A CEBOLA TARADA
Nas minhas andanças pelo interior de Minas, lá pros lados de Caiana,
cidadezinha próxima a Espera Feliz, onde morei por vários e felizes
anos, conheci um senhor, dessas antiguidades ambulantes que soem só
serem encontradas nos grotões do país.
Um homem sisudo, caladão quase sem palavras.
Pois
bem estava eu, um dia de plantão quando o enfermeiro me chama, lá pelas
duas horas da manhã, para atender uma urgência, na verdade, um caso
insólito.
Para minha perplexidade, o tal senhor me chamou de lado e
me afirmou meio que envergonhado, que ao se levantar para ir à cozinha
tinha escorregado e...
Não sei como, e também por respeito ao
cidadão, cujo nome me recuso até a morte em declinar, segundo o próprio,
ao escorregar, caíra sentado sobre uma cebola. Na hora não atinei bem
para o fato, o quê que uma cebola poderia causar de mal a um cidadão?
Como
ortopedista que sou, fui logo perguntando ao mesmo se tinha machucado
ou se estava sentindo alguma dor, já meio aborrecido de ter sido chamado
às pressas para atender um caso aparentemente sem maiores
conseqüências, pois o cidadão estava caminhando com certa normalidade,
embora sentisse que estava mais empertigado do que de costume.
Para meu espanto, aquele homem, tão sisudo, com aspecto de seriedade inconteste ao se ver sozinho comigo me disse:
- Doutor, o senhor não está entendendo, eu caí sentado sobre a cebola e... Como posso dizer? Ela entrou...
Tentei
me atinar por que aquele senhor estaria desnudo àquela hora da
madrugada, pois já passava das 2 horas da manhã, mas, na hora fiquei
quieto, inibido talvez pelo inédito fato.
Claro que, a cebola seria
expulsa naturalmente sem nenhum problema, mas devido ao constrangimento e
pânico de tal cidadão, resolvi “ajudar a natureza”.
Pois bem, ao ser
anestesiado o esfíncter, para minha surpresa, a cebola era das grandes
e, pelo fato de estar devidamente intumescida, não foi muito fácil
retirá-la.
A partir daquele dia, o “sisudo” senhor, cada vez que me
encontrava, abaixava a cabeça, e nunca mais voltou ao Hospital, pelo que
me consta, a partir daquele dia, sempre que sentia alguma coisa, se
dirigia imediatamente à Carangola, cidade mais próxima, onde o risco de
alguém saber de suas preferências, digamos, leguminísticas, eram
desconhecidas...
MARCOS LOURES
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