quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Joao Polino - O mar é azul

O mar é azul, e isso ninguém pode negar. Acontece que, em Santa Martha, distante do mar e próximo da montanha, essa realidade traz fantasias maravilhosas sobre o tamanho, a cor e o sabor salgado da imensidão marinha...
João Polino ,meninote ainda, resolveu ir sozinho ao Rio de Janeiro. Coisa quase impossível àquela época, nos anos trinta. Estradas de terra sem nenhuma pavimentação, teria que ir a cavalo até Alegre e depois pegar um ônibus que o levaria à cidade Maravilhosa.
Mas nada é impossível quando os sonhos são grandes e a força de vontade maior ainda, e esse era o caso do nosso herói.
Num dia de domingo, nos idos de março, montou o seu cavalo, prometendo trazer a água do mar, pelo menos um cantil, para a sua amada irmã e quase mãe Oracina...
Dias longos e difíceis nas costas de um cavalo cansado e envelhecido, um verdadeiro rocim quixotesco, iam os dois, o jovem cavaleiro e o velho animal descendo a serra do Caparaó.
Dinheiro? Quase não levava, o bastante para pagar as passagens de ônibus entre Alegre e o Rio de Janeiro. Coragem muita, dono dos fantásticos e irresponsáveis dezesseis anos de idade.
A noite trazia as suas armadilhas e era melhor dormir, deitado sob a luz da lua e ouvindo a sinfonia de grilos, sapos e corujas. Claridade, somente a dos pirilampos que povoavam os sonhos do nosso amigo.
Passa-se o primeiro dia, o segundo e no terceiro dia da aventura, o imprevisível aconteceu. O cavalo, cansado da viagem, deitou-se e não mais se levantou.
O que fazer? Como poderia seguir adiante?
Para sua sorte, estava próximo de Alegre, deixara Celina para trás e a serra agora estava acabando, numa descida cheia de curvas e desesperanças...
Voltar atrás seria a decisão de qualquer um mas, quem disse que João Polino era qualquer um?
Herói que se preza não pode temer intempéries nem dificuldades e, promessa feita era para ser cumprida.
Faltavam poucos quilômetros para chegar em Alegre e isso era o bastante.
Mas, o dinheiro que levava não daria para a volta, já que teria que comprar ou, pelo menos, alugar um outro corcel.
A decisão cruel, embora a única possível, se apresentou. Teria que comprar um cavalo em Alegre e reiniciar a viagem, de volta...
Mas, pensamento rápido como o de João era raro e, teve uma brilhante idéia.
Água azul, mar azul, água salgada e mar salgado...
Oracina não perdia por esperar!
Numa vendinha no centro de Alegre, João resolveu os seus problemas.
Comprou um tablete de anil e um quilo de sal.
A água poderia ser do rio Norte mesmo, o cantil esperava a água marinha...
Não deu outra, três dias depois, Oracina tinha em suas mãos a mais legítima água azul e salgada do mar nas suas mãos...

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