sábado, 22 de março de 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 144

2003

Felicidades; feito um chafariz

Nos olhos de quem sabe e quer bem mais

Que apenas receber da vida o cais,

Querendo plenamente ser feliz.

O quanto uma saudade me desdiz

Mudando em noite tensa os rituais

Que um dia percebera sensuais

E agora já sonegam o que eu quis.

A dança em contradança faz a festa,

Porém a solidão é o que me resta

Depois da caminhada desditosa.

Promessas esquecidas no quintal,

A vida que pensara triunfal

Matou no meu jardim, jasmim e rosa...

2004

Matou no meu jardim, jasmim e rosa

O que se fez bonito e vicejante

A marca que carrego neste instante

Pressente tão somente a duvidosa

Senda tantas vezes caprichosa.

Não quero o sentimento que humilhante

Roubando da ilusão tal diamante

Permite uma palavra desastrosa.

Estros de um trovador que teima tanto,

Embora recolhendo o desencanto

Espera nova safra da esperança.

Assim, vago partícipe da vida,

Andando com minha alma distraída

Distância sem limite, o sonho alcança.

2005

Distância sem limite, o sonho alcança

E vaga o tempo inteiro, chove e ri.

Às vezes ilusão caindo em si

Esquece o que pensara ser criança

Apenas sortilégios da lembrança

Tramando o que jamais eu descobri,

O tempo de sonhar, eu já perdi

Agora é necessária esta mudança.

Martirizando o verso, sigo em frente

O quanto amor terrível e indolente

Não sossega e galopa sem destino

Permite-me dizer do vago passo

Vencendo sem temores cada espaço

Menino sem juízo e tão ladino...

2006

Menino sem juízo e tão ladino,

O peito desnudado com sarcasmo

Andando convulsivo num espasmo

Estende uma emoção num gozo a pino.

Se nada nem futuro eu descortino,

Eu creio no poder de cada orgasmo,

Deixando para trás qualquer marasmo

Ao mesmo tempo canto e me azucrino.

Na crina dos meus sonhos, pesadelos,

A moça desgrenhando os seus cabelos

Estende num sorriso, este convite.

Bisando o que se faz doce e risonho

O amor jamais se mostrará bisonho

No encanto temerário se acredite!

2007

No encanto temerário se acredite

E faça deste sal nosso tempero,

O quanto necessito e não mais quero

Não deixa mais conselho e nem palpite

Lapido com palavras em grafite

O vento que se deu em desespero

As mutações que na verdade eu gero

Neste caminho que o vazio emite.

As dálias e os crisântemos, canteiros

Os olhos e as montanhas, velhas buscas,

O quanto em poesia já me ofuscas

Expressa em fantasias, nossos cheiros

Ronrona uma alegria zombeteira,

Sem cinzas, eu matei a quarta-feira...

2008

Sem cinzas, eu matei a quarta-feira,

Comparsa desta sanha, minha amiga

Não posso converter amor em briga

Nem quero a fantasia derradeira.

A lua se fazendo uma empreiteira

Empresta tanta luz que, farta abriga

Mulher estonteante, mas não liga

Parece que não quer embora queira...

Desbaratando as tramas, mesma teia

Que tece em disparate e me incendeia

Indexando calor com gozo pleno.

Ao ver inebriado tal beldade

Eu digo adeus, perdendo a liberdade

Buscando em tempestade, mar sereno...

2009

Buscando em tempestade, mar sereno

Eu sei que não terei sequer um riso

De quem ao se entregar diz paraíso,

Mas sabe disfarçar qualquer aceno.

Se na verdade o nada eu concateno

O quanto que ganhei foi desaviso

Se às vezes em teu sonho eu me matizo

No fundo, não resisto e em vão aceno.

Amor que tantas vezes me confunde

Ao mesmo tempo goza e já contunde

Deixando em desespero quem pensava

Beber na madrugada o fino mel

Da boca em gargalhada mais cruel,

A cada novo beijo traz a trava.

2010

A cada novo beijo traz a trava,

Fechando o meu caminho, trama o cofre,

Amor que vem chegando assim se chofre

Ao mesmo tempo é gelo, neve e lava.

Quem ama na verdade sempre sofre,

A ventania corta; forte e brava

A chuva que maltrata, uma alma lava

Enquanto o seu prazer, decerto aljofre.

Rocios que trocamos, gozo em festas,

De todas as vontades tu me atestas,

Marcando com as unhas minha pele.

A garra da pantera revira olhos,

Estrelas multicores, flor aos molhos

Loucura que me atrai, logo repele...

2011

Loucura que me atrai, logo repele

Assim vou me perdendo em farta insânia

Deixando bem distante alguma inânia

Aonde a solidão, inerme apele

Amor que vem roçando nossa pele

Impede com certeza uma vesânia.

Paixão acastelada diz citânia

Tomando deste sempre, nos compele.

Amor que com desejos não camuflo,

À luta em desvario quando insuflo

Pressinto, na colheita uma fartura.

Misturas entre pernas, olhos, dedos,

Desvendam com delírios os segredos,

À plenitude em gozo, amor augura...

2012

À plenitude em gozo, amor augura,

Paloma libertária em alvo véu

Percorre imensidão, ganhando o céu

Apascentando a vida em rara alvura.

Alvíssaras emergem da ternura

Estrelas da emoção que num cordel

Fazendo dos prazeres meu farnel

Esplêndidas imagens. Festa e cura.

A par desta divina confluência

Tiara dos meus sonhos com clemência

Estendem nos varais das esperanças

O riso de quem vive as temperanças

Do amor; o bem sublime em perfeição

Tomando em calmaria, uma explosão...

2013

Tomando em calmaria, uma explosão,

Suores escorrendo pelo rosto,

Amor quando dos medos ganha o posto

Encarna a procurada redenção.

Nas mãos do marinheiro, o doce arpão

Cravando e despedindo o vil desgosto,

Fazendo da alegria o seu recosto

Descarta num segundo a dor e o não.

No fogo abençoado de nós dois

Não deixarei mais nada pra depois

Vivendo a cada instante, o derradeiro

Quem tem amor sem gládio por parceiro

Já sabe caminhar por entre os astros

Reconhecendo em paz, pegadas, rastros...

2014

Reconhecendo em paz, pegadas, rastros

Deixadas pelos sonhos e vontades.

Vislumbro nos teus braços, claridades,

Amor reconhecendo nos canastros

As formas e os desejos; alabastros

Nas mãos de um escultor, as qualidades

Sublimes deste artista, sem alardes

Invadem com beleza e ganha os astros.

Num cântico que é feito em placidez

Amor que tantas vezes já se fez

Suprema redenção da vida humana,

Entrega-se ao desejo mais clemente

Mudando qualquer sina, toma a gente

Embora a sorte eu saiba ser cigana...

2015

Embora a sorte eu saiba ser cigana

Não temo os disparates do destino

Os erros quando posso, eu elimino

E a vida então se aflora soberana.

Num palacete ou mesmo na cabana

Na névoa vislumbrando um sol a pino,

Do velho transformado num menino

O amor mostrando a face mais humana

Ascende sobre todos, não escolhe,

E mesmo ao insensato já recolhe,

Um sentimento nobre enquanto pária.

A luz que nos desnuda temerária

Inflama, transtornando em destemor.

Inebriante audácia diz amor...

2016

Inebriante audácia diz amor

Roubando a nossa paz, nos apascenta,

A mansidão insana e violenta

Da glória que nos toma num torpor

Viagem por um mundo encantador

Ao mesmo tempo em risos, traz tormenta

Um novo amanhecer em guerra inventa

Ao tímido transporta o destemor.

Aos poucos transbordando em desvario

Inunda em placidez as calmas margens

Roteiros tão diversos de viagens

Dos mares invadindo o manso rio

Espalha sobre nós em cores gris

Felicidades; feito um chafariz.

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