domingo, 28 de maio de 2006

O PT e as cidades pequenas.


Nasci numa cidade de mais ou menos cem mil habitantes, na Zona da Mata mineira, Muriaé, onde passei meus primeiros quinze anos, acompanhando, sorrateiramente, o que estava acontecendo no caldeirão político brasileiro, graças ao fato de ter nascido em uma família italiana, vinda da Calábria, onde fora vítima das mesmas discriminações que o nosso nordestino sempre sofreu no Brasil.
Pelo outro lado, filho de um professor vindo de uma pequena cidade próxima de Muriaé, filho de um mecânico e de família humilde que, nos dizeres das oligarquias muriaenses era “lambari de enxurrada”; precocemente levado à direção de um indesejável colégio estadual.
Digo indesejado pelo fato de que a Educação era, em Muriaé, dominada pela Igreja, tanto no Colégio Santa Marcelina, ligado às Irmãs Marcelinas, quanto no Colégio São Paulo, ligado a Igreja Católica.
Essas origens me permitiram ter uma visão mais crítica da realidade dos discriminados e, o ensinamento de que, somente pela Educação poderia reverter esse quadro.
Ao mudar-me para o Rio, estudei durante um ano num colégio de classe média alta, na Tijuca, bairro típico da classe média carioca.
Depois, fiz minha faculdade na UFRJ, em pleno caldeirão das tentativas de redemocratização.
Após o termino da faculdade, fui para uma cidadezinha no interior de Minas próxima ao Espírito Santo, onde resido até hoje.
Isso me dá a possibilidade de avaliar o Partido dos Trabalhadores, nas três realidades diversas.
Na cidade de porte médio, na cidade grande e nos grotões desse país.
Uma coisa que pude observar nesse período é que, mais difícil do que ser petista é ser aceito pelos grupos que monopolizam o partido nesses locais.
O PT se porta como um partido exclusivista e cartorial tendo, em muitas das vezes, caráter personalista, sendo tão contraditório quanto qualquer outro partido.
Tentei, em Espera Feliz, sem sucesso, me filiar ao PT local, numa forma de poder ajudar a tentar que o partido elegesse seu primeiro vereador na história da municipalidade; em vão.
Todas as vezes que me aproximava do Partido, a promessa de “vamos mandar a ficha de filiação”, morria no vazio.
O partido, na cidade está ligado ao sindicato dos trabalhadores rurais e, em alguns momentos, serviu de base de apoio de outros partidos, mas, ao contrário de Lula que venceu e vencerá com mais de setenta por cento dos votos, o PT nunca chegou a míseros dez por cento do eleitorado; nunca elegendo, portanto nenhum vereador nos seus quase trinta anos de história.
Noutro município, Guaçui, apesar de ter dentro dos quadros, um dos maiores expoentes do sindicalismo capixaba; João Jose Sana o partido tampouco representa força política.
Rita, minha esposa, ao presenciar e cobrar de João coser, atual prefeito de Vitória, porque este apoiava um candidato das oligarquias locais, percebeu que o mesmo foi ludibriado pelas lideranças locais, COMPROMETIDAS COM ESSA MESMA OLIGARQUIA, utilizando-se do partido como se fora um partideco de aluguel qualquer.
Isso gerou a sua debandada para o PCdoB, que presidiu por alguns anos e, junto com ela, de vários companheiros.
Nas últimas eleições, o PT lançou candidatura própria numa cidade próxima, tendo como principal articulador, político ligado ao GRUPO DE JOSE CARLOS GRATZ, inclusive denunciado e condenado.
Esse é o PT das pequenas cidades. Um partido como qualquer outro, com o agravante de, quando não coopta, exclui e, excluindo ou cooptando, se torna dos grandes partidos nacionais, talvez o de menor expressão nesses grotões.
Mudar essa realidade se torna urgente e necessária, vital mesmo, para que possa ter a expressão de um PMDB nas pequenas cidades.
E isso se torna a pedra fundamental para o verdadeiro nascimento de um Partido mais representativo e mais abrangente.
Suas origens se estabeleceram nas cidades de médio e grande porte e conquistar, definitivamente, as cidades pequenas, é condição essencial para a implantação universal do SOCIALISMO, em todas as suas instâncias.
Enquanto isso não ocorrer, corremos o risco de tocarmos o coração, mas não conquistarmos a alma do brasileiro.
Coisa que, com perfeição, Lula conseguiu.

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