domingo, 27 de agosto de 2006

Gilberto e o Peixe estranho...

Pescaria boa, somente nos meses que têm a letra R: de setembro a abril, quando está mais quente e os peixes ficam mais espertos.
Pescar no inverno é quase certeza de bornal vazio. Menos para Gilberto, o nosso grande pescador!
A isca não importa, muito menos a vara, ele pesca até sem anzol!
E isso causou espanto em todos os pescadores de Santa Martha, acostumados à pesca menos exitosa, felizes com os poucos bagres, mariazinhas, cambevas e outros peixes noturnos...
Acontece que, naquele dia de inverno; inverno santamartense que, para quem não conhece é de um frio cortante e inesquecível, ainda mais se embalado com a garoazinha chamada de “nublina” pelo povo da região, Gilberto se animou a ir pescar.
Dona Rita quis impedir, mas sabia que seria em vão, Gilberto era de uma teimosia asinina!
Preparativos feitos, Betinho partiu rumo ao delicioso hábito da pesca.
Noite fria e garoenta, os ossos tiritando e as mãos congeladas...
A pescaria ia, como sempre, num marasmo gostoso e, se não fossem os pernilongos e muriçocas, dava até vontade de dormir...
Quando, de repente, a vara enverga com força. Gilberto, numa luta hercúlea, depois de três horas, conseguiu finalmente retirar o peixe do rio.
Peixe estranho, meio cor de rosa, com um nariz diferente, sem escamas.
Beto, desconhecendo o peixe, mas satisfeito com a pescaria, resolveu se dar por satisfeito e mal esperava para mostrar a todos aquela espécie diferente que tinha conseguido pescar.
Ao chegar em casa, lá pelas três horas da manhã, foi se deitar e sem incomodar ninguém, temendo as broncas de Ritinha e de Seu João Polino, foi para a cama, sem ao menos se lavar; trocando de roupa silenciosamente e às escuras.
O peixe fora deixado, estrategicamente, próximo à sua cama, numa bacia bem grande, onde mal cabia o graúdo.
O sol ia nascendo quando Beto ouviu um barulho estranho.
Como se tivesse caído uma panela ou coisa assim.
Espantado, procura pelo peixe e nada.
Procura daqui, procura dali, cadê o peixe, meu Deus.
Algum moleque safado tinha entrado pela janela e roubado o seu peixe estranho. Agora não poderia mais contar para ninguém sobre o que tinha acontecido, sob pena de ser chamado de mentiroso.
E, mentiroso, era coisa que não admitiria, tudo menos mentiroso.
É claro que podia, como todo bom pescador, podia até exagerar um pouco; mas mentira era coisa proibida no seu vocabulário.
De repente ouviu um barulho que parecia vir de cima, com um rabo de olho deu uma guinada e, para sua surpresa, viu o inacreditável.
Um jovem nu, inteiramente nu, em cima do seu guarda roupa.
Ah, Beto ficou furioso, como é que podia ter entrado um sujeito e ainda mais pelado, no seu quarto.
Como iria se explicar ao povo de Santa Martha? Logo ele, tão machista e metido a paquerador!
Um homem bonito, deveras muito bonito, peladinho de tudo, nuinho da silva...
Beto, reparando com mais cuidado, percebeu que na boca do rapaz havia um corte, um profundo corte, que perfurava sua bochecha...
É, por pouco não tivemos o primeiro filho do boto de Santa Martha...

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