segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DE OLHOS VERDES E DE ASA BRANCA

DE OLHOS VERDES E DE ASA BRANCA 

 

 

 

Tanta tristreza na terra
Sem chuva no meu sertão
Os bichos solto na serra
Morrendo de insolação
Os home me aprometero
Traze pro nosso rincão
Um cadinho de esperança
Um dias nóis já se cansa
Dessas tanta enganação
De falar pru móde a gente
Votar nus home safado
Que pur engano, serpente
Dexano o povo doente
Sem oiá dispois pru lado
Dispois de nóis ter votado,
A mando dos coroné,
Prometeno prus roçado
Ajuda mode brotar
As semente semeada
Do mío e desse feijão
Nossa gente tá cansada
Já num qué sê inganada;
Já pensei inté parti
Lá pros lado de Sum Paulo
Tenta vê e consegui
Um trabaio mais decente
Que possa faze da gente
Mais que a gente é aqui,
Aqui nóis tudo é sufrido
Nosso povo ta perdido,
Num tem quem ajuda nóis
Meus fío passano fome
No calor a chuva some,
Nem restando a asa branca
Que bateu asa e voou
Lá pra riba da barranca
Nem água o rio restô
Seca matou tudo aqui
Eu já tenho que parti
Pra mode sobrevivê
Vo dexa meu bem querer
Dexá minha pobrezinha
Adeus amor, a Rosinha
Dos óio verde bonito
Esse canto mais aflito
Foi composto pra você
Mas hoje esse sertanejo,
Homem que com muito pejo
Nunca manteve o desejo
De sair do próprio chão
Pois bem sabe e é verdade
Que mesmo na mocidade
“Quem sai da terra natal
Em outros canto não pára”
Fazendo do seu varal
“No último pau de arara”.
Esse homem tão brioso
Vindo do mundo horroroso
De miséria e exploração
Sabe bem que esse seu chão
É a maior das bandeiras
Tem significação
Contra todas bandalheiras
Feitas nesse seu sertão
Com a morte das meninas
Com as vidas severinas
Dessa grande multidão
De brasileiros famintos,
De esperança mais extintos
No sangue pouca tintura
No pele já tão escura
Pelo sol tão ressecado
Quanto mais desesperado
Lutando qual bicho solto
Não adianta o revolto
A luta é pra não morrer
De fome quando criança,
Velhice antes dos trinta,
Miséria no pouco a pouco,
Tentando não ficar louco,
Pedindo a Deus o perdão,
Pelo seu grande pecado
Que foi ser depositado,
No meio desse sertão
Do amor despreparado
Que gera sempre um bocado
A mais do que permitido
Perdão pedindo ao Senhor
Só pru mode ter nascido!
Mas eis que uma coisa vem
Notícias da capital,
Parece que tem alguém
Filho das mesmas paragem
Pernambucano da terra
Severino como a gente
Como Luiz batizado,
Um nordestino arretado,
Cabra de muito valor.
Foi eleito presidente
O maior representante
Do nosso povo carente
Que sonhou com esse instante
E ele não decepcionou
Agora, mesmo na seca,
Essa fome não assusta
Como antes ela assustou
As coisas tão melhorando
Já ta, no povo deixando
Essa nova sensação.
De já não ter tanta fome
Dando pro povo o que come,
Os homens e não os bichos,
Viver já dá, sem caprichos
Mas isso é o começo eu sei
Por isso nele votei
E quero ter já de novo
Para o bem do nosso povo
Esse cabra presidente
Pois bem sei que ele já sente
O quanto a gente quer bem
A quem nos trata por gente
Pra quem nós somos alguém;
Pro nosso povo sofrido
Que julgava ter nascido
Por castigo ou por vingança
Esse nosso povo dança
Nos olhos traz esperança
Nem é preciso asa branca
Aparecer na barranca
Nem carregar na sua anca
Nem procurar por partida
No pau de arara, sofrida
Sua lida vai mudando
Conforme Deus espalhando
Pelo sertão mais inteiro
Um belo e doce janeiro
Invernando o coração.
Olhos de sua Rosinha
Espelhando o meu sertão
Do verde dessa esperança
A espalhar na plantação!
 
MARCOS LOURES

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