sábado, 22 de março de 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 143

1989

No gozo deste amor, sinto vertendo

Em fozes tão diversas, sentimentos;

Ternuras e carinhos: condimentos,

Aos quais não faço algum, sequer, adendo

Quereres e vontades me envolvendo,

A vida se permite aos meus intentos

E prometendo assim novos inventos

Alentos em delírios; sempre tendo.

Recolho meus pedaços e refaço

De tudo o que eu perdera, trama e laço

Regaços em palavras carinhosas.

Levando desde agora a paz suprema

De quem não tendo à vista algum problema

Imagens em delícias graciosas...

1990

Imagens em delícias graciosas

Formando em rosicler o entardecer.

Aos poucos recomeço a perceber

As maravilhas espetaculosas

Fantásticas deidades fabulosas

Embotando olhares no prazer

Que tantas vezes sinto a se verter

Espalhando em canteiros frágeis rosas.

Na lânguida expressão, fátuo desejo.

Anseios tão etéreos que prevejo

Domínio dos sentidos, abandono.

Atrevo-me a pedir estrela e luz

Dourando belos corpos seminus

Ganhando os infinitos perco o sono...

1991

Ganhando os infinitos perco o sono,

Num átimo viajo por espaços

Momentos tão profanos e devassos,

Divinas conjunções eu espiono.

Amor, dos sentimentos, o patrono,

Que mesmo em suprimentos mais escassos

Reúne novamente os meus pedaços

Tramando a primavera em pleno outono.

Ao ouvir o chamado dos arautos

Até os distraídos, os incautos

Percebem o poder que emana de Eros.

A bordo desta fabulosa barca

Minha emoção, a fantasia abarca

Sonega outros tormentos, frios, feros...

1992

Sonega outros tormentos, frios, feros

Revelação trazida pelo sonho.

A cada amanhecer me recomponho

Vivendo estes momentos insinceros.

Os dias prosseguindo assim, austeros

O tempo não promete ser risonho.

O quadro se apresenta então medonho,

Embora com cuidados, vãos esmeros

Caricatura apenas do que fomos,

Engodos que às verdades contrapomos

Não deixam que se pense com clareza.

É necessário sempre ter coragem,

Quem sabe ao refazer nossa viagem

A glória se perceba em farta mesa.

1993

A glória se perceba em farta mesa

Àquele que se mostra destemido

Dever que com clareza está cumprido

Não deixa ao fim da tarde uma surpresa.

Porém é necessário o que se preza

Negando um descaminho concebido

Fadando ao desamor; inglória e olvido

Não sendo da tristeza simples presa.

Se a lua e merencória e o dia é vago

Pensando no que fomos eu divago

O afago da saudade traz desprezo,

A vida vem soltando todo o peso,

Marcando a minha cútis, cada ruga,

A lágrima que trago não se enxuga.

1994

A lágrima que trago não se enxuga,

Também a vida traz em artimanhas

As mais complexas ditas, velhas sanhas,

Preconizando ao fim, temor e fuga.

Amor quando em tristezas se conjuga

Adentra com vigor nossas entranhas

Ao mesmo tempo queres e me estranhas,

O pensamento audaz não se subjuga.

Vestido da esperança, eu sigo em luta,

Batalha interminável, mas querida.

A cada nova trama em trégua urdida

Permite uma estratégia. A mão astuta

Ao me acariciar, cedo apunhala.

Deixando sem sentidos minha fala.

1995

Deixando sem sentidos minha fala,

O amor quando entontece; o que fazer?

Aberrações diversas passo a ver

Tomando com certeza quarto e sala.

Por vezes a ilusão já me regala,

Depois escuridão a refazer

O passo que entre trevas se fez crer

Multiplicando em erros. A alma cala...

Escalas tão diversas, versos, veios,

Fagulhas incendeiam meus anseios

E nada do que colho, eu semeara.

Desertificação nesta seara

Que um dia fora glória e agora é nada.

A noite se faz logo anunciada...

1996

A noite se faz logo anunciada

Crepúsculo em minha alma. Vou vazio.

De todos os meus passos, perco o fio

Só resta o que eu não quis. Vida farpada.

Adentro em noite escura a vã estrada,

A solidão acende o seu pavio

O tempo se mostrando mais sombrio

Sonega o que tentei ser alvorada.

Meticulosamente inda recolho

Tentando me livrar de cada abrolho,

O trigo se perdeu. Amor sendeiro

Desprezível, voraz, negando a sorte

Apenas restará no fim, a morte

Orgástica ilusão, bem derradeiro...

1997

Orgástica ilusão, bem derradeiro,

Cevada pela vida. Meu estertor

Vibrando com seu ar encantador

O corte se aprofunda, alvissareiro.

O corpo se apodrece por inteiro

E traz o mais profano e puro ardor,

Sentindo minha tez se decompor

Preparo em solidão este canteiro

Aonde poderei ser mais feliz,

A lua se desnuda, meretriz

E deita em prata um fogo inebriante.

Incrível que pareça, neste instante

Minha alma libertária enfim se eleva

Buscando em teimosia, paz na treva...

1998

Buscando em teimosia, paz na treva

Durante tanto tempo eu me embebi

De todo este vazio que há em ti

O sonho em pesadelo vão me leva

Fazendo na esperança torpe ceva

Eu quis o que tentara e já perdi

Apenas teu retrato, então eu vi

Minha alma, mansamente então se neva.

Releva a cada passo, o meu falseio,

E embora na ilusão, ainda veio

Um único momento de alegria

Sorrindo em desdentada maravilha,

Espaços sem limites, o caos trilha,

Surpresa transtornando em ironia.

1999

Surpresa transtornando em ironia

Cadáveres pesando em minhas costas.

A par do que sonegas, corta em postas

E o tempo em abandono, o sonho cria.

De tudo o que talvez, o amor sabia

Errôneos descaminhos, dor reposta

A vida não duvida nem aposta

O que me restará? Vã fantasia...

Funérea tempestade eu vejo ao longe,

Coração solitário feito um monge

Não vê mais esperanças, segue ao léu.

A adaga em tuas mãos, bem escondida

Promessa sorrateira de ferida

Cumprindo em louca sina, o seu papel...

2000

Cumprindo em louca sina, o seu papel,

A amargura de tentar e não saber

O quanto se mostrou em desprazer

A vida sonegando um claro céu.

Minha alma se confunde na Babel

Dos sonhos, pesadelos, dor, poder,

Em cego destempero, passo a ver

Derradeiro sorriso, ateu, incréu...

Vestígios de mim mesmo pelas ruas,

Caridosa manhã, belezas nuas

A praia se desfaz do velho mar.

Areias movediças entre pedras.

Esperanças sutis que logo empedras

Veredas que não posso mais buscar...

2001

Veredas que não posso mais buscar,

Hediondas colheitas prometidas

Hedônicas manhãs, mal divididas

Deixando uma esperança me lograr.

Quem dera uma alegria como altar

Tomasse em procissão as nossas vidas,

Entraves e barreiras esquecidas

Na trilha feita em paz, recomeçar.

Porém percebo ser um disparate

Do amor, este falsário e podre vate

Nas teias tão ingratas: ilusões.

Noctâmbulo fantasma de mim mesmo,

Andando pelas ruas, prossigo esmo

Lutando contra o fogo das paixões...

2002

Lutando contra o fogo das paixões,

Diversas vezes tive o desprazer

Da solidão a dois reconhecer

Secando o que pensei inundações.

Do quando se fizeram negações

Os dias que pensara em bem querer

Espalham sobre nossos corações

O medo de sonhar e de viver...

Depois de tantas farsas e mentiras

Distantes emoções, vazios miras,

E o nada em sofrimento, ora desvendo

Restando a solidão em nossas vidas.

As lágrimas terríveis e doridas

No gozo deste amor, sinto vertendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário