terça-feira, 31 de outubro de 2006

Paranóia

Concebo frios versos sem sentido...
Esmerando-me, atroz, procuro cismas...
No mar que sem tormentas nunca abismas,
Olhar tenso, pretende estar perdido...
Houvesse tanta voz, vaso partido.
Meu mar sempre teria cataclismas,
Nos pântanos permeio convertido,
As vozes intercalam mil sofismas...
Nos pares e patentes, vou pendente,
Esquizofrenicamente desejo.
Clavículas quebradas, absorvente
Famélicas dentadas pedem beijo...
Não falo me consolo e nem versejo...
Se tento me detenho e vou doente...

Augustos Anjos

Todo caos, precedendo meus arranjos,
Me traz as esperanças do conserto.
Nas vozes, nos ouvidos, versos, banjos.
Orquestras desafinam meu concerto...
Os olhos minhas asas, velhos anjos,
Pressinto que não posso descoberto.
Os prazos e memórias, desarranjos.
O céu que se nublava vai coberto...
Augustos, vários anjos e pecados...
Ao gosto de fiel caricatura...
Agostos e setembros versos, fados...
Meus desejos espelham criatura.
Quem me dera, segredos finos, brados,
Nos augustos arcanjos, alma pura...

Tanto tempo

Tanto tempo procuro por paragens,
Onde encontre descanso sepulcral...
Depois das ancestrais, torpes viagens,
Buscando meus caminhos neste astral,
Meus rios e meus mares, ondas, margens,
Espreitam por penhascos... Espectral
Reflexo desvirtua tais aragens
Que vagaram deserto magistral...
Criança sepultada no meu peito,
Olores putrefatos exalados...
Meu próprio funeral será perfeito.
Das ondas emanadas esotéricas...
Mulheres que deixei, virão histéricas
Amores que não foram bem cuidados...

Meus olhos venalmente esfumaçados...

Meus olhos venalmente esfumaçados...
No quarto que decifro minhas lendas.
Febrilmente, revelo os embaçados
Amores que mortalhas sem ter prendas...
Não permitindo tempos disfarçados
Nem os templos que abrigam tais contendas.
Nossos braços, num mar, entrelaçados,
Bocas que nos cuspiram, nunca ofendas...
As febres delirantes paralíticas...
As rochas que tombamos, monolíticas,
Os medos tatuados nossas almas...
As mortes que vivemos por lazer
No fundo não nos trazem ermos traumas,
Deveras, confundimos com prazer...

Aurora terminando, a vida passa...

Aurora terminando, a vida passa...
A morte desafia e me persegue...
Quem fora caçador, se encontra caça,
Na fonte que se seca, vou entregue...
A vida se cansando, sangra, lassa...
Não haverá ninguém que me carregue,
Nos templos divinais, já se esfumaça
Qualquer que seja o sonho que se apegue...

Aurora derradeira, vislumbrada,
Não deixe meus retalhos no caminho...
A vida que passei, tão deslumbrada,
Sem lume vai secando meu jardim...
O tempo que tempera seca o vinho...
O mundo que remando, morre em mim...

Liberdade

Liberdade, sangrenta podridão,
Qual sarnenta cadela mata a cria...
Resvalando em demência e solidão
Naufragando oceanos, fantasia...

Liberdade baseia escravidão,
É morte que delira-se na orgia,
Penetrante, profundo vergalhão,
É noite que invernosa, finge estia...

A Morte, companheira libertária,
Galgando seus cadáveres e lamas,
Sempre a te procurar, totalitária...

Liberdade teu nojo glorifica
Pedes carnificinas, cortes, chamas,
Mas somente teu canto santifica!

As negras gralhas, resolutas pragas...

As negras gralhas, resolutas pragas...
Agourentas tempestas e mordazes...
As noites vagueando, tornam vagas...
Os mantos que devoram, finas gazes,
Não posso percorrer luares, plagas,
As vastas cordilheiras incapazes
As gralhas verdadeiras nunca afagas,
São corvos que crocitam mais audazes...

Mortalhas que me vestes, negra gralha,
Defiro meus rancores e meus versos...
A cama que me deste, vil canalha,
Cosida com meus nervos e tendões...
Busquei a liberdade, tons diversos,
Cuspiste ferozmente corações...

Nas minhas celeradas despedidas,

Nas minhas celeradas despedidas,
Em meio a tantas formas já se esgarça...
As portas destroçadas, destruídas...
Lágrima descritiva olhar esparsa.
Nos epitáfios trazem torpes vidas,
A carpideira sorte não disfarça.
Meus restos perambulam avenidas...
Quem fora delicada e mansa garça
Olhares sorrateiros, fés carpidas...
Viés tantas balanças quanto cardos...
Não pude discernir qual fora a fonte...
Os versos embalando velhos bardos,
O pranto se decifra em mãos algozes...
Não posso recuar: ouço tais vozes,
Os olhos vãos, perdidos, horizontes...

Tantas vidas perdidas

Tantas vidas perdidas, vãs, insanas...
Sou grato por poderes que me dás.
Nos medos que navegas e me explanas,
As rosas dos jardins que me darás...
Tumores meus, nefastos minhas ganas,
Mordaças que não podes, mas trarás...
Flutuas nos meus sonhos, nas campanas,
Nos jogos que pretendo ser teu ás...
Ganindo, o coração desfeito em brasa,
Vicias meus desejos, vagos sensos...
A cama que delito em tua casa...
Humílimo pretendo teu perdão...
Amores que iogados, teus incensos,
Vai da maternidade até caixão...

Nossa morte, reflete essa ventura.

Nossa morte, reflete essa ventura.
Esperanças desfeitas embrutecem..
Os braços esperando uma ternura,
Meus medos vagas teias, vidas tecem...
Amiga, não me espere noite escura,
Cabelos, bocas, olhos envelhecem...
Na noite que não somos, caradura,
Corações e memórias envilecem...
Assemelhas miasmas e delírios.
Nas gamas infindáveis de solvências.
A morte não denota meus martírios...
Os campos constelares sem sementes...
Nossa morte, envolvida em coincidências
Permuta-se esperanças de descrentes...

labirinto

Quantas vezes, procuro em vão, faminto;
Pelos campos, florestas e cascatas,
Nas estradas terrível labirinto...
A lua refletindo suas pratas
Vai, enorme, acendendo meu instinto...
Penetro vagamente pelas matas...
Mas, embalde, vasculho e nada sinto
Meu cavalo cansado, fere patas...
Vestido de esperanças já me canso...
Se neste labirinto, nada encontro...
Meus destinos, meus rumos, não alcanço...
Minha alma vai seguindo, alma às escuras...
Labirinto d’amores, desencontro...
Encontrarei caminho, nas alturas...

Esquartejado

Esquartejado, coração, maldito...
Escória do humanismo, vil demente...
Utópico, repete velho rito,
Amor que não propaga sempre mente...
Esquálido persigo, vou aflito,
Rastejo meus pecados, vil serpente,
Nos guizos das senzalas, o meu grito.
Nos solos destroçado, sou semente...
O monstro varizento da minha alma,
Devora esquartejando essa couraça;
No fundo sou prudente, peço calma,
Mas regozijarei cada segundo,
A vida destruindo a carapaça
Um verme passeando pelo mundo...

As musas

As musas sequiosas dos amores,
Procuram pelos faunos indecentes...
Nos lagos desnudadas, belas flores,
As ninfas se entrelaçam bocas, dentes...
Penetram tantas línguas sem pudores,
Meus olhos delirantes pois descrentes,
Misturam alaridos, gozos, cores
Percebo meus desejos mais dementes...

Quem dera se pudesse, sagitário,
Em meio a tantas bocas, seios, sexos...
Feneço neste bosque lampadário,
Espreito tais bacantes, plena orgia...
No lago refletindo tais reflexos,
Especular imagem da alegria...

Esperança

De que me valeria canto e lira
Se não pude saber de nossas luzes?
O manto que te cobre, feito em tiras,
Me pesa com poder de várias cruzes...

Meus gozos e festanças são mentiras,
Caminhos não prossigo, tantas urzes...
Por tanto que fizemos, não me firas.
Não restam meus desejos, teus obuses...

Mundo, é mister que sejas meu amigo
Não posso descobrir as armadilhas...
Quem dera se soubesse do perigo...

Espero calmamente meu sepulcro,
A vida traz delícias como em ilhas...
Esperança: alavanca, vida é fulcro...

Minha alma aprisionada

Minha alma aprisionada nos teus sonhos...
Vetusta e tão austera, morre encantos...
Os olhos que te miram, mais tristonhos
Servis, esperarão teus mansos cantos...

Os dias que passei, tão enfadonhos,
Decerto se tornaram belos, santos...
Matando pesadelos vis, medonhos...
Num átimo, se tornam acalantos...

Para amores, sonhares, fabulosos...
Minha alma aprisionada em teus desejos!
Perfumes delicados, olorosos,

Navego nos teus braços sem ter medo...
Minha alma procurando por teus beijos
Descobre, desta vida, seu segredo...

maldições

Mãe, sorrateiramente, maldições
Maldiçoas caminhos me amofinas...
Não vieram de ti, bem sei, senões,
Mas as pernas que me deste, vãs, finas,

Não podem resistir às solidões,
Nem podem libertárias, libertinas,
Não vivem sem celeumas nem perdões.
São vagas, minhas almas lamparinas...

Ignota, imbecil ou ser venal.
Vazio estapafúrdio, quase zero...
Meu mundo que não pude nada quero,

Resumo num recorte de jornal.
Não sirvo nem talvez de calendário...
Quem sabe encontrarás no obituário?

Lancei ao fogaréu toscos desejos,

Lancei ao fogaréu toscos desejos,
Carcaças e caraças, velhas cismas...
Os olhos chocalhando seus lampejos.
Nos medos carregando torpes prismas...
Pergaminhada pele segue em pejos;
Mergulho no oceano que me abismas.
Me rompem madrigais e cacarejos
Distantes as palavras, servem crismas...

Meus ossos esfalecem mesmo em vida,
Destroços que falecem pouco a pouco...
Restando meus segundos de partida.
O mundo me relega a vil carcaça...
Semeio tempestades, corro louco,
Devoro tantos raios nesta praça...

A morte

A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!

Lambias, sorrateiro

Lambias, sorrateiro, todo o chão,
Venenos e vermífugos, verdugos.
Tão servil, adubavas o porão
Comias as espigas e sabugos.
Amores que vivera, lassidão...
Fermentos e fecálicos expurgos,
O cheiro das entranhas, podridão!
Serpenteando ruas, valas, burgos...
A noite em suas plêiades luzentes,
Trazia uma esperança de melhora.
Os braços dos canalhas envolventes,
Os vermes das vermelhas carnes podres...
Vivendo nos barracos toldos, odres...
A morte se prepara, santa, aflora...

Descoradas roseiras

Descoradas roseiras, vã procura...
As trevas negrejando toda luz...
Não posso completar a noite escura,
O campo da discórdia serve a cruz...

Nossa bandeiras vestes da candura,
Nesse momento audaz, clamam Jesus.
O rumo dos remendos da ternura,
Não vencem nas estradas cada pus...

Mentiras e verdades são dolentes,
São plenas dos repastos dos demônios...
Nascemos navegando sim, mecônios...

Morremos nossos ares nos pulmões.
Os gestos mais noturnos, indecentes,
Soturnos, vasculhamos os porões...

Amor cuticular

Amor cuticular, guerrilha e gládio...
Esfomeado, come a própria amante,
Devora não deixando nem estádio,
É força que não cansa, delirante...
Temores desse amor:lítio, vanádio,
Verborragicamente está diante
Do que demonstrará notícia e rádio.
Me jogará ao chão: forte bastante...
Amor cuticular, estranhas unhas...
Coração decoravas com venenos...
Os medos e os saldos são pequenos,
Tacanhos os lugares onde punhas
Os barcos naufragados nos serenos...
As luas e os vermes, testemunhas...

subterrâneos d’alma

Nos subterrâneos d’alma vivo cético
Não creio nos miasmas nem nas almas...
Na vida tal qual morte, um verter ético
Não podem transfundir lamas nem calmas...

Entretanto sentidos mais estéticos
Me permitem sorver meus velhos traumas,
Trazendo meus fantasmas epilépticos.
Revejo nos escombros ratos, palmas...

Nas convulsões terrestres, pessoais,
Nos olhos explodidos nos orgasmos
As sombras dos desejos canibais,

Os vermes que passeiam nossas bocas,
Seus ovos, suas larvas, restam pasmos:
Estômagos, esôfagos são tocas...

Inexoravelmente voltarás!

Inexoravelmente voltarás!
O tempo me deforma e te conquista.
Nada mais do que fomos restará,
A não ser tempestade que resista
Por entre tamarindos, ananás
Vergonhas de deixar a menor pista...
Leio nos teus jornais tempos atrás,
Que de mim nada mais nem sombra e vista...
Os meus segredos frágeis, necrofágicos,
Formam um mausoléu que já cultuas...
Os olhos demarcando são pelágicos,
Os tempos se trafegam necrológicos.
As formas que deformas, carnes cruas.
No coquetel vermelho, tons ilógicos...

podres testemunhas

Que fazer senão podres testemunhas
Sequiosas sorvendo cada gota?
As noites tenebrosas que compunhas,
Aspergindo teus cancros, viva, rota...
O cérebro e meus olhos, decompunhas,
Cada qual removido cota a cota;
As tuas mãos ferinas sim, expunhas
Do meu crânio, ossos, tecas, calota...
Emulsificar todos elementos!
Transformar tudo em pasta digerível...
Os óleos, tuas presas, meus tormentos...
Amar quem me destrói, é fato incrível.
Mas do que poderão meus pensamentos:
Renovação? Fator indiscutível!

Ladravas

Ladravas pelas noites, solitário...
Nas guias agonias e canções.
O medo me acompanha, é tão sectário,
Nos versos universos e verões...

Amor que te protege, mais notário,
Não permite mentiras nem versões...
Nas dores e nos prantos, solidário.
Temores e maus tratos, seus perdões...

Lambias minhas mãos, tão carinhoso,
Vibravas com meus feitos, minha glória.
O tempo te trazia venturoso.

Amigo que não nega todo amparo...
Por vezes da tristeza sentes faro,
E mudas, sem querer, meu rumo e história...

símicos

Tanta vida caminha minha vida,
Nas entranhas bactérias, vírus, vermes...
Verdades e mentira vã, curtida
Com gosto e paladar, seres inermes...

Carrego metagêneses bisonhas;
Vestígios braquiais, formas vorazes.
Espécies diferentes, vis,medonhas,
Cravam intestinais lanças audazes...

Meu sangue coagulam, bebem, lavam.
Na boca decompõem ácidos láticos.
Nos beijos e mordidas mais enfáticos...

Fermentam seus venenos e me cravam
De toscos resultados vivos, químicos...
Meus órgãos membros, tolos, símicos...

espécie canibal

Os homens e mulheres ancestrais,
Caminham pelos cérebros remotos...
Seus nomes espelhados nos varais,
Os portos que viveram sequer fotos...

Ondeio não odeio nem sei mais,
Já não repetirão perpétuos motos
Os homens verbalizam animais
Nos olhos rebeldia e terremotos...

Mercenários, guerreiros e tacapes,
Nas guerrilhas vivendo seus escapes,
Escalpes e merendas sangue e sal...

Os lobos e raposas sobressaltam
Fome e voracidade sempre assaltam,
Os olhos desta espécie canibal...

A morte, p’ra quem vive, é sempre o preço!

Dos filhos que geraste mais vorazes,
As larvas, os insetos, as serpentes...
Nas bocas e peçonhas não te aprazes,
Os olhos, as mandíbulas, vertentes...

Demonstram toda força, são audazes,
Nos mundos variáveis oponentes
Traduzem mais banais os mais tenazes
As fomes deflagradas, vermes, dentes...

Os falsos mergulhões temem segredos,
Invadem superfícies sedentos...
As patas tremulantes, ânsias, medos...

Não temo se não sinto ou se conheço...
Reflexos medulares, mortos, lentos...
A morte, p’ra quem vive, é sempre o preço!

A noite dos amores

A noite dos amores, densa e bruta,
Não permite perfumes nem de rosas
Amar, renunciar à tensa luta,
Não posso receber as mãos nervosas

Nem templos esculpidos nesta gruta,
Coração, responsável por sedosas
Ilusões... Quem me dera a nova escuta
Trouxesse esses meus sonhos, lendas, prosas...

Amor que não perdoa me constrange,
Não deixa essa pobre alma libertária.
Amor nas nossas guerras, qual falange;

Nos pícaros febris, mais alto encerra...
Noite que não permite luminária,
Estrela apaixonada pela Terra...

domingo, 29 de outubro de 2006

A esperança se renova

A vitória de um cidadão vindo das camadas sociais mais exploradas do
país, com experiências de vida ligadas à miséria e fome no seco
interior nordestino e depois na periferia dos grandes centros, quando
migrou para o "Sul Maravilha", nas eleições para a Presidência da
República de um dos países mais ricos do mundo, líder de um bloco
econômico importante como a América Latina, já surpreendia o mundo em
2002.
O interessante disto tudo é que, esse cidadão de origens humildes e
proletárias passou a ser visto como referência de bom senso e de
capacidade extrema de conciliação e de diálogo, sendo respeitado por
líderes tanto de primeiro quanto de enésimo mundo.
Visto sob uma ótica errônea, era tido como um radical inflexível e um
ignaro, incapaz, algo que beirava ao esdrúxulo.
Esta visão foi logo substituída por outra, a de um líder nato e, coisa
rara, com experiência de vida num dos países mais injustos do planeta,
mesmo sendo um dos mais ricos.
A vítima do coronelismo impregnado no Nordeste e, a posteriori, das
oligarquias econômicas do Sudeste rico e injusto, passou, com
conhecimento de causa, a ser observada com uma ótica diferente.
Todo líder é amado e odiado na mesma e antagônica medida.
Com Lula não é diferente. Ele é amado e respeitado e odiado e visto
com despeito por vários outros.
Há uma coisa que concordo plenamente, Lula tem trinta por cento de
votos sob QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA da mesma forma que é rejeitado por
outros tantos por cento.
Isso, da mesma forma que ocorre com Lula, ocorre com qualquer outro líder.
Entre esses extremos, temos os quarenta por cento que aprovam ou
desaprovam de forma mais independente.
Foram estes que o elegeram há quatro anos e o reelegeram agora, em 2006.
Não foi fácil, aliás, foi extremamente difícil e somente o fato da
idoneidade moral e a capacidade de liderança deste líder foram capazes
de dar sustentação ao homem, principalmente ao homem, acima de
qualquer figura partidária ou ideológica.
A pressão exercida pelos trinta por cento de anti-Lula, apoiados por
uma imprensa burguesa e, muitas vezes, odiosa, ultrapassou os limites
do bom senso e da serenidade.
Somente a força de um líder inconteste poderia fazer com que este
suportasse, quase que isolado, esta pressão.
Em um dado momento, Lula estando só, voltou seus olhos para quem o
elegeu e para o sentimento que moveu este povo à sua direção: A esperança.
Ela mesma, distante tantas vezes do coração deste povo sofrido e
massacrado mas que, diante das medidas vistas como populistas, mas de
cunho Popular em sua base, sobreviveu e se transformou paulatinamente
numa realidade que esboça um retrato de Brasil melhor.
Os erros cometidos por neófitos despreparados para o poder, demonstram
que um partido de homens, feitos por homens não é uma instituição
sacra e acima do bem e do mal.
O PT, nas suas origens era formado por muitos sonhadores e poucos ou
quase nenhum oportunistas.
Havia uma brincadeira que dizia que o PT tinha muito louco mas poucos
ladrões.
Com o inchamento necessário para se tornar competitivo, o partido
aceitou várias pessoas sem olhar passado, presente ou ideologia,
abrindo as portas para muitos oportunistas.
O duro não é a formação de um caixa dois, mas sim a aceitação
sistemática de alguns políticos de sua prática, dando razão a uma
parte dos trinta por cento que não aceitavam Lula.
É óbvio que ficou aquele aspecto da prostituta falando da ex-virgem
que posava de vestal.
Mas o PT não tinha o direito de fazer isso, todos menos o PT.
Na sua mea culpa e autoflagelação à Opus Dei, o PT se isolou de Lula
e, ao contrário de quem pensa que o protegeu, o abandonou.
Houve um momento em que Lula condecorou o inepto e inexistente
Severino Mensalinho...
Isso não passava de um sintoma da solidão a que foi legado pelos
autofágicos petistas.
Porém, com a força do líder e seu amadurecimento tanto quanto homem
quanto político, Lula se reergueu das cinzas e passou a dominar
totalmente o cenário político nacional.
E fez isso contra todos e contra tudo.
Quase às vésperas da eleição, outra vez o partido apronta mais uma
lambança. E coloca em risco, novamente, a reeleição de Lula.
Outra vez, o líder ressurge e carrega vigorosamente todos os seus
aliados e devasta os oponentes. Devastação absoluta pois ao repetir a
votação da primeira eleição demonstra que a ESPERANÇA NÃO FOI FRUSTRADA.
Agora, no segundo mandato, já devidamente vacinado e fortalecido,
passará a ter uma atuação mais independente e, obviamente mais libertária.
O fato de ser um democrata afasta qualquer tentativa de mudança de
regras eleitorais, a não ser o provável final da reeleição, cujo
advento custou ao país muito mais do que possamos imaginar.
Provavelmente nos tenha custado bens importantíssimos como a CSN, a
Vale etc...
Mas isso é passado e temos que olhar para a frente, para o brilho de
uma estrela no final desta estrada, não somente uma estrela vermelha
mas muito mais que isso, uma estrela multicor e com os brilhos dos
olhos do povo faminto e da criança que espera e anseia por um futuro
de glória.
Uma estrela auriverde, que a "brisa do Brasil beija e balança"... Uma
estrela com cheiro de esperança!

Azia

A cabeça rodando: que cerveja!
Nesses botequins, tanta verdade!
Aquele que não sabe se deseja,
Um Cristo provocando a liberdade!
Se não vejo e não creio, pois que seja!
Nas mesas deste bar, tranqüilidade
Misturada aos destilos da saudade...
Aquele que não sabe nunca almeja!

Mas, se vi tua sombra desfilando
A nudez que jamais foi primazia.
Os meus olhos vermelhos procurando...
Nos traçados, os passos cambaleio,
Unicamente espero por teu seio!
No fim da noite, resta-me esta azia!

Desculpe se não creio em teu narciso,

Desculpe se não creio em teu narciso,
Espelhas os defeitos e mentiras...
A cor desses acordos não preciso,
As sedas desfarei todas em tiras...
Por vezes mais sincero e tão conciso,
No campo das estrelas não atiras.
Nas verves e nas lavras perco o siso.
Esqueço dessas musas e das liras...

Deliro nos meus cantos? Falsidade...
Meus versos imprecisos e falsários...
Vendetas e conchavos: claridade?
Não sei se me pressinto ou desfaleço.
No mundo dos poemas, meus armários...
Não falos dos amores: não mereço!

Silenciosamente a vida neva.

Silenciosamente a vida neva.
Rasgo todas as cartas que mandaste!
Não sigo hierarquia, sou teu traste...
Nos pálios e palácios, sorte leva...
Nada para esconder, nem desbaste.
O ramo destas guias já me entreva
O tempo que passei e me enganaste
Morte me levará, próxima leva...

Que se danem meus guias e gurus!
Bailo sobre esses mantras, seus incensos...
Nos nirvanismos, farsas, andam nus
Meus dedos não bifurcam nem me calam.
Os olhos que devoro são imensos.
Nas mágicas que fazes, já se estalam...

Torpes trevas, penumbras e calvários.

Torpes trevas, penumbras e calvários.
Meus miasmas sensíveis e enfadonhos,
Se quedam insolúveis, motes vários.
Nas varizes dessa alma: tramas, sonhos...
Nas derivas das rias; estuários.
Cálices de vinhoto são medonhos,
Nos charcos e nos pântanos, sudários...
Meus amores fanaram-se, tristonhos...

Involuo, termino quase feto.
Não vasculho verdades nem compêndios.
Reverso sou descrente me repleto...
Desorganizo formas e remédios,
Não debelo revólver nem incêndios.
As trevas tenebrosas seguem, tédios...

Ó lua plena, amiga e companheira!

Ó lua plena, amiga e companheira!
Na plenitude orgástica do céu,
No lampadário belo vens inteira
Qual fosse a primaz deste bordel.

Fantástica expressão mais verdadeira
Do medo e da beleza fel e mel.
Da vida que passei, lua primeira,
És trama e contração vivo dossel...

Envolta inspiração deste cometa,
Que em volta de teus brilhos, navegante...
Decifras os meus mantras, és poeta,

Meu plenilúnio! Tuas tramas, trilhas,
Dominas todo espaço, delirante,
As loucas, as amantes, tuas filhas!

Nas catedrais fantásticas que levo,

Nas catedrais fantásticas que levo,
Os templos dos amores esquecidos...
Sofrimentos terríveis que relevo,
Os tempos dos pretéritos, olvidos...
Nas ogivas dos templos, meu enlevo,
Nas memórias saudosas, tempos idos.
Sempre que estou vazio, quase elevo
Meus olhos para os altos reunidos...

Neles, os meus amores se concentram
Na súcia das tristezas e das trevas.
Os medos, as vergonhas lá se adentram
Brandindo as multidões dos meus fantasmas...
Nas catedrais esfrias, gelas, nevas,
Congelas meus rancores, mil miasmas...

A vida se demonstra em verde mata,

A vida se demonstra em verde mata,
Nessa luta incessante contra a morte.
Que venha no machado que maltrata,
Na serra que derruba, triste corte...
As árvores, amigo que desmata,
Gigantes ou miúdas no seu porte.
Espíritos que mata e desacata,
Produzem a vingança tensa e forte...

Nos golpes que dizimam a floresta,
Moto serras, machados e queimadas.
Em pouco tempo nada mais resta...
Revoltas da natura são terríveis
Os ventos e as águas revoltadas,
Da natureza, forças invencíveis!

Se quando meu olhar, parado, vidra

Se quando meu olhar, parado, vidra
Na busca de teus olhos que me cegam...
Embriagado, tonto, desta cidra,
Meus pensamentos soltos, te navegam...
Procuro nos quintais, faminto, féculas,
Embalde não deixaste nem sinal...
Amando-te com todas as moléculas,
Espero por teu beijo, canibal...

Desejos me tornaram demoníaco,
Expresso essas vontades e delitos...
À beira do prazer, afrodisíaco
Encontro em teu carinho, em tua pele...
À margem do que sofro, meus conflitos,
A boca que deliro, me repele...

Meu sonho se tornando o derradeiro...

Meu sonho se tornando o derradeiro...
A morte me permite essa oração.
Entrego-me em teus braços, sou cordeiro,
No sacrifício louco da paixão...
Um verme que campeia sorrateiro,
Omite-me palavras de perdão.
Talvez eu não mereça o verdadeiro
Sentido da palavra compaixão...

A solidão constela minha sorte,
Nas amplitudes todas, sou fracasso...
A boca que me oscula, fria morte,
Encobre e vai nublando tudo em volta...
Amor que já perdi, meu embaraço,
A dor dessa saudade me revolta!

Não sei se ter terei depois do baile,

Não sei se ter terei depois do baile,
Nas brumas e nas plumas, falsidade...
As cartas que me mandas, não sei braile,
No fundo não me queres de verdade...
Teus mares e manteigas são meu tédio.
Exportas mesquinhez com fino trato...
Veneno em leves doses é remédio.
Cuspiste sem saber, no próprio prato...

Agora essas manhãs entardeceram,
Não posso sempre estar, de fato, alerta...
As luas que mentimos, se perderam,
Os versos que te faço são mixórdia...
O pomo da verdade e da discórdia,
Naufraga na mentira desoberta...

Vestida de inocência

Vestida de inocência caminhavas...
Teus passos me guiaram para o sol.
Noturnas serenatas enluavas,
Te via como forma de farol...

Bem cedo, nas auroras, madrugavas;
Estrelas que iluminam meu paiol.
Ladrilhos de brilhante tu passavas,
Meus olhos te seguiam, girassol...

Vestida com beleza fina e rara,
Não pude disfarçar, tudo o que sinto...
Das vezes que te vi, pérola cara,

Valeu por toda a vida que sonhei...
Aquarelas gentis, tonto, te pinto.
Um arco íris uso como spray...

Com sangue e com suor

Não sei se poderei fazer meus versos,
Com sangue e com suor de minha amada...
Os campos que passei, meus universos,
Relembram minha vida tão cansada...

Meus dias vão passando, são dispersos,
A noite das promessas, enlutada,
Sentimentos gentis seguem reversos,
Das lutas que travamos, resta um nada...

Não sei se meu tormento é teu prazer,
Nem sei se vou gozar com tuas dores...
No fundo magoamos cada ser

Que surge nos caminhos que passamos...
Falar assim tão mal desses amores,
É forma de mostrar que nos amamos!

doce fera

Amores são tão raros quais bromélias
São poucas as floragens, mas viçosas...
Na durabilidade das camélias,
No fresco aroma, lembro-me de rosas...

Nos brilhos e belezas que te espelhas,
Encontro essas canções voluptuosas.
Nas dores que me trazes, tristes, velhas,
As noites-pesadelos, horrorosas...

Amor que traz beleza duma orquídea
Ao mesmo tempo dói, e me envenena...
No bote que prepara a dor ofídia,

Tantas vezes solidão, minha quimera...
Mesmo com suas tramas vale a pena,
Enfim, domesticar a doce fera!

Criança que brincava

Criança que brincava, fundo corte.
As mãos tão carinhosas, pois maternas.
Num tempo que me achava, fosse forte,
Nas horas que passei, serenas, ternas...
Passados tantos dias, vejo a morte
Espero as ilusões, vidas eternas...
Não creio que ninguém vivo se importe,
As dores das lembranças que me infernas...

Chegando na metade do caminho,
O resto desta estrada é só descida...
Inverno que maltrata passarinho,
Cabelos, rugas, marcas não me deixam...
Epílogo fatal do que foi vida,
Meus olhos embaçados não se queixam...

Meu cigarro esparrama-se em fumaça

Meu cigarro esparrama-se em fumaça,
Como o sonho que tive e não tem jeito...
Dançávamos felizes, plena praça.
Floriam os jardins, amor perfeito...

O tempo traiçoeiro, sempre passa,
Sozinho vou dormir, imenso leito.
Nos bares me embriago, rum, cachaça,
Nas curvas da saudade é que te espreito...

Cigarro companheiro; não te largo,
Embora no final me trairás...
O gosto: doce beijo hoje é amargo.

Calado me esfumaço pela vida...
Nas horas mais difíceis peço paz.
Espero, sem sinal, a despedida!

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

As minhas asas

As minhas asas pedem novo vôo
Eu mal suporto a ira do ignaro.
Não posso te dizer se não perdôo
O podre destroçando todo o faro.

O resto dos escombros denuncia
A morte feita em vida não protege
Nas horas que vivia apodrecia
No fundo não passava dum herege...

Talvez a podridão seja desculpa
De quem, em vida, nunca teve alento.
O medo de sonhar foi tua culpa

Resumo-te no esgoto que não trago.
De tudo que viveu, só sofrimento.
A morte então seria, teu afago...

Meus sonhos

Meus sonhos verticais exigem patas
Seu manto não me serve de agasalho.
Um barco embriagado, feito em latas,
Arromba totalmente esse assoalho.

As dores são geradas em cascatas,
Não servem de tortura e nem de malho.
O dolo que sem medo me arrematas.
É pedra que rolando vai cascalho...

Nos pântanos oscilas és metano.
De restos decompostos tua lira.
Vendeta que não serve é só engano,

Amor que não revive pois indômito,
És cobra que rasteja e vil, delira,
No fundo inebriado, és como vômito!

Nos cascos do cavalo

Nos cascos do cavalo que montei,
As horas que passamos não têm preço.
Nas léguas que caminho, perco a lei
As crinas das meninas adereço.

O talhe de teu rosto que sonhei
Não posso descobrir, está do avesso...
Paixão que no deserto não deixei.
O dono do cavalo foi o rei...

Patrício de meus sonhos quer maneira
De mergulhar insano no passado.
Amante que não tive, é estrangeira,

A tarde se desfaz nessa penumbra.
A morte que me deste, assim assado.
Na ponte das traíras se vislumbra...

Amor que me entregaste com estrambote enviesado

Amor que me entregaste foi mentira
Do mesmo jeito trouxe vê se tira...

Quando te encontrei julguei sereia.
Agora que conheço me despeço
Não quero carregar na minha veia
Tal amor que, por certo, não mereço.

Não quero me enredar na tua teia
Nem quero despencar pois sei tropeço
O fogo que te queima me incendeia
O monte de tal Vênus desconheço.

Nas linhas que concebo verticais
A mão que me pediste foi-se embora.
Os cantos que me contas são banais

O medo do destino me tortura.
Teu quadro, na parede, não decora.
É muito mais bonita essa moldura...

triste cardo

Na lama que freqüentas triste cardo,
Difícil carregar tamanha pedra
Não posso transformar um triste fado,
Que em doce juventude cedo medra,

Em rosa que se esquece dos espinhos
Não sabe nem conhece solidário
Prefere destruir os próprios ninhos.
Ao morrer levará sol solitário...

Vereda que destroça por inveja
Decerto na queimada, os inocentes,
Com medo das palavras que troveja

Não sabem decidir os próprios passos.
Os gritos de tal fera são dementes.
Na mão esconde garra atrás dos laços...

Rapinante

Vento que não espana tal mortalha
Não pode nem sequer ser mera brisa.
Se nem as cinzas víbora, espalha,
Não merece palavra mais concisa.

Quantas vezes pensei ser minha falha,
Mas, reparando bem, já se exorcisa
O que sempre estrumara nem se espalha
Figura que não brilha, pois narcisa...

Menestrel que mal sabe o que é afino
Não desce pedestal que mesmo cria.
O que morde por puro desatino.

É revés do sempre se sonhou.
Rapinante que sempre desafia,
Não mira o próprio espelho que quebrou...

fantasia-se de fera

Meu canto decantando tanto galho
Nos setembrinos cantos das cigarras
O campo de asteróides agasalho
Nos mares desconheço tais vis garras...

Meu mote feito em métrica que espalho
Tempera de venenos e alcaparras
Meu ato que julguei se fora falho
Não justifica medos, gambiarras...

Receba do cometa esta verdade
Mereces, por sinal, internação.
Quem traz um falso amor sem liberdade

Expõe a face negra da megera.
Não pede e nem merece mais perdão.
Aborto, fantasia-se de fera...

Alastras

Meu fado não afogo nem reflito
Mas penso que não peso se não vou.
No labirinto extinto solto o grito.
A rosa do que fui despetalou.

O medo de não ter meu infinito
Expresso nas verdades que não dou.
O mundo que vivemos é sempre hirto.
Nas pontes que passaste naufragou...

A cal que sendo cáustica claudica
No laço que me enlaço te enlacei.
A corda que não medes não se explica

Jazeste nas quimeras que me deste.
O mundo que desejo não tem rei.
Alastras como fosses uma peste...

Saudade sentinela

Saudade sentinela que não falha
Não deixa de fiar a sua teia.
A vida que passava se avacalha
A dor que nunca deixa minha veia..

O gosto mais feroz dessa batalha,
Espero traduzir nessa sereia.
A lua não me prende em sua malha,
Mesmo quando renasce lua cheia...

Boca que tanto cospe não me abriga,
O vento que passava não refresca.
Quem gosta de polêmica e de briga,

Se abriga nas palavras que não sente.
A flor de tal mentira gigantesca.
Morrendo cedo, já nasceu doente...

Esperança é areia movediça

Esperança é areia movediça
Infeliz de quem dança em suas cordas...
Muitas vezes parece que enfeitiça
A gente sem querer, treme nas bordas...

Quantas vezes me perco na cobiça
Outras tantas padeço noutras hordas.
Caniço que procura ser cortiça,
Nem percebes nas horas que me acordas...

Esperança moleca bem traquinas
Esbarrou e quebrou vaso chinês
Nas saias que levantas, desatinas.

No final aluguel no fim do mês.
Siderurgicamente sem bobinas,
Afinal, viciado sou freguês.

As vozes que hoje solto

Não comes poesia em teu almoço
Nas jantas que tu fazes, nada serve.
Não presta pra parar esse alvoroço.
Nem cobre e dá calor quando cai neve...

Quando azeitona comes, sou caroço.
A vida não se torna grande ou breve...
Não torna moço em velho e velho em moço.
Não muda tonelada em coisa leve...

Os pagamentos sempre bem parcos,
Sorrisos, xingamentos pés e grama.
Não serve para mastro nem pra barcos.

Muitas vezes reclamas dos meus versos.
A morte na verdade é de quem clama
As vozes que hoje solto, no universo!

Noites fantasmagóricas

Versificar palavras mais sonoras
Tornando essa cantiga secular
As horas que demoras, enamoras
As ondas que aprofundas do meu mar...

Nas ímpias madrugadas nada imploras
Nos cantos seus encantos vou cantar...
Em cântaros tempestas sempre choras
Valvaldo minhas mágoas ao luar...

Não posso ter medusa em pensamento,
Me basta ter sorvido teus afagos...
Nas barras onde esbarras, me arrebento

Os montes que subiste perdem cumes...
Naufrágios esfacelam tantos lagos...
Noites fantasmagóricas sem lumes...

Nas ondas do teu corpo, navegar...

Escrever simplesmente rebuscado
De forma que pareça mais solene.
Não posso permitir que meu estado,
Pensamentos perdidos, me condene...

Não vi nem quero ver o meu passado
Exposto em galeria que me apene.
Rarefeito sentido passa ao lado,
Não vou mais por caminho que envenene.

Espero por fantasmas trás da curva
Decerto vão trazer o teu aval.
Visão que titubeia fica turva

As algas poluindo o vasto mar...
Desejo que não temo, pois carnal.
Nas ondas do teu corpo, navegar...

Firulas

Deste firulas, as gulas e as fulas,
Fuás...
Cafusas confusas sem blusa, musas
Viés
Desejado gado, fado enfadonho, sonho
Convés
Leste o que teste reveste e conteste.
Ritos escritos benditos e aflitos
Graves e greves, neves que laves revés...
Fala me entala se cala sem gala e galés...
Ornamentos de estética
Métrica e método
Mentes e mentores...
Quero o simples,
A cúmplice
Cumprem-se e se revogam
As vogas e vogais dispersas
Persas tapetes...
E todas as prestações de contas
Serão suspensas.
Às expensas do que não tem sentido.
Tido com sem, cem centavos..
Naves e ravinas. Cravos e cravíneas
Carnificinas...

Improviso meu pedido

Improviso meu pedido
Meu sonido e desculpas...
As culpas foram deixadas
As asas, passarinhada.
Esfarinham minha sorte...
Não posso tentar meu rumo.
Assumo e me consumo
Sou sumo e não sumi...
Não toco e nem sou toco
Rouco...
Louco
É pouco a pouco
Meu foco e meu reboco...
Amo os temas
E as tremas.
Gemas e não mais claras
Faros e faraós.
Partos e parecidas.
Paciência...
Víspora de véspera é vespeiro...
Nada mais a dizer
Pego o meu boné
Para não perder o bonde
Da História...

Marinho

No vasto mar amar é onda
Abissal, abismal ventarola...
Remansos e tempestas
Festas Netunais...
Carnavais e montarias...
Sereia espera cavalo marinho...
Celacanto provoca tsunami.
Ame e não deixe, espere e reveja...
As águas as mágoas...
Mariazinha foi pro mar,
Cadê Mariazinha
Que não sabe amar?
Se não sei nadar
A culpa é dos peixinhos
Que marinheiro só
Nunca fez verão....

Fogão à lenha

Fumo e aço,
Filme e passado
Assado na cozinha
Tinha um cheiro
Beira de fogão...
Curva coração
Cura e me remete
Comete
Cometa
Que se perdeu...

Gado

A cidade adormecida
Aço penetrante
Fogo nas ladeiras
Estrangeiras
Estranhas fogueiras humanas...
À cavalo, malas e estradas.
Terra e barro.
Sertão e seca
Serão e gado
Servidão...
Andando pelos distritos
Cavalo selado...
Povo selado.
Gado...

Banda de Cá

Uma banda, banda
Umbanda,
Velho
Pai
Pele
Negritude...
Orixás
Ogum
Oxum
Oxumaré.
Mares e rios
Marés e sangue...
Senzalas...
Grito do povo, ode ao povo, de novo o povo, ovo, Angola...
Uma banda tocando dobrado,
Dobrando os sinos
Dobrado o valor,
Vales e lágrimas.
Lamas na alma.
Almas e lamas,
Quilombolas
Ora bolas
Somos iguais...
Gás, Bolívar,
Bolívia.
PetroGás.
Lama, alma, lhama...
Chama e chaminé
Suor e sangue, lágrimas, índios, imãs.
Grito do povo ode ao povo, de novo o povo, ovo... Renovo.
Revolvo e retorno.
Índio, negro,
SIMON BOLÍVAR
SIMON
SISMOS E PAROXISMOS
PARA ORTODOXOS.
Exodontias...

Flora

Nascerão espinhos
Pinos e incertezas...
Alcalóides e eucaliptos.
Naftas e resinas
Vinhoto.
Bagaços
Bagos
Sangue
Pus...

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Banco de Praça

A santa embriaguez já me domina,
Nos bares da cidade sem Maria...
Quem fora liberdade se alucina.
As horas se passando... Um novo dia!

Cachaças e vermutes, minha sina
É mergulhar demente. Na sangria,
Traçado destroçando desatina...
Não me resta sequer melancolia...

Meu mundo destruído e sem ter volta...
Os olhos fumegantes denunciam...
Os passos tremulantes vida solta,

Maria que se foi numa fumaça.
Reclames de jornais já me anunciam
O banco me convida, a mesma praça...

Filhos da Lua

Na madrugada loucos em desfile...
Um procurando bar, leva a certeza
Que por mais que sua alma destile
Nunca mais viverá vital beleza.

Mas, tresloucadamente verte bile
Atacando qualquer que seja a presa.
Outro pensando estar em pleno Chile,
Declamando Neruda sobe à mesa...

A noite festival dessas loucuras,
Premeditadamente manda a lua...
Um pastor prometendo santas curas.

Os olhos vão brilhando são fanáticos..
Os cães estão ladrando em plena rua...
A mãe lua observando esses lunáticos...

Bocas que beijei

Tantas velas velórios e varizes...
Minhas almas calejas com veneno...
Nos cisnes e cinzeiros infelizes
As plantas que planejas sangue pleno...

Crisântemos cismados, cruzes, crises...
Senos, hipotenusas e cosseno.
Perdas penetrantes são perdizes...
Amantes amaciantes sou ameno...

Vasilhas e mobílias já vazei.
Mastruz com fino leite misturei
Mas não me importará a procissão..

Remendos não resolvem meu fiasco.
No fundo não preciso de sermão.
A boca que me beija é do carrasco...

Em teu rosto vermelhas açucenas

Em teu rosto vermelhas açucenas,
Na verdade transmudam-se douradas...
Buscando formosura morrem plenas.
No brilho de teus olhos, madrugadas...

Nas barcas dos meus sonhos, tantas cenas
Me levam ao sabor das alvoradas.
Borboletas chegando: cem, centenas,
Repetem tuas mãos tão delicadas...

Traduzo meus amores em teu nome.
Trazendo tantas flores tua pele...
A fonte dos desejos me consome

Quem dera fosses minha, és tão formosa...
A teus braços, a vida sempre impele.
As urzes, os espinhos... Perco a rosa!

A natureza inteira em esplendores

A natureza inteira em esplendores
Abrindo os elementos no horizonte.
Repare na fineza destas flores
As águas percorrendo a calma fonte.

A lua nas montanhas, suas cores,
Aurora: madrugada-dia, ponte...
A tempestade louca dos amores,
A Serra do Curral, Belo Horizonte...

Estrelas passeando constelares...
Abismos, profundezas, vasto mar...
A natureza mãe, tantos lugares...

O brilho que encontrei na luz solar,
Merecem orações nesses altares.
E mais maravilhoso, teu olhar...

Quem me dera chegasse o belo dia

Quem me dera chegasse o belo dia
Em que pudéssemos lutar coesos
Contra toda opressão com galhardia.
Nos olhos que por certo estão acesos.

A mansidão vencendo a cobardia...
Amigos sonhadores não mais presos,
Nesta vasta amplidão, a fantasia...
Os dentes e as mentes sãos, ilesos...

Quem dera chegará a primavera,
Nos dedos dos poetas a verdade,
O corte de esperanças sempre impera.

Nos sonhos amansar a triste fera
O canto nos trazendo a claridade.
A vida retumbando a liberdade!

Liberdade: meu canto e minha agrura...

Liberdade: meu canto e minha agrura...
Meus sonhos procurando por altares,
Mergulho vastidão, perdendo altura,
Vasculho liberdade nos luares...

Quem crê nessa esperança não perjura
Espera enfim, galgar todos os lugares.
A liberdade é bela; uma pintura;
É fruta que precisa dos pomares

Estercados com sangue e com revolta.
Penetra e simplesmente exige cortes.
Cuidada com leveza, sua escolta

Tem de ser diariamente renovada.
Embora sedutora, traz as mortes...
A dor, nosso grilhão, vai estampada...

A dama imaginária

A dama imaginária que pretendo,
Dos sonhos que persigo, nunca vem...
Nos livros que pensei seguir relendo,
Os beijos que recebo, de ninguém!

A dama imaginária, fantasia...
Por mundos que navego, perco o bem,
Das noites tão silentes caço o dia,
Nas mãos que torturam, mais de cem...

Por vezes esquecido nas senzalas,
Oposto aos meus desejos, cais e porto...
Da dama imaginária, nada falas...

O medo que me assoma assombra a vida,
O tempo de lutar nunca mais morto...
A dama imaginária, vai perdida...

Nos canto das ingrenage

Nas istrada da sodade
Incontrei meu bem querê,
A vida trais crueldade,
Apercuro pur vancê
Nos canto das ingrenage
Nas bêra dessas viage...

Moça bunita dá jeito,
Num dêxa os óio chorá
Amor prá sê mai perfeito,
Num pode os óio alagá,
Eu perdi minhas bagage,
Nos canto das ingrenage...

Incomendei um vistido,
Prá moça linda vestí,
O meus amô é sufrido,
Das dô qui tanto vivi,
Rebentô essas barrage,
Nos canto das ingrenage...

Tantas noite que chorei,
As mágua num derum paiz,
Eu jamais esquecerei
Tanta dô a vida traiz,
Parece que é pilantrage,
Nos canto das ingrenage...

Maria me deu um bêjo,
A sodade machucô,
Minha vida é só desejo
De vortá pru meus amô,
Mas já fiz tanta bobage,
Nos canto das ingrenage...


Num tenho medo de nada,
Nem de cabra valentão,
Minha viola é espada
Nas noite do meu sertão,
Num suporto fardunçage
Nos canto das ingrenage...

Meus óio já tá cansado,
Destas coisa que inventáro,
Eu sô cabra bem casado,
Mai gosto deste açucaro,
Vivê nessas vadiage,
Nos canto das ingrenage...

Nos canto das ingrenage
Eu termino a cantoria,
Já falei munta bobage,
Vô pegá na muntaria...
Eu termino essa viage
Nos canto das ingrenage...

Abasta tê coração

Seu moço mi dê licença
Deu falá ansim procê.
Nóis avéve nas duença,
Nóis num prendeu a lê...
Nóis é tudo anarfabeto,
E nóis num qué sê esperto...

Eu sei vancê é dotô,
Hôme di sabedoria,
Nóis é tudo lavradô,
Nóis ganha tudo prú dia,
Mais nóis num sêmo ladrão,
Nóis tem munta inducação!

Vancê é hôme letrado,
Sabe falá dos ingreis,
Nóis é uns bicho acoitado,
Mai que már que a gente feiz?
Nóis tudo véve nos mato,
Na bêrada dos regato...

Nóis perciza se entendê,
Nóis é tudo brazilêro,
A gente perciza vivê
Im riba desse polêro,
Mai seu dotô arrespeito,
Nóis tem os mermo derêito...

O sinhô é um dotô,
Das hingiena bem sei,
Mai pru quê que ocê pensô
Qui pudia sê um rei?
Vancê num tem humirdade,
Pérciza tranquilidade,

Cada veiz que ocê parece
Vem falá que é um dotô,
Né disso que nóis carece,
Nóis perciza é de valô,
Os sertanejo trabáia
Carregano uma cangáia...

Os hôme da capitá,
De Sum Paulo, num percebe
Qui nóis mórre de trabaiá.
O dinhero qui nóis recebe
É que é bem poquim seu moço,
Dá mar e mar prus almoço.

Nóis num sêmo vagabundo,
Nóis sêmo é pobre dotô,
Nóis véve no memo mundo,
Nóis tudo é trabaiadô,
Vassuncê é que num sabe
Quantas dô num hôme cabe...

Vancê num teve seus fio,
Cumeno os resto dus boi,
Vancê num véve no estio,
Num sabe memo onde foi
Qui nasceu nosso Sinhô?
No mei dos trabaiadô!

Vancê num tem os dereito
Da inguinorança insurtá,
Se vancê qué sê eleito,
É mió ir istudá
Um pôco deste sertão,
Prá incontrá solução...


Vancê véve avoano,
Mai num pára prá zoiá,
As coisa tá miorano,
Mai vancê qué piorá.
Nóis tudo têmo esperança.
Num vem matá a criança...

Nóis pudia inté lhi ouvi,
Mais perciza de inducação,
Di cachorro prá lati,
Avéve cheio o sertão,
Tem um cabra na Bahia,
Qui inté onti inda latia...

Um coroné marvadeza,
Ixproradô da mizéra,
Um moço da realeza,
Latia pió que fera,
Apregunto pru dotô,
Pronde esse cabra vazô?

Nóis num perciza chibata,
Nóis num qué mais sê robádo
Dessa gente que martrata,
O pobre já tá cansado,
Nóis qué é sujeto amigo,
Prá num corrê mais perigo...

Do sangue da gente pobre,
Munta gente empaturrô,
Robáva até memo uns cobre
Munta gente inté matô,
Mais as coisa tá mudano,
Já cansamo desse engano...

Os coroné que restaro,
Tão do lado do dotô,
Nóis num é mais tão otáro,
Nosso pobrim acordô,
Nóis qué tê liberdade,
Percizamo dignidade.

Nóis sabêmo que vancê,
Amigo dos coroné,
Num consegue convencê
Nóis sabemo o que nóis qué,
É um Brazi mais cristão,
Onde nóis tudo é ermão!

Os nosso fio merece
Um Brazi munto mió,
Tanta dô que nos padece,
Vancê nunca têve dó...
Só fala das capitá,
Vancê qué nus enganá!

Me faláro qui o dotô
Gosta di riligião,
Parece num iscutô,
A voiz do seu coração.
Jesus Cristo nasceu pobre,
I foi vendido pruns cobre.

Cunhicia o traidô,
Mesmo ansim vancê num sabe
Qui Jesus o perduô,
Essas coisa é qui num cabe
Na cabeça de vancês,
Dispois do qui Juda feiz...

É qui o pobre seu dotô,
Num véve di falsidade,
Sabe munto dá valô
A verdadera amizade.
O erro é que é odiado,
E o amigo, perdoado...

Mai num vô falá mais não,
Nem ovi vancê num qué,
Mai vem cá pru meu sertão,
Vai miorá sua fé,
Isquece essa gente má,
Isquece dus coroné,
Vancê vai se adimirá
De vê cumo miorô,
Eu sei, vancê é dotô,
Mais perciza de lição,
Vem abri seu coração,
Sabê da gente mais pobre,
Qui véve de valentia,
O quanto qui uns poco cobre
Dá prá cumê pur uns dia...

Quando Jesus, no deserto,
Veno seu povo faminto,
Pegô uns pão i uns pêxe,
Póde crê qui eu num minto,
E falô pru povo dêxe
Qui nóis num vai mais morrê
Dispois di tudo vancê,
Num intendeu o recado,
Desse povo disgraçado,
Si juntô aos coroné,
Dexâno esse povo a pé,
Inda vem falá di fé?

O qui vancê num divia
É a pobreza insurtá
Nossa dô que se alivia,
Com vancê vai piorá,
As coisa das nossa terra,
As coisa desse Brazi,
As montanha e as serra,
Beleza que nunca vi,
Tanta amô mais verdadero,
Vendê prus cabra estrangero?
Vancê diz que vende não,
Mais qué vendê avião!
Dispois cumo acreditá
No qui vancê fô falá!
Se o prefêto da cidade
Quisé vendê otromóve,
Cum toda a tranquiladade,
Num vai sobrá um imóve...

Seu dotô, já vô imbora,
Tô cansado de falá,
Vê se prus cabra de fora
Finge sabê iscutá,
Vem cá pra minha tapera,
Passá uns dia de fome,
Vai vê qui a vida dum home,
É di trabáio i di fé,
O só isturricadô
Rezamo prá São José,
Nosso trabáio e valô,
Num depende mais da chuva,
Nem di seca ou di istiage
Memo que venha sauva,
Os coroné, pilantrage,
Nóis num morre mais de fome.
Arrespeite entonce o home
Qui nus deu essa vantage,
É um pobre nordestino,
E num é um dotô não,
Passô fome, foi minino,
Aprendeu iducação.
Ouça as palavra dotô,
Vai fazê um bem danado,
Aprenda a dá mais valô
Presse povo istrupiado,
Quem sabe vancê intenda,
Qui prá sê um bom cristão,
Nóis num percisa contenda,
Abasta tê coração!

Os olhos da menina

Falar destas noites passadas, em meio a tantas tempestades sem futuro, sem esperanças...
Vivíamos o pesadelo do não ter ou do que é pior, perder-se o que tem...
Não tínhamos sequer expectativas de mudanças, a noite parecia interminável e arrogantemente interminável...
De repente, uma luz acende no final do túnel, difícil e policrômica, mas uma luz.
No prisma passamos do breu noturno para a claridade do dia, mesmo que, como disse antes, difícil e rancorosa.
A menina dos olhos ou os olhos da menina, brilham e pedem por um novo dia, mais claro e mais iluminado.
Acontece que, a noite ameaça o retorno e, pior, um retorno tempestuoso e nublado. Os raios e relâmpagos anunciam a tempestade que poderá vir, para desespero da menina com os dentes apodrecidos e o sorriso esperançoso..
É meu dever, creio que de todos os que podem evitar que a nossa gente retorne aos dias sombrios deste inverno longo e doloroso.
A menina dos olhos e os olhos da menina agradecem o verde da esperança e o canto de alegria que vem do sertão...

domingo, 22 de outubro de 2006

Noite escaldante

Noite escaldante, noite das esperanças...
Cruas crianças vestem-se de danças,
As danças descalças insensatas...
Os medos e os ledos desejos, segredos e manhas...
Trazes as crases e as aspas, cruzes e vespas,
Urzes e brasas... Acesas brasas...
As asas e os pés cansados, atados e feridos.
Noites escaldantes, noite das lembranças
Das pujanças e das lanças, alças os velozes
E vilosos pés. Segregas e negas, afagas...
Nas terras distantes,
Crianças e gnomos.
Gomos de esperança...
Somos todos o nada,
Absortos e distintos,
Intestinais...
Versos e versões, imersões...
Noite escaldante...
Daqui para adiante,
Avante e diante de ti,
Os pés descalços, os percalços...
Somos o mesmo eco, o repeteco,
O esterco e o nascimento,
O cimento e a base,
Arquiteto divino.
Nada impede o tropeço.
O meu preço é o recomeço.
Meço meus medos por meus olhos
Lacrimejo meu desejo mais espúrio.
Cúrias e Mercúrios...
Deuses...
Reveses.
Cruzes
Luzes
Urzes.
Reverso
E medalha...

Teus dedos escorregam no piano...

Teus dedos escorregam no piano...
As sonatas que tocas, os noturnos...
Me levam ascendendo a novo plano,
Acalmam pensamentos mais soturnos...

Nos alegros, adágios, cançonetas,
Meus sentidos encantos e magias...
Vejo sóis, os luares e cometas,
Enternecendo a dor, as melodias...

Teus dedos prometendo tanta paz,
Abandonos, lembranças e promessas...
Meu mundo, das tristezas, se refaz...

Nos arranjos, os anjos me procuram...
As mágoas se reviram às avessas,
As dores que maltratam já se curam...

Estação Em parceria com Ledalge

Primavera trazendo flores,
Flores que me perfumam.
Primaveris amores...

Marcos

Estação E exalando perfume jasmim//
E me tornam escravo sem fim//
Sedução e explosão em mim


Ledalge

Meus erros

Meus erros, cometidos sem disfarce,
Muitas vezes omisso, outras venal...
Tantas vezes neguei dar outra face,
Outra face, vergonhas, carnaval..

Quantas vezes sonhei com luz que embace,
Quantas vezes desejo mais carnal
Impediu que esperanças eu traçasse,
Minha mão maltratando, um mau sinal...

Meus erros vis, canalhas e mortais,
Um reles cidadão perdendo o tino...
Meus beijos traiçoeiros, imorais...

Quantas vezes deixei de ser justiça,
Quantas noites vivi no desatino,
Meus olhos refletiram a cobiça!

Melancolia

Melancolia invade, toma tudo...
Tristeza do que fui e não sabia,
Nas janelas o vento... Fico mudo,
Esperando nascer um outro dia...

Em várias tempestades, sei, contudo,
Nada me sobrará, nem fantasia...
Nada me restará, nunca me iludo...
O que posso fazer? Melancolia...

Meus cigarros consumo sem descanso...
O câncer alimento das saudades...
O final desta farsa vem tão manso...

Os meus olhos cansados, sem remanso,
Não sabem distinguir nem claridades...
Morrer, morrer, prazer final, avanço...

Estela

Mais sangrante, essa adaga, minha amiga...
Consolo minhas perdas no seu fio,
Disfarço meus temores, tanto frio...
Ternura que esqueci, já tão antiga.

Em meio a tantas mágoas, vou vazio,
Você sabe de tudo mas nem liga,
Amor que já morreu, perdeu a liga,
O tempo que passei, procuro estio...

Mas somente invernosa madrugada
Açoita com seus ventos, a janela....
Não posso, nem serei, não sobrou nada...

A foto na parede não é dela,
A vida se esvaindo, tão cansada...
Amor que fora estrela morre Estela...

O grande lago

O grande lago; restos da saudade,
Que jamais se secara, já me aborta..
Não há senão resquício que me invade,
Trazendo corrimão, soleira e porta...

O meu lacustre sonho, quem o nade?
A mansidão feroz, a vida torta...
Meus beijos e carinhos, quem há de?
Um vento malicioso, o lago corta...

Meu mundo adormecido nessas margens,
Os trapos que me deste, já os rasgo...
O trâmite seguinte, suicídio!

Amor que me entregaste, sei clamídio,
O beijo que me deste, nele engasgo,
Meu grande lago, aborta essas viagens..

Boneca de Cera

Me lembro da visita que fizeste
À casa dos meus pais, era menino...
Do brilho alucinante que trouxeste,
Me parecia um sol, perdi meu tino..

O tempo foi passando e não vieste,
Um homem triste surge. É meu destino...
Viver passou a ser eterno teste,
Amor que imaginei, morre, assassino...

Me lembro da visita, a porta aberta...
O medo transportando uma saudade.
Saudade do que nunca acontecera.

A visita risonha, a vida incerta...
Uma boneca dorme lembra cera,
Escondida num canto da cidade...

A noite apascentando meus olhares

A noite apascentando meus olhares,
O cais se distancia da verdade...
Descubro liberdade nos palmares,
O rosto da tristeza na cidade...

Amores não me trazem novos ares,
No beijo que me rega, falsidade.
O mistério esbraveja nos meus mares,
No lago tão distante, da saudade...

A noite se transcorre tão silente,
Nos roncos e sibilos desses ventos...
O mundo, falseando a minha vida,

O canto da saudade é envolvente,
Me alaga de tempestas, sofrimentos,
Prepara a minha doce despedida...

Meu Canto

Meu canto necessita de disfarce,
A voz embotaria o coração...
Não posso oferecer senão a face,
Espero por teu beijo e bofetão!

Nas horas mais doridas se renasce
A vontade translúcida, perdão!
Não quero, nem talvez nunca cessasse
A luz que já me insufla, da amplidão...

Meu canto não distingue nem explica,
Somente degenera e não se expõe
Meu canto que jamais cala, adocica?

Escarra minhas dores, alivia...
Devagarzinho chega e decompõe
Não deixa nem retalhos, fantasia...

Brasil

Vivendo num palácio sem pudores,
As gralhas esquecidas sugam sangue.
Olhos esfomeados, lutos, dores...
O perfume emanado, lembra mangue,
A praça não cabendo esses atores.
Nas mãos estropiadas trazem flores...

O rosto macilento das crianças,
Suas mãos estendidas pedem pão...
Disfarçam pois não querem nem lembranças,
Companheiros dormindo o mesmo chão...
Adormecidas sobram esperanças,
Por sobre essas cabeças, setas, lanças...

As gralhas ao passar, tampam nariz,
O cheiro da miséria contagia.
Quem passa pela vida, um aprendiz,
Já sabe muito bem de tal sangria,
Mas outro que percebe e nada diz,
A vida representa ser feliz...

Nas mãos contaminadas pelo lixo,
Nos vermes devorando tudo, aos poucos...
Não são pessoas, quase lembram bicho,
Os olhos tresloucados, todos loucos...
O mundo se apresenta como um nicho,
Sua alma carregada, carrapicho...

A fome que parece hereditária,
Não deixa nem sequer pedir licença,
Nas mãos que se sangraram, alimária,
O crime parecendo recompensa...

Nas ruas um veneno,
Nos olhos sem segredo,
O mundo é bem pequeno
Viver é um degredo!!!

Onde estarás meu Pai? Que não vê isto!
Crianças vão pedindo por clemência!
Adiantou acaso mandar Cristo?
A fome não espera paciência!

Seus filhos esquecidos na sarjeta
A podridão devora tudo enfim,
Me mande tantos raios, seu cometa,
Rasgando, a tempestade dentro em mim...

Não posso concordar com tal vergonha,
A vida não merece essa desgraça..
O dedo na ferida, venha, ponha,
Não posso conceber tanta falácia!

O sangue já sem tinta desta gente,
Sua cama estendida no chão duro...
Amar é necessário e mais urgente...
Precisamos resgate, dar futuro...

Os olhos dessas gralhas canibais,
Não podem nem aceitam tal verdade,
Os homens sempre foram animais,
Escolhem, encobrindo tal maldade...

Meninos vão brincando nos esgotos...
As almas são lavadas pela merda...
Os risos traduzindo perdigotos,
O corte mais profundo tanta perda...

Depois de certo tempo, a mesma história.
As gralhas nunca deixam nem migalhas,
A cachaça embotando sem memória,
Maconha e cocaína, filhos gralhas...

Restando assim somente a podridão,
Cadáveres jogados nas chacinas...
Recendem no perfume, o coração,
Das gralhas, suas almas, fedentinas...

Onde estarás, meu Deus?
Por favor, eu te espero!
Secai os olhos meus!
O medo, desespero!

Essas gralhas são famintas,
Não perdoam nem centavos...
Desse sangue bebem tintas,
Açoitantes acham bravos,
As bravatas que proferem,
Esses vermes que a querem!

Nos seus carros importados,
Nos seus olhos protegidos,
Fingem nem olhar pros lados,
Nos seus sonhos corrompidos,
Nas viagens esperadas,
Nas suas portas fechadas...

No sorriso de deboche,
Na marca triste e profana,
Ouro carrega no broche,
Sonhos de riso e de grana,
Nas peles falsificadas,
Nas suas portas fechadas...

Na exploração do faminto,
Nos seus lucros infindáveis,
Nos porres do mesmo absinto,
No sangue dos miseráveis,
Nas orgias preparadas.
Nas suas portas fechadas...

Os meus olhos embaço e tento ver
Em meio a tanta dor, uma saída...
Minha felicidade sem porque,
Uma sombra acompanha a nossa vida...
Nos lixões da cidade, exposta a fome,
A alegria envergonha-se, vai, some...

Guardado no meu canto, minha cama,
O olhar dessa pobreza e da miséria,
Uma gralha empombada não reclama,
Cidade adormecida, finge séria...
Do outro lado da rua, na calçada,
Adormece a menina abandonada...

Uma sombra abraçando a tal menina,
Um sorriso feroz, vil ironia..
Num canto apavorante, que alucina,
A noite envergonhada, quieta e fria,
Na penumbra percebo o sombreado,
Desse bico a sorrir, ensangüentado...

A Praça

Quanto tempo não vamos para a praça!
Das noites que vivemos de tão belas,
Restaram só lembranças, só fumaça...
Amávamos sinceros sob estrelas...

Nada mais restou, a vida esparsa,
A lua e as estrelas que há delas?
Um riso melancólico disfarça...
Nos olhos iluminam outras velas...

Quanto tempo sem praças nem passeios...
Amávamos tranqüilos sem ter medo.
As mãos mais atrevidas buscam seios,

Bem baixinho, trocávamos segredo...
Os amores trocaram seus anseios
E agora, tristemente, dormem cedo...

Pensando em Ti

Pensando em ti, meu dia vai passando...
As horas não se contam sem te ter...
O tempo todo, em ti eu vou pensando,
Me explica então como poderei viver?

Me embriaga a saudade, me maltrata...
As sensações noturnas, pesadelos...
Enferrujando um coração de lata,
Minhas mãos no vazio... Teus cabelos

Distantes e longínquos, onde estás?
Pensando em ti, meu canto desafina,
Pretendo enfim saber se sou capaz

De conhecer as ilhas da saudade.
A chuva que cai; gota a gota, fina,
Dos olhos me diz não! Resta a ansiedade...

Os segredos contidos nessas mãos

Os segredos contidos nessas mãos
Que procuram delícias e carinhos...
Nos dias que perdemos, fomos vãos,
Um passarinho chora por seus ninhos...

Esperança traduzem nunca o não...
Os segredos que trazes, leva o mar...
No meu cais esquecido, coração...
Conjuga, taquicárdico, adorar...

Tua maciez, brilho e fantasia...
Necessito saber onde estará
A dona dessas mãos tão carinhosas..

A vida então, será u’a nau esguia,
Que nevoeiro algum, por certo irá
Naufragar-me. São mãos maravilhosas!

Albores

A manhã me trazendo seus albores
E seus raios solares... sensação
Da abelha fecundando essas flores,
Na eterna primavera... coração!

A manhã, companheira dos amores,
Refaz a nossa vida, é solução
Para os noturnos medos, seus horrores,
Abrindo a porta, fecha a solidão!

Há tanta coisa mais interessante
Que acompanha os solares raios, vida...
As libélulas, pássaros, as cores...

Nossa vida passando em um instante...
A tristeza anestésica, esquecida...
A manhã vem trazendo seus albores...

Naufrágio

Onde fui teu naufrágio peço ajuda.
No porto abandonado desatino...
A dor que te causei deixou-te muda,
O medo de sofrer fez peregrino

O coração servil... Vem e me acuda
Não posso permitir novo destino,
Novo mar, novo porto, a vida estuda...
Diante de teus olhos, eu me inclino.

Os limos, tantas cracas e corais,
Morrendo simplesmente não ancoro...
O sangue extravasando cada poro,

O medo de morrer, perder meu cais...
Meu barco naufragado, rompe a quilha...
Permita-me viver nesta tua ilha...

Cacos

Por esse tempo todo que passei,
Ao te rever, parece que foi ontem...
A mesma boca triste que fez lei,
Impede que as saudades se recontem...

A mão que tenebrosa, foi açoite,
O tempo que passamos, antes, juntos,
Refletem no espetáculo da noite...
Estávamos distantes, sem assuntos...

As minhas mãos, teimavam serem dela
Os olhos que mirei no camarote,
Ao fundo decorando triste tela,
Amor secando a fonte até que esgote...

O tempo irresponsável, fez cisão,
Uma parede atroz enfim se erguia...
O medo precipita a decisão,
No lago não concebe mais enguia...

Não posso desculpar-me, pois apenas
Uma saudade enorme, na porta entre...
Não vejo tempestades nem acenas,
Nos barcos que permitam que se adentre...

Desatam-se tão céleres os nós,
Não resta nem metade que fui eu.
Resume-se tristeza volta aos pós,
No fundo amor que mata, mereceu...

Nos medos que me deste e eu vivia,
O tempo amargurando nosso doce,
Não posso perceber maior valia,
Derrotas, acumulo... A noite trouxe...

Rever-te foi somente triste alento,
A noite da partida se confessa,
Saudades vão e voltam com o vento,
Os erros cometidos não dão pressa...

Amar demais passou a dar vertigem,
Um coração se agita nesta cela...
O medo conspurcando a falsa virgem,
O rosto transtornado da donzela...

Quem fora só metade quer o tanto,
Quem sabe da saudade, diz amor,
A noite espreitando nosso canto,
No resto desta história, desamor...

Não quero conceber que seja jogo,
O medo no teu rosto se revela...
Ardendo me derreto no seu fogo,
A noite se ilumina tua vela...

Nos olhos negros, luzes irradias,
Nos medos pardos, sangue que destilas,
Nos cantos alvos, cruzes que me guias,
Nos prados verdes, brilham-te, pupilas...

Tua partida deixa seus recados,
Destróis a vida, partes, tantos nacos..
Agora está valendo, rolam dados,
O que restará, junte aos meus cacos!

Vacuidade

Não pretendo saber da vacuidade
Ausência que transtorna uma viva alma,
Não tenho nem domino a faculdade
De saber do remanso, minha calma...

De meus passos sentindo essa saudade
Que me trouxe teus olhos, tua palma,
Amar é traduzir dificuldades,
É saber dessa vida, a crueldade...

Não pretendo mistérios nem segredos,
As águas correrão sempre pro mar...
Importa-me saber de toscos medos,

Se por mal divinal não sei amar?
O sangue me escorrendo pelos dedos,
A noite me esperando tanto bar...

Alma fechada

A minha alma fechada quer respiro,
O meu berço quebrado diz de farsas
Nos mundos que não vi, resta um papiro,
Charnecas tristes charcos, meus comparsas;

Na sombra que ilumina vou, atiro...
Não me digas licença nem disfarças,
O canto que vasculho, vou, me estiro,
Voando repetis as mansas garças...

A minha alma transmuda-se em concreto,
Inaudita e feroz, nunca se cala...
Amor que me legaste, vai discreto,

O medo caminhando pela sala...
Perdoes por não ter nem mais afeto,
O gosto que me deixas, pus e bala...

Gilberto e a viagem

Gilberto e a viagem
Aquela noite seria fundamental para que pudesse resolver o velho dilema.
Iria ou não para Ibitirama?
Gilberto era assim mesmo, um camarada muito indeciso, medroso e mentiroso.
Não saberia dizer por que mas sempre tinha medo da noite, mesmo que a lua cheia clareasse todos os caminhos...
Aquela noite então era pior que as outras, o tempo nublado demonstrava que poderia encontrar alguns percalços no caminho e isso era assustador...
Dona Rita, como sempre preocupada, tentava demover a idéia fixa de João “Teimoso” Polino. Estava com pena do menino pois sabia que nada iria impedir o velho de executar o plano.
Levar Gilberto pela estrada era uma questão de honra, afinal o garoto já estava beirando os catorze anos e nunca tinha sequer saído dos arredores.
Depois de muita insistência, e de piores ameaças, Gilberto percebeu que não tinha outro jeito. O que não tem remédio, remediado está.
Dadinho, ria-se por dentro ao ver a aflição do irmão caçula.
Ritinha ajudando dona Rita nas preces e orações, estava preocupadíssima com o pobre garoto.
Pobre garoto em termos, pois o marmanjão com um metro e oitenta de medo e de mimo não parecia em nada com um garoto. Barba na cara e músculos expostos, medroso como ele só.
A noite estava fresca e tinha um vento que, ao invés de ajudar, servia para aumentar os temores do nosso herói.
Mas, o que fazer?
Embornal preparado, canivete para cortar o queijo e o pão que serviriam de alimento no idílio...
Tudo bem que eram somente nove quilômetros, mas pareceria uma eternidade...
Os barulhos e sustos noturnos são terríveis, uma simples coruja toma aspectos atemorizantes e Gilberto sabia disto...
Ao passar pela porteira que delimitava o pequeno sítio, fez o sinal da cruz e, cabeça escondida entre os ombros, partiu...
No primeiro barulho estranho, as calças pagaram o preço pela insegurança do rapaz.
Todo borrado, ficou numa situação difícil, tentando andar mas com o passar do tempo, o odor e a consistência do produto do medo foram ficando insuportáveis.
O medo libera toda adrenalina até que, de repente, Gilberto desmaiou.
Os raios do sol mal surgiam no horizonte quando, nosso amigo despertou do terrível pesadelo...
Como chegar em casa e dizer que não tinha conseguido ir a Ibitirama?
Mais que depressa, ardiloso como ele só, teve uma idéia.
Rasgou a blusa e o casaco com o canivete, riscando a pele até sangrar um pouco, não muito, mas o bastante...
Ao chegar em casa, dona Rita extremamente preocupada com o caçula, e ao ver o estado em que o pobre chegara não titubeou, veio correndo abraçar o menino...
Ao perguntar o que tinha acontecido, Gilberto pôs a imaginação para funcionar.
Uma onça, isso mesmo, uma onça havia chegado perto dele e preparava o ataque, os dentes e as garras à mostra, numa cena terrível e pavorosa...
Dadinho, macaco velho, ao sentir o cheiro que Gilberto emanava, começou a olhar meio desconfiado para o irmão, e sentindo que o mesmo estava mentindo, perguntou irônico:
- E aí o que você fez?
Gilberto, reparando que ia ser desmascarado, mais que depressa respondeu:
- Eu? Quer saber de verdade?
- Claro.
- EU ME BORREI TODO!!!!!

Ermos

Erramos pelos ermos irreais,
Nas fontes que bebemos, nem sinais,
Os medos se crivaram tempestades,
Os olhos procurando veleidades...

Nos pátios que rompemos, vendavais,
Misturo teus venenos mais boçais
Com as dores que trazem as saudades,
Encruzilhadas deixam as cidades...

Nas cruzadas partícipe sem rumo,
Meu cavalo traz selas prateadas,
Minhas naves esperam novo prumo,

As almas me perseguem nas estradas,
Da morte sem sentir bebi o sumo...
As portas eu deixei escancaradas...

Velhas Gralhas

As velhas galas passam nem se nota,
Recendem tumulares excrescências...
O tempo ministrou já nova cota,
As velhas gralhas pedem continências

De sorrisos irônicos se lota
A nova realidade e penitências...
As velhas galas mortas nas compotas
Esquecidas num canto impaciências...

As podres velhas gralhas embalsamo,
Quatrocentonas vivem do passado.
Com risos de ironia, nem reclamo...

As ricas podres gralhas deste lado,
Grande taxidermista vou e chamo,
O rosto enfim será mumificado!

No Peito que crivaste

No peito que crivaste com adagas,
As marcas dos meus dias infelizes...
Respiram pelos poros, vermes, chagas,
Lampejos de vestais nas meretrizes...

Colônias de bactérias, tantas pragas,
A morte te prepara mil matizes,
Em decomposições cedo te alagas,
Esôfago queimado por varizes...

No peito putrefato verte pus,
Nos olhos arrebentas em sangrias...
Nos punhos cicatrizes lembram cruz,

Os ratos devorando podres dias...
Na mansidão do beijo, minha luz,
Na plenitude estrela e melodias...

No Peito que crivaste

No peito que crivaste com adagas,
As marcas dos meus dias infelizes...
Respiram pelos poros, vermes, chagas,
Lampejos de vestais nas meretrizes...

Colônias de bactérias, tantas pragas,
A morte te prepara mil matizes,
Em decomposições cedo te alagas,
Esôfago queimado por varizes...

No peito putrefato verte pus,
Nos olhos arrebentas em sangrias...
Nos punhos cicatrizes lembram cruz,

Os ratos devorando podres dias...
Na mansidão do beijo, minha luz,
Na plenitude estrela e melodias...

Opalescente Amor

Opalescente amor jóia tão rara
Que nunca poderei me desfazer...
Silenciosamente a vida é cara,
Nos meus sonhos, jamais irei perder

A mansa praia; a noite, lua, clara...
Demoro tantas vezes compreender
Que a vida sem amor, machuca, escara...
Nas mãos que me acarinham, vou morrer..

Nos sinos que se dobram de saudades,
Nos olhos delicados de crianças,
A jóia opalescente, liberdades,

As cores fantasias das lembranças.
O grito que hoje solto, tempestades,
Amor se resumindo em esperanças!

Vida

A vida, milagrosa passageira,
Surgindo por divina precisão,
Nos olhos de quem ama, a verdadeira
E única certeza de perdão.

A vida, dos primórdios, derradeira
Esperança negando a solidão...
És fiel e risonha companheira,
Acompanha o bater do coração...

Nas sombras das saudades e das dores,
Nos sentidos e várias tempestades,
O palco onde perfazem os atores,

Planícies e planaltos das verdades,
Deserto aonde moram os amores,
Nos passos que percorres, liberdades!

sábado, 21 de outubro de 2006

DA OPUS DEI E DA ULTRADIREITA

Tasso sugere que Lula desista da eleição
Do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, hoje:

- As investigações vão continuar e chegarão ao presidente da República. Não é possível entrarmos em 2007 com esse mar de lama. Se Lula fosse patriota, desistiria da eleição.

- Espero que tudo seja resolvido pelo voto ou então pelo próprio presidente, que tem que ter consciência de sua história e respeite seu passado.
O que significa essa afirmativa? O que tem por trás disto?
Obviamente passamos por um momento crucial de nossa história onde uma minoria conservadora e eticamente podre, oriunda da TFP, e da velha UDN erigida sobre um pedestal de pés hipócritas feito a partir de uma visão deturpada e podre do cristianismo e com pensamento medieval, a partir de origens feudais e exclusivistas apontam para o nojo imiscuído e disfarçado no preconceito e discriminação inerentes a esses crápulas e infelizes.
A ascensão das camadas mais pobres da população ao poder é vista por essa corja como se fosse algo inaceitável e , a partir da moral equivocada e da visão de vida espúria e apodrecida da mesma, com a coerência da canalha.
O fato de termos visto nesta campanha uma atitude coordenada entre os vermes morais e a imprensa composta, na sua maioria, por abjetos servis ou cúmplices deste tipo de visão tosca e podre nos dá a real dimensão disto.
Num ato falho, o decrépito sociólogo em um programa de entrevistas disse que “pobre no poder é isso”, me refiro ao mesmo cidadão que disse, um dia que aposentado era vagabundo...

Por outro lado as origens conservadoras no pior sentido da palavra do ultradireitista Geraldo Alckmin com seus pés afundados na pútrida Opus Dei, que representa a maior deturpação possível do cristianismo onde a discriminação atinge seu ápice, demonstra isso muito bem.
As ações e as palavras desta turba demonstram o que pode-se chamar de conluio de répteis imorais contra a maioria silenciosa e oprimida.
Obviamente o PT e seus aloprados erraram e muito. Isso não significa nada em relação à vendeta promovida pelo governo passado feita simplesmente para pagar as dívidas contraídas para comprar a reeleição do sociólogo decrépito.
Que moral tem Tasso Jereissati ou qualquer um destes canalhas para poder tentar, na marra, evitar que o povo permaneça no poder?
Se Lula ou qualquer um tiver culpa que pague, mas prove-se primeiro para depois vomitar as asneiras que são colocadas todos os dias na imprensa.
Vermes decompostos e sanguessugas eternas, acostumados a viver às custas da miséria de um povo sofrido, historicamente, esse pessoal tinha que se envergonhar dos próprios rostos.
A associação de um amoral e pilantra como o Roberto Freire e um ditadorzinho de merda oriundo de uma elite branca e como o senador barriga verde me dão vontade de vomitar.
A maioria silenciosa composta pelos anêmicos e espoliados, por humanistas, pelas igrejas que entenderam, pelo menos um pouco, Cristo e pelos sonhadores irá imputar a esta corja o devido lugar onde se encontram na história:NA LATRINA!
Vamos dar a descarga nessa canalha para que o esgoto da história os leve para sempre!
Ah! Fizeram isso com Getulio, com Jango CAUSANDO A DITADURA DE 1964!
Todos os democratas do país estão sendo ofendidos por esse tipo de gente.
Conclamo a todos para que exijamos uma TOTAL APURAÇÃO DOS CRIMES COMETIDOS POR ESTA LAIA E COM A DEVIDA PUNIÇÃO!
EXEMPLARMENTE!
Ao se observar a ira com que este pessoal nos olha temos que admitir que é chegada a hora da onça beber água!
Não posso admitir um crápula tentar calar o povo, isso é sintoma de desespero absoluto e esperado pelas gralhas contumazes e agourentas.
BASTA!!!!!!!
Estou com nojo deste pessoal, Deus me permita, em Sua mansidão e caridade que tenha um resto de estômago para poder suportar isso.
TASSO, VOCÊ E SUA CORJA ME INSPIRAM OS MEUS INSTINTOS MAIS PRIMITIVOS!!!!!!
Serenidade atenta e hiperestésica.
VAMOS PARA A VITÓRIA, QUEM QUISER QUE SIGA A MAIORIA SILENCIOSA, SENÃO O BONDE DA HISTÓRIA VAI ATROPELAR E JOGAR OS OMISSOS NO COLO DESTAS VÍBORAS AMORAIS E PODRES.

O presidente da Editora Abril é traficante.

O presidente da Editora Abril é traficante.

A partir das tentativas espúrias e atentatórias, principalmente à inteligência alheia, dá para perceber o quanto a Veja está, inevitavelmente, fadada ao lixo da história do jornalismo brasileiro como o PIOR exemplo de
Imprensa marrom que tivemos.
É absurdamente cretina e digna de uma represália tanto judicial quanto moral e econômica a atuação desta vergonhosa revista, pior: “revista”.
O fato de ilações sobre ilações e mais ilações me permite a seguinte afirmativa. O PRESIDENTE DA EDITORA ABRIL É TRAFICANTE!
Com certeza, o fato de ter um filho que tem contato com alguma pessoa que consuma drogas e, a partir do momento em que este compra drogas de um traficante me permite ver, sob todos os aspectos a relação íntima entre o PRESIDENTE DA EDITORA COM O TRAFICANTE em questão.
Essa lógica utilizada pela editora me permite afirmar com toda certeza que, TODO CIDADÃO BRASILEIRO ESTÁ VINCULADO DIRETA OU INDIRETAMENTE AO TRÁFICO DE DROGAS, INCLUSIVE NOSSO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, NOSSOS SENADORES, DEPUTADOS, GOVERNADORES, PREFEITOS, INCLUINDO AÍ AS FREIRAS, PADRES, PASTORES...
SE ME PERMITIR, AFIRMO QUE QUASE TODOS OS CIDADÃOS DO MUNDO ESTÃO LIGADOS INTIMAMENTE OU NÃO À EXPLORAÇÃO SEXUAL, TRÁFICO DE DROGAS, ASSASSINATOS, GRUPOS DE EXTERMÍNIO, ETC...
AGORA, O FATO DE ALGUÉM TENTAR VENDER UMA DROGA INDECENTE E ABSURDA COMO O JORNALISMO DE BAIXÍSSIMA QUALIDADE COMO O FEITO POR ESTA REVISTINHA ME PERMITE AFIRMAR, SEM MEDO DE ERRAR, QUE O PRESIDENTE DA ABRIL VENDE DROGA, ou pelo menos, tenta vender...
Sugiro que façamos um movimento, enquanto cidadãos, que pagamos nossos impostos em dia que não permitamos que as empresas estatais e os governos não patrocinem este atentado à inteligência humana chamado VEJA!

Textos até 12 de outubro

Cidades
Cidades não são verdes nem vermelhas,
O povo não se mede por palavras
No fundo labaredas são centelhas
Quem dera se certeza desse em lavras...

As mentes que remetes são ovelhas
Perdidas procurando por pastor...
Nas distâncias, ofensas quebram telhas
Deixando sem cobertas nosso amor...

Beija-me então, valhei-me meu Senhor...
Quem caminhava por pedras e tropeços,
Quem sonhava desejos e torpor

Não merece mais novos recomeços...
Amanhecer sensatas calmarias...
Descobrir as paixões de cada dia...


Dados que já rolaram
Dados que já rolaram destruídos
Rugindo tempestades sem sentido...
Na quilha dos desejos percebidos
O medo transportando, vou perdido...

Criaturas deixando seus olvidos
Nos roseirais delírio desvalido.
Nas hispânicas lutas meus sentidos...
Dado que sempre rola, destruído...

Mensagens sem remota qualquer chance
De resposta por quem não deseja volta...
Na montanha risonha do romance,

O medo desafia pede escolta.
Se foste meu amor, não és fiancè,
Meus dados que rolaram na revolta...


Dos Idos
Dos idos decididos pelos dedos,
Medos empedernidos nas montanhas,
Meus vasos perfurados pelos medos,
Nas novas valentias, velhas sanhas...

Quem dera se salvassem os segredos...
As bocas que sensíveis sempre arranhas...
Dos tempos que perdi nestes vinhedos...
Os ossos que me deste, tantas manhas...

Dedos acariciam belos seios,
Medos se vão esquecem capoeira...
No que se pode ser serás os meios

Pelos desertos que conflagras da poeira,
Dos idos que não disse meus anseios.
A marca da pantera na soleira....

Segredos
Segredos sondam medos e não negam
Não deve-se sentir tantas promessas,
As cordas que rebentas não me entregam,
Os motes que me deste não mais versas,

Os pomos mendigaste e se renegam,
Nas fugas pro Everest, nossas conversas,
Nos altos do Himalaia se navegam,
Areias dos desertos, terras persas...

Segredos que venero sem fortuna,
Amantes se escravizam sem perdão,
Nos mares não navego velha escuna,

Remendos que fizeste no porão,
Nos álgicos enredos desta luna,
Embriagado, tonto coração!
Se regam...
Se regam e carregam velhas mantas
De tantas quantas quotas foram nossas,
Amores que não cantam outros mantras,
Os olhos que choraram lautas poças...

Marcas que cicatrizam seguem santas
Antes fossem vertentes mas não fossas,
Nos caminhos que pacas andas antas
Outros olhos pedintes, mesmas roças...

Se regas e carregas velhas águas,
As moças que conheço meu passado,
As outras que já tive nem anáguas

O medo que deixei não vai brotado,
Os olhos que rasinhos destas mágoas,
No verso que me invento, sem recado...
Plantas
As plantas que me deste não refazem
As noites que perdi te procurando...
As cores que elas vibram já não trazem
Amores que deixei não vou a mando...

Azares são medidas que me trazem
As horas que perdemos nos amando...
Angústias estrangeiras não comprazem,
Amiga quem me dera fosse brando...

Beijando-te com calos nos meus lábios,
Crivando-te de herpéticos sorrisos,
Derivo minha nau sem astrolábios,

Espero que não sejam mais precisos
Favores que iludindo, forjam sábios,
Gritando por mistérios mais concisos...
Dilema
Comprazem de total insensatez
Disfarces que mentiste neste baile...
Espero pela dança e minha vez,
Fugazes as carícias pedem braile...

Girando pelo mundo girassol,
Há muito mais mistérios que pensei...
Imagino um cansaço morto ao sol,
Jorrado das saudades que deixei,

Liberto meus fantasmas no poema,
Mas canções favoritas do cancão.
Nas matas sertanejas meu dilema

Ouvindo as fantasias volto ao chão.
Pressinto melodias, velho tema,
Quebrando sem porque meu violão!
Melânico Verão
Na tez que voltaria se não fosse
Melânico verão com fortes raios...
Bronzeia tempestades. Me confesse
Amores que te ferem e balaios

Onde astutos teus gatos já não miam.
Neologias criaste com versões,
As horas quando passam não se fiam,
Imersas as imensas amplidões...

Se quiser esperar não te retorno,
Meu barco não virá, tenha a certeza!
Nas palhas da tapera um velho forno,

Nos olhos da morena essa tristeza,
A vaca que mugia era holandesa,
O sol que me incendeia, manso adorno...
Ancas
Nesse osso colossal das suas ancas,
Balanças meus olhares, perco o rumo...
As noites que vivi, se foram brancas,
Agora que te sei, já peço aprumo...

As mãos que viajantes seguem francas.
Dos beijos penetrantes quero o sumo,
Sangria desatada não desancas,
Quadrantes absolutos sobem, fumo...

Menina me ninaste me enganaste...
O brilho do que fui já degenera,
Amor que não desnuda não se gera,

A dor que me legaste faz contraste,
Amantes somos loucos, mansas feras,
Nas ancas que rebolas, me mataste...
Bijuteria
Esmero esmeraldina sensação
Dos olhos da mulata que sonhei.
O verde que esperança um coração,
Nas turmalinas vertem minha lei...

Dos hortelãs e mentas, meu refrão...
Dos peixes que menti jamais pesquei,
Um lambari gigante é tubarão.
Com sereia postiça me encantei...

A sensação que esmero, esmeraldina,
Me traz antiga e mansa calmaria,
A moça embriagada, minha menina,

A lua que brilhou traz pleno dia,
A moça que mofina, Dolantina,
A pedra que te dei, bijuteria...
Tortura com estrambote
Ação que nada serve se não oca
A mor de todas dores amorosa...
O cômodo sentir que não estoca,
Augustos esses anjos, mansa rosa...

Meus fâneros feridos farta foca...
O preço que pedi não paga a prosa.
Da terra que me encerra, uma minhoca.
Ouviram do Ipiranga rancorosa...

Ação que nada serve faz mentiras,
Omissos paisanos perigosos,
As danças que torturas, mansas liras,

Os ombros que empinaste, orgulhosos,
Com mãos que me carinhas, também tiras,
Os troncos que lanhaste, são frondosos...
Cortaste tantos sonhos, de saída,

Fingiste mansidão que vai perdida,
Açoitas quem beijaste, secas vida...
Piquenique
A boca que reboca não me toca
Carrega suas manhas para o fim...
A vida que embrenhei no breu da toca,
Nas noites que mataste dentro em mim...

Recebo as sensações da dura roca,
Quem dera não tivesse tudo assim,
Amor que não me leva, me reboca...
De distantes estrelas donde vim...

Não voltarei jamais de minha senda.
No caminho, lembranças que se aplique
Amor que não me leva, uma moenda...

Não quero nem te peço, jamais fique...
Amor que não me leva, traz a venda...
Quem sabe então fazer um piquenique...
Bem me quer
Retoca quase sempre seu batom,
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, leva o tom,
O quadro que apresenta me consome,

Nas guerras que mendiga sou o front,
Nas luas que mergulho clara fome,
Cosméticas certezas, cor do som,
Não deixe de me dar seu telefone!

O bem que me quisesse nunca viu,
O bem que bem me quer no malmequer,
E se não mais pergunto, sinto vil,

O rosto se espairece, da mulher...
O pranto que correu mais infantil,
No choro empalidece, não me quer...
Baio
O tom que te mandava não desfaço,
É sempre meio opaco mas sincero.
O perto do mineiro dá cansaço,
De agosto a fevereiro, não te espero...

O campo já me deu régua e compasso,
Comparsas, companheiros lero-lero,
Menina quero ter o teu abraço.
No teu canto imagino um quero-quero...

Minha vida inteirinha já te dei...
Não puseste cabresto agora saio.
No que queres escravo finjo rei,

Capoeira, rasteira, nunca caio,
Das alturas agruras foram lei...
Cavalo que montaste? Eu já sou baio....
Laço
O laço que te prende não converte,
Amor que negaste,em doce mar...
O frio que produzes nunca verte,
As mangas arregaço e vou lutar.

Nas horas mais difíceis não se inverte
Os símbolos vorazes vão sangrar...
Meu corpo que deixaste mais inerte,
No norte que me lego me estampar...

O laço foi brinquedo de criança
Mordaz que me deixou sem sortimento.
Nada faz repetindo, tudo avança.

O parto que não vinga é sentimento.
O medo que delegas sem fiança
Do laço que me deu contentamento...
Veredas Tropicais
Convertes nas veredas tropicais,
Os sonhos que tiveram nossos pais.
Barqueiro que jamais esquece o cais,
Velejas seus veleiros, pedes paz...

A morte não percebe e tanto faz,
Amar quem já amei, penei demais..
Carpidas tantas mortes, imorais,
Mentias quando vias seus sinais...

Os olhos que não cegam pedem mais;
América procura ser capaz,
Os rios que perdi mananciais,

Os medos que causaste vis, boçais.
Os trastes que legaste são portais
O continente, nova vida traz...
Omissão

Os mares que navego são bem poucos,
Os sonhos que freqüento sem saraus,
Os homens que se omitem fingem loucos
As horas mais insanas geram caos...

Nas égides dos mantras que não cantas,
Repetes teus sonidos, são sinais...
Os males que criaste, matas plantas,
Os homens que se omitem são boçais....

A farpa que penetra nossa entranha,
Estranha não pondera nem desmancha.
Palavras agressivas, vil patranha,

Caminhas tantas mortes nessa prancha.
Carinhos dos mal-tratos dum meganha..
Quixotes ressuscitam-se na Mancha...
Loucos Sentimentos
Os loucos sentimentos não mereço
Padecem de total insanidade.
O passo que me dás é meu tropeço,
As rugas denunciam minha idade...

O mártir inconfidente vem avesso,
O fato que me veste, da saudade...
Os sentimentos levam adereço,
O sol que me governa, claridade...

Mas não me peças nunca que te calce,
Os braços cicatrizam tendinite,
Nas luas que me deste, sem realce,

Os medos são telhados de eternite...
Não quero nem aceito essas verdades,
Os loucos sentimentos, tempestades...
Amar Continuamente
Se meço não convenço nem te peço
Nem quero convencer quem não merece,
Amores que menti, nem desconverso,
As noites que passei, omitem prece,

Meus olhos procurando vou disperso,
Nem tudo que proponho me acontece
Nos versos que te fiz, meu universo,
Se meço nem te peço, me confesse...

O vasto seringal dos meus amores,
As flores imortais que não plantei,
Os cais que enclausuraram nossas dores,

O medo de saber que nada sei.
Nas procissões que fazes, meus andores,
Amar continuamente, minha lei...
Obeso
O peso que me deste fraudulento,
O rosto que me mostras enrugado.
Nos braços que me ergueste fui detento,
Amores que sangraram no passado.

Não peço nem desculpas nem alento.
Retorno desse sonho apaixonado.
Amores que singraram pedem vento.
Agora vou ficar aqui do lado...

Não quero me omitir deste defeso,
Nem volto minhas costas para o mar.
Amores que sangraram, indefeso

Deixaram coração que quis amar...
Amores que sangraram, vou obeso
O peso que roubei deste luar...
Requinte
O mento que o mentor nunca media,
No dia que me deste nunca minto.
As vendas nos teus olhos meio dia,
Faz tempo que não sei do vinho tinto.

As danças impossíveis nessa orgia
Dos corpos enredados nada sinto,
Explodes nas delícias de Maria,
Me embebedas, vadia, num absinto...

Se não vou, configuras um acinte,
Se não quero apimento e sou mentor.
Dos anos que vivemos, mais de vinte,

Os olhos se perderam sem pudor...
As camas desfazemos num sprint,
Os sexos misturados com requinte...
Erva Daninha
Tormento que me deste ao meio dia
De tarde já se torna brincadeira.
A morte que me queres não varia,
O mundo que me negas, nem bandeira...

O ramo da oliveira que trazia,
A pomba não se cansa, verdadeira.
A pétala converge poesia,
Benzinho, vem dormir à minha beira!

Na pessoa do prato que cuspiste
Te peço ir bem mais mansa com andor.
O passarinho preso pede alpiste,

A gaiola que deste com amor,
É prisão que jamais alguém resiste,
Erva daninha também cede flor...
Maria Não Merece
Maria não merece ser feliz,
Depois do que ela fez, nem mesmo reza.
O mundo se disfarça nessa atriz,
Amor que na verdade não se preza.

As valas que enfurnaste no céu cris,
O bando que comandas morde, presa...
Nas marcas que fizeste, cicatriz
De giz, literalmente vil se enfeza...

Maria tem pudores de falsária,
Vendeta de primores indecentes,
Vivendo de sugar a plebe otária

Que lambe e sutilmente crava os dentes.
Transmite se puder, gripe aviária,
A desvairada emana dos dementes...
Lua Ninfa
Me diz a minha lua entrelaçada
Nos braços da sutil enamorante
Que tudo que passei não deu em nada,
Que a vida recomeça d’ora em diante...

O peso que carrego na lombada,
É peso que me aflige, sou farsante,
O medo de romper a madrugada,
Adormecido ao lado da tratante...

A lua se entrelaça com cometas,
Deitada se mostrou ninfomaníaca.
Deslumbra-se com sátiros, ninfetas,

As pernas se misturam, brancas, pretas,
A lua dá risada demoníaca.
Se abrindo dadivosa, tetas, gretas...
Quebraste
Amada, com certeza, não se mede
Amor por horas tontas que passamos.
A porta que me fechas não me impede,
De termos divinais como sonhamos...

Vivemos capturados mesma rede,
O mar que poluímos não lavamos,
No canto que te canto vejo a sede,
Notícias, novidades, nos reclamos...

Amada, com certeza, não te quero.
Vendeste por tostão o que era nosso...
Refúgios que procuras, no teu clero,

São contas que não pago e nem endosso.
Transformas em venéreo o que venero,
Quebraste finos pratos onde almoço...
O tempo que queria
O tempo que queria não se esconde...
As mãos que trazem rosas, têm espinhos,
O desejo que tenho não é bonde,
Meus cardos multiplicam nos caminhos...

Derreto-me no inverno como um fundi.
As urzes se revezam nos carinhos...
O beijo que me morde, me confunde...
Nas alquímicas mágicas, cadinhos...

Não passo sem sequer pedir licença,
Amar demais passou a ser doença;
A vida não merece recompensa,

O parto que me negas se dispensa.
A loca que me empedras mata a crença.
Amar demais é trauma p’ra quem pensa...
Amor de Ébano
Quando queres verdades, dás mentiras,
Quando mentes cidades, vives campos,
Sertanejas sandálias nunca tiras,
Atiras nos pacatos pirilampos...

Me negas sentimentos que padeces,
Nas preces a prudência não te salva,
Nas horas mais vividas desfaleces,
Perfumas meu cadáver com a malva...

Vencida não se entrega quer vingança,
A lança que quebraste já não fere.
Desferida esperneias esperança,
Na dança que fingiste não me espere.

As amas que secaste não deleite,
O leite que me deste foi azedo,
Azado este momento, me respeite,
Aceite meu tormento por segredo...

Arremedo poema não tem fim,
A fim de esquecer tua falsidade,
Verdade é que não gostas mais de mim.
Carmim a boca doce da saudade.

Vontade de ficar mas tenho pressa,
Confessa que não viste este penedo.
O medo me transfere para Odessa,
Dessa mesma maneira que me enredo...

Vontade de voraz caricatura,
Na escura mansidão que não me negas...
Navegas pela mata mais escura,
Candura que fingiste não me apegas...

As pegas corvorizas nas sarjetas,
Tarjetas que ultrajaste incompletas...
As fases que tiraste dos cometas,
As bocas que lambeste vão repletas...

Vontade de saber o que não cabe,
Amarras os convés e não ancoras,
Descoras insensatas regalias,
Nas gralhas que imitaste sem demoras,
Amoras que comeste em noites frias...

Versículos, capítulos, promessas,
Compressas quase nunca são bastante,
Distante de meus olhos, já me apressas,
Verdades sempre em forma delirante...

Nas teclas que pianas operetas,
Nas marcas que maceras nas maçãs,
As maças que amassaste nas vendetas,
As vendas que fechamos, cortesãs...

Amor, te quero mesmo sendo insana,
Amar-te é ser o mesmo que não ter...
Calor demasiado a vida abana,
A morte é a vontade de viver...

Entre tanto entretanto na entressafra,
A pele que compele se completa...
A mão que me ebaniza da deusa afra,
Das paixões que me deste a predileta.

Amar a tal pantera me inebria,
Originariamente me devora,
Cigarros que fumei na noite fria,
A tosse intransigente me decora.

Amar a negritude desta bela,
Nos laços dalmatizam meus amores,
Contrastes sempre foi forma singela,
Da homenagem que peço enfim às flores...

Amando-te esperando meu desejo.
No canto que te embale a despedida...
No gosto chocolate de teu beijo.
És a razão final de minha vida!
Escancarada
Não me queira falar de passado,
Essas águas não movem mais moinho...
Não proponho saudades ao te lado,
Amor que já vivi morre sozinho...

No frio deste quarto, congelado,
Casaco que me deste, dum arminho,
Mão que procura em vão sofre um bocado,
Amor encontra pranto, é seu vizinho...

Não me queira dizer que mudaste,
As pedras que se rolam são só pedras...
Os olhos que mentias, vigiaste,

O resto da canção desafinada,
Amor que já morreu; por certo, medras,
A dor já me envolvendo, escancarada..
Amor impossível
Na espera deste amor que nunca vinha,
As noites que passei foram sem fim...
Dormias tão distante... Julguei minha
A mão que não passava nem por mim...

Não posso perguntar pois, se advinha
Da tua boca o brilho de um carmim,
Ou era do meu sangue. Numa linha,
Um bêbado bebia do teu gim...

As mentiras formaram as estrelas,
Distantes dos meus olhos, não alcanço...
Ó Meu Deus, como posso convertê-las?

Amor que me negaste, flecha e seta,
Nos bailes que perdemos, nunca danço...
A dor de tanto amar, me faz poeta!!

Olhos da Serpente
Nos olhos da serpente que me beija,
Os traços definidos da maldade,
Carinhos são disfarces na peleja,
Os sonhos que delegas, crueldade...

A morte tão suave me deseja,
O resto não importa, na verdade...
Veneno que me mostras, u’a cereja,
Que encanta me inebria e dá vontade...

Carinhos se disfarçam em mordidas,
As horas que me dás simples falácias,
As cartas que me mostras, são fingidas...

As presas que me beijas, as audácias,
Mordendo quem amou por toda a vida,
Já destróis, sem piedade, essas hemácias...
As Canções
As canções mais bonitas que fizeste,
Com notas surdas mansas, tresloucadas...
Nascemos sem verdades, plena peste,
Amigos das mentiras e mancadas...

Labirintos fugazes... Não me infeste
De tantas melindrosas madrugadas...
O rumo mais perdido segue leste.
As ruas que percorres alagadas....

As canções mais bonitas me negavas
Ogivas dos foguetes que mentias...
Dos olhos que me mostras, simples travas,

Pantanosas as manhãs que me enterneces...
Nos cântaros cantigas avarias...
As mãos entrelaçadas servem preces...

Nossos versos

Nossos versos, cantigas deliciosas,
Que no meu triste peito inda machucam...
As flores que se abrindo lembram rosas,
As dores que escondidas arapucam,

Nossos versos vagando fantasias,
Santamente doridos me maltratam...
Desfolhando tristezas e alegrias,
Serenamente, chegam e me matam...

Nos versos libertários, tua cela,
Nos olhos melancólicos, nossa cisma...
Nas páginas libertas, soltas sela,

Voamos transbordantes maravilhas,
A dor que se renova, não se abisma,
Nosso versos naufragam tantas ilhas...
Nosso caso de amor

Nosso caso de amor, é nosso livro,
Escrito com saudades e certezas...
Tantas vezes de ti, cego, me livro,
Outras vezes, contigo nas certezas...

Nosso caso de amor, se perde livre,
Em meio a tantas lutas e pelejas.
Quantas vezes disperso, é um Deus me livre,
Outras inebriado, mil cervejas...

Nosso caso de amor, mentira exposta,
Cafunés que se vendem se veneram...
Gerando nascimentos, morte em posta.

Nosso caso de amor, velocidade,
Na porta, mendicantes, não esperam,
A morte que me trazes, da saudade...
Os sóis que trouxeste

Os sóis que te trouxeram, num eclipse,
Desfazem-se, escurecem o meu céu...
Amor que trapezista cria elipse,
Nas cordas violinos dum bordel...

Quem fora destes sonhos um artífice,
Não pode conceber o nosso anel,
Amor dilacerando é um partícipe
Da festa que embalamos, no papel...

Tais dias, testemunhas arranjamos...
Forjamos espetáculos sem nexo...
Logo, logo de farsas ultrajamos

Quem julgara sentir felicidade
No final disso tudo, sem complexo,
Sabe que não restou sequer saudade...
Sabor da Malícia
Quero o sabor discreto da malícia
Que emanas do teu corpo sedutor.
Quero comprazer de tal delícia,
Poder ser deste corpo, o condutor...

Cada vez que me tocas, a sevícia
Me invadindo, transborda-se em amor.
Tentáculos vorazes, dor fictícia
O campo que mergulha a bela flor...

No desejo descrente que me dás,
As ombreiras das mágoas perdem força.
Corredeiras velozes, sou audaz,

Amor que não vigora, finge corça.
Nos capítulos fatos e mentiras.
Das flechas de Cupido que me atiras...
Outeiros
Nos outeiros deixei tenaz sentido.
Das tuas virulentas primazias.
Arfante prosseguindo combalido,
As dores que me causas, as azias...

Nos pátios decidido passo tido
Como feroz certeza que mentias..
Nos outeiros que subo, estou perdido.
As tardes sem teus beijos são sombrias...

Nos campos que percorro, sem ter medo,
Nos dedos que me tocam, vão passagem..
Os rumos que convergem num segredo,

A sombra do que fomos, a miragem,
O canto que dispensas, nosso enredo,
Amores que perdi nessa viagem..
Medo
Por medo de sentir a mão vazia,
Os olhos desprovidos de futuro;
Vasculho por inteira a poesia,
O monte que me medes tão obscuro.

Nas pontas dos meus dedos, a magia,
Nos lastros que me firmam, me procuro...
Na carta que te escrevo e nunca lia,
Doença que me invade e nunca curo...

Por medo de entreter e ter escrúpulos,
Não quero perceber a tua voz...
Fermentas sentimentos feito lúpulos.

Carcomes o que resta do oceano...
A mão que não espalma mais feroz,
Desfia neste corpo mapa e plano...
Nossas danças
Novas danças nuances e carícias,
Nas andanças que faço, traço o senso,
Sensuais e carnais nossas delícias,
Refletem esse amor que sei imenso.

Dos corpos que conflitam as sevícias,
Nas tramas que tingiste contra-senso,
Rolamos sem querer senso e polícias,
Nas lamas, chamas, vértice tão tenso...

Acordas com misturas, tantas pernas,
Massacre de delitos sem pudor...
Bulindo fantasias, não te invernas,

Nem pedes por clemência nem as dou...
Desejos explodindo desse amor,
Nos campos que deliras, faço o gol...
Teu Corpo Junto ao Meu
Quero teu corpo junto ao meu, sincero..
Quero tuas mãos mansas, sem clemência.
Nos atos que desatas sigo fero,
Mastigas com desejos, inocência...

Nos mitos que digeres, sou teu clero,
És dama que imaginas indecência,
Amor que não se troca, não espero,
A vida se contrai, coincidência...

Nas bocas que procuram por mamilos,
Nos lábios que procuram pelas bocas,
As coxas que se roçam, seus estilos,

Os mantos que se rasgam furiosos...
Penetram tantos dedos, tantas tocas,
Os medos não prosseguem, curiosos...
Vestido de Noiva
No vestido de noiva que alugaste
Os lugares perfeitos encontrei.
Não há sofrimentos que te emplaste
Nem há sortimentos, pura lei...

Calores que por certo, me tomaste
Escarneces forçando o que te dei,
Marasmo com orgasmo velho traste,
Nas rodas do quem dera já dancei...

Roubamos gentilezas disfarçadas,
Levezas que mostraste, são pesadas...
Românticas penumbras que clareias,

Pertuitos mais fortuitos impotência.
Não quero ouvir pedidos de clemência.
O fogo que prometes não ateias..
Sarcástico
Desculpe se pareço-te sarcástico,
Sou fruto deste mundo que me deste...
O rosto que fingiste segue plástico,
O medo de viver gerou a peste.

Nos saltos que tentei, pareço elástico,
O franco atirador, foi simples teste...
O prazo já venceu, isso é fantástico,
O tomo que hoje li, foi inconteste...

Recebas um carinho como um tapa,
Dilaceres a mão que não te roça,
Dos livros que te dei, sabes a capa,

As hortas se definham, sem verduras...
A casa que vivemos, é palhoça,
As noites que me deste são escuras...
Pintassilgos

Encantam pintassilgos na gaiola,
Da mata que cantavam nada resta,
O mártir que ensinaram lá na escola,
Depois do feriado, vem a festa...

Nas feiras que investiste uso estola,
Os versos que me encantas não contesta,
Não quero teu carinho como esmola,
Amor que não se dá nunca mais presta....

Cabeleira alourada e perfulgente,
Nos brilhos deste sol fazem reflexo,
Amparos que me dás, impertinente,

Os olhos que me trazes são quimeras...
Te quero meu amor, delírio e sexo.
Não posso penetrar essas crateras..
Giros de roda
Giros arrastados na cantiga,
Na roda que me deste nada fiz...
As mantas que me cobres, forte viga
Sustenta quem amou, foi aprendiz...

Não vejo nem desejo que consiga
A mão que se caleja nada diz,
O medo que me impede que prossiga,
Fornalhas que incendeiam, céu mais gris...

Nas bordas dos recôncavos estrias,
Nas cordas das sonoras melodias,
Nos bancos que me trazem teu passado.

Nos cancros que causaste sem perdão.
Amor que me percorre aliviado
Explode num momento, o coração!
Bandalha
Quem finge sentimento na bandalha,
Nas praças são falácias e fantasmas...
O corte que promete tal navalha,
Nos montes que subimos são miasmas,

Cantando teu deboche qual de gralha,
Expeles teus gemidos, finges asmas...
Na morte que tentaste sem metralha,
As camas que dormimos, quedam pasmas...

Quem vive sortimento de defeitos,
Impávida respira meus pecados...
Quem finge sentimentos imperfeitos

Não pode concluir pequenas frases,
Amantes se deixaram, velho prado...
As pernas que se quebram, perco bases..
Não te vi, nem pretendia
Não te vi, nem pretendia
A noite não traduz dia...
Versejando fantasia,
Esqueci da melodia...

Amar demais a Maria,
Que sei, jamais, amaria...
Todo amor que se cumpria,
A dor que no peito estia...

Não te vi, nem pretendi,
Jamais pude estar aqui,
Por tanto tempo vivi,
O teu amor esqueci!

No teu livro tanto li,
Depois de tudo perdi
O prumo. Meu souvenir,
É saber que estás ali...

Não te vi nem pretendia,
Jamais pude estar aqui,
Versejando fantasia,
Por tanto tempo vivi!

A noite não traduz dia,
Não te vi, nem pretendi,
Esqueci da melodia
E prumo, meu Souvenir..
Minha Alma


A minha alma, tristonha caminheira,
Buscando pelos passos de quem amo...
Nas endeixas perdida por inteira,
Nos braços de quem peço, triste clamo...

Como a criança sofre com os medos,
Os gozos que persigo atemorizam...
Nas vezes que persigo seus segredos,
As dores de minha alma traumatizam...

Pomba rola que voa sem destino,
O pântano que me deste de presente,
Causando em mim, perjuras, desatino,
O nada que se perde, nem pressente...

As noites sem sentido, são mundanas,
Os beijos que teimei foram ocaso,
Tais marcas de veneno que me empanas,
São formas de viver simples acaso...

A noite que mendigo é tão aflita,
Perdido nesta mata, neste bosque...
No peito silencioso a alma se agita,
Nas noites tanta perna que se enrosque...

Minha alma, empedernida, não se acorda,
Dos sonhos que alucinam meus sentidos...
A borda do que somos, perde corda,
Os montes que vivemos, dos olvidos...

Minha alma, procurando pelo alvor,
Destila toda cor de bela aurora,
Trepida, procurando por calor,
A vida que me deste foi embora...

Quebrado todo o pote, foi-se o doce,
As pombas que cantaram, seu arrulo,
Quem dera que restasse nunca fosse
Amor que me encantava, já não bulo...

Ouvindo toda noite tal soluço,
O canto das cigarras não se imita,
Nos trotes do cavalo, rocim, ruço,
O peito tartamudo louco, grita...

Procuro por passagem neste porto,
Espero conseguir um novo pouso...
Um resto de sentido queda morto,
Das tétricas saudades, sou esposo..

A porta que fechaste, gemedora,
Não pode nem sequer por isso chora,
A mão que me carinha, redentora,
Olhar que agora lanço, já te implora...

No meio de tristezas tudo somo,
No seio desta noite, pleno breu,
O mundo se ilumina deste assomo,
O tanto quanto amei já se perdeu...

Perdendo meu sentido e toda a calma,
Pressinto renascerem ilusões,
São falsas e disfarçam a minha alma,
Sentidos e promessas, ilações...

Quem dera tanto amor de duas vidas,
Não fosse de repente assim fanado...
As marcas que me mostram despedidas,
Percorrem sem destino os feros fados...

Quem duvida não pode nem quer crer,
Amar um triste jogo, perigoso,
Mesmo que ganhe, sempre vai perder...
A mão que te machuca te dá gozo...

Exclama tempestades sempre já...
Nunca espera nascerem novas folhas,
A lua que brilhou não brilhará.
As rosas que espreitaste não recolhas...

As páginas que tanto foram lidas,
São restos do que vida, já se foram...
Carinhos que me deste, despedidas,
Os medos qual foguetes, sempre estouram...

As dores que me urtigas são remotas,
As noites que me levas são chorosas,
De tanto que sonhei perdi as cotas,
Amar sempre traduz, maravilhosas...

Quem dera dedicar todo meu canto,
A vida se resume em gesto nobre,
Minha alma vai buscando teu encanto,
O medo da saudade já me cobre...

Num vale dolorido, amor desmaia...
Na pantomima mímicas venais,
A calmaria foge desta praia,
Os olhos embotados, nunca mais...

Não quero nem permito tantas queixas
Do coração que bate nova plaga,
Misturam-se desejos com as gueixas,
A forma de viver tudo, me alaga...

Amar que me pergunta sempre e quando,
As pétalas desfeitas nunca beija,
Nos sonhos que produzes, mergulhando.
A cama se demora e não deseja...

Levanta sutilmente a tua saia,
Sem perceber, audaz, a noite avança...
Deitados envolvidos nesta praia,
Amantes se desnudam, tanta dança...

A vida por tristezas vai banhada,
Nos medos que deixei restaram prantos...
A calma se transtorna, desolada,
Nosso sexo invadindo sob os mantos...

Amor que se delira com afinco,
Na mata penetrante mais escura,
Recebo com delícias o teu brinco,
Amar-te é consumir toda a ternura...

O medo de morrer já me levou
Às margens do que fora um triste rio...
Meu pranto que, de espanto, já nevou,
Derrama sobre tudo um canto frio...

Minha alma de ternuras ressuscita
Palavras que jamais compreendi,
Rompendo meus sinais, resume a fita,
Minha alma vai perdida em mim, sofri...

Minha alma de rancores violentos,
Por céus penetra, infinda, como o medo...
Os campos que conhece, são sedentos,
De tudo quanto tive, um arremedo...

Viscerais tempestades me envolveste,
Minha alma seduzida nunca está
Amar por tantas vezes, inconteste,
Um barco que jamais navegará...

Vasculho por sinais, felicidade,
Esmago qualquer forma de sofrer,
Não peço paciência, veleidade,
Minha alma, nos teus braços, quer viver...

Agora que não tenho solução,
Espreito meu caminho nos penedos...
Aberto sempre deixo o coração.
Carinhos que te faço com os dedos...

Mortalhas que vesti são meus delírios,
Os prados que visito são falsários...
No fundo o que resta são martírios,
Tal qual corvo imitando esse canário...

Nas fimbrias do vestido que desnudo,
Nos pátios destas casas que freqüento...
Não quero teu amor, mas quero tudo,
Montanha que resiste a todo vento...

Dedico minhas noites a minha alma,
O beco que te dei não tem saída...
A boca que me beija sempre acalma,
Resumo a minha alma em tua vida...
Abadias
Nas estradas, estadas, abadias...
Nos caminhos que perco sem vantagem;
As tardes sem o sol, seguem tão frias,
O medo de viver sem ter coragem.

Não quero prosseguir nas cantorias,
Nos cantos sem encanto e sem aragem,
Nas abadias sonhos, fantasias...
Não posso perceber essa abadagem

Que cobras coração desesperante...
Meus termos, rendição, são muito brandos...
Quero saber seguir para diante,

Nos versos que te faço falsos cantos...
Amores que perdi os vejo em bandos.
Não quero conhecer os teus encantos...
Nossas dores
Quando, enfim, abacelas nossas dores,
E tentas ocultar as dificuldades
Que fazem consumir nossos amores,
Em meio a tais diversas tempestades,

Procuras evitar os amargores,
Dispensas solidez, tranqüilidades...
Resumes os outonos já sem flores,
Esqueces primaveras... Nas tardes

Abandonadas vives sem carinho...
O medo te deixou paralisada.
Meu mundo sem verter nosso caminho,

A porta da saudade escancarada...
Abacelando amor, me faz sozinho,
Da vida que sonhamos, sobra nada..
Tempo de Amar
Não me deixe pensar que não me queres,
Os sinais que emanaste, tanta fé,
Com palavras mordazes tanto feres,
Meu amor nunca esqueça, abaeté

Sou... Nas festas milhares de talheres,
Estrelas e cometas fui a pé,
Não pretenda ocultar, nem se quiseres
De tanto que sofri, da morte até!

Teus olhos te traíram, minha amada,
O brilho nunca nega teu desejo,
Nosso caso, essa vida maturada,

Não pretenda nem podes me enganar,
Vem... A noite convida para um beijo...
É tempo de viver, tempo de amar...
Cortiço
Vivemos tanto tempo num cortiço,
As luas nos serviram candeeiro,
O corpo delicado que cobiço,
Sempre fora noturno companheiro...

O quarto tenebroso, abafadiço,
Amávamos perfeitos, por inteiro...
Por quanto tempo nós fomos tudo isso...
Amor assim sincero e verdadeiro...

Um dia, resolveste enfim sair,
A vida te trazendo tal riqueza,
Desculpas; venho triste, te pedir,

Não podes ocultar a realeza,
Mas o meu coração tenta impedir,
O teu ficou aqui, tenho certeza...
Noite Sufocante
A noite sufocante, amargurada,
Celebramos tristezas e saudades,
De resto, sobraria quase nada.
Sabemos tantos campos e cidades...

No rumo que perdemos, sem estrada,
Os bares visitamos, das verdades,
Bebendo, vitimamos nossa fada...
Amantes que perderam qualidades...

Não suporto mais tal abafamento,
Meu ar desperdiçado, sem retorno...
Amar não pode ser só sofrimento...

Dispneico na procura do oxigênio,
Eu tento, transtornado, neste forno,
A lâmpada quebrada nega o gênio!
Novo Bojo
Se nunca abalançaste, meu amor,
Não sabes do balanço dessas ondas,
Não queres perceber o sonhador,
Que queimaste no forno de microndas

Anseio teu desejo, pecador,
A boca que me morde se arredonda
Nos lábios pueris, no sangrador...
A lua remanesce mais redonda...

Não bastam teus delitos nos orgasmos
Me bastam teus delírios mais audazes,
Os olhos permanecem vivos, pasmos,

Amor que me destroça me dá nojo...
A lua desmaiando-se nas fases
Amor vai procurando novo bojo...
De Araque
O meu barco, teimosa, abalroaste,
Não deixaste sequer restar o casco...
Por tantos nossos mares, navegaste,
Restando, tão somente nojo e asco...

Na noite alta, silêncio de deserto...
Ouvindo tantos grilos e corujas,
Sonhando pesadelos, nada perto...
Sorrisos transformados garatujas...

Não tenho mais meu barco, peço cais...
Não tenho mais sentido, perco a paz...
No ancoradouro brusco da saudade,

As falésias impedem desembarque,
Amor que me juraste, de verdade,
No fundo nunca vive, foi de araque..
Noites Escuras
Quando me propuseste teu amor,
Não pude me deter em valentias...
Vadiamos por noites tortas, frias.
A luz do luar sempre trouxe cor

As bocas se percorrem, são vadias...
Devagar com o santo e com andor,
Fantasias vorazes nas orgias...
O teu sexo, veneno tentador...

Abandalhamos todos sentimentos,
Atravessamos ruas e loucuras,
Espelhamos os nossos vãos tormentos,

Amordaçamos lágrimas, ternuras,
Despedaçamos céus e firmamentos,
Somente restarão noites escuras...
Coragem
A noite que maltrata,sempre a mesma,
As frases mentirosas, um refrão,
As mãos que percorri uma abantesma
Guardas tantos rancores, coração...

Nos espectros noturnos, melancolia...
Me mostras meus remorsos, um miasma,
A cama que dormimos, fantasia...
No medo que me trazes, um fantasma...

A noite que maltrata, traz saudade...
As frases que repetes estribilho...
As mãos que percorri, a liberdade,

Não posso retornar desta viagem...
Carregas dentro em mim, o nosso filho,
A noite necessita de coragem...
Corsário Coração Com estrambote
Corsário coração, navega e voa..
Procura por navio que me leve...
Vasculha tantos mares, segue à toa...
Gaivota livre, canto belo, breve...

Meu navio, convés, âncora e proa
Canto desesperado não se atreve
O medo do naufrágio me abalroa,
Icebergs me lembrando tanta neve...

Corsário coração, destemperado,
Nas correntes marinhas se perdeu...
O solo que precisa, despraiado,

O mundo que pensava fosse seu,
O tesouro perdido, vai ilhado...
Coqueiro tão saudoso, já morreu...

As ilhas que deixaste, coração,
Não sabem das procelas nem perdão...
Sorrindo, o sol vigia na amplidão!
Amor paralisante

Amor que me provoca uma abasia,
Cruel não me permite movimento,
Divino me seduz, paralisia
Legando essa saudade, testamento...

Brilhantes e temida fantasia,
Respiro com total constrangimento,
Amor que me perturba, cega o dia...
Não trama nem poder e esquecimento

Explosões nucleares já me causas,
Esperas se transformam agonias...
Batendo desespero, sequer pausas,

Amor que me provoca riso e farsa.
Restando assim, sementes tão vazias,
Amor só, necessita da comparsa...
Abaritonada
Quando abaritonaste tua voz,
Os cantos que iludiam embelezas...
Os prantos se deixaram velhas rezas,
O medo calmaria vem veloz...

A rama dos desejos mais atroz,
Expressa nossos beijos, tanto prezas,
Com fartas novidades, nada após,
Amores e promessas vãs revezas...

Na tua voz dorida, neurastênica,
Me pedes com rancores mil carinhos...
Quem dera não tivesse sido anêmica

A rosa tenebrosa meus espinhos...
Não quero discutir, criar polêmica,
Um passarinho sabe dos seus ninhos...
Abastardamento
Nesse abastardamento, nosso amor...
Inclementes não percebem nosso fim...
Causando sem ter pena, um estupor
Matando, lentamente, impede o sim...

Amor que se firmara perde cor,
Não quero revestir-me deste brim,
Empalideces, passas, um trator...
Perdido vou morrendo, espadachim...

Neste caramanchão de buganvílias,
Os olhos esgarçados de saudade...
Nossos jardins, prometem tantas tílias,

Nada restou senão essa incerteza,
Matar o nosso amor, que crueldade!
Abastardaste, louca, tal beleza...
Mantras e cinzel
Abeberei-me mantras e cinzel,
Nos espelhos reflexos perdidos...
O canto que prometo, meu corcel,
Postergo esses meus sonhos, mal vividos...

Nas contas que fizeste, teu cartel,
Os olhas a beijar, destituídos
Do brilho que flagraste amaro fel...
Os prazos que forçaste estão vencidos...

Eu quero a transparência, camisola,
Eu sondo por distâncias transponíveis,
Amar não tem remédio nem escola...

Os beijos que farturas mais incríveis,
Não me designam mortes nem pistola
Quem sabe transporemos tantos níveis...
Abietáceas
Alamedas, estradas e caminhos...
Nos pinheiros e cedros, tal beleza...
Lá perdi nossos beijos e carinhos...
A mansidão perfaz a sutileza...

Nossos olhos são tristes passarinhos,
Nasceram para a dor, tenho certeza...
Buscando por sossego, querem ninhos,
A vida proibiu tal fortaleza...

Nas mansidões dos rios sem cascatas,
A corredeira leva nossa paz...
Quem dera conhecer as nossas matas,

Nas mãos que se acarinham, ser capaz
De ter a calmaria que retratas,
Brisa fresca que a noite calma traz...
Pandora
Guardaste nosso amor, numa boceta,
Os medos se travaram, não fugiram,
As noites prometidas num cometa,
Partiram e jamais se dividiram...

Amor que me maltrata, de veneta,
Os cantos que misturas, me invadiram...
Não há nem solidão que se cometa...
Os beijos que trocamos, se impediram...

Guardaste nosso amor, Ó vil Pandora,
Abocetaste sonhos e desejos...
Respeite, tão somente quem te adora,

Quem sonha, delirante com teus beijos...
A noite está chuvosa, triste chora...
As melodias, tontas, sem arpejos...
Abissal
Mergulho no teu corpo sou sincero,
Não temo essa incerteza, nenhum mal,
Amor que não machuca, nunca quero,
Mergulho no teu pélago abissal.

Escracho meus sentidos, vivo e fero,
Nas cordilheiras, levo meu bornal,
Nossos ares, montanhas onde impero,
Mergulho nas alturas, abismal...

Não teimo pouco temo e já te amplio,
Na partitura singro meus cantares,
Na cama que desfrutas, teta e cio,

Talheres divididos nos jantares...
Morena, vem aqueça está tão frio...
Por testemunha estrelas e luares...
Mulher
Malícia nos teus olhos de menina,
Melancolia trazes, risos tristes...
Mistérios tua lua cristalina...
Martírios dos amores que resistes...

Misantropia e luta, tua sina...
Molecagem, brinquedos, nada omites,
Metódica, trazendo luz divina...
Mediadora, os conflitos, dedos ristes,

Maciez travas beijos e mordidas...
Me manejas do modo que quiser,
Mansidão ultrapassa nossas vidas,

Meiguice rebentando quando quer,
Mazelas que consolas, reunidas,
Me mostram teu perfil, M, mulher...
Ordens e progressos
Nos trâmites legais, nas horas mortas,
Nas ruas sem saída, supermercados...
Abertas lojas, fecham-se tais portas,
Nos templos esquecidos... Trespassados...

Nas mouras infantis, quem sabe tortas,
Nos olhos envolventes, desmaiados...
As dores que me deste, não te importas,
Os rumos que seguimos, desolados...

Meus lábios se conformam com os teus...
Não quero precisar aonde e quando...
Meus olhos que prosseguem sendo ateus,

As ordens e progressos, esperando
Nos colos carregando camafeus,
Nos campos de batalha, vou te amando..
Perdido nas estrelas
Perdido nas estrelas e nos mares,
Cansado de saber que não virás,
Remando contra tudo, bebo bares,
Vagueio por montanhas, incapaz...

Flutuo pirilampo, teus luares,
Quem sabe não serei enfim audaz...
Penetre teus recônditos lugares,
Encontre em teus amores, minha paz...

Termômetro quebrado, não te sinto,
A febre que aparentas um engodo...
Vulcão que sempre julgo esteja extinto,

Parcela principal me lembra o todo...
O vinho que me deste, nunca tinto,
Amor que muito muda, perde lodo...
Debaixo dessa blusa
Debaixo dessa blusa, fantasias...
Delícias da nudez desta mulher...
Quebrantos e malícias, melodias.
A lua que me invade também quer...

Carinhos percorrendo poesias,
Neste prato meter minha colher
E desfiar rosários tantos dias
Quanto à dona da blusa me quiser...

Meus dedos são expertos navegantes,
Desbravam cada canto desta mata...
Teus seios são portentos elegantes,

Encontro meu tesouro e minha prata...
Nas pernas já me ocultas diamantes,
Escorrem teu prazer, doce, em cascata...
Arrependimento
Quando estavas mais triste, sem certezas,
Quando esperavas beijos te dei fel...
A boca te mordia, minhas presas.
O pranto que escorria, neguei mel...

Menti ao não gerar delicadezas,
Errei ao não levar-te, tonta, ao céu...
As notas repetidas sem surpresas,
Cortaram tão depressa o meu cinzel...

Quando perdi as esperanças, louco;
Quando vivi sem temor e glória...
O resto que sobrou foi muito pouco.

O amor vai fugidio, sem memória...
Quem dera retornasse... Mas tampouco
A vida me permite nova história..
O Palhaço
Trigueira, tua pele me encantava,
O palhaço se ri, mostra meus erros...
O manto mais divino me esperava...
Errante; fui boçal, vivos desterros...

Esqueci teu retrato na gaveta,
A vida preparando tantos fados...
O palhaço risonho, velhos fardos...
Meus bisonhos sentidos, vão cometa!

Deste palhaço irônico o sorriso...
Desta velhice errática, a mortalha.
Nada do que já tive, me é preciso...

O corte que proponho me retalha,
O medo me destrói, forte e conciso,
O fogo desta angústia, tudo espalha...
Meu coração navega
Meu coração navega tresloucado,
Buscando por um cais imaginário
Eu não guardo segredos, temerário,
Nas primícias que guardo, um velho cardo...

Procurei desembarque no estuário
Que representaria o meu passado
Realmente encontrei amor tão vário
Que não compensaria peso e fardo...

Nos momentos difíceis, as saudades
Funcionam qual partes desunidas.
Que me resta senão um coração?

Os bares onde encontro, nas cidades,
Nos cantos dessas ruas, caço vidas...
Não me sobra sequer uma emoção...
Marinheiro
Marinheiro, envelheço sem meu mar...
Os oceanos tornam-se mentiras
Não sei porque, resolvo te contar
Histórias tão antigas viram tiras

Soltas no jornal... Tento navegar
Mas as ondas temíveis viram piras
Sedentas estão prontas pra queimar...
Marinheiro que teme o mar... Atiras

Um olhar tão irônico que marca.
A verdade é que trago tantas mágoas,
A vida me deixou perdi a barca...

Mistérios deste mar, já quis amar
As dores me cobriram, tantas águas,
Quem sabe, um dia, aprenda enfim nadar!