sábado, 30 de setembro de 2006

textos 27/09/2006

Travessia
Com os botes tristonhos da saudade,
Procurei por teus olhos minha amada...
Meu caminho de pedra e vaidade...
A voz que solto vai desesperada...

Como posso saber felicidade?
Não tenho rumo, nunca tive nada...
Te procurei por toda essa cidade...
Não te achei! Minha vida anda cansada!!!

Mas, pensando melhor, não vou sofrer!
Preciso descobrir o meu caminho...
Não quero viver vida tão vazia!

Eu vou procurar novo bem querer...
Não quero mais seguir tão sozinho!
Noutro bote, fazer a travessia!




Igrejas Mineiras
Nas igrejas mineiras ouro e prata!
A crença dissemina esta esperança!
A mansidão voraz d’uma cascata
Nas duras tradições dessa criança!

Igrejas ricas, povo se arrebata.
Lamentos dos escravos na lembrança...
A mão que beija, é certo, te maltrata...
Morte e vida caminham na aliança!

As igrejas mineiras, funerais...
As chibatas cortando esses escravos!
A riqueza das minas, nunca mais...

Vila Rica, barroco, Aleijadinho...
Essas mãos doloridas, calos, cravos...
U’a sensação mineira, estar sozinho...


Irmão de Fé
Irmão, nossos destinos se cruzaram
Desde o primeiro instante desta vida...
Na fé que nos uniu, nos destrataram,
A vida nos parece distraída...

As cordas que prendiam se cortaram,
Os medos de tal sorte não cumprida,
Ferrenhos inimigos abortaram...
A vida nos parece tão comprida...

Nos atabaques loucos tanta glória,
Nos sons destas cantigas de ninar...
As loas que entoamos nos terreiros...

As portas se fecharam, nossa história...
Os dias nunca mais irão voltar...
Na fé que desunimos, derradeiros...



Cata-vento
Uma criança brinca na calçada...
Todo passante observa num momento...
Correndo contra a vida na lufada
Tão serena da brisa, deste vento...

Correndo essa criança, pensa em nada...
Não existem maldades nem tormento...
A manhã acordou apaixonada...
Correndo nessas mãos, um cata-vento!

Quem dera essa criança não morresse!
Quem dera esse meu mundo não mudasse!
Quem dera essa saudade não doesse!

Quem dera tal certeza não calasse...
Quem dera a tempestade não vivesse!
Quem dera o cata-vento não parasse!


"Morro Velho"
Os meninos brincando, o ribeirão!
A delícia da fruta amadurada...
Peixes fisgados, o luar, o chão...
A vida caminhando a longa estrada...

Os meninos brincando, meu sertão.
A viola tocando, enluarada,
Leves dedos solando uma canção!
A tarde não repete a caminhada!!!

Um menino cresceu, virou doutor...
O outro está trabalhando na fazenda,
Os dedos que tocavam já não sabem...

Instrumento a tocar, calejador...
Os dedos se cortando na moenda...
O riacho e a saudade já não cabem!


Lua Cigana
Lua cigana, quero teu perfume!
Nas voltas que transtornas, sempre vens...
A lua companheira no queixume,
A lua que roubou todos meus bens...

A lua que me mata de ciúme,
A lua já fugiu trás das nuvens...
A lua que desnuda meu costume,
A lua que mentiu nos meus totens...

Lua cigana, quero tua boca,
Beijar fundo teu brilho até luzir...
A mansa lucidez te fez mais louca...

Efeitos delirantes produzir...
A lua transformou os meus desejos...
Na lua procurei pelos meus queijos...


Triste Lamento
No meu triste lamento a minha dor!
Retirante das secas do sertão,
Procurei por destino cantador,
Nas ruas desta vaga escuridão.

Espalhei meu cansaço e meu amor!
As portas se fecharam, ouvi não!
Teus passos nesta escada, um estertor...
Nas cordas do meu pinho, solidão!

Infernos conheci, não faço cena...
A porta que entreabri não mais fechei...
As lutas que perdi foi contra o rei.

A morte sem sentidos nunca acena...
No meu triste lamento qu’angustia...
A luz que não recebo, foi meu dia...


Hora Final
Nada mais sou! Me restam poucas horas...
Meus olhos tão pesados. Vou calado...
Não tenho amores loucos que me imploras,
Nem tenho fantasia, alucinado!

Não tenho nem preciso de demoras...
Nada mais estou. Resta o triste fado...
Nas tortas que pedi, quiçá de amoras,
O gosto que ficou, amargurado!

Jamais pensei perder os meus desejos...
As loucas mascaradas juventudes...
Cordões umbilicais já se romperam...

A morte já me mostra os seus bafejos...
O céu vai cortando em amplitudes,
Meus medos em delírio converteram...



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Texto

Natimorto
Na dura frialdade do granito,
Reflexos do que fora o nosso caso...
Amor que se findou fora do prazo,
Amor que não resiste nem ao grito...

Amor que desconhece qualquer rito,
Nasceu já terminando num ocaso,
Viveu na teimosia, por acaso...
Amor, tanta mentira te fez mito...

Na dura certidão que não me dás,
Na dura solidão que me consola...
Amor tão vagabundo se desfaz...

Nas pedras das paixões derrapou triste...
Nas perdas da saudade entrou de sola.
Amor que não existe não resiste...


Amor de brincadeira
Amor se foi brinquedo, sempre fere!
Qual faca de dois gumes amolada...
Não há ninguém que possa que interfere,
Amor sem serventia vale nada...

Amor sem fantasia nem me espere...
Amor tem que ter rosa plantada,
Ter corrente, ter força, ter ampère!

Não podes zombar assim deste amor!
Preço que irás pagar não sabes qual!
Amor deve ter jeito eternidade...

Amor que não me traz sinceridade,
Amor que não perdura um carnaval...
Não é nada; jamais será o amor!


Soma
Na noite que passamos tão felizes,
Nem tínhamos certeza deste dia...
Pintávamos os sonhos com vernizes
As horas se fizeram poesia...

Amores se tornaram codornizes...
Rolávamos fantásticas orgias!
Nunca fomos tão mestres aprendizes...
As bocas se tornavam montarias!

Na noite que perdemos nosso rumo...
Trejeitos e maneiras deram pó...
As cordas se romperam... Nossas pernas..

Eu me invernava enquanto tu infernas.
As estrelas caídas pedem prumo...
Quem tentara somar, caminha só!


Refeito
Um momento de luta e de carinho...
Carinhoso, sou manso e sonhador...
Os meus dedos procuram pelo ninho,
O meu braço, remanso protetor...

Tateio por teu corpo, vagarinho...
Respiro teu cansaço, acolhedor.
Não quero discutir se estou sozinho...
Nas lutas que perdi, sem desamor!

Vencidas as primeiras madrugadas,
O riso fez-se mal e tão cruel.
As portas que vivi estão fechadas,

Não quero nem pretendo ter o céu!
As rosas que plantei despetaladas,
A vida que sonhei, vai solta ao léu!


Cavaquinho
Cavaquinho tocando este chorinho
Que me trouxe lembranças do passado...
Do tempo que passei sem teu carinho,
Da vida que tivestes ao meu lado...

O resto que pensei ser tão sozinho,
Muitas vezes vivi acompanhado,
O choro companheiro, de mansinho,
Jamais me fez assim, tão desolado...

Cavaquinho chorando me traz Glória,
Morena que ficou na minha história...
Nas noites do Sovaco, sem tristezas...

Misturando saudades contradança...
Cavaquinho me dando estas defesas,
Enquanto esta velhice já me alcança!


Desmonte
Queria ser teu mar mas não consigo.
Nas manhas e manhãs que são ferozes...
Aos trancos e barrancos não prossigo,
Nas noites mais silente ouvindo vozes...

Os motes que servidos não persigo,
Nos dentes que me restam quebro nozes...
Os cortes cicatrizam são antigos...
Os medos que percorro são velozes...

Minha alma angelical, carnes e sexo...
Espreito meu final por trás do monte...
Não quero matar sede nem complexo.

Atordoado penso sem ter nexo...
Os trapos que vendi nem sei a fonte...
A vida presenteia com desmonte!


Trapo
No resumo de tudo fui vencido.
Se não quis conhecer já nem pretendo...
Montanhas de desejos sigo tendo,
Meu dever tantas vezes não cumprido...

As moças que beijei, deixei no Lido,
Abortos que causei hoje revendo
São máscaras usadas me contendo!
Contendas sem perdão, num triste olvido...

Resumos do que nunca fui feliz...
Deixes, por favor, o teu recado...
A porta escancarada por um triz.

A vida me deixou seu cadeado...
Torturas que causei, pedindo bis...
Um trapo que caminha des’perado!


Viço
Tudo o que me mostraste foram ramas...
Minhas recordações não deixam telas.
Os pastos que passei nas velhas tramas
São maços dos cigarros onde revelas

As farpas que trocamos velhas chamas.
As tais melancolias queimam velas.
As partituras levas, não reclamas.
Minhas contas formam simples bagatelas...

Se tudo o que me deste foi restolho,
Se nada que te peço faz sentido,
A vida que prometo olho por olho.

O dente que quebrei era postiço,
O medo que me deste foi fingido.
Amor que me mentias perde o viço...


Jardins
Penélope não quero nem Amélia!
Quero essa companheira venenosa...
A rosa se perdeu com a camélia.
Eu não sou cravo, quero também rosa!

Venenos encontrei na tal lobélia
A vida se tornou mais pavorosa...
Eu quero os desatinos da bromélia,
Nem precisa que sejas tão formosa...

Olorosas as rosas que plantei,
No quadrado que chamo de jardim...
Nas entranhas da terra fecundei...

Nos meus olhos brilharam neste hibisco...
O perfume roubei deste jasmim...
As estrelas deixei como obelisco...


Lealdade
Quem tanto amou a vida morrerá
Deste jeito? Sozinho neste quarto,
Os amores deixei distantes, lá!
A morte, companheira é novo parto!

Inimigos perdi, bem acolá!
Da vida, simplesmente fiquei farto...
A morte nunca mais me deixará,
A fiel camarada, antigo trato!

Quem tanto amou percebe traição!
Vida feroz, mordaz, vil traiçoeira!
É justo ouvir assim tão duro não?

Vida, cigana atroz, por que me deixas?
Fingiste companheira, a vida inteira...
Somente a morte sabe minhas queixas!


Vampiro Internético

Um vampiro anda solto pelas ruas...
Devorando mocinhas e garçons...
As delicadas moças seminuas,
Escutam os gemidos semitons...

As carnes que devora estão bem cruas...
Incrível que pareça omitem sons...
Tendo por testemunhas alvas luas...
Causando tempestades e frissons...

Tal vampiro noturno tem segredos...
Os dentes cariados tem conserto.
Nas noites pernoitando nas boates...

Não dissemina sida nem traz medos...
Um vampiro internético por certo...
Bem vestido, prefere atacar iates...


Hiato
Cavalguei nesta noite sem Maria...
Das estrelas fiz norte e companheiras;
As minhas mãos cansadas, montaria...
As mantas que cobri, as derradeiras...

O vento passageiro melodia.
O sol que não pretendo deita esteiras...
Nas artimanhas loucas, meio dia.
Nas vésperas da vésper, corredeiras...

Mas quando percebi, nada restava...
A trama que engabela, foi gestora..
Martirizei comédias, fui gaiato...

O que não percebi não me enganava...
As trevas que nasci, na manjedoura...
A vida que vivi, simples hiato...


Procura
Um passageiro solto sem destino...
O rosto enlameado de saudade...
No canto que propus, eu desafino...
O resto que ficou, sem qualidade.

O parto que neguei, verde citrino,
Batuco do meu jeito, tento tarde.
No tanto que tentei não tento tino...
Nas tendas que teimaste, tempestade!

Nocivos nossos vícios são velados...
Passivos nossos passos são passados...
Nos trâmites tramitas teus tesouros...

Me mandas das manadas seus estouros...
Um passageiro alado, sem ter asas,
Meus olhos embaçando velhas casas!


Alva
Alva vinhas veloz alvorecer...
Beijo embarco na bela doce boca...
Trago o tato, temi tirar a touca
Adoço o sonho, quem me dera ser!

Não sei se sabes sinto não saber,
Aporto portos pútridos. Espoca
O meu medo, penedo a percorrer.
Meu trabalho foi falho, fel desloca!

O rombo dos arroubos foi rebento.
O traço dos meus passos foi errado.
Varais, vestidos, vértices do vento...

O que não sei serei ou desfaço...
O canto que cantei nunca encantado.
O resto que traguei, um simples traço!


Os Restos Estão Aqui!
Não quero o fero gozo desta fera...
Sorver a servidão sem serventia...
A pêra envenenada nada impera.
A volta que velei da valentia...

No Crato já cravei minha cratera.
O vento vai veloz é ventania...
Quem dera te mandar pra termosfera,
Acerca desta cerca e cercania!

Não quero o doce manso sem veneno.
O par que me deu parto já partiu.
Amor armou amores morreu pleno.

Os cacos tão caquéticos comi...
Meu prato foi o pranto que pariu.
Os restos recebi... E estão aqui!


Deserto
Onde estão esses bondes peço o trem!
Não me fujas, falsária sem fronteiras...
Nas algas que naufrago peço alguém.
Abutres vivem biltres brincadeiras...

Nos cortes que me deste sou acém,
Nos portos que morreste, vis bandeiras...
Te caço por espaços sem ninguém.
As urzes deram luzes, fusos, beiras...

És pústula e postulas altos tronos.
Não queres das esferas novo brilho.
As hostes que enfrentei nos abandonos.

Não sabes nem talvez nem bem por certo.
O que restou de ti, joguei no trilho
Onde deixei meu bonde, no deserto!


Medo da Vitória
No tépido verão um treponema.
No pálido sentido: tricomonas...
Das térmites templários roubam lema
Das amas que sofri, as amazonas...

Nos prédios que caí, velho cinema.
Nos sonhos delirei, com tais matronas.
As cotas foram poucas. Meu problema
Se esvai nos velhos quadros das madonas...

No gélido tormento que me dás
Respondo com penúria e sentimento.
Os olhos concebidos rompem paz...

As dívidas divido nunca nego...
O prazo que me deste, corro lento...
O medo da vitória não carrego!


Mocidade
A mocidade goza seu segredo!
Quem sabe não seria a minha conta...
Os ventos nunca deixam o arvoredo,
A lua embevecida anda tão tonta.

A faca decepando esse meu dedo,
O rastro que deixou de novo aponta
A ponta mais feroz deste torpedo.
Vencer a mocidade é nova afronta!

Mas venci meus tempos de menino,
Sem saber encarava meu calvário...
As orquestras fingiam um novo hino...

Espalhavas meus sonhos pelo mar...
Meu bisonho e decrépito salário,
Aprender conjugar o verbo amar!


Cipreste
Quem me dera viver como um cipreste,
Arvoredo da vida me deu prazo...
Ser eterno tal qual um velho vaso,
Espreitar tanta coisa que não deste...

Ir retirando, louco, tua veste
E deixar-te sem rumo, norte ou leste...
Quem me dera seguir não ter atraso,
Quem me dera, sentir o nosso caso...

A cortiça da vida me levita.
Na vital sensação de ter errado...
A morte que não quero se habilita

Nas montanhas da sorte que não subo.
Pelas cotas completas sobra um tubo,
Que me leva ao meu túmulo, meu fado...


Teu Manto
Teu manto, velho encanto, servidão!
Meu pranto, tanto quanto sei, servil.
Decoras com decoro o coração,
Das cores que decoras sou anil...

Nas tardes que traduzes tentação,
Nos meses que me dás sou teu abril!
Nas vagas vergastadas dás vergão.
Acenas com teus seios, sou senil!

Teu manto que me cobre, cobra caro...
Cobras se reconhecem pelo faro...
De botas já me bates nem rebates...

Rebentas com as bentas águas mansas...
As mágoas que deixaste, são cobranças...
Nos medos, meus remendos sacros, bates!


Peste
Por que choras? Imploras acaso ar?
Casaste com contratos com meus trapos...
Os partos que tiveste por matar.
Nas portas que deixaste teus farrapos.

Nos abortos absortos naufragar,
Os cacos que cortamos nem fiapos...
Bastam somente botes, quero o mar!
As lágrimas esgrimam guardanapos.

Nos bares se bastaram bebedeiras.
Os cachos se confundem cabeleiras.
Choraste tanto traste que fizeste.

Os mártires não mentem nem desfazem...
Os mantras que me cantas não comprazem...
Nas postas me provaste que eras peste!



Veneno
Geraste tal veneno no teu ventre
Que nunca concebeste tanta dor.
Desculpas permitindo que se adentre,
O verme que cuspiu no teu amor...

Nas mortes que produz, peço concentre
Os olhos que não sugam mais calor...
A porta está fechada. Que não entre,
A cobra que pariste, e seu rancor!

Veneno que vomita tanto fere,
Os pântanos criados são vorazes...
Não deixe que este verme degenere

A vida que pensei sem aziúme!
O nojo que me tens, vem das mordazes
Lambidas desta peste: teu ciúme!

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