sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

sonetos 053 e 054

À janela, de noite te esperando,

Na forma deste vento tão suave,

Aos poucos tua voz já vem chegando,

Nos sonhos, meus desejos, uma nave...

O vento, calma brisa, me tocando,

Abrindo o coração, encontra a chave

E sem que eu sinta já chega me entranhando.

Permito que este sonho sempre lave

As dores do que fui e não sou mais,

Não tenho mais as penas que sofria...

Agora, que sou teu; encontro a paz,

A paz que tantas vezes procurara...

A voz que escuto, enfim, é tão macia,

Desta mulher tão bela quanto rara...

X

Reclamas quando falo em tanto amor,

Desculpe meu amigo, são meus versos

Reflexos do que sente um sonhador

Que paira por caminhos mais diversos

Daqueles que procuras por pudor.

Tive desilusões, mares imersos

Talvez não suportasse tanta dor

Se não tivesse sonhos mais dispersos

Falando de promessas esquecidas,

Dizendo deste esgoto em que vivemos,

Não sei se estas conversas repetidas

Fizessem tanto bem a quem procura

Nas cruzes e rancores que tivemos,

Achar a solução pra noite escura...

X

Na fonte dos desejos eu te vi,

No espelho; refletida nos meus olhos,

De tanto amar demais eu me perdi,

A solidão colhida quase em molhos.

Mas veio um vento doce que me disse

Se todo grande amor termina assim,

Qual fosse triste sina que cumprisse;

-Resista amor imenso, até no fim!

Meu canto no teu canto se propaga

A chama que nos queima não termina,

Apenas determina; não se apaga,

Acende no teu fogo. Uma menina

Que sabe muito bem o que bem quer,

Na cama me fascina: Que mulher!

X

Meus filhos são meus versos prediletos,

São feitos da alegria e da esperança

De sonhos mais perfeitos e diletos,

Limites onde a vista, minha, alcança...

Passeiam pela casa meus afetos

Brincando com pureza de criança.

Às vezes; nos meus sonhos incorretos,

Jogado n’algum canto da lembrança

Esqueço que também corria solto

Na casa dos meus pais, doce janeiro...

Nos braços da saudade vou envolto

E acordo com um grito ou um sorriso,

E o amor que é mais completo e verdadeiro,

Convida a padecer no paraíso!

X

Me lembro da presença delicada,

Tão mansa mas perfeita em sintonia

Daquela que com mãos de seda e fada

Aos poucos me domava em alegria...

Faz tempo que desejo, mãe amada,

Cantar nestes meus versos, poesia

À ti, mulher querida e dedicada,

Amiga e companheira, dia a dia...

Te sinto, mesmo longe, aqui tão perto,

Amor igual ao teu não recebi,

Estás em cada dia em que desperto

No sol que no meu mundo descortino,

Beleza sem igual encontro em ti,

Minha querida Osília Mannarino!

X

Refugos do que fomos no passado,

São vestes que não cabem. As despreze...

O tempo pode ser teu aliado,

Por isso, as diferenças, sempre pese.

Que o corte nunca seja aprofundado

Que a faca do que fomos não te lese,

Não digo que futuro é belo prado,

Somente quero defender a tese

De que a vida merece ser vivida

Com olhos no amanhã. A cicatriz

Já representa a cura da ferida.

Moinhos só se movem com agora,

Talvez pensando assim, seja feliz,

Não use o que passaste como escora!

X

Recebo teu carinho contumaz

Neste esplendor perfeito, tanto afeto.

A boca te beijando pede, audaz,

O beijo mais gostoso e predileto..

Estrelas tão serenas, noite traz,

Encanto deste canto predileto,

Eu quero ser do amor, no amor capaz,

De amor viver seguro, estar repleto...

Meu verso vai na busca do teu verso

Formando este universo todo nosso,

Unido sentimento, jamais disperso,

Provoca um maremoto no meu peito,

Falando em nosso amor, amor endosso

Sabendo: ser feliz, nosso direito!

X

Estrela dos meus sonhos mais bonitos,

Rainha deste céu que me ilumina.

Eu clamo por teu nome aos infinitos,

Tua alma generosa, perla fina...

Cintilas no meu céu, imenso brilho,

Sonatas ao luar, mil madrigais,

Meu peito que, antes, era maltrapilho,

Agora navegante dos astrais...

Aromas delicados, tua boca,

Na seda, em tua pele, a me perder...

Minha alma na tua alma já se enfoca

Reflete esta beleza do teu ser.

Tu és amante amada. Amor, querida...

Por certo és a mulher da minha vida!

X

“Ah! Se eu pudesse te abraçar, agora!”

Te juro, não soltava nunca mais!

Se a chuva vai caindo bem lá fora,

Saudade, no meu peito inda é demais!

Meu peito, desejoso, só te implora,

Não deixe-me sozinho, amor, jamais!

Vem cá, moça bonita. Tá na hora!

Meu barco precisando do teu cais!

Tu és a manga rosa do pomar

Que Deus celestial me preparou.

Jamais de amar demais, irei deixar,

Te quero noite e dia sem parar,

De noite balançando a rede. É gol!

Beijar, fazer amor? Só começar!

X

Teus braços me envolvendo tentadores,

Me acalmam, produzindo sensações

Que trazem os canteiros em mil flores

Perfumes adorados das paixões...

Te quero bem além de tantas dores

Causadas pelas tristes ilusões

Formadas por terríveis dissabores

Que cortam e maltratam corações.

Em teus braços, meus barcos acham cais

Descansam da batalha, dia a dia,

São mais do que promessa, são avais,

Certeza de que a vida vale a pena.

Por isso que; em ti, vejo a garantia

De um tempo mais feliz que a vida acena...

X

Paixão que se deslumbra violenta

Tragando cada sonho revelado;

Jamais se permitindo mansa e lenta

Demonstra-se no olhar mais transtornado...

Paixão que se transforma em vil tormenta

Neste incontido gesto do passado,

A boca se tornando mais sedenta

Da boca que se quer, extasiado...

Ao mesmo tempo ignóbil, anda tão frágil,

Ao mesmo tempo insana é paciente,

Permite-se ao convite e ao contágio,

Faz do meu coração pobre palhaço,

Embora se derrete em forno quente,

Cortante, no meu peito, invade o aço...

X

Quando te vi nascendo de meus braços
Com incomensurável rebeldia,
Reconheci em ti meus próprios traços,
O mesmo ranço de amor e fantasia.

Vieste com ternura e com firmeza
Retratas o que sinto em cada verso.
Envolto em teu carinho e t’a beleza,
Meu canto se encontrando mais diverso,

A forma soberana e tão altiva
Que não se permitiu ser mais cruel,
Minha alma se tornando em ti cativa,
Tu és a poesia, fel e mel.

Mas saiba que te adoro a cada dia
No sonho deste amor em sintonia...



X

Os teus lábios, sedentos, sensuais,

Buscando, nos meus lábios, contraponto,

As línguas já procuram céus, astrais,

Deixando-me mais leve e quase tonto.

Querendo descobrir cada vez mais

Os tão doces delírios que eu apronto

Nos festins delicados e fatais

Das estrelas que tento e jamais conto...

Carinhos se procuram; sonhadores

Canteiros inundados pelas flores

Tão belas quão morena riso e graça,

Que passa e que entontece um trovador

No beijo que um futuro bom já traça,

Imerso em mil desejos, nosso amor...

X

Bebendo docemente em tua boca

O gosto da aguardente inebriante,

Vontade de te ter ficando louca,

Não deixe que se acabe um bom instante;

Angústia vai morrendo de tão pouca

A lua se tornando radiante,

A voz vem num sussurro, quase rouca,

Deitada em nossa cama, minha amante...

Bebendo toda gota do desejo

Que explode numa dança sensual,

Amar não necessita ter traquejo

É só deixar fluir... Que o bom já vem,

Todo dia, o prazer é ritual,

Bebendo e me inundando em nosso bem...

X

Das flores que plantei no meu canteiro

O cheiro sensual da rosa rubra

Desejo tão real e derradeiro,

Fazendo com que a sorte, enfim, descubra.

Perfumas minha mão de jardineiro,

Trazendo toda sorte que a recubra

No olor mais delicado e verdadeiro.

Não deixe que esta nuvem má encubra

A rosa sensual e perfumada

Que nasce no jardim mais bem cuidado.

Só pede meu carinho e quase nada

Além duma emoção pura e sincera.

Por isso, pela rosa apaixonado,

Renasce, no meu peito, a primavera!

X

Não quero em nosso amor, tal empecilho
Que possa transtornar o que persigo,
Permita-nos seguir o intenso brilho
Que sempre iluminou qual trilho amigo.

Não deixe esta saudade sempre-viva
Permita que esta rosa me inebrie,
Eu clamo o teu amor em rogativa
Nas
teias deste canto, já me fie.

Confie que esta vida sempre leve
Nós dois, apaixonados, para o céu,
Que toda esta tristeza seja breve,
Em pouco tu terás amor e mel.

Amor não se derruba com machado
Quando no coração vai bem cuidado...

X

A solidão é gume de um punhal

Cravado nas entranhas dum amor.

Por vezes o seu corte traz fatal

Desilusão em forma de temor.

Bem longe do que mostra ser normal,

Calando a voz de um frágil sonhador,

Carrega bem guardado no bornal

Espinhos. Aos milhares, matam flor.

Amiga da mentira, irmã da intriga,

A solidão é fera e sem pudor.

Criando com a morte, forte liga,

Com traços de total iniqüidade,

Somente um sentimento salvador,

Nos cura deste mal: uma amizade!

X

Quando na febre intensa te encontrei

Sentia esta presença qual delírio.

De todo o sofrimento que passei

Marcado pelos cortes do martírio,

Eu via uma esperança mais sublime

De uma felicidade tão imensa...

Permita que, por isso, eu tanto estime,

O teu amor que é minha recompensa!

Afago teus cabelos, beijo a boca,

Deitado no teu colo; sinto o céu...

Pois quem já vira a sorte longe e pouca,

Aos poucos, vai mudando o seu papel.

Na febre do desejo que me inflama,

Meu corpo quer remédio em tua chama...

X

Percorro tais caminhos de cristal
Dos sonhos delicados e excitantes
Teu corpo se apresenta sensual
Incenso se mistura a diamantes.

Quarando nossa vida no quintal
Deitando sob os astros deslumbrantes,
Mergulho em fantasia e no final
Eu te amo muito mais que amei bem antes.

Montando num cavalo prateado,
Nas asas vou buscando o nosso céu,
Meu sonho se percebe extasiado,

As portas do infinito vão se abrindo
Sabendo deste vôo do corcel
E vejo o paraíso: céu infindo...

X

Um beijo divinal roubado às pressas

Quando menos se espera me alucina...

Enchendo de esperanças e promessas

Meu sonho de ser teu, minha menina...

Depois de tantas horas de conversas

De amar, a resistência cedo mina,

Deixando as emoções logo às avessas

Beleza num futuro; descortina...

Ah! Como estou feliz e não sabia

Que amar seria assim, tão mavioso...

O canto que se empresta em fantasia

Mostrando como é bom poder amar,

Agora, caminhando vaidoso,

Já sei significado do luar!

X

Minha alma se aposenta em teus carinhos,

Deitada em tua cama, gozo e dor,

Guardando o sentimento em escaninhos,

Me entrego ao teu desejo e teu furor...

Abusas dos folguedos mais vorazes,

Acendes a fornalha da loucura

Mostrando teus delírios tão mordazes,

Me morde e me maltrata com ternura.

Sentindo-me um joguete nos teus braços,

Dominas cada qual dos meus sentidos,

Riscando em cicatriz, tatuas traços

Nas costas, nos meus pés já combalidos...

E vamos noite adentro em tal bailado;

Sangrando nosso amor, apaixonado...

X

Meu coração servido em iguaria

Neste banquete imenso, dionísico,

Devoras calmamente nesta orgia

Aos poucos sei que vou morrendo em físico...

Sou sobra do que fora um sonhador,

Entregue ao teu desejo demoníaco,

Mas saibas que sou teu adorador,

Te quero com prazer paradisíaco...

Servido como prato principal

Na cama, o teu altar mais freqüentado,

Latejos de desejo sensual,

Me sinto, aos poucos, sendo devorado...

Hedônica figura de serpente,

Que quer me envenenar, e estou contente...

X

Meu pensamento, nunca soberano,

Jamais cuidou de ser do amor cativo,

Depois de se perder em desengano,

Criou esta ilusão de amor que vivo.

Vencido pela força das quimeras,

Amor levara sempre duros fardos,

Sabendo quanto doem as esperas,

Amor já se cortara em tantos cardos...

Porém destes espinhos do caminho,

Amor encontra a flor mais delicada,

E sabe que se foi bem mais sozinho,

Agora segue a vida iluminada

Nos braços de quem mais valera pena,

No colo extasiante da morena...

X

Eu desculpo ao amor o meu tormento

Bem sei que não se pode desejar

A vida sem sequer um sofrimento,

Porém nuvem não pára a luz solar

Apenas ocultando por instantes

Depois da chuva forte, volta o brilho,

Às vezes com mais força agora que antes,

Livrando um coração tão maltrapilho...

Após a solidão veio a morena

Que trouxe tal perfume ao meu jardim,

A sorte benfazeja sempre acena

Rompendo a tempestade, antes, sem fim.

Mereço melhor sorte que viver

Distante da alegria e do prazer!

X

Eu agradeço amor por esta sorte

Que trouxe uma sem fim felicidade,

Quem fora simplesmente sangue e corte,

Agora se permite a imensidade.

Ganhando o paraíso, eu conheci

Das terras planaltinas, a princesa

Que se entregou ao manso colibri

Enchendo de alegria, a natureza,

Nas danças, nas andanças sem sentido,

Nos sonhos mais bonitos um castelo

Em pleno coração do reino erguido,

Imenso e gigantesco, calmo e belo,

Para homenagear a sensual

Princesa, este caboclo Taj Mahal...

X

Quem vive descontente não percebe

Que a luz eternamente vai brilhar

Naquele que amizade já concebe

Levando pelo braço como um par.

Amigo é como irmão que Deus nos deu

Um anjo que protege nas tristezas.

Um lume que clareia quando o breu

Esconde no porão tantas belezas.

Amigo é sempre mais que companheiro

Amigo compartilha nossas dores,

Embora nos defenda é verdadeiro,

Nos fala sem mentiras ou pudores...

Amigo, como é bom saber que estás

Trazendo esta harmonia, plena em paz...

X

Aos poucos desnudando essa pantera

Que existe na mulher que desejei,

Da flor que despetalo; a primavera,

Se entorna na nudez que eu ansiei.

Liberta adormecida e louca fera

Que quer nesse prazer sulcar a lei

Amando sem limites, vem à vera

Sugando cada gota, me faz rei...

As pernas se procuram no tapete

Estendido na sala de jantar,

Sedento... Esta vontade de beber-te

Aumenta cada vez e muito mais...

Devoro enquanto deixo devorar

Amar e ter prazer nunca é demais!

X

Sem lágrimas, suspiros, vãos tormentos

Eu quero o nosso amor profundo, intenso.

Tomando já de assalto os pensamentos,

Desejos de viver amor imenso.

Numa órbita perdida, sem destino,

Sem ter sequer parâmetro, me perco,

Se estás distante morro em desatino,

As dores vão fechando todo o cerco.

Mas quando recupero tua imagem

Na mira dos meus olhos, quero o zoom,

Amada, és minha bússola em viagem,

Sem ter o teu carinho, sou nenhum...

Por isso que te quero, sem demora,

Quem sabe nunca mais deixa ir embora...

X

Neste teu colo brônzeo, sedutor,

Preciso descansar o meu desejo

De ser bem mais que simples sonhador

Que quer futuro imenso onde prevejo

A sorte benfazeja e decidida

De ser além do amor, eternidade,

Viceja a doce flor, cerrando a vida

Nos braços em total felicidade...

Na tua pele bela e tão trigueira,

No teu sorriso mármore mais puro,

De quero aqui comigo, a vida inteira,

Espero poder ser o teu futuro.

Amada, em raridade, minha flor,

Quem dera colibri, teu beija-flor!

X

Fujo de mim, me encontro nos teus braços,

Que sabes, são meus portos, são meus cais.

Atados por potentes, fortes laços,

Distante dos teus braços, sou jamais...

Vagueio o pensamento por espaços

Vazios, sem saber se virás mais,

Mas quando te pressinto, e sigo os passos,

Percebo que viver é bom demais...

Amada não me deixe sem notícias,

Não posso mais seguir sem ti, sozinho,

Derrame uma avalanche de carícias,

Me afogue me cercando de carinho,

E vamos sempre avante sem perguntas,

Levando as nossas vidas, sempre juntas!

X

Na boca graciosa, o riso franco,

De quem sabe viver e ser feliz.

O sangramento na alma sempre estanco

Nesta alegria imensa que me diz

Que a vida, meu amor, já vale a pena,

Que mesmo a fantasia nos consola.

Por mais que esteja só, a vida acena

E toda uma tristeza se controla

Com palavras mais doces, mais sinceras,

Tu sempre conseguiu ser lenitivo,

Mesmo quando sozinho, entregue às feras,

Mesmo quando da dor eu fui cativo...

Por isso minha amada companheira,

Preciso estar contigo a vida inteira!

X

Quando eu estou sozinho e descontente;

A solidão batendo à minha porta,

Pensando: ser feliz é mais urgente,

Uma saudade imensa, amor comporta...

Procuro a solução que me sustente

De paz e de alegria. A dor se aborta

E torna-se mais frágil, de repente.

A vida, distraída não me corta...

Dos males que padeço, nem te falo,

Das dores que carrego, nem te digo,

Ao ver tanta tristeza, assim, me calo.

Mas sinto a tua mão, sinceridade,

É bom poder contar contigo, amigo.

A solução que espero: Uma amizade!

X

Nas cores que alumiam meu desejo,
Inúteis passarinhos quedam sós.
Se vejo não prevejo nem revejo;
Desejo e quero ouvir a tua voz...

Na sala do meu sonho, um azulejo
Quebrado, me prendendo tortos nós...
Se perco não me pelo nem pelejo,
Eu não quero ser algo ou ser algoz...

Caminho por teu ninho e tua senda...
Espero-te na curva do meu rio.
Nos desertos, ocara, taba, tenda,

Acabo vendo luz em mil amores...
Coração que não rebate mata o cio,
Eu quero, em teu desejo, tantas cores...

X

Sou quase o que não fora se quisesse
Não somo nem distraio meus pecados.
Sou resto me mostrando em podre prece
À espera dos perdões anunciados.

Revisto minha pele com escaras
Deixadas pelas urzes mais ingratas
Sou pejo, sem desejo, não me encaras
Pois sabes dos perigos das cascatas.

As matas que se matam sem sermões.
Os ermos que erigimos nos desertos
Os cetros das incertas emoções,
Trazendo os meus sorrisos quase abertos

Cascalho que se rola em seco rio,
O canto que te alcança vai vazio...

X

Te via caminhando pelas ruas
O rosto transmudado me impedia,
De perceber as costas semi nuas
De quem compartilhara a fantasia.

Te via nas senzalas e botecos,
Em todos os quilombos e prisões.
Cruzando essas esquinas, tantos becos,
Imerso dentro em nossos corações.

Eu chamo-te de amigo e companheiro,
Tu me ensinaste assim, eu aprendi.
Depois que conheci teu verdadeiro
Rosto, essa imagem nunca mais perdi.

Adubo verdadeiro em bela flor,
Nascendo no canteiro deste AMOR!

X

O meu peito se afoga no desejo

De ser o teu destino, sina e rumo.

Sentir da sorte o gosto no bafejo

E não perder a vida, leve fumo...

Tu sabes, já faz tempo, eu te cortejo

Pois quero te provar, delícia e sumo,

Agora que percebo, nesse ensejo,

Aos poucos, nessa idéia me acostumo...

A febre de sonhar nunca me larga,

Eu quero poder ser senhor, cativo,

Amor crava sem dó, a doce adarga,

Que traz prazer como uma hemorragia,

Morrendo neste amor, estou mais vivo,

Vivendo sem sofrer, morro alegria!

X

Solto o teu cabelo, roço a nuca,

E sinto no arrepio, o teu desejo.

A barba que mal feita, te machuca,

De leve vai seguindo o bom cortejo...

Os olhos revirando, entreabertos,

As mãos se deliciam na procura,

Oásis vão jorrando nos desertos,

Aos poucos sensação de uma loucura

Sem par e com destino bem traçado,

Vasculham-se perfeitas emoções,

Neste furor intenso, apaixonado,

No peito, corações, palpitações...

Ouvindo o teu suspiro venturoso,

Um mar de amor se inunda em nosso gozo...

X

Um beijo divinal roubado às pressas

Quando menos se espera me alucina...

Enchendo de esperanças e promessas

Meu sonho de ser teu, minha menina...

Depois de tantas horas de conversas

De amar, a resistência cedo mina,

Deixando as emoções logo às avessas

Beleza num futuro; descortina...

Ah! Como estou feliz e não sabia

Que amar seria assim, tão mavioso...

O canto que se empresta em fantasia

Mostrando como é bom poder amar,

Agora, caminhando vaidoso,

Já sei significado do luar!

X

Perfumo o nosso leito com jasmim

E rosas escolhidas no canteiro

Regado por amores sem ter fim

Lagrimado no sonho derradeiro...

Que faço deste mundo sendo assim,

Se vais por outro sonho por inteiro,

Sem teu amor querida sou, enfim,

Um barco que perdeu o timoneiro...

Mas vejo uma esperança neste olhar

Sereno e sedutor atrás da porta.

Quem sabe poderemos navegar

Por mares bem mais calmos e serenos...

Assim nem a tristeza quase morta,

Nos cabe, com seus últimos venenos...

X

Kágado é bicho perrengue,

Mas ateima até chegar:
O meu amor é constante

- Inda vem a te alcançar. (Minas Gerais)

Bem sei que sou teimoso, meu amor,

Meus versos não se cansam de chamar.

Eu carrego o teu nome pr’onde for,

Preciso, pra viver, do teu amar...

Amar é ser assim, muito constante

E não deixar jamais de persistir,

Quem sabe o teu amor, vem num instante,

Por isso nunca mais vou desistir...

O tempo vai passar, vou criar ruga,

Mas mesmo assim vivendo para ti,

Com paciência, a pobre tartaruga,

Depois de muito tempo chega aqui.

Dizendo o meu amor, eu não me canso,

Quem sabe, qualquer dia, eu não te alcanço?

X

Já sou velho e tive gosto,

morro quando Deus quiser;

duas coisas me acompanham:

Cavalo bom e mulher. (Paraíba)

Tantas vezes passei por esta estrada

Montando meu corcel, vulgo esperança,

Nas mãos uma saudade e quase nada,

No peito, a juventude, uma lembrança...

E levo tantas flores para ti,

Em cada flor um verso mais bonito

De todos os canteiros recolhi,

Os sonhos de um viver menos aflito.

Sorrisos que eu carrego; sempre francos,

Repito cada coisa que eu te disse,

Os meus cabelos; sei que estão bem brancos,

Mas embora eu perceba esta velhice,

A vida me levando como quer,

Montado no cavalo e na mulher!!!

X

Garrafão tem fundo largo,

botija não tem pescoço,

pedaço de telha é caco,

banana não tem caroço. (Minas Gerais)

Não quero me iludir com nosso amor,

Embora te deseje noite e dia,

Eu sei que não suportas trovador

Que tenta te cantar sem poesia...

Arrisco estes versinhos já sem graça

Tentando te falar: te quero bem,

Porém sem um sorriso, nem disfarça

E passa sem me ver, eu sou ninguém!

Quem dera ser poeta pra dizer

Tantas coisas bonitas; te falar

De toda essa vontade de te ter,

De como é bom poder te namorar...

Porém eu nunca causo um alvoroço,

Banana, meu amor, não tem caroço!

X

Entre os suspiros do vento,

da noite ao mole frescor,

quero viver um momento,

morrer contigo de amor! (Álvares de Azevedo)

Sentindo este frescor do manso vento

Batendo na janela, minha amada,

Eu quero só viver mais um momento,

Depois deste momento, não há nada...

Suspiros vou ouvindo na janela

Chamando calmamente, diz seu nome,

A vida inteiramente sendo dela,

Renasce claramente. E logo some...

Esperando deitado nesta cama,

Vivendo ansiosamente quero ter

Calor que só se encontra em nossa chama,

Tão fácil de inflamar e de acender...

Me dê um só momento, por favor,

Viver tanto prazer: morrer de amor!

X

Com pena peguei na pena

com pena de escrever;

a pena caiu no chão

com pena de não te ver. (Piauí)

Onde estás meu amor que não te vejo,

Procuro-te nos céus, até na lua,

Tu és o pensamento que desejo

Na cama, madrugada, amada e nua...

Quando escrevo meus versos, meu amor,

Empresto o sentimento mais profundo,

Quero-te em cada canto, um sonhador;

Busco-te até no fim de um vasto mundo.

Minha amada; tem pena de quem sonha

Todo o tempo querendo o que se diz;

Contigo, minha vida vai risonha,

Escrevo estes meus versos, sou feliz...

A pena que caiu; se foi ao chão,

Tem pena, meu amor, de um coração!

X

A lua se entregando, imenso brilho,

Forrando a natureza em esplendor,

Formando com certeza um belo trilho

Para esse amante, triste e sonhador...

Ao ver tanta beleza busco exílio

Nos braços de quem sabe que o amor

É canto que merece um estribilho

Composto com carinho, sedutor...

No chão todo forrado por estrelas,

Essa deusa noturna se entregando,

Com toda uma ternura, sabe tê-las,

Testemunhas perfeitas, deste caso,

O sol já se aproxima, irradiando,

Deslinda-se na aurora, sem ocaso...

X

Quando a vida emprestar a solução

Ao caso que proponho e não resolvo;

Talvez encontre ali esta emoção,

A qual, tão simplesmente te devolvo...

Se trazes tanto amor quanto me dizes

Eu quero me enfurnar nos teus espaços,

Mas não me esqueço: somos aprendizes

Eternos destes sonhos, mil compassos.

Meu verso se atrelando nos teus cantos

Mais ocultos, se faz como promessa

De novo dia pleno em desencantos

Ouvindo simplesmente tal conversa.

Mas sei que estás distante, tão distante,

Talvez te alcance em lume radiante...

X

São tristes os caminhos desta vida

Para quem decidiu se entregar sem

Ao menos procurar saber-se tida

Como amada por outro certo alguém.

Amiga, cometeste o mesmo engano

Que eu. Tantas vezes tive como certa

A presença de quem, em desengano,

Minha alma pressentira a descoberta

Do amor. Porém te digo companheira

Que mesmo quando estamos enganados

Por essa sensação tão costumeira,

Devemos nos sentir recompensados.

Pois, por pior que sejam os espinhos,

Devemos procurar nossos caminhos...

X

Santos espasmos quero em nosso leito

De amor. Nestas convulsas sensações

Eu quero-me sentir tão satisfeito

Imerso na loucura de emoções...

Trilhando palmo a palmo este caminho

Deliciosamente descoberto;

Depois nas reentrâncias fazer ninho

E revezar escuro e céu aberto.

Eu quero o arfar dos seios desejosos

De mais e mais carinhos e carícias.

Dedos: exploradores talentosos

Sabendo deste mapa de delícias.

Eu quero ser enfim, um bandeirante

Em busca do tesouro deslumbrante!

X

Andando por estrada pedregosa

E dura, onde encontrara as tuas marcas

Deixadas num caminho, olor de rosa

Mostrando que, na vida, há flores parcas.

Bem sabes quanto é muito dolorosa

A sorte de quem perde vez nas arcas

Diluvianas sempre tenebrosas.

Quero ser timoneiro destas barcas.

Seguindo o teu caminho com cuidado

De quem, na vida, encontra tal tesouro

E sabe como deve ser guardado.

Tu és a raridade esmeraldina

Esculpida em cinzel banhado em ouro,

Por Deus, em carne humana, bela e fina...

X

Do dourado tão límpido que trazes

Neste olhar que me encanta qual farol

Lunar que não disfarça suas fases

E brilha neste astral bem mais que o sol;

Eu quero tal tesouro no momento

Mais feliz que percebo em minha vida

Acostumada a todo sofrimento

Que faz com que esta luz seja querida.

A sorte me enganara em tantas duras

Ilusões. Percebendo o teu olhar

Deslumbrando essas noites tão escuras

Incendiando as águas do meu mar,

Estou agradecido só por essa

Sorte que me deste, amor à beça...

X

Sonhos meus que te buscam pelas ruas

De esperanças, na esquina do futuro;

Não encontram teus passos, pois flutuas

E nunca deixa rastros no chão duro.

Porém, andando, espalhas teu perfume

Inebriante em todas as vielas

Por onde, desfilando, trazes lume

Como fosse centelhas de mil velas...

Encontro-te deitada, num vestido

Transparente, mostrando os belos seios;

Pelos quais, tanto tempo embevecido

Representavam todos meus anseios...

Aos poucos, desnudando-te de vez,

Sinto por qual motivo o amor se fez...

X

Se tantas vezes quis ser teu amigo,

Talvez não entendesse o meu recado,

Quem quer uma amizade, ceva o trigo

Na busca deste pão tão esperado.

Granando uma esperança mais bendita

Se sabe quanto é bom ter um alguém

Que tantas vezes, mesmo em dor aflita;

Nos acolher em paz, por certo, vem...

Vencidas as etapas mais confusas

Da vida entre guerrilhas e batalhas,

Um sentimento amigo não recusas;

Se temes estes cortes das navalhas...

Por isso companheira, seja amiga

De quem, em tantos sonhos já te abriga...

X

Tantas vezes me perco de mim mesmo

Sem saber se terei outra resposta,

Outras tantas, em vão, eu me ensimesmo

Apenas me enganando. A mesa posta

Na sala dos meus sonhos mais antigos

Servindo uma esperança num banquete;

Esquece a profusão de tais artigos

Que o amor já me legou, sem ter confete.

Após tua saída desta festa

Restou-me ser o que não mais queria,

Apenas por que o mal, sem dó, me infesta.

Sobrando essa esperança, uma iguaria

De raro paladar em minha mesa,

Talvez, no teu amor, a sobremesa!

X

Quem dera ser teu par. Ah! Quem me dera!

Dançarmos noite inteira sem parar,

De par em par, prazeres; sempre espera

Aquele que se queima no luar...

Sei dos teus seios nus em minhas mãos;

Sei desta sede imensa em sua boca,

Sei dos meus sonhos mortos, todos vãos,

Sei dessa saudade imersa, em ânsia louca...

Mas sei dessa esperança que se alcança

Na dança que seremos, nossos céus...

Sentindo essa emoção de ser criança

Desnudo, nessa danças, laços, véus...

Tomando esta nudez em minha cama,

Desvendo cada passo dessa trama...

X

Amor que sempre faz perder o siso,

Converte muito sonho em desventura,

Aos poucos se entornando em meu juízo

Arcando com tristeza em amargura.

Orgulho-me de ter sido flechado

Por quem outrora quis, e quero agora.

Mesmo que seja simples, encantado,

Meu peito nos teus beijos se decora...

Aguardo teu sinal, amor bendito,

Retorno sem temer à velha casa.

Deveras importante o nosso rito

Que forma essa fogueira onde se abrasa

O sonho de ser teu e seres minha,

Tanta potência em si, amor continha...

X

Quis alcançar teu sonho com meus sonhos,

E nada conseguira desde então,

Se fomos, no passado, tão tristonhos,

Agora nos tocamos, emoção!

Rondamos qual falenas, lamparina

Buscando exterminar a fera treva

Que aos poucos, dois amantes já domina

E faz com que a tristeza sempre atreva

A nos calar, deixando este resquício

De amargo fel que invade nossa boca.

Amar; porém, é santo e louco vício,

E a resistência morre, ou resta pouca.

Agora, que adormeces ao meu lado,

Esqueço os tais tormentos do passado...

X

Amor em desvario, já me assalta,

Roubando da razão, seu alicerce,

Minha alma, sem juízo e tão incauta,

Não quer um sentimento que a disperse,

Apenas a beleza do concerto

Que amor, em sinfonia, não despreza,

Se os erros do passando não conserto,

A vida penetrando em dura fresa...

Expondo minhas máculas sem medo,

Às vezes não concedo mais um til,

Amor sabe; do cofre, qual segredo,

Invade e traz surpresas, tão sutil...

Que faço deste amor; qual saltimbanco,

Que mata com sorriso, calmo e franco...

X

Os olhos que eu adoro, quando vejo,

Nos brilhos os meus trilhos são formados,

Criando uma afeição plena em desejo,

Meus rumos são por isso, alavancados...

Adoro o teu olhar, moça bonita,

É guia que me traz eternidade,

Não deixa, por favor, minha alma aflita,

Não negue ao sonhador, felicidade...

X

Procuro em flóreo sonho o seu vicejo

Etérea sensação tão linear,

Nos laivos e nos rastros tanto ensejo

Da fúlgida esperança de um luar.

Na palidez imensa do desejo

De ser além da vida aquém do mar,

Sentindo tais eflúvios do lampejo

Nesta certeza estúpida de amar.

Mascaro os meus delírios noutras sendas,

Escusas que te peço por meus erros,

Alguns; pura verdade, outros lendas,

Mas saiba que lutei. Insensatez...

Já legaste a mim, os meus desterros,

Por isso, derrocado, perco a vez...

X

Fugindo desta treva que em passado

Tão próximo se ergueu em nosso caso,

Eu vejo que inda sigo deslumbrado

Mesmo tendo sentido, perto, o ocaso

De nosso sentimento que, marcado,

Por essas rachaduras, como um vaso,

Que jamais poderia ser colado

Se não fosse essa sorte, num acaso.

Bem sei que os erros todos foram meus

Ao dar mais importância ao que não tinha,

Beirando, uma loucura, um triste adeus,

Sentindo toda a fria solidão

Que perto, percebia que já vinha;

As garras entranhando o coração...

X

Eu sinto tanto amor por mais que negue

O sentimento intenso que me toma,

Fazendo com que o sonho já me pegue

E leve para os braços de quem doma

O coração de quem já vive entregue

A tantas ilusões que a vida soma.

E sinto que em você, o sonho segue

No mar sem calmaria, que eu navegue...

Eu quero ser feliz, isso não nego,

Eu quero o teu amor, não negaria,

Sem teu amor, meu mundo morre cego,

Pois é o brilho que sei, que eu encontrei,

Trazendo a claridade, dia a dia,

No amor que esteja certa, eu não neguei...

X

Não quero ser teu dono não; amada,

Nem quero ser cativo deste amor,

Amar é não querer, em troca, nada,

Quem ama deve ser um doador...

Não sou o teu amor, estou contigo,

Não é a minha amada: estás aqui.

O verdadeiro amor só cede abrigo

Quem tem amor não ganha, nem perdi

Apenas simplesmente ser, estar,

Nem ter, poder, querer, ganhar, perder...

Amor é conhecer, compartilhar.

Individualidade em cada ser.

O verdadeiro amor não faz sofrer,

Existe simplesmente... Só por ser...

X

Eu canto esta amizade como fonte

De toda inspiração destes meus versos,

Abrindo com certeza, um horizonte

Em meio a tantos males tão adversos.

Amigo é companheiro que se conte

Pra atravessar milhares de universos,

Mesmo que a dor, no fundo já desponte

Amigo nunca deixa-nos dispersos...

Não quero construir uma parede

Que nos separe; irmãos, em nossas vidas,

De estar bem perto a ti, eu tenho sede.

Não quero a solidão. Fraternidade!

Eu quero as nossas almas reunidas

X

Não permita que tristes sejam nossos

Caminhos na procura da esperança.

Não quero que tu leves meus destroços

Recolhidos nas ruas. Isso cansa...

Eu quero o teu sorriso franco e aberto

Escancarado em tua bela boca,

Amiga não me traga descoberto

Céu, sem o qual a vida é cega e pouca.

Tua alma, em formosura, uma exceção

De tanta lucidez em mar revolto,

Permita que se trame uma emoção

Num coração deveras leve e solto.

Amiga, compartilhe em liberdade,

De todo esse vigor de uma amizade...

X

Saudade desta casa onde nasci; em Minas...

O cheiro do café de manhã, bem cedinho.

A boca desdentada em formas femininas

De minha vó cansada... Um vôo, passarinho...

Olhando pra janela, abertas as cortinas;

Percebo há quanto tempo abandonei o ninho,

Em busca do futuro, alcanço minhas sinas,

Mas vejo que hoje estou, por certo mais sozinho...

O tempo foi cruel, venceu as esperanças,

Minas tão distante, a casa abandonada...

Mas inda ouço o barulho, o correr de crianças

Que fazem desta casa um manso cais...

Saudade é como um mar que leva para o nada,

Mas esse mar mineiro, agora diz: jamais!

X

Sentindo os teus espasmos tão profusos

Entre meus braços; olhos revirados,

Perdemos os horários, sensos, fusos,

Misturas de sentidos, rumos, fados...

Soltando os nossos sonhos que, reclusos,

Estavam; já faz tempo, bem guardados,

Não falo em sentimentos mais escusos,

Amor nunca se encobre em vis pecados...

E tenho-te, rainha e sedutora,

Escravo desta noite que não pára,

Nem antes nem depois do que se fora,

Apenas me interessa este momento,

Solto travas, sem trevas; noite rara

De pura liberdade, sem tormento...

X

Sentindo tanto frio dentro da alma,

Deixei de ser feliz por muito tempo,

Tentei manter por vezes, minha calma,

Mas viu em mim, somente um passatempo...

Ela se foi, restando uma certeza

De que a vida se renova em cada esquina.

Depois que foi embora, uma limpeza

Precisa ser bem feita. Uma faxina

Que tire seu perfume desta cama,

Que arranque estes retratos da parede,

Tirando toda a cinza, brasa e chama,

Não quero mais matar a minha sede

Em gotas de veneno homeopático,

Desculpe meu amor, eu sou bem prático...

X

Parece troça, parece;
mas é verdade patente:
a gente nunca se esquece
quem não se lembra da gente.

Provérbio Popular

Diga-me: como faço pra esquecer

Aquela que chegou tão de repente

E trouxe uma alegria de viver

E já se foi embora, simplesmente...

Eu era tão feliz e não sabia,

Não tinha nem noção disso, querida,

Agora que só tenho a fantasia,

Só quero o teu amor, por toda a vida...

Mas sei que nada mais sentes por mim,

Seguiste tua estrada, o teu caminho,

Porém eu tanto tenho amor sem fim,

Que mesmo que eu encontre tão sozinho,

Eu te agradeço amada, e rogo em prece,

Quem ama de verdade, nunca esquece!

X

Bem sei quanto és ingênua, amiga. Não

Deixe que te maltratem deste jeito.

Ouvindo-te falar desta ilusão

Que pensas me deixar mais satisfeito,

Percebo quantas vezes a decepção

Irá fazer seu ninho no teu peito,

Companheira. Pedindo o teu perdão

Por achar que, talvez tenha o direito

De tocar na ferida que não cura.

Amiga, quantas vezes vais sozinha

Na noite solitária e bem escura

Passando pelas curvas do caminho;

Nunca forma um verão, uma andorinha;

Retorne, então, amada, para o ninho!

X

Desculpe se repito o mesmo tema,

Falar de amor parece ser bem fácil,

Embora, necessário ter, da gema

A sensação dourada de ser grácil.

Não vejo amor tão simples como um lema

Por mais que tantas vezes eu disfarce-o

Não mudo, nos meus versos, nem um trema,

Nem quero e nem permito que isto embace-o;

Portanto, meu amigo, mil escusas,

Se tantas vezes canto em mesmo tom,

Prefiro me encantar com belas musas,

E demonstrar, sem medo, as emoções;

Não digo que isso seja ruim ou bom,

Que responda Vinícius ou Camões!

X

Toda essa ansiedade é natural

Em quem sempre esperou que a fantasia

Em forma de desejo sensual

Se realizasse em ritos de alegria.

Às vezes eu procuro o mais normal

De todos os caminhos da harmonia

Pretensa que se faz neste jogral

Distante de uma vera sintonia...

Só sei que te aguardei a vida inteira

Disfarçando minha dor em outras bocas,

Mesmo sabendo que a real, a verdadeira

Mulher que estava, enfim, predestinada,

Entre todas, se bem que foram poucas,

Se encontrava em ti, minha doce amada...

X

Na mulher encantadora que em pureza

estende a mão sorrindo em sedução;

eu sinto a verdadeira sutileza

de quem sabe que estende uma ilusão

em forma de desejo e de promessa

dum sonho mais feliz e mais risonho

sabendo que se tenho tanta pressa;

mergulho sem saber no belo sonho

capaz de me tomar quase que inteiro

em versos, em palavras, na canção

que fala deste amor tão verdadeiro

sentido por quem sempre disse não

à todas as mentiras que tivera,

bem antes de saber da primavera!

X

Eu peço: venha escutar
o que eu tenho prá dizer...
Mas deixe o sino tocar
quando o dia amanhecer...

Eu tenho tanta coisa pra dizer,

Falar de um sentimento tão profundo

Que é capaz de montanhas, remover;

E atravessar correndo, todo o mundo...

Um sentimento nobre que domina

Transforma a solidão, mata a saudade,

Nos acarinha enquanto determina

A sorte de quem quer felicidade...

Eu tanto muita coisa pra falar

Mas tenho tanto medo de te ouvir.

Queria; se pudesse no luar,

Iluminar o rumo em teu porvir,

Eu tenho tanto medo de dizer...

Só falo... Quando o dia amanhecer...

X

Teu beijo me põe corado;
meu beijo te põe confusa.
- Quem nunca comeu melado,
quando come se lambuza...

Há muito que eu queria te beijar

Um sonho que carrego já faz tempo,

Vontade de poder te namorar,

Mas sempre aparecia um contratempo.

Às vezes tua mãe estava perto,

Em outras o teu pai não permitia,

A boca se secando num deserto,

Saliva mata a sede; ela pedia...

Minha amada, eu estou apaixonado

E cansado de ouvir tanta recusa...

Mas quando te beijei, fiquei corado,

Senti que tu estavas tão confusa,

Verdade: quem jamais comeu melado,

Quando come, querida, se lambuza!

X

Aceite as vermelhas rosas
que compõem este buquê.
Aqui, eu lhe envio onze.
A dúzia certa: é VOCÊ!

Domínio Público

São tantas as belezas dos jardins

Que um velho jardineiro cultivava,

São crisântemos, lírios e jasmins...

Nas manhãs, com presteza ele regava

As flores mais bonitas dos canteiros

Adubados com lágrimas, suor;

Carinhos tão gentis e verdadeiros

Daquele beija-flor, amante mor.

Mas as rosas vermelhas, preferidas,

Pois eram as mais belas que já vi,

Mesmo as outras que foram preteridas,

Sabiam que a nobreza estava ali.

Ao fazer destas rosas um buquê,

Logo vi: a mais bela era você!

X

Dançando nossa dança predileta

Nossos rostos colados, passo a passo,

Minha vida na tua se completa

Na plena sintonia deste abraço.

A noite vai passando... A fina seta

Do deus apaixonado, no compasso,

Atinge bem em cheio a sua meta,

E sinto mais firmeza no teu braço...

Amar é se entregar, eternamente,

Te juro, meu amor, te quero tanto...

Não deixe que esta dança, de repente,

Termine na saudade, em um adeus,

E vendo, tanto encanto neste canto,

Eu louvo a pontaria deste deus...

X

De manhã encilho o pingo,

Solto o poncho estrada fora;

canta o galo, chora a china

que o gaúcho vai-se embora. (Rio Grande do Sul)

Já estou de partida, minha prenda,

Nunca me prenda, eu tenho de partir,

A lua desfilando sua renda

Me diz que é necessário prosseguir...

Carrego na guaiaca esta saudade

Dos pampas e da china mais bonita,

Se nesta imensidão, barbaridade;

A minha alma pampeira já se agita.

E sinto o minuano me cortando

Qual fora uma lembrança deste amor,

É como neste amargo eu ir tomando

Os teus doces desejos, com calor...

O poncho vou soltando estrada a afora,

Lamento, meu amor, ter que ir-me embora...

X

A minha mão buscando no teu seio
Calor tão desejoso de prazer,
Procura nesta mina o rico veio
Que com certeza doura e faz perder

O rumo, meu juízo e minha sina,
Nestes carinhos loucos, tal riqueza
Que vem destas entranhas desta mina
Que leva nosso amor qual correnteza.

Espero o teu amor a cada instante
Vasculho nas paredes desta gruta,
Os traços tão sutis do diamante,
Polindo, com carinho, a pedra bruta.

Eu sei do nosso amor banhado em ouro,
Começo a achar o mapa do tesouro...

X

Atirei um céu aberto

na janela de meu bem:
Quando as mulheres não amam,

que sono as mulheres têm! (Manuel Bandeira)

Uma mulher sem amor à noite sonha

Quem sabe com corcel ou com seu rei?

A vida sem amor passa enfadonha

Por isso tanto amor te dediquei,

Atiro um céu aberto de esperanças,

Adentro esta janela, minha amada,

Prometo-te milhões de novas danças,

Da forma mais querida e desejada...

Eu sei que talvez nunca queiras ter

O meu amor tão terno e tão pacato,

Não creia que com isso possa ver

Na tua negativa, um desacato...

Não me deixe ao relento, ao abandono,

Pois sei tem, quem não ama, um calmo sono...

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