domingo, 27 de agosto de 2006

Gilberto, O Pescador

Gilberto era o maior pescador de Santa Martha, e disso ninguém pode duvidar.
Um dia, a sua sobrinha Alessandra veio passear, em visita aos seus avós, Seu João Polino e dona Rita . Betinho convidou-a para irem pescar no rio Norte, que atravessava a pequena e convidativa Ibitirama.
Alessandra e seu pai, Joãozinho ficaram muito animados com o convite e fizeram todos os preparativos necessários.
No dia marcado para a aventura, fizeram uma massa especial que consistia num misto de ração, com farinha de trigo e queijo. Prepararam duas varas com molinete e partiram para a margem do rio, junto com o nosso herói.
Surpreendentemente, Gilberto não levava nada a não ser um desses caniços de bambuí muito usados pelos sertanejos para a pesca de lambaris e de acarás.
No meio do caminho, o rio fazia uma curva muito fechada e Joãozinho, que passara sua infância naquelas redondezas não reconheceu tal curva.
Lembrava-se que havia um pé de ingazeiro aonde ia, muitas vezes, se deliciar com os ingás que ajudavam passar o tempo.
Pois bem , o pé de ingá tinha desaparecido e no seu lugar, o rio descrevia aquela estranha curva.
Como o poeta dizia que queria ter seu coração enterrado na curva do rio, João logo associou a curva a uma sensação agradável e comunicou a Gilberto como havia mudado a geografia daquele braço do Itapemirim.
Gilberto, sem pestanejar, foi desfiando seu rosário de histórias sobre pescaria.
A curva daquele rio tinha uma explicação, no mínimo inusitada.
Num dia de dezembro, o calor estava escaldante e a pescaria monótona não trazia nada além de lambaris e de pequenas acarás sem graça.
Mas, a vara de bambuí, num instante se envergou com toda a força.
Gilberto, agarrou-se com toda a força possível e impossível àquela vara e tentou, embalde, retirar o peixe.
Vendo que a situação era um tanto quanto complicada e aproveitando-se de que um cavaleiro, por coincidência, João Polino, passava por ali, teve uma idéia brilhante.
Pedindo a Seu João que apeasse, Gilberto amarrou a vara nas patas traseiras do cavalo e solicitou que esse fosse estimulado a tracionar
Tentando retirar o peixe.
Vara amarrada no cavalo, cavalo tentando sair, poeira levantando e nada de se retirar o peixe.
Nesse momento, passa um lavrador muito amigo de Gilberto e de João Polino e, ao ver a situação, teve a idéia de amarrar uma corda no seu fusca e tentar puxar.
Fusca amarrado no cavalo, cavalo amarrado na vara, fumaça nos pneus e nada do peixe sair.
Beto estava ficando desesperado mas, ao se lembrar que ali morava o seu Benedito e que esse tinha um jipe, solicitou ao mesmo que ajudasse.
Jipe amarrado no fusca, fusca amarrado ao cavalo, cavalo preso na vara e nada!
O peixe deveria pesar, por baixo, mais de quinhentos quilos, para poder agüentar tal tranco e nem se mexer!
A situação já estava passando dos limites quando o Seu Benedito recordou-se de que tinha um caminhão estacionado na venda do Paulão, vizinho de propriedade e fornecedor de todas as horas.
Paulão, ao ver a situação não titubeou; com uma corrente de ferro amarrou o caminhão no jipe, jipe preso no fusca, fusca preso no cavalo, cavalo na vara e o peixe teimosamente nem se movia...
A turma já ia desistindo quando surgiu a presença de Mário.
Funcionário da prefeitura, estava patrolando as estradas de terra do município, e ao ver tal fato inusitado, cedeu a patrol para a tentativa de se retirar o peixe.
Patrol atada no caminhão, caminhão preso no fusca, fusca preso no cavalo, cavalo na vara e, mesmo assim, nem se movia...
Alessandra já irritada com a história resolveu dar um basta e perguntou definitiva:
-E aí Gilberto, o quê que aconteceu afinal?
Gilberto calmamente, respondeu: -Ué! Você não queria saber porque que apareceu essa curva?
Entortamos o rio mas não tiramos o peixe....

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