domingo, 23 de dezembro de 2007

SONETOS 113 E 114


Os laços da amizade são bem fortes
E ajudam em qualquer situação.
Cicatrizam quaisquer chagas ou cortes
Permitem alcançar uma amplidão

Estrelas que nos mostram tramam nortes
Indicam com certeza a direção
Transmudam num segundo nossas sortes
São feitos cordoalhas/coração.

Eu te agradeço amiga, por teus braços
Que sempre me apoiou em dias tristes.
Ajudando a transpor velhos limites

Na força e poderio destes laços
Eu creio que é possível ser feliz
A quem com tal enlevo já se quis...

X

Depois da cachaçada que tomamos
Eu via duas fêmeas mais gostosas.
No canto desta rua que encontramos
Havia este jardim pleno de rosas...

Ali naquele instante nos amamos,
Tu gritas bem mais alto quando gozas.
Beijamos, namoramos e sarramos,
As horas que passamos, maviosas...

Depois eu reparei que a sorte grande
Quem sabe, bom mineiro, desconfia.
Tocavas com carinho minha glande

Já dando com fantástico carinho.
Porém o mato deu tanta alergia
E a rosa me mostrou porque do espinho...

X


Que bom saber que existes companheira
A cada novo tempo mais amiga.
Além de toda a glória costumeira
Palavra que nos fala já mitiga

A dor que na verdade é corriqueira,
Mas queima em nossa vida qual urtiga,
Tua presença é sempre alvissareira
Eu peço, encarecido, assim prossiga...

Por isso nesta data em mais um ano
Eu venho agradecer pela existência
De um anjo com seu passo soberano

Que faz com que eu consiga ser feliz.
Que seja sempre bela a convivência
Com quem tanta amizade eu sempre fiz...

X


Sensual teu corpete delicado
Fazendo delirar minha libido.
Num corpo tão divino e desejado
Vontade de chegar mais decidido

Chegando, de mansinho e do teu lado
Cumprir o que já tinha prometido,
E ao ver o paraíso desnudado
Usar sem ter pudor, todo sentido.

Teu corpete caído no sofá
Esquecido, traduz os meus anseios
Como se pudesse, estando lá,

Acariciar-te inteira sem rodeios
Assim amor, a boca sorverá
Enfim, o teu prazer, sem devaneios...

X


Meu amor eu não sei nem por onde andas,
Por isso me embriago. Eis os tremores.
Andei te procurando em outras bandas
Perdi teu rastro imerso em novas flores.

Mulheres que encontrei pelo caminho
Virtudes esquecidas na aguardente.
Na busca por afeto e por carinho
Ser feliz, decerto é mais urgente.

Num sentimento lúdico de amor,
Por um momento, escravo desta luz,
Não tenho quase nada a te propor

Será que bem leve e breve a minha cruz,
Deste cenário sigo sendo ator
Ao fundo um cego triste toca blues...

X

Ritinha uma menina tão gulosa
Pensando que este mundo logo acaba
Comendo a se fartar – e toda prosa –
Lá não deixou sobrar jabuticaba...

Barriga começou logo a roncar
Porém nada saía lá por baixo
A dor foi piorando devagar
- Cólica pra quem tem é o diacho.

Levaram a menina mais depressa
Para o Pronto Socorro da cidade.
Doutora; de crianças diz que gosta;

Começou a tirar peça por peça.
Porém ao desabar: calamidade!
Jaleco ficou lindo: Cor de bosta...

X


Nossa luta, buscando liberdade,
Tantas vezes depara com vergonhas.
Muitas vezes, no campo e na cidade,
As desilusões surgem, são medonhas...

Quem dera se pudesse ser verdade,
O mundo bem melhor que tanto sonhas...
Um dia, talvez, nunca será tarde...
Poderá ser possível ver risonhas

As mesmas faces, hoje tão sofridas...
Sonhar um impossível sonho, crer!
Combustível maior de nossas vidas.

Juntos, todos, quem sabe eu e você,
Iremos dormir, camas repartidas,
Mas um só sonho, belo de viver!

X

De noite recomeça a zumbilança
Que não pára jamais de incomodar.
Do meu sangue este bicho faz festança,
Mas não basta, ele tem que me acordar.

Zumbindo o tempo todo já me cansa
A luz, acendo e nada de parar.
Porém um dia, eu tenho esta esperança
Tudo com certeza vai mudar.

Pois já que não bastou inseticida
Nem mesmo o cortinado resolveu
Tampouco dar tabefe, até sopapo,

A coisa vai ficar bem resolvida
Se Deus ao atender pedido meu
Um dia transformar-me em gordo sapo...

X
O sapo toda noite lá no brejo
Ao namorar coaxa sem parar
O sapo boi lançando o seu trovejo
Começa logo cedo a martelar.

Comendo pernilongo ou percevejo
Mosquito e vaga-lume no jantar
O sapo vai mostrando o seu desejo
E a sapa não quer mesmo namorar.

A serenata vai a noite inteira
Com toda a saparia no romance.
Se quero dormir não tenho chance

Vontade de fazer qualquer besteira
Um dia vou perder a paciência,
E acabo já com toda a sapiência...

X


Cantando de manhã quer acordar
A todos os que pode, barulhento.
Não deixa descansar um só momento
Quem passou noite toda a trabalhar.

Parece que fofoca quer contar
A todo o galinheiro, o xexelento,
Eu já disse pra mulher que não agüento
Este bicho que quer cocoricar.

No cacarejo chato me transtorno,
E descansar, eu juro, não consigo.
O caldo; deste jeito; amigo entorno

E taco em cima dele uma tigela.
Esperto sempre foge do perigo,
Mas qualquer dia vai para a panela...

X

Vem andando de fraque, tão solene,
Com passos chaplianos, faz sucesso.
Eu bem sei que, nadando, teu progresso
É maior. Faz que o corpo todo empene,

Por meio dessas asas que, confesso,
Surpreendem. Sugere que m’acene
Quando sei, na verdade se te peço,
Dirás nada, por certo, tutto bene...

Vez em quando, resolves passear.
Umas férias mereces, estou certo.
Mas teimoso, nadando sem parar,

Tu não queres ficar aí, nem perto.
Nas praias cariocas, tanto mar...
Que fazer? Viajar no mar aberto..

Cansado então, do passeio,
Vens bater na minha praia,
És teimoso sim, bem creio
Que tu queres é gandaia...
Não tem outro jeito não...
Na volta, vais d’avião...

X

Toda delicadeza de um perfume
Que tua alma divina exala, amada,
Remete-me aos jardins de um Éden. Lume
Das estrelas clareia minha estrada...

Saborear magnífico de cada
Banquete que ofereces, num costume
Celestial, que tanto atrai, agrada
Ao paladar, aos olhos; sem queixume.

A minha fantasia transformada
Na mais bela mulher que Deus criou,
Mais fina porcelana, contemplada

Por mãos mais delicadas; hoje sou
Tão somente um vazio, quase nada,
Sem ter-te, muito pouco me restou...

Te procuro, então, no sonho,
Nada tenho, nem o chão...
Me persegue, tão medonho,


X

No vértice da vida, capotei,
A queda transformou-se num dilema;
Quem dera, nessa vida fosse um rei.
Talvez não conhecesse mais problema...

Por certo os meus desejos sufoquei,
Não há, pois, quem a queda nunca tema,
Nem há quem não me diga que eu errei.
Mas, em cada tropeço, novo lema.

Em cada queda encontro outra saída
Lições aprendo, troco de estratégia.
Deixando o que passou em despedida

Talvez
não seja a certa, a preferida.
Vivendo por viver, toda essa vida,
Se eu encontrei vitórias; nunca a régia...

X

Minha mansidão luta ferozmente
Contra as dores cruéis. Minhas entranhas
Latejando; senil vai minha mente,
Buscando, temerária, tuas manhas.

Em muitas outras horas, fui contente.
O preço: em minhas costas, tantas lanhas...
Por outro lado, sendo continente,
De todas as maneiras, sempre ganhas!

Fingi ser bem mais forte do que creio,
De nada adiantou tanto disfarce,
Não consegui sentir, palpar teu seio,

Somente dar um beijo em tua face...
Quem dera conhecer, tão rico veio.
Talvez soubesse, assim, como te enlace..

X


Uma gota feroz no meu telhado,
Pingando sem parar; horas adentro...
Estou ficando até desesperado,
Como posso pensar, como concentro?

Queria te falar apaixonado,
Mas como? Essa goteira bem no centro,
Batuca no seu ritmo desgraçado,
Penso que, na cabeça bate dentro...

Tumtum não pára nunca de bater.
Tumtuneia não cansa; a noite inteira...
Eu tento, não consigo reverter.

Minha amada, te juro; é verdadeira,
Essa emoção que quero transcrever:
Odeia poesia essa goteira!

Então perdoa querida,
Por favor, não leve a mal,
Dess’amor nem Deus duvida,
Sem ele passo até mal...
Teu amor é minha vida,
Eta goteira infernal!

X

Quando vim do sertão trouxe saudade,
Do canário da terra, coleirinho,
Um sabiá perdido na cidade,
Amor me maltratando, vagarinho...

Depois de conhecer simplicidade
É tão duro saber que se é sozinho,
Aqui eu conheci a falsidade,
Como dói passarim fora do ninho...

Eu trouxe tanta coisa no bornal,
A foto amarelada de Maria,
As lembranças da fruta no quintal...

A manga, guariroba, a melancia,
As águas do riacho, qual cristal,
Somente dor restou, dessa alegria...

X

Eu quero esse mergulho bem profundo

Nas águas deste sonho, sem temores.

Vivendo o sentimento, num segundo,

Teus olhos são dois belos refletores



Que lançam tuas luzes pelo mundo,

Só sigo estes teus rastros sedutores...

Da paz deste carinho já me inundo

Sorvendo teu amor sem ter amores...



Querida, não me deixe mais, te peço,

Tu és a glória infinda de viver.

Eu amo bem além e te confesso,



Não tenho mais vontade se fugir

Deitando do teu lado meus prazeres,

Amar-te sem limites.... Vim pedir...

X

Voando em nosso amor; encontro o céu

Aberto em esperanças e desejos.

Num sonho radiante, verso e véu

Se encontram, se extasiam em loucos beijos...



A boca com promessas, puro mel,

Delírios são caminhos para arquejos,

Singramos nossos barcos de papel

Em meio a tantos mares, azulejos...



Na soma que fizemos, somos um,

Atados pelo vôo e pelo sonho,

Não pode nos ferir mais mal algum,



Eternizamos isso a cada dia,

Do jeito mais fecundo e mais risonho,

Orgástica canção em poesia...

X


Amiga te encontrar em meus caminhos,
Teu braço benfazejo e companheiro.
Dois corações buscando pelos ninhos
Num dia mais feliz, alvissareiro.

Nos dedos salpicados de carinhos,
Teu colo, tão macio travesseiro.
Bebendo essa alegria em raros vinhos
Do bem que se tornou mais verdadeiro.

Atravessar as pontes da esperança
Unidos para sempre em doce encanto.
Nos olhos que se fixam a aliança.

Palavras de consolo e de alegria
Secando para sempre o triste pranto,
Nascendo neste amor do dia a dia...

X


Amiga tua voz calou bem fundo
Dentro do meu peito sem alento.
Um sentimento belo e tão profundo
Vibrou no coração neste momento.
Vagando do teu lado me aprofundo
Dou asas ao liberto pensamento...

E quero que tu venhas nesta estrada
De sorte que não tenhas mais segredos,
Refaça nossa vida em alvorada,
Distante dos antigos, maus enredos,
A vida que se mostra anunciada
Se faz em fantasia, mata os medos...

Amiga vem comigo pr’esta estrela
Que feita de teus olhos; como é bela!

X

Só sei que te procuro a cada instante
Entorno meu desejo no teu quarto,
Num sentimento lúdico e vibrante
Trazendo a sensação; divino parto.

A luz que nos rodeia é deslumbrante
De ti, minha querida, não me aparto
E vivo por saber estar adiante
De tudo o que sonhei. Eu já não parto

Em busca de outros sonhos; és meu céu
Em plêiades (teus rastros) te procuro
A via láctea estende um branco véu

Por onde passarás, estrela guia.
O fruto do desejo está maduro,
Vem logo antes que rompa o novo dia!

X

Só sei que te procuro a cada instante
Entorno meu desejo no teu quarto,
Num sentimento lúdico e vibrante
Trazendo a sensação; divino parto.

A luz que nos rodeia é deslumbrante
De ti, minha querida, não me aparto
E vivo por saber estar adiante
De tudo o que sonhei. Eu já não parto

Em busca de outros sonhos; és meu céu
Em plêiades (teus rastros) te procuro
A via láctea estende um branco véu

Por onde passarás, estrela guia.
O fruto do desejo está maduro,
Vem logo antes que rompa o novo dia!

X

A luz que iluminava nosso ocaso,
Não deixa testemunhas, me arrebata...
Amor quando se trai parece vaso
Quebrado, que jamais de novo se ata...

Não posso te perder, nem peço prazo,
A vida sem sentido, me maltrata,
És pilastra por onde eu sempre embaso
Os meus sonhos audazes. És a nata

De todos os meus passos. És a guia...
Nublando um claro céu, perdi a aurora,
A vida já não tem qualquer valia.

Um quadro que envelhece e se descora,
Nos pélagos medonhos, alma mora...
A tua ausência mata a fantasia...

X

A lua soberana, brinda a noite,
Transmite veleidade e sentimento...
Não há quem não perturbe-se e se afoite
Distante plenilúnio vai ao vento..

No que farturas flanges não me acoite,
Sensatos se suprimem sem sustento.
A boreal fantástica do açoite
Que vermifuga a dor de ser sedento...

Merencoricamente lua serva,
A seiva em que me absorves se conserva
Nos potes divinais desta esperança!

Uma coorte que fiz nunca repara
Nas causas das loucuras que se avança
Uma esperança inglória me antepara...

X

A lua se derrama na calçada
Encontra-me dormindo no relento...
As horas se passando, a madrugada,
Assalta-me um terrível, frio vento...

Teu nome repetindo, não diz nada,
Só sei que me traduz em sofrimento...
A mão da morte mostra-se espalmada,
Não posso nem consigo ter alento...

O parto que me negas, da vergonha,
O gosto tão medonho da saudade...
Não tenho travesseiros e nem fronha,

O tempo que passei, mostra a verdade,
A dor de te perder, já sei medonha,
A lua se derrama na cidade...

X


Não posso prosseguir se não vieres,
Como farei, amada, me responda...
Não sendo tão somente o que tu queres,
Sou mar que se perdeu, e não tem onda...

Espero que tu voltes, num rompante,
Trazendo toda luz que sei, mereço...
Teus olhos refletindo um diamante,
As ordens que me dás, eu obedeço...

Amando quem se fez o meu destino,
Vivendo cada dia mais feliz;
Amor que persegui desde menino,
Me abrace; eternamente um aprendiz..

Que canta, nestes versos sem cansar,
A glória de poder, enfim, te amar...

X


Coração quando cisma de querer
Amar quem não devia, fico louco.
Às vezes dá vontade de morrer,
Matando esse infeliz de pouco a pouco...

Meu coração teimoso sempre esquece
Das dores que os amores me causaram.
Por mais que peço a Deus, se ri das preces,
E todas as tristezas se anteparam.

Não sabe que depois fico sofrendo...
A solidão corrói, ele nem liga.
Não se importa com sol, se está chovendo,
Pois dentro do meu peito, já se abriga...

Procuro sem achar, a solução,
Tirar a sua força, coração!

X

E vamos de mãos dadas ao futuro
Que a curva da esperança preparou,
Se o tempo que vivemos, tão escuro,
Por certo depois disso, o céu brilhou...

O chão que percorremos, ledo e duro,
Mostrando uma tristeza que restou,
Amiga estando juntos, salto o muro,
E encontro o que amizade preparou.

A festa maviosa noutras sendas,
Com gozo e com total felicidade,
Fazendo das angústias meras lendas,

De um tempo que jamais retornará,
Contigo, amada amiga, brilhará
A força tão gentil de uma amizade...

X

Ao tomar os teus braços minha amada
Convites de alegria e de bailado
Repleto de emoção, a noite inteira
Que faz da fantasia a companheira

Tantas vezes querida e desejada!
Nos risos e canções, no peito aberto
Nas manhas e manhãs, eu quero sempre,
Matando em mil oásis o deserto

Que fora a minha vida antes de ter
O gosto mavioso do prazer
Sorvido em tua boca, gota a gota.
A fonte do desejo não se esgota...

Amor que é belo e raro, delicado
Em mil canções te clamo, apaixonado!

X


A flor dos meus receios, temporã,
Aflora em nosso caso, triste amor...
Quem já guardou no peito um talismã
Adormece tremido de pavor...

Vivemos nas esperas, nosso afã
Angústias transformadas em rancor.
A vida desespera e passa vã
Não tenho mais comigo o teu calor.

A flor dos meus desejos, despetala,
Não deixa nem perfume nem saudade...
A voz que enamorada, sempre cala.

Quem sabe restará qualquer estima
Do amor que vai morrendo e que se prima
Por ser além de tudo, uma amizade...

X


Não ligue aos puritanos. Vem comigo.
A vida sendo breve não permite
Que a voz injuriosa ganhe abrigo
No nosso amor que nunca tem limite.

Beija-me assim, que a noite é toda nossa
Façamos tanto amor sem escutar
Palavra desta gente que se esforça,
Por não ter amor, sempre o negar.

Façamos destes beijos arco e seta
Que atinja bem no peito, os invejosos.
Que a flecha ao atingir decerto a meta
Ferirá sentimentos orgulhosos.

E assim os puritanos, sem defesa
Se renderão enfim a tal beleza...

X

Na carícia perdida este vazio
De amor que não se fez, restou ausente.
Do verso que não brota; o nada eu crio
Deixado como um rastro, simplesmente.

A boca procurando um beijo frio
De quem partiu outrora descontente.
Nenhuma piedade eu principio
Até porque minha alma nada sente.

Do nada que já fomos; nada resta
Senão as simples cinzas de um cigarro
Jogadas no cinzeiro da esperança.

Carícia que não veio já me empresta
O gosto lancinante onde me esbarro,
Às vezes no vazio da lembrança...

X


Quanta beleza existe nesta flor!
A natureza em capricho, que é divino,
Num momento de raro desatino;
Para poder brindar o puro amor,

Com pinceis de raríssimo valor
E com toda a pureza de um menino;
Num momento de glória tece um hino,
Mostrando o seu poder: Nosso Senhor

Numa atitude bela que inda está
Gravada na lembrança encontrará
Uma medida exata da beleza.

No exato instante, cheia de tristeza,
Ao ver sangrar assim, a Nobre Alteza
Do sangue se pintou: maracujá...

X

Desnudo tua pele com meu beijo,
Bebendo teu suor num mar de amor.
A cada vez que lembro te desejo
Saudades do teu toque sedutor...

Olhando para a praia sempre vejo
Teu corpo tão sublime e tentador,
Teus olhos me queimando num lampejo
O gosto da paixão, revelador...

Afago tuas costas, desço as mãos..
E sinto o arrepio percorrendo
Procuro te encontrar descubro os vãos

E bebo no teu beijo esta doçura...
A lua com seus braços envolvendo;
Na sensação divina... da ternura...

X

Teu corpo, vai galgando a eternidade,
Nas chamas, no clarão de tais estrelas,
Procuro sem saber, onde bebê-las,
Vagando vou vivendo essa saudade...

Dos astros reluzentes, claridade,
As luzes que produzes tento vê-las,
Quem sabe se abrirá para envolvê-las
Olhar a procurar imensidade!

Satélites? Criou Nosso Senhor,
Ao ver a solidão desses planetas,
Num átimo, ultimou seu Deus d’amor.

E Eros com sua seta mais certeira,
Gerou de forma lírica cometas,
E tal flecha, roçou-te, companheira...

X

A dor é companheira em parceria...
Meu tesouro guardado noutras grutas.
Não posso descobrir mais alegria,
As luzes que me emanas, duras, brutas.

Corcéis, imobilizas, montaria.
As podres maravilhas dessas frutas,
Sem sombras do que fora fantasia
Nas noites nos perdemos e sem lutas...

Não penso nas conquistas que não tive
Nem prendo meus olhares no vazio...
Na cama que roçamos; me contive...

Aurora torporosa me alvorece,
A dor que nunca sai permite cio
Amor que nunca veio, me entorpece

X

A estampa na parede demonstrando
O retrato cruel do fim do mundo,
Vagabundo meu mundo vai rodando,
E assim quando eu percebo; já me inundo,

De toda crueldade, me afogando.,.
Qual abissal marinho, sou profundo,
Resta-me tão somente esse segundo,
A vida nada vale, mas me abrando.

Incrivelmente, manso nada temo,
Espectral fantasia tudo toma,
Minha vida vai trôpega, sem remo,

Mas nem mesmo ao temor a dor se soma,
E de encanto tenaz, incrível, gemo...
A morte assim será um simples coma.

X

Quando a vi parecia um simples sonho
Que me tomara em luz mais radiante.
Caminhos que conheço não proponho,
Pois sei que se perdendo num instante
Se faz do que já fora mais risonho
Um pesadelo triste e degradante.

Olhei-a como fosse redentora,
Uma espécie de santa, luminosa.
Depois de certo tempo não vigora
Mais brilho de mulher tão fabulosa,
Sobrando simples rastro que decora;
Um vaga-lume sobre triste rosa...

Mas ainda me resta uma lembrança;
E nela se repousa uma esperança...

X


Verdades são mentiras vespertinas,
Sorriso que me mostras, sempre falso,
Prepara para mim o cadafalso
Ao perceber que assim já descortinas

Vazio no meu peito, dobro esquinas
Mas segues tão cruel no meu encalço
Um coração desnudo vai descalço
Porém quando me alcanças me dominas

Beleza inigualável do teu rosto
Enfeitiçando sempre deixa exposto
Quem tanto se entregou, e nada teve.

Tua frieza imensa, qual de neve,
Sorrindo enquanto trais e assim me atira
Com toda uma ironia, outra mentira...

X


Tanta dor, sofrimento vai cortando,
A tristeza da vida traz saudade
Como dói, vai sangrando... Que maldade!
Amores e distâncias, me tomando...

Quem dera se pudesse vir chegando
Quem fora a causa; triste realidade,
Numa tortura imensa esta verdade:
Amores sem ter vida, me matando...

A vida vai sem tempo e sem horário
O vento que me toca vem contrário,
Trazendo a solidão que não disfarço;

Queria ter amor mais solidário
Queria receber um forte abraço,
Sem ter um só amigo... solitário...

X

Na vida tantas vezes desalento
Tomando o pensamento abaixa a guarda
Num ato tresloucado e violento
Parece até que a morte já retarda.
Depois de certo tempo, num momento
A dor que nos tocou enfim não tarda

E some de repente na neblina.
Porém em outras vezes persistente,
O desalento vem e nos domina
Um fogo embora lento, mas ardente
Toda ilusão num átimo extermina.
Apenas um remanso faz contente

Trazendo num resquício a claridade
Que sempre se irradia da amizade...

X


Teus versos todos lidos, companheiro
Falando desse amor que te maltrata
Vivendo dos ciúmes, tempo inteiro
Temperas teus desejos noutras matas...

Amigo, como é boa a fantasia
Que traz essa mulher com que sonhamos.
Pimenta com doçura todo dia,
Nos atos mais incríveis que somamos...

Agora se já faço tanto verso
Pensando na mulher que enfim desejo.
Cabendo meu amor neste universo,
Vivendo meu amor com tanto pejo.

Eu busco seu amor abrindo a porta,
Sangrando com prazer que beija e corta...

X

Nós somos animais; simples mamíferos
Que vagam pela terra a destruir
Embora nos achemos quais auríferos
Com toda a liberdade, usufruir

Da herança que foi dada há tantos anos
- Bilhões pra ser exato -, na verdade
Vassalos que jamais são soberanos
Usando de loucura e crueldade.

Pagamos caro preço na escalada
Que leva, sem perdão ao fim de tudo.
Deixaremos somente o resto, o caos.
Eis o fato real, eu não me iludo...

Andando pela Terra, sempre a esmo
Não somos nem amigos de nós mesmos...

X

Por vezes paisagens desoladas
Campeiam nas estradas desta vida.
Em fotos tão mal feitas, desfocadas
A caminhada extensa é mal cumprida.

As mãos que nos ajudam ocupadas
A morte parecendo ser saída.
Porém outras surpresas bem guardadas
Clareiam toda senda já perdida...

Criança que cresceu em ilusões
Voando
por espaços, soltos laços,
Às vezes encontrando outros portões

Fechados, não vislumbram liberdade.
Mas tendo um bom amigo, em seus abraços
Já sabe do poder de uma amizade...

X


A morte, solidária companheira,
Ressona, calmamente, no meu quarto...
Cansado, procurando seu retrato,
A vida se esvaindo em corredeira...

Quem me dera poder saber inteira,
Deitada, descansando, senso lato,
Comendo, desfrutando o mesmo prato...
A morte principal lema e bandeira.

As carícias que peço, sem demora,
O seu manso sorriso, triste embora,
O que resta de tantas tempestades...

Vencido pela atroz lassidão, morro...
Descalço, vou pedindo seu socorro.
Na morte, encontrarei felicidades!

X

Dos filhos que geraste mais vorazes,
As larvas, os insetos, as serpentes...
Nas bocas e peçonhas não te aprazes,
Os olhos, as mandíbulas, vertentes...

Demonstram toda força, são audazes,
Nos mundos variáveis oponentes
Traduzem mais banais os mais tenazes
As fomes deflagradas, vermes, dentes...

Os falsos mergulhões temem segredos,
Invadem superfícies mais sedentos...
Nas patas tremulantes, ânsias, medos...

Não temo se não sinto ou se conheço...
Reflexos medulares, mortos, lentos...
A morte, p’ra quem vive, é sempre o preço!

X

Não vais beber da fonte das quimeras,
As hastes, ramos, folhas mutiladas...
Amores que sonhavas, nas taperas,
Encontras nas cadeiras nas calçadas...

Vencidos tantos dias, priscas eras,
As luas que pensavas desmaiadas,
Escondem-se nas nuvens sem esperas.
Amores destroçados matam fadas...

Não queres mais sutis as velhas chamas.
Nos ramos destas flores, sem espinho...
Percebo que deveras não reclamas.

O sonho foi deixado no caminho.
A dama que se veste de dourado,
Matou doce menina do passado...

X


A morte, minha esquálida parceira,
No beijo que tortura pede lábios...
Fugindo deste vulto a vida inteira,
Perdendo meus caminhos, astrolábios...

Vencido postergando esta videira,
Não posso disfarçar amores sábios...
Procuro por vingança a companheira,
Jamais encontrarei nos alfarrábios

Nos livros de magia ou de presságios.
A morte não permite tais saídas...
Nos olhos, nos momentos, nos adágios,

Pedágios que pagamos, nossas vidas...
Não posso pressupor, isso alucina...
A morte qual a vida é luz divina!

X


A morte derramando o seu caudal
Na carne envelhecida, agonizante,
Tomando toda a sorte neste instante,
Lateja no segundo mais fatal.
Estrelas derramadas num bornal
Do sonho destruído, vil, farsante.

Vassalo de imbecis desejos tolos,
Riquezas e nobreza não carrega.
Adubo que renova sujos solos,
Ao nada perfazendo sua entrega.
Mulheres e carinhos... outros colos;
Aos vermes e bactérias já se apega...

A morte beija a boca, costumeira,
Amante mais voraz e derradeira...

X


A dor que dilacera corações,
Reside nas profundas de minha alma...
Herdando velhas chagas, aflições,
Não tenho mais sequer quem já me acalma!

As rosas exalando podridões,
Teu nome rabisquei na mão, na palma...
Vermelhos velhos vermes vendilhões,
Meus versos são versões antigo trauma...

Minha dor, resistente não perece...
A cada novo dia me envelhece,
Nas rugas que desenha minha face...

Desdenha sutil corda que embarace
Meus passos sertanejos na cidade.
A dor que já me enluta, a da saudade!

X

A minha maldição, julgava esparsa.
O tempo adormeceu tal tempestade.
Maldita seja então toda essa farsa,
Triste vulto enlutado na cidade...

Não tem sequer amigos. Um comparsa
Surgindo dessas sombras, causa alarde.
Num tempo, se fazendo tragifarsa,
Só deixa a sua marcas de maldade...

Quantas horas passadas sem prazer,
O templo da esperança foi queimado...
Quem sonha com momentos de lazer,

Num átimo percebe estar errado...
Nas sombras da maldita vou viver.
A maldição ressurge do passado!

X

Noite avassaladora refletida;
Belo espelho das águas, ao luar...
As estrelas cadentes, esse mar,
As horas mais tristonhas, de partida...

Um gole de conhaque, alma doída...
Procuro simplesmente, te encontrar,
Noite, tapeçaria, faz sonhar;
Quem me dera morresse, despedida,

Em meio a tal nobreza divinal.
M’abriria então, Deus, o seu portal,
Guardaria essa imagem na retina...

As mãos te teceram, imortais,
Em tal momento orgásmico de paz,
Te emolduram, amor, luz cristalina!

X

Contigo, meu amor irei à lua,
Manhosa delicada e tão sutil.
Sem medo, sem vergonha, exposta e nua,
Meu mundo no teu mundo mais viril.
Gemidos percorrendo o quarto, a rua,
Delícias deste porto que se abriu...

A boca tão macia me tocando,
Os olhos revirando, devagar...
Teu corpo no meu corpo se encostando,
Vontade alucinante de gritar.
Aos poucos no teu mar, vou penetrando
Meu barco que desejo naufragar

Em toda a vastidão duma bela ilha,
A porta da infinita maravilha...

X

Quando me pedes provas deste amor,
Pressinto que não sentes quase nada.
No gesto que se empresta sem valor
A noite se abortou sem alvorada.

Amores se tão fúteis sem favor,
Mostrando a dura face destroçada.
Não valem nem sorriso nem pendor,
Apenas do desejo, barricada.

Romances que se fazem cena a cena
Em crimes e loucuras, farsa farta.
Milimetricamente negam trena.

Só servem de ilusões e nada mais.
Que a vida de outra vida já se aparta,
Lembrando que se foi sem ser jamais...

X

A minha alma embuçada nas torturas.
Um sino repicando esta saudade...
No gosto mais amargo, as desventuras
Nas neves que me deste, frialdade.

Num tempo bem distante das ternuras
Chuvosas cordilheiras, tempestade...
Amores necessitam de branduras
Sem elas; impossível liberdade...

Destino me levando pr’outra estrada
As noites esquecidas trazem nada.
O vento? A calmaria desconhece...

Meu canto transtornado, uivo e prece
O resto do que fui já não existe...
O mundo que me deste, morre triste...

X


A mestra dos embustes já chegou!
Sentada na primeira fila ri.
Neste intervalo inerte em que saí,
A máscara que usava se quedou...

Ilusionista mentes. Mas já vou
O meu futuro está longe daqui.
Nas metas que prometes perco o gol,
Nos mares onde afogas, me perdi

Vencida pelas tramas em que mentes
Teu mundo de repente está caindo.
As presas que me mostras, de serpentes

No riso que falsária finges lindo...
A mestra dos embustes já me chama,
- Vem logo que incendeio até a cama...

X


Fruteira repartida é vida mansa
Na dança não dançou mais minha gente
Meu verso vai surgindo num repente
E a morte se vier, já nem balança.

Convido-te querida, à contradança
Não trago no meu peito uma serpente,
Não tranço nem sequer cabelo e pente,
Maior que a cabeça, é sempre a pança.

Não pensa que me engana quem não ama
Amores são sensatas tempestades.
De tudo que já tive amor que vale

Subindo para o céu encara o vale
Nas taperas, sertões ou nas cidades?
De lenha ou gás; fogões? A mesma chama...

X

A mesma mão que finge e se demora
Nas cordas de um vadio violão
Chorando de mansinho nunca chora
E toca bem mais fundo o coração.

Olhar que nada pesca, não vigora
Não pede nem saudades nem perdão.
Quem chora num chorinho, desde agora
Já sabe todo o som da sedução.

A mesma mão que beija e te maltrata
O mesmo pé que dança, capoeira,
A boca que te lambe já te mata

Peçonha de pessoa traiçoeira
Antídoto? Querida, na verdade
Talvez encontre em canto de amizade...

X


A mesma mão que amansa, sacrifica.
Em preces mentirosas se reveste
A falsa pedraria em roupa rica
Engodo pra quem usa e se veste.

A seta ludibria quando indica
O rumo das estrelas. Que se infeste
No amor que nada acalma, nada fica.
Encontra a solidão que o ateste.

Amor sem paz é quase incoercível
Só deixa vir caminhos tateantes.
Porém se gigantesco é invencível.

Resiste qual falésia à tempestade.
Permite novos sonhos delirantes
Demonstra no seu rumo, a liberdade...

X

A máscara medonha se levanta,
Dos restos, podridão deveras unta.
Nos olhos vermelhantes, sacripanta,
Da minha solidão já se besunta.

A noite que me poda, finge santa
Não passa de vergonha nem pergunta,
Sangria que me trazes cedo espanta
As larvas destas moscas dor conjunta...

Haverei de viver meus lassos dias,
Beirais monumentais são meus abismos...
Na máscara medonha as agonias,

Expressas no calor desta fornalha.
Os dentes serrilhados mostram trismos,
Na lama da minha alma, a vil batalha...

X

Não percebes verdades que não vês.
As farpas escondidas já não ferem...
Quem fora assim calado já tem vez,
As ondas não se movem como querem

Os donos das verdades, dos jornais...
Notícias tão venais não interferem,
Não era finalmente hoje é bem mais...
Por mais que as armadilhas hoje imperem...

Quem tinha a valentia na arrogância,
Quem tentou proibir jardim e rosa,
Quem finge que riqueza é elegância,

Não sabe a maravilha que andrajosa,
Recomeça a sonhar, viver infância,
A grande maioria silenciosa...

X


A noite sem ninguém é dolorida,
Oráculo em tristeza concebido,
Intérprete fiel da descabida
Paixão que vem tomando o meu sentido.

Meu mundo se transforma, a minha vida
Se perde sem ter prumo. Vou vencido.
Nas artimanhas vãs, corte e ferida,
Aprofundando amor mal resolvido...

Na pompa que exacerba uma saudade
Funeral e mortalha não se nega
A noite vem tolhendo a liberdade

Trazendo em pesadelo, duro vício.
Se todo amor se faz em pura entrega,
A noite sem amor é precipício!

X

Embora se prometa um fino gozo,
Em bocas venenosas, ira acesa...
A tempestade invade o meu repouso
Nas coxas mais roliças da princesa...

Um fogo tão voraz, delicioso
Rebenta na fogueira da incerteza
Bebendo deste mar, maravilhoso
Cedendo a seus desejos: natureza...

Porém contrapartida miserável
Mostrando-se em respostas tão funéreas.
Roubando toda a cena, leda, instável.

Serpente me encantando em seu disfarce
Das noites as heranças vis, venéreas
Escondidas decerto em bela face...

X


A noite apascentando meus olhares
Meu cais já se aproxima da verdade
Procura a liberdade de um Palmares
Nos becos e botecos da cidade...

Buscando respirar em outros ares
Distantes de um amor em falsidade.
Amiga vem tecendo em seus teares
O pano todo branco da amizade.


A noite se transcorre então, silente,
Na mansidão de calmos, leves ventos.
Seu braço que antepara a minha vida

Nos ombros, com carinhos, envolvente
Meus dias de tenazes sofrimentos
Encontram na amizade uma saída...

X

A lua soberana brinda a noite
E em nobre porcelana se desnuda.
Um sonhador sozinho no pernoite
Procura em outras bandas por ajuda.
A solidão queimando como açoite
A vida parecendo tão miúda...

Vagando pelas ruas, bar em bar,
Não tendo mais descanso, continua.
Deitando sob os raios do luar
Caminha cego, a esmo pela rua.
Não tendo mais sequer onde aportar
Seus lamentos; dirige para a lua...

Amigo, eu também sei da desventura
Que em noite enluarada, nos tortura...

X

Caleidoscópio diverso,
Amor muda seu matiz.
Cantando assim cada verso
Procurando ser feliz...

Porém no fundo, o poeta,
Finge mais que se imagina.
Mesmo quando se alucina
Ou Cupido acerta a seta

A palavra é feiticeira
Pouco a pouco nos invade
Mentirosa é verdadeira.

Amar é mais que vontade.
Dor é também companheira,
Se juntar vira saudade...

X

Eu creio neste amor que é tão imenso
Que traz revolução, muda os costumes.
Amor que na verdade é tão intenso
Regado a tantas flores e perfumes.
No teu amor, o meu já recompenso,
Deixando bem distantes meus queixumes,

Eu creio neste amor que é tão divino,
Que é feito da esperança e da alegria.
Nele o meu futuro descortino,
Abrindo uma janela à fantasia.
Meu sonho que carrego qual menino
Num mundo que é mais pleno em harmonia...

Procuro finalmente a liberdade
No amor que se supera na amizade...

X

Que bom ser tua presa predileta
Sentir teus lábios densos me sugando.
Na fome que sacias se completa
A noite que, contigo, desfilando
Tendo assim nossos clímaces por meta
Amor que nos entorna extasiando...

Enlanguescente fêmea aqui deitada
Entregue às variantes sensações
Me devorando enquanto é devorada
Tocada pelos dedos das paixões
Rainha mais profana, minha fada
Causando em nossa cama convulsões...

Não deixa que esta noite morra à míngua;
Marcando sua presa, boca, língua.

X


Perdão... Já vasculhei por todo espaço,
Nas estrelas e versos que não fiz.
Tantas vezes morrendo perco o laço,
E me embaraço. Tento ser feliz...

A vida que me trouxe esse cansaço,
Cumprindo seu destino, tola atriz,
Devolve-me, sedento pr’o teu braço...
Quem dera seu perdão, mas nada diz...

Clemências, fartas doses, perco bula...
Nos calafrios mágicos, segredo.
Dos erros cometidos, tanta gula...

Minhas forças vencidas, mas em vão!
Meu sonho não se livra deste medo...
Será que poderei ter teu perdão?

X



O que dizer do que se chama vida?
Repúdio, lágrimas, martírio, dor?
Não poderia conceber amor,
Nunca tive remansos. Vi, perdida,

A juventude, alheio, sem saída...
Quisera piedade, por favor...
Sentira simplesmente tal pavor
Que só pensava, enfim, na despedida...

Conheci os salões da solidão,
Num marasmo, inconstante. Coração
Dizendo nada, nada repetindo...

Vieste, mansamente, tempestade...
N'outono temporã felicidade.
Mas, triste, meu inverno já vem vindo...

X

A minha mão passeia , calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.

Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...

Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.

Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.

X



A noite se aproxima e morre o dia.
A lua companheira traz saudade
De quem viveu comigo a poesia
E morre na longínqua tempestade.

A noite polvilhando fantasia,
Esconde no seu breu a falsidade.
Sem luas no sertão a noite esfria.
Distante já ficou nossa amizade...

Quem teve lamparina tem neon
As luzes apagaram o luar
Viola se perdeu em outro tom.

Nos quartos dos motéis tantos casais,
Companheiros, encontro em cada bar
Amizades? Partiram... Nunca mais...

X


A noite me tomara por refém
Em bares, cabarés, a solidão...
Vivendo sem ter nada, sem ninguém,
Amigo de uma negra escuridão...

Cansado desta vida sem um bem,
Ouvindo sempre o mesmo e triste não,
Somente este vazio, nada vem
As portas se fechando... O mundo em vão...

Vieste em calmaria, quieta e mansa,
Imagem redentora deste amor.
Trazendo num sorriso esta esperança

De vida que renova em cada instante.
Teu braço companheiro e salvador,
Descortina um futuro radiante...

X

Eu quero o teu olhar mais fascinante
Teu corpo, um pessegueiro tão sedoso,
Ser teu amado amigo, seu amante
E, louco desfrutar de cada gozo.

Teu par, a vida inteira, o mais constante
No amor que a gente faz, maravilhoso
Saber da fantasia a cada instante
Num mundo todo nosso, bem gostoso...

Se te quero e desejo tanto assim,
Talvez um dia queira-me também.
Esta ilusão que teima, tão ruim

Distante de teu corpo, dia a dia,
Somente uma saudade, crua, vem.
Deixando bem longínquo o que eu queria...

X

A vida desde o nosso batistério
Prepara para nós a sepultura
Bramindo com vigor golpe funéreo
Às vezes com aspectos de tortura.

Envoltos nesta bruma, em tal mistério
A dor que nos maltrata não se cura
Descortina a nossa alma em climatério
Legando
um frio inverno em noite escura.

Na solidão terrível dessas fragas
Cobrindo o nosso corpo em negras chagas.
A sombra da esperança? Claridade...

Embora quase sempre seja tarde
Aplaca o firme sol que assim nos arde
Somente o laço firme da amizade...

X


A noite engole as horas, guerra e paz.
Adormecendo em berços de crianças
Devolve em nossos sonhos, esperanças
Tornando-me decerto mais falaz.

A sorte em pirilampo já se faz,
Amanhecendo importo outras lembranças
De festas, fogos, risos, gozos, danças
Aonde com certeza, fui audaz...

Beijando tantas bocas, loucas fúrias
Bacantes e delícias, mil luxúrias
Sem medo do sofrer e até da morte.

Distante dos meus medos e fracassos
No gosto de teu gozo, teus abraços
Que a noite sempre venha e me transporte...

X

A natureza inteira em esplendores
Abrindo
os elementos no horizonte.
Repare na fineza destas flores
As águas percorrendo a calma fonte.

A lua nas montanhas, suas cores,
Aurora: madrugada-dia, ponte...
A tempestade louca dos amores,
A Serra do Curral, Belo Horizonte...

Estrelas passeando constelares...
Abismos, profundezas, vasto mar...
A natureza mãe, tantos lugares...

O brilho que encontrei na luz solar,
Merecem orações nesses altares.
E mais maravilhoso, teu olhar...

X

A dura sensação de uma ignorância
Faz mal a quem recebe com carinho.
Palavra que se toma em discrepância
Demonstra
ser estúpido o caminho

De quem cresceu inerme desde a infância
Confunde saparia com sapinho.
Educação se faz com elegância
Porém isso se cria desde o ninho...

Meu verso se criou em liberdade
Não
teve mãe nem pai, foi abortado.
Vagando pelas ruas da cidade

Não tem nem paradeiro nem grilhões.
Primeiro é melhor ter estudado
Do que falar asneira aos borbotões....

X


Quem fala que o amor é obsoleto
Não sabe quando o fogo nos domina.
Aos teus braços, querida, eu me arremeto
E encontro com certeza, a luz divina.

Não posso me calar, mas eu cometo
Loucura, insanidade que alucina
Quando penso que em ti eu me completo.
Encontro meu caminho em nossa sina

Vivemos separados, mas eu te amo,
Meu corpo se associa ao teu desejo.
Sozinho no meu quarto quando eu chamo

Teu nome repetido em cada sonho.
Quem dera se me desses um só beijo,
Meu mundo talvez fosse mais risonho...

X


Jamais posso negar intenso brilho
Que emanas nos teus olhos, companheira.
Meu mundo nos teus passos eu palmilho
Com minha admiração mais verdadeira.

Se Deus, em sacrifício deu Seu filho
Amando, com certeza a Terra inteira
Ergueste com firmeza esta bandeira
Que é rumo e vai dourando um nobre trilho

Que deixas no caminho com vigor.
Sabendo do poder do Santo Amor
Deixando para trás qualquer orgulho

Tua amizade é nobre e consciente
Fazendo toda gente mais contente
Sem ter nenhum alarde, nem barulho...

X


Nas linhas que traçamos o futuro
Por vezes os caminhos são nefastos.
Quem teve sonhos limpos, puros, castos,
Encontra depois disto um campo escuro.

Saltar por sobre insânia, um alto muro,
Depois de tantos dias tão mal gastos
Servir para os abutres de repastos
Não é querida amiga, o que procuro...

Quebrando esta corrente inevitável
De dor que se propaga em nova dor.
Sem ser tão simplesmente qual ator

Já crendo num porvir imponderável.
O lastro; aonde está esta verdade
Amiga se traduz: fraternidade!


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