terça-feira, 25 de dezembro de 2007

SONETOS 122





1918

Minha alma na sarjeta já mendiga
Pedindo por amor ou caridade,
Que aquela a quem amei, ao menos diga
Se resta alguma hipótese ou verdade

Que faça demonstrar em mão amiga,
Ao menos um restolho em claridade,
Deixando que esta vida assim prossiga,
Ficando por consolo uma amizade...

Quem tem uma incerteza como trilha,
Desfrutando dos restos com ardor,
Sugando das goteiras maravilha,

Fazendo-se do nada quase um rei,
Poeira consagrada de um amor,
É tudo o que na vida, em vão, busquei...

1919

Embora nossas almas vão contrárias
Em rumos tão diversos, outros fados,
Palavras e paixões imaginárias
Deixando corações tão maltratados.

As nuvens vão passando em cores várias
Porém em duros céus, todos nublados,
A noite se perdendo em noites párias
Legando em seu rastilho, secos prados.

Porém em belos sonhos, junto a ti,
Concebo este prazer que não vivi,
Apenas esperança me consola.

Quem sabe, num momento em viração,
Virás com teu amor ou compaixão,
Dar-me pelo menos uma esmola..

1920

Negaste o teu carinho em verso triste,
Matando o que nos fez bem mais felizes.
A solidão aponta o dedo em riste
E
faz as minhas sortes meretrizes.

Um passarinho morre sem alpiste,
Abriste novamente cicatrizes,
Somente uma esperança inda resiste
Depois de tantas dores e deslizes.

Amiga, tu prometes inda ser,
O que me poderia ser melhor
Restando simples gota de prazer,

Percebo um amanhã menos nublado,
Teu rosto; ainda guardo e sei de cor,
Dentro do coração vai retratado...

1921


Vagando pelas ruas e vielas
Sob o brilho do sol, irradiante,
Depois, esperarei pelas estrelas,
Parceiras desta lua deslumbrante...

No céu a primavera tece telas
De rara claridade. Sou amante
Destas cores, beleza em aquarelas
Mágico
sonho-vivo esfuziante...

Delícias em geladas sobremesas
Escorrem pela boca, dão prazer.
Em meio a tantas flores e riquezas,

Entrego-me ao calor e ao doce vento,
Na maravilha imensa de viver
Sem ter nem mais a sombra de um tormento...

1922

Querida neste canto que te faço
Escute este teu velho camarada,
Não ligue se talvez por um cansaço,
Minha alma se sentiu abandonada.

Eu sei que tu me queres. Teu abraço
É porto verdadeiro, minha amada.
Não deixe se perca estreito laço
Que faz a minha vida ser marcada

Por tantas cicatrizes tão risonhas,
Dos beijos e carinho que trocamos.
Nos sonhos que sonhei e sei que sonhas

Mil versos dediquei, e te dedico,
Bem sabes quanto sei que nos amamos,
Por isso, do teu lado sempre fico.

1923


Quem sabe perpetrar em fina glória
Depois de tanto tempo nos horrores
Dos duros e terríveis dissabores,
Mesmo que traga a dor em sua história,

Deixando a solidão qual podre escória,
Ao refazer a vida, com penhores
Percebe quanto salvam os amores
E logra num momento esta vitória.

Assim já refazendo em tal encanto
A vida num momento em claridade,
Perfaz o seu caminho, e seca o pranto,

Pois sabe que a vital felicidade,
Nos doces, mansos braços da amizade,
Recebe um forte abrigo, feito em manto...

1924

O dia renascendo em alvorada
Florida
, nos convida para a vida
Ávida dessa luz. Sentindo cada
Flor como uma esperança revivida

Minha alma vai liberta, reinventada
Nas belas cores da árvore florida
Mostrando seus desejos: ser amada
E refazer-se em pólen, mais sentida.

A beleza renasce multicor,
Com isso, ressurgindo meu cantar
Espalhando alegria, vem compor

O cenário perfeito para o sonho
De renovar vontades... Quero amar,
Refazer, ressurgir... É o que proponho...

1925


Sou quase o que não fora se assim fosse,
Palavra solta ao léu, matando albores,
Em vis expectativas, mato as flores,
E quebro logo o pote, perco o doce.

Embora tanta coisa, a vida trouxe
Um circo feito em lágrimas, horrores,
Nas sombras do que fui, os dissabores
Já gritam que o que eu quis, foi. Acabou-se.

Apenas restará vaga e sombria,
Saudades tão estúpidas, venais.
Prenúncios de um tão próximo final.

Quem sabe enfim a morte sorriria,
Tomando com seus braços espectrais,
Tornando o meu caminho natural...

1926

A solidão jamais passou aqui,
Tu és a flor mais bela; saiba disso,
De todos os meus sonhos que vivi,
Meus olhos nos teus olhos ganham viço.

O cheiro desta flor eu não perdi,
Estou tão radiante, amor por isso,
Espero que tu saibas que vivi
O tempo inteiro sempre dentro em ti.

Perfume anunciando a primavera
Mostrando que viver já vale a pena,
Bem sei que a solidão, amarga fera,

Rondando uma alegria, nos maltrata.
Mas sinto nos teus olhos, bela cena
Que salva, que me cura e me arrebata...

1927

Quem dera se eu pudesse te dizer
De toda uma delícia que é sonhar,
Além de toda forma de prazer
É mais, cada vez mais; solto, voar...

As rédeas não me prendem. Finjo ter
As asas que permitam o céu, ar.
Na verdade mal consigo me conter
Numa explosão que trama sem cortar.

Bom dia minha cara companheira;
Amiga que aprendi a ter comigo,
E quero sempre assim, tão verdadeira.

Sabendo que te quero, solto a voz,
Gritando e te pedindo sempre abrigo,
Nos versos e carinhos; laços, nós...

1928

- UM ASSALTO VIBRANTE

Engenheiro usa vibrador da namorada para assaltar lotérica

Portal G1



Querida, me desculpe ter usado
O bem mais desejoso em tua vida,
Depois de tantas vezes ter brochado,
E sem ter descoberto outra saída,

A sorte do meu lado, distraída,
Embora na verdade bem melado,
Usei teu companheiro mais amado,
De forma nem um pouco divertida...

Ao perceber formato do brinquedo,
E tanto que vibrava, sem parar,
Imaginei, querida, um novo enredo,

Usando o vibrador para assaltar.
O problema que tive? Sem segredo,
Não sei como fazer ele parar...

1929

Quem tem a sensação de luz primeira
Nascendo no seu peito em claro dia,
Já sabe quando a sorte é mensageira
De um tempo renascido em alegria.

Vencendo a tempestade derradeira,
Fazendo de seu peito a fantasia,
Que tantas vezes, manso; me dizia,
Seria da esperança uma bandeira.

Vagar entre loucuras, incerteza,
É quase penetrar em duro inferno,
Tomado de surpresa sem defesa,

Procura reviver amor materno
Que encontra tão somente na verdade,
Nos braços bem mais firmes da amizade...

1930

Fazendo de um momento intensidade
Que possa transbordar em uma enchente
Dilúvios de prazeres à vontade,
Singrando nosso amor, ganho a corrente

Marinha que me traga a liberdade
De ser e estar em ti, mar envolvente,
Trafegue nosso barco, insanidade,
Deixando nosso mundo mais contente.

Te quero conteúdo, com ternura,
Contato, com destreza; estupefato,
Bailando a sensação mansa e tão pura

Do paraíso-incêndio redentor,
No sol a lua intensa, um aparato
Que trama nossas horas, mar, amor...

1931

Por vezes nossa vida sem venturas
Esvai em simples sombras do passado,
Quem teve a cada dia atormentado
Um sonho feito em paz, vitais ternuras,

Esquece a bela tela sem pinturas,
Qual fardo que se torna mais pesado,
Vestindo esta quimera, descuidado,
Percebe tantas dores sem as curas.

Aos poucos vai tomado por fraqueza,
Sem forças seu caminho se desvia,
Não vê mais em ninguém quem oriente.

Perdido sem destinos, incerteza.
Procura em outro céu estrela guia,
Buscando na amizade esta nascente...

1932

Embora tantas vezes sei do espanto
Que toma a nossa vida em incerteza,
Por mais que nos maltrate a vil grandeza,
Um puro sentimento quase santo,

Moldando nosso dia em tal encanto,
Que enfrenta as duras trevas com certeza,
Nos braços de quem temos, sem vileza,
A sorte de encontrar divino manto.

A voz de uma pessoa gloriosa
Que em nossa voz se torna ressonante,
Transforma a nossa vida num instante,

Floresce em cada senda com vigor,
Mostrando o bom caminho, industriosa;
Fazendo da amizade sacra flor...

1933

Na breve eternidade de uma vida
Se fez o sentimento mais profundo
Posseiro nesta gleba construída
Além deste infinito, corre o mundo...

A terra que sonhara dividida
Nos campos deste sonho, me aprofundo,
E vejo nossa paz restituída
Bem mais do que pensara, e já me inundo

Da mansa rebeldia da loucura
Que mostra suas garras e sorri,
Ao mesmo tempo imerso na ternura

Que constitui as bases deste rito,
Sem ter conflitos, vivo amor em ti,
Imenso e com sabor de um infinito.

1934


Um homem que deseja uma mulher
Que infértil não dará decerto a luz,
Topando na verdade o que vier,
À cama de outra fêmea, ela conduz.

Ereto e tão faminto penetrava
A toca de uma escrava bem molhada,
Assim quando em loucura ele gozava,
Deixava a tal mulher engravidada...

Durante muito tempo esta engrenagem
Moveu aquele reino no passado,
Se dizes que isto é muita sacanagem,
O fato é que decerto foi contado

Da amante então nasceu belo rebento,
E o rei comendo irmã, fez outro tento...

1935


Deitando sobre os sonhos, te sentindo
Tocando com teu corpo, meus desejos...
Num sentimento breve, leve e lindo,
As sombras de teus lábios nos meus beijos...

Ao longe a melodia me invadindo,
Na forças destes sons, belos arpejos;
O canto de além mar, aos poucos vindo
Tornando meus prazeres mais sobejos...

Eu quero tua sombra sobre mim,
Deitando em branca areia, lembro o mar.
No porto que encontrei amor sem fim,

Vontade de chegar e me atracar
No cais deste desejo. Pois enfim,
Agora já conjugo o verbo amar...

1936

Mulher deliciosa, mas casada
Com homem mais leal ao rei que um dia
Ao ver tanta beleza já queria,
Tomar a bela moça desnudada...

Porém maldisse a sorte, que a coitada,
Era fiel, jamais fora vadia,
O rei querendo muita putaria
Em um momento teve esta sacada.

Tirando do caminho o que atrapalha,
Faremos tudo aquilo que mandar,
Da forma que quiser e que vier,

Mandando o tal soldado pra batalha,
Entrou com lança em riste a se fartar
Na doce bocetinha da mulher.

1937


No gume penetrante de um punhal,
Selada a sua sorte em dor tamanha,
A noite que passara, sem igual,
No vento desairoso em que se banha

O sonho mais cativo e sensual,
Voando para além de uma montanha,
Trazendo uma ilusão em festival,
A sorte já perdida, não se ganha.

Porém encontrará em braço amigo,
Aporte que permita prosseguir.
O frio em solidão se aquece assim,

Também eu me encontrei em desabrigo,
Até que um dia, pude então sorrir,
E a dor, triste quimera, teve fim...

1938


Deitada do meu lado, uma princesa,
Desnuda em noite imensa. Tanto amor.
Desfila nos lençóis rara beleza,
Na tela diamantina a se compor.

Emana em tal meiguice, a bela flor,
Redoma de ternura que indefesa
Entrega-se em loucura até torpor
Deixar a sua marca em realeza.

Sonhando com corcéis, galopes soltos,
Cabelos desgrenhados e revoltos,
Castelos, cavaleiros e vassalos.

Percebo em sua face, uma ilusão,
Que é feita de esperança e tentação,
Em êxtases divinos, duros falos...

1939

Sinto teu arrepio quando toco
Levemente o pescoço com a boca.
Transmites um desejo quase louco,
A voz vai se perdendo, baixa, rouca...

Ao te sentir arfante, calorosa
Te abraço fortemente e te desejo
E nesse nosso afã, tão ardorosa,
Cedes totalmente ao quente beijo.

As mãos te percorrendo, sem juízo
Rompendo totalmente teus receios.
Convidam-te, sem medo, ao paraíso,
Acercam-se em teu colo, dos teus seios...

A tentação se torna irresistível
Amor se prometendo, força incrível....

1940


Em busca de emoções- loucos cometas,
Andei por entre braços languescentes,
Bebendo em vários gêiseres ardentes,
Camas avermelhadas, violetas.

As rosas que eu desejo não prometas;
Apenas me ofereças noites quentes,
Em fome desenhadas; indecentes,
Loucuras que eu imploro – amor, cometas.

Aromas sensuais e perturbantes,
Desnuda insensatez que sem turbantes
Se faz em turbilhão idolatrada.

Que amor não seja fogo manso e breve,
Que uma explosão divina enfim nos leve
À fonte do prazer, escancarada...

1941


Hoje ao te ver lembrei-me do começo;
Nosso primeiro beijo, nossas carícias...
A vida se virando pelo avesso
Mostrando em seu caminho essas delícias...

Trazias a beleza de uma aurora
Com toda a mansidão do amanhecer...
O mundo renascendo bem lá fora
E a gente neste sonho, a se perder...

Teu sorriso... O suspiro desejoso
Convida; olhos abertos, a sonhar...
Nossos corpos... No toque mais gostoso
Dos raios carinhosos do luar...

Amada... Nos sentimos descobertos,
Os olhos, corações... Todos abertos...

1942

Atrozes sensações de desalento
Tomaram minha vida em triste dia,
Uma alma se encontrando tão sombria,
Soluça merencória em um lamento.

Batendo na janela um frio vento,
Trazendo sem ter dó, dura agonia,
Matando pouco a pouco a fantasia,
Um sonho que me salve, eu juro, tento...

Depois de tantas horas doloridas,
Vagando sem destino em noite triste.
As hordas de quimeras redivivas,

Percebo a claridade em nossas vidas,
Lembrando, minha amiga, que inda existe
As mãos de uma amizade, sempre altivas.

1943


As longas e bonitas cabeleiras,
Que ao vento desfraldadas, mansas, vão.
Fazendo em meu olhar, revolução,
Quais fossem destes sonhos, as bandeiras.

Palavras que me dizes, feiticeiras,
Em tórridas vontades, sedução.
Abrindo transbordando o coração
Não têm mais limites ou fronteiras.

Ao mitigar a dor de uma saudade,
Abençoadamente, regozijo.
A tempestade feita de granizo

Distante, não mais cai em meu telhado,
Amor que tanto eu quis, digo a verdade,
Invade e deixa o tempo apascentado...

1944


O tempo vai passando num segundo
Nem sei pra aonde vou e nem por que,
Rodando sem parar, num giramundo
Começo a perceber: vou me perder...

Em meio a contratempos, já me caço,
Não acho nem resquícios; pois quem sou?
Não sei mais do meu mundo, perco espaço
E nesse frenesi, pra onde vou?

Acima sei que existe um firmamento,
Que dizem ser bonito, mas cadê?
Não paro nem sequer um só momento,
E nada.. Nem percebo o que se vê!

Algum dia talvez eu viva em paz..
não deixo a minha alma para trás!

1945

Numa álgida saudade, a minha vida
Aguarda pelo sonho em liberdade,
De ter sua missão feita e cumprida,
Podendo renascer em amizade

Aquela
sensação de estar perdida
A luz que nos guiava, na verdade,
É quase ladainha tão comprida
Que trama, pouco a pouco ansiedade...

Meus olhos são dois velhos camponeses,
Cevados em tristezas e martírios.
Meus versos se inebriam em delírios

Na
angústia que se mostra tantas vezes.
Porém a sorte grande já se abriga
Na tua mão mais forte, minha amiga...

1946

A vida com certeza, só se abranda
Depois de ter passado a tempestade;
Se amor, a nossa vida já comanda,
Reflete em nosso peito a liberdade.

Porém se em desventura vã desanda,
A vida não conhece claridade.
Um coração que andando vai de banda,
Pesando bem mais forte uma amizade.

Assim depois de triste decaída
A sorte se fez bênção no deserto,
Amor que em amizade descoberto

Ajuda a resgatar o bem da vida.
Depois, na caminhada mais possível,
O mundo se anuncia em paz visível...

1947

A vida quando é feita de combate
No qual encontraremos dura treva,
Somente aos solitários, ela abate,
No peito de quem sofre sempre neva.

Um canto que demonstra uma conquista
Vertido em sensações mais prazerosas,
Ao longe uma esperança sempre avista
Jardim que se decora em belas rosas.

A dor em alegria se converte,
Deixando para trás a sorte agreste,
E a fonte da ilusão em risos verte
Promete recompensa em voz celeste.

Tão força poderosa não se cala,
Nem mesmo a tempestade insana, abala...

1948


Tu és a cicatriz marcada em mim,
No fogo da paixão que nos devora;
Tu és sempre comigo, sempre o sim,
Não temos nem sabemos o que é hora.

Rumamos braços dados para, enfim,
Gravarmos nossas almas. Vem agora
Que o tempo não espera. Pois assim
Jamais nos deixaremos ir embora.

Estás já tatuada em minha pele,
Em cada novo dia, uma esperança,
Mirando para o céu, já me compele

A ser o teu parceiro de verdade;
Vivermos na alegria desta dança
Amor que nos convida à liberdade!

1949

Imagem que transborda em poesia
Trazendo
uma vontade em que se ganha
A força tão sublime da alegria,
Ultrapassando assim, alta montanha.
Fazendo em noite imensa a cantoria
Que mostra em cada canto a luz tamanha

Que é para o sofrimento, um bom remédio,
Figura se mostra sacrossanta,
Aliviando o medo, acalma o tédio,
A dor para bem longe sempre espanta.
Deixando uma alegria como assédio,
Em cada novo dia nos encanta

Poder que nos transforma em claridade,
Revela-se mais forte na amizade...

1950


Que bom que tu vieste, minha amada,
Há tanto te esperava em minha vida,
Agora que te tenho, quero nada;
Senão esta paixão por ti, querida...

Meus versos são meu canto de esperança
Que a vida seja sempre esse remanso,
Quem sabe quanto amor é nossa dança,
A cada dia, um pouco mais avanço.

E sei que somos sempre dois cativos,
Do sentimento imenso que nos toma.
Por isso nos mantemos, stamos vivos,
Juntando nossos corpos, alma soma.

E quero ser eterno nos teus braços,
Unimos nossas vidas, fortes laços...

1951

Caricaturas várias, garatujas,
Assim eu me desnudo em cada verso;
Não trago as minhas mãos pesadas, sujas,
Nem quero parecer sequer disperso.

Eu busco a companheira que me traga
A noite que perdi, profana festa,
Que não esconda a lâmina da adaga,
Que venha simplesmente. Nada resta

Daquele que partira sem destino,
Atrás de um brilho cego em negra luz.
Nem mesmo volto a ser um beduíno,
Que apenas ao deserto se conduz.

Persiste e com mais força esta vontade
De ter depois de tudo, uma amizade...

1952

Eu sonho com teu nome, mar em mim,
Um mar de amor em mares e marés.
E tenho tanto amor, que amar assim
É quase que louvores, beijo os pés...

Ouvindo-te chamar, mares depois,
A voz atravessando o ar e o mar
Nesse convite pleno de nós dois,
Na dança que aprendemos; tanto amar...

Sinto teu corpo, beijo tua boca,
Espelho o que reflito de teu lume...
Vontade de sentir; a voz mais rouca,
Encharca meus ouvidos de perfume...

Deitado em teu sorriso, solto a voz,
E grito ao mundo inteiro: nossos nós...

1953

Não tema meu amor, o doce vento
Que veio desta praia-coração.
Na vida é necessário o sentimento
Que nos transborda, encharca de emoção...

Não tenho amor assim itinerante,
Apenas eu me entrego totalmente,
Falena quando vê luz radiante,
Ao ver já se encantou. Amar urgente!

Não fico na tocaia nem disfarço,
Sou mais revelador do que pareço.
Não temo me entregar passo por passo,
Viver é necessário, eu não me esqueço...

O sol que brilhará nesta manhã
Não deixa que uma vida passe, vã...

1954

Não consigo dormir... Pensando em ti...
A noite se passando lentamente;
Vontade de te ter agora, aqui.
E te abraçar com força e lentamente...

Teu riso e teus carinhos; as carícias...
Sussurros desejosos, mil suspiros.
Bem rente aos meus ouvidos... Ah! Delícias.
Sentindo todo arfar dos teus respiros...

Eu me perco e começo a gaguejar
Besteiras, e palavras tão sem nexo.
Aos poucos, te sentindo me abraçar,
Amor que em tanto amor se fez reflexo.

Sou teu e sei que és minha; e nada mais...
Eu te amo sim. Não quero te perder, amor, jamais!

1955

Ouvindo o teu chamado meu amor,
Correndo pr'os teus braços, logo vim,
Tu és minha alegria e sem temor,
Te vejo como um sol dentro de mim...

O mundo, do teu lado, é mais bonito;
Os mares, as estrelas... As montanhas...
Olhando o firmamento... O infinito...
Na busca pelo encanto. Nossas sanhas...

Eu te desejo tanto... Como é bom
Saber que tu também me quer contigo...
Amar é dividir o mago dom
Na busca pelo mesmo e forte abrigo...

Eu estava esperando o teu chamado,
E me entregar a ti, apaixonado...

1956

Percebo na fumaça que se esvai,
Após cada tragada em meu cigarro,
Que a vida, pouco a pouco também vai
Sem ter sequer um cais, aonde amarro

O resto de esperança que me trai,
E rindo assim de mim, tirando um sarro,
Capota a solidão quando distrai
Tombando em cada curva em que me esbarro

Com sonhos lá de outra hora mais feliz,
Perdida nos entraves do caminho,
Legado a simples pedra, em puro espinho,

Resquício de um passado onde, aprendiz,
Meu coração pensou-se enamorado,
Agora, sem destino abandonado...

1957

Amor que nos movendo, nos exila
De toda a humanidade, nos perdemos,
Um sentimento tal que alma destila,
Depois já somos um, mal percebemos...

Meus versos incontidos podem ver
O brilho deste olhar-luar que guia
Meu mundo se imergindo no teu ser
Aspergindo prazer e fantasia...

E... Te amo ninguém pode nos parar,
Nem mesmo a triste morte ou solidão,
Estás atada em mim! A te buscar
Procuro pelo céu, pela amplidão,

E encontro-te calada dentro em mim,
Amor nosso princípio, vida e fim..

1958

Tecendo em nossos corpos, bons teares,
As flores e os tapetes delicados,
Te peço para vir e me ceares
Com fome e com desejos, aos bocados,

Fazer-me teu repasto alucinante
Em mesa posta; bocas são talheres,
Incontroláveis sempre num rompante,
Com mil prazeres beijas e me feres.

Nesta arte, nosso jugo e liberdade,
Nos versos corações são as algemas
Que tramam tanto fogo e claridade,
Nas minas dos amores, raras gemas.

Imergindo em teu colo, salvo a vida;
Vivendo o nosso amor, vejo a saída...

1959

Eu busco teu olhar por essas ruas
Não ouço tua voz e vou sozinho...
Às vezes penso, amor; que já flutuas;
E te procuro só, perco o carinho...

Eu busco o teu sorriso nesta estrada,
Não vejo nem o brilho desta boca.
Eu procuro o teu rosto, encontro nada...
Vontade de encontrar, angústia louca.

Só restam os meus versos... Neles sim,
Eu te encontro e te sinto do meu lado...
E percebo que moras dentro em mim,
Num cofre pelo amor trancafiado...

E sinto o teu carinho... Liberdade...
E posso enfim sentir: Felicidade!

1960

Eu quero te encontrar e te tocar,
Beijar-te calmamente, enlanguescer...
Sentindo toda a terra num girar
Rodando, um carrossel a me perder...

Anseios e desejos que se trocam,
As bocas se procuram sem torturas,
As línguas, mansamente se deslocam
E formam nossos mares de ternuras...

Sentindo tal sossego que me atiça,
Rolando nossos corpos num delírio,
Fazendo olho brilhar, total cobiça
Amar e me entregar não é martírio.

Os dedos explorando mil detalhes,
Da tua anatomia, morros, vales...

1961


Entregue à calmaria desta brisa,
Sentindo neste vento, o beijo teu,
Perfume do teu corpo já me avisa
Meu coração buscando-te perdeu...

Mas sigo o rastro intenso destas flores
Que têm em seus olores o teu cheiro,
No rumo em que procuro os teus amores,
Carinho mais gostoso e verdadeiro...

Ao ver tua chegada, estou feliz,
Pensara que tivesse te perdido,
Agora brilha o céu, novo matiz,
Viver traz novamente um bom sentido.

Querida, não me deixes; por favor,
Nem sempre encontrarei perfume e flor...

1962


Eu sempre irei estar bem junto a ti,
Em tantas tempestades e procelas.
Ao ver o teu olhar reconheci
Meu barco no teu cais, tu me revelas

O mundo que sonhara para mim,
Numa alegria intensa e tão suave.
Tu és o meu princípio, meio e fim,
A vida do teu lado, sem entrave.

Serei bem mais que amor, o teu amigo.
Aquele em que tu podes confiar.
E na calamidade, teu abrigo,
O colo onde tu podes repousar...

Por isso minha amiga, minha amada,
Seguimos braços dados, nessa estrada...

1963

Quero sentir teu toque... Mil delícias...
Poder roçar teu corpo com meus lábios...
Carinhos e loucuras nas sevícias
Que fazem dos desejos bem mais sábios...

Tu és minha alegria e meu desejo,
Morena sedutora; vem pra cá...
Ao ver-te enamorada, já me vejo
Nos braços que aprendi, amor que há...

Meu coração dispara, palpitando,
Somente por sentir o teu perfume,
Não sabes quanto estou imaginando
Amar-te bem além que de costume...

Na dança prometida, amor sem fim,
Vivendo este desejo que há em mim...

1964


Querer te ter intensa, sem limites,
Num êxtase completo, carne e dentes...
Não quero, em nosso amor, quaisquer palpites
Apenas teus carinhos, envolventes

Num ato de total insanidade,
Roubarmos os sentidos, viajar,
Amar: ter e privar a liberdade
Desejos entranhados a queimar...

Ardendo em tua chama, num vulcão
Que explode em tantas lavas, me devora.
Trazendo eternidade em erupção
Das
nossas profundezas, forte, aflora.

Viajo por teu ser, quero tocar-te,
Teus templos e mistérios... Profanar-te...

1965

O vento do desejo nos tocando,
Tornando-nos reféns de nosso amor,
Meu corpo no teu corpo se espelhando
Neste retrato belo e sedutor...

As mãos unidas, olhos se procuram,
Se encontram e já mergulham... Nosso mar...
Os sentimentos nisso se depuram
Sobrando o gosto puro em vivo amar.

Em um átimo; entregues, vento e cio...
Carinhos tão suaves, sedução...
Caminhos deste vento nada frio
Deságuam neste amor, louca paixão...

Deitados, nos amando. Ah! Voar...
Suspiro te sentindo suspirar...

1966


Louvando o belo templo em que se expõe
Beleza imensurável, uma mulher,
Em seios, coxas, sexo se compõe,
A máquina perfeita do prazer.

Quando tu pedes, mansa: - Vem e põe,
Aonde e da maneira que quiser
Meu fôlego em vontade recompõe
E farei tudo enfim, que propuser...

Lambendo o doce cone, a vulva quente,
Clitóris endurece em minha boca,
Até que inundação vem de repente,

E o grito quase insano, contrações...
Depois, com duro falo, amor se aloca
Até criar divinas convulsões...

1967


Saudade deste toque em minha boca
Dos lábios tão macios, desejosos...
A noite vai passando... Fria e louca,
Sem ter os teus carinhos maviosos...

Eu vejo o teu olhar em cada canto,
E sinto o teu perfume nos meus dedos.
Ao ver-me tão sozinho, eu já me espanto,
Onde foi que perdi nossos enredos?

Vontade de voltar, Ah se eu pudesse!
Sentir a maciez de tua pele,
Erguendo as suplico em triste prece,
Porém a solidão vem e repele

Os meus desejos, toda essa vontade,
Sobrando simplesmente uma saudade....

1968

Meu coração liberto olhando um cais,
Anseia por carinho e liberdade,
Sabendo de outros sonhos irreais,
Aplaca num momento a ansiedade

E quer, sem ter delongas muito mais
Do que pudera ser felicidade,
Aguarda no caminho aonde vais
Florir uma esperança em amizade.

Não deixa se levar por emoção,
Pois sabe quanta dor assim espera
Quem vive tão somente esta prisão

Que é feita em solidão, triste cativa,
Fartando-se de um sonho em primavera,
Mantém nossa amizade sempre viva...

1969

Meu verso só reflete; minha amada,
Toda a beleza imensa do teu canto.
És como a lua intensa, prateada,
Deitada sobre mim, em puro encanto...

Percorro o mesmo rio que ditaste
Com toda uma alegria sensual,
Nessa ternura imensa demonstraste
U’a força sem igual, fenomenal!

Que bom poder estar aqui contigo,
Dançando com palavras. Vou entregue...
Encontro no teu canto o meu abrigo,
E o sentimento imenso não se negue,

Amada, me permita te dizer,
Teu canto fez meu verso renascer!

1970


A chama no meu peito a palpitar
Moldando a minha vida, traz o tom,
Aonde a minha alma a gargalhar
Encontra a vida em festa. Isto é tão bom...

As horas que perdi, abandonadas,
Em meio a vida intensa que escolhi,
Decerto ao esquecê-las, maltratadas,
Previa que teria, amor em ti.

Tu trazes no sorriso, um belo sol,
Que invadindo o meu quarto, traz em glória
A
luminosidade de um farol,
Mudando todo o rumo desta história

De amores e tristezas salpicados
Mosaicos em mil cores matizados...

1971


Só quero enfim gritar meu grande amor
Por ruas, pelos campos e cidades.
Sabendo que sou dele devedor
De todos meus sonhos, das verdades

Que trago no meu peito sonhador,
É nele que percebo as claridades
Do sol que me irradia, refletor
Do que posso dizer felicidades!

Amor que é benfazejo e bem querer,
Encontro meu desejo em ser teu par,
Não deixe mais a luz arrefecer
Nem quero ver o sonho terminar...

Caminho do teu lado, a vida inteira,
Amada minha amiga e companheira

1972


O sol ao despencar por sobre o mar,
Deixando um rastro d’ouro, belo, imenso.
Perfaz em amplidão especular
Caminho em magnitude mor, extenso.

Assim também senti ao te encontrar
Um mundo onde na paz me recompenso
E a cada novo dia me convenço
Que em ti eu aprendi a navegar

Por sonhos, desvarios insensatos.
Quem teve a solidão, velhos regatos,
Aprende então ao mar lançar a luz

Da fantasia feita em esperança
E
a glória- ser feliz- decerto alcança,
Divina maravilha reproduz...

1973

A sorte desdentada, vagamente,
Encharca em podridão louco caminho.
Estupidez se faz naturalmente,
Em franca decadência e desalinho.

A queda prenuncia e, de repente,
Recebe a dura sanha de um moinho.
Aquele que se mostra tolamente,
No fundo, não percebe estar sozinho.

Porém a quem a vida traz a sorte
Bendita em clara glória, na verdade,
Mostrando-se decerto bem mais forte,

Percebe quanto vale uma amizade,
Que muda, num momento, rumo e norte,
E traz em paz e amor, felicidade...

1974

A noite que caindo em mão ardente
Promete redenção a quem se faz,
Em flóreas tentações e docemente
Persiste em procurar o que lhe apraz.

Os corpos se entregando, sensuais,
Nas ruas, nas favelas, nos motéis,
Nas belas prostitutas, portos, cais,
Ou nas embocaduras dos bordéis.

As castas se misturam, se equalizam,
Profana sensação de uma igualdade,
As bocas desejosas se deslizam,
Recebem sem limites saciedades

Amores e punhais, rosas e sangue,
Perfumes se misturam, Dior no Mangue...

1975

O sexo se bem feito, é quase um hino,
Louvor ao paraíso em que o suor
Escorre no momento em que domino
O rito que em verdade sei de cor.

No corpo da mulher, sou um menino,
Que dá sempre de si o bem maior
Nos gozos, na loucura, desatino
E dou para a parceira o meu melhor.

Uma explosão que é feita num segundo,
Levando a mais sublime fantasia.
Do gozo feito em mares, eu me inundo,

E nesta inundação me regozijo,
Em louca sensação, pura alegria,
Apascentando o falo, outrora rijo...

1976

A chuva vai caindo no telhado,
Chamando para a cama, o meu amor,
Eu sei o quanto estou apaixonado,
Só quero, neste frio, o teu calor...

Preciso te encontrar, minha menina,
Morena doce flor do meu desejo.
Nossa noite, louca, não termina,
Apenas recomeça em cada beijo...

O nosso amor, sincero e tão infindo,
Nos arrepia sempre num prazer.
Amar-te! O coração batendo lindo
Buscando o teu carinho pra viver...

Meu peito, em sobressaltos, vai vivendo;
Sem teu amor, melhor eu ir morrendo...

1977

Deitado; no teu colo sinto o seio
Roçando mansamente minha boca,
Perdendo meu juízo e meu receio,
Vontade de te ter, a voz tão rouca...

Eu sinto teu desejo e teu anseio
Nesta ternura imensa e quase louca,
Contigo viajando, me incendeio
E sinto que esta noite é muito pouca

Para poder conter nossa alegria
De sermos e de estarmos onde somos,
Produtos desta nossa fantasia,

Da maciez dos seios, belos pomos,
O gosto desta noite corta o dia,
E desta doce fruta, quero os gomos...

1978

O vento que te toca venta aqui
Beijando a minha boca, me domina,
Sonhando com teus versos, me perdi,
Vontade de te ter, minha menina,

Meus olhos sempre estão pensando em ti
A
lua deste amor, clara , argentina
Meu desejo em teus olhos eu já li,
Viver tanto prazer: que bela sina!

Nunca tema uma ausência, é impossível,
Estamos tão atados que, jamais
Podemos disfarçar, por ser incrível,

Esta vontade insana de querer
De sempre, a cada dia e muito mais,
Vivermos nossos corpos num só ser...

1979

Um jovem que vendido por irmãos
Gananciosamente sem moral,
Escravizado e tendo em suas mãos
Poder de ser além do natural,

Criado pelo rei com tal carinho
E mesmo privilégios; eis o fato,
Após um tempo incerto em belo ninho,
Mudou a direção deste regato.

Traindo quem lhe dera algum respeito,
Acolhe seus irmãos e mata o rei.
Louvando a traição, vai satisfeito;
Fazendo dela escola e sua lei.

Assim, em podridão já se constrói,
Do traidor imundo, um grande herói...

1980

Sentindo o manso vento te tocando
Roçando os teus cabelos, devagar,
Aos poucos te sentindo flutuando
Acima da beleza deste mar..

Teu nome este marulho vai chamando
Na doce sensação de se entregar,
Percebo-te, querida, navegando
Em meio as correnteza, mar, céu, ar...

As emoções misturam-se, confusas,
Resultam num prazer quase absoluto,
Mil céus, mil oceanos, quando cruzas

Encontras este sol que te alucina,
No beijo em turbilhão, que é frágil, bruto.
Tu voltas novamente a ser menina...

1981

Rodando nesta valsa que me alcança
Na dança que não canso de dançar,
Remoço na aliança sempre mansa
Que avança e que me lança devagar...

Eu quero teu sincero beijo, afeto,
Completo meu desejo com o teu;
O peito satisfeito e tão completo
No mar de amor imenso se perdeu...

A cura da loucura se procura
E sinto que este assunto não termina.
É mina que se emana na brandura
E livre, me liberta e desatina.

Da tina, do quintal e do varal,
Quarando nosso amor fenomenal

1982

Há tempos desisti de minhas crenças,
Fugiram dos meus olhos, se perderam.
Restando ao peito trágicas doenças
Formadas pelos medos que esqueceram

De ter algum motivo pra sonhar,
Vazio e magoado, nada resta.
A dor encontra em mim o seu altar,
A solidão terrível, morte gesta.

E cala a minha voz, maltratando alma,
Deixando a sensação de nada ser.
Nem mesmo uma esperança leda, acalma,
Quem sabe se eu pudesse enfim morrer

E renascer distante de mim mesmo,
Num vago nada ser, andando a esmo..

1983

Amiga, por favor, por que tu mentes?
Mentiras são disfarces dos temores.
Prefiro que me digas o que sentes,
Se trazes no teu peito dissabores;

Se as dores que te tocam são urgentes
Ou mesmo transformadas em horrores
Não
traga a faca sempre entre teus dentes,
Perceba que inda restam, mesmo, flores.

Estou sempre contigo e nunca nego,
Meu passo é par em par, junto com teu.
Perceba que te tenho uma amizade

Que jamais deixará teu rumo cego,
A noite se escondendo em triste breu
Encontra um claro lume na verdade...

1984

Um rio que das terras temporanas
Há tempos mergulhou em pleno mar,
As águas deste rio, soberanas,
Depois de um oceano atravessar,

Chegaram nesta costa brasileira,
Subiram cordilheiras, nas Gerais,
Na terra mais bonita e altaneira,
Partiu-se em magistrais mananciais...

As águas deste rio divididas
Unidas num destino mavioso,
Depois de tantas matas percorridas,
O Fado tão sutil e caprichoso,

Reúne o que o Oceano dividiu
No amor mais fabuloso que alguém viu...

1985

Saudade em esperança é lenitivo
Que ao menos mitigando o sofrimento
Permite que eu caminhe mais altivo,
E sinta mais feliz, o manso vento.

Dos sonhos de te ter, eu sobrevivo,
E chego a ser feliz por um momento.
Ao menos vou passando pelo crivo
Num agridoce e louco sentimento.

A pele emurchecida inda deseja
Contato com a pele amorenada.
Embora a solidão, peito preveja,

Um resto de ilusão traz o perfume
Daquela que mostrou-se quase nada,
No final deste túnel, frágil lume...

1986

Quem teve nesta vida um puro amor
Que foi e que jamais retornará
Já sabe quanto pesa o dissabor
Nas costas de quem, ledo, sonhará

A vida inteira tendo a seu dispor
O gosto que pra sempre amargará.
Apenas num detalhe recompor
A dor que percebeu, deveras lá.

Mas tenho como antídoto perfeito,
A todas as angústias mais cruéis.
Eu falo dos apoios tão fiéis

Aonde possa ter, mais satisfeito,
Alento para toda tempestade,
Abrigo que terás numa amizade.

1987


Em sonhos alvos, belos me perdi,
Pensei que um dia fosse mais feliz.
Distante deste sonho, estou aqui,
Obedecendo amor que um dia eu quis

E vejo se escondendo atrás da porta,
Fugindo de meus braços, dos meus olhos.
Uma esperança frágil, velha e torta,
Recolhe em meus caminhos, tais abrolhos.

Porém ao persistir dentro de mim,
Balbuciando o sonho que eu tivera,
Restolho do que tive, mesmo assim,
Apascentar o amor, terrível fera,

É ter uma ventura em fio d’água,
Nascendo de um olhar, pleno de mágoa...

1988

Roubando de teus lábios doce mel,
Amada me encantaste totalmente,
Sabendo que ao te ter eu ganho o céu,
Eu quero me entregar completamente.

Ao colo tão macio e desejado,
Dormir sem ter sequer medo de nada,
No sonho deste amor acalantado
Uma esperança santa acalentada...

Felicidade aos molhos eu colhi
Depois de ter achado tais abrolhos,
Na claridade intensa que só vi
Na beleza sem par destes teus olhos...

Eu quero teu carinho e nada mais,
E a noite do meu bem prossegue em paz...

1989


Mortalha que teceste, violeta,
Rasgando em garras frias, coração.
Apenas me restando a solidão,
Que um dia voltará como um cometa.

As ilusões se foram, incompleta
A vida não passou de uma emoção
Jogada na lixeira, resta o não
Palavra mais ouvida, fina seta.

Agora em meus caminhos, um deserto,
No vento da tristeza, amargurado.
O passo que não dei com peito aberto

Encontra na agonia, um ledo trilho.
Futuro eu não terei, morto o passado,
A mãe desilusão beijando o filho...

1990

Todo amor que nos leva pela vida
Entranhado. Respiro o sentimento
Que te faz bem mais; sempre tão querida...
Amor não é palavra solta ao vento.

É mais que só desejo em erotismo,
É mais que simplesmente se querer
Na cama apaixonada em egoísmo
Tomando
e nos roubando o próprio ser.

Amor é mais que tudo, partilhar
E ser feliz com toda esta verdade
Que faz o nosso sonho respirar.
Amar é desejar felicidade

Viver em compaixão, mas dar a mão.
Te falo, nosso amor é solução

1991


Pavores e tristezas vão dançando.
Morrendo pouco a pouco no poente,
O sol que um dia esteve iluminando,
Afasta-se e no frio se pressente

A noite que virá me maltratando,
Até que a morte chegue de repente,
Sem avisar nem mesmo aonde e quando,
Levando o que sobrou, quase indigente.

Assim persegue em vida, o meu Calvário,
Sou triste, isso jamais eu escondi.
O tempo de viver é temporário,

Felicidade nunca esteve aqui.
Apenas solidão em dura prece
Cativa, inda resiste e me obedece...

1992

Nosso amor tão amigo e companheiro
Que encara toda a dor com alegria,
Cantando sem temer o mundo inteiro
Fazendo deste verso, a sinfonia

Que louva todo amor sem ter limites;
Em todas as facetas deste sonho...
Te peço, minha amada que acredites
Em tudo o que te canto e que proponho.

Nascemos por amor, vamos por ele,
Nos versos irmanados por um Deus
Que é feito neste amor que se revele
Sem permitir a dor nos olhos teus.

Estamos nos refúgios da esperança
Esse amor-amizade é nossa dança!

1993


Saudades do que fui, tempo querido,
Que morre em todo dia até o final;
Retrato no meu peito envelhecido,
Até chegar o abraço que é fatal

Daquela que em verdade já tem sido
Uma presença próxima. O sinal
Do fim já pode ser reconhecido;
Quem sabe encontrarei paz, afinal.

Saudades do que nunca tive, enfim,
Estranhas sensações de aborto e morte,
Guardando a triste ausência dentro em mim,

Aprofundando o vago e velho corte,
Do nada que criei e que perdi,
Saudades do que nunca conheci..

1994

Querida, não se pode ser assim,
Um corpo necessita de alimento.
Um ser apaixonado até o fim
Mergulha, mas garanto; eu não agüento

Amor; carrego insano dentro em mim,
Porém almoço e janta se é de vento,
A sobremesa é feita em sofrimento.
A tua boca, amora carmesim,

Teus seios em formato de romã,
O pêssego na pele aveludada.
O corpo recendendo uma maçã;

Agora eu não consigo imaginar
Descendo o corrimão da nossa escada,
A requentar o amor, nosso jantar...

1995


Tocar-te extasiado, vôo e mar,
A areia roça as pernas, queima a pele,
Eu vejo tuas asas... Ah! Voar...
Um sonho que me leva e me compele.

Na gaivota a mulher que desejei,
Liberta, sendo minha companheira...
A pele; com as penas misturei,
Numa ânsia mais sutil e verdadeira...

Alçando o pensamento, rasgo o vento,
Abraço-te, sou teu enquanto és minha...
Espero te encontrar... Um sentimento
Liberto no meu peito, já se aninha...

Vendo tua silhueta em plena lua,
Minha alma em tuas asas continua...

1996

Ao procurar encontrar entre as estrelas
Os rastros que me levem num instante
Aos passos deste amor tão deslumbrante
Que em forma de carinhos já revelas.

As noites transmudadas ficam belas
Se trazem nosso amor belo e constante,
Que é feito em sintonia. Num rompante,
Partimos mar afora, abrindo as velas

E as asas em nudez, desejo e gozo,
Tramando este passeio mais gostoso
Por entre tantos astros, luas, sóis...

Encontro então os rastros que deixaste
Nos perfumes que, amor, tu espalhaste
Por sobre nossa cama e seus lençóis....

1997

Tal qual o sol, a lua, em calmo céu
Sem medo de tempestas ou trovões,
Tocando-se por vezes, como um véu
Que ate nossos doces corações

Neste momento mágico e tão raro,
Por isso de ternuras recheado,
Onde um grande desejo pede amparo
E segue como um beijo tão amado,

No toque destes astros tão distantes
Uma beleza infinda nos remete,
Aos sonhos transtornados dos amantes,
Que só de raro em raro se repete...

Neste momento belo e sensual,
Num eclipse de lua e sol: total!

1998

Eu quero esse querer que nunca cobra
Que quer só por querer o querer bem,
Que sabe que querer sempre desdobra
No amor desta querência por alguém...

Eu quero um querer que nos complete
Sem farsas sem mentiras ou promessas.
Querer que sempre venha e não delete
Assim tão mansamente, sem ter pressas...

Eu quero o paraíso do querer
Que é feito todo dia, a todo instante,
Sabendo que te quero e vou viver
Intensamente amor amado, amante...

Eu quero o teu querer sem ter horário,
Luar que não tem fase ou calendário.

1999


Eu quero esse querer que nunca cobra
Que quer só por querer o querer bem,
Que sabe que querer sempre desdobra
No amor desta querência por alguém...

Eu quero um querer que nos complete
Sem farsas sem mentiras ou promessas.
Querer que sempre venha e não delete
Assim tão mansamente, sem ter pressas...

Eu quero o paraíso do querer
Que é feito todo dia, a todo instante,
Sabendo que te quero e vou viver
Intensamente amor amado, amante...

Eu quero o teu querer sem ter horário,
Luar que não tem fase ou calendário...

2000

Palavra quando feita em ceva, arado,
Profícuas emoções já se preparam.
Pá, lavras são metades em que o bardo
Vislumbra tais colheitas que impetraram

Os sonhos de quem lida com sentidos
Diversos entre frases, orações.
Aos olhos, aos ouvidos consentidos
Formatos em que inserem sensações

Usar deste instrumento em faca e foice;
Das almas e verbetes aplicados,
Às vezes do que fomos, sobra o foi-se
Das dores e dos medos aplacados.

Palavras sei que são caleidoscópicas,
Nas mãos de um sonhador, serão utópicas...

2001

Rolando nesta cama, mil prazeres
Decoram nossa noite iluminada,
Expondo nossos íntimos poderes
Na chama que se mostra, extasiada...

É festa que promete em mil talheres
Banquete tão frenético, sem par.
Serei aquilo tudo o quiseres,
Apenas se permita viajar...

Me entrego aos teus desejos mais ardentes,
E quero que tu sejas toda minha,
Correntes do pudor; peço, arrebentes,
Que a nossa vida em êxtase, se alinha...

Te quero exposta e crua em nossa cama,
Que o fogo delicado já se inflama...

2002

Passando pela rua eu percebia
Seios avantajados na janela
O rosto, na verdade, até não via,
Apenas belos seios, fartos. Dela.

Motivo de prazer e de alegria
Sozinho no banheiro se revela
Amor que a gente faz à revelia,
A sombra juvenil; pra sempre bela.

Depois de tanto tempo, resta imagem
Da moça na soleira, o seu decote.
Ficando tão distante qual miragem...

Eu me lembro do dia em que mudou,
Pra longe, outra cidade, mas sobrou
Ainda na memória o mesmo mote...

2003

A terra vai girando e traz a lua,
Buscando a claridade deste sol,
Minha alma na tua alma já flutua
Te sigo, um helianto, um girassol...

Desejo o teu desejo em cada dança
Em cada sinfonia que fizermos,
Amor quando demais de amor não cansa,
Os cantos que cantamos são eternos

E ternos nossos sonhos mais felizes
De estarmos irmanados neste afeto,
Que sabe como doem cicatrizes
Por isso nosso amor, o predileto...

Eu quero ressurgir na poesia
Que canta o nosso amor, em harmonia...

2004


Do nosso amor ninguém ouse falar,
Amor que se irmanando só cresceu
Nascendo entre este sol e o luar,
Agora já se fez, só teu e meu.

Amor se lambuzou no mel da vida,
Inebriando qual uma aguardente
Nesta pureza imensa e pressentida,
Amor maior do mundo? Esse da gente...

Que nada cobra e nunca dá motivos,
Que nunca se pretende propriedade,
Num ar que nos ajuda, estarmos vivos,
Espalha um sentimento de verdade,

Nunca se fez medonho ou egoísta,
Dançando livremente em qualquer pista...

2005


Pércizo te contá o assucedido
Pru móde resfriá minha cabeça.
Amor mermo veiáco é distraído
E faiz sujeito bão sofrê à beça.

Dispois de eu e a muié adivirtido
A noite intêra, amor pregano peça
Cismô di mi dexá dismilinguido
Com quêxo inté no chão, Meu Deus ómessa!

Muié bixo matrero melindroso,
Dispois de me falá tanta bestage,
Ao recramá da fárta do tár gozo,

Qui do meu lado, disse nunca tinha,
Falô cum ieu e disse éssas bobage
Agora foi morá cum a vizinha...

2006

Amor quando demais; a gente voa
Sem ter asas nas costas ou nos pés,
Atravessando o mar sem ter canoa,
Nadando simplesmente, sem revés.

Amor assim demais, mordendo cura,
Depois de um bom carinho, fecha a cara,
Às vezes nos tortura com ternura
É pedra mais comum, portanto rara...

Amor quando é demais, esqueço o nome,
E passo a ser eterno e morro logo,
Minha alma neste fogo se consome,
Em poucas gotas, lágrimas, me afogo...

Amor transforma véu em nosso escudo,
Perdendo-se a si próprio, sendo tudo...

2007


Decerto que vagina é nome feio,
Prefiro um apelido mais safado.
Caminho bem melhor? Sempre o do meio,
Ensinamento certo e bem guardado.

Vulva também não soa muito bem,
Assim tal qual a válvula de escape.
Clitóris? Palavrinha que não tem
Sonoridade boa. O sol se tape

Com todas as peneiras que puder,
Merece com certeza muito mais,
Maravilhosa Diva: uma mulher.
Por isso meu amor, bem mais me apraz

Chamar de xana, xota ou bocetinha,
Mais fácil para alguém quando acarinha...

2008

Eu datilografei minha emoção
Deixando o que sentia no papel.
Depois de terminada este edição
Palavras que eu usei, foram ao léu.

Num barco de papel ou avião
Servindo de brinquedo- isto é cruel,
Amor perdeu o prumo e a direção,
Quem sabe na fogueira alçou o céu?

Ou mesmo se perdendo pelo ralo,
Desceu pelos esgotos da cidade,
Amor já foi embora e num estalo

Parece que deixou, talvez saudade,
Quem sabe se eu salvasse num arquivo,
Amor inda estivesse, ao menos, vivo...

2009

O dia se esgueirando no crepúsculo,
Brincando com as cores do sol pôr,
Reteso meu desejo em cada músculo
No lusco fusco busco o meu amor.

Um vento quase brusco em luz que ofusca
Prepara para a noite um espetáculo,
Amor ao se esconder da louca busca,
Aguarda a previsão em outro oráculo.

Nem menos eu pergunto aonde foi
Que te perdi estrela derradeira.
Brejal em sinfonia sapo boi
Fazendo em plena noite barulheira

Avisa ao coração que amor chegou
Nas pernas da morena que passou...

2010

- AMO AMAR VOCÊ

Querida, eu esperava o teu chamado
Apenas espreitava em noite quieta,
Mas saibas que eu adoro este bailado
No sonho de viver e ser poeta...

A vida é tão gostosa assim do lado
Trazendo o puro amor como uma meta,
Aos poucos vou ficando iluminado
Muito além de Cupido e simples seta.

Eu quero me irmanar em teu amor,
Na nossa guerra santa sem loucura,
Fazendo deste simples sonhador,

Mais um guerreiro audaz nesta batalha,
Que sempre traz a força, com ternura,
Não teme nem o corte da navalha!

2011


Nas gotas desta chuva que caiu,
Uma emoção se fez tão diferente,
O frio que na noite se sentiu
Precisa de um calor que venha urgente,

O coração deveras mais gentil,
Espera que movendo toda a gente
A chuva feita em lágrima sutil,
Demonstra o claro dia que pressente...

Assim aguando o chão nos traz a vida
E faz do frio intenso o reviver.
Não deixe que esperança vá perdida,

Na dor que cisma agora em te afligir,
É nela que talvez o renascer
Não possa ter mais nada a impedir...

2012

Amor que nos sacia e nos tatua
Crivando de emoções a vida inteira,
Minha alma ao te saber, cedo flutua
Trazendo tanta paz como bandeira...

Eu sonho ter teu beijo, clara lua,
Forrado em sensação mais verdadeira,
A pele tatuada, exposta e nua.
Fazendo de meu corpo tua esteira...

Teus rastros vou seguir, amada amiga,
Pegadas que deixaste no caminho,
Nesta ternura imensa, nossa liga

Que sempre norteou cada carinho,
Carinho que, no amor, é forte viga.
Certeza de não ser, jamais, sozinho

2013

Transformar matéria quase bruta
Quem vem de outras demandas nebulosas,
Em formas mais gentis, maravilhosas,
É quase que impossível, tanta luta

Porém a mão do amor logo executa
Moldando em podridão perfeitas rosas,
Apascentando as almas belicosas
Do adubo mal cheiroso à doce fruta.

Rebentando decerto estas amarras,
Ao entranhar profundo suas garras,
Amor mostra poderes indizíveis.

Embora tantas vezes, uma esfinge,
Quem ama, na verdade, nunca finge
Recebe, sonhador, raios incríveis...

2014


Perdoe se não sei anatomia
Às vezes eu confundo estes caminhos.
Procuro insanamente pelos ninhos,
Porém tantas estradas amor cria.

Errante não percebo a fantasia
Que é feita muitas vezes de carinhos.
Prazeres; imagino, até sozinhos
Mas nada do que penso traz valia.

Sou bruto, me disseste, gutural,
Um Brucutu somente e nada mais.
Um asinino ou mesmo até boçal,

A culpa, eu te garanto não é minha.
Se o órgão do prazer mulher já traz,
Ao homem Deus só deu uma cobrinha...

2015

Por mais que nos pareça dolorosa
A vida que nos foi, por Deus, cedida,
Perfumes que se exalam desta rosa
Bem valem os espinhos desta vida...

Conserve seus amigos, seu amores,
Com todo uma alegria que puder,
Nos jardins da esperança tantas flores
Guardadas para quem amor tiver.

Respeitando essas diferenças tantas
Irás deter as iras mais cruéis,
Na forma delicada com que cantas
As plantas te darão os doces méis...

Portanto, não se esqueça, minha amada,
Em ti, felicidade está guardada...

2016


Não temas, minha amada, tal mensagem,
Os Deuses já nos amam totalmente,
Pressentem a beleza da visagem
Que, aos poucos, vai tomando nossa mente...

Na mansidão segura da viagem
Um coração que voa nunca mente,
E sabe que encontrou melhor paragem
No coração que encanta, simplesmente...

Confio em cada verso que me traz
O vento benfazejo da esperança.
Por isso, em nosso amor, sou bem capaz

De mergulhar tão manso e tão profundo.
Envolto nos teus braços, sem tardança;
Sou o ser mais feliz que há nesse mundo!

2017

Tocar teu corpo inteiro e me entregar
Aos poucos desnudar nossas vontades.
Nudez reflete os raios do luar
Em meio a tantos véus. Ah! Veleidades...

Carinhos se procuram sem parar,
A noite nos promete insanidades,
Não deixe mais o tempo, assim, passar...
Meus lábios vão fremindo intensidades

Na entrega delicada e tão imensa
De corpos que se buscam mais felizes.
Amar é ser feliz e a recompensa

Compensa todo o tempo em calma espera.
Embora nós temamos cicatrizes,
Florimos nosso amor, em primavera...

2018


Nesse abastardamento, nosso amor...
Inclementes percebem nosso fim...
Causando sem ter pena, um estupor
Matando, lentamente, impede o sim...

Amor que se firmara perde cor,
Não quero revestir-me deste brim,
Empalideces, passas, um trator...
Perdido vou morrendo, espadachim...

Neste caramanchão de buganvílias,
Os olhos esgarçados de saudade...
Nossos jardins, prometem tantas tílias,

Nada restou senão essa incerteza,
Matar o nosso amor, que crueldade!
Abastardaste, louca, tal beleza...

2019

Ouvindo o teu suspiro, ao fim da tarde,
Distante... Chega o eco deste som...
Me invade a sensação de uma saudade,
De um tempo tão feliz... Como era bom...

Ao mesmo tempo acalma e, sereno arde;
Felicidade é mais que um simples dom,
Voando para ti, em liberdade;
Quem dera estarmos juntos; mesmo tom...

Alegres, cristalinos, os sorrisos,
Em todos os folguedos de criança...
Os dias se passaram imprecisos,

Momentos gloriosos que tivemos...
Neste suspiro está tanta lembrança,
De todos os momentos que vivemos...

2020

Te quero bem além do simples fato
De ter uma esperança de te ser,
Não és somente espelho nem retrato,
És muito mais que sempre pensei ter...

Não és a sensação do intenso beijo,
És mais e sempre mais que simples caso,
Vivemos noutra esfera do desejo
Que nunca se permite um triste ocaso.

Quando irmanamos sonhos e vontades
Estamos bem acima disto tudo,
Não medimos no amor intensidades,
Entrega bem mais forte e sem contudo.

Amor que não precisa-se explicar
Tão simples; quatro letras: só AMAR...

2021


Quando abaritonaste tua voz,
Os cantos que iludiam embelezas...
Os prantos se deixaram velhas rezas,
O medo calmaria vem veloz...

A rama dos desejos mais atroz,
Expressa nossos beijos, tanto prezas,
Com fartas novidades, nada após,
Amores e promessas vãs revezas...

Na tua voz dorida, neurastênica,
Me pedes com rancores mil carinhos...
Quem dera não tivesse sido anêmica

A rosa tenebrosa meus espinhos...
Não quero discutir, criar polêmica,
Um passarinho sabe dos seus ninhos...

2022

Amor que rememora priscas eras,
Me traz tendas, desertos, beduínos...
Nos olhos procurando seus destinos,
Os cantos, madrigais... Do céu, esferas

Brilhantes. Gigantescas, tristes feras,
Mergulham nos meus sonhos cristalinos...
Amor que ressuscita, faz meninos
De todos os que morrem tais crateras...

Nas lágrimas que choro, meu colírio...
O visgo de teus olhos, primavera.
Amor que não vivemos, meu martírio

Abandonos e flores se revezam.
Açúcar acalmando essa quimera.
Carinhos tão profusos que me lesam...

2023



Estou jogado,um canto e nada tenho...
Sequer o brilho falso, teu sorriso...
Não me resta sequer último aviso,
Amputa-me cortante , fatal lenho...

Não me bastou meu tolo, rude empenho,
Me sobram sombras, quedo-me sem piso...
Pouco a pouco perdendo todo o siso,
Do pouco que restou de luzes, venho...

Solitário, recebo tal bafejo,
A fera contumaz, me traz desejo.
O desejo final, única sorte...

Abandonado, vesgo de esperanças,
Os meus repastos, fétidas lembranças...
Quem dera adormecer, teus braços, Morte!

2024


As mãos que te carinham, maviosas.
Os dedos te percorrem grutas, seios...
A boca procurando colher rosas.
Gemidos traduzindo teus anseios...

As rondas que te faço, glamorosas;
Os cabelos dançando seus maneios...
Nas noites que rolamos, tanto gozas...
Persigo, calmamente, quais os meios

De te trazer prazeres, toda vez,
De te levar total insensatez.
As noites que passamos são cometas...

Não posso permitir que tu cometas
Insana tresloucada fantasia...
deixando para trás tanta alegria...

2025


Deixando o sol entrar tão mansamente
Sentindo este carinho como um beijo.
Vou fechando meus olhos lentamente
Entregue à sensação já sem desejo,

Sem medo, sem rancor, somente sendo.
Sem ter porque, talvez, quem sabe ou quando,
Neste silêncio imenso, me envolvendo,
Aos poucos me sentindo flutuando...

Adormecendo, sonho estar além
Do sempre do bem antes ou depois.
A noite, eternidade, a lua vem;
Meus olhos são milhões, bem mais que dois...

Eu ouço a voz do vento, bebo a vida,
Minha alma só passeia, comovida...

2026

Afasto-me dos guizos da serpente
Que mostra num sorriso tal peçonha,
Capaz de me matar tranquilamente
Feroz ao se mostrar até risonha.

Seus olhos me iludindo, tão pacíficos,
Porém os dentes picam, mais vorazes,
No fundo seus caninos são terríficos
E os dedos funcionam quais tenazes.

Além da solidão destes rochedos,
Aracnídea disforme e venenosa,
Espalha com sorrisos, tantos medos,
Depois de tudo ainda, o verme goza.

Herdei tal celerada criatura,
Ao me casar contigo... t’e esconjura!

2027


Nas estradas, estadas, abadias...
Nos caminhos que perco sem vantagem;
As tardes sem o sol, seguem tão frias,
O medo de viver sem ter coragem.

Não quero prosseguir nas cantorias,
Nos cantos sem encanto e sem aragem,
Nas abadias sonhos, fantasias...
Não posso perceber essa abadagem

Que cobras coração desesperante...
Meus termos, rendição, são muito brandos...
Quero saber seguir para diante,

Nos versos que te faço falsos cantos...
Amores que perdi os vejo em bandos.
Não quero conhecer os teus encantos...

2028

Amor já é loucura, pode crer,
No amor não há jamais banalidade
Preciso dum amor para viver,
Senão não vale a pena; é falsidade.

Bebemos desta fonte desejosa
Que traz sempre desejo e dá prazer.
Jardim sem colibri, matando a rosa,
A rosa sem espinhos, vai morrer...

Por isso minha amada, a cada achado,
Que faço nesta vida, um bandeirante,
O verde da esperança, esmeraldado,
Dá força pra seguir, sempre adiante...

Te quero , em toda noite, riso e dança;
E o beijo que te dou daqui, te alcança!

2029

Recordo-me, criança, de um abáculo.
Uma herança ancestral, de minha vó,
Vivia jogado em denso pó,
Nas ermas cercanias; um oráculo.

A vida repetindo este espetáculo,
Refazendo aos poucos cada nó
Dos meus sonhos. Meu mundo rococó;
Duro medo, espalhando em retináculo.

Cercava, rodeando feramente,
Clivava vagueando vorazmente,
Não deixando sequer restar escapo.

Escalpos exigindo, todo trapo
Do que fora resquício de uma vida,
Minha história, no abáculo perdida...

2030

A vida proporciona tanto corte,
As ruas se transformam em saudades.
Não posso perguntar sequer à morte,
As dores que trancamos trás às grades...

Quem dera se soubesse a minha sorte,
Por certo saberia essas verdades.
Não há um só momento que reporte
Alegrias não passam, veleidades...

Deitado sobre um barco; vil, lascivo,
O medo me carrega qual serpente...
Meu sangue derramado, rubro, vivo...

Nas lutas que perdi, vou indolente...
Não posso confrontar, me perco altivo,
Na palidez mordaz, vivo doente...

2031



Amor é um banquete extasiante
Que apenas alguns poucos reconhecem,
Viver é sempre um sonho deslumbrante
Moldado por artistas que o tecem

Com fios de esperança e de justiça
Nos teares mais perfeitos da ilusão,
Amor quando não sabe o que é cobiça
Prepara alucinante, uma explosão.

Eu falo deste amor que é mais que tudo,
Amor num canto amigo e lisonjeiro,
Não canto o sentimento mais miúdo
Que rasga e não permite ser inteiro...

Por isso minha amada, como é bom,
Poder cantar o amor no mesmo tom...

2032

Neste caminho encontro meu tesouro
No rosto da mulher que sempre quis.
Não quero uma riqueza, nem quero ouro;
Com ela já me sinto mais feliz!

Tem toda uma alegria de viver
E traz uma esperança sem igual.
Envolve de carinhos meu prazer
Nas noites de desejo sensual.

É lua e sol que brilham no meu céu
Reflexos em minha alma, calmaria,
Na cama, uma pimenta em doce mel,
Trazendo sedução e ventania...

Neste caminho encontro minha amada,
O sol que me invadiu a madrugada!

2033


Só quero que tu sejas para mim,
O manso cais que sempre acolherá
Não quero simples flores em jardim,
Por certo nosso caso brilhará

Intenso como o sol que nos bronzeia
E manso como a lua que nos toca,
Aos poucos, mansa chama se incendeia
E mesmo tão intenso, não sufoca.

Abelhas, mel, ferrão, rosas, espinhos,
Vivemos cada fase deste amor,
Buscando a sensação em nossos ninhos,
Da vida sem ter pena e sem temor.

Doamos nossa vida à primavera
Sabendo do prazer que nos espera...

2034

Palavras que, sentidas, são tão belas,
E sempre nos alentam; dão prazer,
Aos poucos soltas frases formam velas
Que nos iluminando faz-nos ver

Em cada poesia um manso vento
Que traz novo matiz a nossas vidas,
Liberta uma emoção, o pensamento
Encontra sensações antes perdidas...

Sentindo o teu perfume no papel,
Na carta que recebo com carinho,
Certezas de me erguer além do céu,
Quem sabe eu não prossiga mais sozinho?

Com toda intensidade já te digo,
Ternura, no meu peito, encontra abrigo...

2035

Eu quero que tu sejas minha amada,
Vivendo eternidade a cada dia,
Saiba: tu és meu anjo e minha fada,
Sinônimo de eterna fantasia...

Marcamos nossos passos pelos céus,
As nuvens servirão de testemunhas,
Estrelas deslindando brancos véus
Te quero muito mais do que supunhas...

Amor que se transborda e nos faz crer
Que o mundo é mais bonito e sensual,
Descubro-te guardada no meu ser,
Amar o teu amor é natural.

Estou aqui, amada ao teu dispor,
Gritando a todo o mundo, o nosso amor...

2036

Embora não consigas compreender
Não nego e nem neguei o nosso amor,
Apenas procurei me convencer
De que eu seria, assim, merecedor

De todo o sentimento que dizias
Naquele dia frio e desolado.
Guardando-te nas minhas fantasias,
Te digo, também vou enamorado..

E quero ter t'a boca carmesim,
O gosto mais suave deste beijo
De tanto amor que tenho; amor sem fim,
Eu quero me entregar ao teu desejo

E, juntos caminharmos vida afora,
Espero o teu amor, mas vem agora...

2037


Nas sendas deste amor em seda e renda
Mensagens e carinhos que trocamos.
Mistério do querer que se desvenda,
Enquanto bem mais fortes, nos amamos.

Sabemos das histórias, cada lenda
De escravos e cativos, servos, amos.
Amor nos adoçando; na moenda
Garapa e puro mel nós encontramos.

Assim anunciando um novo dia
De sonhos e palavras mais constantes
Vagamos por espaços siderais,

Fazendo os nossos elos, poesia,
Eu peço encarecido que tu cantes
Amores que sabemos bons demais...

2038


Desperta, amor, em mim tanto desejo
Em chamas, crepitando, me convida
Ao bailado fantástico que vejo
Sendo a trilha sonora de uma vida.

Perene sensação de uma brutal
Felicidade imensa que me toca
De forma salutar e sensual
No beijo que roubei de tua boca...

Cativas-me e, cativo, sempre busco
No teu colo o perfeito diamante
Lapidado de um sonho onde me ofusco
Ao ver a tua face deslumbrante...

As asas deste amor são verdadeiras
Aliadas. E sempre companheiras...

2039


Eu quero te sentir inteiramente
Entregue em minhas mãos, doce promessa,
Desejos me dominam corpo e mente;
E, de repente, a vida não tem pressa...

Ao fechar meus olhos, calmamente,
Minha alma calorosa se confessa
Neste sentir, apaixonadamente.
E o coração dispara e já se apressa...

Eu te quero deitada no meu peito,
Sentindo em teu silêncio; o sol, a lua...
Depois de tanto sonho satisfeito,

Deitar em teu cansaço os meus cansaços,
E tendo a sensação de quem flutua
Ir sonhando acordado, nos teus braços..

2040

Meu coração, festivo, comemora
Este enorme prazer em ter achado,
Flor em que o jardim d'alma se decora
Perfume que se espalha em todo o prado...

Depois de percorrer, sem ter sucesso,
Por vales e montanhas, céus e mares,
Sem ter amor assim, eu te confesso
Que quase me perdi noutros lugares...

Ouvindo o som dos guizos da alegria,
Ao perceber estava aqui, perto de ti...
Cantando esta magia todo dia,
Estavas; meu amor, bem perto... Aqui...

A deusa que, em meus sonhos, desejava,
Em flor, neste canteiro, se encontrava...

2041


Amor, encanto imenso em canto eterno
Que traz a solução para os meus medos.
Se em tanto amor, portanto, vou tão terno,
Amar é decifrar nossos segredos...

Amor não me permite um frio inverno,
Trazendo as primaveras como enredos,
Vestindo em alegria, rasgo o terno
E trago a liberdade nos meus dedos...

Eu quero em nossa vida, esta euforia,
De ser o que tu queres. Plenitude!
Cantando dia a dia, a poesia

Que traz nova manhã em puro encanto.
Amando sempre mais, tão amiúde,
Os olhos p'ro futuro eu já levanto!

2042



Madrugada... Sentindo a fresca brisa
Entrando pela porta escancarada
Tal qual fora um sonho que me avisa,
Que a vida se aproxima perfumada

Pela rosa que nasce no canteiro,
Orvalhada em carinho, inda em botão.
Num sentimento puro e verdadeiro,
O cheiro desta rosa em minha mão...

Retenho o ar, respiro mansamente,
Imensa paz me invade e me transtorna.
Assim me vou me entregando corpo e mente,
Minha alma de ternuras já se entorna...

Estou entregue ao vento encantador,
Sinto que chegaria, enfim, o amor...

2043


É sempre bom poder contar contigo,
Amiga e companheira predileta.
A mão que me protege do perigo,
Futuro que pensei em linha reta.

Palavra mais bonita que persigo,
Um coração que sonha ser poeta,
Teu colo representa sempre abrigo,
A sensação divina e mais concreta

De termos alegria e tanta paz,
Capaz de nos tornar bem mais felizes.
Ao perdoar meus erros e deslizes

Uma certeza enorme já me traz.
Ao impedir que a dor, enfim prossiga,
Fernanda, eu te agradeço. Minha amiga...

2044

Neste leito onde juntos mergulhamos
Nos mares que sabemos serem nossos,
Ao mesmo tempo loucos desejamos,
Sorver todo o desejo em nossos poços;

Bebendo de nós mesmos, nos fartando,
Sem medo da total insanidade
E sempre do prazer que vislumbramos
Chegar até o final: saciedade...

Sorrindo, nos beijarmos mansamente,
Olhamos para nós fartos, felizes,
Fazer um bom carinho, calmamente,
Sol carinhando a lua em mim matizes...

E depois, descansando, amor em paz...
Certos de que viver é bom demais!

2045

Ceder à sedução louca e voraz
Que faz com que eu me entregue totalmente,
Ousando este carinho mais audaz,
A boca percorrendo lentamente

Os vales, as montanhas, os canteiros,
Aos poucos, decorando a geografia
Em todos os relevos verdadeiros,
Vertendo em cachoeiras, a alegria...

Tremores, terremotos, furacões,
Marés, ventos solares, tempestades,
Correntes, maremotos, convulsões,
Em ondas de fatais felicidades.

Num grito de vitória e de conquista,
No revirar dos olhos, céu avista...

2046


O vento acaricia teus cabelos,
Na dança que promete ser mais terna,
Envolvendo teu corpo nos novelos
Das carícias. Quem dera fosse eterna

A noite dos sentidos sem contê-los...
A dor que tão distante, inda te hiberna
Aos poucos vai saindo. Quero vê-los
Dançando na alegria mais fraterna...

E quero; como o vento que te abraça,
Beijar a tua face delicada...
Andando, braços dados pela praça

Olhando para o sol que renasceu
Tua cabeça no ombro recostada,
Vivendo este prazer que é teu e meu...

2047

Não chore meu amor;, o sol responde,
Teu brilho já se estampa nos meus braços,
Por vezes te procuro, mas aonde?
Não deixa-se envolver por meus abraços...

Vagueio a te buscar por todo o dia,
À noite tão cansado, vou dormir,
Quem dera ter amor, tanta alegria,
Ó lua, venho agora te pedir

Um pouco de carinho, um manso beijo,
Estou apaixonado, em ti me aclaro.
Por tantas vezes sonho e te desejo
Bem mais que só no eclipse tão raro...

Assim cantando à lua, o pobre sol,
Procura sua amada... Girassol...

2048


Eu quero te sentir bocas e beijos
Neste delírio imenso da paixão,
Matando, no teu corpo, meus desejos,
Fazendo a nossa cama pelo chão,

Sabendo teus meneios e traquejos
Singrando por teus mares, emoção,
Bem devagar, carinhos e manejos
Te enlaçando em total sofreguidão...

Vou descobrindo em todos os sentidos,
Olfato, paladar, tato, visão
Ouvindo na loucura dos gemidos

O sonho deste amor se realizando,
Na força tão imensa da paixão,
Aos poucos, sem sentido, flutuando...

2049

Amar é transbordar felicidade
Não é ser singular, é ser plural.
É conhecer a vida de verdade,
Vagar, com pés no chão, por todo astral.

Amar é conceber a liberdade
E sempre querer bem, negar o mal,
Potência que se faz força e vontade,
Sem artifícios ser mais natural...

Eu quero todo encanto deste amor,
Que é por apenas ser e nada mais.
Um paraíso em canto, salvador.

No versejar alegre e tão festivo,
Trazemos nosso amor, que é feito em paz,
Do qual e pelo qual, respiro e vivo!

2050


Amada, em cada frase que me dizes
Tua beleza imensa só se aumenta,
Meus versos são, por ti, sempre felizes,
A tua mansidão, amor; fomenta...

Ao pôr do sol milhares de matizes
Minha alma, de contente, vai tão lenta,
Na vida, cicatrizes, tantas crises
Passadas, tempestade, uma tormenta...

Agora, ao vir no vento essas mensagens
Banhadas no dourado da ternura,
Sentindo a doce brisa; tais aragens

Fazem-me ser mais forte a cada dia,
Matando o meu passado de amargura,
Na glória deste amor em poesia...

2051



Aguardo o teu carinho e sou feliz,
Meus olhos são teus olhos, simplesmente.
Do amor que me ensinaste, um aprendiz;
Que quer dançar contigo, novamente...

Numa ciranda eterna sem fronteiras
Montanhas, horizontes, nosso fado.
Palavras tão sinceras, verdadeiras
Não deixamos de dar nosso recado.

Eu sinto o teu perfume neste vento
Que fala em liberdade e da justiça
Numa harmonia imensa, o pensamento
Já não suporta mais qualquer cobiça

Que não seja por paz e por carinho,
Forrar de amor amigo o nosso ninho...

2052

Abelha que precisa desta flor,
A flor que necessita desta abelha,
Amores que vivemos por amor,
São flores que iluminam qual centelha!

Do pólen produzimos, sonhador!
Das cores que vivemos, a vermelha!
A chuva que refresca esse calor,
Batendo, levemente em cada telha!!!

Te quero, tanto quanto te preciso.
Não sei viver; somente sobrevivo
Nas horas onde estou, de ti, distante!

Não vás, te necessito a cada instante....
Se fores, não terei sequer o siso!
Prisioneiro da abelha, sou cativo!

2053


O nosso amor derrama esta ternura
Que invade cada parte do meu ser.
Deixar de amar assim, é que é tortura,
Amor que já se esbalda de prazer...

Na boca desejada, mel e doce,
Nos teus carinhos mansos, meu desejo.
A vida, que é tão sábia, já nos trouxe
Toda a felicidade num lampejo

Voraz e tão intenso em harmonia,
Com sol e lua, mar em amplitude,
Juntando esta beleza em sintonia
Amando
sempre mais do que já pude...

Eu quero o nosso amor, carta marcada,
Deitando no teu colo, minha amada....

2054

Eu quero te sentir exausta, exata
Depois de tanto amor que a gente fez,
Prazeres sucessivos, em cascata,
Rolando em vagalhões a cada vez...

Loucura que toma e me arrebata,
Na sensação total de insensatez,
Cavalgas teu corcel, brilhante e prata,
Com toda tua pompa em altivez...

Depois destes momentos infinitos,
Sumos, sucos, salivas, lábios, mel,
Repetiremos todos nossos ritos,

Na sensação insana de brandura
Na noite magistral corto o céu,
Mergulho neste mar pleno em ternura...

2055

Eu te amo, simplesmente, e apesar
De todos os reveses ocorridos,
Meus dias na verdade são cumpridos
Distantes da tristeza e do pesar

Que mesmo que em retalhos retorcidos
Irei sem nem sequer pestanejar,
Mesmo que estejas solta a navegar
Por ermos siderais desconhecidos.

Eu te amo no segredo que jamais
Poderia conter quem sabe de
Todos os destinos, porto e cais,

Do ser emoldurado em fantasia.
Incrível que pareça amor me acode
Mesmo na solidão ou na agonia...

2056


Ao circunavegar em desvario
Perímetros
marcantes, maviosos,
Agônicos momentos, santo cio,
Inclino novos planos, nossos gozos.

Traçando sinuoso, úmido rio,
Penetro por caminhos mais formosos,
Nas sinuosidades sempre crio,
Mil vértices em rumos belicosos.

Embrenho geométricas figuras
Os círculos, triângulos e retas,
Nos côncavos; enceto tais ternuras

Deitadas paralelas, ato explícito,
Que desenrola em voltas mais completas
Amor sem ter juízo quase ilícito...

2057


Teus olhos... São tão belos, sedutores,
Me sinto hipnotizado quando os vejo,
Como luzeiros acariciadores,
Faróis que sintonizam teu desejo...

As minhas mãos, meus lábios buscam flores
Em cada novo toque e doce beijo,
Deitando em teu amor, os meus amores,
Fixado neste olhar, cada lampejo

É como desnudar-te por inteiro,
É ver tua alma intensa e desejosa.
Conhecer o diamante verdadeiro

Que tenho em minhas mãos, arrepiada...
Sentindo na loucura voluptuosa
Tua beleza infinda, minha amada...

2058

A dor que me acompanha, hereditária,
Nascida desde antanho, nebulosa.
Farnel das ilusões em tenebrosa
E
amarga sensação em peito pária,

Negrume que se insere em luz tão vária,
Estrume de minha alma pavorosa,
Na desintegração perfeita rosa,
Adentrando esta pele até que escare-a.

E folga quando torna-me refém
De suas garras lépidas e finas.
Ao me negar destarte todo bem,

Refaz vastas feridas; dentro da alma,
E aos poucos minhas carnes exterminas,
E me toma e me entranha em sua palma..

2059


Ao ver o teu sorrir, tão enigmático,
Com jeito de malícia em face ingênua,
Virando pra te ver, quase automático,
Percebo uma vontade, forte e tênua

De gosto e de carinho, sem limites...
Num brilho sedutor, os olhos pedem,
Não querem nem procuram mais palpites.
Os meus, ao teu sorriso sempre cedem

E assim já se concedem mil desejos.
Da santa insensatez que dá prazer,
Sorrisos que parecem mais com beijos,
Pois nos adivinhamos, sem querer...

Eu sei que os outros olham, desconfiam...
Loucuras que os sorrisos já desfiam...

2060


Meus beijos, meus abraços, meu carinho...
Juntinhos, vamos nós para o infinito,
Sabemos, encontramos o caminho,
O mais maravilhoso e tão bonito

Que passa por estrelas, sol e lua
Chegando ao horizonte, todo nosso,
Tua beleza intensa, viva e nua,
Os teus cabelos sinto; beijo e roço,

Nesta sofreguidão de te querer,
Esqueço de mim mesmo, já não sou
Mergulho neste mar, puro prazer,
Tu és tudo o que, em mim, de mim restou...

Ah! Amor que sempre cresce e quer bem mais,
Não quero me afastar de ti, jamais!

2061


Aflora em minha pele repugnância
Por teus carinhos, louca cascavel,
Deixando demarcada em cada instância
As dores e os venenos, ser cruel,

Que amortalhando a vida desd’infância
É companheira amarga e mais fiel,
Legado de outros tempos, de êmese, ânsia.
Um verme que entocado, fera e fel.

À parte do que somos, sempre foste
Embuste que em herança, recebi.
Na brasa de teus erros, que eu me toste

E corte tais artérias vicinais,
Somente me matando mato a ti,
Herança de outros tempos, ancestrais..

2062

Quando, sozinho, à noite eu me recolho,
Percebo o teu retrato na parede,
A solidão fazendo-me restolho
Não tem mais quem aplaque sua sede.

Fechando os olhos, vejo em nitidez
Teus
olhos, primavera inexistente.
Embora tanta saiba que não crês
Persisto em te chamar. Por mais que tente,

Não posso mais alçar uma esperança.
Afago o teu retrato sem moldura,
A noite sem luar, não me descansa
E morre enquanto a dor que inda perdura

Promete-me somente uma saudade,
Emoldurada, sim. Na eternidade...

2063


Adoro te sentir, vontade insana
De te tocar inteira, e te despir,
De noite, na delícia mais profana,
Sem nada e sem ninguém para impedir

Dois corpos que se querem, se desejam,
Em toda esta loucura, levitar;
Nas bocas curiosas, já latejam
Palavras que se tocam, sem parar...

Invado o paraíso, num segundo,
Respiro teu desejo sinto o cheiro,
De tantas maravilhas, eu me inundo,
Do amor deliciado, por inteiro...

A noite vai passando; lua e sol,
Estrelas nos olhares, um farol...

2064

Vago qual um pássaro migrante,
Pousado nos alpendres da esperança.
Decerto, tantas vezes inconstante,
A fera solidão quando me alcança

Refaço a migração em outro vôo
Atrozes ilusões são companheiras,
Os erros cometidos? Não perdôo,
Desfraldo, em minhas alas, as bandeiras.

Nas curvas dos caminhos, mais fechadas,
Capoto simplesmente, mas persisto.
Matando o que sonhara, velhas fadas,
Aborto uma saudade, rasgo o cisto

E existo, resistente passarinho,
Que sabe que na amiga fez seu ninho...

2065

Saudade deste amor que já partiu
Envolto numa estrela, ganha espaço...
Amor que se perdera, tão sutil,
Ah! Quem me dera estar, no teu abraço...

Pergunto onde te escondes; ninguém viu...
Apalpando o vazio estendo o braço,
Apenas o silêncio... Nada ouviu
Quem se foi, não deixou um simples traço...

Eu quero imaginar que ela me queira:
Olhando a mesma estrela vê também
Teu corpo deitadinho em minha beira

Espero que tu voltes para mim,
Me deixa ser teu derradeiro bem,
Estrela: não me deixe triste assim...

2066

Quem sabe irá chegar uma princesa
Depois do baile, nua em tua cama.
Na esquina da ilusão, farta beleza,
Abaixo da cintura, cone em chama.

Orgástica emoção de correnteza
Vagando sobre o céu mergulha em lama,
E chega tão voraz, estende a mesa
E o fogo da paixão, logo reclama

Adentra no teu quarto, faz a festa,
Algemas, espartilhos, lingeries,
Princesa mezzo santa e meretriz.

Poreja com vigor, abrindo a fresta,
Numa sucção bem feita, chega ao cume,
E foge, num instante, vaga-lume...

2067

Cansado de tentar saber sinais
De Amor, que se mostrando um empecilho
Adentra no meu quarto, nos beirais,
Ilude o coração, esgarça o trilho.

À par das artimanhas do moleque,
Preparo o contra-ataque em outras sendas.
Abrindo o sentimento em amplo leque,
Retiro de meus olhos, negras vendas.

E faço deste fardo a solução
Para inclemência tola das tempestas,
Aniquilando enfim, uma ilusão,
Aguardo por vingança novas festas

Nas frestas da janela a claridade,
Permite adivinhar, nova amizade...

2068

O bem que tantas vezes quis a sorte
Que não se achasse em parte quase alguma,
Expressando a verdade em alto porte,
Qual mar que em leda praia já se espuma,

Refém de uma falésia ou de penedo,
Viajo em pensamento por um tempo
Aonde bem distante do degredo,
Não via nesta vida, contratempo.

Averso às tempestades; quis bonança
Que somente amizades me trariam,
Qual nau que raro atol em paz alcança
Meus rumos, com ventura mudariam.

Assim ao persistir, bom timoneiro,
Aporto neste cais alvissareiro...

2069



Venha ser o meu rio em cachoeira,
Correndo para um mar de mil prazeres,
Te quero, minha amada companheira,
Singrando no teu mar, os meus quereres,

A vida se mostrando por inteira,
Juntando num só ser, distantes seres.
Na cama, numa praia ou numa esteira,
Nos beijos que te dou; que me temperes!

Abrindo porta, sala, copa e quarto
Deitada mansamente do meu lado,
Do nosso amor intenso, nunca farto,

Eu quero eternidade num momento,
Vivendo sem temor, extasiado,
Amor que nunca sai do pensamento...

2070

Deitando nos teus braços, vou entregue
À sensação divina de saber
Que por mais que essa vida, às vezes negue,
Em cada noite, em ti, vou renascer...

Por isso, meu amor, venha e me pegue,
Me leve para dentro do teu ser
Que assim, por toda a vida a gente segue
Em nossa sintonia de prazer...

Não temo se vier a tempestade
Nem mesmo esta tormenta que é o ciúme
Eu sempre vou querer intensidade

Vivendo o nosso caso sem temor.
Quem passa por espinhos quer perfume,
Quem teve tanta dor, merece amor...

2071

Pecado é não sentir a sensação
De ter o paraíso em plena vida;
Negar a imensidade da emoção
Nesta vontade louca e distraída

De ter asas, voar pela amplidão,
Transbordando em prazer, sem ver saída,
Senão a que nos manda o coração,
Minha alma se encontrando; em ti, perdida...

Um arrepio intenso me domina,
E sinto-me suado, a boca seca,
A força do desejo não termina,

Vontade de te ter e sempre estar.
E sei então, quem ama nunca peca,
Adentra o paraíso; por amar...

2072

Sonhando com teus braços, teu carinho,

Eu tantas vezes fico alucinado,

Querendo te encontrar, te dou meu ninho,

Te quero aqui, deitada, do meu lado...


A boca procurando tua boca

Sedenta desta sede que me traz

Vontade de gritar com voz mais rouca,

E ser bem mais vivendo amor e paz,


Se quero mergulhar em manso lago,

Também quero a tempesta e as procelas,

Depois de ter delícias de um afago,

Eu quero o fogo ardente em nossas telas


Pintadas com fulgor, insensatez,

Delícias deste amor que a gente fez...

2073


Eu quero o teu amor, nunca se esqueça.
Meus olhos te procuram e não vêm
Talvez o teu amor eu não mereça
Talvez a noite venha sem ninguém...

Eu temo uma resposta negativa
Que venha destroçar minha ilusão,
Por mais que em teu amor, eu sempre viva,
Não sei se poderei te ter ou não...

A vida se passando tão depressa,
Na pressa de encontrar o teu carinho,
Mas temo e logo mudo de conversa,
Não deixe que meu canto vá sozinho...

E tenho tal vontade de te ter,
E mergulhar bem fundo, em teu prazer...

2074


Acesos os pavios da loucura
Que em cios e desejos se completam.
Salivas que se trocam, na procura
Dos mares que se inundam, se repletam...

Explodem multidões de tempestades
Tornando nossos ventos mais bravios.
Rondando nossos corpos, ansiedades
Nos sonhos mais gostosos e vadios...

Nas ondas do prazer as explosões
Roubando a calmaria destas noites...
Tornando bem reais as tentações
Dos lábios sensuais, nossos açoites.

Vazante desta enchente em maremotos
Nas
erupções divinas, terremotos...

2075

Viajo em tua boca, beijos tantos...
Paixão assoladora que me toma.
A bordo dos carinhos, teus encantos,
Pressinto que este amor quem vem me doma..

Sentindo tal beleza nos teus cantos
Uma alegria imensa já se assoma
Buscando desfrutar dos mesmos mantos,
Os corpos vão se unindo nesta soma

Que faz dos dois, unidos, serem um.
Ultrapassando a noite, dias, meses...
O medo se escondeu, não há nenhum

Nem nada que proíba mais. Eu quero
Te tocar, percorrendo por mil vezes
O templo deste amor, que eu já venero...

2076


Sentado do teu lado, ouvindo o mar...
A lua prateando o teu sorriso,
O vento nos tocando devagar
Nesta expressão divina.. Paraíso...

Nas espumas, o mar a nos tocar...
Desejos nos tomando... Sem juízo
Vontade de em meus braços te tomar
Neste momento exato e mais preciso,

Entregues aos anseios sensuais
Do vento, deste mar, da branca lua...
Nos beijos que trocamos, sempre mais...

Deitamos nosso amor por sobre areia
Minha alma na tua alma continua...
Por testemunha só a lua cheia..

2077

Meus lábios te procuram, sem palavras...
Apenas te tocar, te dar um beijo.
Qual fora um jardineiro em belas lavras
Cuidando do canteiro, o meu desejo...

Não digo quase nada, nem preciso;
Encontro em tua boca, amada, a chave
Que leva o pensamento ao paraíso;
No toque tão sutil e mais suave...

Carinhos que se buscam, sem temor;
Nos mostram os caminhos mais concretos
Da estrada divinal, em tanto amor,
Dos sonhos que queremos; os completos...

Querida és meu alento em noite fria,
Ao te saber, minha alma se arrepia!

2078


Meu velho companheiro! Como é bom
Saber que estás comigo e quanto apóias.
A vida se perdendo... Amar é dom
Que quem o cultivar merece as jóias.

Mas saiba que ela foi e não retorna,
Se bem que a própria lua tem as fases.
A sorte num amor já não me adorna,
E perco-me vazio em meio a frases...

Mesmo assim, obrigado, camarada.
Quem sabe poderei ser mais feliz.
Meu canto se perdendo em quase nada
Me alerta, pois no amor, sou aprendiz...

Agora eu te agradeço meu amigo,
Contigo nunca temo um só perigo!

2079

Tempo que se foi. Longe... No curral
Dessas minhas lembranças, a porteira
Aberta da esperança. É natural
Que nada mais restasse. Mas inteira

A imagem da mulher por quem sonhara.
Desde menino espero o teu regaço.
Te quero para sempre, jóia rara.
Por isso te persigo passo a passo...

A vida se perdeu em mil percalços
Nas curvas capotagens e feridas.
Meus pés de tantos cortes vãos descalços
São páginas distantes e perdidas...

Agora te encontrei; minha morena,
Porteira da esperança; aberta e plena...

2080

- UM ANJO... (Abigail)

Surgida entre estrelares amplidões,
As luzes que imagino já perdi...
As cores reproduzem soluções,
O mundo que sonhei, longe daqui.

Batendo incoerentes corações,
Esqueço tantas dores que vivi.
Não peço nem preciso teus perdões.
A dor de não me amares, esqueci...

Procuro pelos versos que não fiz,
Estrelas são cadentes, perdem céu.
No fundo, necessito ser feliz...

Um anjo dos espaços, já caiu,
Nos braços, minha chama e meu dossel.
É fonte do prazer: Abigail!

2081

Nosso amor alimenta nossa vida...
É pão, é luz, é brilho... Uma esperança
Que nasce a cada dia e revalida
Vontade de viver. Nos faz criança...

Amor que tantas vezes nos transtorna
E nisso, nos transporta livremente,
Depois, mais bonitos nos transforma,
De tantas flores belas, é semente...

Amor que não permita Deus que morra,
Senão nós morreremos pouco a pouco...
Na dor e na tristeza, nos socorra,
Pois sei que em sua ausência, fico louco...

Não quero nem preciso de riqueza...
Por Deus abençoado, com certeza!

2082

Alamedas, estradas e caminhos...
Nos pinheiros e cedros, tal beleza...
Lá perdi nossos beijos e carinhos...
A mansidão perfaz a sutileza...

Nossos olhos são tristes passarinhos,
Nasceram para a dor, tenho certeza...
Buscando por sossego, querem ninhos,
A vida proibiu tal fortaleza...

Nas mansidões dos rios sem cascatas,
A corredeira leva nossa paz...
Quem dera conhecer as nossas matas,

Nas mãos que se acarinham, ser capaz
De ter a calmaria que retratas,
Brisa fresca que a nossa noite traz...

2083


Não posso imaginar que nosso amor
Se deixe derrotar pelas quimeras,
Nós somos feito o destemor
Que vence toda sorte de panteras.

O nosso canto é feito em aliança
Marcada
por um laço indivisível,
O mote que escolhemos: esperança
Baseados neste ser que é invisível,

Porém nos traz a força de um leão
Porém nos dá a garra para a luta.
Cantamos nosso amor sem ilusão
Vencendo com carinho, a força bruta...

Eu te amo; não se esqueça um só segundo,
Amamos nosso amor maior do mundo!

2084

Não nego meu amor que é como um mar
Que vem em fortes ondas e se acalma,
Porém eu nunca deixo exterminar
Amor que é salvaguarda de minha alma...

Infindas tempestades que virão
Não podem destroçar o pensamento
Na luta pelo amor, pelo perdão,
Não somos mais tão frágeis contra o vento.

Amada, amiga, irmã, me dê teu colo,
Preciso de teu braço companheiro,
Bem sei quanto é difícil em mesmo solo,
Tentarmos ser esterco e jardineiro.

Mas venha que a promessa é de vitória,
Amada nosso amor se rende em glória!

2085

Ao largo de emoções que se fazem
Tripudiando sobre o que eu pensara,
Mesmo se vazias inda trazem
Adaga que penetra em noite amara.

Melindres que oriundam de um descaso;
Marcam. As evidências são claras,
Levando o pensamento para o ocaso,
E muitas vezes, falas e disparas

Quando instintivamente tu rebates
As faces caricatas das mentiras.
Por mais que não perceba, tu rebates
E deixas por herança simples tiras.

A tua auto defesa, caro amigo,
É simplesmente a busca de um abrigo..

2086

Seguindo o teu perfume, encontro o rastro
Pelos campos e prados, me extasio...
Tal qual fosse um satélite de um astro
Em busca deste amor, me delicio...

Encontro-te deitada; relva e orvalho,
Perfumes de jasmins; mar de verbenas,
Meu olhar desejoso em ti espalho
As flores testemunhas tão serenas...

E mansamente toco tua boca
Descalço meus sapatos, ao teu lado,
Respiro a nuvem densa, intensa e louca
Que exalas em aroma delicado...

E seduzido, entregue. Na ternura
Tão mágica, mergulho amor... Loucura...

2087


Eu sinto o seu sonhar dentro do sonho
Que não me canso nunca de sonhar,
Delírio torna o sonho mais risonho
Numa vontade louca de encontrar.

Sorriso está chamando e lhe proponho
Sem medo e sem juízo quero estar
Pois fechando os meus olhos já me ponho
Sem ter sequer vontade de acordar...

No quarto, a persiana filtra o sol
Mas sinto um leve vento como um beijo
Meu corpo se estremece. Um girassol

Cada vez mais cativo. Seu sorriso...
Sentindo neste vento o meu desejo,
Que trama nesse sonho, o paraíso...

2088

Eu sinto o teu olhar tocando o meu
E penetrando intenso num segundo,
Meu mundo nos teus olhos se perdeu,
Num sentimento imenso e tão profundo...

Entrego-me aos teus braços e sou teu,
De toda essa beleza eu já me inundo
E cedo ao meu desejo; louco, ateu.
Seguindo este farol, percorro o mundo...

Num tempo tão pequeno, eu me entreguei,
Não vejo nada mais, nem quero nada,
Só quero o teu amor onde encontrei

O sonho que eu julgara abandonado
E digo, simplesmente, minha amada,
Me perco em teu olhar, extasiado...

2089

Deitei-me junto à jovem esperança
E fomos bem felizes, te garanto.
Se sei tanto prazer quanto ela alcança
A moça vibrará pra meu espanto.

Abrindo as belas pernas- pede- avança,
E se mostrando sôfrega eu me encanto
E adentro virilmente com a lança
A moça se desfaz e eu me agiganto.

Um velho espadachim inda perfaz
Caminho que em bandeiras, descobriu.
Elétrica esperança tão gentil

Garante que estocada satisfaz
E pede, com sorrisos sempre mais.
( No conto da esperança, ele caiu)

2090


De alguns vários fantasmas que me habitam,
O sexo juvenil, sempre escondido,
Em tantas ilusões, bem mal servido
Ainda nos meus sonhos, vêm, palpitam.

Desejos que morreram, mas que gritam
Na cripta do cadáver revolvido
Nas noites infantis. Houvera sido
Momentos e resíduos que exercitam

A juventude feita quase em pó,
Mas velho safardana não tem dó
E o coração sacana se apaixona.

O fruto apodrecido traz semente
Que mostra; quase ao fim, amor urgente,
Melancolicamente, vou pra zona...

2091

O vento vai brincando no meu quarto
E se esconde debaixo dos lençóis,
Juntando neste caso, contra e prós
Aguardo uma resposta em quase enfarto,

Eu na verdade andava meio farto
De ter somente o não e nada após,
Olhares que me miram quais faróis
Ao ver de perto, são daquele gato

Que deixaste como herança. Tantas vezes
Eu tentei me livrar deste fantasma
Que ronda, ronronando e quando em asma,

Num Calvário noturno me incomoda.
Fugiste sem motivo e nestes meses,
Parece que a saudade inda me açoda...

2092


Por que tardas, querida? Eu te amo tanto
Quanto jamais queria ter amado.
Estrelas que se entornam sobre o manto
Da noite neste céu iluminado,

Não mostram precisão tamanho encanto
Que sinto. Sou um velho enamorado
À espera de, quem sabe, ouvir o canto
Mesmo que em ermo pátio abandonado.

Beijando a sensação de estares perto
De mim. Qual tresloucado vago à toa,
Trazendo a solidão como estandarte.

Em noite alta, madrugo e mal desperto,
Enquanto a dor no peito inda ressoa
Vasculho por teu rastro em toda parte...

2093

A febre me queimando, já transtorna...
Não posso mais pensar, toma-me inteiro,
Teu nome não me larga, vai, retorna,
O teu perfume está no travesseiro

Na cama, nos lençóis, minha alma adorna,
Em todos os lugares sinto o cheiro...
Não posso mais passar pela madorna
Acordo em sobressalto! Um verdadeiro

Desatino me doma, e nada faço
Senão pensar em ti; somente nisso...
Não consigo sequer dar mais um passo.

No roçar dos teus lábios, imagino
Amor que na paixão ganha mais viço,
Num turbilhão intenso me alucino...

2094


Não leve estes problemas tão a sério.
Deixe a vida correr qual fosse um rio,
Confie totalmente em teu critério
Que tudo, no final, vai mais macio.

Por mais que tudo tenha o seu mistério,
A solução, querida, eu mesmo crio.
Se no final me aguarda o cemitério,
Não sou eu quem acende este pavio.

Não perca nunca a crença. Uma esperança
Ajuda quando a barra anda pesada.
Às vezes ao dançar conforme a dança,

O barco vai seguindo a correnteza
Mas se preciso dê uma guinada
Porém segure a onda, com firmeza...

2095

Desnudo tua pele com meu beijo,
Bebendo teu suor num mar de amor.
A cada vez que lembro te desejo
Saudades do teu toque sedutor...

Olhando para a praia sempre vejo
Teu corpo tão sublime e tentador,
Teus olhos me queimando num lampejo
O gosto da paixão, revelador...

Afago tuas costas, desço as mãos..
E sinto o arrepio percorrendo
Procuro te encontrar descubro os vãos

E bebo no teu beijo esta doçura...
A lua com seus braços envolvendo;
Na sensação divina... da ternura...

2096


Amada, vou tocar os teus cabelos
E manso sussurrar em teus ouvidos.
Teus braços e meus braços nos novelos,
Na saga o sol assanha meus sentidos...

Mirando nos teus olhos posso vê-los
Tão belos sensuais enlanguescidos
Quero saber dos lábios e bebê-los
Inebriado em goles repetidos

Do corpo e da ternura que me trazes
Nas danças embaladas por amor
A vida se refaz em tantas fases

E vejo-te comigo em todas elas.
Em cada novo beijo redentor,
Meu barco no teu mar, abertas velas...

2097

Relembro de teus seios, minha amada,
Portais de nossas noites indomáveis.
Com tal suavidade, beijo cada,
Tornando estes caminhos mais amáveis.
O sol queimando lento cada parte
Do corpo magistral que Deus te deu,
Pintando em cada cena com tal arte
No quarto, esta nudez, amor se deu...
Osculo cada parte destes seios,
Viajo com as mãos as rédeas soltas,
Os olhos vão distantes, tão alheios
Saudade dolorosa , mil revoltas...
Por que tu foste embora? Te pergunto,
Um sonho só é bom se sonhar junto...

2098

Amor vai me espreitando atrás da porta,
Parece que deseja me encontrar
E quando, no meu mar, amor aporta;
Causando tempestade... Navegar?

Mas sei que muito espero o tal do amor,
Pois dessas esperanças sobrevivo.
Mesmo que traga medos ou temor,
Me encontrará de pé, decerto altivo.

Eu sei que isso é tolice, amor não poupa;
Invade numa enchente, arrasa tudo...
Não deixa no meu corpo nem a roupa;
Não quer saber de mas, porém, contudo...

Amor alucinante tempestade,
Reveste em tanta dor; felicidade!

2099

Tomando tuas mãos; convido à festa
Que a noite com carinho preparou...
De todas que sonhei, talvez seja esta
Aquela que em meus sonhos mais marcou.

Aberto o coração, por esta fresta
Um sentimento intenso penetrou.
Dançar, fazer amor, o que nos resta
Contigo, a noite inteira, agora eu vou...

Envolvo-te em carinhos, te desnudo,
Na cama sem mistérios e segredos,
Prometo; meu amor, te darei tudo

Num turbilhão de loucas aventuras
Mudando, em nossa vida, seus enredos...
Desejos mais vorazes... Mil ternuras...

2100

Não tema nosso amor, ele é bendito.
Assim tão benfazejo e tão profundo.
Soltando pelo espaço um forte grito
Eu quero percorrer num só segundo

Distância que pareça um infinito
Mas nada conterá; nem mesmo o mundo.
Eu te amo e isso me faz bem mais bonito
Da tua boca, amada, eu já me inundo...

Eu quero te sentir abandonada
Aos carinhos suaves que proponho;
À sensação divina, enamorada...

Invadido em desejos incontáveis
Deitando nos teus braços amor, sonho...
As mãos vão se buscar. Incontroláveis

2101


O dia a dia, terno e paletó,
Sinal fechado, trânsito e fumaça...
Na chuva, a sensação de ser tão só
E no asfalto da vida o tempo passa.

Pára e repara. Aquela casa velha
Esquecida nos tempos de menino...
De repente, uma imagem vem, espelha
Como um rosto infantil. Num desatino

Entra na casa velha, abandonada.
Corre para o quintal, tira os sapatos
E esquece do trabalho. Pensa em nada,
Vê um velho balanço em meio aos matos.

Ao subir na balanga mal percebe
Os raios delicados que recebe...

2102

Estrela deslizando neste céu
Formando este desenho mais bonito,
Quem dera se eu pudesse ser corcel,
Voar sobre essa tela, no infinito...

Brilhando qual vaga-lume sem destino
Trafega rabiscando, forma e luz,
Traçando sobre mágico alcaçuz
O vôo de meu sonho em desatino...

Do pisca-pisca sinto mil matizes
E faço assim milhares de desejos...
Quem dera se meus sonhos mais felizes
Viessem de repente nos lampejos

Do pirilampo sonho que me invade,
Procuro uma resposta, mas quem há-de

2103

Saudades são as bênçãos da tristeza,
Da forma que me ferem já me osculam,
Vontades incessantes que pululam
Da frágil solidão, a correnteza.

Lembrando deste amor que com destreza,
Delícias e desejos se vinculam,
As dores e vazios se regulam
Formando um raro quadro em tal beleza.

Pressinto que terei de novo os beijos
Que deste com perícia e com traquejos,
Neste momento em glória, num festim,

Depois de tanto tempo em tal desordem,
Que os tempos delicados se recordem
Trazendo nova vida para mim...

2104


Sentindo em teu perfume o meu desejo
De ter e ser o sonho mais gostoso
Roubando desta luz cada lampejo,
Fazendo o nosso mundo tão charmoso...

Vivendo a fantasia em cada beijo,
Tornando nossa vida eterno gozo.
Olhando nos teus olhos sempre vejo
O mundo que pretendo; fabuloso...

Teu corpo contra o meu; a noite inteira
Delícias e carinhos neste enlace
Tomados por paixão tão verdadeira.

Tuas costas desnudas... Sensual
Tango nos aproxima. Não disfarce
Esta alegria intensa... Amor fatal...

2105

Acendo tua chama em meu desejo
Nesta ânsia de poder te cultivar
Regada com prazer e muito beijo,
Depois numa ventura decolar...

Assim do lago azul de onde te vejo
A ninfa mais gostosa a se banhar,
Na taça dos prazeres eu prevejo
Esta vontade imensa. Embriagar...

Dançar tua nudez a noite inteira,
Depois sem ter segredos, teu descanso.
Visão desta vontade qual fogueira

Que teima em nos queimar, a pira acesa
Voluptuosamente, mas tão manso,
Tomar-te enfim comigo, com certe
za...

2106

Desejo que incendeia; acesa chama,

Que toma nossos corpos, nos invade.

A tua voz sedenta já me chama,

Não posso resistir. Amor quem há-de?

Enveredar meu mundo em tua trama

Vem logo, não permita que se tarde

Tanta alucinação em nossa cama,

Amor que nos sustenta, queimando, arde...

Vestidos da nudez tão desejosa,

Amor tão envolvente e vigilante,

Na forma sensual e tão gostosa,

Da fêmea tão esguia e delicada,

Vivemos neste templo, amor bacante

Minha alma na tua alma seqüestrada...

2107

O rei que conheceste morre aos poucos,
sem ouro e sem castelo, sem gibão.
Nem gritos que se espalhem, fortes, roucos,
apenas aguardando a solução

daquilo que sonhara mas não veio,
da moça que princesa não vingou.
Restando uma lembrança feita seio,
e o tempo que, inclemente, já passou.

Agora, este reinado segue pobre,
deixado quase ao léu, desolação.
Do rei que se fez luto em devoção,

nem mesmo a sua origem, rica e nobre
o salva da tempesta que se fez,
do amor que se findou: insensatez...

2108

Sentir em teu carinho o vendaval
Que invade o pensamento e me domina
No toque tão sereno e sensual
A boca delicada da menina

Que é minha em meu desejo, bem e mal,
Seduz, desaparece e me alucina
Ao mesmo tempo angélica e fatal
Futuro tão incerto descortina...

Mas amo essa mulher doce, inconstante,
Que foge de meus dedos já se esfuma.
Quem dera se pudesse ser amante

Constante desta amada criatura
Que sabe que conquista e voa; pluma,
Na imagem tão sedenta e sempre pura...

2109


A terra se esparrama em vento e pó,
deitada sob o sol, enlanguescida.
Na cruz de tantas almas, vento só
deixando para trás restos de vida.

Quem veio dos engenhos e moendas,
já sabe e reconhece uma amizade.
Sertão, princesas, reis, castelos,lendas.
Apenas resta a seca, na verdade.

Esfinges que encontrei pelo caminho,
as velhas carpideiras da esperança.
A sorte de não ser ermo e sozinho
criando com meus sonhos aliança,

ferrenhas ilusões que se perderam,
nas léguas que meus olhos já venceram.

2110

Invadir o teu corpo com carícias
Tomando teu desejo para mim.
Formando em nosso amor tantas delícias
Vibrando sem parar, chegar enfim

A todo este prazer, tantas malícias,
Mil êxtases roubados sem ter fim,
Em nosso corpo as marcas das sevícias,
Mordidas, cicatrizes, quero sim...

Lambendo tua pele tão suada,
No sal tão desejoso, me afogar.
Rompendo a noite inteira, a madrugada

Orgástico delírio consoante,
E louco sem juízo, me entregar
Aos braços da mulher, divina amante...

2111

Tocado pelo beijo mais ardente
Com rara sensação, em frenesi.
Vivendo o teu desejo, tão somente
Encontro esta emoção, vivo por ti...

Amor que quando vejo é tão urgente
E nele sem perdão, eu me perdi
Não é só um lampejo, é diferente
De toda essa ilusão que já vivi...

Eu quero te tocar, tirar teu eixo,
Rolarmos como pedras, cachoeiras,
Teu corpo navegar, ser cada seixo

Envolto pelas águas desejosas.
Roçando tuas margens, curvas, beiras
Beber de tuas fontes prazerosas

2112

Roubando toda a cena com magia

Os pelos eriçados... Nossa dança

Repleta de paixão, fome e alegria

Nos dá o que se pede com pujança;



Mescladas nossas pernas se confundem

Emergindo em teu desejo, se misturam

Os lábios, nossas línguas já se fundem



Na embriaguez profana e tão divina.

Invado teus caminhos que me curam

De toda esta loucura... Vem, menina...

2113


Eu te amo e já não nego o sentimento
Que toma, que avassala e não mais calo.
O gosto de teus lábios num momento
É tudo o que eu queria, sou vassalo

Das noites que passei, duro tormento
Buscando o teu carinho...Nada falo
Senão deste desejo. Às vezes tento,
Disfarço... Mas não canso de sonhá-lo.

Dos pampas, o perfume vem em versos
Invade
o pensamento me tocando.
Embora em universos tão diversos,

A brisa vem chegando devagar...
Pois saiba que vieste me tomando
E posso enfim dizer: é bom te amar...

2114


Serenidade aplaca esta fadiga
Dos olhos tão cansados da mesmice.
De tudo o que em outra hora amor me disse
Apenas amizade se bendiga

Nos ventos que mostraram tão antiga
Vontade de saber qualquer tolice
Aguardo uma resposta que previsse
A sorte sem temor que desabriga.

Recebo os teus afetos, ombros, lábios,
E sinto que esqueci; dos alfarrábios,
Verdades que já foram mais exatas.

Querida, dos teus ombros quero a boca,
Da boca vou querendo seio e toca,
Quero adentrar, amiga, doces matas...

2115

Meu coração nos guizos da alegria

Se esbalda em tanto amor que te queria,

E mostras com sorriso toda a festa



que gesta um coração apaixonado,

num êxtase tão puro e delicado,

Entrando sutilmente pela fresta



Aberta por Cupido no meu peito.

Assim eu passo a vida, satisfeito,

Por ter o teu amor aqui comigo.



Não temo mais o frio desta noite

Nem sei de uma tristeza, vil açoite

Que corta e nos infesta e traz perigo...



Amor reinando sempre em nosso caso,

Impede que ressurja num ocaso

A dor que fora minha companheira.

2116


Cansei da contramão, quero ir em frente,
Não vou mais babar ovo da donzela
Que mostra com sorriso garra e dente
E finge que não falo assim, para ela.

Balango muito beiço, de repente,
Mas nada de fazer uma esparrela,
Esperneando muito, não se sente,
Porém eu vou vazar, senão pau mela

E fico sem ninguém, sozinho, à míngua,
Secando minha boca, queimo a língua
E nada de fazer o que Deus manda,

A maionese estraga se desanda
A calça vai furada nos fundilhos
E a moça fecha as pernas, trava os trilhos.,..

2117

A força deste beijo não sacia
A quem louco desejo explode em fogo,
Por mais que tanto amor eu sei que havia
Preciso muito além que um simples jogo.

Eu quero uma paixão cega e vadia,
Que venha derramar-se em desafogo,
No gozo abençoando o dia a dia,
Sem roupas e juízo. Venha logo

Que a chama não se aplaca só com sarro,
No banco da pracinha, mato ou carro,
Eu quero intensidade sem frescura,

Não traga mais um álibi, querida,
Que a noite tem que ser bem resolvida,
Senão o amor padece na secura...

2118


Me recordo, criança temerária;
Acácias no jardim da minha casa...
A dor dessa saudade; vem, arrasa
Quem fora, um dia, vida libertária.

A saudade voando, procelária,
Me traz a sensação cruel da brasa;
O trem da juventude, já s’atrasa,
Deixando tão somente essa cor vária.

Nas flores tão singelas dessa acácia,
Seus cachos amarelos, na fáscia
Dos sentimentos, cortam, fundo talho...

Quem soube de meus dias, já se vai.
A tarde d’existência, triste, cai...
Sobrando do meu mundo, um só retalho...

(Saudades das acácias que perdi,
Quando era tão feliz, por ser criança,
As acácias não saem da lembrança;
São marcas desse tempo que vivi!)

2119

- TE AMO DEMAIS - Acácia

O mundo me detesta, disso eu sei.
Não tenho nem promessas nem esperas...
O rastro das tristezas que causei,
Me levam aos caminhos das quimeras...

Nos prados das saudades fui o rei.
Vencido por batalhas, priscas eras.
Desgraças que, por certo, te causei,
As dores atacando, duras feras.

Agora me perdoes se és capaz.
O mundo não deseja tal falácia...
Eu quero teu amor, preciso paz.

A vida se demora mas, audaz,
Sabendo-me mortal, eu sou tenaz,
Amor é imortal, por ti Acácia

2120

Mergulho no teu corpo e sou sincero,
Não temo uma incerteza, nenhum mal.
Amor que não machuca? Não o quero,
Entranho no teu pélago abissal.

Escracho os meus sentidos; vivo e, fero,
Das cordilheiras faço o meu bornal,
Patamares longínquos onde espero
O precipício insano, desigual.

Não teimo, pouco temo e assim me crio,
Frutas maduras, gozos e pomares,
Na cama onde desfruto tetas, cio,

Talheres que permitem bons jantares.
Morena. Vem, aqueça que está frio,
Esparramando estrelas e luares...

2121

Deitada sob a lua, nua em pelo,
Coberta pelos raios desta lua,
Ao vê-la não resisto ao teu apelo
E a saga de querer-te continua...

Te beijo, delicado e desejoso,
Meus lábios percorrendo teus caminhos
Até te conhecer, voluptuoso
Sorvendo cada toque, mil carinhos...

Na areia, sob a lua, sob o sol,
Coberta por meu corpo, alas abertas,
Eu sou teu mensageiro, o teu lençol

E trago mil prazeres, não se espante.
As nossas peles nuas, descobertas,
Entornam-se em delírios, neste instante...

2122

Guria; tanto quero o teu querer
Estar entre teus braços: ser feliz!
Tomando todo o corpo em tal prazer
Da vida que sonhei e sempre quis.

Tu és deveras guapa, minha sina...
Carrego nosso amor dentro do peito
Tua presença sempre me ilumina
Deixando o meu cantar mais satisfeito.

Meu coração em festa te esperando
Nos altos das montanhas, peito aberto.
Tu sabes quanto estou me enamorando
Da flor que já nasceu em meu deserto.

Aguardo este teu canto, amor pampeiro
Que invade o coração deste mineiro...

2123

Amor é como nódoa que não sai
Por mais que a gente tenta, nos entranha,
Se eu bobear, fincou pé, nunca vai
Embora e deixa a vida entregue à sanha

Que assanha enquanto o nervo se contrai,
Cupim que ao derrubar uma montanha,
Se a gente num momento se distrai
A queda que se faz fica tamanha

Assim nada sustenta, e ruí depressa,
Azeda o dia a dia, traz jiló,
Depois não adianta nem compressa

A chaga se aprofunda numa escara,
Amor é sem limite e não tem dó,
Escarra enquanto lambe a minha cara...

2124


Colando grau na base da porrada,
Beirando os precipícios no caminho,
Vagando vagabundo pela estrada,
Piquei a mula logo bem cedinho

E varejei a sorte na beirada
Do podre lamaçal de ser sozinho.
A liberdade é sempre ensangüentada,
Rasgada pelas garras de um ancinho

Aberta a cova rasa onde a semente
Depois de bem aguada, brota e segue
Crescendo, frutifica em esperança.

Mas aprendi no alpendre da saudade,
Que ao lado de quem temos amizade,
A vida bem mais fácil, cedo avança...

2125


Beijando mansamente tua boca,
Mordendo devagar a tua orelha,
Roçando tua nuca em noite louca,
Acesa esta vontade... na centelha

Que abrasa neste incêndio dos sentidos,
Numa ardorosa cena em nossa cama,
À toda flamejantes as libidos
Os braços enveredam cada trama.

Desvendo teus segredos, te desnudo,
E tomo o teu prazer como destino.
Voluptuosamente; quero tudo,
Desde o princípio ao fim em desatino...

E penetrar com calma e com vontade
A porta que sonhei: felicidade!

2126


Cuspindo a labareda, fogo intenso.
Paixão desarvorando faz a festa,
Vereda percorrida, sol imenso,
Gestando a vida nova na floresta

Do peito que se embarga, quente e denso,
Num ar que sem limites tudo empesta,
O passo caminheiro, segue tenso,
Sabendo do que o tem e do que resta.

A morte chegará mais cedo ou tarde,
Porém a prata cai em lua cheia,
Na labareda fátua que incendeia

Deixando o peito amante em puro alarde,
Nas asas afiadas da incerteza,
Amor sem ter aviso e nem defesa.

2127

Tocaia que se faz: ponta/peixeira
Na beira de uma estrada sem destino.
Assim, por vezes paga-se a besteira
Que traz amor malandro em desafino.

Clarão de espada, sina traiçoeira
Guardada numa esquina, desatino.
Não posso permitir que a pasmaceira
Destrua cada sonho de um menino

Que foi e não será jamais, quem dera,
A vida não renova a primavera
Apenas temporã, outra florada,

Criado em lamaçal, pântano, mangue,
Conheço o gosto em sal, suor em sangue
Mas
cismo em percorrer a mesma estrada...

2128


Querida; o nosso amor, puro naufrágio
Que em água nos lavou, abençoando.
Um bote da esperança saltando ágil,
Refaz em vento forte alvoroçando,

Por mais que consideres ser bem frágil,
Viver tem seu porque, por isso quando
A vida te cobrar em dor seu ágio,
Repare que isto vai, logo passando

As mágoas noutras águas vão pro mar
Distante destas lágrimas que caem,
Por mais que as ilusões decerto traem

Valeu a pena apenas por sonhar,
Um aguaceiro imenso limpa o couro,
E cobre amor, banhando o gozo em ouro...

2129

Quando te vi depois de uma balada,
Tão bêbada de sol e de esperança.
Chegando desigual trouxe alvorada
Em réstias e luzeiros, que festança!

Um resto com a face deformada
Encontra seu espelho. A vida avança
No rosto da mulher desfigurada
Moldada dos pavores na lembrança.

Querendo descansar e tão somente
Fazer do quase nada algo que preste,
Assim eu te encontrei, podre semente

Que tem no meu amor, fértil terreno,
Da merda que nós somos, que se infeste
Amor dos excluídos, forte e pleno.

2130


Ao me perder em vagos pensamentos,
Bem longe do que um dia fora festa,
Tomado por estranhos sentimentos,
Do que já fui, querida, nada resta.

Os olhos se queimando, os meus rebentos
Que a vida já abortou – pois nada presta-
Procuro tão somente por ungüentos
Que possam amainar esta tempesta.

Acelerando o sonho, viro a curva
E aguardo a redenção que feita em chuva
Trará
para a lavoura a floração.

Nos braços de uma nova companheira,
Que possa ser, quem sabe, a derradeira,
Espalhando esmeraldas no sertão...

2131

O dia prometido, na manhã
Que traz em sangramento, o novo dia,
Deixando uma palavra solta e vã
Causando em nosso amor, hemorragia.

A sorte se fazendo bem malsã
Transporta a tempestade em agonia,
Quem dera se a esperança guardiã
Mostrasse sua face em harmonia.

Ao ver o teu sorriso desdenhoso,
Eu lembro-me do beijo feito em gozo,
Agora desfilando em outra tez

Pressinto que não tenho quase nada,
Quem dera ressurgisse na alvorada
O amor que bem distante, a gente fez...

2132

A vida toma assento, qual poeira
Que após um forte vento, sossegou.
Saudade que já fora matadeira
Aos poucos, devagar já se amainou.

Quem sabe valorar a companheira
Entende muito bem o que passou.
A pedra no caminho, uma besteira,
A fonte da esperança balançou.

O quase que termina dói demais,
E o sol vira mormaço e queima lento,
Ardendo e maltratando quem sonhava

Poder amar além e muito mais.
A rosa renasceu do sofrimento,
Fertilizando o solo outrora lava...

2133

Bagunça o meu coreto esta vadia
Que quando beija, cospe e vai sorrindo,
Se eu peço que me esquente, ela me esfria
Se eu quebro a minha cara; diz: - Que lindo!

Um espinho cravado na garganta,
Um tapa que estalou na minha face,
A sorte quando chega, a vada espanta,
E vive se escondendo num disfarce

De meiga donzelinha, moça pura.
Quem vê a sua cara de menina,
Não imagina a sina que tortura,
Que lambe, faz amor, e me domina.

No sim e não disfarço a dura luta,
Rainha da sandice, deusa e puta...

2134

Todos os meus prazeres traduzidos
Nos olhos e nos lábios desta amada.
Depois de tantos mares percorridos,
A noite se apazigua, alucinada...

Nos claustros que vivera, em solidão,
Amarga sensação de desventura.
Buscando uma energia de carvão,
Queimando meu amor em tanta agrura.

Depois deste silêncio fragoroso
Depois destas desditas sem final.
Depois deste viver tão tenebroso,
Depois desta saudade que é fatal.

Encontro nos teus lábios, meu sossego;
Deitando no teu colo, um aconchego...

2135

Eu quero em teu desejo mergulhar
Sorvendo tua boca junto à minha.
O vento que te trouxe vai mostrar
A fome que me cerca e se avizinha...

Aos poucos, sentimento desnudar
E ter toda a certeza que se tinha
Da vontade enorme de te amar,
Sem medos nem segredos... À noitinha...

Beber de tua boca inebriante
Rasgar as nossas vestes ser teu homem.
E te trazer prazer forte e vibrante.

A resposta eu bem sei que continua
Na fome com que os corpos se consomem
Na sede de te ter, deitada e nua...

2136


Eu quero te tocar, beijar inteira;
E desfrutar do gosto do prazer
Roçar tua nudez tão verdadeira
Sem medos, com vontade de te ter...

A boca mansamente, na roseira
Bem sabe dos espinhos. Mas quer crer
Que és minha nessa noite. A rosa cheira
Todo o perfume intenso do teu ser.

Inebriado sinto o teu perfume
E passo toda noite a vasculhar
Deixando já de lado o teu ciúme,

Roubando calmamente o teu desejo.
Sentindo toda a terra se encharcar
Desta umidade densa em nosso beijo..

2137

Venha aqui comigo, amor não temas,
Noite qual criança sem juízo
Te chama a conhecer de perto as gemas
Que são como portais do paraíso...

Amar demais concebe nossos lemas
E cada vez mais forte e mais conciso,
Subirmos nossos rios, piracemas,
Nos cios se tornando mais preciso...

Eu quero o teu sussurro em meu ouvido,
Falando o que bem sabes que desejo.
O fogo em que queimamos, não duvido

É tudo o que queremos. Eu me atiro
Em frente à tua boca e peço beijo,
Depois... Só quero ouvir o teu suspiro...

2138


Acusar quem tanto amou, louco mistério,
Nada mais que matar, ser qualquer um.
Preparas meu caminho, deletério,
Avanço e sou vencido, isso é comum.

Amor que tanto eu quis, fugindo etéreo,
Descarta-me sem paz ou rumo algum.
A vida que exigira mais critério
Não me deixa mais nada, vou nenhum.

Certamente, pensaste ser imensa.
Quem mata, simplesmente nunca explica,
As dores que me causas, recompensa?

O medo dilacera e tudo pui,
O tapa que me dás, luva e pelica?
Só sei que meu castelo, cai e rui...

2139

Que Deus não me permita a sensação
De ter seguido a vida em triste volta,
Sem ter sequer alguma atracação
Ao barco que se fez pura revolta.

A vida sem amor, sempre em senão,
Uma imaginação que não se solta,
A morte protegendo e dando escolta
No fundo traz sabor de salvação.

Que a vida inda sorria, pelo menos
Alguns segundos antes da partida.
Cansado de tragar tantos venenos,

Eu busco em ledo amor, uma saída,
Que enfim redima a vida que resiste,
Mesmo saudosa; absorta e sempre triste...

2140

As lágrimas que descem de teus olhos
Evaporando em nuvens, com certeza,
Aguando as flores, gramas, os abrolhos,
Descendo pelo rio em correnteza

Serão
colhidas, rosas, nestes molhos
Nos vasos, salas, quartos, com beleza,
Abrindo e libertando dos ferrolhos
Encantando-nos, postas sobre a mesa.

Das lágrimas às rosas transmudadas,
A vida nos permite ter, de fato,
O sonho feito em gnomos, deuses, fadas,

Por isso não permita que o regato
Se seque, pois assim, nossa emoção
Jamais regalará um coração...

2141


Quando a morte vier subitamente
E cerrando meus olhos sonhadores,
Espero que tu saibas, novamente
Que em ti eu descobri as veras flores

Cevadas com carinho, simplesmente,
E nelas, as belezas e os pendores
Que quem ama, decerto sabe e sente.
Mas peço-te; me leve aonde fores,

E mesmo que outros braços te entrelacem
Não deixe apodrecer nosso jardim.
Pois que as flores não morram na coroa

Jogada sobre o túmulo. Que tracem
Ao menos um retrato do que em mim
Guardaste
antes que a noite leve, à toa...


Para Rita de Cássia

2142


Vieste em calmaria e tempestade
De um jeito tão sutil, alucinante.
Bebendo desta fonte da verdade
Tornando nosso o canto deste instante.

No campo, no quintal ou na cidade,
O verbo conjugado delirante,
Em todos os momentos de saudade,
Amor que se fez belo, amigo, amante...

Depois de certo tempo, mais presente,
Às vezes com as garras afiadas,
Amar foi se tornando de repente

Urgente em nossas vidas, nosso canto.
As bocas se procuram, 'stão molhadas
Na busca mais concreta deste encanto...

2143

O toque da paixão e do desejo
Boca e coração se misturando.
Na cama e sutileza deste beijo,
Um fogo angelical nos dominando...

Cada vez que mais te sinto, o bem prevejo
E quero que tu saibas me enlevando
Ao céu que se ilumina em azulejo,
Te quero desde já, sentir tocando

O céu de minha boca com a língua
O céu do meu amor com mansa fala,
Amor assim gostoso nunca míngua,

Vigora e revigora a cada canto,
Do quarto, porta aberta seio e sala,
Vibrando desejoso em teu encanto...

2144


Brindemos, companheiros mais diletos
Ao nosso amigo/irmão que hoje completa
Mais um ano de vida. A nossa meta
Permite que sigamos rumos retos

Em busca dos prazeres prediletos
Que a vida nos mostrou. A sorte injeta
Em nossa caminhada, somos seta
Lançadas pelos braços mais corretos

De um Deus que demonstrando o seu carinho
Deixou pra nos livrar de pedra/espinho
Um anjo que em perfeita sincronia

Transforma uma tristeza em alegria,
Mostrando-se mais forte e solidário.
Ao anjo, pois, feliz aniversário!

2145

- SIM, EU TE AMO ( Ada )

Mulher dos meus delírios e defeitos,
Espero teu carinho e tua glória.
Não sigo por caminhos mais perfeitos,
A dor que me consome, na memória.

O verde de teus olhos, mansos leitos,
As matas que carregam minha história.
Persigo, nas vontades, tantos pleitos.
A luta que travamos, peremptória...

Amada que não queixa nem ciúme,
Amada que feliz, permite sonho....
Não posso ter de ti qualquer queixume;

Encontro-te nos olhos desta fada
Futuro; nos teus braços, mais risonho.
És próspera mulher, meus sonhos, ADA!

2146


Minha açucena, bela, porém álgica...
Nasceste em jardim fúnebre, nostálgico
A vida me ensinou, defesa antálgica,
Um coração tão frio fosse plástico...

Minha açucena, flor de minha vida...
Quem nasce em tal jardim, recende a dor...
De todas cercanias, esquecida,
A beleza sutil, mágica flor...

Açucena, serena companheira...
Não me deixes sozinho, eu tanto peço...
És brilho de esperança verdadeira...

És o que me restou desse universo!
Resplendes toda a luz, minha existência!
Açucena, não vás... Peço clemência!

2147


Distante de teus braços... Onde estás?
Rastreio por teus passos, nada vejo.
Perdendo o meu juízo perco a paz,
A dor de tua ausência, eu antevejo...

Somente o vento frio, a chuva traz;
Recordo da delícia de teu beijo
Será que depois disso sou capaz?
Viver sempre ao teu lado... Meu desejo...

E sinto o teu perfume, tua mão...
Tocando minha pele, abro um sorriso...
Teu beijo sensual... A tentação...

E deito nos teus braços, me enovelo.
Em tua pele nua me matizo...
Seguro, no galope, o teu cabelo...

2148


Sejamos mais burgueses, minha amiga;
Vistamos nossa roupa de domingo
Lancemos nossa sorte em cada bingo,
Que um dia, com certeza ela respinga.

Que a vida sem mudança já prossiga
Goteira se fazendo pingo a pingo,
Se não vier a sorte então me vingo
E bebo no boteco, loura e pinga.

Bater cartão de ponto na chegada,
Fechando o relatório, fim de mês,
Salário vai minguando, mas que nada,

Razão deve ser dada pro freguês.
Depois, apago a luz, e vêm as crises,
A lipo, o silicone até varizes...

2149


Amigo bem mais fácil que tu pensas
Criar da podridão a flor perfeita,
Precisa-se; entretanto, ser aceita
Nas faces deformadas, recompensas.

A morte agradecida se às expensas
De todo misticismo sendo feita
Na cama que criares, já se deita
A lama das injúrias, das ofensas.

Assim são feitos todos os heróis,
Brilhando sobre nós como mil sóis,
Os homens mais perfeitos destes mundos,

Moisés, Jacó, Davi, são exemplares,
Capazes de traições em lupanares,
Consagrados, porém; no fundo, imundos...

2150


Preciso destilar a tua imagem,
Purificar a vida que deixamos
Distante do que fomos e pensamos
Apenas como fátua, uma miragem.

Limpando da memória, esta visagem,
Aparando, bem fundo, os podres ramos
Cortando as amarguras que enfrentamos,
Fazendo, na verdade, uma montagem

Para que possa, amada, ter mais forte
Tua lembrança viva em perfeição.
O perdão absoluto pós a morte

Não deixa que eu polua com detalhes
O amor que, na verdade, uma ilusão
Resiste aos cortes fundos, aos entalhes...

2151

- A MAGIA DO AMOR - Açucena...

Mergulho no oceano dos encantos,
Palácios e princesas, sei de cor.
Não temo nem as urzes, desencantos,
A vida me guardou seu bem maior!

Alvores e manhãs magas belezas,
Meu reino entre diversos, maravilha...
Searas de ternura e de riquezas,
Nos perfumes e cores, flores, tília...

Escuto estas cantigas nos umbrais,
A vida, com certeza, vale a pena.
A noite me promete festivais,

Prateando com a lua, toda a cena.
Deslindam-se loucuras imortais.
Na beleza tão pura de Açucena!

2152


Quando te vi, bem menina,
Nunca eu poderia crer
Destino me desatina,
Sem ter nem vez nem por que,

Ao aprontar me destina
À sina do bem querer.
Na doce luz que fascina,
Teus olhos, puro prazer.

Menina-moça tão bela,
Do embrião virou sereia,
Agora arrasa, incendeia,

No meu céu rainha/estrela.
Nas cordas do violão
Acordou meu coração..

2153


Quantos caminhos levam ‘té chegar
Aos lábios de quem amo; não os sei.
Porém procuro aqui adivinhar
Outonos, primaveras que passei.

Os passos em mil passos trafegar
Por bondes, cercanias que encontrei
Fazendo este percurso devagar,
Sinais que pela estrada ali deixei,

Desembocando em rios, foz e fúria,
Atracadouros vários, mar distante.
Castelos, alamedas, tanta incúria,

Em cravos, rosa, espinhos, pedra e montes.
Paises, continentes, luas, fontes,
Até chegar ao beijo num rompante...

2154


Neste sonho ardoroso que nos toca,
As bocas se procuram, sede tanta...
O meu olhar no teu quando se enfoca
Desejo bem mais sorte se agiganta.

Carícias que trocadas nos aquecem
E fazem delirar quem bem se quer,
Os lábios, aos desejos obedecem,
Na busca da menina, da mulher...

Abraço-te com calma e com vontade
De ter teu corpo junto, sempre ao meu,
Nos sonhos (quem me dera) a realidade

Distante. Essa promessa de alegria
No vento em mil carinhos me aqueceu...
Acordo e quando vejo... Fantasia...

2155


Amada, me perdoe se eu saí
E nem me despedi de ti, querida;
No teu rosto; um sorriso lindo eu vi
E não quis te acordar. A despedida

Iria interromper teu doce sonho.
Tu sabes que eu te adoro, minha amada;
Ao ver teu rosto belo e tão risonho
Não quis atrapalhar. Não falei nada...

A noite que passamos... Que delícia.
De tudo desfrutamos sem temor.
Nossos corpos com arte e com perícia
Nesta entrega divina ao deus do amor...

Falar o que? Prefiro ficar mudo,
Teus lábios já disseram quase tudo...

2156

Amor sendo sublime como o nosso,
Perfeito, sem mentiras ou promessas,
Conhece seus limites. Onde posso,
Se posso, se não posso, sem ter pressas.

O mundo que vivemos, sendo frágil,
Não pode suportar amor tão grande.
A vida tantas vezes cobra em ágio
Aquilo que oferece, mal desande.

Mas nosso amor beirando a perfeição
Não deixa-se quebrar nem jamais verga
Ao vento da mentira, à tentação
À qual quem já sucumbe nada enxerga.

Amor feito da carne na alma entranha
Força descomunal, sorte tamanha!

2157

Não sentirás o frio, com certeza.
Estarei ao teu lado te aquecendo.
Beijando tua boca e com destreza
Aos poucos mansamente percebendo

A doce perfeição desta beleza
Que em meus braços deita, revertendo
Aquela perspectiva de tristeza
Que em minha vida estava só crescendo...

Deitar o meu desejo em teu desejo,
Amar-te sem ter medo, inteiro... tanto...
Delícias de um banquete que prevejo

Nas noites friorentas; minuano?
Pode ficar tranqüila que eu espanto,
Envolto em nosso amor que é soberano...

2158

Quisera ver a face do canalha
Que guarda em podridão, falsa virtude,
Ao diversificar cada atitude
Esconde atrás da mão fria navalha.

Embora a minha vida seja falha,
- Rasguei o que sobrou de juventude,
Fiz muito aquém daquilo que já pude
E usei as minhas costas qual cangalha.

Verti alguns dos sonhos em perigo,
Cuspi no próprio prato que comi,
Mas não traí, decerto um grande amigo,

Nem mesmo do que fui eu me esqueci.
Agora este calhorda que se esconde,
Depressa, não perdeu nem rumo ou bonde...

2159


Sentindo o teu olhar qual doce mel
Que mostra tal doçura que me encanta.
Levando o meu desejo para o céu
Forrando de alegria, a vida; tanta...

Viajo ao infinito, em teu corcel,
Neste galope lindo não se espanta.
Descendo uma cascata, denso véu,
Que em fascinante lua voa e canta.

Teu brilho é tão mais forte quanto o sol,
Num beijo assim suave se revela
A força deste olhar, lume e farol...

Não tema deste amor nenhum segredo,
Que o tempo mostrará como é singela
A música do amor. Não tenhas medo....

2160


Querida, nestes raios os meus braços,
Buscando te afagar, tocar-te inteira...
O mar vai me levando, cruzo espaços
Até chegar aí... Livre, altaneira

Minha alma irá cercar-te de mormaços.
No brilho de uma vida verdadeira,
Cobrir-te de mil beijos, nos abraços
Fazer do nosso amor, sua bandeira.

Cantar me teus ouvidos belo cântico
Que faças me sentir, colado a ti.
Mesmo que nos afaste o grande Atlântico,

Eu sinto que te encontro e quero amar,
Além de todo espaço estou aí
Chegando nesta areia, aporto o mar...

2161

Eu quero te sentir, tocar, saber;
Adentrar mil caminhos tuas sendas.
A mais bela menina; pude ver,
Entre todas gurias, tantas prendas...

No teu colo deitar, boca sorver
E te peço, meus rumos que desvendas
São todos os campos do prazer
Sem mentiras e farsas, não são lendas...

Receber teu carinho, sem enganos,
Na guaiaca levando o teu amor.
Não me importam nem frios minuanos

Se tenho teu calor já me aquecendo
Na distância, meu mundo a recompor,
No amargo esta saudade vou bebendo...

2162

- UMA ESPERANÇA - ( Adelaide )

Mundo cruel, fizeste-me plebeu...
Quem dera se pudesse fosses minha...
A noite esconderia o triste breu,
A vida não seria mais sozinha...

Meu coração, outrora vil, ateu,
Encontraria luzes, velas, linha.
Seguiria caminho todo meu,
Distante da gaiola em que se aninha...

Ah! Como a solidão, medonha fera,
Esfrega suas garras no meu peito.
O mundo que sonhei se degenera.

Ao menos se pudesse ser alcaide,
Decerto, assim tivesse jeito
De poder vislumbrar bela Adelaide!

2163


De uma amargura imensa, bem curtida,
A pele que desnudo frente a ti,
Imagem de minha alma já vencida,
Jogada num esgoto, onde perdi

A sorte de saber da dolorida
Estrada que por vezes não segui.
O bem que me negaste, a própria vida,
Encontro mais alhures do que aqui.

Porejo um sujo sangue quase anêmico,
Que sei nunca terá nem serventia.
Meu verso se faz tolo e verte em lama

Mostrando
que este efeito, sendo cênico,
Qualquer significado não valia,
Apenas fogo fátuo, sem ter chama...

2164

Rasgando o coração, entregue às moscas,
Jogado na lixeira da esperança;
As luzes que sobraram sendo foscas,
Não podem permitir sequer a dança.

Palavras na verdade sendo toscas,
Escondem a falência sem festança
Do amor que nunca teve por fiança
Nem mesmo as mãos distantes onde enroscas

As falsas gargantilhas que me deste,
Correntes que rompi, faz tanto tempo.
Amar não é somente um simples teste

Nem jogo feito em frases sem sentido.
É mais do que brincar, um passatempo,
É necessário ter o couro bem curtido...

2165

Eu quero esse mergulho bem profundo
Nas águas deste sonho, sem temores.
Vivendo o sentimento, num segundo,
Teus olhos são dois belos refletores

Que lançam tuas luzes pelo mundo,
Só sigo estes teus rastros sedutores...
Da paz deste carinho já me inundo
Sorvendo teu amor sem ter amores...

Querida, não me deixe mais, te peço,
Tu és a glória infinda de viver.
Eu amo bem além e te confesso,

Não tenho mais vontade se fugir
Deitando do teu lado meus prazeres,
Amar-te sem limites.... Vim pedir...

2166

Um velho repentista me dizia
Que a vida vai virando um triste aboio,
A gente feito gado segue o arroio
E desce procurando uma alegria.

O gosto desta sorte dando azia,
É feito muitas vezes só de joio,
A queda que se faz em pleno apoio,
É tudo o que demonstra a noite fria

Aonde os namorados bebem mágoa,
Nos mesmos desencontros desta vida,
Que tendo a qualidade feita em água,

Matando a sede quase nos afoga,
Assim, uma amizade traz saída,
Amor cura, envenena, feito droga...

2167

Qual pútrido canino que rasteja
Atrás de sua dona, rua abaixo.
Às vezes meu amor, eu também acho
Que é desta forma imunda que deseja

Lambendo a bota suja, mas sobeja
Eu vago sem destino, então me agacho
Em busca do que resta, mesmo um facho
Da lua aonde finges sertaneja.

Um verme talvez fosse mais presente,
Ao menos poderia ser malvisto.
Não sabes na verdade, nem se existo,

Apenas me quiseste na corrente,
Porém mesmo este cão quer na verdade,
Um resto de comida: a liberdade...

2168

Meu verso derradeiro, na verdade,
Espera um pouco mais para nascer
E sei que ele dirá de uma amizade,
Razão fundamental para o prazer.

Não deve demorar, a vida é curta,
Ainda mais querida pra quem sabe
Que o tempo de viver cedo se furta
Nos braços da doença onde já cabe

As pernas que decerto perderei,
Os olhos que se vão, bem lentamente.
Mas disso tudo amiga eu guardarei,
Resquícios do que tive, veramente.

Amigos que encontrei pelo caminho,
Embora, com certeza, eu vá sozinho...

2169

A dor como constante companheira
Talvez tenha um disfarce até bem feito,
Trazendo o meu sorriso insatisfeito
Mostrando uma carcaça qual bandeira.

O podre de minha alma varejeira
Podendo te assustar, vai contrafeito
Vestindo de um perfume, trama em leito
Aquilo
que perdeu a vida inteira.

Não veja minha amada, o meu sorriso,
É quase desdentado e não tem brilho.
O passo no percurso falsifico,

E tendo bem distante o paraíso,
Invento a cada verso um novo trilho,
E finjo de esperanças ser bem rico...

2170


Desculpe se pareço sensual,
Amiga, na verdade eu nada sinto,
Senão uma certeza aonde minto,
E faço por fazer meu ritual

De simplesmente andar noutro bornal,
Aconchegado ao corpo onde pressinto
Calor que se quiser, virando absinto
Trará um longo porre genial.

Porém como um falsário que se entrega
Aos mares de um corsário sem pudores,
No fundo minha amiga, as minhas dores

Caminham sem destino em rota cega.
A par do que não sou eu reconheço
Que a falta de visão gera o tropeço.

2171

Nosso amor entranhado de tal forma
Que nem sequer precisa de palavras...
O simples olhar basta e nos informa
Sabemos das colheitas e das lavras...

Encontro-te, respiro e já concebo
Vontades e desejo solto ao ar
Sorriso que ofereço e que recebo
Diz mais do que se fossemos falar...

Nós somos congruentes a tal ponto
Que nada nos separa nem mil milhas.
Amada, vem depressa que estou pronto
E quero te propor as maravilhas

Que somente este amor pode trazer,
Em ti, por ti...Contigo, vou viver...

2172

- TODO O NOSSO AMOR - ( Adalgisa )

Amor que me deu glória na verdade,
Espelha tanta luz, na calma brisa...
No peito me revela esta saudade,
As dores da existência ele exorcisa.

O templo da paixão, a claridade,
Nas mãos desta divina poetisa.
É lua que me cobre de vaidade,
É noite que, de bela, me hipnotiza...

Embalde procurei outra beleza,
A vida não me deixa outro sentido.
Na marca triunfal desta nobreza,

A mão que me acarinha forte e lisa;
Quem dera nunca mais haver perdido,
A lança da nobreza de Adalgisa...

2173

A sorte tanta vez emoldurava
A vida se mostrando em passo lento,
Ao mesmo tempo a dor se aproximava
Tomando já de assalto o pensamento.

Quem noutros tempos; mudo, se tornava
Ao perceber no fim, o sofrimento,
Carinhos e torturas, misturava,
Deixando a solidão como rebento.

Agora que encontrei na grande amiga
Açude de esperanças, santas águas,
Esqueço que passei por duras mágoas

E vejo o meu destino que se abriga
Nos braços da esperança benfazeja
Na qual uma amizade se deseja...

2174

Mulher maravilhosa; uma criança
Que o tempo esculturou em obra prima.
O vento tão gostoso da lembrança
Trazendo no teu peito tanta estima.

Na mão direita a rosa da esperança
No coração, amor fazendo rima.
Amor que já domina e não se cansa
De lhe trazer calor em qualquer clima.

No riso delicado, na loucura,
Os olhos radiantes do desejo.
Uma alma tão sutil, ardente e pura.

Nos sonhos um abraço da alegria,
Na boca ansiedade, quer o beijo
Nos lábios da ansiada fantasia...

2175


Eu quero me perder nos teus caminhos
Nos beijos mais sedentos converter
O mundo que sonhei em teu prazer,
Selando em tua pele mil carinhos,

Bebendo no teu corpo verdes vinhos
Em arrepios tantos perceber
Sussurros, nesta noite que vou ter
Contigo nos lençóis, sedas e linhos...

Lanhadas, minhas costas. Bocas, seios...
Deixar em desalinho os teus cabelos...
Descubro tuas minas, rios, veios

E deito do teu lado esta loucura
As pernas num balé nossos novelos,
Depois deitar em ti amor, ternura..,

2176

A tarde vem caindo... O medo chega...
Distante de quem amo me pergunto,
Se encontro do outro lado a mesma entrega.
Se ela também quisesse sonhar junto

Comigo! Certamente mais feliz;
Poderia viver intensamente
O gosto deste amor... A tarde diz
Que o frio chegará e novamente

Sozinho, tão vazio de esperanças
Apenas restará meu triste verso.
Quem dera se pudesse nas andanças
Levar-te com carinho aos universos

Que preparei somente pra te dar..
Nos meus braços... Somente este luar...

2177

Nessa noite eu quero que o luar
Invada esta janela do meu quarto,
Aos raios desejosos me entregar
Até dormir, cansado, morto... Farto...

Da teia dos teus braços sou refém
E não desejo nunca uma saída.
Tu és toda a certeza deste bem
Que é parte crucial de minha vida.

As emoções misturam-se, prazeres,
Entorpecido sigo noite afora,
Roçando nossos lábios, mil quereres,
Sabendo quanto é triste o ir-se embora.

Eu quero a solução mais ardorosa,
Na noite que vivemos; maviosa....

2178

Ao sentir a presença deste olhar
Tão meigo e carinhoso sobre mim
Sinto toda a delícia de te amar.
É bom demais viver e estar assim

Refém desta alegria a me tocar.
Depois de tanto tempo sei, enfim
Que a sorte benfazeja a se mostrar
Depois de tão distante disse sim.

Amar é se encontrar em plena festa
Embora muitas vezes, a saudade
Um gosto de amargura, leve; empresta.

O teu sorriso acalma e me motiva
À luta que é difícil, na verdade.
Mantendo uma esperança sempre viva!

2179


Amor pra ser demais precisa ceva,
A cada novo dia, bem regado.
Meu pensamento a ti, o vento leva
Transborda em meu viver enamorado.

Sem ti, o meu caminho em pura treva,
Eu quero ser pra sempre bem amado,
Em teu carinho, a vida já me enleva
Levando pouco a pouco pro teu lado.

Cultivo o sentimento mais querido
Que pude conhecer, amada minha.
Meu peito em teu amor vai aquecido,

No beijo salutar que nós trocamos.
Amor quando em amor logo se aninha
Mostrando há quanto tempo nos amamos

2180


Não falo quase nada, apenas sinto;
Na embriaguez suave deste canto,
Que é mais do que sonhara, tanto encanto
Total sensualidade de um absinto

Que bebo em tua boca. Amor, me tinto
Do gosto delicado que amo tanto;
Distante e tão presente. Não me espanto
Ao renascer assim vulcão extinto

Da sede e da volúpia de te ter
Colada com meu corpo; mãos e pele.
Vivendo a fantasia de um prazer

Dessa imensa euforia que respira
Cada poro. No fogo que compele
Nesta ânsia tão voraz, acende a pira...

2181

Querida; amor jamais nos manda aviso.
Vem simplesmente e toma o pensamento.
Depois de certo tempo, num sorriso,
Mal notamos, invade um sentimento

Que toma nossa vida. Um impreciso
Toque divinal feito num momento
Que vem nos demonstrar que o paraíso
Existe realmente, sem invento.

Vontade de tocar a boca, os lábios,
Sentir o teu respiro junto ao meu.
Sucumbem ao amor, mesmo os mais sábios

Não sabem e nem podem resistir
Ao te encontrar, meu mundo se perdeu
Dentro do teu. Ninguém vai me impedir!

2182


Mil fronteiras separam nossos sonhos,
Mas saibas que também sonho contigo.
Tu fazes os meus dias mais risonhos,
Meu verso nos teus braços quer abrigo...

Os dias se passaram tão tristonhos
Vieste iluminar e assim prossigo
Matando tantos medos mais medonhos,
Que falem, que perturbem, já não ligo...

Eu quero a tua boca e teu carinho,
Deitando do teu lado a fantasia.
Um sonho que se sonha se sozinho,

Apenas morre sonho. Outra verdade:
Se quando em outro sonho se extasia,
Quem sabe; de repente, é realidade?

2183


Procuro o teu olhar em toda parte
Nos céus e nas estrelas, noite e lua.
Meu Deus como eu queria enfim, achar-te,
Minha alma tão sozinha; continua...

A cada amanhecer procuro o olhar
Nos raios deste sol, mas nada vejo.
Onde talvez eu possa o encontrar,
Vai virando obsessão este desejo...

Um sentimento forte e tão singelo
Aos poucos me domina e não explico.
Apenas num momento quero vê-lo.
Pasmado sem sentidos, logo fico...

Depois de ter sofrido tanto assim,
Descubro o teu olhar... dentro de mim...

2184


Te estendo minhas mãos querida amiga
Na busca que é incessante pela sorte
Meu coração exposto em cada gesto
Sabendo; desse jeito, é bem mais forte

O canto em que louvamos o futuro.
Não deixe que este mundo nos afaste,
Uma amizade é porto bem seguro
E lume que protege contra o escuro.

Porém tanto desejo ter-te amiga
De noite, num vagar em nossa cama,
Meu peito no teu seio já se abriga

Incendeias com desejos minha chama,
Matando toda a dor, para que fossa?
Vem logo, companheira, a noite é nossa!

2185


Tu sonhas com serpentes em flagelo,
Despurodamente em noite franca.
Entrando nas entranhas um rastelo
Que arando, descobrindo antiga tranca

Adentra pelas tocas, guizo e festa,
Recende à tentação e ao paraíso
Na insana tempestade em cada fresta,
Maçãs, doces romãs, toque preciso.

Bebendo deste vinho em belo cálice,
Tu não disfarças, gritas, alucinas...
Permite que a loucura então instale-se

E mordiscando os lábios tece a prece,
Primordial, genética: águas, minas,
E ao sacrifício; mansa, se oferece...

2186



Outono vem pintando em tantas cores
O céu do fim do dia, folhas, chão...
O vento me falando dos amores,
Entrego-me aos teus braços... sedução...

Eu quero te sentir nos tentadores
Desejos... cheiro... pele...mar, paixão.
Irei seguir teus passos onde fores
Imerso nos teus braços. Emoção!

Poder sentir bem perto o teu carinho
Tomando tuas mãos junto comigo.
O dia vai passando de mansinho

As folhas vão caindo com o vento,
Em ti encontro o cais, tão doce abrigo.
Teu gosto não me sai do pensamento...

2187


Tomando todo o corpo de surpresa;
Suave maestria do desejo..
Na rendição completa já me vejo
Cativo deste altar, plena beleza.

Os lábios vão descendo a correnteza
Encontros tão fantásticos prevejo
Nas estratégias todas, nosso beijo
Começo, meio e fim; fonte e certeza

Deste inflamar insano que nos toma,
Fundindo mil vontades numa só.
Fazemos de dois um, incrível soma

Que multiplica em cem nosso prazer.
Atados por estreito e forte nó,
Numa explosão divina de viver...

2188

Ao êxtase da entrega ilimitada
Dois corpos são unidos num só lance.
Reféns de uma paixão desenfreada
Ateiam tempestade no romance,

Mulher desnuda assim, tão desejada
Percebe com delicia esta nuance
Tal qual a lua ao sol, em fúria dada,
Num eclipse total já quer que avance

A noite em tentação quase profana,
Sem medos e nem culpas, velas soltas,
Os dedos, doces lábios não se cansam.

A lua feita em brasa, doidivana,
Aos mares em marés altas, revoltas,
Já sonha enquanto os corpos sempre avançam...

2189


Ao sentir a presença de quem amo
O coração palpita e quase pára.
Com voz quase engasgada quando chamo
Pessoa tão querida e mesmo rara.

Por vezes no silêncio já reclamo
Se tua mão me deixa e não me ampara.
Teu nome logo ao vento; vou, exclamo
Tu és a maravilha que eu sonhara...

Por isso ao sentir o manso vento
Tocando minha face com carinho
Percebo, com feliz pressentimento,

Que não ficarei jamais sozinho
Pois tenho essa alegria e me contento
De ter o teu amor, abrigo e ninho...

2190


Cheguei sem ter nem tempo nem idade,
Meu nome o vento leva nada vale.
O fato de trazer insanidade
No impetuoso gesto monte e vale

Caminho com total sinceridade.
Não deixe que esta música se cale
Nem mesmo não pergunte quem há de
Fazer com que este vento já te fale.

Apenas me receba sem ter medos,
Singrando o quarto, o corpo, cama e gozos.
Não sou sequer a sombra nem segredos.

Sou parte de ti mesma, rumo incerto,
Meus olhos te parecem andrajosos,
Espera-me, por favor, o peito aberto!

2191

O sacrossanto sexo em seu fulgor,
Compõe a nossa vida, encharca a pele.
Ainda mais se feito com amor,
Na sorte abençoada que revele

A força deste laço encantador,
Não deixa que emoção já se congele,
E mostra a tentação a nos propor
Que uma alegria imensa assim atrele.

Louvando a sensual mulher que eu amo,
Eu agradeço em prece, ao Deus que é sábio,
Tremendo em cada beijo, sinto o lábio

Daquela a quem desejo e tanto clamo
Desnuda de pudores imbecis,
Fazendo o nosso amor bem mais feliz...

2192


Sentindo o teu carinho a me tocar
Com tanta maciez, sentidos plenos.
Vivendo esta delícia de cantar
Os sonhos mais gostosos, mais amenos.

Tua delicadeza a me afagar
Carinhos tão suaves e serenos.
Quebrando em mansa areia, verde mar,
Trazendo em tuas mãos doces acenos...

É bom poder contar com teu afeto,
A vida muitas vezes nos maltrata.
O canto que te faço; amor dileto

Reflete esta ternura na atenção.
Contigo penetrando em densa mata,
Meus passos têm apoio e proteção..

2193


Fardunços e jagunços de tocaia,
No quebra-pau rendendo algum trocado,
O corte do facão quando amolado,
Não deixa e nem permite que se saia.

A vida sem juízo que se traia
Sem ter nenhuma pena do coitado,
No pulso da esperança se cortado,
Me trouxe de lambuja rabo e saia.

Um companheiro morto, uma bobagem
Falada como fosse uma vantagem,
A dor que o tempo molda já me invade

E diz que não devia ser assim,
O mundo desabando dentro em mim,
Pagando o preço caro da amizade...

2194


Aranhas e moleques, bocas, becos.
O gado vai passando na porteira
Eterna sensação do que se queira
E muitas vezes morre em repetecos.

Depois no bate papo traz botecos
Numa impressão de eterna domingueira
Na casa que se fez sótão soleira,
A juventude segue sem ter ecos.

Amizade moldada na cachaça,
Nas velhas discussões, sentido algum,
O rumo tantas vezes foi nenhum,

Conversa que afiada, é só chalaça.
O tempo ruminando feito boi,
E tudo o que eu sonhei, depressa foi...

2195

Ouvindo matinais galos, pardais,
O gosto da saudade? Broa e milho
Assado no fogão do quero mais,
A rota da esperança pega o trilho

E vaza em meio à dor, canaviais.
Eu velho quando outrora fora filho,
Cantava uma ilusão por estribilho
Bebia da vontade sem jamais.

De tudo o que sobrou, amiga velha.
Apenas tua senda que emparelha
E segue sem ter curvas, linha reta.

A broa que mamãe fazia festa
Não mais saboreando, não me resta,
Sabor da tarde morre e se incompleta...

2196


Nas meadas da sorte, um violeiro,
Ameaça cantar a solidão,
Da qual conhece a cara e sabe o cheiro,
Vazando os olhos traz escuridão.

Os ermos de minha alma, são constantes.
As armas esquecidas na algibeira,
Daquilo que sonhei há tempos, antes
De saber a dor cega sem fronteira,

Do não que sempre ouvi, mas não quis bem.
Agora que perdi rumo e saída,
Mortalha do que fui queimando vem,
Ninguém sabe da cor da despedida.

Apenas amizade, se vier,
E o resto? Como Deus, meu bem quiser...

2197

Um pobre cantador sertão afora,
Viola é derradeira camarada,
A noite que adormece enluarada
Deitada na varanda; clama agora

Estrela matutina que decora
O céu maravilhoso da alvorada,
Em serenata, sonha quase nada
Apenas ilusão, tudo devora.

E canta em sinfonia com mil grilos
Aguarda que a janela seja aberta.
O sol já quer surgir, rua deserta,

A solidão promete seus asilos
Depois de tão sinceros madrigais...
A lua voltará? Tarde demais...

2198

Viajo para dentro de teu ser
Em alas benfazejas e tão belas,
Bafeja o vento imenso de um prazer
Abrindo o pensamento em alvas velas.

No amor que já proclamas e revelas,
O gosto de sonhar e o bem querer,
Motivo principal para viver
Alçando o pensamento por estrelas.

Tu és imagem santa e comovida,
Razão de meu cantar e minhas rimas.
Louvando o nosso amor, tuas estimas,

Desejo imensamente que decidas
O rumo que decerto irei tomar,
Morrer ou ressurgir, cada luar...

2199

Aos poucos se soltando nos meus braços,
Deitada em minha cama, sem receios...
Abrindo lentamente teus espaços
Extravasando todos meus anseios...

A vida já nos trouxe em fortes laços
E deu-nos, à vontade, muitos meios;
Amor vem penetrando cortes,aços,
Descanso meu carinho nos teus seios..

Tu és encanto e paz, razão de vida,
Bailando no teu corpo meus desejos...
Sentindo-te feliz, tão atrevida,

A chama que surgiu se fez vulcão
Tomando nosso céu em relampejos
Incêndio
mavioso da paixão...

2200

O velho canarinho que tentava
Cantar o seu lamento sertanejo,
Depois de certo tempo reparava
Quanto era ultrapassado cada arpejo

Que o pobre sem saber que só piava,
Servia de piada sem ter pejo.
O nobre rouxinol quando cantava
Negava ou falseava o seu desejo.

Qual fora um repentista caipira,
Também imaginei que a bela lua
Gostasse do cantar em serenata.

Que ledo engano; a Terra sempre gira
E a vida que pra frente continua,
Expulsa o canarinho para a mata...

2201

Não temo tempestades ao teu lado,
Carinho e proteção. Desejo intenso..
Deitando meu cansaço e abraçado
Em teu corpo, querida; sempre penso

No tempo que passei desconsolado
Na busca de um carinho tão imenso
Às portas da tristeza e bem cansado
Achei que viveria sempre tenso

Na angústia dolorida do vazio.
A vida se passava sem surpresas,
Vivendo por viver no eterno frio.

Mas quando te senti; amada minha,
A sorte revelando outras certezas
Meu peito no teu colo, amor, aninha...

2202

Eu verso sobre sonhos que detive
Honestas caminhadas da ilusão,
Portando em cada verso uma emoção
Amor feito amizade sobrevive.

E tantas vezes; cego, eu não retive
Sequer o que devia, e fui em vão,
Vagando no deserto quase em não
Na
sensação perfeita de um declive.

Se, às vezes eu falseio e assim tropeço,
Na quase queda eu sinto que talvez
Devesse ter mais forte, o sentimento,

Que vira a nossa vida já do avesso,
Porém acalma toda insensatez,
O teu carinho, amiga, é meu sustento...

2203


Feliz aniversário, caro amigo,
É tudo o que desejo e estou feliz
Por ter em teu abraço o que mais quis,
Decerto traduzindo um manso abrigo.

Não vejo mais as curvas, nem perigo,
Agora; da tristeza, cicatriz,
Quem teve a vida sempre por um triz
Caminha lado a lado e vai contigo.

Receba com carinho, o meu presente,
Embora tu mereças muito mais.
Tenha a certeza disso, companheiro.

A paz que do teu lado, a gente sente;
Uma alegria imensa já nos traz,
E tudo o que te digo é verdadeiro...

2204

Aconchegadamente nos teus braços,
Felicidade à mostra num sorriso.
Seguindo eternamente nossos passos
Invadem alegria sem aviso.

Passeiam pelos campos dos abraços,
Chegando ao grande Vale Paraíso,
Deitando no teu colo, meus cansaços,
Incrível: eu teu corpo em me matizo.

Ipês e quaresmeiras, matas, relvas,
Veredas, alamedas, bulevar..
Espaços, astronaves, serras, selvas...

Viajo no teu corpo e vou contigo,
Aonde o pensamento nos levar,
Nosso refúgio amado, amante, amigo...

2205


Asas abertas sonhos delirantes
De vôos mais felizes pelo espaço.
No toque e no carinho dos amantes
A vida nos conforta passo a passo.

Saber de uma alegria e ver bem antes
A dor que nos maltrata, cerra o traço,
O dom que nos cativa, triunfantes
Caminhos que se abriram num abraço

Das asas que conhecem liberdade
Nos olhos sempre puros, e por isso
Mais aptos a saber da claridade

Que uma esperança mostra; tão intensa,
Com a felicidade, o compromisso,
Desta alegria nossa, que é imensa...

2206

Num lírico desejo que se explana
Em ventos tão suaves, primavera.
Amor que quanto amor em amor gera,
Força primordial e soberana.

Nos polens e nos grãos vida cigana
Se dando num acaso, sem espera,
Carinhos tão gentis da dura fera,
Que ronronando, ao longe nos engana,

No sumo de uma fruta, no perfume
Das rosas e jasmins, ou no entoar
Do canto de mil grilos, feito em grito

Da
vida a perfeição em raro lume,
Chegando em explosão ou devagar,
Recende a belos gozos, infinito...

2207

Só sei que te procuro a cada instante
Entorno meu desejo no teu quarto,
Num sentimento lúdico e vibrante
Trazendo a sensação; divino parto.

A luz que nos rodeia é deslumbrante
De ti, minha querida, não me aparto
E vivo por saber estar adiante
De tudo o que sonhei. Eu já não parto

Em busca de outros sonhos; és meu céu
Em plêiades (teus rastros) te procuro
A via láctea estende um branco véu

Por onde passarás, estrela guia.
O fruto do desejo está maduro,
Vem logo antes que rompa o novo dia!

2208

Pior que a solidão do sempre tive
É a negra calmaria que se faz
Da tempestade morta em dura paz,
Do amor que tanto quis e não retive.

A sensação dorida de onde estive
Deixada qual saudade, e que desfaz
O quanto que perdi, não satisfaz,
Lateja o já morreu que em vago vive.

Penumbra me acompanha, passo a passo,
Fantasmas que percebo: eternidade,
Feridas redivivas, morte a prazo.

Um grito de agonia corre o espaço
E a dura sensação que sempre invade
Da noite que se foi em puro ocaso...

2209


Ao cobrires de azul esta nudez
Que tanto desejei a vida afora,
Escondes a beleza de uma tez
Que quero ansiosamente. Vem agora

Que a noite vem chegando e toda vez
Que a lua extasiada já se aflora
Eu lembro-me do amor que a gente fez,
Meu corpo em tua cor veste e decora.

A brisa lentamente me cercando
Dizendo que virás e não demoras,
Minha alma se levanta flutuando

Espera esta presença desejada...
Estou aqui sozinho há tantas horas,
Na espreita desta noite azulejada...

2210


O que dizer do amor que nos tomou?
Palavras já não bastam. Muito além
De tudo o que tivemos me tocou
O sentimento imenso deste bem.

Tão próximo de ti eu sei que estou,
Eu não penso em mais nada, a vida vem
Coroando tanto tempo que passou
Na nossa vida procurando alguém

Que faça nosso canto mais feliz
Que traga uma esperança em cada olhar.
Amor que não sacia, já quer bis

Na cama, na canção. É de verdade
O sonho que sonhamos sem parar,
Agora traduzi: felicidade!

2211


Depois de tanto tempo procurar
Alguém que me entendesse e me quisesse
Vagando por estrelas, céu e mar
Achei que neste mundo não houvesse

Ninguém me entendesse. Até achava
Que o mundo já não tinha mais por que.
Ardendo num desejo como lava
Procuro, reprocuro; mas cadê?

A sorte que pensara tão ingrata
Coloca o teu sorriso no caminho,
Minha alma na tua alma se retrata

Agora já não vou seguir sozinho...
Esqueço da tristeza e dos meus ais,
Somente no teu corpo encontro a paz!

2212

Amigos que encontrei pelo caminho,
Deixados pela estrada em cada curva,
Às vezes caminhando tão sozinho,
Senti minha visão deveras turva,

Porém em outros dias, logo após,
Noutras cidades tive outra amizade,
Atando e desatando tantos nós,
Da negra solidão à claridade.

Os sonhos se perderam, se encontraram
Mas sinto que valeu, sempre sonhar.
Por vezes os meus passos tanto erraram,
E o rumo deslumbrado devagar.

Meu coração aos poucos mais pesado,
Bandeia, e vou andando assim, de lado..

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