A LUTA INCESSANTE
Nas minhas mãos cansadas, a luta incessante da lida, os ouvidos
atentos, espreitando o canto do amanhecer, refletido na lida distante e
constante, na tímida fragilidade das esperanças acalentadas pelo gosto
da aurora, brilhando por sobre os edifícios e barracos.
Minha
vingança nunca tarda, retrata o tempo esgotado, o ardor mitigado da dor
da contradança consumada num ato insensato de perdão.
Quero a
pretensão de ser livre e morrer no mar, no amor e marte, na sorte dos
destinos sem tatos e sem tinos, sentidos expostos e impressionantemente
vagos.
Quero o vagão do trem passando pela porta da namorada, na
amada alma, animada festa, pela fresta da porta entreaberta, na
cidadezinha pacata, acatando o recato e o recado das meninas, que me
ninam e me transitam, corpo e alma...
Quero o orgasmo da chama
ardente no peito, no contrasenso imenso, imerso, às avessas, bailando a
esmo por entre sentimentos e lamentos, meus momentos mais frágeis e
cruéis.
Nos reveses, as lacaias dores, amores vencidos e passados a
limpo, num timpânico reboliço, noviço e vicioso, contraposto e
audacioso, num exposto e nevrálgico alento.
Quero ter o termômetro e o
tormento, o acento e o incestuoso desejo de amar a mã terra, minha
origem e meu ocaso, por acaso, companheira de tantos tempos e temores.
Na
natureza soluçante de meu amante peito, perto e completo, complexo e
sem nexo como o vai e vem das ondas, das vastas ondas do meu mar, marés e
manhãs são, sobremaneira enfáticas nas mãos cansadas da tarde
crepuscular da da existência.
Quero a clemência pelos pecados, pelos olfatos e carícias, pelas delícias algozes, vorazes e velozes que me conduzem ao orgasmo.
Quero
o marasmo da vida o cansaço do depois, após o cio, o vazio do prazer
satisfeito, do tudo feito e nada compreendido, no sarcástico sorriso
preciso e necessário, dos vários modos de amores- perfeitos, mesmo
contrafeitos, do feitio exato, do ato exalando o olor de todas as dores
que o prazer proporciona.
Sei ser o não fui, nem sei nem serei, sei
ser o calado, o mudo e sensato, mesmo que, na insensatez da tez que a
vida apresenta, sei me conter no infinito, no rito mais melodioso dos
cantos mais belos, nos vôos perfeccionistas das artistas borboletas.
Sei o amor da mãe, numa manhã, numa manha, numa sanha que assanha e debocha, desabrocha no outro colo, no solo do amor maior.
Do amor divino pelo atino e desatino, desalinhando cabelos e novelos da lã mais bonita, numa multicolorida esperança.
Falo
do tempo, do tento, do invento e contrato, do cadarço do sapato que a
surpresa desamarrou, no tropeço mais distante, num concerto mais
vibrante, consertando o que fora erro e desterro de um sonhador.
Meu
gesto tresloucado, atado a cada passo, num compreensível desgaste, num
arremate fatal, trazendo a tradução do trabalho que atalha o complexo
processo de batalhas pela sobrevida anunciada, com os medos e cantigas
esquecidos no fundo da memória.
Marcho para o misto de broto e poda,
num eterno ziguezaguear do parto e morte, arrematando-me integralmente
para o futuro, escuro e vago da brisa e tempesta, da festa e sofrimento
que acalentam e acalmam, que riscam, cometas e cometem as mesmas
intransigências que nem as clemências nem as impotências podem traduzir
mais corretas.
Por fim, tenho meu mundo nas mãos cansadas, mas soltas, arrematadas para o amanhã.
Ditos
e mitos são meus cálices onde mergulho e naufrago, onde me embebedo nos
tragos trazidos pelo transitar dos meus segredos, os medos e os cantos.
Meu pomar de carinho, meus ninho, aninho-me, te acarinho, mas morro, sozinho...
MARCOS LOURES
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