sábado, 21 de outubro de 2006

Textos até 12 de outubro

Cidades
Cidades não são verdes nem vermelhas,
O povo não se mede por palavras
No fundo labaredas são centelhas
Quem dera se certeza desse em lavras...

As mentes que remetes são ovelhas
Perdidas procurando por pastor...
Nas distâncias, ofensas quebram telhas
Deixando sem cobertas nosso amor...

Beija-me então, valhei-me meu Senhor...
Quem caminhava por pedras e tropeços,
Quem sonhava desejos e torpor

Não merece mais novos recomeços...
Amanhecer sensatas calmarias...
Descobrir as paixões de cada dia...


Dados que já rolaram
Dados que já rolaram destruídos
Rugindo tempestades sem sentido...
Na quilha dos desejos percebidos
O medo transportando, vou perdido...

Criaturas deixando seus olvidos
Nos roseirais delírio desvalido.
Nas hispânicas lutas meus sentidos...
Dado que sempre rola, destruído...

Mensagens sem remota qualquer chance
De resposta por quem não deseja volta...
Na montanha risonha do romance,

O medo desafia pede escolta.
Se foste meu amor, não és fiancè,
Meus dados que rolaram na revolta...


Dos Idos
Dos idos decididos pelos dedos,
Medos empedernidos nas montanhas,
Meus vasos perfurados pelos medos,
Nas novas valentias, velhas sanhas...

Quem dera se salvassem os segredos...
As bocas que sensíveis sempre arranhas...
Dos tempos que perdi nestes vinhedos...
Os ossos que me deste, tantas manhas...

Dedos acariciam belos seios,
Medos se vão esquecem capoeira...
No que se pode ser serás os meios

Pelos desertos que conflagras da poeira,
Dos idos que não disse meus anseios.
A marca da pantera na soleira....

Segredos
Segredos sondam medos e não negam
Não deve-se sentir tantas promessas,
As cordas que rebentas não me entregam,
Os motes que me deste não mais versas,

Os pomos mendigaste e se renegam,
Nas fugas pro Everest, nossas conversas,
Nos altos do Himalaia se navegam,
Areias dos desertos, terras persas...

Segredos que venero sem fortuna,
Amantes se escravizam sem perdão,
Nos mares não navego velha escuna,

Remendos que fizeste no porão,
Nos álgicos enredos desta luna,
Embriagado, tonto coração!
Se regam...
Se regam e carregam velhas mantas
De tantas quantas quotas foram nossas,
Amores que não cantam outros mantras,
Os olhos que choraram lautas poças...

Marcas que cicatrizam seguem santas
Antes fossem vertentes mas não fossas,
Nos caminhos que pacas andas antas
Outros olhos pedintes, mesmas roças...

Se regas e carregas velhas águas,
As moças que conheço meu passado,
As outras que já tive nem anáguas

O medo que deixei não vai brotado,
Os olhos que rasinhos destas mágoas,
No verso que me invento, sem recado...
Plantas
As plantas que me deste não refazem
As noites que perdi te procurando...
As cores que elas vibram já não trazem
Amores que deixei não vou a mando...

Azares são medidas que me trazem
As horas que perdemos nos amando...
Angústias estrangeiras não comprazem,
Amiga quem me dera fosse brando...

Beijando-te com calos nos meus lábios,
Crivando-te de herpéticos sorrisos,
Derivo minha nau sem astrolábios,

Espero que não sejam mais precisos
Favores que iludindo, forjam sábios,
Gritando por mistérios mais concisos...
Dilema
Comprazem de total insensatez
Disfarces que mentiste neste baile...
Espero pela dança e minha vez,
Fugazes as carícias pedem braile...

Girando pelo mundo girassol,
Há muito mais mistérios que pensei...
Imagino um cansaço morto ao sol,
Jorrado das saudades que deixei,

Liberto meus fantasmas no poema,
Mas canções favoritas do cancão.
Nas matas sertanejas meu dilema

Ouvindo as fantasias volto ao chão.
Pressinto melodias, velho tema,
Quebrando sem porque meu violão!
Melânico Verão
Na tez que voltaria se não fosse
Melânico verão com fortes raios...
Bronzeia tempestades. Me confesse
Amores que te ferem e balaios

Onde astutos teus gatos já não miam.
Neologias criaste com versões,
As horas quando passam não se fiam,
Imersas as imensas amplidões...

Se quiser esperar não te retorno,
Meu barco não virá, tenha a certeza!
Nas palhas da tapera um velho forno,

Nos olhos da morena essa tristeza,
A vaca que mugia era holandesa,
O sol que me incendeia, manso adorno...
Ancas
Nesse osso colossal das suas ancas,
Balanças meus olhares, perco o rumo...
As noites que vivi, se foram brancas,
Agora que te sei, já peço aprumo...

As mãos que viajantes seguem francas.
Dos beijos penetrantes quero o sumo,
Sangria desatada não desancas,
Quadrantes absolutos sobem, fumo...

Menina me ninaste me enganaste...
O brilho do que fui já degenera,
Amor que não desnuda não se gera,

A dor que me legaste faz contraste,
Amantes somos loucos, mansas feras,
Nas ancas que rebolas, me mataste...
Bijuteria
Esmero esmeraldina sensação
Dos olhos da mulata que sonhei.
O verde que esperança um coração,
Nas turmalinas vertem minha lei...

Dos hortelãs e mentas, meu refrão...
Dos peixes que menti jamais pesquei,
Um lambari gigante é tubarão.
Com sereia postiça me encantei...

A sensação que esmero, esmeraldina,
Me traz antiga e mansa calmaria,
A moça embriagada, minha menina,

A lua que brilhou traz pleno dia,
A moça que mofina, Dolantina,
A pedra que te dei, bijuteria...
Tortura com estrambote
Ação que nada serve se não oca
A mor de todas dores amorosa...
O cômodo sentir que não estoca,
Augustos esses anjos, mansa rosa...

Meus fâneros feridos farta foca...
O preço que pedi não paga a prosa.
Da terra que me encerra, uma minhoca.
Ouviram do Ipiranga rancorosa...

Ação que nada serve faz mentiras,
Omissos paisanos perigosos,
As danças que torturas, mansas liras,

Os ombros que empinaste, orgulhosos,
Com mãos que me carinhas, também tiras,
Os troncos que lanhaste, são frondosos...
Cortaste tantos sonhos, de saída,

Fingiste mansidão que vai perdida,
Açoitas quem beijaste, secas vida...
Piquenique
A boca que reboca não me toca
Carrega suas manhas para o fim...
A vida que embrenhei no breu da toca,
Nas noites que mataste dentro em mim...

Recebo as sensações da dura roca,
Quem dera não tivesse tudo assim,
Amor que não me leva, me reboca...
De distantes estrelas donde vim...

Não voltarei jamais de minha senda.
No caminho, lembranças que se aplique
Amor que não me leva, uma moenda...

Não quero nem te peço, jamais fique...
Amor que não me leva, traz a venda...
Quem sabe então fazer um piquenique...
Bem me quer
Retoca quase sempre seu batom,
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, leva o tom,
O quadro que apresenta me consome,

Nas guerras que mendiga sou o front,
Nas luas que mergulho clara fome,
Cosméticas certezas, cor do som,
Não deixe de me dar seu telefone!

O bem que me quisesse nunca viu,
O bem que bem me quer no malmequer,
E se não mais pergunto, sinto vil,

O rosto se espairece, da mulher...
O pranto que correu mais infantil,
No choro empalidece, não me quer...
Baio
O tom que te mandava não desfaço,
É sempre meio opaco mas sincero.
O perto do mineiro dá cansaço,
De agosto a fevereiro, não te espero...

O campo já me deu régua e compasso,
Comparsas, companheiros lero-lero,
Menina quero ter o teu abraço.
No teu canto imagino um quero-quero...

Minha vida inteirinha já te dei...
Não puseste cabresto agora saio.
No que queres escravo finjo rei,

Capoeira, rasteira, nunca caio,
Das alturas agruras foram lei...
Cavalo que montaste? Eu já sou baio....
Laço
O laço que te prende não converte,
Amor que negaste,em doce mar...
O frio que produzes nunca verte,
As mangas arregaço e vou lutar.

Nas horas mais difíceis não se inverte
Os símbolos vorazes vão sangrar...
Meu corpo que deixaste mais inerte,
No norte que me lego me estampar...

O laço foi brinquedo de criança
Mordaz que me deixou sem sortimento.
Nada faz repetindo, tudo avança.

O parto que não vinga é sentimento.
O medo que delegas sem fiança
Do laço que me deu contentamento...
Veredas Tropicais
Convertes nas veredas tropicais,
Os sonhos que tiveram nossos pais.
Barqueiro que jamais esquece o cais,
Velejas seus veleiros, pedes paz...

A morte não percebe e tanto faz,
Amar quem já amei, penei demais..
Carpidas tantas mortes, imorais,
Mentias quando vias seus sinais...

Os olhos que não cegam pedem mais;
América procura ser capaz,
Os rios que perdi mananciais,

Os medos que causaste vis, boçais.
Os trastes que legaste são portais
O continente, nova vida traz...
Omissão

Os mares que navego são bem poucos,
Os sonhos que freqüento sem saraus,
Os homens que se omitem fingem loucos
As horas mais insanas geram caos...

Nas égides dos mantras que não cantas,
Repetes teus sonidos, são sinais...
Os males que criaste, matas plantas,
Os homens que se omitem são boçais....

A farpa que penetra nossa entranha,
Estranha não pondera nem desmancha.
Palavras agressivas, vil patranha,

Caminhas tantas mortes nessa prancha.
Carinhos dos mal-tratos dum meganha..
Quixotes ressuscitam-se na Mancha...
Loucos Sentimentos
Os loucos sentimentos não mereço
Padecem de total insanidade.
O passo que me dás é meu tropeço,
As rugas denunciam minha idade...

O mártir inconfidente vem avesso,
O fato que me veste, da saudade...
Os sentimentos levam adereço,
O sol que me governa, claridade...

Mas não me peças nunca que te calce,
Os braços cicatrizam tendinite,
Nas luas que me deste, sem realce,

Os medos são telhados de eternite...
Não quero nem aceito essas verdades,
Os loucos sentimentos, tempestades...
Amar Continuamente
Se meço não convenço nem te peço
Nem quero convencer quem não merece,
Amores que menti, nem desconverso,
As noites que passei, omitem prece,

Meus olhos procurando vou disperso,
Nem tudo que proponho me acontece
Nos versos que te fiz, meu universo,
Se meço nem te peço, me confesse...

O vasto seringal dos meus amores,
As flores imortais que não plantei,
Os cais que enclausuraram nossas dores,

O medo de saber que nada sei.
Nas procissões que fazes, meus andores,
Amar continuamente, minha lei...
Obeso
O peso que me deste fraudulento,
O rosto que me mostras enrugado.
Nos braços que me ergueste fui detento,
Amores que sangraram no passado.

Não peço nem desculpas nem alento.
Retorno desse sonho apaixonado.
Amores que singraram pedem vento.
Agora vou ficar aqui do lado...

Não quero me omitir deste defeso,
Nem volto minhas costas para o mar.
Amores que sangraram, indefeso

Deixaram coração que quis amar...
Amores que sangraram, vou obeso
O peso que roubei deste luar...
Requinte
O mento que o mentor nunca media,
No dia que me deste nunca minto.
As vendas nos teus olhos meio dia,
Faz tempo que não sei do vinho tinto.

As danças impossíveis nessa orgia
Dos corpos enredados nada sinto,
Explodes nas delícias de Maria,
Me embebedas, vadia, num absinto...

Se não vou, configuras um acinte,
Se não quero apimento e sou mentor.
Dos anos que vivemos, mais de vinte,

Os olhos se perderam sem pudor...
As camas desfazemos num sprint,
Os sexos misturados com requinte...
Erva Daninha
Tormento que me deste ao meio dia
De tarde já se torna brincadeira.
A morte que me queres não varia,
O mundo que me negas, nem bandeira...

O ramo da oliveira que trazia,
A pomba não se cansa, verdadeira.
A pétala converge poesia,
Benzinho, vem dormir à minha beira!

Na pessoa do prato que cuspiste
Te peço ir bem mais mansa com andor.
O passarinho preso pede alpiste,

A gaiola que deste com amor,
É prisão que jamais alguém resiste,
Erva daninha também cede flor...
Maria Não Merece
Maria não merece ser feliz,
Depois do que ela fez, nem mesmo reza.
O mundo se disfarça nessa atriz,
Amor que na verdade não se preza.

As valas que enfurnaste no céu cris,
O bando que comandas morde, presa...
Nas marcas que fizeste, cicatriz
De giz, literalmente vil se enfeza...

Maria tem pudores de falsária,
Vendeta de primores indecentes,
Vivendo de sugar a plebe otária

Que lambe e sutilmente crava os dentes.
Transmite se puder, gripe aviária,
A desvairada emana dos dementes...
Lua Ninfa
Me diz a minha lua entrelaçada
Nos braços da sutil enamorante
Que tudo que passei não deu em nada,
Que a vida recomeça d’ora em diante...

O peso que carrego na lombada,
É peso que me aflige, sou farsante,
O medo de romper a madrugada,
Adormecido ao lado da tratante...

A lua se entrelaça com cometas,
Deitada se mostrou ninfomaníaca.
Deslumbra-se com sátiros, ninfetas,

As pernas se misturam, brancas, pretas,
A lua dá risada demoníaca.
Se abrindo dadivosa, tetas, gretas...
Quebraste
Amada, com certeza, não se mede
Amor por horas tontas que passamos.
A porta que me fechas não me impede,
De termos divinais como sonhamos...

Vivemos capturados mesma rede,
O mar que poluímos não lavamos,
No canto que te canto vejo a sede,
Notícias, novidades, nos reclamos...

Amada, com certeza, não te quero.
Vendeste por tostão o que era nosso...
Refúgios que procuras, no teu clero,

São contas que não pago e nem endosso.
Transformas em venéreo o que venero,
Quebraste finos pratos onde almoço...
O tempo que queria
O tempo que queria não se esconde...
As mãos que trazem rosas, têm espinhos,
O desejo que tenho não é bonde,
Meus cardos multiplicam nos caminhos...

Derreto-me no inverno como um fundi.
As urzes se revezam nos carinhos...
O beijo que me morde, me confunde...
Nas alquímicas mágicas, cadinhos...

Não passo sem sequer pedir licença,
Amar demais passou a ser doença;
A vida não merece recompensa,

O parto que me negas se dispensa.
A loca que me empedras mata a crença.
Amar demais é trauma p’ra quem pensa...
Amor de Ébano
Quando queres verdades, dás mentiras,
Quando mentes cidades, vives campos,
Sertanejas sandálias nunca tiras,
Atiras nos pacatos pirilampos...

Me negas sentimentos que padeces,
Nas preces a prudência não te salva,
Nas horas mais vividas desfaleces,
Perfumas meu cadáver com a malva...

Vencida não se entrega quer vingança,
A lança que quebraste já não fere.
Desferida esperneias esperança,
Na dança que fingiste não me espere.

As amas que secaste não deleite,
O leite que me deste foi azedo,
Azado este momento, me respeite,
Aceite meu tormento por segredo...

Arremedo poema não tem fim,
A fim de esquecer tua falsidade,
Verdade é que não gostas mais de mim.
Carmim a boca doce da saudade.

Vontade de ficar mas tenho pressa,
Confessa que não viste este penedo.
O medo me transfere para Odessa,
Dessa mesma maneira que me enredo...

Vontade de voraz caricatura,
Na escura mansidão que não me negas...
Navegas pela mata mais escura,
Candura que fingiste não me apegas...

As pegas corvorizas nas sarjetas,
Tarjetas que ultrajaste incompletas...
As fases que tiraste dos cometas,
As bocas que lambeste vão repletas...

Vontade de saber o que não cabe,
Amarras os convés e não ancoras,
Descoras insensatas regalias,
Nas gralhas que imitaste sem demoras,
Amoras que comeste em noites frias...

Versículos, capítulos, promessas,
Compressas quase nunca são bastante,
Distante de meus olhos, já me apressas,
Verdades sempre em forma delirante...

Nas teclas que pianas operetas,
Nas marcas que maceras nas maçãs,
As maças que amassaste nas vendetas,
As vendas que fechamos, cortesãs...

Amor, te quero mesmo sendo insana,
Amar-te é ser o mesmo que não ter...
Calor demasiado a vida abana,
A morte é a vontade de viver...

Entre tanto entretanto na entressafra,
A pele que compele se completa...
A mão que me ebaniza da deusa afra,
Das paixões que me deste a predileta.

Amar a tal pantera me inebria,
Originariamente me devora,
Cigarros que fumei na noite fria,
A tosse intransigente me decora.

Amar a negritude desta bela,
Nos laços dalmatizam meus amores,
Contrastes sempre foi forma singela,
Da homenagem que peço enfim às flores...

Amando-te esperando meu desejo.
No canto que te embale a despedida...
No gosto chocolate de teu beijo.
És a razão final de minha vida!
Escancarada
Não me queira falar de passado,
Essas águas não movem mais moinho...
Não proponho saudades ao te lado,
Amor que já vivi morre sozinho...

No frio deste quarto, congelado,
Casaco que me deste, dum arminho,
Mão que procura em vão sofre um bocado,
Amor encontra pranto, é seu vizinho...

Não me queira dizer que mudaste,
As pedras que se rolam são só pedras...
Os olhos que mentias, vigiaste,

O resto da canção desafinada,
Amor que já morreu; por certo, medras,
A dor já me envolvendo, escancarada..
Amor impossível
Na espera deste amor que nunca vinha,
As noites que passei foram sem fim...
Dormias tão distante... Julguei minha
A mão que não passava nem por mim...

Não posso perguntar pois, se advinha
Da tua boca o brilho de um carmim,
Ou era do meu sangue. Numa linha,
Um bêbado bebia do teu gim...

As mentiras formaram as estrelas,
Distantes dos meus olhos, não alcanço...
Ó Meu Deus, como posso convertê-las?

Amor que me negaste, flecha e seta,
Nos bailes que perdemos, nunca danço...
A dor de tanto amar, me faz poeta!!

Olhos da Serpente
Nos olhos da serpente que me beija,
Os traços definidos da maldade,
Carinhos são disfarces na peleja,
Os sonhos que delegas, crueldade...

A morte tão suave me deseja,
O resto não importa, na verdade...
Veneno que me mostras, u’a cereja,
Que encanta me inebria e dá vontade...

Carinhos se disfarçam em mordidas,
As horas que me dás simples falácias,
As cartas que me mostras, são fingidas...

As presas que me beijas, as audácias,
Mordendo quem amou por toda a vida,
Já destróis, sem piedade, essas hemácias...
As Canções
As canções mais bonitas que fizeste,
Com notas surdas mansas, tresloucadas...
Nascemos sem verdades, plena peste,
Amigos das mentiras e mancadas...

Labirintos fugazes... Não me infeste
De tantas melindrosas madrugadas...
O rumo mais perdido segue leste.
As ruas que percorres alagadas....

As canções mais bonitas me negavas
Ogivas dos foguetes que mentias...
Dos olhos que me mostras, simples travas,

Pantanosas as manhãs que me enterneces...
Nos cântaros cantigas avarias...
As mãos entrelaçadas servem preces...

Nossos versos

Nossos versos, cantigas deliciosas,
Que no meu triste peito inda machucam...
As flores que se abrindo lembram rosas,
As dores que escondidas arapucam,

Nossos versos vagando fantasias,
Santamente doridos me maltratam...
Desfolhando tristezas e alegrias,
Serenamente, chegam e me matam...

Nos versos libertários, tua cela,
Nos olhos melancólicos, nossa cisma...
Nas páginas libertas, soltas sela,

Voamos transbordantes maravilhas,
A dor que se renova, não se abisma,
Nosso versos naufragam tantas ilhas...
Nosso caso de amor

Nosso caso de amor, é nosso livro,
Escrito com saudades e certezas...
Tantas vezes de ti, cego, me livro,
Outras vezes, contigo nas certezas...

Nosso caso de amor, se perde livre,
Em meio a tantas lutas e pelejas.
Quantas vezes disperso, é um Deus me livre,
Outras inebriado, mil cervejas...

Nosso caso de amor, mentira exposta,
Cafunés que se vendem se veneram...
Gerando nascimentos, morte em posta.

Nosso caso de amor, velocidade,
Na porta, mendicantes, não esperam,
A morte que me trazes, da saudade...
Os sóis que trouxeste

Os sóis que te trouxeram, num eclipse,
Desfazem-se, escurecem o meu céu...
Amor que trapezista cria elipse,
Nas cordas violinos dum bordel...

Quem fora destes sonhos um artífice,
Não pode conceber o nosso anel,
Amor dilacerando é um partícipe
Da festa que embalamos, no papel...

Tais dias, testemunhas arranjamos...
Forjamos espetáculos sem nexo...
Logo, logo de farsas ultrajamos

Quem julgara sentir felicidade
No final disso tudo, sem complexo,
Sabe que não restou sequer saudade...
Sabor da Malícia
Quero o sabor discreto da malícia
Que emanas do teu corpo sedutor.
Quero comprazer de tal delícia,
Poder ser deste corpo, o condutor...

Cada vez que me tocas, a sevícia
Me invadindo, transborda-se em amor.
Tentáculos vorazes, dor fictícia
O campo que mergulha a bela flor...

No desejo descrente que me dás,
As ombreiras das mágoas perdem força.
Corredeiras velozes, sou audaz,

Amor que não vigora, finge corça.
Nos capítulos fatos e mentiras.
Das flechas de Cupido que me atiras...
Outeiros
Nos outeiros deixei tenaz sentido.
Das tuas virulentas primazias.
Arfante prosseguindo combalido,
As dores que me causas, as azias...

Nos pátios decidido passo tido
Como feroz certeza que mentias..
Nos outeiros que subo, estou perdido.
As tardes sem teus beijos são sombrias...

Nos campos que percorro, sem ter medo,
Nos dedos que me tocam, vão passagem..
Os rumos que convergem num segredo,

A sombra do que fomos, a miragem,
O canto que dispensas, nosso enredo,
Amores que perdi nessa viagem..
Medo
Por medo de sentir a mão vazia,
Os olhos desprovidos de futuro;
Vasculho por inteira a poesia,
O monte que me medes tão obscuro.

Nas pontas dos meus dedos, a magia,
Nos lastros que me firmam, me procuro...
Na carta que te escrevo e nunca lia,
Doença que me invade e nunca curo...

Por medo de entreter e ter escrúpulos,
Não quero perceber a tua voz...
Fermentas sentimentos feito lúpulos.

Carcomes o que resta do oceano...
A mão que não espalma mais feroz,
Desfia neste corpo mapa e plano...
Nossas danças
Novas danças nuances e carícias,
Nas andanças que faço, traço o senso,
Sensuais e carnais nossas delícias,
Refletem esse amor que sei imenso.

Dos corpos que conflitam as sevícias,
Nas tramas que tingiste contra-senso,
Rolamos sem querer senso e polícias,
Nas lamas, chamas, vértice tão tenso...

Acordas com misturas, tantas pernas,
Massacre de delitos sem pudor...
Bulindo fantasias, não te invernas,

Nem pedes por clemência nem as dou...
Desejos explodindo desse amor,
Nos campos que deliras, faço o gol...
Teu Corpo Junto ao Meu
Quero teu corpo junto ao meu, sincero..
Quero tuas mãos mansas, sem clemência.
Nos atos que desatas sigo fero,
Mastigas com desejos, inocência...

Nos mitos que digeres, sou teu clero,
És dama que imaginas indecência,
Amor que não se troca, não espero,
A vida se contrai, coincidência...

Nas bocas que procuram por mamilos,
Nos lábios que procuram pelas bocas,
As coxas que se roçam, seus estilos,

Os mantos que se rasgam furiosos...
Penetram tantos dedos, tantas tocas,
Os medos não prosseguem, curiosos...
Vestido de Noiva
No vestido de noiva que alugaste
Os lugares perfeitos encontrei.
Não há sofrimentos que te emplaste
Nem há sortimentos, pura lei...

Calores que por certo, me tomaste
Escarneces forçando o que te dei,
Marasmo com orgasmo velho traste,
Nas rodas do quem dera já dancei...

Roubamos gentilezas disfarçadas,
Levezas que mostraste, são pesadas...
Românticas penumbras que clareias,

Pertuitos mais fortuitos impotência.
Não quero ouvir pedidos de clemência.
O fogo que prometes não ateias..
Sarcástico
Desculpe se pareço-te sarcástico,
Sou fruto deste mundo que me deste...
O rosto que fingiste segue plástico,
O medo de viver gerou a peste.

Nos saltos que tentei, pareço elástico,
O franco atirador, foi simples teste...
O prazo já venceu, isso é fantástico,
O tomo que hoje li, foi inconteste...

Recebas um carinho como um tapa,
Dilaceres a mão que não te roça,
Dos livros que te dei, sabes a capa,

As hortas se definham, sem verduras...
A casa que vivemos, é palhoça,
As noites que me deste são escuras...
Pintassilgos

Encantam pintassilgos na gaiola,
Da mata que cantavam nada resta,
O mártir que ensinaram lá na escola,
Depois do feriado, vem a festa...

Nas feiras que investiste uso estola,
Os versos que me encantas não contesta,
Não quero teu carinho como esmola,
Amor que não se dá nunca mais presta....

Cabeleira alourada e perfulgente,
Nos brilhos deste sol fazem reflexo,
Amparos que me dás, impertinente,

Os olhos que me trazes são quimeras...
Te quero meu amor, delírio e sexo.
Não posso penetrar essas crateras..
Giros de roda
Giros arrastados na cantiga,
Na roda que me deste nada fiz...
As mantas que me cobres, forte viga
Sustenta quem amou, foi aprendiz...

Não vejo nem desejo que consiga
A mão que se caleja nada diz,
O medo que me impede que prossiga,
Fornalhas que incendeiam, céu mais gris...

Nas bordas dos recôncavos estrias,
Nas cordas das sonoras melodias,
Nos bancos que me trazem teu passado.

Nos cancros que causaste sem perdão.
Amor que me percorre aliviado
Explode num momento, o coração!
Bandalha
Quem finge sentimento na bandalha,
Nas praças são falácias e fantasmas...
O corte que promete tal navalha,
Nos montes que subimos são miasmas,

Cantando teu deboche qual de gralha,
Expeles teus gemidos, finges asmas...
Na morte que tentaste sem metralha,
As camas que dormimos, quedam pasmas...

Quem vive sortimento de defeitos,
Impávida respira meus pecados...
Quem finge sentimentos imperfeitos

Não pode concluir pequenas frases,
Amantes se deixaram, velho prado...
As pernas que se quebram, perco bases..
Não te vi, nem pretendia
Não te vi, nem pretendia
A noite não traduz dia...
Versejando fantasia,
Esqueci da melodia...

Amar demais a Maria,
Que sei, jamais, amaria...
Todo amor que se cumpria,
A dor que no peito estia...

Não te vi, nem pretendi,
Jamais pude estar aqui,
Por tanto tempo vivi,
O teu amor esqueci!

No teu livro tanto li,
Depois de tudo perdi
O prumo. Meu souvenir,
É saber que estás ali...

Não te vi nem pretendia,
Jamais pude estar aqui,
Versejando fantasia,
Por tanto tempo vivi!

A noite não traduz dia,
Não te vi, nem pretendi,
Esqueci da melodia
E prumo, meu Souvenir..
Minha Alma


A minha alma, tristonha caminheira,
Buscando pelos passos de quem amo...
Nas endeixas perdida por inteira,
Nos braços de quem peço, triste clamo...

Como a criança sofre com os medos,
Os gozos que persigo atemorizam...
Nas vezes que persigo seus segredos,
As dores de minha alma traumatizam...

Pomba rola que voa sem destino,
O pântano que me deste de presente,
Causando em mim, perjuras, desatino,
O nada que se perde, nem pressente...

As noites sem sentido, são mundanas,
Os beijos que teimei foram ocaso,
Tais marcas de veneno que me empanas,
São formas de viver simples acaso...

A noite que mendigo é tão aflita,
Perdido nesta mata, neste bosque...
No peito silencioso a alma se agita,
Nas noites tanta perna que se enrosque...

Minha alma, empedernida, não se acorda,
Dos sonhos que alucinam meus sentidos...
A borda do que somos, perde corda,
Os montes que vivemos, dos olvidos...

Minha alma, procurando pelo alvor,
Destila toda cor de bela aurora,
Trepida, procurando por calor,
A vida que me deste foi embora...

Quebrado todo o pote, foi-se o doce,
As pombas que cantaram, seu arrulo,
Quem dera que restasse nunca fosse
Amor que me encantava, já não bulo...

Ouvindo toda noite tal soluço,
O canto das cigarras não se imita,
Nos trotes do cavalo, rocim, ruço,
O peito tartamudo louco, grita...

Procuro por passagem neste porto,
Espero conseguir um novo pouso...
Um resto de sentido queda morto,
Das tétricas saudades, sou esposo..

A porta que fechaste, gemedora,
Não pode nem sequer por isso chora,
A mão que me carinha, redentora,
Olhar que agora lanço, já te implora...

No meio de tristezas tudo somo,
No seio desta noite, pleno breu,
O mundo se ilumina deste assomo,
O tanto quanto amei já se perdeu...

Perdendo meu sentido e toda a calma,
Pressinto renascerem ilusões,
São falsas e disfarçam a minha alma,
Sentidos e promessas, ilações...

Quem dera tanto amor de duas vidas,
Não fosse de repente assim fanado...
As marcas que me mostram despedidas,
Percorrem sem destino os feros fados...

Quem duvida não pode nem quer crer,
Amar um triste jogo, perigoso,
Mesmo que ganhe, sempre vai perder...
A mão que te machuca te dá gozo...

Exclama tempestades sempre já...
Nunca espera nascerem novas folhas,
A lua que brilhou não brilhará.
As rosas que espreitaste não recolhas...

As páginas que tanto foram lidas,
São restos do que vida, já se foram...
Carinhos que me deste, despedidas,
Os medos qual foguetes, sempre estouram...

As dores que me urtigas são remotas,
As noites que me levas são chorosas,
De tanto que sonhei perdi as cotas,
Amar sempre traduz, maravilhosas...

Quem dera dedicar todo meu canto,
A vida se resume em gesto nobre,
Minha alma vai buscando teu encanto,
O medo da saudade já me cobre...

Num vale dolorido, amor desmaia...
Na pantomima mímicas venais,
A calmaria foge desta praia,
Os olhos embotados, nunca mais...

Não quero nem permito tantas queixas
Do coração que bate nova plaga,
Misturam-se desejos com as gueixas,
A forma de viver tudo, me alaga...

Amar que me pergunta sempre e quando,
As pétalas desfeitas nunca beija,
Nos sonhos que produzes, mergulhando.
A cama se demora e não deseja...

Levanta sutilmente a tua saia,
Sem perceber, audaz, a noite avança...
Deitados envolvidos nesta praia,
Amantes se desnudam, tanta dança...

A vida por tristezas vai banhada,
Nos medos que deixei restaram prantos...
A calma se transtorna, desolada,
Nosso sexo invadindo sob os mantos...

Amor que se delira com afinco,
Na mata penetrante mais escura,
Recebo com delícias o teu brinco,
Amar-te é consumir toda a ternura...

O medo de morrer já me levou
Às margens do que fora um triste rio...
Meu pranto que, de espanto, já nevou,
Derrama sobre tudo um canto frio...

Minha alma de ternuras ressuscita
Palavras que jamais compreendi,
Rompendo meus sinais, resume a fita,
Minha alma vai perdida em mim, sofri...

Minha alma de rancores violentos,
Por céus penetra, infinda, como o medo...
Os campos que conhece, são sedentos,
De tudo quanto tive, um arremedo...

Viscerais tempestades me envolveste,
Minha alma seduzida nunca está
Amar por tantas vezes, inconteste,
Um barco que jamais navegará...

Vasculho por sinais, felicidade,
Esmago qualquer forma de sofrer,
Não peço paciência, veleidade,
Minha alma, nos teus braços, quer viver...

Agora que não tenho solução,
Espreito meu caminho nos penedos...
Aberto sempre deixo o coração.
Carinhos que te faço com os dedos...

Mortalhas que vesti são meus delírios,
Os prados que visito são falsários...
No fundo o que resta são martírios,
Tal qual corvo imitando esse canário...

Nas fimbrias do vestido que desnudo,
Nos pátios destas casas que freqüento...
Não quero teu amor, mas quero tudo,
Montanha que resiste a todo vento...

Dedico minhas noites a minha alma,
O beco que te dei não tem saída...
A boca que me beija sempre acalma,
Resumo a minha alma em tua vida...
Abadias
Nas estradas, estadas, abadias...
Nos caminhos que perco sem vantagem;
As tardes sem o sol, seguem tão frias,
O medo de viver sem ter coragem.

Não quero prosseguir nas cantorias,
Nos cantos sem encanto e sem aragem,
Nas abadias sonhos, fantasias...
Não posso perceber essa abadagem

Que cobras coração desesperante...
Meus termos, rendição, são muito brandos...
Quero saber seguir para diante,

Nos versos que te faço falsos cantos...
Amores que perdi os vejo em bandos.
Não quero conhecer os teus encantos...
Nossas dores
Quando, enfim, abacelas nossas dores,
E tentas ocultar as dificuldades
Que fazem consumir nossos amores,
Em meio a tais diversas tempestades,

Procuras evitar os amargores,
Dispensas solidez, tranqüilidades...
Resumes os outonos já sem flores,
Esqueces primaveras... Nas tardes

Abandonadas vives sem carinho...
O medo te deixou paralisada.
Meu mundo sem verter nosso caminho,

A porta da saudade escancarada...
Abacelando amor, me faz sozinho,
Da vida que sonhamos, sobra nada..
Tempo de Amar
Não me deixe pensar que não me queres,
Os sinais que emanaste, tanta fé,
Com palavras mordazes tanto feres,
Meu amor nunca esqueça, abaeté

Sou... Nas festas milhares de talheres,
Estrelas e cometas fui a pé,
Não pretenda ocultar, nem se quiseres
De tanto que sofri, da morte até!

Teus olhos te traíram, minha amada,
O brilho nunca nega teu desejo,
Nosso caso, essa vida maturada,

Não pretenda nem podes me enganar,
Vem... A noite convida para um beijo...
É tempo de viver, tempo de amar...
Cortiço
Vivemos tanto tempo num cortiço,
As luas nos serviram candeeiro,
O corpo delicado que cobiço,
Sempre fora noturno companheiro...

O quarto tenebroso, abafadiço,
Amávamos perfeitos, por inteiro...
Por quanto tempo nós fomos tudo isso...
Amor assim sincero e verdadeiro...

Um dia, resolveste enfim sair,
A vida te trazendo tal riqueza,
Desculpas; venho triste, te pedir,

Não podes ocultar a realeza,
Mas o meu coração tenta impedir,
O teu ficou aqui, tenho certeza...
Noite Sufocante
A noite sufocante, amargurada,
Celebramos tristezas e saudades,
De resto, sobraria quase nada.
Sabemos tantos campos e cidades...

No rumo que perdemos, sem estrada,
Os bares visitamos, das verdades,
Bebendo, vitimamos nossa fada...
Amantes que perderam qualidades...

Não suporto mais tal abafamento,
Meu ar desperdiçado, sem retorno...
Amar não pode ser só sofrimento...

Dispneico na procura do oxigênio,
Eu tento, transtornado, neste forno,
A lâmpada quebrada nega o gênio!
Novo Bojo
Se nunca abalançaste, meu amor,
Não sabes do balanço dessas ondas,
Não queres perceber o sonhador,
Que queimaste no forno de microndas

Anseio teu desejo, pecador,
A boca que me morde se arredonda
Nos lábios pueris, no sangrador...
A lua remanesce mais redonda...

Não bastam teus delitos nos orgasmos
Me bastam teus delírios mais audazes,
Os olhos permanecem vivos, pasmos,

Amor que me destroça me dá nojo...
A lua desmaiando-se nas fases
Amor vai procurando novo bojo...
De Araque
O meu barco, teimosa, abalroaste,
Não deixaste sequer restar o casco...
Por tantos nossos mares, navegaste,
Restando, tão somente nojo e asco...

Na noite alta, silêncio de deserto...
Ouvindo tantos grilos e corujas,
Sonhando pesadelos, nada perto...
Sorrisos transformados garatujas...

Não tenho mais meu barco, peço cais...
Não tenho mais sentido, perco a paz...
No ancoradouro brusco da saudade,

As falésias impedem desembarque,
Amor que me juraste, de verdade,
No fundo nunca vive, foi de araque..
Noites Escuras
Quando me propuseste teu amor,
Não pude me deter em valentias...
Vadiamos por noites tortas, frias.
A luz do luar sempre trouxe cor

As bocas se percorrem, são vadias...
Devagar com o santo e com andor,
Fantasias vorazes nas orgias...
O teu sexo, veneno tentador...

Abandalhamos todos sentimentos,
Atravessamos ruas e loucuras,
Espelhamos os nossos vãos tormentos,

Amordaçamos lágrimas, ternuras,
Despedaçamos céus e firmamentos,
Somente restarão noites escuras...
Coragem
A noite que maltrata,sempre a mesma,
As frases mentirosas, um refrão,
As mãos que percorri uma abantesma
Guardas tantos rancores, coração...

Nos espectros noturnos, melancolia...
Me mostras meus remorsos, um miasma,
A cama que dormimos, fantasia...
No medo que me trazes, um fantasma...

A noite que maltrata, traz saudade...
As frases que repetes estribilho...
As mãos que percorri, a liberdade,

Não posso retornar desta viagem...
Carregas dentro em mim, o nosso filho,
A noite necessita de coragem...
Corsário Coração Com estrambote
Corsário coração, navega e voa..
Procura por navio que me leve...
Vasculha tantos mares, segue à toa...
Gaivota livre, canto belo, breve...

Meu navio, convés, âncora e proa
Canto desesperado não se atreve
O medo do naufrágio me abalroa,
Icebergs me lembrando tanta neve...

Corsário coração, destemperado,
Nas correntes marinhas se perdeu...
O solo que precisa, despraiado,

O mundo que pensava fosse seu,
O tesouro perdido, vai ilhado...
Coqueiro tão saudoso, já morreu...

As ilhas que deixaste, coração,
Não sabem das procelas nem perdão...
Sorrindo, o sol vigia na amplidão!
Amor paralisante

Amor que me provoca uma abasia,
Cruel não me permite movimento,
Divino me seduz, paralisia
Legando essa saudade, testamento...

Brilhantes e temida fantasia,
Respiro com total constrangimento,
Amor que me perturba, cega o dia...
Não trama nem poder e esquecimento

Explosões nucleares já me causas,
Esperas se transformam agonias...
Batendo desespero, sequer pausas,

Amor que me provoca riso e farsa.
Restando assim, sementes tão vazias,
Amor só, necessita da comparsa...
Abaritonada
Quando abaritonaste tua voz,
Os cantos que iludiam embelezas...
Os prantos se deixaram velhas rezas,
O medo calmaria vem veloz...

A rama dos desejos mais atroz,
Expressa nossos beijos, tanto prezas,
Com fartas novidades, nada após,
Amores e promessas vãs revezas...

Na tua voz dorida, neurastênica,
Me pedes com rancores mil carinhos...
Quem dera não tivesse sido anêmica

A rosa tenebrosa meus espinhos...
Não quero discutir, criar polêmica,
Um passarinho sabe dos seus ninhos...
Abastardamento
Nesse abastardamento, nosso amor...
Inclementes não percebem nosso fim...
Causando sem ter pena, um estupor
Matando, lentamente, impede o sim...

Amor que se firmara perde cor,
Não quero revestir-me deste brim,
Empalideces, passas, um trator...
Perdido vou morrendo, espadachim...

Neste caramanchão de buganvílias,
Os olhos esgarçados de saudade...
Nossos jardins, prometem tantas tílias,

Nada restou senão essa incerteza,
Matar o nosso amor, que crueldade!
Abastardaste, louca, tal beleza...
Mantras e cinzel
Abeberei-me mantras e cinzel,
Nos espelhos reflexos perdidos...
O canto que prometo, meu corcel,
Postergo esses meus sonhos, mal vividos...

Nas contas que fizeste, teu cartel,
Os olhas a beijar, destituídos
Do brilho que flagraste amaro fel...
Os prazos que forçaste estão vencidos...

Eu quero a transparência, camisola,
Eu sondo por distâncias transponíveis,
Amar não tem remédio nem escola...

Os beijos que farturas mais incríveis,
Não me designam mortes nem pistola
Quem sabe transporemos tantos níveis...
Abietáceas
Alamedas, estradas e caminhos...
Nos pinheiros e cedros, tal beleza...
Lá perdi nossos beijos e carinhos...
A mansidão perfaz a sutileza...

Nossos olhos são tristes passarinhos,
Nasceram para a dor, tenho certeza...
Buscando por sossego, querem ninhos,
A vida proibiu tal fortaleza...

Nas mansidões dos rios sem cascatas,
A corredeira leva nossa paz...
Quem dera conhecer as nossas matas,

Nas mãos que se acarinham, ser capaz
De ter a calmaria que retratas,
Brisa fresca que a noite calma traz...
Pandora
Guardaste nosso amor, numa boceta,
Os medos se travaram, não fugiram,
As noites prometidas num cometa,
Partiram e jamais se dividiram...

Amor que me maltrata, de veneta,
Os cantos que misturas, me invadiram...
Não há nem solidão que se cometa...
Os beijos que trocamos, se impediram...

Guardaste nosso amor, Ó vil Pandora,
Abocetaste sonhos e desejos...
Respeite, tão somente quem te adora,

Quem sonha, delirante com teus beijos...
A noite está chuvosa, triste chora...
As melodias, tontas, sem arpejos...
Abissal
Mergulho no teu corpo sou sincero,
Não temo essa incerteza, nenhum mal,
Amor que não machuca, nunca quero,
Mergulho no teu pélago abissal.

Escracho meus sentidos, vivo e fero,
Nas cordilheiras, levo meu bornal,
Nossos ares, montanhas onde impero,
Mergulho nas alturas, abismal...

Não teimo pouco temo e já te amplio,
Na partitura singro meus cantares,
Na cama que desfrutas, teta e cio,

Talheres divididos nos jantares...
Morena, vem aqueça está tão frio...
Por testemunha estrelas e luares...
Mulher
Malícia nos teus olhos de menina,
Melancolia trazes, risos tristes...
Mistérios tua lua cristalina...
Martírios dos amores que resistes...

Misantropia e luta, tua sina...
Molecagem, brinquedos, nada omites,
Metódica, trazendo luz divina...
Mediadora, os conflitos, dedos ristes,

Maciez travas beijos e mordidas...
Me manejas do modo que quiser,
Mansidão ultrapassa nossas vidas,

Meiguice rebentando quando quer,
Mazelas que consolas, reunidas,
Me mostram teu perfil, M, mulher...
Ordens e progressos
Nos trâmites legais, nas horas mortas,
Nas ruas sem saída, supermercados...
Abertas lojas, fecham-se tais portas,
Nos templos esquecidos... Trespassados...

Nas mouras infantis, quem sabe tortas,
Nos olhos envolventes, desmaiados...
As dores que me deste, não te importas,
Os rumos que seguimos, desolados...

Meus lábios se conformam com os teus...
Não quero precisar aonde e quando...
Meus olhos que prosseguem sendo ateus,

As ordens e progressos, esperando
Nos colos carregando camafeus,
Nos campos de batalha, vou te amando..
Perdido nas estrelas
Perdido nas estrelas e nos mares,
Cansado de saber que não virás,
Remando contra tudo, bebo bares,
Vagueio por montanhas, incapaz...

Flutuo pirilampo, teus luares,
Quem sabe não serei enfim audaz...
Penetre teus recônditos lugares,
Encontre em teus amores, minha paz...

Termômetro quebrado, não te sinto,
A febre que aparentas um engodo...
Vulcão que sempre julgo esteja extinto,

Parcela principal me lembra o todo...
O vinho que me deste, nunca tinto,
Amor que muito muda, perde lodo...
Debaixo dessa blusa
Debaixo dessa blusa, fantasias...
Delícias da nudez desta mulher...
Quebrantos e malícias, melodias.
A lua que me invade também quer...

Carinhos percorrendo poesias,
Neste prato meter minha colher
E desfiar rosários tantos dias
Quanto à dona da blusa me quiser...

Meus dedos são expertos navegantes,
Desbravam cada canto desta mata...
Teus seios são portentos elegantes,

Encontro meu tesouro e minha prata...
Nas pernas já me ocultas diamantes,
Escorrem teu prazer, doce, em cascata...
Arrependimento
Quando estavas mais triste, sem certezas,
Quando esperavas beijos te dei fel...
A boca te mordia, minhas presas.
O pranto que escorria, neguei mel...

Menti ao não gerar delicadezas,
Errei ao não levar-te, tonta, ao céu...
As notas repetidas sem surpresas,
Cortaram tão depressa o meu cinzel...

Quando perdi as esperanças, louco;
Quando vivi sem temor e glória...
O resto que sobrou foi muito pouco.

O amor vai fugidio, sem memória...
Quem dera retornasse... Mas tampouco
A vida me permite nova história..
O Palhaço
Trigueira, tua pele me encantava,
O palhaço se ri, mostra meus erros...
O manto mais divino me esperava...
Errante; fui boçal, vivos desterros...

Esqueci teu retrato na gaveta,
A vida preparando tantos fados...
O palhaço risonho, velhos fardos...
Meus bisonhos sentidos, vão cometa!

Deste palhaço irônico o sorriso...
Desta velhice errática, a mortalha.
Nada do que já tive, me é preciso...

O corte que proponho me retalha,
O medo me destrói, forte e conciso,
O fogo desta angústia, tudo espalha...
Meu coração navega
Meu coração navega tresloucado,
Buscando por um cais imaginário
Eu não guardo segredos, temerário,
Nas primícias que guardo, um velho cardo...

Procurei desembarque no estuário
Que representaria o meu passado
Realmente encontrei amor tão vário
Que não compensaria peso e fardo...

Nos momentos difíceis, as saudades
Funcionam qual partes desunidas.
Que me resta senão um coração?

Os bares onde encontro, nas cidades,
Nos cantos dessas ruas, caço vidas...
Não me sobra sequer uma emoção...
Marinheiro
Marinheiro, envelheço sem meu mar...
Os oceanos tornam-se mentiras
Não sei porque, resolvo te contar
Histórias tão antigas viram tiras

Soltas no jornal... Tento navegar
Mas as ondas temíveis viram piras
Sedentas estão prontas pra queimar...
Marinheiro que teme o mar... Atiras

Um olhar tão irônico que marca.
A verdade é que trago tantas mágoas,
A vida me deixou perdi a barca...

Mistérios deste mar, já quis amar
As dores me cobriram, tantas águas,
Quem sabe, um dia, aprenda enfim nadar!

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