltou Wallace.

O superintendente se baseou numa entrevista na televisão, onde o secretário de Obras e Transportes disse que tinha ouvido uma conversa do empresário Carlos Guilherme Lima, seu amigo pessoal, sobre a negociata. Na ocasião, Jorge Hélio chegou a dizer que orientou o empresário a sair do esquema.

Wallace ressaltou que como secretário de Estado, Jorge Hélio tinha a obrigação de denunciar todo o esquema de propina para a aprovação da privatização do Banco do Estado.

O secretário de Obras e Transportes do Estado foi procurado para falar sobre o assunto, mas não foi encontrado. Foi informado que ele está em Brasília sem celular.

As gravações que vieram à tona depois da prisão do empresário Carlos Guilherme Lima, no dia 12 de dezembro, revelam todo o esquema. As gravações telefônicas ligam o empresário a políticos e um secretário de Estado. Em uma delas, o empresário oferece ao líder do governo na Assembléia Legislativa, o deputado Gumercindo Vinand (PGT), dinheiro para que fosse aprovado o projeto de privatização do Banestes.

As fitas apreendidas revelam que Lima fazia parte do esquema do governador José Ignácio e do presidente da Assembléia Legislativa José Carlos Gratz (PFL), que se empenharam na venda da instituição. Em uma das gravações Carlos Guilherme conversa com o secretário estadual de Transportes e Obras, Jorge Hélio Leal. O lobista reclama com o secretário que os parlamentares pediam garantia de pagamento do suborno. "Eles queriam cheque rapaz, 16 cheques: Eu falei: rapaz, vocês estão parecendo crianças. Quem é que vai dar cheque a essa altura da vida".

Além de Gumercindo Vinand (PGT) e dos secretários de Estado Jorge Hélio e João Luiz Tovar (Fazenda), estão envolvidos Robson Neves (PFL), Paulo Loureiro (PFL), Luiz Pereira (PFL), José Ramos (PFL). Os funcionários da Secretaria da Fazenda, Lenice Batista e José Mário Bispo também são citados nas gravações.

Os deputados Gumercindo Vinand, José Ramos, Paulo Loureiro e os dois secretários não foram localizados para comentarem sobre a possibilidade de indiciamento.

Robson Neves alegou que só vai comentar sobre o assunto quando tiver acesso ao material gravado. "Eu requisitei as gravações ao Ministério Público Federal. Fiz a solicitação através de certidão. Vou tratar do assunto dentro da lei".

Já Luiz Pereira, preferiu não entrar em detalhes sobre a questão, dizendo apenas que vai "acatar a lei".

A funcionária da Sefa, Lenice Batista, afirmou que vai aguardar a notificação da Polícia Federal para poder esclarecer e tentar provar o contrário. "Continuo trabalhando, cumprindo com o meu dever", finalizou. José Mário, que também trabalha na secretaria não foi localizado.


Na onda de liquidação do patrimônio público, no reino da Tucanolândia, a província da Santíssima Trindade, sob o governo de José Icrécio Olho, aliado histórico de Dom Fernando Henrique Caudaloso queria, a todo custo, privatizar o Banco do Estado.
O desenrolar da história está descrito acima.
No final de tudo, para desespero do Governador da Província, o Banco acabou não sendo privatizado.
Agora, uma pergunta não quer calar, por que haveria tão grande interesse na venda desse Banco?
Certamente e coerentemente, acredito que seja por amor aos súditos...

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Jandira

A vida nunca mais seria a mesma!
Ele sabia bem disso e tentava, de qualquer jeito, recomeçar.
Um novo começo era muito difícil, mas se fazia urgente e inevitável.
Recebera um último aviso de seu avô, morto há quase vinte anos.
Era vital para todos, a sua mudança.
O avô era forte, impressionantemente forte e, por isso, respeitado.
Todas as entidades o tinham como um espírito de luz, um guerreiro.
Filho de Xangô, não admitia injustiças, nem perdoava-as.
Vander fora criado pelas tias, duas solteironas frágeis e magricelas, quase tísicas e pelo avô, forte e marcante.
Na mansão de Botafogo, na rua São Clemente, brincava entre as árvores do pomar.
A velha mangueira e a jabuticabeira eram as prediletas. Doces frutos e sabor de infância.
Mas, com a morte de seu avô, a situação econômica da família foi por água abaixo.
Da mãe, somente as notícias, vagas lembranças de um contato no final da tarde de um sábado e a foto, bela foto de uma mulher com os olhos perdidos.
No Hospital, o nome dela estava arquivado para sempre: esquizofrenia.
De resto, a proximidade do verão trazia as moças bonitas e as suas saias... Adolescente tímido, sem amigos, ensimesmado. “Outro esquizofrênico”,pensavam as tias.
Mas não, era tímido, somente isso.
Daquela timidez voraz que impede o contato com estranhos e limita a monossilábicos diálogos com os mais próximos.
Timidez confundida com incapacidade, mas o tempo provaria o contrário.
Recebera de herança da mãe, um enorme desejo de liberdade, olhando para o céu, onde a imaginava, deu para caminhar a esmo pela praia.
A enseada de Botafogo, lá pelas cinco, seis horas da manhã, tinha um fiel companheiro.
As ondas quebrando nas pernas secas, magras, ossudas.
Morto o avô, nada restou de Botafogo, somente as lembranças.
Quintino, o trem, a estação...
A escola Quinze, onde outros meninos, abandonados e órfãos faziam companhia a Vander.
O temperamento mudava pouco a pouco.
Excelente aluno, começara a sobressair-se entre os outros. Isso gerava admiração e revolta.
Ambas eram motivos para aprender a se defender. Os pescoções e os tapas, os pontapés, a navalha percorrendo a carne, o colega morto.
A vida seguindo entre as grades e a necessidade. Fome e espancamento.
Dezoito anos, hora de sair.
Só, sem mais ninguém, resolveu conhecer a mãe e se reencontrar com o avô.
Paulo, colega de escola, irmão de Jandira, bela Jandira.
Com eles, passou a freqüentar um Centro Espírita em Cascadura.
O avô e a mãe, volta e meia apareciam, em meio a um turbilhão de espíritos de diversos matizes.
Mãe louca, mãe boa, mãe.
Agora o avô, não. Esse era altivo e rabugento.
Não gostara de saber que o rapaz estava envolvido em pequenos furtos, quando soube do assassinato de Paulo e o porquê, o velho resolveu intervir.
Bastava já de tantas e tantas besteiras. Precisava recomeçar a vida.
Recomeçar onde e como?
As tias estavam numa quase mendicância, parece que no interior de Minas, Minas não há mais e agora?
Agora restava Jandira, ignorante nas causas e no autor da morte do irmão.
Jandira, companheira, primeiras experiências, as dele, pois ela já se doutorara nas artes e desastres dos prazeres.
Noites quentes, calor embrasador e a boca de Jandira percorrendo todo o corpo, arrepios e prazer, muito prazer.
Pegar Jandira e partir para o mundo, mundo vasto, vasto mundo, Vander e Jandira, estrada comprida...
Cumprira a primeira etapa da viagem, chegou a Espera Feliz, cidade na Zona da Mata mineira.
Pequena e hospitaleira, Espera Feliz acolhera a ambos, sem mais delongas e perguntas.
Começara a trabalhar na colheita do café, ele e Jandira, ambos fortes e sem medo.
Entre os pés de café, a jararaca, o bote, a quase morte.
Soro salvador, quase mata: doença do soro.
Salvo pelo Dr. Ben Hur, médico afamado por aquelas bandas.
Jandira, agora com dois filhos, dois morenos chorões e catarrentos que traziam alegria e medo.
Medo do futuro, mas Deus é bom, dizia Jandira.
Os primeiros sintomas da doença apareceram em pouco tempo.
Cabeça doendo, corpo doente. Intoxicação por agrotóxico.
A vida não poderia ser mais cruel.
Maldita a hora em que Jandira fora pedir a um pai de santo local a ajuda para curar a doença do companheiro.
Paulo, com todas as palavras, dizia através do cavalo onde se incorporara.
-Assassino!
Quem?
-Vander, assassino!
Como?
A perplexidade tomou conta de todos os que estavam no Centro, todos, menos Jandira.
A cura fora completa, o avô interviera com Xangô e tudo parecia estar bem.
A machadada foi perfeita.
Nem o milagroso Dr. Ben-Hur conseguiu dar jeito...

soneto em redondilha

Quero o sabor da manhã,

Vicejando nos teus olhos,

Percebendo teu élan,

Mergulhando nos Abrolhos.

Vagueando vida vã,

Que tão louca vai, engole-os

Todos sonhos, cortesã

Desfiando tantos óleos,

No corpo e mente senis,

Nos meus desejos tão vis,

No que pudera ser tão,

Nem tampouco são servis,

O que nunca fora chão,

Sempre cora, coração...

soneto em redondilha

Quanto mais eu poderia
Falar de tanta saudade,
Nunca mais eu te veria,
Nem no campo ou na cidade...

Quanto tempo existiria
Amor de santa verdade,
Noite clara; em pleno dia,
Nessa dor, calor que arde,

Queimando minha retina,
Cansada de te buscar,
Quero o colo da menina,

Que mora lá no luar,
Me tortura e desatina,
Vivendo só por amar...

A alma feminina

Chegara há pouco naquela cidadezinha perdida nas matas das Gerais.
Médico recém formado, dono dos invejáveis vinte e cinco anos de idade; época da vida em que se é rei e não se percebe.
Fora contratado para trabalhar no Programa de Saúde da Família, trabalharia na zona rural, num pequeno distrito longínquo da sede do município.
Nos primeiros dias, a notícia de que havia um jovem doutor se espalhou pela cidade, alvoroçando o coração da moças casadoiras e namoradeiras do lugar.
Extasiado com tanto assédio, começou a ter o prazer de ser bajulado e cortejado por todos na pequena cidade.
Feio não era, até pelo contrário, mas era tímido. Muito tímido por sinal.
E isso o impedira de ter tido as experiências com o sexo oposto comuns à sua idade e a “posição social” que atingira, de repente.
Família pobre, estudando com todas as dificuldades que são lugares comuns nesse país das injustiças, conseguira se formar com muito sacrifício de todos, inclusive dele.
No Rio de Janeiro, enquanto seus colegas saíam à noite, nas baladas cariocas, ele ficava em casa estudando ou dando plantões e mais plantões para ajudar a pagar a faculdade.
Mulheres? Não as teve, exceto uma ou outra namorada que, ao perceberem que o namoro se resumiria a um cinema no final da tarde ou um refrigerante na porta da faculdade, rapidamente iam “cantar em outra freguesia”.
Uma das coisas que o médico do Programa de Saúde da Família tem que fazer são as visitas domiciliares.
Normalmente, na zona rural, a realidade é muito diversa da que estão acostumados os urbanos doutores.
A simplicidade e a pobreza são lugar comum; mas a recepção com um cafezinho ou com a fruta da época são freqüentes. Café com guarapa, como é conhecido o caldo de cana nesses grotões.
Um bolo de fubá aparece, não se sabe como e é degustado com prazer verdadeiro e risonho.
Naquela região não era diferente, o que passou a dar ao nosso doutorzinho, uma nova dimensão de felicidade.
Numa das casas, morava uma senhora viúva com seus quatro filhos, dois meninos e duas meninas.
Maria Inês e Maria da Glória, duas meninas típicas da roça.
A mais velha, Maria Inês, com seus dezoito anos era mais tímida, escondida sobre uma mão que ocultava os dentes precocementes estragados e o sorriso doce da ingenuidade.
Mas quem chamava a atenção era Glorinha, menina ainda com seus catorze anos mal completados.
A primeira vez que a vira, reparara que ela não o olhava, sempre olhando para baixo.
A roupa de chita rasgada, mal ocultava os seios recém nascidos e rijos, seios que chamaram a sua atenção...
Os pés descalços, cheios de “bichos de pé”, diagnosticados como tungíase pelo doutor, os cabelos sujos e desalinhados contrastavam com os seios, belos seios emergindo por entre os rasgões do vestido.
Terminada a visita, o doutor retornou ao seu trabalho e à sua casa.
Nem mais se recordava da menina nem dos seios quando, um mês depois, foi comunicado de que iria retornar àquela casa.
Tudo como antes, tudo, as mesmas deficiências de vitaminas, a mesma miséria, a mesma ausência de tudo, o mesmo chão de terra batida, com os mesmos colchões e os mesmos cães dividindo o espaço com os habitantes da casa.
A única diferença que repara foi na mochila escolar esfarrapada que, a menina, enrubescida, usava por sobre o ombro direito...
Mal sabia ele que esse era o único enfeite que ela dispunha...

O Brasil não conhece o Brasil...

Como não conheces o país aonde vives!

Cada vez mais me assusto com a cruel realidade em que vivemos, há uma total ignorância do que seja a pobreza e a miséria por parte de uma classe média arrogante e ensimesmada.

Essa “elite branca” não consegue ver um palmo à frente do nariz e fala sobre o que não conhece e nem sequer imagina.

Quando se tem um país dividido, claramente, em castas, à moda indiana; a dura realidade das ruas não consegue tocar e muito menos se fazer ouvir pela oligofrenia social e econômica dos que se julgam donos da verdade e, infelizmente, por ignorância estão totalmente distantes dela.

Um rápido exame demonstra que a miséria simplesmente é vista como algo contagioso e distante.

Nos condomínios de classe média e nos bairros da pequena burguesia, a simples presença dos famintos é vista com ojeriza e preconceito. Não se consegue entender o que seja fome, muito menos pobreza.

Para quem, como eu, lida com este estrato da população no dia a dia, e conhece esta realidade de perto, nada mais triste e desanimador do que perceber que o Brasil não conhece o Brasil, e nem quer conhecer.

A história de Buda se repete a cada dia nas esquinas das grandes cidades, onde uma família a pedir esmola logo traz a idéia de banditismo e de tráfico.

Pobre para essa parte asquerosa da nossa sociedade, é sinônimo de bandidagem ou de pilantragem.

Há os que pensam que a fome é simples figura de retórica.

O quilo do arroz, para o miserável, pesa muito mais na economia deste do que os finais de semana em Búzios ou no litoral paulista para essa “classe média branca e preconceituosa”.

Os “donos da verdade” se fazem de juízes e de “comentaristas” sobre um mundo que não sabem conceber, pois desconhecem.

Quando se vê uma criança desnutrida e faminta, a reação dessa canalha é fugir.

Fogem do espelho que estampa a cara do mundo em que vivem e não conseguem encarar, por medo ou hipocrisia.

Este nosso país é, ainda, o país das desigualdades sociais, herança de centenas de anos de exploração, sob o olhar complacente e cúmplice da nossa “elite”.

Não falo da elite rica e dasluiana, essa não; pois essa casta nem sabe direito o que é Brasil, já que vêm e vão para o trabalho nos helicópteros particulares, em atitude verdadeiramente principesca.

Falo do pequeno burguês, do pequeno empresário, do funcionário público medianamente graduado, dos doutores de escritório e de consultórios ricos e com secretarias gentis e de “boa aparência”.

Falo dessa nossa estranha e obscura multidão de protegidos da pobreza, que passam por ela e a ignoram, que depositam seus reais nos programas televisivos de “caridade” e acham que estão quitando a sua conta com Deus.

Falo dessa enorme multidão de engravatados que circulam nos centros comerciais das cidades grandes e que, ao dar bom dia ao porteiro, se acham “boas e perfeitas almas”.

Falo daqueles que compram uma quinquilharia qualquer anunciada na televisão, e contribuem com as “casas de ajuda aos pobres”.

Pobre não quer ajuda, quer dignidade!

O dia do trabalho na roça vale dez reais, DEZ REAIS, e os energúmenos não conseguem entender isso!

Os programas assistencialistas são “uma esmola que vicia o cidadão?”

Concordo, mas vá você passar um mês todo com menos de um salário mínimo e me diga que é um programa politiqueiro!

Vá pegar um ônibus lotado, depois outro e outro para chegar no trabalho, duas a três horas depois e ter que ouvir que “o brasileiro é vagabundo”.

Vá ter seu filho crescendo faminto, subnutrido, sem assistência médica adequada...

Vá passar uns dias de fome e, quem sabe, de sede, na casa de um desses milhões de brasileiros.

Eu acho que essa experiência seria fantástica para vocês conhecerem o país onde vivem, seu povo e suas necessidades.

Peguem uma enxada, capinem o dia inteiro, de sol a sol, comendo uma comida fria, sem sabor, sem proteína, e depois receba dez reais por isso.

Veja a cara de nojo com que essa nossa “elite branca” olha para você e sinta a maravilha de ser brasileiro.

Mande seus filhos venderem balas nos sinais, fazer malabares enquanto você recolhe latas de refrigerantes e cerveja e papel para poder viver mais um dia, faça isso por uma semana, somente uma semana.

Mande suas filhas se prostituírem por qualquer cinco reais para poder garantir um pouco mais de comida na mesa.

Façam isso e me digam depois se os cem reais por mês de ajuda são politiqueiros e eleitoreiros!

Enfrentem os mangues podres, buscando caranguejos para manter a panelada de arroz e feijão feita no fogão a lenha, para ser disputado pelos filhos.

Dispute a palma com o gado, para não morrer de fome! Bebam a água apodrecida nas cacimbas para não morrer de sede!

Tentem sobreviver desta forma, pelo menos uma semana!

Agora, uma coisa irá surpreendê-los: esse povo faminto, miserável, por incrível que pareça, é muito mais solidário que a pequena burguesia hipócrita, solidário e companheiro, amigo.

Na pobreza; se divide o pão, na sede; se dá água, na dor; se dá alento.

Alento e consolo, coisas que a nossa elite não conhece.

Tome um pouco de cachaça, mesmo que te chamem de alcoólatra, escondidos sob o glamour dos vinhos importados e do uísque paraguaio que teimam em ostentar.

Tome um gole, converse com os companheiros, batize seus filhos, console as dores de todos, e tão comuns e iguais.

Faça isso e perceberás por que Jesus Cristo,quando veio à Terra, não quis a “elite branca” nem a burguesia. Nasceu e viveu entre os miseráveis de seu tempo, falou com eles e para eles.

Depois de dois mil anos, o trigo e o joio continuam iguais.

Absolutamente iguais.

A próxima vez que orares e fores a um templo, pensem nisso.

O verdadeiro Cristo não anda de helicóptero e nem tem nojo dos homens e, muito menos, não passa por eles como que a ignorá-los.

Tenha coragem e arrebente a redoma de vidro em que vives, te garanto que vai ser muito bom, para sua alma e para sua vida.

Daí, quem sabe, vás começar a entender que coisa linda e maravilhosa é o ser humano, em sua essência e que “cheiro de povo” é muito mais agradável do que o cheiro do cavalo.

Tucanolândia - capítulo 22 - Negócios? Sim. Negociatas? Nunca!


Uma das coisas mais admiráveis dos governos da Tucanolândia é a honestidade.
Podem comprar qualquer mercadoria que venha de lá que a garantia é absoluta.
Não se compra carro com documentos atrasados, muito menos estatais com problemas de dívidas.
O sistema financeiro do reinado, antes de Dom Fernando Henrique Caudaloso, comportava vários bancos estatais, inclusive bancos das províncias.
Um dos maiores era o Banco de Saint Paul, conhecido como Banespa; uma das mais importantes instituições do reino.
Constava sempre entre os maiores bancos do reinado, tanto em capital quanto em depósitos.
Mas, vítima de tantos e tantos desgovernos, as suas dívidas eram gigantescas.
Quem vai querer comprar um Banco falido e endividado?
Sabiamente, Dom Gerald Aidimin, pensou no assunto e resolveu, num ato inspirado e coerente, sanear as contas do Banco para depois vendê-lo.
Isso, obviamente, era uma saída genial e que manteria, a todo custo, a fama de honestidade do reinado.
Porém, as dívidas do Banco com a União eram gigantescas, e os compradores não poderiam esperar muito tempo.
A brincadeira ficou relativamente barata. Nada que cinco bilhões de reais não resolvessem.
O banco espanhol que fez a compra não reclamou muito não.
Agora, os milhares de subnutridos, analfabetos e desassistidos da província não gostaram muito da idéia.
Mas Dom Gerald Aidimin, codinome “O Gerente”, mais uma vez demonstrou a sua gigantesca capacidade de fazer bons negócios.
Segundo a maléfica oposição, “negociatas”...

quarta-feira, 26 de julho de 2006

O vento que venta lá...

Uma das coisas que me deixam intrigados é a tentativa de se criar uma imagem do presidente Lula como se fosse um ignorante, um incapaz.
Quando me recordo da eleição de Ronald Reagan à presidência norte americana e sua reeleição, isto me parece contraditório.
Não se pode deixar de lembrar também o “Exterminador do Futuro”, Arnold, atual governador da Califórnia.
Pode-se não gostar de Lula por vários motivos, mas a acusação torpe de que ele seja ignorante e despreparado e seria esse a causa de um possível desequilíbrio governamental é absurda e denota não tão somente o preconceito, mas também a discriminação.
O fato de termos um pseudo intelectualismo disseminado e arraigado na nossa cultura, com uma eterna subserviência de uma classe média a uma elite econômica gera situações desse naipe.
Engraçado que ninguém comenta sobre o grau de instrução do nosso vice Presidente, cuja universidade cursada foi a mesma de Lula.
O fato de termos um curso superior nos prepara para determinada área do conhecimento e não para o conhecimento global, embora a cultura e a educação sejam substratos importantes para o crescimento global do cidadão, embora não essenciais.
Se observarmos a inteligência em suas diversas matizes, um gênio como Pelé e Schumacher, melhor que qualquer doutor, são os maiores em suas áreas de atividade.
Assim como, para se ser gênio na música, assim como o foi Baden Powel, não há a necessidade de se conhecer profundamente a teoria musical, embora a capacidade seja potencializada pelos estudos. Nesse ano, comemoramos Mozart que, aos cinco anos de idade, não tinha cursado nenhuma universidade de música, e era um mestre maior que todos os professores reunidos.
Obviamente, a política é uma arte e destarte exercer a política necessita de dom; e isso, inegavelmente, Lula tem.
Assim como outros nomes da história da humanidade, de Abraham Lincoln a Adolf Hitler, isso falando sem preconceitos...
Querer atingir Lula por este flanco demonstra a incapacidade de coordenação de idéias e de argumentação.
Ao entrar em um centro cirúrgico, obviamente ficarei mais tranqüilo se o meu anestesista for Alckmin, se for Lula o profissional que for me anestesiar, te garanto que saio correndo.
Agora, os resultados econômicos dos dois governos demonstram uma diferença cabal entre as EQUIPES DE TRABALHO de ambos.
Obviamente, toda moeda tem duas faces, há os que acham que houve uma queda da qualidade de vida, que houve uma “roubalheira” ímpar.
Mas peço, com toda a humildade dos ignorantes, que me apontem, com números e datas a famosa “maior corrupção da História do Brasil”.
Seria muito bom se alguém pudesse dizer o volume de dinheiro e as fontes de onde vieram tais fortunas.
Não quero justificar um erro com o outro mas ver representantes dos “honestos e íntegros” governos tucanos despejarem essa bazófia sem comprovarem nem demonstrarem volume e origem me deixam um tanto quanto intrigado.
Não sou filiado a partido político algum, não falo em interesse próprio, aliás a classe média continua pagando a conta mas, dessa vez, através de alguns programas sociais de importância fundamental, como o PROUNI, o FIÉS, o PRONAF, o Luz Para Todos entre outros, me dão a certeza de que meus impostos estão sendo melhor investidos.
Como alguém disse, “é melhor que os bancos tenham maiores lucros, a partir de uma maior circulação de dinheiro do que se retirar dinheiro do povo para salvar as instituições financeiras”.

Tucanolândia capítulo 21 - Bom vendedor, com certeza, mas gerente...

No Reino da Tucanolândia, de repente, da noite para o dia, ocorreu um surto de privatizações inéditas na História da Humanidade, uma verdadeira liquidação, tudo a preço de banana.

Uma queima de estoque que trouxe compradores de todas as partes do mundo, negócio de pai pra filho, uma verdadeira mamata...

Melzinho com chupeta, como diziam os comerciantes da 25 de março, rua famosa em Sampa, capital de Saint Paul.

Assim como na 25 de março, os preços das mercadorias eram absurdamente mais baixos do que os de mercado, num milagre típico da Tucanolândia, assim como o “milagre econômico” da década de 70, tivemos o milagre da queima de estoque.

Bancos, empresas de Telefonia, distribuidoras de energia elétrica, estradas de rodagem, tudo entrava no mostruário da lojinha de Dom Fernando.

Dom Gerald Aidimin não poderia ficar para trás, tinha que fazer umas negocinhas em Saint Paul.

Ter mercadoria, eu vender, afirmava com o sorriso aberto, nosso mascate paulistano.

Pois bem, em cinco anos de vendas, o Governador obteve um lucro muito bom, com trinta e dois bilhões e novecentos milhões de reais de faturamento sendo que, somente o setor energético deu uma receita de quase vinte e quatro bilhões de reais.

Essa grana toda, deixou todo mundo alvoroçado e feliz da vida com dom Gerald, inegavelmente um bom vendedor.

Mas, como nada é perfeito e não se pode exigir a perfeição de ninguém, ao frigir dos ovos, a realidade que se mostrava era bem outra...

Ao se constatar a dívida pública, motivo para o qual se fizeram as liquidações, essa estranhamente aumentou!

A dívida crescera de trinta e quatro bilhões de reais em 1994 para cento e trinta e oito bilhões de reais em 2004. Se descontarmos a inflação, o aumento foi de 33,5%!.

Isso, apesar de Dom Gerald ter liquidado dois terços do patrimônio público da província.

Agora, Dom Gerald argumenta que é um excelente gerente...

Pobre Dom Gerald, a gente quando tem uma deficiência deve escondê-la e não tentar fazer a apologia dela.

Dom Gerald, como demonstrado acima, é um EXCELENTE VENDEDOR mas, gerente... Aí é outra história...

terça-feira, 25 de julho de 2006

No sertão da Solidão


Nasci no sertão de meu Deus, perto de uma curva do Rio Solidão, lá pros lados da Serra da Borborema.
Criado ouvindo o gemido da ema, o mugido do gado faminto e as lamúrias e ladainhas de minha avó.
Filho do nada e de Inalda, moça bonita que partiu para o Rio de Janeiro e morreu no cais do porto.
Assassinada por um estivador apaixonado. Enterro de pobre, vida de pobre, prostituta envelhecida precocemente.
Boi, gado, boiada, fome...
A vida me maltratando com as esporas do destino cravadas no lombo, a mão pesada do patrão, as marcas das amarras e das surras. Moleque matreiro, boi indomável, dei muitas e muitas rasteiras no corisco do azar.
Mas o pequeno boiadeiro cresceu, virou o rei da vaquejada naquelas terras, terras do Coronel Antonio Carlos, velho cruel e protetor.
Os amigos eram protegidos, mas os desafetos, bala e carabina, fuzil e estricnina, morte e sofrimento.
Varrendo todo o sertão da Bahia, égua baia, vida baia, no cocho da esperança, o sal penetra fundo e inunda de sede quem tenta a sorte.
Rei das vaquejadas, meu futuro estava traçado, montando os cavalos bravos e rompendo o sertão de Minas, lá no Jequitinhonha, acabando no mar, como o Riacho que norteava a vida, o riacho da Solidão.
Seu moço, não quero agradar a ninguém, se quiser pode ir embora que não me importo não, mas se quiser me conhecer, é melhor preparar o estômago e agüentar o tranco.
Filho de prostituta e do nada, sou víbora também, não sei suportar arreio, de tanto chicote não temo mais nada, nem a espora dos coronéis nem os anéis das Marias nem das Joanas.
Quero, antes, a liberdade do vento na cara. Essa marca nas costas lembra um A, mas não é marca do gado que não sou mais, é marca do chifre do touro bravo que montei, sangrando.
Liberdade, me falam que estás na bandeira mineira, eu acredito, pois é a minha bandeira, ainda que demorada.
De morada fiz o meu mundo nessa terra sem dono, sem rei, meu reinado.
Meu mundo é o novo, onde não existe mais gado, nem laço, sem cansaço e servidão.
Sem serventia, sem valentia, somente o vento na fuça, o vento tragando tudo. Me inundando de alegria.
Não quero ser coronel, nem quero coronel, não quero jagunço, nem gado e nem montaria.
Quero poder voltar para o Rio da Solidão, buscar minha avó, encontrar Inalda, minha mãe, atravessar o caminho do estivador no cabaret da praça Mauá, quero poder ser de novo um menino, sem marcas e sem esporas.
Quero ser o rei, reinado de menino, reisado e romaria, rota nova, vagando pelo sertão.
Ser tão e tão ser, certo no incerto da vida.
Espera sem espora, sem expor a cara pra tanto tapa. Tapados os olhos, os óleos sagrados de Deus nas costas, onde o A da cicatriz sumiu. Os calos da mão sendo substituídos pelos claros do caminho.
Viver em disparada, sobre meu cavalo correndo pelo sertão, desse reinado sem rei...

Non sense

Tanto quanto poderia,
Falar de tanto que sei
Da vida, nova vida, adia
A vadia que sonhei.
Na avidez de nada ter,
No não temer nem a dor,
De nada tendo a perder,
Lívido, divido a flor
Do pensamento mais louco
Que nada se faz do tanto,
Desse tanto que é tão pouco,
Carregando, levo o pranto.
Na tímida lua nova
Que me inspira tanta luz
Que me traz de novo, a trova
Travada a sangue, no pus
Escorrido pela face
Marcada pelas manhãs
Que, antes que tudo embace
Traz as febres das terçãs.
Me pergunta, nessa espreita
Nova forma, mais disforme
Carregada na maleita
que comigo, amante, dorme.
Quero vícios meus ofícios
Meu principal precipício,
Principiando meu verso,
N’avesso dess’universo...
Tinhas tantas teimosias
Em tuas aleivosias,
Tantas velhas melodias,
São as minhas fantasias.
Quero o sedento sabor
Do mais que a sede dará.
Quero o acre gosto da dor
Na maçã que brotará.
Macia a boca nojenta
Que me escancara desejo
No podre sabor do beijo,
Represa que se arrebenta.
Nocivo gosto de morte,
Transgredindo todo norte,
No topo de minha sorte
Não há ninguém que me importe.
No serão nem no seria,
No sertão, na maresia
Nos olhos de mãe Maria
Trafegando rebeldia.
Quero o medo dos meus medos
Catarse e virginal hímen,
Afagar todos segredos,
Fugindo desse teu lúmen.
Liberdade, tão às moscas
Emboscas e me torturas,
Na noite das luzes foscas,
Tateando nas procuras
De minha cara metade,
Na metade do clarão,
No meio dessa cidade,
No cerne do meu sertão.
Vi teus olhos passageiros,
Teus olhos são os primeiros
Que encontrei nessa viagem
Neles, pedindo paragem.
Falando tanta bobagem
Rasgando meu coração,
Pedindo pelo perdão,
Nas dores, amores agem...
Vou terminar meu incerto,
Concretizar o concreto,
Prometo ser mais discreto,
Amor pedindo meu veto...
Poeta, sempre poeto,
Sempre cometendo rima,
Amar vai trazendo estima,
Estimação de moleque,
Na vida piso no breque.
O resto vai a reboque...
Nas mãos, meu velho bodoque,
Vitrola tocando roque,
Dos versos, final de estoque.
Isso que já cometi,
Nesses versos sem sentido,
Foi porque eu me perdi,
Quando te vi, sem vestido.
Nua caminha na sala,
Embala os sonhos caminha,
A pele, traje de gala,
Que pena não seres minha!

Unção e cura.

Trabalhando numa equipe de PSF na região do Patrimônio da Penha, município de Divino de São Lourenço, no Espírito Santo, durante uma visita familiar me surpreendi com uma dura realidade:
Fui chamado para dar atendimento a uma família que teimava em não receber nem agentes de saúde, nem enfermeiros e, muito menos, médicos.
Ao tentar manter contato, fui recebido pelo “chefe” da família que, arredio ao contato, me informou que “naquela casa, médico não entrava”.
Perguntei o porquê e ele me disse que não teria condições de “comprar os remédios”, ao que repliquei que esses medicamentos não seriam comprados já que ele os tinha pago com os impostos que estavam embutidos nas mercadorias e serviços que utilizava no dia-a-dia.
Sem outros argumentos, me recepcionou e permitiu a minha entrada na pobre casa.
Num primeiro olhar, me deparei com uma realidade estranha; havia três mulheres mais jovens e uma senhora que aparentava uns cinqüenta anos.
Uma das moças, a mais velha provavelmente, apresentava-se com uma erisipela em estado avançado, formando uma úlcera no tornozelo, complicação comum da doença.
Ao, disfarçadamente, perguntar sobre as outras mulheres da casa, a matriarca me interrompeu afirmando que estavam todas boas, inclusive a doentinha.
Segundo ele, a perna da moça estava melhorando e “Deus a iria curar”.
Ao perguntar qual o medicamento que ela estava usando, a resposta veio ágil e firme:
-Água ungida!
Após essa afirmativa, me deparei com um rádio, daqueles antigos que têm ondas curtas, único eletrodoméstico da casa.
Ao conversar com meu auxiliar, fiquei sabendo da história.
Havia um pastor de uma dessas igrejas “de Deus” que, através do rádio, “ungia” a água colocada ao lado do aparelho.
Tal água, após a unção era aplicada sobre a perna da doente.
Obviamente a melhora não estava ocorrendo e a presença da febre alta e da queda de estado geral da moça demonstravam a piora do quadro.
Parei, pensei e tentei arquitetar uma forma de estimular o uso do medicamento.
Rapidamente, peguei um pedaço de sabão de coco, e uma caixa de antibióticos e analgésicos, além de um pacote de gaze e perguntei a que hora era o programa do tal pastor.
Ao ser informado de que iria começar em minutos, pedi para ligar o rádio e, pacientemente, esperei a hora da transmissão do “programa milagroso”.
Solicitei a todos, inclusive ao meu auxiliar, que ouvisse o programa e orassem junto com o pastor, na tentativa de unção do pacote de medicamentos, gaze e sabão de coco.
Dito e feito, depois de “ungidos”, solicitei que, após a perna ser lavada com a água e sabão, fosse dado os medicamentos, todos devidamente ungidos.
A melhora da paciente foi evidente, com a cicatrização da ferida e a cura da erisipela.
A partir desse dia, cada vez que necessitam, transformo o tal pastor em meu maior aliado.
Sem o saber, agora ele está ungindo até vermífugo.

Lobo em pele de cordeiro

Uma das coisas que tem sido veiculada e aceita por uma boa parte das pessoas é a afirmativa de que o Governo Lula e o Governo FHC são parecidos.
Isso é uma mentira descabida, há diferenças estruturais e práticas evidentes.
Imaginemos um estabelecimento comercial, com a mesma estrutura em dois momentos diversos.
Num primeiro momento, o gerente deste estabelecimento vendeu quase todas as mercadorias a preço de banana, vendendo não somente as mercadorias, mas também os armários, móveis, escrivaninha, o padrão da energia, deixando o estabelecimento quase sem estrutura física.
Além disso, foi ao sistema bancário, pegou uma fortuna emprestado e, ao invés de diminuir o déficit da empresa, aumentou formidavelmente sua dívida.
E, finalmente, demitiu vários funcionários, criando uma situação insustentável.
Por outro lado, aparece um outro gerente que, às custas de economias, paga parte da dívida, não vende mais nada, e recomeça um ciclo de criação de empregos.
Qualquer comparação entre os dois gerentes nos dá uma óbvia idéia de diferenças administrativas, isso é claro e evidente.
As desculpas usadas, afirmando que houve um gigantesco desvio de verba do estabelecimento pelo segundo gerente permite duas avaliações:
1- ou o primeiro gerente foi extremamente guloso na expropriação dos bens do estabelecimento ou 2- foi de uma incapacidade administrativa sem precedentes ou os dois.
De qualquer forma, o que me impressiona é a tentativa de se tentar demonstrar que houve igualdade nas administrações.
Aliás, isso é muito comum, a tentativa de se tratar o povo como se esse fosse débil mental.
Não se pode esquecer nunca de que todo poder emana do povo, e em nome deste deve ser exercido.
Não falo que o Governo Lula tenha sido um primor, que não tenha me decepcionado e até me magoado com seus desacertos; mas querer comparar com o período FHC é demais.
Nunca na história recente deste país se viram tantas maracutaias e trambicagens quanto no período tucano/pefelista no governo.
E, não adianta tentar disfarçar, a candidatura de Alckmin e José Jorge não é nada mais nada menos do que a reedição desse período maldito da história brasileira.
O simples fato de se pensar no retorno do país a esses tempos tenebrosos é capaz de criar pesadelos em todos os que querem um país melhor.
A tentativa de se apresentar Alckmin de uma forma mais tragável e dissociado de FHC é como a utilização de uma máscara para tentar fazer pensar que é cordeiro o que tem rabo de lobo e uiva ao invés de berrar.
Não deixemos que isso aconteça, precisamos colocar essa corja no seu devido lugar, no esgoto da história.
Quem quer que ganhe as eleições, exceto esse pessoal que destruiu o país ou por incompetência ou por ladroagem, me dará o conforto de saber que posso deixar algo melhor para os que virão.
Pensem nisso antes de se deixarem levar pela carinha de bom moço ou a aparente “fragilidade” e “inocência” desse tal de Geraldo...

Tucanolândia 20 - vagabundo é o próprio mundo...

Vivíamos, na Tucanolândia de Dom Fernando Henrique Caudaloso, um dos momentos mais difíceis de sua História. Havia necessidade de se fazer uma reforma na Previdência Social, já que o povo tucanolandês, teimosamente, contra todas as previsões, passara a viver mais.
Paralelamente a isso, tínhamos um aspecto interessante e peculiar, coerente com o temperamento disseminado entre a população e , principalmente, entre os governantes: A sonegação.
Sonegação de um lado, aumento do tempo de vida do outro, o que tínhamos era um déficit cada vez maior, o que geraria, indubitavelmente uma quebra no sistema.
Don Fernando não tinha outra opção: tinha que fazer uma reforma o mais rápido possível.
Claro que, se melhorasse o sistema arrecadatório e passasse a punir com mais rigor os sonegadores, isso poderia ter sido resolvido de uma forma mais branda mas, isso seria querer demais do famoso Sociólogo e Monarca.
Pois bem, não havendo outra solução, Dom Fernando alterou as regras do jogo.
Um adendo se faz importante, Sábio e famoso Professor, Dom Fernando havia sido exilado à época da ditadura militar, e isso conferira a ele uma aposentadoria bem mais precoce do que a que estabelecia a nova lei.
Isso não importa, mas ao observar a reação da oposição e dos aposentados, Dom Fernando foi taxativo:
Quem aposenta antes da velhice é vagabundo!
A maioria dos professores e professoras, inclusive o próprio Rei se aposentavam antes de chegar à velhice, o que ocorria também com os profissionais de saúde e, pior, os presidentes todos, mesmo que tivessem tido somente alguns dias de mandato, se aposentavam com salário integral, os deputados se aposentavam e se aposentam com um tempo de “serviço” muito menor do que a maioria da população do reino.
A declaração, um verdadeiro ato falho do rei, demonstra o quanto que o inconsciente da elite tucanolandesa é claro.
A nobreza de caráter de um homem como FHC não permite que ele se aposente antes de morrer, os seus proventos são cumulativos, de professor, senador e presidente da república.
Para alegria do povo tucanolandês, ainda lúcido e coerente como sempre, Dom Fernando ainda tem participação ativa no tão amado reinado.
Foi um dos principais artífices da candidatura de Gerald Aidimim, que teve a sorte de aposentar antes da reforma da previdência, aos precoces e vagabundescos 42 anos de idade...

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Tucanolândia - Capítulo 19 - Não quero outra vida pescando no rio de Jereré


Como dissemos no capítulo anterior, a província de Saint Paul experimentava no governo de Dom Gerald Aidimin, aliado de Dom Fernando Henrique Caudaloso, uma queda importante no percentual de participação econômica no Reino; fruto da dobradinha tucana nos Governos do Reino e da Província.
Isso fez com que a gigantesca locomotiva, por questões de economia de energia, diminuísse a potência usada para carregar os vagões, ou seja, as outras províncias.
O crescimento cavalar que se anunciava ia rabo abaixo, formando uma bela cauda, como se fosse um cometa, às avessas.
Pois bem, paralelamente a isso, obviamente as oportunidades de trabalho diminuíram vertiginosamente, havendo em dez anos, um crescimento do desemprego em 33, 6 por cento, sendo que a taca de desemprego chegou a dezessete e meio por cento contra uma média de 10,9% do Reino.
Paralelamente a isso, Dom Gerald Aidimin reduziu o orçamento das frentes de trabalho em nove milhões.
Isso é uma demonstração da capacidade administrativa de Don Gerald Aidimin que, a continuar desta forma, prometendo repetir a nível federal o que fez com a província teremos um novo Reinado, a Desempregadolândia.
Aliás, já no reinado de Don Fernando Henrique Caudaloso, o desemprego aumentava em todo o reino, numa demonstração de que o real, realmente valia muito, já que o povo não queria nem precisava trabalhar, sendo que um biscatezinho aqui e outro acolá, bastavam para sustentar a família.
Se vocês não se recordam dos símbolos do plano real, escolhidos por Dom Fernando Henrique Caudaloso, vamos a eles:
Em primeiro lugar, o frango a um real, ou seja um dólar o quilo, embora hoje esteja a um real e meio, ou seja setenta e cinco centavos de dólar.
Depois, a dentadura, a que boa parte da população passava a poder ter acesso, desmentindo a música dos Titãs, que nos chamava de um país de banguelas.
Claro que hoje, a assistência odontológica mais ampla poderá minimizar esse grande feito de Dom Fernando, mas esse fato é histórico.

domingo, 23 de julho de 2006

Assombrações

Seu moço, tome cuidado
Ao caminhar no sertão,
Tem tanto bicho arretado,
Tem tanta da assombração
Que te peço, devagar,
Ande com muita atenção
Prá móde não encontrar,
Lobisomem ou papão.

Me contam, e eu acredito,
Que nas luas das mais cheias
Se você ouvir um grito
Lá pros lados de Candeias,
Pode sair de mansinho,
Que o negócio fica feio,
Vai vazando de fininho,
Senão, de ti, sobra meio...

Outra coisa que me falam,
Nisso tudo ponho fé,
Essas coisas me abalam
Tremo da cabeça ao pé,
Vento nas folhas da mata,
É coisa feia de vê,
De repente, a gente engata
Com o tal do Pererê.

Mas assombração pior
É a que vem da carabina,
Que vai matando sem dó,
Nada detém a assassina...
Pega a gente de tocaia,
A bala vem lá do céu,
Por todo canto que saia,
A mando do coronel.

Não adianta nem chorar,
Nem pedir por caridade,
Quando a ordem é de matar,
Nada impede essa verdade,
Não adianta floreio
Nem adianta fardunço
Quando a morte vem por meio
Desses cabra, dos jagunço.

Tanta gente já morreu,
Na luta por sua terra,
Pois que não seja mais eu,
Que o bom cabrito não berra,
Nessa luta desigual,
A gente vira bandido
Pro povo da capital,
Invertendo os ‘contecido.


Quando vejo no jornal,
Falar que nós tam’ errado
Fico passando até mal
Esse povo anda enganado.
Nós só queremos, Doutor,
Um bocadinho de chão,
Terra de Nosso Senhor,
Um pouco desse sertão.

De sangue foi adubado,
Nascendo revolução,
Pois se não dá outro arado,
Nem brota outra plantação,
Só queria ter decência
Uma vida mais humana
Venho pedindo clemência
Nós num somos safardana.

Somos gente mais sofrida
Em busca de solução,
Dignidade na vida,
Garantindo nosso chão,
Seu doutor, pois me desculpe
Eu não quero lhe irritar,
Mas, por favor não me culpe
É grande o nosso lutar.

Desde pequeno sofrido,
Sem esperança de vida,
Do nosso canto banido,
Nossa esperança perdida,
A bala roçando a nuca,
A fome comendo a pança,
A morte sempre cavuca,
Desde os tempo de criança.

Quando a gente vai, reclama
Nós somos os baderneiro
Mas a nossa velha chama,
Brilhando no candeeiro,
A tristeza que eu engulo,
Aqui nesse matagal,
Já inspirou seu Catulo,
Já iluminou seu Cabral.

O meu nome é Severino,
Sou das mata do nhambu,
Caminho desde menino,
Me chamam Jeca Tatu.
Tenho o Brasil no meu peito,
A esperança, companheira,
Ficaria satisfeito,
Alegria verdadeira,

Se vocês desse pra gente
Um restozinho de pão
Doutor pros nossos doente,
Pros filhos educação,
Prá plantar basta uma enxada,
Um pedacinho de chão,
A gente não quer mais nada,
Não quer dar amolação.

Prá lembrar pro povo crente,
Falo em nome dum judeu
Que curou tanto doente,
E que, na cruz, já morreu.
Pois bem esse carpinteiro,
Um pobre trabalhador,
Famoso no mundo inteiro,
Por disseminar amor,

Também vagava na terra,
Sem ter nenhum parador
Quando subia na serra,
Falava sem ter temor,
Os coronéis torturaram
Tinham medo da verdade,
E depois crucificaram,
Usando da crueldade.

Pois, se ele hoje voltasse
Pobre como sempre foi,
Eu duvido que escapasse
E, sangrado como um boi,
Pelos nossos coronéis,
Pelas bala e por navaia,
Amarrado pelos pés,
Vítima de uma tocaia...