sábado, 22 de dezembro de 2007

SONETOS 085 E 086

Sentir o teu perfume desejado,
Tocando em tuas pernas, calmo mar.
Recebo pelo vento o teu recado,
Sentindo esta vontade de ficar.

A vida inteira sempre do teu lado,
E todo o teu carinho desfrutar.
Não vês como eu estou apaixonado?
Deitar o nosso amor sob o luar....

As nuvens passeando em nosso céu,
Formando uma paisagem delicada.
Galopo no teu corpo, qual corcel,

Voltando a ser de novo o teu rapaz,
Sorvendo cada gota iluminada
Que o brilho deste amor, pra sempre, traz...

X

Meus dias quando outrora alvissareiros,
Raríssimos troféus de uma esperança.
Promessas de vitória e seus loureiros,
Julgando bem mais forte uma aliança
Primor de velhos sonhos que, guerreiros,
Morreram sem resquícios na lembrança.

No lodo em que emergi, pr’a sempre imundo,
Charneca de meus olhos, falsidades,
No pélago vazio em que me inundo,
Distante de pureza e castidades,
Vagando sem ter rumo pelo mundo,
Apenas me restando tais saudades...

No crocitar de uma alma prisioneira
Somente a solidão é companheira.

X

Ao ver a silhueta tão esguia
De quem sempre sonhei, imagem bela.
Percebo que em verdade eu já vivia
Na busca de quem deusa enfim, revela.
Relances maviosos da alegria
Onde um futuro em fausto, amor já sela.

Amor, um velho bruxo, feiticeiro;
Se faz pura magia e forte encanto.
Um sentimento nobre e verdadeiro
Emoldura beleza em breve canto.
Enfronha-se em palavras, sorrateiro,
Pegando de surpresa, um mago espanto.

Ao ver a silhueta tão esguia,
A noite mergulhando em fantasia...

X

Tristeza, doce amiga da saudade,
Vestindo uma pobre alma penitente.
Ressoa desde a minha mocidade
Deitada em minha cama, enlanguescente.
Vivê-la é mais que só fatalidade
Que toca um velho peito tão descrente.

Condiz com cada sonho em minha vida,
Refém de longo tempo em vago riso.
Caminho por vereda mais florida
Ausente do perfume; perco o siso.
Na face em dor intensa, contraída;
Distante do que penso, um paraíso...

Aberto o coração não se renova
Aguarda simplesmente a sua cova...

X


Cantando o pleno amor, tão docemente
Em termos que me fazem namorado
Da lua que se explana totalmente
Em brilho, com teu colo prateado.
Percebo uma ousadia mais presente
Num ato que se mostra delicado.

Na sutileza calma deste gesto
Invade meu jardim, clareia as rosas,
Senhora do meu sonho em que eu empresto
As mãos em seus carinhos, desejosas.
Quem veio de outro tempo tão funesto
Se esbalda com delícias perfumosas...

Procuro amada lua em qualquer parte,
Bem certo destes lumes em plena arte.

X

Além do que sonhei que já tivesse
Do encanto que se fez contentamento.
É como se deveras, numa prece,
Amor de dores fosse assim isento.
Porém o duro Fado não esquece
Sequer por um segundo ou um momento.

Às ordens deste amor, estou sujeito,
E assim se fazem cantos mais diversos.
Professo mesmo embalde o meu direito
Na busca da alegria nestes versos.
Tu queres e bem sabes que eu aceito
Oferecendo a ti meus universos.

Enganos proferidos sem descanso,
Teu mundo que procuro e não alcanço...

X

Profundamente imerso em tantas ânsias,
Calejo uma emoção em corpo frágil.
Percebo, nos teus olhos repugnância
Na fuga que encetaste, bem mais ágil.
Nas dores que guardei em leda infância
A sorte que sonhara, simples plágio.

Ao ver-me assim, exposto a tais ruínas,
Do altar que imaginei, amor sincero,
Na luta que bem sei tu abominas
A solidão devora em gesto fero.
Numa ressurreição de antigas minas
Um resto de ilusão que ainda espero.

Os vermes pouco a pouco me tomando
Não sei se aguardarei nem até quando...

X

Na solidão noturna me recolho
E vejo tua sombra na parede;
Meu sonho mais esguio, sem ferrolho,
Na boca imaginária mata a sede.
Na sombra um brilho fosco reflete o olho
Num incêndio saudoso, a velha rede.

Procuro, sem sucesso, te tocar,
Apenas o vazio por herança.
Os raios portentosos do luar
Inflam, num momento esta esperança.
Mas nada encontrarei. Só, a brilhar,
Um rastro faiscante, uma lembrança.

No espelho de meu quarto, um vago senso,
Reflete o nosso amor que foi imenso....

X

Meu verso, um velho cego e obsoleto,
Qual sombra do passado ledo e tolo,
Embora tantas vezes vá inquieto
Não serve nem sequer mais de consolo.
Esmago cada sonho, um vil inseto,
Semente que se aborta em seco solo.

Jogado sem defesa às duras feras
Em tal canibalismo que me assusta.
Refém das desditosas primaveras
Em látega vontade mais robusta.
Num precipício imenso, vãs crateras,
Além do que pensei; amar me custa.

Meu verso abandonado, pobrezinho,
Morrendo em rima e métrica, sozinho...

X


A noite em plenilúnio, mansa e pálida,
Deleita-se contigo, deusa nua.
Lúbrica fantasia de crisálida
Que em sonhos se entregando, já flutua.
Deitando num remanso, doce e cálida,
Temerosa pressente e enfim recua.

Amar é se entregar, louco sacrário,
Fazendo de outro corpo o seu altar.
No beijo que procura, senso vário,
Derrama-se em deleites ao luar.
Na cama ensangüentada, seu sudário,
A fome e saciedade a se buscar.

Refém deste desejo que a domina,
Mulher incandescendo uma menina...

X

Temor que me invadindo, formidável
Transborda em solidão, velha quimera.
Abrindo no meu peito uma cratera
Na fome e no vazio interminável.
Além do que julgara miserável,
Mordendo devagar, teimosa fera.

Espero a solução que nunca veio,
Envolto nesta treva, sem destino.
Frágil lembrança, tosca de um menino,
Na noite solitária, um vão receio.
O medo ressurgindo, vem a pino;
Nos passos de um amor que inda rastreio.

A boca abandonada se apedreja,
Sonhando com os lábios que não beija...

X

Guardado em catedrais que sei imensas,
Um coração se faz em duras datas,
Na vívida lembrança de outras crenças,
Nas hostes doloridas, velhas matas,
As sensações passadas, mais intensas,
No aluvião das dores insensatas...

Focado por mistérios sensuais,
De tempos que se foram, seus enganos.
No olhar vazio, mares abissais
Negando a novidade de outros planos.
Os dias que se foram, nunca mais,
Regendo o seu futuro, soberanos...

Que faço se este amor, um temporão,
Infausta novamente, o coração?

X

Na tosca sensação de vaga mente,
Refém de lerdos sonhos em volteios.
Sem tréguas que refaçam meus esteios,
Entrego-me aos teus olhos de serpente.

Veneno me inoculas, ás ardente
Na sôfrega ilusão de meus anseios.
Arrefecendo os sonhos, ledos freios,
Agônico, mergulho em lagos quentes.

Tua sensualidade, doce fúria,
Fomenta nossa noite mais espúria,
Tornando meu desejo tão disforme.

A noite semimorta já não dorme,
Tomada por luxúria, insensatez...
No gozo venenoso em que se fez...

X

No rastro de teus mágicos perfumes
Espreito no caminho em que prossigo
O resplendor dos passos feitos lumes,
Nas lutas que prevejo, um santo abrigo.

Seguindo qual falena vou aos cumes
Mais tenebrosos plenos de perigo.
Percebo-te voraz em teus queixumes,
Além do que pretendo e não consigo.

Cupido em seus delírios; lança as setas,
Aufere seus desejos, suas metas
E em febre me atingindo, me aquebranta.

Aquém do que sonhara um ermitão,
Tomado por loucuras da paixão,
Um coração tão frágil já se encanta...

X

Transita o vero amor, matéria fina,
Que, gerado em deslumbres de carinhos,
Retendo a qualidade de bons vinhos,
Em tempo o seu valor se determina.

Calcado em tanta paz, alabastrina,
Valora-se em detalhes, raros linhos,
Mesmo quando defronta com espinhos
Transborda em limpidez, tão cristalina.

Início que se fez luxúria e gozo,
Retoma em mansidão, mais carinhoso,
Um sentimento quase de mormaços.

No doce badalar de calmos sinos,
Depois das tempestades, desatinos,
Toda a suavidade de teus braços...

X

Mal consigo dormir se não estás
Deitada do meu lado, brasa acesa.
Ardendo em vera chama, amor se faz,
Depois de toda a festa em sobremesa.

Sorvendo assim de ti, sou bem capaz,
De receber o vento que me tesa,
Fazendo tanto amor, querendo mais,
Navego nos teus mares de princesa.

No jogo que incendeia a nossa cama,
Brincando em flamejantes tentações.
Insisto em te querer, fogosa trama,

Nas asas tentadoras das paixões.
Amor em seus matizes, toda a gama,
Explodindo em milhares de emoções...

X


Por mais que o amor maltrate um sonhador,
A solidão machuca muito mais.
Amiga, neste mundo; o desamor,
Acaba com sorriso, e mata a paz.

Se teimo em cada verso, um amador,
A dor já me feriu, e por demais.
Do tempo em que vivia sem calor,
Não quero recordar. Viver jamais...

Por isso minha cara companheira,
Não deixe de querer amar alguém.
Uma esperança, eterna jardineira,

Um dia te fará bela surpresa.
Amor, por mais distante, sempre vem,
Cobrindo a tua vida de beleza....

X


Os dias se passando tão gelados,
As nuvens da tristeza vão se abrindo,
Lembranças de outros dias prateados
Teu rosto mais bonito me sorrindo...

Os sonhos que me tomam são alados
Mas logo a realidade me ferindo,
Secando tantas fontes, morrem prados.
Meu mundo que se fora belo, lindo...

Tua pele macia, em alva neve,
Num delírio feliz, num vôo breve,
Qual fosse uma ilusão que se levanta,

Alçando meu desejo ao infinito...
Distante deste olhar, meigo e bonito,
Nem mesmo uma esperança leda; encanta..

X


Meus sonhos, belas dálias no meu peito,
Eflúvios da paixão indefinidos.
Num átimo buscando ser eleito
De amore que se fazem dos olvidos.

Num límpido segredo,satisfeito,
Eu adormeço a paz de ter sentido
Em esplendor raríssimo e perfeito
Todo o temor que houvera, resolvido.

Caminho pelas sendas florescidas,
Buscando pelas fontes sempre frescas,
Montanhas, cordilheiras gigantescas,

Não ousam impedir as nossas vidas.
No sonho em que esse amor já me enternece
Eu agradeço a Deus, louvor e prece...

X

Falar-te de sonetos e de rimas,
Parece ser inútil, companheira.
Se zombas de quem sabe e discriminas
Mostras uma ignorância verdadeira.

Não quero nem desejo t’as estimas.
Palavra tão ferina, uma besteira.
Desiludida sempre, quando afirmas,
A causa se demonstra assim, inteira.

Quem guarda tanto fel por estandarte
Maltrata quem não quis te magoar.
Atira sem saber, em qualquer parte,

Berrando, vocifera, sem motivos.
Difícil te entender e perdoar,
Soberba nos teus olhos mais altivos...

X

Não falo mais de mel nem de doçura,
Querida, o diabetes aumentou.
Cansado de beber cachaça pura,
Apenas este fel, o quer restou.

Retrato nesta sala, sem moldura,
Nem mesmo a solidão ele curou.
Uma água mole bate até que fura,
Quebrantos sem sentidos, me deixou.

Preciso deste amor, jamais neguei,
É fato que te quero a cada instante.
Não sabes quanto a ti me dediquei,

Não sou, como tu pensas, um farsante.
Porém em tanto amor me adociquei,
Que a vida já passou, sem adoçante...

X

Meus passos fraquejando vão trementes.
Vazios, os meus olhos, vou cansado.
Na boca que me beija uma serpente
Esconde seu veneno que instilado
Domina todo o corpo e toda a mente,
Vagando o tempo todo do meu lado...

Seu beijo que me toca, me incendeia
E forma uma ilusão que, cedo, passa.
Tomando tal veneno em minha veia
Tonteiras e fascínios, viro caça.
A mão que me acarinha, esbofeteia,
Caminho sem ter tréguas à desgraça.

Estou preso à loucura suave e doce,
Inferno em paraíso, como fosse...

X

Beijando ao mesmo tempo me assassinas
Com pérfido sorriso, tão medonha.
Mal sabes, sendo assim tu me fascinas
Na sensação estranha e tão bisonha
Contaminando assim belas boninas
Na fétida alegria que me enfronha.

De todas as surpresas, fatigado,
Encaro estas estradas mais poentas.
Maldigo a cada instante este meu Fado
Buscando outras histórias bolorentas
Que tirem minha vida deste enfado
Das luzes e penumbras violentas.

O solo movediço em que, assim, piso,
Servindo como alerta, como aviso...

X

Profunda sensação de fundo corte
De adaga putrefata ainda ecoa.
Promessa benfazeja de uma morte
Que vem silenciosa e não perdoa.
Quem dera se tivéssemos a sorte
De um barco abalroado em plena proa.

Talvez não rastejasse esta saudade
De um tempo em não fui simples cativo.
Desilusões perpétuas, dura grade
Moldando minha vida em forte crivo.
Dos sonhos que morreram sem alarde,
Até desta vontade já me privo.

E rondo qual falena,à morte um lume,
Sem lágrimas, sem medos, sem queixume...

X

Tais sendas que percorro, tenebrosas,
Apenas esperanças inda alvejam
Tentamos espalhar perfeitas rosas
Porém somente cardos já vicejam.
Em mãos que se apresentam, belicosas,
Meus dias, tempestades os negrejam...

Sentindo-me mais frágil e impotente
Lavado em sujas águas, sem destino.
Fingindo tantas vezes ir contente,
Mentindo sobre um céu alabastrino;
Meu barco carregado por corrente
Que leva ao suicídio, desatino...

Roseirais apodrecidos no jardim,
O nada, simplesmente , dentro em mim...

X

Sou mais do um simples prisioneiro
Perdido nestas pérfidas batalhas,
O mundo que se mostra carniceiro
Invade com as fétidas navalhas
Rasgando o coração, sangrando inteiro
Pois quando tu me beijas, me retalhas.

Sorrisos que encontrei nestas hienas
Que gozam do martírio de quem sofre,
São máscaras que mostras quando acenas,
Tomando minhas dores, vem de chofre,
No regozijo espúrio finge penas
Teu perfume recende ao próprio enxofre.

Mas nada do que fazes me retém
Da vida sou estúpido refém!

X

O medo de morrer que me tocava
Causando em minha vida um fundo corte,
Transmuda-se em desejo bem mais forte
De um jeito que jamais imaginava.

Estúpido; nas ruas ,quando andava
Nas madrugadas frias, cheiro forte
Da podridão de uma alma que recorte
Os sonhos em que, tolo, eu me banhava.

Nos goles da aguardente, confissões,
Esparsas cicatrizes se acumulam,
Invés de porta aberta, paredões;

Em troca de um sorriso, cusparadas.
Somente as podres bocas que me osculam
Se mostram mais amigas, camaradas...

X

Viver amor passado novamente,
Parece uma loucura, minha amiga.
Depois de tanto tempo, mais descrente,
Caminhos que passamos, não prossiga.

Porém comida fria que requente,
Talvez matar a fome inda consiga.
No caso, nova chuva se pressente,
Molhando nossa casa tão antiga.

Um tronco que cortado, brotará,
Quem sabe novos frutos surgirão?
Na chuva intermitente de verão

Sementes já lançadas nascerão.
Granando uma esperança colherá
O resto deste amor florescerá?

X

Se sonho muito além do que mereço,
Talvez seja ilusão, querida amiga.
Um passo bem maior eu obedeço,
Impede que esta dor assim prossiga.

A vida se fazendo em um tropeço,
Não deixa que meu canto crie liga,
Porém se um verso novo eu enalteço,
Meu mundo num segundo trama a viga.

Se faço o dia a dia em esperança,
Traçando a cantoria mais risonha,
No fim da noite espero pela dança

Além de todo o bem que se proponha,
Meu peito de menino, de criança,
Não pára de querer, por isso sonha...

X


A mão que te procura não se atreve
A mendigar carinhos, orgulhosa.
Quimera que me toma em alva neve,
Perdendo o bom perfume, nega a rosa,
Que o tempo que passamos não preserve
Sequer a tua luz, maravilhosa.

Sou aspas e parênteses, um til,
O resto do que foi um sonho lindo.
A morte tão voraz e mais sutil,
Aos poucos minha porta vai abrindo.
No toque delicado é bem sutil,
E em passos quase rápidos, vem vindo...

Sonego uma esperança, nego a sorte,
Na doce mansidão de minha morte..

X

Qual fúnebre mortalha, um agasalho,
Viagem, sortilégio derradeiro.
À campa em que descanso e me agasalho,
Forrado pelo amor mais verdadeiro.
Distante do prazer e do trabalho,
Meu corpo se entregando, vai inteiro...

Amantes delicados e vorazes,
Nos lábios decompostos um sorriso,
Cortantes os insetos, as tenazes,
Minha alma tão longínqua, me hipnotizo,
Estranhas sensações que são fugazes,
Visões que percebi do paraíso...

Do corpo que perdi, a liberdade
Do sonho de viver eternidade...

X

Transformações estúpidas que traço
Em todas as facetas da matéria.
Na ebulição do sonho em que me faço.
Apátridas poções, negra miséria.
Nas hordas que dominam cada espaço
Os homens se parecem com bactéria.

Na podridão da fome que se espalha,
Devoram as crianças recém natas.
Sórdida proteção de uma batalha
Permite que se esgarcem casas, matas.
No corte tão cruel de uma navalha,
Guerreiros e soldados, casamatas...

Nas mãos dos esmoleres da esperança,
Ganância e servidão voraz, avança..

X

A força que me doma está disforme
Em pútrida garganta se regala,
Estúpida esperança que não dorme,
Espreita silenciosa em minha sala.
Um coração afeito a coliforme
Em látegos castigos, nada fala

Errantes emoções, podre destino,
Num abissal e tétrico sorriso,
Revirando minha alma em desatino,
Prenúncios esgarçados num aviso.
No vago de teus olhos me alucino
E louco, a dor espúria, logo biso.

No centro de meu mundo uma discórdia
Somente uma mentira, vai, acode-a...

X

Carrego dentro em mim uma alma triste,
Afeita a tantas dores, agonias.
Porém o coração teimoso insiste
E chove em tempestades nos meus dias.
Parece que ilusão, não sei, existe.
Contaram-me em sonho as fantasias...

Por que viver assim, Senhor Meu Deus?
Permita que eu te implore meu descanso.
Embora em meu olhar pressinta adeus,
O sol volta a brilhar quebra o remanso.
Quem dera se estes olhos tão ateus,
Pudessem vislumbrar, mas não alcanço.

Ó vento da saudade, seja forte
Presenteando então com minha morte...

X

Os véus que te cobriam, alvas neves,
Em sonho imaculado de grinaldas.
Além do que desejas não atreves
Amores eu bem sei já não desfraldas,
Nos olhos maculados me descreves
As noites que passaste em doces caldas...

Guardando para si tais dissabores
Das chamas que envolveram teu passado,
Refletes noutras camas, despudores
Fingindo num sorriso disfarçado,
Trazendo nos teus dentes puras flores
Magias de loucuras e pecado.

Te sinto estremecer logo ao me ver,
Resquícios deste tempo de prazer...

X

Quando sinto o gozo de teu riso
Que é para a vida doce mantimento,
Vibrando em tal delícia, o pensamento,
Se faz sem mais delongas, paraíso...
No amor que assim cedo diviso,
A força em que me guio e me sustento.

Um sentimento nobre e tão profundo
Que invade sem escusas, excelente,
Tomando sem juízo, uma aguardente,
Que inebria, sincero, onde me inundo.
Trazendo um claro estio, sempre quente.
Aonde mergulhando me aprofundo.

Mulher querendo sempre merecê-la
Eu trago uma alegria feita estrela...

X

Saudade, crudelíssimo carrasco
Formada em tão terríveis vendavais,
Veneno que se entorna em frio frasco,
Sem nada construir, tão contumaz.
Reduz a minha vida a um fiasco.
Resseca todo o sonho, mata a paz.

As bocas que beijei, ledo passado,
Sorrindo e penetrando outros desejos.
Recado recebido e disfarçado
Em forma de ironias ou de beijos.
Felicidade nunca foi meu Fado,
Os dados mal jogados, os despejos.

Meus dias vãos passando; cegos, tensos.
Os vales da saudade são extensos...

X

Fomentas nos meus antros cerebrais
Distintas ilusões sobre o futuro
Às vezes simplificas os banais
Tormentos que me tornam bem mais duro;
Por outras deturpando os mais boçais
Medos, onde sempre me emolduro.

Meus dias, quando negros, temerários,
Encharcam a minha alma, podre lama.
Os rogos que me trazes, tão sectários
Invadem ilusões em cada trama.
Desejos que predizes, mercenários,
Açodam minha boca em negra chama.

Minha alma em tão sutil putrefação
Aguarda depois disso, a solidão...

X

As dores me entranhando são vorazes
Inoculando, amargas, as peçonhas.
Cortantes, vigorosas, tais tenazes,
Traçando minhas noites tão medonhas.
Algozes dos meus sonhos, bem mordazes,
Garatujas irônicas, risonhas.

Por mais que seja um rígido rochedo,
Meu peito se demonstra destroçado.
No gosto de teus lábios acre, azedo,
Resumo de um destino malfadado.
Em hediondos ritos, os enredos;
Se perdem neste céu negro, nublado...

A sorte abandonada num cassino,
Derrotas que acumulo. Meu destino...

X

Ceifeiros, os meus sonhos te procuram,
Arando uma esperança a cada verso.
Distantes de teus olhos me torturam,
Semeiam ilusões pelo universo.

Nos dedos tão macios, sensuais,
As mãos de quem adoro me chamando.
Formando com estrelas, festivais,
Em brilhos, pelos céus, vão desfilando...

Transcendem tanta paz pelos espaços,
Mostrando o bom caminho que me guia.
Estreitam mais fortes, nossos laços,
Além do que, talvez, se poderia...

Deitar em tuas pernas, sonho e cais,
Meus sonhos te buscando... Nunca mais...

X

Amor que maltratando; me tortura,
Trazendo a solidão como estandarte.
Busquei a vida inteira por ternura,
Distante do saber desta fina arte.

Na luta por paixão e por candura,
Pensei que amor se encontra em toda parte.
Realidade mostra-se tão dura,
A vida não cedeu sequer aparte...

Se toda gente assim, de amor soubesse,
E como é doloroso um bem querer,
Que o coração teimoso já padece

Distante de quem sonha conviver...
Sabendo quanto custa o querer bem,
Não queria, jamais gostar de alguém...

X

Galgando no teu corpo um belo porto,
Aonde eu descobri mapa e tesouro.
Depois de tanto amor, vou quase morto,
Brilhando de suor, eu encontro o ouro.

Fazer amor, delícia de desporto
No gozo detonando um belo estouro.
Delírio que me deixa sempre torto,
Mas sempre benfazejo, um bom agouro.

Servir e ser servido em abundância,
Molhando tua boca na enxurrada,
Deitar tua nudez com elegância,

Vagando nossa noite iluminada,
Nos ápices profanos, chafariz,
No lago, imensidão, eu sou feliz...

X


Riqueza incomparável de ouro e prata
Tornando em diamante nossas vidas.
Na força maviosa da cascata
Redime nossas horas já perdidas.
Um norte que nos toma e arrebata
Achando em labirintos, as saídas...

Num mar que se permite em tantas ondas,
- A vida – transformando em calmaria
As
tormentas que fazem suas rondas

Deixando muita dor em agonia.

Riqueza que se encontra na verdade,
No rosto companheiro, num sorriso.
Quem tem este tesouro, uma amizade,
Por certo já tem tudo o que é preciso...

X

Se tentas me ferir, querida amiga
Acaba por ferires mesmo a ti.
Não percamos mais tempo e que prossiga
Passo a passo esta estrada que vivi
E que vivemos sempre em forte liga;
Tu sabes que estarei tal qual te vi

Seguindo nossa sorte sem tardança
Nas curvas mais difíceis, laço forte,
Parceiros nas tristezas e nas danças,
Lançada há muito tempo nossa sorte,
Bebemos destas mesmas esperanças
Até quando chegar final ou morte.

Incríveis nossos passos par em par,
Janela que insistimos destrancar.

X

Castelos e sereias, a princesa...
O corte tão profundo já levou.
De toda a fantasia que ficou,
Um gosto tão amargo da tristeza...

Mas a tarde trará nova certeza,
Mesmo que o sol que veio não brilhou
Outro virá trazendo o que sonhou.
Enfim te cercará de tal beleza

Que nunca lembrarás do antigo sol.
A vida te promete este farol
Que sempre te trará a claridade!

E tudo que parece tão distante
Muda-se, de repente, num instante,
O amor já te trará felicidade!

X


Eu quero me entregar completamente;
Vibrando dentro em ti toda a loucura
Gostoso sentimento, de repente,
Que traz todo o desejo da procura...

Verter o meu delírio com que sonhas,
Rodar minha cabeça, ficar tonto,
Perdemos os pudores, as vergonhas,
Querida; vem agora, pois 'stou pronto

P’ra te fazer feliz, perder o nexo,
E te levar comigo, ao infinito
Onde somente amor, tesão e sexo
Permitem que se cumpra o nosso rito

De sermos num momento um só ser
Gostosa sensação, santo prazer...

X

Por mais que esteja longe, Minas há.
Depois de tantos montes, esquecida...
Nos vôos, pensamentos, chego lá
Bebendo em procissão, a fé na vida.

Na febre que não passa, mãe, pai, chá,
Qual fosse uma esperança adormecida
No canto desta estrada, voltará
No campo, na lavoura, em nossa lida.

Na Minas dos amores, das Igrejas
Dos cemitérios, luzes e luares.
Dos goles de cachaça, das cervejas

Nos bares da saudade, lembro o rosto
Daquela que eu amei, doces pomares
Dos beijos e carinhos... Tira-gosto...

X

O canto que em minha alma se derrama

Trazido pela voz de quem sonhara.

Dizendo mansamente que, enfim, me ama,

Numa emoção profunda cara e rara.

Ao longe, quem adoro já me chama

Meus sonhos mais felizes ela ampara

Com doce sensação em nossa trama

Da flor que no jardim me perfumara.

Amada, não permita que a saudade

Nos tome por reféns e nos magoe.

Amar é ter noção da liberdade

Nas asas que criamos com carinho.

Por isso neste canto sempre voe

Amor que se inspirou num passarinho...

X

Quem ama nos ensina que na vida

A falha cometida no passado,

Se noutras vezes, sempre repetida,

Mostra que quase nada foi guardado.

Etapa por etapa assim cumprida,

Capítulo bem visto e encerrado,

Lição já decorada e aprendida,

O resto: bem melhor deixar de lado...

Acendendo uma vela que clareie,

Iluminando o rumo tão escuro;

Permite que o futuro não receie

Aquele que aprendeu esta lição:

“Pensando neste brilho que procuro

Eu deixo assim de lado, escuridão...”

X

Ao te ver na distante e tão risonha serra,
O meu olhar te procura, em sonhos derradeiros.
Amargor da saudade em volta dos ribeiros.
Na trilha desta serra a marca d’uma guerra.

A noite sem ter sonho é triste, e me desterra...
Esperas, qual princesa, os bravos cavaleiros.
Eu só posso te dar, amores verdadeiros.
O teu belo castelo, está em outra terra.

A natureza rara, em alegrias, canta.
O pássaro que voa a quem escuta, encanta.
Só Deus nunca me escuta, embalde minha prece...

A nuvem, escondida, aguarda; trará chuva.
A mão que me tortura esmera-se na luva.
A tarde vem caindo, a noite me envelhece...

X

Embora tantas vezes bem escuro,
Caminho que busquei foi sem espanto.
Além desta verdade que procuro
Em cada novo dia, novo canto.
O chão que sem promessas se fez duro
Agora não suporta mais meu pranto.

Enquanto simples rumo que eu trilhava
Mostrava mais percalços que alegria,
Inútil meu olhar se ensangüentava
Na sombra mais cruel do dia a dia,
Vulcão que se perdeu sem ter nem lava
Não deixa fumegar a poesia.

Minha alma incandescente vai, soturna,
Embrenha sem ter rumo em negra furna...

X


Jogado nas sarjetas, quase informe,
Devoro o que restou de fino prato,
Uma esperança morta já não dorme,
Apenas esboçando o meu retrato.
Quem teve um sonho breve, quase enorme
Só vive destes restos que hoje, eu cato.

Elementares ordens que quebrei,
Fomentos de vinganças descabidas.
A morte simplesmente, traça a lei
Invalidando sempre nossas vidas.
Do pouco que não quis nem esperei
As sobras vão embalde, repartidas.

Na paixão de viver, tão violenta,
Do aborto em que nasci, restou placenta...

X

Preciso que me entornes pás de cal,
Jogando meu cadáver pelas ruas,
Sugando cada vez mais, afinal
As horas que passamos foram tuas.
Um verme tão arcaico e ancestral
Não pode perceber, estrelas, luas...

E prestes a morrer, fétido, espúrio,
Se adorna em versos loucos e bizarros.
De lírios e de cravos, sem antúrio
Coberto pelas lamas, pelos barros.
Quem fora procurar por um augúrio
Encontra em boca aberta, só catarros.

Dissolvo-me em pedaços, a feder
Apenas só me resta, então, viver...

X

Paço do Lumiar, talvez um sonho,
Cravado no Brasil, nascido em luz;
Com nome tão brilhante e tão risonho,
A claridade na alma reproduz...

No mundo dentre trevas, injustiças,
Medonhas discrepâncias e quimeras.
Crivado de maldades e cobiças,
As ruas, capital, entregue às feras.

De repente, uma luz chama atenção...
Surgida na palavra, na cidade,
Que em si nos demonstrando a solução
Quem sabe de viver felicidade...

A vida sempre está no limiar.
O sonho neste paço, Lumiar...

X


Percorro a cada noite, a vastidão
Que nos separa, amada; ganho o astral
Montado no cavalo/coração
Estrelas recolhendo em meu bornal.

Tocando a bela lua em sedução
Até
chegar a ti, quando afinal
Me entrego, sem temores à paixão;
Matando esta saudade que é fatal.

Os raios da alegria, trago-os eu
Teu mundo, neste instante, é todo meu,
Num cofre delicado da ternura.

Distâncias não me importam, pois sou teu,
E bebendo desta água que é tão pura,
Esqueço a minha sede de amargura...

X

Amiga não se esqueça da bonança
Que toda tempestade já promete.
Um laivo de alegria e de esperança
Na história que pra sempre se repete.

Cansaço que surgir depois da dança
Deixando na cabeça só confete,
A noite sem parar, depressa avança,
Mas que isso nunca fira nem afete

O gosto do prazer que tens agora,
Quem sabe guardarás raro confeito,
Se toda uma alegria não demora,

Durante certo tempo satisfeito,
Teu mundo na saudade revigora,
Amar será pra sempre, teu direito!

X

É triste perceber quanto incomoda
A roda que se faz em alegria.
Na mão sinto a tesoura de quem poda
O sol que não sabia e não queria.

Desculpe se um perfume bom açoda
E traz para as narinas, a magia.
Poeta que se fez fora de moda
Eu canto amor, amigo todo dia.

Nos leves bruxuleios, lamparina,
Vestidos de cetim, rios e riso,
Na saia tão bonita da menina

Vislumbro a perfeição do paraíso.
Um velho coração que descortina
Amor que me tirou, decerto, o siso...

X

Percebo quando o olhar, querida, cerras,
Em doces convulsões vai se tomando,
Nas nossas aventuras, paz e guerras,
Ternuras que nos lambem, devorando.
Gemidos incontidos, quase berras,
Relances que se mostram sempre quando

A noite se faz rara, o supra-sumo,
Vertigens e delitos, louca estrada
Aonde nosso caso encontra o rumo
E pede que tarde uma alvorada.
Tomamos desta fruta todo o sumo
Com sede, alma voraz, alucinada.

Olhares tão sedentos querem mais,
A dose se repete: é bom demais!

X

Febril, num turbilhão, em seus volteios,
Tocando minha mão suavemente,
Na intumescência bela de teus seios,
À boca se permitem, alvos, quentes.
Quadris vão prometendo bamboleios
Em tantos devaneios, mais urgentes.

Prazeres se transformam em incúrias,
O corpo desejado logo açodo,
Envolto em mil pecados, em luxúrias,
Retorce-se em delírios como um todo.
Os lábios transbordando loucas fúrias
Bebendo em fina taça todo o lodo.

E assim na nossa dança sensual
A noite vai passando, colossal!

X

Desenhos do teu rosto em cada canto,
Fotografia clara da esperança
Que toma minha vida em tal encanto,
De um amor que a saudade ainda alcança.
Na nossa casa simples, de amianto,
O que restou servindo de fiança.

Qual rio que, em nascente, já secou,
Só deixando o vazio em suas margens,
Assim também aqui tudo ficou
Lembranças que parecem mais miragens.
Tomando todo o quarto e o que inda sou.
Gigantes, discrepantes defasagens...

Mostrando que já fui feliz um dia,
Lembrando que existi: fotografia...

X

Quando a vi, sustenidos e bemóis
Ressoando na casa iluminada
Por vários tons, matizes de mil sóis
Trafegando degraus em escalada.
Ascendendo lances logo após
As marcas que encontrava; todas... cada.

Vestida de nenúfares sabia
Que a cada novo passo vaporoso
Tornava-me refém da fantasia
De ter e ser além de simples gozo.
Nos sons que com certeza, entranharia;
Mostravas seu perfil tão belicoso.

Numa alucinação febril, insana,
A lua desfilava soberana...

X

Qual vento que lambendo os arvoredos
Refaz um sonho manso e sensual,
Nas águas que se encharcam deste sal
Lacrimado na angústia de meus medos,

Percebendo aspereza dos penedos
Marchetados por gotas de cristal,
A vida se mostrando desigual
Abarca, sem limites, meus enredos.

Em versos que jamais foram refeitos,
Meus erros acumulo em tensos preitos,
Farsantes sensações; saudade e bem,

As mãos em cicatrizes dolorosas,
Recebem das perfídias; mortas rosas,
Nascidas nos desejos de outro alguém...

X

Teu olhar causa inveja ao próprio sol
Em rara formosura e claridade.
Transmite a sensação de majestade
Por sobre a negritude do arrebol.

Estrelas te perseguem, qual um rol
Formando purpurínica beldade.
Prisioneiras da antiga mocidade
Fugidia. Distante girassol,

Procura pelo brilho e fausto acerto
No verde de esperanças em que me olhas,
Revelando em veredas belas folhas,

Ao vento fustigando por completo
Fomentas meus anseios mais recônditos
Desejos que transmites, são indômitos...

X


Nos espinhos que sangram, inocência,
As marcas das tristezas, injustiças.
Quem bebe da esperança, florescência
Buscando em noites duras, movediças.
As mãos erguidas pedem por clemência
Mas naquilo que dizes, tu me atiças

E os odientos dias são heranças
Que deixas espalhadas pelo chão.
Semeias em verdade, com pujanças
Futuro de vergonha e podridão.
Nas crápulas, vazias, alianças
Demonstras o que queres: servidão.

Passeias pelas ruas inclemências
Granando assim incúrias e demências...

X


Olhos estranhos, sôfregos, abertos
Ocupam neste quarto, seus espaços,
No gelo que transmitem; frios aços,
Indefinidas formas de desertos.

Quais fossem, distraídos, descobertos,
Arranham na parede sombras, traços,
Perfilam negritudes, ocos, baços,
Vigiam cada sonho, estão despertos.

Maculam minha noite solitária,
Acendem as tristezas, meus delírios,
Apenas os amores, quais colírios

Transformam esta forma temerária.
Mas sinto que persisto ledo, pária
Restando ao meu cadáver, cravos, lírios...

X

A poesia, insana companheira
Espalha em simples versos, emoções.
Transmuda, num segundo, as ilusões,
Nas mãos desta terrível feiticeira.

Às vezes diversão como bandeira,
Em outras; sofrimentos e paixões,
Loucuras em gigantes proporções;
Tocha que nos perdendo nos inteira.

Amarguras e risos se sucedem,
Em tresloucada estrada, maestrias.
Os versos muitas vezes não concedem

Senão estas verdades incompletas,
Alquímicas palavras, mil magias
Nos dedos tão sensíveis dos poetas...

X


Quem veio de cismar em outras eras
Num lírico desejo inatingível,
Aguarda a solução de primaveras
Que tragam novo dia mais tangível.

As dores, minha herança, mais severas
Se fazem quase um muro intransponível.
A sorte em passarela, noutro nível,
Com garras afiadas de panteras

Deixando o meu olhar incerto e vago.
Invejo a placidez de um manso lago,
Espero que a tempesta chegue ao fim.

Mas nada do que vejo me traz calma,
Vazios se sucedem em minha alma,
As lágrimas porejam dentro em mim...

X

Viver sem ter sequer uma emoção
Matando, em nascedouro, o sentimento.
Tomando de agonia o pensamento,
Rasgando sem dar trégua, o coração.

Assim depois dos cortes da paixão,
Vencido; sem defesas, no momento
Na busca pela paz do esquecimento,
Pedindo em toda forma de oração;

Aos deuses mais distantes e diversos,
Em sonhos, pesadelos mais dispersos,
A salvação que nunca chegará.

Meus últimos suspiros de esperança
Já fazem com a morte, uma aliança
Que, creio, desta vez, me vencerá!

X

Percebo em teu sorriso tal desdém
De quem se mostra assim, superior.
Buscando uma resposta, mas ninguém
Sabe dizer por dádiva ou favor.
Do nada em que surgiste, nada vem,
Nem mesmo uma mortalha a me compor.

Perguntas, ( ironia?) por que choras?
Não vês o meu amor, que é tão imenso?
Demoram-se distantes, ledas horas;
O dia transcorrendo seco e tenso.
Vitrais das esperanças quando estouras
No corte que provocas, mal intenso,

Recebo em estilhaços, fundos cortes,
Sabores variados têm as mortes...

X


Um rudimentar verme, apodrecida
Carne em putrefação, sem esperança,
Tomando o que restou de simples vida,
Comendo sem limites, à fartança,
Esgueira as ironias, ressentida,
Em gula, violenta, intemperança

Num banquete inconteste, loucos risos.
Orgásticos delírios, sem ter nexo.
Teus dentes pontiagudos e concisos
Penetram no meu cerne, amor e sexo.
Vagando labirintos imprecisos,
Num passo temeroso e mais complexo

Daquilo que sonhei e se perdeu,
No amor que tanto sei, nunca foi meu...

X

Vicissitudes tantas, alma morta,
Exposto aos turbilhões de carniceiros,
Na súcia das mortalhas que me aporta
Extingo meus desígnios traiçoeiros.
Nem mesmo um vão sorriso me conforta
Nas mãos destes vorazes feiticeiros.

Sobrando um vago olhar sobre a carniça
Daquilo que já fui, paisagens toscas.
Olhar que me destrói, pura cobiça
Ao tempo em que me beijas, já em emboscas.
Formando inextinguível, dura liça
Cobrindo o meu cadáver, tantas moscas...

Vomitas sobre os restos, meus destroços,
Devoras, sem ter pena; até meus ossos...

X

As bombas explodindo aos borbotões,
Reféns da estupidez, meninos mortos,
Caminhos desvalidos, loucos, tortos
Futuros que se perdem, erupções

Devastando. Miséria em plantações
O
nada se aproxima em frágeis portos,
Mulheres trucidadas, mil abortos;
Do sangue que se escoa, podridões...

Refaz-se numa flor uma esperança
Criada sobre o podre de uma guerra.
Tão bela e maviosa, uma criança

Se faz da podridão, adversidade...
Por que será preciso que esta terra
Ensangüentada adube a liberdade?

X

Moleque, mal sabia das proezas
Dessa moça escondida no quintal.
Seus olhos me comiam feito presas
De uma arapuca assim, fenomenal.

Depois fui perceber as tais belezas
Das pernas revirando o matagal.
As tardes se passavam mais acesas
Debaixo deste sol, suor e sal...

A moça disfarçada em clara estrela
Pulando uma janela já sabia
Que a noite iria ser louca e vadia.

Sem pejos de tentar ir convencê-la,
Um assobio simples bastaria
Dos grilos e dos sapos, cantoria..
.

X

Babando tanta baba, um babador
Queria ser além de simples arca,
Quem sabe se sonhasse com amor,
Seria babador menos babaca.

Faria ao mundo, assim grande favor,
Na lama em que se esgota, finca estaca
E faz de todo pobre sonhador
A carne que devora, achando fraca.

Mal sabe este panaca sem juízo,
Que o bom da nossa vida é ser feliz.
Apedrejando assim o paraíso

Maltrata quem não sabe ser servil
Ao mundo que deseja, e sempre quis,
Distante de quem ama. Porco vil...

X

De um mundo tão amargo, um viajante
Seguindo as ilusões em seus primores,
Recolhe dos canteiros, suas flores,
Em busca de carinho e de emoção.
Achando um sentimento mais ameno,
De todos os que sei, sempre o primeiro,
Abrindo sem limite o coração,
Percebe que na vida, a sensação
De ser feliz precisa por inteiro,
De um braço mais leal e companheiro
Que traga, com certezas mais perfume.
E seja responsável pelo lume
Que traz à nossa vida, claridade.
Segredos que desvenda na amizade...

X

Macaco olhando o rabo do vizinho
Mal vê seu próprio rabo fedorento.
Deixando outro macaco em seu cantinho,
Talvez fosse mais simples, sem tormento.

Tratar o semelhante com carinho
É coisa que aprendi e me contento,
Melhor ir caminhando de mansinho
Do que deixar o rabo exposto ao vento.

Tão grande é o rabão deste macaco
Que nada percebeu por tanta sobra;
Ataca e com tacada toma taco.

De tudo o que percebo, rabo pleno,
Cuidado, meu amigo, com veneno,
Esse rabo que tens? Não vês? É cobra...

X

O vento vai sangrando sem parar,
Tocando a velha porta e seu batente.
No desespero sempre a me mostrar,
O mundo que se vai, velho e doente...

A noite tão escura sem luar,
O canto que eu escuto, mais plangente,
Mostrando como é triste o tanto amar,
Morrendo o que se fora assim, contente...

Desculpe-me chorar, meu bom amigo,
A vida não permite outra esperança.
Passo titubeante que prossigo,

Levando ao quase nada. Eis a verdade,
Por isso é que te peço a temperança
Da força sem limites, a amizade...

X

Trazendo nos meus lábios, o vazio,
Morrendo tão distante claridade.
Roubando da esperança um vento frio.
Perdendo o que me resta, mocidade,

O coração que fora tão vadio,
Agora se embrenhando na saudade...
Do nada que recebo, nada crio
Somente uma distante realidade....

O sol que me queimava já não veio,
A luz que iluminava, se perdeu.
Meu mundo se esvazia, perde esteio,

Qual borboleta inútil, morta a sorte
Crisálida abortada, amor morreu.
Somente esta amizade fez-se norte...

X

Tu trazes um sorriso permanente
Que envolve-nos depressa, meu amor.
Sorriso que se dá tão inocente,
Inunda-nos o peito sonhador.

De toda a sorte grande que se sente
Quem te conhece sabe o teu valor.
No brilho de teus olhos, de repente,
A vida assim se mostra, com fulgor.

Sorriso todo pleno de esperança
Que faz de cada dia um novo sonho.
Qual fosse uma menina, uma criança,

Que expõe toda alegria com franqueza.
Em tua imagem santa já componho
Um mundo mais feliz, rara beleza...

X

Querida me perdoe se te digo,
Da vida que negaste, sem amor.
Sozinha, tu procuras por abrigo,
Morrendo sem perfume, a bela flor.

Ao lado do que sonho; vou, prossigo,
Meu passo traduzindo destemor.
Pudesse sempre estar enfim contigo,
Quem sabe viverias esplendor...

Porém a vida nega a quem se nega,
Saudade dolorosa do vazio.
Um peito que sem barcos não navega

O nada restará por companheiro.
Depois, na noite negra, resta o frio,
De quem não se entregou, não foi inteiro...

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