terça-feira, 25 de julho de 2006

Non sense

Tanto quanto poderia,
Falar de tanto que sei
Da vida, nova vida, adia
A vadia que sonhei.
Na avidez de nada ter,
No não temer nem a dor,
De nada tendo a perder,
Lívido, divido a flor
Do pensamento mais louco
Que nada se faz do tanto,
Desse tanto que é tão pouco,
Carregando, levo o pranto.
Na tímida lua nova
Que me inspira tanta luz
Que me traz de novo, a trova
Travada a sangue, no pus
Escorrido pela face
Marcada pelas manhãs
Que, antes que tudo embace
Traz as febres das terçãs.
Me pergunta, nessa espreita
Nova forma, mais disforme
Carregada na maleita
que comigo, amante, dorme.
Quero vícios meus ofícios
Meu principal precipício,
Principiando meu verso,
N’avesso dess’universo...
Tinhas tantas teimosias
Em tuas aleivosias,
Tantas velhas melodias,
São as minhas fantasias.
Quero o sedento sabor
Do mais que a sede dará.
Quero o acre gosto da dor
Na maçã que brotará.
Macia a boca nojenta
Que me escancara desejo
No podre sabor do beijo,
Represa que se arrebenta.
Nocivo gosto de morte,
Transgredindo todo norte,
No topo de minha sorte
Não há ninguém que me importe.
No serão nem no seria,
No sertão, na maresia
Nos olhos de mãe Maria
Trafegando rebeldia.
Quero o medo dos meus medos
Catarse e virginal hímen,
Afagar todos segredos,
Fugindo desse teu lúmen.
Liberdade, tão às moscas
Emboscas e me torturas,
Na noite das luzes foscas,
Tateando nas procuras
De minha cara metade,
Na metade do clarão,
No meio dessa cidade,
No cerne do meu sertão.
Vi teus olhos passageiros,
Teus olhos são os primeiros
Que encontrei nessa viagem
Neles, pedindo paragem.
Falando tanta bobagem
Rasgando meu coração,
Pedindo pelo perdão,
Nas dores, amores agem...
Vou terminar meu incerto,
Concretizar o concreto,
Prometo ser mais discreto,
Amor pedindo meu veto...
Poeta, sempre poeto,
Sempre cometendo rima,
Amar vai trazendo estima,
Estimação de moleque,
Na vida piso no breque.
O resto vai a reboque...
Nas mãos, meu velho bodoque,
Vitrola tocando roque,
Dos versos, final de estoque.
Isso que já cometi,
Nesses versos sem sentido,
Foi porque eu me perdi,
Quando te vi, sem vestido.
Nua caminha na sala,
Embala os sonhos caminha,
A pele, traje de gala,
Que pena não seres minha!

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