terça-feira, 29 de agosto de 2006

Cordel - A minha sina - capítulo 5 - O Padre e o Sacristão

Depois de ter escapado,
Com ajuda do Saci,
No rolo que me meti,
Por causa de ter botado,
Na cabeça do safado,
Desse maldito diabo,
Uma dupla de quiabo,
Um par de chifre pontudo,
Ajuntando com o rabo,
Quase que nessa m’acabo...

Mas, me lembrei de repente,
Da promessa que bem fiz,
Escapei foi por um triz,
Desd’agora, minha gente,
Tudo ficou diferente,
Não mato mais vagabundo,
Vou ter que correr o mundo,
Que é sina que não escapo,
Partindo noutro sopapo,
Ficando bem sossegado,
É melhor cuidar de gado,
Ou então viver de papo...

Acontece que Marina,
A mulher de Virgulino,
Percebeu logo, deu tino,
Era coisa cristalina,
Pra que eu mude dessa sina,
Era preciso por certo,
Ficar sempre bem desperto,
Senão fazia besteira,
Vou mudar da bandalheira,
Viver um viver correto...

Sabendo que precisava,
Um padre de coroinha,
A moça bem safadinha,
Disse que ali eu achava,
Contadinho como fava,
Um novo rumo pra vida,
Era coisa divertida,
E também mais sem perigo.
Agora; disse, é contigo,
Vai procurar essa lida...

Sacristão foi, na verdade,
Minha nova profissão,
Devida de coração,
Deixei tudo na saudade,
A vida sem crueldade,
Um caso pra se pensar,
Levando a vida a rezar,
Sem ter contrariedade
Os homem dessa cidade,
Não vão ter que reclamar...

Batendo o sino de tarde,
De manhã e de noitinha,
A vida bem de mansinha,
Sem ter mais nenhum alarde
Levando a vida covarde,
Mas com certeza da cura,
Sem ter mais nem noite escura,
Nem buraco adonde eu caia,
Sem preparar nem tocaia,
Vida sem ter amargura...

Passa dia mês e ano,
A lida no mesmo pé,
Sou companheiro da fé.
Vivo a vida sem engano,
Deixando todos meus plano,
Seguindo sem covardia,
Finjo que nunca queria,
Que tivesse mais encrenca,
Tanta beata de penca,
Mas nenhuma merecia...

Acontece que, de noite,
Perto dessa sacristia,
Vez em quando eu ouvia,
Um barulho qual açoite,
E resolvi, de pernoite,
Trabalhar, fazer serão,
Que tremenda confusão,
Eu houvera de escutar,
Parecia complicar,
A minha imaginação...

Saia com saia é fogo,
Duas saias se levanta,
Uma delas era santa,
Outra entrando nesse jogo,
Não adianta nem rogo;
Tá armada essa quizumba,
Preparei a catacumba,
Dessa não vou escapar,
Quando parei preu olhar,
Vi, defrente a minha tumba...

Apois bem, bem reparando,
Uma saia tinha pinto,
Meio branco meio tinto,
O pinto já tava entrando,
Bem devagar, cavucando,
Outra saia bem no fundo,
Nesse buraco profundo,
Nem que todo mundo caia,
Balançando a samambaia,
Quase que se acaba o mundo...

Reparando no saiote,
O outro tinha outra sina,
Não era saia, batina,
Do padre dando pinote,
Remexendo num só xote,
Num tremendo só xotão,
Na tremenda confusão,
A moça num reparei,
Bem quietinho eu voltei,
Silêncio de sacristão...

Nas noites das sextas feiras,
Quando a lua se enchia,
A mesma cena vadia,
As mesmas coisas besteiras,
Eram useiras vezeiras...
Depois dessa temporada,
Passei a num crer em nada,
Também queria trepar,
Não importando o luar,
Nem dia nem madrugada...

Uma das beatas novas,
Mola de muito colchão,
Tinha grande coração
Não precisava mais provas,
De santo fez muitas covas,
Mas não quero santidade,
Estando na flor da idade
Queria era safadeza,
E com essa tal pureza,
Treterice de verdade...

Na sacristia, meu canto,
A moça fez o serviço,
Não deu nenhum enguiço,
Que eu também não era santo,
Rezava, orava entretanto,
De noite sentava pó,
Nunca me sentia só,
A beata não falhava,
Toda noite ela me dava,
Eu queria o fiofó...

A moça num reclamava,
Serviço era de primeira,
Nos mato, na barranceira,
Que gostoso que chupava,
De mansinho o pau entrava,
Fazia estrago com fé,
De lado, banda ou de pé,
Da maneira que pudesse,
Bem do jeito que quisesse,
Só num deixava de ré...

E por mais que prometesse,
Que pedisse pra beata,
Naquele ata não ata,
Não deixava que metesse,
Nem tampouco que mexesse...
Mas, depois de tanta reza,
Beata que não se preza,
Não pode mais resistir,
Se, agora, quisesse vir,
Deixava, mas sem reveza!

A danada abriu tudinho,
Arreganhando essa bunda,
É nela que tudo afunda,
Passei a mão com carinho,
Fui botando com jeitinho;
Mas de repente gritou,
Doeu não doeu, chegou,
Era o padre que chegava,
E bem logo me avistava,
Nessa hora tudo brochou!

Me chamando de safado,
Botou a moça pra fora,
To ferrado, disse agora,
Chamei o padre de lado,
E falei ter encontrado,
Ele com a mão na massa,
Depressa perdeu a graça,
Me pediu que eu me calasse,
Que pra ninguém eu contasse,
Que seria uma desgraça!

Prometi, ficar bem quieto,
Não contar para ninguém,
Se calasse ele também,
Que, naquele mesmo teto,
Mulher que entrou saiu reto,
Não precisava ter medo,
Tava guardado o segredo,
O safado então pediu,
A beata que ele viu,
Botasse somente um dedo...

Me falou de troca troca,
Ele me emprestava a sua,
Desde que deixasse nua,
A minha para a minhoca
Entrar de leve na toca...
Falei o troço tá feito,
Assim fica bem direito,
Faça assim como quiser,
Mas pergunte pra mulher
Se ela topa esse malfeito...

Depois de muita conversa,
Ele c’a dele eu c’a minha
Combinamo na noitinha,
Dessa vez sem muita pressa,
Nessa reza que confessa,
A gente ia ter festança,
De comida enche a pança,
Festa nessa noite inteira,
Na próxima sexta feira,
Tava feita tal lambança...

Sexta feira tá chegada,
Lua cheia lá no céu,
Vamos fazer escarcéu,
A noite não vale nada,
Vamos varar madrugada,
Numa boa da suruba,
Quando um entra, outro entuba,
Na beata ponho fé,
Mas também não fico a pé,
Na do padre, pego a juba...

Quando começou a liça,
Reparei meio de banda,
Agora é que se desanda,
Senti cheiro de carniça
Minha vida agora enguiça.
Tô ferrado, Deus me livre,
Das desgraças que já tive,
Nas quebradas dessa vida,
Essa era uma das fedida,
Um gemido não contive...

Ao ver que quem me abraçava,
Coisa que a gente repara,
Quando olhei pra aquela cara,
Vi que a coisa se lascava,
Ferradim agora estava...
A mulher que eu ia ter,
Quando deu-se a conhecer,
Tô fudido nessa peta,
Era a mulher do capeta,
Falta me reconhecer!

A danada então me viu,
E lembrou daquela briga,
Que era coisa bem antiga,
Um sorriso então abriu,
Fui pra puta que pariu,
Com os óio esbugaiado,
No mundo desarvorado,
Corri sem olha prá trás,
A pilantra veio atrás,
Me xingando de viado...

Agora essa minha lida,
Não tem mais nem solução,
O danado capetão,
Chifrudo e fulo da vida,
Por causa dessa bandida,
Não vai me dar mais sossego,
Nem se eu lhe pedir arrego
Não me deixa mais em paz,
E brigar com Satanás,
É não ter mais aconchego...

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