segunda-feira, 24 de abril de 2006

PELOS BARES DA VIDA

Me lembro das noites impossíveis, das madrugadas passadas em torno de uma mesa, idealizando um mundo novo, tendo como companheiro um copo de cerveja ou uma tulipa de chopp, na noite carioca da década de 80.
"Amigos mortos, amigos sumidos assim, pra nunca mais..."
Escondida em cada copo, a perspectiva do beijo da namorada e da ilusão de uma nova esperança, a cada final de semana, a noite era comprida e docemente embalada pelos cantos libertários e pela intensidade dos sonhos, proporcionais ao tamanho das desilusões.
Ao entrar na faculdade, em 1980, um dos primeiros atos foi participar do enterro da secretária da OAB, vítima da ultradireita; dessa mesma que explodiu um carro no Riocentro, naquele show inesquecível do primeiro de maio.
No ABC paulista surgia o líder sindical, Lula, barbudo e cabeludo, incendiário e genial; paralelo ao Solidariedade polonês, também libertário.
Na anistia, o retorno de Leonel Brizola, festejado e lançado a governador do Rio, combativo caudilho, adoravelmente ditatorial e polêmico, tempestade na antiga monotonia política carioca de amaralistas e chaguistas.
O PT surgia, tímido e paulista, mas pegando o sotaque carioca se tornou tão combativo que encarou o Brizolismo na Cinelândia vulga "Brizolândia".
Tempos lúdicos e românticos, de um sonho distante, comum a todos nós, socialistas.
Quando éramos simples adolescentes encantados com os testemunhos dos mais velhos, comunistas perseguidos, nos livros que líamos, muitas vezes escondidos, o idealismo fez muitos de nós sonharmos com o comunismo, inclusive eu; amante do PCdoB, partido de glória e guerra, da minha querida Jandira Feghali, exemplo de luta e de revolucionária.
O tempo passou, o Collor roubou uma eleição, filhote da ditadura, caçador de maracujás e, cria do sistema Roberto Marinho de comunicações, forjador do maior engodo desse país; apoiado pela FIESP de Mario Amato - a Regina Duarte da época...
Surge Itamar - "Maluco beleza", o plano real, ACM fora do poder e, erro maior de seu governo - a "criação" do monstro FHC, o maiior estelionatário da história desse país.
Me lembro da Lilian Ramos, é o Itamar não tinha mau gosto não...
FHC, aí a história muda de rumo e de cor.
Houve um momento, na época da escolha do sistema de governo, em que o PSDB se aproximou do PT, tentando uma aliança pró parlamentarismo; mas como o PT é um partido de base democrática e essa optou pelo presidencialismo republicano, houve uma cisão, mas não ideológica, já que houve alianças históricas entre os dois partidos, principalmente em São Paulo, onde o malufismo era um inimigo comum.
Porém, estranhamente, o PSDB ao invés de se aproximar do PSB ou do PDT, se entrega de braços abertos e, o que é pior, se subjuga ao que havia de mais podre na política nacional, o PFL.
Tivemos, com essa aliança espúria, o rumo político e econômico brasileiro totalmente desviado para o "neoliberalismo" o que quer dizer capitalismo selvagem e entrega do patrimônio público ao capital estrangeiro.
A história desse conluio desgraçado quase leva o país à falência econômica e social.
O que a gente, naquela mesa de bar nos já longínquos anos oitenta, não sabia é que os mesmos que saudávamos como libertadores foram os mesmos que nos colocaram dentro da jaula do tigre esfomeado.
Os que alimentaram nossas ilusões foram, eles mesmos, responsáveis pela entrega do patrimônio nacional que, nem mesmo a ditadura, ousara fazer.
O mundo inteiro hoje se inclina para o socialismo, isolando cada vez mais o "neoliberalismo" norte americano, a Itália foi um dos últimos refúgios de apoio ao modelo yankee, representado no BRASIL, quem diria, pelo PFL e pelo PSDB.
É triste ver o que fizeram de uma ala do MDB autêntico, de lutas e ideais; até onde foram levar isso?
A atuação do PSDB é um desrespeito aos mortos em nome da liberdade, é um desrespeito às vítimas da luta pelo socialismo, e, na verdade, um desrespeito ao próprio PSDB, que deveria mudar seu nome para PNLB, partido do neoliberalismo brasileiro ou PSNB, partido da submissão aos norteamericanos do Brasil.
Seria mais coerente retirar A SOCIAL DEMOCRACIA do seu nome, isso seria pelo menos um sinal de respeito aos que lutaram ou, pelo menos sonharam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário