sábado, 25 de novembro de 2006

Nesta ânsia de viver, por vezes penso

Nesta ânsia de viver, por vezes penso
Como é difícil perceber o sonho.
O mundo me promete ser imenso,

O que me resta é meu olhar, medonho!
Embalde tantas vezes me pergunto
Onde estará essa mulher vibrante

Depressa, no silêncio, mudo assunto
Encontro teu fantasma, delirante!
O sonho que deixaste, se esvaiu...

Mundo... Em tolos fantasmas me desfaço...
A força que pressinto traz ardil,
Em plena tempestade não disfarço...

Mendigo alguns olhares, vida nega...
Procuro pelos cantos, nada encontro.
O brilho do passado inda me cega,

A vida traz em si, um desencontro...
Quem dera transformasse dor em ouro.
O medo não seria companheiro,

O aço penetrando fundo, o couro.
Vasculho por espaços, mundo inteiro...
O beijo que recebo, solidão!

As vagas que navego, meu naufrágio.
Embalde procurei, peço perdão.
A morte de repente, meu adágio.

Vencidas as quimeras, vou sozinho...
O pranto não decorre da saudade.
Revôo deste pobre passarinho

Por sobre toda a paz desta cidade.
Ser feliz parecia meu direito.
Pesados olhos, canso-me da luta.

Revejo quanto tempo em desrespeito
Vivi, ao me guiar por força bruta.
Deram-me tão somente sensações

Da vida tão inútil sempre a esmo..
Meu canto enfim se forma sem ter paz.
Motivo desta angústia, sempre o mesmo.

A coragem de viver, não tenho mais...
O manto que me cobre, soledade...
O frio que me dobra, sem promessas.

Um vento em tempestade já me invade
Virando minhas luzes às avessas.
Em plena negritude, um pesadelo...

Imensos fogaréus rolam espaços,
O mundo se desfia qual novelo,
Diabólicos miasmas abrem braços

Abarcam os meus pés e não os soltam;
A noite esmigalhando, me sufoca.
Os mares, em procelas, se revoltam.

Fantástica pantera sai da toca,
Os olhos do passado me mirando.
O beijo das quimeras, louca prenda.

O universo vomita, procurando
Meu caminho, meu passo e minha senda.
Desesperado, nada me sustenta.

Em fogo me enveredo por caminhos
Distantes...A minha alma, louca, tenta
Encontrar noutras terras novos ninhos...

A vida se demonstra vã, embalde...
Os furacões, tufões, a tempestade.
Viver me parecendo ser a fraude

Divina, um louco blefe, falsidade.
Vejo-me sem ter porto nem saída,
O cais se revelando tão distante.

A morte se mostrando, sorridente;
A ponta enegrecida da navalha,
O frio revelando-se, envolvente...

Minha pele, poreja e se retalha.
Nos poros destilando podre sangue,
Acaba-se,em delírios a esperança...

Entretanto, do pobre e néscio mangue,
Um ser maravilhoso já me alcança.
Nos olhos redenção de primavera.

Nos lábios, o desejo descoberto,
A mansidão distante nega a fera
Que morre em coração, puro e aberto.

Vejo-te, minha luz e salvação.
Surgida no momento mais mordaz...
Nos olhos, a promessa do perdão,

Sorriso delicado de quem ama.
Risonho, meu caminho, pede paz,
Apagas, num segundo a negra chama

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