sábado, 22 de dezembro de 2007

SONETOS 077 E 078

Palavras nebulosas, vento esparso
Em cinzas desprendendo o que foi belo.
Desamarra da sorte o seu cadarço
Rouba do lavrador, o seu rastelo,

Atira um sentimento em mar revolto,
Jogando uma alegria ao precipício
Atando um pensamento que, antes, solto,
Sabia deste amor, o seu ofício.

Que sabe se o silêncio te tomasse
A vida não teria esta mazela
Nem mesmo necessário tal disfarce
Que impede, nebuloso, ver estrela

Assim, invés da treva em noite fria,
O amor se transbordasse em poesia..

X

Belo sol levantando de manhã
Clareando a promessa da colheita
Coroando esta lavra em todo afã
Da alma da terra plena e satisfeita.
Mostrando que a labuta não foi vã
E a sorte tão pedida foi aceita

Passada pelas ruas, procissão,
Em rezas, nas promessas e novenas
Na benção que foi dada, no perdão.
Nas frutas e nos grãos as velhas cenas
Que trazem Nosso Pai em compaixão
Nas
peles tão salgadas e morenas

Os olhos estampando uma alegria
Dos rostos tão amigos, cantoria.

X

Amor por tantas vezes faz chorar...

Quem ama está propenso a sentir dor.

Reconhece a beleza no luar

Mas sabe deste espinho em cada flor...

Amar é ser feliz em sofrimento,

É ter uma certeza em puro sonho.

Beber a tempestade num momento

E noutro se encontrar calmo e risonho...

Porém quem tanta odeia, não sorri,

Morrendo em triste angústia, só deseja

O mal. Por tantas vezes eu sofri

Por quem a noite traz e a boca beija.

Prefiro em tanto amor, sempre chorar,

Do que jamais sorrir por odiar...

X

Tomando do lirismo todo o sumo,
Fazendo em cada verso um novo fruto.
Tornado deste pólen nosso rumo
A alegria não cobra algum tributo.

Nos braços deste sonho eu me consumo
Amenizando sempre um mal tão bruto
No corpo de quem amo eu me perfumo,
Supero qualquer dor. Com calma, eu luto.

Pressinto na pureza com que falas
A doce sensação da eternidade.
Criança que se encanta com as balas,

Confeitos de ilusão que a vida traz,
Contigo quero ter felicidade
Do amor que deve ser eterna paz...

X

Passando nos subúrbios de minha alma
Em frente da estação as casas baixas.
Domingo transcorrendo em plena calma
Fogueira da esperança busca as achas.

A praça e o jardim, vizinhos passam
Sorrisos, boa noite, e durma bem.
Os olhos cabisbaixos mal disfarçam
Desejo assim demais, tamanha trem.

As horas do domingo em marcha lenta,
Segunda recomeça a ladainha
A lua embevecida sem tormenta
Beijando tuas pernas, lua minha.

É tempo de voltar, amor, pra casa,
O trem tomou juízo e não atrasa...

X

Não chore que esta tarde vai passar
Embora tão distante dos teus sonhos.
A noite se promete num luar
Que traga estes momentos mais risonhos.

Não chore que esta dor prevê remédio
Nos braços da mulher que logo mais
Virá e matará solidão, tédio
Deixando uma alvorada rica em paz...

Não chore que esta vida é assim mesmo
O corte cicatriza, não se esqueça.
Ao coração vadio, sempre a esmo
Não há sequer juízo que obedeça.

No lastro de esperança, esta verdade
Que mostra esta criança, uma amizade...

X

Nos olhos da criança, amor expresso;
Amor da mocidade destroçada,
Meu erro reconheço e te confesso
Na minha mão vazia, trago o nada.
Nas cruzes que carrego, se tropeço,
Não vejo esta esperança abandonada.

Somente o puro amor em redenção
Sem
medos, fantasias ou miragens
Movendo passo a passo o coração
Permite que se mudem as imagens
Que moem num segundo as ilusões
De um mundo bem melhor, meras visagens...

Nos olhos da criança o Redentor,
Abandonado a esmo, sem amor...

X

O dia fugitivo perde o lume
Do sol que derramava seu calor.
Dama da noite acende seu perfume,
Adolescentes buscam sonho, amor...

As dúvidas renascem nos casais,
Pirilampos, corujas, fátuo fogo.
O frio feito em treva; a noite traz.
Amor já recomeça o velho jogo

Os bares são tomados, juventude,
Os lares apagados, discussões.
A namorada pede uma atitude,
Milhares de pecados e perdões...

Contigo do meu lado, a lua diz,
Em raios derramados: És feliz!

X

Teu corpo, deslumbrante maravilha;
Perfeita sensação; belo absoluto.
De Afrodite, estou certo, tu és filha;
De raridade imensa, forma e vulto.

Pairando em minha cama esta beleza
Qual fosse um sonho cheio de magia,
Ao fim de minha história esta surpresa
Repleta de ternura. Quem diria?

Minha alma adormecida se refaz
E volta, num momento; à mocidade.
Bebendo desta fonte sou capaz
De retornar sem medo à tênue idade

Dos sonhos e desejos mais febris.
E digo, em destemor: Eu sou feliz!

X

VOZES DO PASSADO

Ouço vozes distantes, do passado;
Selando minha sorte no futuro.
Dos dias entre bares, um traçado
Exposto na miséria do chão duro.

Humores e desejos mal tocados
No beco da saudade; vago, escuro.
Às vezes me mostrando tanto enfado
Como um nada, mas mesmo assim procuro

Os rastros do que fui e já perdi
O cheiro da alegria, antigos odres
Lotados de vinagre. Estou aqui

Ouvindo tantas vozes. Na verdade
Mesmo com estes restos, mortos, podres,
Ao ouvir esta voz, sinto saudade....

X

Meus olhos decadentes e sombrios
Carregam a tristeza secular,
Dos sonhos esquecidos e vazios
Distantes das areias, sem o mar.

São olhos invernais morrendo estios,
Desaprenderam cedo o que é lutar
Perdidas andorinhas sem os fios,
Estrelas tão longínquas sem luar.

Meus olhos, simples ilhas sem ninguém
Eremitas morrendo em solidão.
O tempo vai passando e nada vem

Senão o gosto amargo da saudade
Daquilo que deveras fora o não.
Sem brilhos. Em meu olhar: opacidade..

X

Meu canto em ventania varre tudo,
Salgando esta salada do viver.
Às vezes em silêncio sigo mudo,
Pensando em tanta coisa por fazer.
Cavalo vai faminto e não me iludo
Meu verso se perdendo sem querer.

Faca dilacerante da saudade,
Na ponta tão aguda, bico e corte.
Se traço nos meus olhos liberdade,
A mão que me segura é sempre forte,
Não fosse estes meus laços de amizade,
Amor me levaria logo à morte.

Fazer da companheira amiga/irmã;
Um salvador momento em duro afã.

X

Na semente fecunda da amizade
Refaz-se todo o amor que nos deu Deus.
Contemplo com carinho a liberdade
Matando os meus instintos tão ateus.

Vagando como luz em pleno espaço
O fruto da amizade, o vero amor;
Riscando pelos ares fino traço
Que traz justiça ao louco sonhador

Que um dia, nos desertos da esperança
Falou do amor imenso em nosso Pai;
Mostrando a santidade da aliança
Formada entre dois seres. Não se trai

O grito dos aflitos sofredores.
Espalhe em amizade, seus amores...

X

AMAR VOCÊ

Eu estou te esperando em cada esquina
Dos sonhos entranhados, fantasias...
Persigo cada passo da menina
Embutida nas coxas/ardentias.

A fonte dos desejos, cristalina,
Refaz-se em minha cama, tantos dias,
A mão deste fantasma me domina
Parindo em cada verso, poesias...

Nesse arrebatamento me embebedo
Em goles de aguardente e de esperança.
Quem dera se chegasses aqui, cedo,

Talvez nós desfrutássemos do gozo
Fantástico da vida em louca dança
Num festim delicado e prazeroso...

X

Trazido pelo vago e duro vento,
Emergindo do que fora primavera,
Num último resquício, sentimento,
Voltando novamente a ser quem era,

O cálice refeito tomando assento
Como um cristal refeito do quem dera,
Sorriso de esperança num momento
Tardio desta vida sem espera.

Moldando um novo rumo em minha história,
Um fio que me liga, frágil ponte,
À vida abandonada e sem memória.

Vieste como um parto abençoado
Abrindo o que restara de horizonte,
Um sol violentamente iluminado!

X

Quando te vi, amor fundamental
Não percebi que a sorte me tomara.
Cansado de uma vida sempre igual
Sem fonte e sem desejo, vida amara,

Quando te vi sincero e desprendido,
Sem marcas e desenhos, facas, garras,
Aos poucos sem sentir fui envolvido
Pelas mansas delícias das agarras.

Quando te vi querida, não sabia
Que o mundo me traria novas cores.
Tomado pelo fogo da alegria
Numa entrega total, sem pudores...

Quando te vi, depois de medos tantos,
Voltei a perceber; da vida, encantos...

X

A lâmina que corta tão profundo
Serena adormecendo nas mentiras.
Gerando tantas dores num segundo
Recorta uma esperança em finas tiras.
Nas voltas que percebo, pelo mundo,
A faca nas senzalas caipiras

Assim como em favelas soberanas
Repetem o retrato travestido
Noutras senzalas/dores suburbanas.
Na saia levantada, no vestido,
No corte, nas queimadas, fomes, canas
No sonho sem pendão, prostituído...

Mas quem sabe amizade bastaria
Para nós renascermos outro dia?

X

Que dizer de esperança quando o medo
Da morte imediata bate à porta?
Nascimento feito em sorte, no degredo
Da sorte desdentada e semi morta.
A farsa desenhada desde cedo
E o canto sem sentido logo aporta.

Na mão tão delicada da criança
A boca da pistola e do fuzil.
A bala achada ecoa na lembrança
Como um confeito amargo e tão “gentil”.
A vida se fazendo em confiança
Da
proteção do tráfico, sutil.

Culpar cada criança é muito fácil,
Em toda esta ironia amor é grácil?

X

Tangidos feito gado em laço e corte
Carpindo cada morte que chegou,
Futuro desdentado que reporte
A toda desvalia que passou.
A boca escancarada em cada morte
Que mansamente em sorte aliviou..

Riacho todo seco da esperança
As pedras e as areias vão expostas.
De tudo casamento festa e dança
Amaciam a carne corta em postas;
Em cada novo tempo outra criança,
Bezerros abortados sem apostas.

E o gado dá lição, fraternidade.
Noutra rês reconhece uma amizade...

X

Qual nave que percorre mil planetas
Em versos e desejos redentores,
Casulo em que formam os cometas
Os lábios descerrando estes amores.
Convulsas, vão tocando estas trombetas
As noites sem juízo e sem pudores.

Respiro tua boca em que eu habito
No vale mais escuro, belas furnas,
Nas praias, qual um mar insano agito,
Eu, vento, vou lambendo tuas dunas.

A chuva se transforma em tempestade,
As águas vão tomando a quente areia,
Num relampejo/olhar tal claridade
Que mesmo a fria lua se incendeia.

X

Meu coração tocando em outro tom
O gosto da alegria de viver.
Felicidade mostra-se ser dom
De quem sonhou em busca do prazer.

No canto da esperança o mesmo som
Que faz a nossa vida se verter
No rio em fantasia, sempre bom,
Nesta vontade imensa de saber

O paladar da sorte em doce sina,
No gesto camarada de uma amiga,
Na lua que, de graça nos fascina

Na mansa corredeira que nos banha
No braço da amizade, imensa viga
Da paz que se aproxima, em luz tamanha...

X

Semeio tanto amor onde puder,
Nos olhos da esperança sorrateira,
Na boca desejada da mulher,
Amada, amiga, amante, companheira.

Semente que se dá pra quem quiser
Depois de uma colheita verdadeira,
De um fruto que não foi jamais qualquer
A vida vai se dando mais inteira...

Granando um novo dia em sonho imenso,
É tudo a quem servi, versos, palavras.
Amar é ser além do que mais penso,

É ter o gosto doce da alegria,
Arando com meus beijos esta lavra,
Forjada com carinho e poesia...

X

Da tristeza dos olhos de quem ama
Acesa esta fogueira no teu peito.
A dor que me tocando logo inflama
Transborda em teu sorriso, satisfeito.

Meu sofrimento é toda a tua chama
Lençol que te acarinha no teu leito,
Se preso em tuas garras, tua trama,
Cada vez mais cativo, assim eu deito.

Amor antropofágico e voraz,
Que é feito destas mágoas mais profundas,
Não sabe, em turbilhão, viver a paz,

Tua alegria é feita destas chagas,
Do sangue derramado é que te inundas,
Mordendo, calmamente enquanto afagas...

X

Na ciranda dos braços, carrossel.
Rodando em minha mente, leve encanto.
Vagando nas tiaras deste céu
Tocada pelos olhos, pelo manto

Coberto de esperança, frágil mel,
Roubado num segundo, noutro canto,
Voando um coração perdido, ao léu,
Ao ver tanta beleza, assim, me espanto...

Ciranda dos abraços, da amizade
Que faz nosso futuro majestoso,
Dedilha novos versos, liberdade,

Semeia um novo mundo em redenção.
Matando o que se foi, tempestuoso,
Mostrando na ciranda, a solução...

X

Tu tens uma aparência angelical
De toda uma inocência cravejada
No rosto tão suave traz sinal
De uma beleza quase imaculada.

Dona de formosura sem igual
Depois de ti, amor; não vi mais nada.
Amor que coloquei num pedestal
É glória que clareia minha estrada.

Visão em candidez de pura luz.
Mostrando em teu sorriso tal doçura
Que toda uma ternura reproduz

A força que toca e me levanta.
Em tua imagem calma, leve e pura,
Nas formas femininas, uma santa...

X

Caminhos mais floridos te desejo
Embora tanto espinho nos caminhos.
Na sorte que te quero e que prevejo
As flores se misturam com espinhos.

O céu que traz o sol, nos dá trovejo,
Às vezes no inimigo bons carinhos,
Na boca que não quero, tanto beijo;
Na que mais que necessito, os escarninhos...

A vida é mesmo assim, amada dor.
É flor, espinho e pedras, solidão.
No frio valoriza-se o calor.

Do medo é que se mostra uma coragem,
A liberdade nasce em podridão,
Na mão que nos açoita, nasce o pajem...

X

Um brilho de esperança em cada olhar
trazendo uma alegria sem limite,
meu verso, procurando te encontrar
num mundo em que a mentira não limite

vontades de poder,cedo voar,
além do grande mar que se acredite
na lua tão bonita, debruçar,
antes que a solidão seja o palpite

mais forte. Uma amizade que refaça
o bom de nossa vida, sem perguntas.
Que a vida não se perca na fumaça

dos desamores todos, da ilusão.
Nas mãos que nós mantemos sempre juntas,
a força sem igual de uma união.

X

AMIZADE

Distante do mar morro lentamente
Nesta infindável sede em um ocaso
Que toma o coração, saber e mente
E leva, de repente ao fim do prazo
Gerando este momento mais urgente
Da sorte que se fez ao léu, acaso..

Se pensamento fosse liberdade
Renasceriam campos e jardins.
Pousando no que fora eternidade
As horas prometendo pelos fins
Restando-me, quem sabe, uma amizade
Que torna nossos medos mais afins.

Do mar que não navego, nem pressinto,
As cores da saudade em que me pinto...

X

Caminheiro, as estradas do sertão
Desabando o vazio das andanças
Desaguando no mar do coração
Sem força sem pecado e confiança
No resto do que fora uma canção
Guardado em algum canto uma lembrança.

Um gosto de saudade sangra a boca
Deixando bem distante a juventude
Que foi-se em agonia quase louca,
Vontade de sentir nova atitude
Mas força que restou parece pouca,
Morrendo sem ter gana ou ter saúde.

Caminheiro; em teu passo eu já prossigo,
E posso te dizer, és meu amigo...

X

Mal nasce o dia; lembro-me de ti.
Do tempo em que vivemos mesmo ninho.
Agora é que percebo o que perdi
Na adega da esperança sem teu vinho
O mundo desabou, descolori
O brilho da manhã, fiquei sozinho...

Uma emoção distinta que se aflora
Mostrando um paladar de nostalgia.
Uma ave que se foi, bela e canora
Deixou este silêncio em agonia.
De tudo o que tivera, sem aurora,
Renasce nebuloso cada dia.

Eu digo o quanto te amo, não me escutas?
Pomar morreu em flor, sem gosto e frutas...

X

Procuro por teus rastros, por pegadas
Que tragam as notícias que mais quero.
Deslumbro velhas sombras nas calçadas
O tempo vai passando, inda te espero....

Saudade faz pousada em coração,
Parada obrigatória de um amor.
Batuque em desespero da paixão
No incêndio que me morde encantador...

Procuro e nada sei, somente sinto
O teu cheiro em cada flor deste jardim
No gosto inebriante de um absinto
E o medo de não ter persiste em mim...

No fim da tarde sei que voltarás..
Maré que te levou depois me traz...

X

Depois de trabalhar feito cachorro
Mereço simplesmente a recompensa
Que chegue mansamente no socorro
Do amor que me domine e me convença.

As pedras destroçadas no caminho,
As curvas da morena que não veio.
O medo de perder me faz carinho
E nada da morena, perna e seio.

A noite que começa em botequim
Termina
matinal, bruta ressaca,
Amor que não começa não tem fim,
A sorte novamente mente empaca.

Por que diabos sempre foi assim?
Amor não quer saber mesmo de mim...

X

Uma amizade sincera é coisa boa
Que cura qualquer mal que me apareça,
No peito de quem ama sempre ecoa
O bem que traz a sorte que apeteça,
Meu pensamento em liberdade voa
Trazendo tanta paz pra esta cabeça.

Disponha de meu braço companheiro,
Que uma amizade assim é bom demais.
No canto mais amigo e costumeiro
A dor não vem cevada nunca mais.
É flor que justifica este canteiro
Certeza: não estou tão só jamais...

Uma alegria intensa que se encerra
Nos braços da amizade mais sincera...

X

Viola vai rasgando a noite afora
Tocando esta alvorada mais florida;
Morena se vier, chegar agora,
Já muda o meu destino, a minha vida.

Quem fora simplesmente nada outrora
Agora encontra rumo e tem saída.
A lua te chamando, morena implora
A sorte que se fez em despedida...

Perto do céu montanha acima,
Nas vozes serenatas da esperança.
A busca solitária pela rima

Soando em minha voz o beijo quente.
Convida esta morena para a dança
Do amor que me tomando fez-se urgente...

X

Num esplendor divino, flórea senda,
Voláteis sensações tão evasivas,
Qual crepuscular luz. Amor desvenda
Origens destas formas mais altivas;

Num vértice florido, seda e renda
Em peles e desejos, carnes vivas.
Um beduíno encontra em sua venda
As mãos tão delicadas, receptivas.

Irrompes no meu quarto, rastros de ouro,
Escalas minha cama, curvas raras.
Deslinda-se num átimo o tesouro

Tomado em meus carinhos, astro e lume.
As sombras na parede, belas, caras,
Inebriado, bebo o teu perfume...

X

Gotas de chuva caem dos teus olhos
Amiga sei que a vida nos maltrata,
Jardins sendo tomados por abrolhos
Um rio que se seca, sem cascata.

Viseira que nos turva qual antolhos,
Queimada destruindo toda a mata.
Os males invadindo, vários, molhos,
Somente uma amizade nos resgata

E mostra alvorecer em cada gesto,
Por mais que seja dura a nossa vida,
Sentido no que vivo sempre empresto;

Rebento o cadeado da clausura
Tomando tuas mãos, nossa saída,
Com toda magnitude da ternura...

X

Amiga; não debruces no passado,
Janela apodrecida desta casa.
O rosto destruído e bem marcado
Um fogo que, jamais, de novo abrasa.

Vestido já puído, abandonado;
A vida qual a traça assim defasa
O que se foi perdido e destroçado,
Relógio da esperança não se atrasa.

Perceba quanto amor te trago aqui,
Perceba quanta dor ele te trouxe.
Promessa que te fiz não esqueci

De estar ao lado teu haja o que houver.
O mel que tens na boca mostra, doce,
Amiga, as tuas ânsias de mulher...

X

Menino tão matreiro pula a cerca
Que sempre separou amor e dor.
Não teme que este mundo já se perca
Em versos que me fez tão sonhador.

Sou como este menino, prenda minha
Que fez desta ilusão prado sem fim.
Se a noite desta tarde se avizinha
Eu quero esta promessa carmesim.

O manto que louvaste, amor insano,
Se fez bem mais distante do que eu quis.
Mas vejo salvo o medo ou salvo engano
Que ainda poderei ser mais feliz

Roçando o belo pasto da esperança
Que salta novamente qual criança...

X

EU QUERO O TEU AMOR

Eu quero empapuçar-me deste amor
E todo lambuzado te beber
No gole generoso em tal ardor
Que morra fielmente ao teu prazer.
Na pele tatuada, ao teu dispor,
Aprofundar vontade, gozo e ser.

Recebo deste amor proposta e senha
Nos cofres esquecidos no porão
Que a noite em teu perfume sempre tenha
O cheiro do armistício e da paixão.
Ardendo brasa e chama, fogo e lenha
Na cama que é disfarce da emoção.

Eu quero no teu mel me embriagar,
Antes que uma ressaca vá chegar...

X

Seu corpo sem censura e sem pudores
Colado junto ao meu em noite mansa,
Nos movimentos todos, esplendores
Divinos calmamente a gente alcança
Os limites mais loucos, tentadores.
E assim a nossa noite amada, avança...

Depois de tanto tempo do seu lado,
Qual delícia de um sonho que desperto,
A cada novo dia, extasiado,
Sentindo o seu perfume aqui por perto,
Me sinto como um ser iluminado,
Num mar de fantasias, rumo certo

Regada a tanto amor; o meu e o dela,
A vida vai passando, intensa e bela...

X

Menino que galopa pelos prados,
Montado no cavalo da esperança.
O vento já vem dando os seus recados
Em galhos do arvoredo que balança.

Nas crinas dos cavalos galopados
Os sonhos se perdendo em outra dança.
Mal sabe, este menino, destes fados
Do amor que atingirá em seta e lança.

Exausto, depois disso, sonha a cores
Com dias que virão depois da chuva.
Meninas se prometem, seus amores,

Infância da tormenta anunciada.
Paixão fica na espreita após a curva
Tomando, no galope, toda a estrada...

X

Tu és toda a alegria que domina
O sonho mais gostoso que sonhei.
Teu jeito sensual, bela menina
Além de todo mar que imaginei.

No rosto delicado, minha sina
Se mostra mais inteira. Ser teu rei
Rainha desta terra cristalina
Aonde, em doce sonho te encontrei...

No mar em que navego, porto e cais,
No sonho que me doma, companheira.
Beijar-te mansamente, mais e mais.

E tu és o meu verso predileto,
A voz de uma esperança verdadeira,
Aonde, simplesmente, me completo..

X

Vento em temporal, festejo e desgraça,
Já mostrando perfumes, aguardentes.
Nada fica, nem tudo também passa,
As facas envenenas entredentes.

Fogo não corresponde a tal fumaça
Em sentidos violentos tão urgentes
O gosto adocicado da cachaça
Bebido em demasia, noites quentes...

Depois manhã seguinte... O quê que eu fiz?
Braços abertos vejo que outros ventos
Que venham me farão bem mais feliz...

Mas dure o que durar, como isso dói!
Não deixa um só segundo os pensamentos.
Paixão vem me lambendo e me corrói!

X

No silêncio noturno, esta distância,
Casulos tão diversos, soledade...
A voz transcendental remonta infância
Promete assim, talvez, felicidade.

Nos bares e prostíbulos, quem sabe
Na boca meretriz de uma ilusão,
O mundo que me deste que se acabe
Restando quase nada. O coração?

Minhas mãos desarmadas, tudo foi-se,
Apenas um sorriso quase irônico
E o corte tão profundo de uma foice
Deixando o meu viver, assim, agônico.

Abraçado a tais sombras; impreciso,
Encontro nos escombros, paraíso...

X

AMAR


Quando a morte tocar meus olhos mansos,
Não deixe de cantar; que a vida avança.
Por certo buscarei noutros remansos
O que restou assim de uma esperança.
Não falo que na morte, os meus descansos,
Nem sei se algo terei sequer lembrança

Mas quero o violeiro e o trovador
Em versos declamando a minha sorte.
Vivendo e repartindo um farto amor,
Fazendo da alegria o rumo, o norte.
No mundo, um sentimento a recompor
Que impeça a sensação da dura morte.

Eu quero o teu sorriso, se possível,
Demonstrando minha alma imperecível...

X

Tua alma, com certeza, boa e pura
Transborda uma ventura mais sagrada.
Matando qualquer dor e desventura
Tu sabes quanto quero e que me agrada
A mão que me estendendo com ternura,
Transforma-te num átimo em fada...

Ao acolheres sonhos mais gentis
Demonstras um futuro promissor.
Meus dias sem te ter foram tão vis,
Agora sem aviso, vem o amor
Cauterizando velha cicatriz
Numa vontade imensa de repor

A sorte que se fora; desditosa,
Mostrando um novo sonho cor de rosa...

X

Sem cerimônia alguma chego a tua casa
Abrindo logo o quarto nem pergunto.
Tu sabes que o desejo não se atrasa
E vamos mais diretos pro assunto.

Retiro tua roupa; sede intensa.
Magia nos tomando num segundo.
Ninguém neste momento, eu sinto, pensa;
Mergulhamos num mar doce e profundo.

Carícias, línguas, vozes e gemidos.
Sussurros entre gritos e palavras.
Depois destes caminhos percorridos
Aguando nossos sonhos, nossas lavras.

Sementes espalhadas pelo chão
De estrelas salpicadas de paixão...

X

Se por mais dolorido que pareça
Um grande amor nos ata e nos tortura,
Quem sabe solidão tanto padeça
Que amor sempre se mostra uma brandura.

A vida nos prepara cada peça
E mostra a maravilha da ternura.
Não deixe que esta sorte te enlouqueça
Amor cristal divino em pedra dura.

Sabendo da alegria, ter alguém,
Eu amo e cada vez preciso mais.
O fim do amor, por certo, quando vem,

Nos toma em sofrimento, a santa paz.
É dura nossa vida sem ninguém,
Somente em um amor eu sou capaz.

X

Um coração mochado pela dor
Vagabundo se perde da manada,
Sofrendo na esperança desta flor
Que brota sem perfume e vai sem nada
Roçando todo o pasto sem valor
Da terra que jamais se viu molhada...

Amigo, companheiro de estradão,
Remoço uma alegria quando vejo
Que resta bem guardado após o não
Um gosto que me lembra quase um beijo
Da moça que se foi e sem perdão
Levou deste meu céu seu azulejo.

Amigo não pergunte, só permita
Que história sem ter fim, eu te repita...

X

Procuro em mil mulheres o teu rosto,
E beijo tantas bocas que nem sei.
O sonho que se fez já foi deposto
Mudando em um castigo antiga lei

De um tempo que se foi, puro desgosto
Mostrando tanto amor por quem sonhei,
No colo que procuro, novo encosto,
Aquele que passou e que deixei...

Castigo divinal? Creio que não,
Mas sinto tua mão em mão alheia,
Não tenho outro caminho ou solução

A chama que me abrasa não é tua,
Porém tua fogueira me incendeia
Noutra nudez, t’a pele sempre nua...

X

Tu és a mais bonita poesia
Que Deus tão inspirado, um dia fez.
Usando como mote a fantasia
Num ato de perfeita lucidez;

Tocado por um gesto de magia,
Ao ver-te fui perdendo a sensatez,
Agora com mil versos de alegria
Espero te encontrar uma outra vez;

Ser teu amante eterno, enamorado,
Vibrar em nosso amor por toda a vida.
Contigo caminhando do meu lado,

Irei por todo canto, em toda parte.
A sorte do teu lado, decidida,
Só quero, de uma vez , é conquistar-te...

X

Caço-te nos lençóis de nossa cama,
Não encontrando nada, a noite passa,
No que se fora assim, intensa chama
Sobrando tão somente esta fumaça

Em mil gracejos tolos, sutil trama
Se mostra sem motivo, uma chalaça
Apenas minha voz inda reclama,
Ausência que se fez,a minha alma esgarça.

Errante te procuro e nada vejo,
Mas mesmo assim valeu o nosso amor.
Talvez pra ser feliz, outro traquejo

Que nunca mais teria quem sonhou.
Buscando o teu carinho redentor,
Esqueço tanta vez quem mesmo sou...

X

Sentindo no teu beijo/rosa rara
Perfume que inebria colibri
A sorte de te ter em tudo ampara
Redime todo sonho que perdi.

A vida em alegria nunca pára
Sabendo; meu amor, que estás aqui.
A vida sem te ter se perde amara,
Meus versos de esperança estão em ti.

Chamando-te, querida, rosa e flor,
Permita que este pobre sonhador,
Um beija flor, receba o teu carinho.

Não deixe que este sonho assim termine,
Meu nome, com saudade sempre assine,
No bico que te beija, um passarinho...

X

EU TE AMO, TE AMO, TE AMO...

Mal vem o sol nascendo em bela aurora
As luzes da cidade inda brilhando,
Meu quarto em tuas cores se decora
E, aos poucos meu desejo renovando
No amor que a gente faz sem ter nem hora
No corpo em que persisto navegando;

Neste caminho lindo, um andarilho
Procura a imensidão sem ter atraso,
Rompendo uma alvorada em raro trilho,
Sem hora sem destino, sina ou prazo.
Envolto em maravilha, então me pilho
Deixando este futuro ao mero acaso.

Só sei que trafegando em tais magias,
Encharco esta manhã de fantasias...

X

TE AMO DEMAIS...


A noite se passando tão distante
De quem sonhara sempre, a vida inteira.
Quem dera deste barco comandante
Tocasse tua boca feiticeira,

Roubando da magia num instante
Razão de ser mais justa e verdadeira.
Minha alma te procura, debutante,
Querendo para sempre companheira...

Mas nada do que faça te arrebata,
E nada do que eu diga mais importa.
Só sinto que se adentra em densa mata

A noite que eu queria ser tão nossa.
Apenas este vento bate à porta
Espero este momento em que se possa...

X

MINHA GRANDE AMIGA

Qual fora um velho ator sem ter platéia
Resisto à solidão, triste quimera.
Minha alma sem sentido, assim, plebéia
Buscando uma amizade que se espera

Por anos, tantos anos, nunca vem...
Perfume de mulher me abandonou,
Descarrilada a sorte, perco o trem,
Somente uma lembrança aqui restou.

As marcas no meu rosto, cicatrizes
Mostrando tantas chagas no caminho.
Vivi, por certo, tempos mais felizes,
No mar maravilhoso do carinho.

Agora, minha amiga, sem amor,
Só te resta, platéia deste ator...

X

A FORÇA DA AMIZADE


Vibrando pelas ondas, oceanos
De tantas sensações que acumulei
Por mais que passem dias, meses, anos,
A força da amizade manterei.

Rompendo com discórdias, desenganos
Mudando, num segundo toda a lei,
Nos rumos divididos, novos planos,
Nos quais os pés bem firmes eu terei.

Subindo nos penhascos da alegria
Tornando nossa vida mais certeira.
Voando por espaços todo dia,

Das penedias frias, nossos medos,
Uma amizade pura e verdadeira,
Refaz em nossa vida, tais enredos...

X

SONETO AO DIA DAS MÃES


Falar da santidade que se torna
Mulher em um momento mais sublime
Desta meiguice imensa que contorna
As dores nos mostrando o quanto estime
A vida que em seus braços sempre adorna
Numa alegria ou dor, mesmo no crime.

Falar desta mulher que além de tudo
Guerreira sem temor, no dia a dia,
Meu verso mais perfeito, não me iludo,
Jamais, e com certeza, bastaria.

Bastião de uma esperança verdadeira,
Incondicionalmente um ombro amigo.
Na vida, a mais perfeita companheira.
Certeza de carinho em santo abrigo.

X


Felicidade? Louco, eu te perdi...
Partiste para nunca retornar.
Depois de tanto tempo, eu percebi,
Que a vida mergulhou em outro mar,

Distante estou agora e vou sem ti,
Não sei mais em que estrela te encontrar.
Meu mundo se resume nisto aqui.
Loucura faz o tempo não passar...

Eu tinha em minhas mãos, amor profundo,
Mas veio a correnteza e te levou.
Sozinho me encontrei, por um segundo

As águas te levaram nesse instante.
Agora se nem sei mais quem eu sou,
Felicidade fica tão distante...

X

Não te desejo o mal, somente o nada.
Não guardo mais rancor sequer protesto.
A tarde que chegou, des’perançada;
Repete em minha vida, o mesmo gesto.

As mãos que imaginei, eram de fada,
Do que tanto quisera, em dor me infesto,
A sorte que eu queria, apunhalada.
E faço em cada verso um manifesto

Falando deste sonho que morreu,
Falando desta luz que se apagou.
Falando deste encanto, todo teu

Que dorme numa recanto, esvaecido.
Apenas demonstrando o que restou
Do amor que se perdeu, sem ter nem sido.

X

Se queres o meu corpo, mágoa e riso,
Se quer este estribilho, o sofrimento,
Matando devagar, negando aviso,
Sorrindo sem sentido, num momento.

Sequer eu te darei meu paraíso
Bem mais do que mereço, fogo e vento.
Na chibatada; o gozo mais preciso,
No corte tão profundo, manso e lento.

Se queres o que sou, sem ter nem capa,
Escarras em meu rosto sem motivos...
Da dor que me causaste nada escapa

Nem mesmo esta certeza de quem és.
Meus olhos mais vazios, mortos-vivos,
Jogados neste chão, sempre a teus pés.

X

Vieste navegante em minhas docas,
Tomando qual pirata o sentimento.
Nas bocas que se beijam, lábios, trocas,
E as pernas se misturam, mar e vento.

Adentro teus caminhos, doces tocas,
Em chuvas de carinho e de tormento.
Nas pedras, perdas, ganhos, furnas, locas,
A cada novo instante, açodamento.

Viemos das senzalas dos sertões,
Viemos da alegria apodrecida.
Atrás das sacristias, dos sermões,

Das ruas madrugadas canibais,
Por isso nossa sorte aparecida
Nas ondas e bordéis, nas marginais..

X

Amor bate no peito em tique taque
Fazendo disparar o coração
Guardando as proporções, mesmo de araque
Neste tumulto imenso, a confusão.

Lembro-me das histórias do almanaque
Profusas em delírios da paixão,
Agora que percebo tomo o baque
Mas sigo meu cantar em devoção.

Maria se fez festa, boca e teta,
Berrando o bom cabrito toma assento.
Amor hora marcada na ampulheta

Matou o passarinho da esperança.
Mas deixe que a saudade é como um vento,
Depois faz tempestade na lembrança.

X

Chegaste no meu quarto de surpresa
Vestindo transparente lingerie
Senti-me no momento, tua presa
Em meio desta fome eu me perdi.

Comeste cada parte em sobremesa
Depois
lambendo os beiços, percebi
Que a noite prometia uma princesa
Safada e generosa viva em ti.

No quase que não fomos, sofrimento,
Depois em doces gomos, um banquete;
Amor que não perdeu nenhum momento,

Se mostra com a cara e a coragem.
Na gula em que se mostra, amor repete
A festa extasiante, sem miragem.

X

Amiga, verdejante é o caminho
Que leva quem se adora para o céu,
Envolto neste traje, um passarinho,
Se mostra bem mais forte, foge ao léu.
Montando neste sonho de carinho,
Galopo em liberdade este corcel...

Amiga, nova sorte se segreda
No vento em que se julga mais liberto
Qual chama que se espalha em labareda
Qual
chuva que se mostra num deserto,
De toda esta esperança, que se enreda,
Da paz tão desejada, estou bem certo....

Amiga o que traduz felicidade
Já passa pela força da amizade!

X

Uma amizade passa na peneira
E deixa uma mentira como sobra
Se tens uma amizade verdadeira,
Percebe que esta vida nunca cobra.

Mas saiba valorar a companheira
Que o barco em tempestade se soçobra
Se salva numa entrega mais inteira
Na luta que se faz e se desdobra...

Amizade tem força desmedida
Se traz uma esperança em doce canto.
Preserva o sentimento de uma vida

Mostrando que valeu ter conhecido
Aquela que se fez em puro encanto
Caminho doloroso enfim vencido.

X

Deitado em minha cama um baby doll,
Envolve tuas formas generosas.
No bronze que ganhaste sol a sol,
As carnes se mostrando belicosas,

Cantigas e mandingas de arrebol,
Soando em tua boca; maviosas
Repito cata-vento e girassol
E bebo de teu corpo, água de rosas.

Abrindo este botão da camisola,
Eu abro o teu botão rosa vermelha.
Recebo o teu perfume em que se embola

Os cernes desta noite em poesia.
Acendes com teus lábios a centelha
Da lua que se entrega mais vadia...

X

A rosa decomposta no jardim,
Em ventos desfolhada, na janela.
Mostrando o que sobrou do amor em mim,
Servido sem talher à luz de vela.

Do couro verdadeiro sobrou brim,
O conto do vigário se revela
No falso do batom mais carmesim,
A boca que beijava não é dela.

No gesto mais discreto silencia
O resto mais completo que esperei.
Se empresto meu discurso em fantasia

Queimei
os seus retratos por desfeita.
Na cama em que cansado, eu esperei,
Agora vem mansinha e assim se deita.

X

Um pesadelo enorme não tem hora
Se torna mais freqüente em aflição
Se
toma penitente a dor de agora
Se forma no desejo resto e chão.

No viperino beijo que me deste,
Refeito deste susto me enterneço.
No couro que roubaste feito veste
Além do que não soube se mereço.

Na boca da jocosa criatura,
Um verso desferido igual veneno.
Deitando em tua boca beijo e cura,
Ao ver-te repartida, logo aceno.

E peço o teu sorriso mais preciso,
Mostrando este portal do paraíso....

X

O SEU AMOR

Ela esperando a noite que não vem
Do amor mais comportado em que preveja
Tranqüilidade imensa neste bem
Que louco, tresloucado tanto beija

E rouba os seus sentidos. Ser alguém
Além do que queria relampeja.
Na sorte despencada e dorme sem
Trocada por amigos e cerveja.

Deseja que outro dia seja santo,
E o sonho não se mostre pesadelo.
Refeito o rarefeito e manso encanto.

Da saia da menina curta e justa,
No gosto prazeroso de sabê-lo.
Realidade entanto, sempre assusta...

X

Não vou querer, amada, ser teu dono,
Nem mesmo ter contigo tantos prós,
Tomando minha vida em gozo e sono,
Dos tempos mais distintos mesmos nós;

Se deito e junto a ti tanto ressono,
Se busco esta certeza em tua voz,
Espero que sem medo do abandono
A vida se transborde em todos nós.

A mão pendurada no pescoço
Qual fora gargantilha de carinho,
Tropeço e mergulhando em fundo fosso

Descubro esta riqueza mais gostosa,
Vibrando meu prazer em tinto vinho,
Na noite em que desforra tanto goza.

X

Tu chamas prostituta esta mulher
Que cede aos teus carinhos mais profanos
Depois que foi princesa, uma qualquer
Se mostra nos teus cantos soberanos.

Nos versos debulhaste o que quiser
Depois de debruçares nos enganos,
Do canto mais altivo que fizer
Parece que o amor tem outros planos...

Se posas de caipira ou sertanejo,
Desculpa, companheiro, esfarrapada,
Romântico é viver cada desejo

Com força e com carinho, mansamente,
Senão já te condenas a ser nada,
Morrendo sem futuro, tolamente...

Uma homenagem aos cantores sertanejos ou românticos que invadiram o nosso dia a dia.

X

Vieste dos meus sonhos, num relance,
Mulher que se fez festa e fantasia.
Vivemos num segundo um bom romance
Que foi por certo tempo, uma alegria.

Agora bem mais longe não descanse
Que a sorte que te trouxe um belo dia
Não deixa mais que a vida já te alcance
Despida do que fomos, poesia.

Às vezes te bebia com olhares
Em danças e poemas que esqueci.
Sem cantos e recibo, se notares

Nós somos iguaizinhos, mesmo tom.
Por isso é que matando amor em ti
Destruirás
a sorte em eco e som.

X

Eu quero crer num sonho sem temores
Refeito do vazio de onde eu vim,
Bebendo em cada boca meus amores
Que guardo, bem retintos, dentro em mim.

Se enfoco sem sentido meus temores,
Talvez toda essa culpa venha enfim
Dos holofotes, fortes refletores
Que vejo do princípio até o fim.

Morrer nesta paixão que me moveu
Do futuro impossível que não veio,
De toda uma esperança que perdeu

Quem fora companheira e mais não quis.
Rever uma alegria, aberto o seio
Por onde mergulhando, fui feliz...

X

Palavras que soltamos, vento leve,
Em confissões dubladas sem sentido.
Se o tempo que passou, correu tão breve
O mundo não se mostra arrependido.

Por mais distante que isto não me leve
Sou farto das paixões e combalido
Não quero amor que nunca me releve
Nem revele o que fora preterido.

As horas se passando sem jamais
Tampouco sem verdades absolutas.
A sorte já saiu, não volta mais,

Tantas palavras soltas, versos soltos,
Em outras fantasias, velhas lutas,
Os rumos já perdemos, mais revoltos...

X

Teimosamente fico a te esperar
Embora me dissesse que não vens.
A luz que se repete no luar
Trazendo uma esperança de outros bens
Vontade de partir e de ficar,
Vontade de gritar teu nome ao vento,
Mas nada de fingir ou de chorar,
O gosto da vitória é no momento.
Quem sabe tu virás na tempestade
Ou mesmo no prazer que não contenho,
No gosto desta boca, ansiedade,
Amor foi companheiro mais ferrenho.
Mas sinto o teu perfume dentro em mim,
Um grande amor não morre mesmo assim.

X


Amiga, não me guardes mais rancor,
Sacuda esta palavra que falei
Neste momento insano sem valor
Onde em erros gigantes mergulhei

Num momento mais duro, insensatez,
Instante adormecido e sem sentido.
Inerte sem juízo ou lucidez
Melhor jamais por certo ter bebido

Das dores esquecidas do passado,
Há tanto sepultadas, coração.
Se num momento torpe, enviesado
Voltaram sem motivos, explosão,

Tu sabes, nada dizem, nem intriga,
Peço-te, esqueças isso, minha amiga...

X

Expostas, rancorosas, velhas dores
Ambulantes feridas que se entocam
E mostram nos seus dentes, os humores,
Espelhos onde os rumos se retocam.

Num fosso de silêncio onde abrandaste
Tais fúrias, refletindo num sorriso
Já toda a sensação deste desgaste
Natural que nos nega um paraíso.

Somamos nossos corpos toda noite
E, mesmo que isto seja uma mentira,
Vestimos solidão em farsa/açoite.

No fundo não queremos mais a fuga,
Nem mesmo quando solta, a voz atira
Forjando em nossa face cada ruga...

X


Quem dera se viesses, rosa rara,
Estrela maioral deste jardim,
Em tua majestade a sorte ampara
O sonho que guardei dentro de mim.
O tempo sem remédio, quase pára
Na boca que beijaste, carmesim.

O fundo marchetado da existência
Se imanta em tanto verso atormentado.
Quem sabe te encontrar foi coincidência?
Atando o meu destino ao teu passado
O resto se fará sem penitência.
Somente te proponho estar ao lado

Do mar que assoalhei em nossa vida,
Desabrochando em ti minha saída...

X

Não se secam tais fontes, mar e rio.
Nas lajes, pipas, sonhos e conversas,
O parto que mal feito traz vazio,
Estrelas salpicadas são diversas.

Trotando meus sentidos, sou anexo.
Vestido em mil disfarces, mago tom.
Por mais que se pareça mais complexo
Amar talvez pareça um simples dom.

Nas palavras jogadas neste vento,
Recolho minhas mágoas, águas, fontes.
Por mais que seja incrível, sempre tento
Beber daquelas nuvens, horizontes...

Esqueço em toda parte um bom pedaço
De meu coração, nisso eu me desfaço...

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