segunda-feira, 24 de março de 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 152

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Colhendo o que plantei em minha vida,

Canteiros e pomares da existência

Embora tantas vezes sem saída

Do nosso amor jamais terei ciência

Velhos farrapos poderão dizer

O que busquei e depois da chuva forte

Encontrarei talvez algum prazer

Ao superar a luta sem suporte

Mas tenho uma vontade que não cessa

De ter além dos sonhos, o carinho

Que tantas vezes fora só promessa

Fazendo no meu peito burburinho.

Enquanto houver forças irei assim,

Tentando cevar flores no jardim.

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Tentando cevar flores no jardim

Durante a minha vida eu me perdi,

O tempo vai chegando quase ao fim,

Saudades de viver o amor em ti.

Melancolia chega e trama o rumo

Distante destes braços sigo só.

Um solitário apenas, eu resumo

Meu verso destruído rompe o nó.

Desatando as correntes, não terei

Sequer um caminhar mais solidário

O passo se desvia em outra grei

A cada amanhecer vou temerário.

Estúpida canção que ainda escuto

Tornando o coração deveras bruto...

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Tornando o coração deveras bruto,

Distância de teus olhos, treva imensa.

Quem dera se pudesse ainda, astuto

Saber depois de tudo, a recompensa.

Contudo eu não terei outro caminho

Senão tentar a sorte em nova senda.

A mão que se profana em ledo espinho

Segredo feito em sonhos não desvenda

Atento a tais sinais eu jamais pude

Beber desta alegria imaginária

Secando em voz solene o meu açude

A morte se transforma em adversária

Saudades de teus lábios companheira,

Espalho o sentimento em vã esteira...

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Espalho o sentimento em vã esteira

O amor que um dia tive se evapora

Fazendo da emoção frágil bandeira

A vida se perdendo não demora.

A cada novo tempo de sonhar

Apenas derramando alguma estrela

Entendo ser possível caminhar,

Porém a solidão em mim se atrela

E vaga por meu corpo, solta a voz,

Amargas ilusões vão me tomando

O gosto desta boca é tão atroz,

Meus castelos de areia desabando

O verso refletindo esta agonia

Esgota em minha vida, a poesia.

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Esgota em minha vida, a poesia,

E nada do que eu quis poderei ter.

A mão que me açoitava noite e dia

Agora em minha morte vê prazer.

A noite anunciando em madrugada

A mesma tempestade que nos toca,

Bandeira da esperança desfraldada

Aos poucos se rompendo me desloca

Levando para o nunca mais terei

Deixando o verso triste e desvalido,

Quem dera, mas jamais encontrarei

No que me resta agora algum sentido.

Um câncer em metástases diversas

Tornando as alegrias mais dispersas...

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Tornando as alegrias mais dispersas,

Tristeza não se nega, volta à tona.

Escuto em entrelinhas as conversas

A fantasia aos poucos me abandona.

Sonífera ilusão não mais se dá,

Ávida de alegria a juventude

Esquece que outro dia nascerá

Jogando fora assim sua saúde.

Saúvas carcomendo o que restou

De um homem que sonhara ser feliz.

Sem ter nenhum sentido não mais vou

Buscar aquela estrela que eu bem quis

Erguendo ao horizonte o meu olhar

O temporal; percebo, vai chegar...

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O temporal; percebo, vai chegar

Nublando uma esperança doidivanas

Vontade de partir e de buscar

Paisagens que se formam soberanas.

Mas nada do que eu sonho realiza

Imagens são miragens, nada mais.

E mesmo que viesse calma brisa

Meus olhos não verão a luz jamais.

Resíduos do que fomos roubam cena

Escombros pesam sempre em minhas costas.

Nem mesmo uma esperança a paz ordena,

Em cicatrizes diversas, velhas crostas.

A fonte se perdendo em seca cala

A morte pouco a pouco toma a sala..

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A morte pouco a pouco toma a sala,

Os ratos passeando no porão.

Quem dera a fogo, a ferro, cruz e bala

Mas não vejo no fundo, solução.

Eu teimo em perceber o que não há

Retratos em farrapos dizem nada.

O quanto eu procurei aqui ou lá,

Apenas uma estrada destroçada.

Mergulho no oceano de nós dois

Abismos encontrando, resta o frio...

No quanto não concebo mais depois

Entendo que estarei sempre vazio.

E crio mil fantasmas; putrefeito

Sentimento invadindo um velho peito...

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Sentimento invadindo um velho peito

Reconta cada passo nesta andança

A gente vai levando desse jeito

Tentando restaurar uma esperança.

Estrelas que perdi jamais teria

Não fosse o teu carinho, mas não quero

Apenas reviver o antigo dia

Na fantasia agora eu me tempero

Morena fez a festa e foi embora

Metade carregou junto consigo

A sorte há tanto tempo não demora

Desnuda o que pensara ser abrigo

O vento que me ronda da incerteza

Expondo este vazio em minha mesa...

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Expondo este vazio em minha mesa

Eu sinto o gosto amargo do não ser.

A sorte deste sonho que despreza

Permite sem regalos de prazer

Que a gente não se queira nunca mais,

A sorte se desbota em cada esquina

Madrugadas em sonhos magistrais

Mergulham no teu colo de menina;

Insisto, mas caminhos eu não vejo,

Apenas pedregulhos disfarçados.

A fonte da alegria e do desejo

Não vale mais que fósforos queimados.

Aguardo algum sinal e nada vindo

Mesmo refrão insisto, repetindo...

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Mesmo refrão insisto, repetindo

Amores de fantasmas e odaliscas

O quanto percebera claro e lindo

Somaram com vazios, frias iscas.

Explicitando assim o que não via

Eu teimo em transformar qual alquimista

O nada em tentativa de alegria,

Porém a solidão jamais despista

Repondo cada gota deste fel

Pedaços do que fomos se esgarçando.

A sorte transtornando o meu papel,

Queimando uma ilusão em fogo brando.

Apago o que sobrou de uma esperança

Inválida expressão nega a fiança...

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Inválida expressão nega a fiança

E molda este cenário em pleno horror.

Aonde procurei a temperança

O vento se fez avassalador.

Atônica emoção ainda insiste

Crisântemos; aborta em meu jardim,

Quem dera se isso fosse troça e chiste,

Ainda poderia crer no fim.

À caça em que se deu fria pantera

Gerando a sobremesa da tristeza

Traduz a gargalhada da quimera,

Repondo meus fantasmas nessa mesa.

Habito estas masmorras, mas resisto,

Do sonho feito amor jamais desisto...

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Do sonho feito amor jamais desisto

Aguardo algum capítulo que traga

Quem sabe este sorriso, um falso visto

Calando a solidão temível draga.

A voz que se embargando nada diz,

O templo que buscara se esfacela,

Um riso que trouxesse outro matiz

Moldura uma esperança noutra cela.

Selando o meu corcel, o pensamento,

Viajo em Eldorados tão distantes.

O gozo que se mostra num momento

Em lábios e carinhos inconstantes.

No afã de ser feliz, eu me perdi,

Apenas solidão reconheci...

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Apenas solidão reconheci

Depois de tanto tempo em vã procura.

O quanto desejei e nada vi

Traduz toda agonia, a noite escura.

O som de uma guitarra dissonante

Tocando bem no fundo qual lamento

Trazendo tanto inferno ao mesmo instante

Sangrando num terrível sofrimento

Legado que carrego no meu peito,

Vestígios das estrelas nos meus pés

Queimando feito lava, contrafeito

Revivo novamente estas galés.

A sorte que hoje trago é merecida,

Colhendo o que plantei em minha vida.

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