domingo, 27 de agosto de 2006

Caixeiro Viajante e a Onça

Naquele dia de dezembro, João Polino, maior expoente da JR distribuidoras de alimentos, sediada em Cachoeiro do Itapemirim, ia ter que viajar para São José da Pedra Menina, no município de Espera Feliz, nas Minas Gerais.
A estrada era de terra e, como não havia condução para lá, João teria que ir a cavalo.
Nada demais para o grande cavaleiro, acostumado com a montaria, desde menino. Rei dos rodeios que começavam a ser disputados naquela região.
Domador de cavalo bravo, João tinha, por costume, levar a sua garrucha pelas estradas pois, principalmente nas madrugadas era comum se deparar com matilhas de cães do mato, onças pintadas e outras feras que habitavam aquelas matas do Caparaó.
Durante o caminho, solitário e ansioso, João contava com as estrelas como guia e em noite de lua clara, a lua dava a claridade necessária para que a travessia fosse feita sem maiores problemas.
Em São José da Pedra Menina, João era muito conhecido, tendo pousada na hora que quisesse, mas a saudade de sua amada não permitia que o mesmo pernoitasse por lá, ainda mais que a carne é fraca e os olhos azuis conquistadores, não daria outra...
A sorte de João era que, além da garrucha, levava consigo um canivete, desses que os caboclos usam para cortar fumo e unha...
Naquele fatídico dia, a noite estava enluarada e João, para distrair, começou a imitar todos os passarinhos que conhecia. De canário a curió, passando pela graúna, João era um dos maiores imitadores de passarinho da região.
O canto do inhambu era extremamente familiar para João. Para João e para a pintada.
A pintada não, as pintadas...
Ao imitar o inhambu, João nem reparava que estava preparando a própria cova.
Pois bem, em meio ao canto, recebeu, surpreso uma resposta...
Atrás do inhambu, ia João, e o inhambu atrás de João. Inhambu não, onças e das grandes.
Ao avistar as pintadas e perceber que estava com a garrucha, ficou num mato sem cachorro.
Se desse um tiro, poderia matar uma onça, mas a outra teria tempo e disposição para engoli-lo, e vivo...
Parou, pensou e sem pestanejar agiu.
Mirou não na onça, mas no canivete.
Canivete à frente, a bala disparada, metade da bala em cada onça.
Uma correria de dar pena; os dois monstros miando e correndo, feridos de morte.
Acontece que, pensando que ninguém iria dar crédito a sua história, João não perdeu tempo: agarrou a onça pelo rabo, logo a maior delas.
A bichinha saiu correndo mas a pele, descolando-se toda, ficou nas mãos de João.
Ao chegar em Santa Martha, o maior sucesso.
Todas as moças querendo saber do ocorrido, todo mundo em polvorosa.
A história correu mundo, mas só não convenceu a José Reis que, homem sabido, tinha visto a mesma textura e os mesmos desenhos do “couro” de onça, numa confecção de tecidos que visitara em Vitória, no mês anterior...

“Em Homenagem a Chico Anísio”

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