domingo, 11 de junho de 2006

TE QUERO, NEM SEI SE QUERO...

Te quis tanto, cada canto meu era teu, teu encanto meu alento. Meu conforto e serventia. Tanto te queria que não seria fantasia simples alegoria de um coração sem alegria.
Tua boca, fonte e porto, açoite e voracidade. Na saudade de tua distância tão aconchegante, cada galante verso, inverso e amante.
Quero o perverso e complexo abraço, no cansaço deste traço que ameaço, com o compasso da vida.
Marina cheia, salina pele, delícia de sol, arrebol, mas armadilha.
Na ilha de tuas pernas, mina de tanta riqueza, aurífera beleza de fera holandesa.
te quero tanto, não temo nem teimo. Apenas queimo.
Ardendo e me devorando, me decoro com tuas penas. Tanto penar e tanto mar. Mar e maré, mundo sem fé, seca e sorvete, solvente me dissolve e corrói e como dói.
Um vasto pasto da alma, sem calma nem chama, me chama e nem percebo.
Te concebo e te traço, contrastes e tentativas. Preto e branco, o retrato na parede é tão antigo. Contigo nada mais, nada a mais que a mais voraz saudade.
Saudade do que nem há de, nunca guerreando, sempre andando, adiando para sempre o que nunca foi nem seria.
A cada dia a voracidade, a espera sem esperança, a espreita, caçador.
Com trato e com tato, sem tempo para ser. Nunca seria sério, seria?
Se ria se ris, nada diz e nem pretendo, mesmo tendo o porquê sugerir, sugere ir para o jamais.
Já mais antiga que a própria vida. Sem sentido, sortido, e talvez sórdido; sempre ardido, urdido e esquecido.
Nunca viveria o que viver seria se pudesse te ter.
Talvez seja por isso que esqueci de te chamar, clamar, esperando o momento inevitável do que nunca viria ou se vier, não sei mais o que faria.
Agora o tempo vai embora e, embora te quero, sinceramente, a mentira mais sincera é essa. Depressa que a vida passa e não cansa de passar.
Mas pra que te ter se nem te quero? Ou quero, mas não venero, nem espero nem espreito mais. Meu defeito talvez seja o de te amar demais...

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