sábado, 22 de dezembro de 2007

SONETOS 079 E 080

O AMOR VIRÁ...

Não chore mais menina tão bonita.
A sorte se encontrou sempre contigo,
A vida não promete uma pepita,
Mas saiba que terás sempre este abrigo.

Da minha mão cansada que acredita
Na força vencedora deste trigo.
Não chore mais, não faça tanta fita
Que tudo passará sem ter perigo...

Eu sei que crescerás bem mais feliz
No amor que se promete ao fim da tarde.
Terá querida, então tudo o que quis.

O céu das andorinhas sem alarde,
A lua tão bendita cedo cai,
Enchendo os olhos tristes, velho pai...

X

Meu destino jogado em preamar
Nas
ondas que te levam para aonde?
Nas conchas que cansamos de buscar
Na história em que perdemos trem e bonde.

Promessas de fingir e de sonhar
Teu rosto nem mais sinto, onde se esconde?
Estrela tão difícil de encontrar.
Nem mesmo uma esperança me responde,

Apenas pude ver tua partida
Nas ondas e nas conchas, nesta areia
Lambida pela luz da lua cheia.

Distante de teus olhos passo a vida,
Procuro pela estrela porto e cais,
O vento me condena: nunca mais!

X

O tempo vai passando e nada tento,
No intento de ser livre, me perdi.
O rumo que deixei seguir mais lento
No fundo, me atormento e vou sem ti.

Sentindo cada vez mais o momento
Do tempo que se passa e percebi
Amar não é somente um bom invento
Querer estar contigo estando aqui.

Mas isso nunca fez a diferença
Tu sabes que te quero, e não duvida.
A vida sem amor sequer compensa

Respostas eu pedi mas nada veio,
No manto que te cobre nem mais creio,
Apenas esperando que decida...

X

AMOR DE MENINA


Abrigos desvalidos e sem força
Nos préstimos negados, desalento.
Por mais que uma esperança seja moça
Não cabe no embornal do pensamento.

A pele da menina quase louça
Rachando com o sol desabamento,
Dos olhos tantas águas formam poça
Depois irei dormir neste relento.

A casa da menina tem porteira
Ponteia uma viola noite e dia.
A lua se mostrando companheira

Amor faz mais folia e não reclama,
Meu Deus como teria uma alegria
Se a moça desse abrigo em sua cama.

X

TE AMO, TE AMO...

Não quero que renasça nem que morra
A sorte que te trouxe sem disfarce
Trazendo em nossa cama a tal Gomorra
Do beijo em que se fez tal entrelace

A vida sem te ter, vida cachorra
Gerando a cada dia um novo impasse
Não quero que outra lua me socorra
Nem ofereço assim uma outra face.

Apenas bebo a fonte, juventude,
Nos trajetos risonhos deste mar.
Tomando em cada tento uma atitude.

Quero sem limites, sempre amar,
Nas úmidas vertentes deste rio,
Enchendo um coração antes vazio.

X

Algumas vezes jóias lapidadas
No ourives predileto, o coração,
Se mostram quase sempre iluminadas
Mas outras vezes negra escuridão.

Tiaras, gargantilhas ou anéis
Rubis ou esmeraldas, perla ou jade,
Assim amores feitos mais fiéis
Durando por quem sabe eternidade.

Opalas, turmalinas e corais
Dourando minha vida em teu abraço.
Nos teus cabelos brilhos, sempre mais,
Acaricio e assim desembaraço.

No fundo em tanta jóia, em tal matiz,
O que mais quero, amor é ser feliz!

X

Meu verso enviesado pela sorte
De quem nasceu com fome de vingança;
Na ponta desta faca trago o norte
A mão que quer o beijo já te alcança;

Porém tu sentirás meu fino corte
Da boca que te morde seta e lança.
Não temo lábio doce que me entorte
Nem mesmo uma lambida da esperança.

Nascido em fardo amargo e tão pesado,
Carrego entre meus dentes de soslaio
Certeza de saber que ando de lado,

No coração sofrido, este balaio,
Que é mostra que se fez por ter amado
Quem luta e não se deixa ser lacaio.

X

Onde estiveste filho tão querido?
Andei te procurado por montanhas
Embora eu te perceba distraído
Vencemos no conjunto tantas sanhas.

A tua mãe investe na libido
Querendo me vencer com suas manhas,
Pensara que era assunto resolvido
Mas sinto; as novidades são tamanhas.

A sorte se mostrou encurralada,
Na boca esfomeada da pantera.
Amor se fez distante em alvorada,

Por isso minha estrada foi diversa.
No meu outono; em tua primavera
Meu filho, em outro amor, outra conversa.

X

Soprando em minha mente cada vento
Que veio das florestas mais selvagens,
Abrindo mais e sempre o pensamento
No toque extasiante das folhagens.

A voz de quem só fora sentimento
Dizendo com firmeza uma bobagem
Qualquer que se demonstre movimento
Permite que eu prossiga esta viagem

Na busca de mim mesmo pela vida.
Voando em minha mente, asas abertas,
Tua presença sempre distraída

Não viu que me entregaste o teu destino.
Ao menos não darei mais os alertas
Sabendo que me tens, não te domino...

X

Esperando este trem que pára agora
Na estação liberdade/consciência
Passando pelas ruas mundo afora
Mostrando que é preciso paciência.

Trazendo especiarias não demora
Mas vale pelo tempo e penitência.
Em bandeiras e sonhos se decora
O trem da liberdade e da ciência.

Ciência de saber que amor é cura
Que a força por mais bruta se faz frágil
Perante a mansidão, calor, ternura.

Mergulho em utopia a claridade
Num sonho de outro sonho bem mais ágil,
Que venha com perfume de amizade...

X

Desate a fantasia deste dia
Que finge que não veio nem virá.
Roubando se puder, qualquer magia
Da noite em que deixei amor por lá.

Receba nos teus dedos, poesia,
Preveja que a saudade chegará
Desarme, no final, tua alegria;
Que nada deste dia brilhará...

Mas sinto o teu sorriso companheiro,
Qual fosse algum resquício do que fomos.
Amiga. Se me entrego por inteiro

E não somente apenas partes, gomos,
É por que pressinto a salvação
Na face da amizade e do perdão...

X

Querida, não me peça mais conselhos,
Errante pela vida eu não consigo
Calar estes meus olhos tão vermelhos,
Retratos do que tive aqui comigo
Mostrados quais reflexos em espelhos
Jogados
bem distante deste abrigo.

Não falo deste amor em pastoreio
Nem
fujo do regaço da alegria,
Apenas decorado por teu seio
Receio não mostrar tal sintonia
Que cumpra o que desejas, teu anseio,
Sem nexo, sem sentido e sem magia.

Apenas sei que sempre te esperei.
Conselho em teus amores? Não darei

X

Tu foste esta cabrocha que sonhei
No carnaval perdido da memória.
Recebo todo o vento que assoprei
Na morte sem sentido, sem história.

Agora o que fazer se não sou rei,
Se o rumo se perdeu, sem ter nem glória.
Do quanto tanto amor eu desejei,
Percebo que não resta nem escória.

Cabrocha, carnaval, morreram todos,
Apenas um batuque meio estranho
Surgindo doutros rumos, novos lodos,

Matando a colombina em caquexia
Da
fome deste amor sequer um ganho,
Cabrocha também tem anorexia...

X

Do pecado e veneno que bebemos
Em versos e delírios sem limites
Espelhos onde sempre nós nos vemos
Reféns de outras loucuras e palpites.

Não quero nem impeço que acredites
No fogo deste inferno que teremos
Nem sinto nem desejo que limites
As hóstias que não temos nem comemos.

Só falo deste amor, santo consórcio,
Que é feito de ternura imensidade,
Embora no passado, o meu divórcio,

Demonstre para a falsa santidade
Pecado que envenena quem não ama
Matando em nascedouro a vida, a chama..


Em homenagem ao Papa Bento XVI

X

Vou sonhando acordado pelas ruas,
Vestido de ilusões e fantasias.
As mãos que me acarinham não são tuas
Mas suas ao me ver sem agonias.

As horas que passamos, loucas, cruas
Os medos se renascem como os dias.
Parece que distante continuas
Mentindo nos desejos, melodias...

Mas quero que tu saibas que te adoro,
Embora não consiga mais sentir
O gosto tão profano onde decoro

Os sonhos, pesadelos e temores.
Quem sabe te encontrando no porvir
Renasçam destas sombras os amores?

X

Desejo meu querido companheiro
Que o mundo se aproxime do teu sonho.
Num gesto mais sincero e verdadeiro,
Meus barcos nos teus braços sempre ponho.

Na rosa que plantamos num canteiro
Promessas dum porvir bem mais risonho.
Que o amor este divino feiticeiro
Afaste a solidão. Eu te proponho

Que leve bem mais leve a tua vida.
Num mundo mais gentil e sem segredos,
Distante das tristezas, velhos medos...

Na sorte que desejo repartida,
Um tempo assim refeito e sem maldade,
Em todo este poder de uma amizade.

X


As portas entreabertas do meu peito
Sem medo ou cadeado que as proteja
Faminto sentimento sem direito
Do vento benfazejo que preveja

A luta que vencida dará jeito.
Se tudo o que vier assim deseja
Amor que nunca mais foi satisfeito
A boca desdenhosa que me beija

Servida na bandeja dos meus sonhos
Trará talvez a paz que necessito.
Ao longe, bem distante, no infinito;

Guardado por carinhos mais risonhos,
Vencendo cada pedra do caminho,
Tragando este meu corpo em teu carinho...

X

AMOR DE BOSTA

Agora que não queres meu amor,
Dane-se em cada curva do caminho,
Que tudo que te surja tentador
Voando pra outro canto, passarinho...

Paspalho sentimento sem louvor
Vagando bar em bar se estou sozinho,
Violo os teus ouvidos sem pudor
Renasço noutra cama, noutro ninho...

Falar que és minha amiga... que resposta!
A vida não permite mais enganos.
Nos sentimentos, velhos soberanos,

A carne maltrapilha vai exposta.
Já tenho pra esta estrada novos planos.
Não quero mais te ter: amor de bosta!

X

Batucando a saudade no meu peito
Sem jeito com trejeitos mais vadios,
Fingindo que este amor insatisfeito
Nos une por estrelas, mãos e fios.

Agora que encontras contrafeito
Vestido das mentiras perco os frios
Olhares de quem nunca teve jeito,
Tocando bem de leve tantos brios.

Saudade não me engana, vai embora,
Amor que já se foi não voltará;
A noite vem chegando e não demora

Percebe noutra boca um novo toque,
Da lua que por certo, brilhará,
Mesmo que seja amor ponta de estoque.

X

AMO VOCÊ

Temperando esse amor em sal e riso,
Deixando uma saudade na salmoura
Na carne que me dás o paraíso,
Depois o sol mansinho, tudo doura.
Perdendo o que me resta de juízo
Na cama, a chama acesa, vem, e estoura...

Forrando nossa cama, em alecrim,
Bebendo da cachaça desta boca.
Tempero meu amor pra sempre assim,
Na vontade macia e sempre louca

Após esse banquete, a sobremesa,
Do mel mais delicado que provei.
No gozo tão suave da princesa
A sensação exata de ser rei...

X

Amar-te como amei? Somente um louco...
Além das minhas forças, foi demais...
Meu coração morrendo pouco a pouco
De amor além de tudo, e muito mais...

Insensatez total, amar assim...
O sofrimento, eu sei, amor me traz
Sangrando sem parar até meu fim
Tomando o meu juízo, perco a paz...

Pensara que sabia o que era amor...
Agora me percebo um aprendiz.
Somente o amor, ingrato professor

Ensina, nos ferindo e maltratando.
Fazendo um coração tão infeliz
Que aprende tão somente assim, amando...

Baseado em Só Louco de Dorival Caymmi

X

Tu falas deste amor como se fosse
Um direito exclusivo, todo teu.
Não somos tão somente simples posse
O teu amor jamais será só meu...

O mundo que sonhavas, sempre doce
Se perde na amargura deste breu...
A vida ,sem saber, do amor que trouxe
Fez desse meu olhar pra sempre ateu.

Não quero que tu penses ser matriz
E não serei jamais a filial,
O que me importa, amada é ser feliz,

Buscando teu carinho, noite e dia.
Amar demais além do que é normal,
Encharca nossa vida em poesia...

BASEADO EM MATRIZ E FILIAL

X

Levaste teus rebentos pela vida,
Em esmoleres sonhos sem sentido.
Refém de tua sorte já perdida,
No corte da existência, puro olvido.

Procuras nos espelhos a saída
Mal vês que tudo enfim foi resolvido.
A pedra do caminho não vencida,
O medo de viver, adormecido.

Não leve mais os mortos nem os risos.
Ateie fogo às vestes e aos lençóis...
Talvez assim percebas outros nós;

Além de todo amor, os paraísos
Se mostram desarmados e distantes.
Permita-se morrer dentro de instantes...

X

No vento das montanhas, meu olhar
Encontra o teu semblante qual miragem
Parece que arvoredo a balançar
Traz a marca dos braços, nova aragem

Bebendo cada gota do luar
Que cisma me levando em tal viagem
De fadas nesta serra a me tocar
Fazendo amar, sentir qualquer bobagem.

Minha boca ferida pelo frio
Sequiosa da tua, nada sente
Senão tal vento em corte mais macio

Penetrando meu peito sem aviso.
Assim ao fim de tudo, se pressente
Meu passo, desmedido e já sem siso...

X


Neste meu coração avarandado
Pousando toda sorte de esperança.
Batendo quase sempre compassado
Depressa vai mudando em nova dança

No verso que trouxeste do passado
Recebo este bafejo da lembrança.
De um tempo que se foi acomodado
Mas volta em teimosia de criança.

Andorinha voltando de viagem
Tomaste o coração quase em assalto.
Falar que amor morreu? Uma bobagem,

Amor não foi embora, aqui ficou
Matando este meu peito tão incauto
De susto; uma andorinha que voltou...

X

Até mais ver, querida companheira.
Não posso te dizer se volto mais,
Apenas te proponho a vida inteira
Na busca do que somos. Siga em paz

Que
a noite que se chega, costumeira,
Prazeres e vazios sempre traz.
Mas nada disso importa. A verdadeira
Esperança não volta aqui jamais..

Não digo mais adeus, nem mesmo bye
Apenas até mais se mais houver.
Por mais que a tarde fria que se vai

Demonstre a novidade que não veio,
Além de todo o fim que se quiser,
Amiga, o tempo racha-nos ao meio...

X

Tanto bem que te quis... nada sobrou,
Somente um gosto amargo de saudade.
Além de todo o cais, já naufragou
O sonho de viver felicidade.

Como falar de amor se nada sou
Senão o vento frio. Na verdade,
Nem mesmo um bom caminho se trilhou
No amor da tão distante mocidade...

Fugir destas fronteiras da loucura.
Estupidez pensar que isto tem cura...
As luzes se apagando em fim de festa

Sedução destes sonhos sem por que.
Ilusão do que procuro, mas cadê?
O som da praia ao longe, o que me resta...

X

Ah! Quem me dera estar sempre a teu lado,
Na lua tropical , boleros e canções,
Bandoleons, violas, noites, fado..
Rodando nas loucuras das paixões...

Não me canso jamais, apaixonado,
Entregue a tais desejos seduções...
A noite vem e traz o teu recado,
Na boca, doces lábios, tentações...

Ah! Quem me dera o gosto do veneno
Bebido em tua boca, nos teus seios...
Delírio me tomando, vivo e pleno,

Tremendo todo o chão sob os meus pés...
A vida se entregando aos meus anseios,
Na dama que convida... os cabarés...

X

Eu ando, meu amor , à flor da pele,
Tristonho sem motivos aparentes.
Sorriso enviesado me repele,
Andando com a faca entre meus dentes.

Pavores e temores do vazio.
Saudades do que nunca percebera.
Tomado em sensação de imenso frio,
Matando num inverno a primavera.

Estou com os meus nervos combalidos,
Os olhos mais vermelhos anunciam
Hiperestesiados, os sentidos;
Assim nova paixão já denunciam...

Eu ando à flor da pele; por favor,
Não negue minha cura: o teu amor!

X

Surgindo constelares esperanças
Nos olhos da criança mais contente.
Escondem suas dores, suas lanças
Rangendo uma alegria reluzente

Nas águas mais serenas, sempre mansas
Do amor que se fizer bem mais urgente.
Com jeito de meninas tais lembranças
Cerzindo fantasias, finalmente.

Amor é quase sempre a liberdade;
Anúncio de outra vida mais feliz.
Nessa luta por solidariedade.

A vida que desfila em festival
Se
mostra soberana e sem igual,
Como o meu coração, pra sempre quis...

X

Na noite de esplendor, o belo mar
Tomando toda areia desta praia
Lambendo tuas pernas devagar,
Levanta mansamente tua saia.

Mostrando teus segredos, ao luar
Que espreita bem distante, de tocaia,
Por um instante chega a pratear
Fazendo com que a noite se distraia...

Espumas acarinham tuas pernas.
Delícias de lambida bem salgada.
As mãos do grande mar são tão ternas.

Tu te entregas aos loucos pensamentos,
Sorrindo, tua pele arrepiada,
Abrindo tuas coxas, beijos, ventos...

X

Vagas vagas, vergastas, vergalhões...
Em tantas plagas gastas ilusões
Não me afagas desgastas emoções...
E mesmo assim esmagas as paixões...

Sou éter, mas quem dera ser eterno.
Arremeter meu sonho/espera terno
Bem longe do que fora triste inverno
No alforje em que decoras meu inferno.

Guardo o medo, arremedo de uma sorte
Mais cedo do que sendo novo corte,
Segredo prosseguindo até a morte.
Não arredo, seguindo amor, seu norte.

Desgovernado em vagas madrugadas
Nas buscas, bruscas velas relevadas...

X

A morte se aproxima lentamente
Do rico leito, de edredons forrado;
De nada vale o médico ao doente
Nem o remédio que ele tem tomado.

Trazendo, no colo, pequenina filha.
Jogada ao chão, imundo, na calçada,
A vagabunda, suja e maltrapilha,
Vive, por certo, ali, do quase nada.

A sorte se mostrando traiçoeira,
Vestida de nobreza em dura morte,
Vestida de outra morte, numa esteira

Se faz sem esperanças, vidas passam...
No canto da agonia, bem mais forte;
Extremos que se tocam, se entrelaçam...

Marcos Coutinho Loures
Marcos Loures

X

Guardando o teu sorriso, minha irmã,
No vento que beijou-me mansamente
Com toda a claridade da manhã
Levada pela tarde totalmente...

A vida muitas vezes segue vã
Por mais que a gente lute, que se tente,
Por mais que seja a noite temporã,
Jamais a manhã chega novamente.

Amei demais, amores variados,
Com força e com loucura, hemorragias...
O fogo que queimou antigos prados

Deixou o teu sorriso na memória.
Agora a noite toma as cercanias
O amor bateu de novo... A velha história...

X


Desejo aos meus amigos muito amor
E a paz tão redentora enquanto vida.
Antes do final, sempre um sonhador;
Quero felicidade dividida

Entre todos aqueles cuja dor
Por um momento cala uma saída,
Numa delicadeza, mansa flor,
Em perfumes e luzes revertida.

Que não se preocupem mais comigo,
Carrego minha cruz e não reclamo.
A vida, com certeza é um perigo

Inda mais se negamos dono ou amo.
E saibam, companheiros, fui feliz
Das chagas e feridas, cicatriz...

X

Se já não me interessam teorias
Que falem deste amor ou algo mais,
Tornados derrubando fantasias
Inundam o meu porto, matam cais.

Se bem que nas manhãs que estão mais frias
Fazem falta estes sonhos matinais.
Mas além de todo amor que não querias,
Amor, broa e café. Vem logo e traz...

Depois tem tanta coisa por fazer,
Correndo sempre ganho o novo dia,
Adormecendo sempre o meu prazer.

Se Deus quiser, à noite estou aqui;
E qualquer coisa, finge que sabia
Do amor que foi demais e que perdi...

X

Tantas vezes mergulho em teu retrato
Jogado em algum canto do passado,
Mostrando a sensação de tal destrato
De um tempo sem sentido, abandonado.

Percebo teu reflexo, mesa e prato
Dentro do coração tão mal guardado.
Talvez em tanto amor de fato
Um farto sentimento destroçado.

Encontro velhos charcos, rasos dágua.
Misturas de esperanças mal vestidas
Com cardumes gigantes, tanta mágoa...

Mal concebendo que inda estás aqui,
Nestas algas que estão apodrecidas,
O veneno do amor bebi de ti.

X

No nada em que adormece bem vestida
Na leve transparência do vazio.
Percebo que essa mão tão distraída
Encontra este calor matando o frio.

Não fale que se mostra arrependida,
Galgando o pensamento em que me guio.
Menina esta delícia concebida
No gosto e neste gesto, me vicio.

Adormecendo enquanto mal disfarço
Num sonho tão perfeito, tal nudez.
No pouco de juízo então me esgarço

E deito em sua cama, o meu desejo.
Qualquer dia em total insensatez.
Delícia usufruída que prevejo...

X

Eu falo da pureza deste amor
Que traz uma inerente resistência
Contra qualquer noção de desamor
Que toque e que maltrate uma existência.

Amor que se faz riso em seu louvor
E mata o sacrifício e a penitência.
Amor que é plenitude e sonhador
Vivendo e renascendo da clemência.

Eu falo deste amor que é carpinteiro
E molda nossa vida em alegria.
Entorna em nosso céu rico tinteiro

Em cores maviosas, mil matizes...
Amor que nos foi dado em maestria
E
quer que todos sejam mais felizes...

X

Bailando nossa sorte em aguardentes
Em
poços defumados da incerteza.
Rasgando minha sina perco os dentes,
E sinto que perdi minha leveza.

Mas vejo outros caminhos decadentes
Por onde trilharei tua beleza
Amada sensação de penitentes
Em busca da verdade e da pureza

Negada por quem tem o cadeado
Guardando neste cofre uma esperança.
Tomando para si destino e fado,

Na velha apologia do pecado.
Distante deste AMOR, o velho avança
E matando a alegria, nega a dança.

X

Não me fazes favor algum se me amas...
E nem tampouco faço se te adoro...
Amor nasce por si em fortes chamas,
Neste sonho divino me decoro,

Vibrando de prazer em nossas camas,
Não peço nem te rogo, nem imploro,
Apenas me enredei em nossas tramas
No teu corpo, querida, eu me decoro...

E sinto que este amor é benfazejo
Trazendo tanta sorte para nós.
Além de todo amor que te desejo

Pressinto que contigo, estou feliz.
Se temos um passado mais atroz,
Esqueça para sempre a cicatriz...

X

A noite está tão fria... A chuva cai...
Saudade toma conta e não me deixa.
A vida num segundo já se esvai,
Não resta nem sequer a simples queixa.

Não consigo entender por que partiste
Deixando este vazio dentro em mim...
Meu coração tão frio, está mais triste,
Por que terá, Meu Deus, de ser assim?

A chuva continua bem mais forte,
Trazendo tal angústia, que é infinda.
O frio me tomando lembra a morte.
E a dúvida terrível não deslinda.

Daria tudo, amor, para saber,
Onde e com quem desfrutas teu prazer...

HOMENAGEM A TITO MADI

X

Da dor que me elegeu como parceiro
Num casamento quase que perfeito,
Em flores dediquei meu verdadeiro
Canto que se mostrara satisfeito.

Meus versos que se encantam com a dor,
Também vão procurando uma saudade.
Se falo deste caso com amor,
A dor vem me nublando a claridade.

Mas sei que no final ela me vence
Convence e me deixando a solidão
Que é tudo neste mundo que pertence
Ao pobre e distraído coração.

O que fazes aqui, minha querida?
Mudar todo o destino em minha vida?

X


Amar e não saber se sou amado
Amando e prosseguindo quase a esmo.
O tempo que domina, meu passado,
Carinho que me negam, sempre o mesmo...

Vencido pela horrenda solidão,
Espero nos teus braços, ser feliz.
Quem dera se tivesse novo chão,
Andando por estradas que já quis...

A noite sem teu beijo desgoverna
Errante como um náufrago sem porto,
A vida nesse amor é sempre eterna
Viver sem teu amor, ser quase morto...

Por isso minha amada, alma te implora,
A volta de quem amo, redentora...

X

Milagre em primavera nosso caso,
Depois de tantas noites sem ter flores.
Quando já pensava em meu ocaso,
Surgindo, nos teus braços, os amores...

Nas flores estampadas na camisa,
A mansa solução, felicidade.
O vento devagar, a mansa brisa;
Trazendo a maciez, fragilidade...

Depois que se pensara nada mais...
Depois da prometida mansidão,
Descubro quanto amar eu sou capaz,
Nas ondas desta temporã paixão...

Que invade e que derruba, nada resta...
Amor que nos carrega; imensa festa!

X

A dor da solidão maltrata tanto
Que às vezes, dá vontade de morrer.
Não posso e nem resisto, tanto pranto
Cansado de, na vida, só sofrer.

Amiga necessito teu encanto,
Em cantos que me trazes meu prazer.
O manso do teu canto faz viver
E cobre meu amor com claro manto.

Imanando meu sorriso, minha amiga,
A vida sem ter medo, já periga.
E novo sentimento me persegue.

Amor que tanto tempo não sabia
Vivendo e se escondendo a cada dia.
Procura um coração que o carregue!

X


Sentindo este prazer intenso e raro

Que me proporcionas todo o gozo,

Persigo-te querida pelo faro

Entranho no teu mar voluptuoso.



Nossos corpos unidos, se misturam

Perdemos os limites sem pudores;

Deliciosamente se procuram

As bocas por caminhos redentores.



Vibrando dentro em ti, as sensações

E os olhos se reviram, buscam céu.

Provocam-se loucuras, convulsões;

Tua nudez; me entregas, sorvo o mel,



E bebo desta fonte, me vicio,

Em cada gota tua, delicio...

X


Inspirando nas musas, o meu canto,
Transmite tão somente o meu alento.
As lágrimas que caem, sentimento,
Expressam toda a dor deste meu pranto.
Mulher que sempre prezo e amo tanto
Não quero te cantar em sofrimento.
Amor é com certeza, o instrumento,
Que impede desses versos, meu espanto.

Mas, se não me quiseres algum dia,
Te juro que não posso suportar.
A noite que virá escura e fria,

Em pálidos tormentos, sem luar
Calando, pois, das musas, melodia,
Impedem teu amor de me salvar!

X


Amor que nos transborda em seus furores
Não deixa mais as sombras reviverem
Percebe que na vida, tais horrores,
Se esquecem onde amores estiverem.

Eu quero o louco brado deste amor,
De tanto amor jamais fico cansado.
Nas fontes deste amor, tal esplendor,
Deixando um velho peito apaixonado...

Portanto, não se esqueça de que nada
Na vida se produz sem ter carinho.
Não fuja desse amor, minha adorada.
Eu quero acompanhar o teu caminho.

Vivendo neste amor, com emoção.
Aprenda a libertar teu coração!

X

Falando desse amor de todo dia
Novelas, vizinhança e futebol,
Mil dores disfarçadas da alegria
Cotidianamente o mesmo sol.

Cansado de matar a poesia,
Amor vai se fingindo girassol.
Na boca que beijou não beijaria
A noite mais escura sem farol.

Crianças desfilando pela casa,
Deitando no sofá domingo afora.
Chamusca bem mais fraca a forte brasa.

Segunda recomeça a ladainha
Felicidade chove, mas lá fora,
Aqui a noite segue tão sozinha...

Falando desse amor de todo dia
Novelas, vizinhança e futebol,
Mil dores disfarçadas da alegria
Cotidianamente o mesmo sol.

Cansado de matar a poesia,
Amor vai se fingindo girassol.
Na boca que beijou não beijaria
A noite mais escura sem farol.

Crianças desfilando pela casa,
Deitando no sofá domingo afora.
Chamusca bem mais fraca a forte brasa.

Segunda recomeça a ladainha
Felicidade chove, mas lá fora,
Aqui a noite segue tão sozinha...

X

Eu estou tão cansado, meu amor.
Mas não pra deixar de te querer,
Vivendo a letargia em tal torpor
Apenas não esqueço de saber

De todo sentimento, sem favor.
Nas curvas do desejo e do prazer,
Pegando o meu navio, este vapor
Que leva o mundo inteiro. Bem querer...

Mas eu ando distante, velho barco...
Sem rumo, sem cais, porto ou mar final,
Comandante perdido, amor tão parco,

Vou solto pelas ruas, cão sem dono.
Vivendo como um bicho em abandono,
Rolando pelas pedras, afinal...

X

Coração vagabundo sem juízo,
Esperando este amor que nunca vem.
Aguarda um teu sinal, simples sorriso,
Para ser contemplado, ser teu bem...

Coração que na vida, em prejuízo
Jamais
teve a alegria, ser de alguém,
Aos poucos vai morrendo sem ter siso,
Nos olhos tão distantes, sem ninguém...

Meu coração, criança maltrapilha
Que vive na esperança, ser feliz.
Perdendo totalmente rumo e trilha,

Não sabe mais viver sozinho, o mundo,
Eterna sensação: ser aprendiz...
Que faço coração tão vagabundo?

X

Na plataforma livre deste amor,
Em versos sem limites, fera solta.
Buscando novamente do torpor
Gritar o meu desejo, sem revolta.

Precedo o que não fora tentador
E morro deste amor sem ter escolta,
Sabendo que vagando o que se for,
O tempo que passou não terá volta.

Momentos que não são somente drama
Emoldurando amor em nossa cama,
Vou caminhando em busca desta lua

Vou caminhando em brusca via; rua.
E tudo vai pousando por aqui
No bico da esperança que perdi.

X

A orquestra nos chamou. Meu coração
Batendo alucinado e tão feliz.
Dançando este bolero, uma emoção;
Além de todo o bem que sempre quis.

À luz de um cabaré, a noite é nossa.
A lua tropical nos ilumina,
Amar pra sempre além do que se possa,
No fogo da paixão que já domina...

Bandaleon tocando a noite plena,
Eu não me canso nunca de pedir
Que a sorte tão ditosa nos acena

Então te peço, beija-me querida,
Que o mundo simplesmente irá sorrir
Assim, pra sempre em toda a nossa vida...

EM HOMENAGEM A FLAVIO VENTURINI

X

Quisera te deixar querido filho,
Um mundo bem melhor de se viver.
Aonde uma esperança fosse o trilho
Que nos levasse sempre ao bom prazer.

Mas perdoe esta falta de futuro
Que é herança que te deixo, meu amado.
A falta de sorriso, o gesto duro,
O mundo por completo destroçado.

As matas destruídas, o calor
Que mata em tempestades ou de sede.
O reino que é formado em desamor.
Alegria? Um quadro na parede...

Mas peço se algum dia, isto mudar,
Não se esqueça jamais de me culpar.

X

Menina bela flor dos meus enganos...
Tu sabes quanto eu quero o teu carinho.
Vivendo neste mundo sem ter planos,
Sonhara a vida inteira ser sozinho.

Chegaste, te chamei, vieste rindo,
Agora o que farei menina flor?
Sorriso tão feliz, contente e lindo
Tomando o coração em pleno amor...

Levar-te para a casa? Ser só teu...
Nos teus olhos fechados, ilusões...
Quem teve nesta vida amor ateu
Marcado pelas dores das paixões...

Se me entregar assim, prá sempre morro,
Se te deixar partir, cadê socorro?

X

A rua escura e fria, sem ninguém...
Vontade de chorar o tempo inteiro.
Chamando por teu nome, nada vem.
Somente o vento frio é companheiro.

Sozinho, tão distante do meu bem.
Amor que foi-se embora, traiçoeiro.
Quem dera se eu tivesse amor de alguém,
O sonho então seria verdadeiro.

Mas essa dor cruel, essa agonia
Matando o que restou de uma ternura,
Mascara de tristeza a fantasia

Da vida que sonhara tão amiga,
Agora, morre envolta na amargura,
Ternura que acabou, demais antiga...

Homenagem à DOLORES DURAN

X

Começaria tudo novamente
Se fosse necessário, meu amor.
A vida vai rodando em minha mente,
No canto, riso e dança, sedutor.

Em minhas mãos, teu corpo tão febril,
A cuba libre; o sonho que nos resta,
Teu corpo delicado e mais gentil,
A música tocada pela orquestra...

Uma certeza imensa de um futuro
Melhor a cada dia, eternidade.
Olhar pra trás e ver amor tão puro

O coração vibrando sem parar
Mostrando com firmeza esta vontade,
De sempre, meu amor, recomeçar...

HOMENAGEM AO GRANDE GONZAGUINHA

X

Eu bem sei quanto vales, meu amor...
Uma noitada, um bar, cetins e rendas,
Das noites tão baratas, sem valor...
Dormindo em vários quartos, ruas, tendas

Porém, vaidoso, penso sedutor,
Te trago novamente tantas prendas,
E tenho o teu prazer...Um sonhador
Que em risos e mentiras já desvendas...

Meias verdades, camas e desejos.
O sol quando renasce já te expõe
E a dura solidão me recompõe.

Marcada a minha boca pelos beijos,
Mergulho no vazio desta vida,
Mas amo-te demais assim, querida....

X

Ah! Tire o teu sorriso do caminho
Que eu quero desfilar a minha dor,
Se nesta vida, amada eu sou espinho,
Jamais vou maltratar a bela flor...

Agora se meu canto é tão sozinho
Distante de teus olhos, meu amor,
Percebo como a vida sem carinho
Maltrata um coração que é sonhador.

Nos espelhos meus olhos rasos d’água
Refletem toda a dor e a triste mágoa
Da vida, que sem força continua...

Não quero ser espinho em tua vida,
Mesmo que a sorte/flor se vá perdida.
O sol não viverá perto da lua...

HOMENAGEM AO GRANDE NELSON CAVAQUINHO

EM UMA DAS MAIS BELAS PÁGINAS DA MÚSICA E DA POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA.

X

Quantas vezes pensando no que fomos
Esquecemos o que inda irá chegar...
A vida apresentando tantos tomos
Por vezes nos ajuda a despertar...

Pois quando a minha vida foi roubada
Pelo bem que tanto quis mas não me quer.
Depois de mergulhar encontrei nada
Nem os olhos nem sombras da mulher

Que foi meu sofrimento e minha sina...
Que trouxe tanta luz e me cegou.
A mão que acaricia e me domina,
Perdido aqui, no canto, me deixou...

De nada do que tive, me arrependo...
De meus amores, todos, vou vivendo...

X

Se nem as rosas sabem passarinhos,
Perdidos pelos ares, sem sossego,
Não posso me conter em velhos ninhos,
Dos quais não tive nunca nem apego.

Na busca por carinhos, vôo cego,
Meus dias se mostraram mais sozinhos.
No fundo, tanto amor que enfim eu nego,
Bebendo mais vinagres do que vinhos...

Restando tão somente uma amizade
Daquela que se foi por outros mares.
Resquício do que fora claridade,

Mas mesmo assim intacta sensação
Maior, eu reconheço, que os amares,
Mais forte que a loucura da paixão...

X

Variando meu lema, busco a paz.
Não a paz simplesmente tão cordata,
Aquela que recende numa mata,
Aquela que só brisa mansa traz...

Essa paz que procuro, é bem capaz,
De morrer pesadelo em serenata;
Traz consigo essa fúria de cascata,
É meio Deus arcanjo e Satanás...

Minha paz construída em tuas ancas,
No requebro voraz, vem das carrancas,
Protetoras do Velho São Francisco.

Tem o temperamento mais arisco,
Não temendo sequer o próprio risco,
Traz o vermelho audaz, nas pombas brancas...

X

Tua beleza rara e transbordante
Eflúvio da esperança em formosura;
Vibrando neste amor tão radiante
Envolto num sorriso da ternura.

Da deusa radiosa, estou diante
Num sonho tão feliz de tal brandura
Que faz do meu viver, amor constante
Coberto em alegria, beijo e cura.

Tanta luz que irradias; lua rara
Em plenilúnio eterno, sedutor.
Adoça com desejos; vida amara.

Refaz o meu caminho, sina e sorte.
Ouvindo tua voz, tanto esplendor;
Meu coração dispara e bate forte...

X

O fogo que em teu corpo, amada, ardia
Chamando para as loas ao desejo.
Destino deste amor que se cumpria
Com toda claridade de sobejo.
É mais do que viver em fantasia
É lume de esperança que prevejo.

Da dor de uma saudade feita em neve,
Verão que no teu corpo já me inunda.
A mão que acaricia, mansa e leve,
Traz emoção sincera e tão profunda,
Que a lua deste amor não seja breve
No fogo e na paixão que se oriunda

Do coração sofrido de um poeta
Que em teus carinhos vive e se completa...

X

Cativo da saudade, o quê que faço

Se esta mulher não quer mais meu carinho;

Procuro sempre em vão, estendo o braço,

Depois é que percebo: estou sozinho!

Amor que nos levita, ganha espaço

Morrendo me levando ao descaminho...

Estrela que do mar, num rubro laço,

Deixou solitário passarinho...

Agora, na gaiola da saudade,

Olhando para a vida, sem sentido...

Amar demais será que é crueldade?

Pressinto o teu perfume, mas cadê?

Vazio, sem amor, vou desvalido;

Pergunto: minha amada, mas por quê?

X

Não me fale jamais do que não fomos,
Cicatrizes ambulantes, vasos rotos...
Pedaços de esperanças, ledos gomos.
Vencidos pelo tempo, dois abortos.

Apenas eu te peço mais um dia.
Outro dia, qualquer dia, que se sente;
Pois talvez somente isso bastaria,
A chance que eu queria, de repente...

Mas veja que esta estrela inda é teimosa
E banha em tantas luzes nossas cores.
Brilhando certamente em nova rosa,
Servindo de consolo aos bons atores

Que penam pelas ruas, botequim,
Salvando o nosso amor, princípio e fim...

X

Um simples trovador e nada mais
Cantando o meu amor inalcançável.
Sabendo que não vens; amor, jamais.
Meu sofrimento assim, interminável.

Destinado a viver em plena dor
Eu canto o sofrimento que não pára.
Quem me dera um momento encantador
Adoçando esta vida tão amara;

A dona dos meus olhos nem me vê,
O sonho se repete e tão sozinho,
Procuro toda noite por você,
Na busca de seu colo e seu carinho...

Apenas trovador, minha viola,
Distante dos seus braços, me consola...

X

Nas horas em que vejo tua imagem
Refletida nas águas cristalinas
Percebo ser somente uma miragem,
Mesmo distante sempre me alucinas...

Depois de ter na vida, uma ancoragem
No cais feito de braços; nas colinas
Das ilusões amores forram minas
E matam emoções, vazios pajens...

Nas retinas cansadas teu reflexo
Repete a mesma cena do passado.
Do amor que se perdeu sem ter nem nexo,

Da boca escancarada do senão
Do espelho que se fez de mais rogado,
Nos cálices tão loucos da paixão....

X

O VALOR DA AMIZADE

Não deixe que esta dor reste perene,
O tempo quando é feito conselheiro
Impede que o passado te envenene
Louvando um sentimento verdadeiro,

Matando uma ilusão que já se encene.
Do exuberante amor se feito inteiro,
Felicidade mostra um raro gene
Além do dia a dia, corriqueiro...

Mas quando amor é feito falsidade,
Do nada que sobrou, nem mesmo prece.
Não fie neste equívoco. A verdade

Somente a um preceito, ela obedece.
Apenas no tear do amor se tece
O valor mais supremo, o da amizade...

X

A FORÇA DA AMIZADE

Buscando uma guarida no teu peito,
Amiga, minha eterna companheira,
Tomado pelo grito insatisfeito
Da dor que se mostrou bem mais inteira.
Persigo, neste mundo o meu direito
De ter felicidade verdadeira...

Quem fora plenitude de ternura
Agora sem ninguém vai tão sozinho.
A vida se pintando em amargura,
Maltrata me deixando sem carinho.
A noite sem estrelas morre escura,
Um pássaro se perde sem seu ninho...

Por isso te procuro e na verdade,
Eu creio em toda a força da amizade...

X

UMA AMIZADE


A flor mais bela e rara que encontrei
Em meio a tantas ervas mais daninhas,
Mostrando todo o sonho que plantei
Nas ilusões mais caras, todas minhas.
Ao vento do carinho me entreguei
Numa esperança toda de andorinhas...

Na cândida certeza de vitória
Meus passos tropeçaram, egoísmos.
Invés de mil sorrisos, os de glória,
Senti destes amores, cataclismos.

Mas antes que esta vida se maldiga,
Refeito destas dores; a verdade,
Te digo, minha amada, minha amiga,
Eu tenho esta esperança, uma amizade...

X

Despido dos desejos mais ferozes,
De amores e paixões desenfreadas
Matando estes cruéis, duros algozes;
Das sortes sem paz, desencontradas.

Meus sonhos se libertam, vão velozes
Na busca por auroras, alvoradas,
Sem medo dos tormentos mais atrozes
Das dores que se morrem, tão cansadas...

O viço adolescente que refaço
No verso e na esperança de verdade
Por onde meu caminho, amiga, eu traço,

É feito deste brilho que não cessa,
Além de toda a força da promessa,
Todo o poder imenso da amizade...

X

Jangada solta ao mar em pescaria
Uma
esperança alerta aqui na areia
Do dia que virá festa, alegria,
Na boca pescadora da sereia

O canto não se cala, de magia,
A pele bronzeada se incendeia
Irrompe todo o bem da fantasia
E a lua na varanda brilha cheia...

Se nas brancas velas de teu braço
Plantei milhões de estrelas coloridas.
Eu quero desfrutar de cada abraço,

Beber de tua boca, uma saliva.
Na pesca, mil espécies tão sortidas...
Mas guardas, entre as pernas, água viva...

X

Ao ver um beija flor, nesta manhã,
Lembrei de tua boca junto à minha.
Delícias que vivi em doce afã
Nas asas dessa simples avezinha.

O grande amor, pensei que a gente tinha,
Mas nada disso teve um amanhã.
Morrendo qual a flor que, tão sozinha,
Perfuma simplesmente em vida vã.

Na boca deste pobre passarinho,
O beijo que tentei e não me deste.
Morrendo em tanta sede de carinho;

Relembro nosso amor que já perdi.
A solidão em penas que me veste
Nas penas do destino/colibri...

X


Teu corpo tão gostoso, juvenil;
Nos seios volumosos, teu encanto.
Sorriso que convida , tão sutil;
Tu sabes; te desejo tanto, tanto...

Teus olhos maravilha em raro anil
Deitada sobre mim, um belo manto,
De tez tão delicada e mais gentil,
Tu sabes que te quero, e o tanto quanto.

No vício delicioso de te ter,
Lascivo, embriagado em tal loucura,
Nos rastros cristalinos do prazer

Sentir o teu perfume sobre mim.
A tentação gostosa configura
O mundo que sonhei, tão bom assim..

X

A noite na penumbra vem chegando
Trazendo meus fantasmas, ilusões...
Pergunto pras estrelas até quando
Somente irei viver recordações...

O negro desta noite me tomando
Refaz voracidade das paixões;
Os medos se aproximam vêm em bandos
Marcando
os meus olhares, emoções..

De toda a sensação que trago aqui,
Apenas meu cigarro foi constante.
Sentindo amargamente que perdi;

A noite é companheira mais dileta.
E bebo esta penumbra neste instante
Minha alma em teu fantasma se completa..

X

Quem tanto já cantara não encanta
Nem canta mais falando deste canto
Que sempre toca e quase sempre espanta,
Ficando tão sozinho no meu canto...

Vieste sem pedir sequer licença
Tomando tanto espaço que nem sonhas...
Amar demais passou a ser doença,
Daquelas cujas dores são medonhas...

De quem me queixarei se tudo mente,
Em quem colocarei as esperanças...
Tragando minha sorte totalmente
Não restam nem as sombras das lembranças...

Cativo já procuro liberdade,
Buscando um novo amor pela cidade...

X

Olhar esta cidade da janela
Deste quarto de hotel, vejo as estrelas.
Nas luzes variadas se revela
As cores que preciso sempre vê-las.

Vagando pelos bares, ruas praças,
Meus olhos se encantando em tantos brilhos.
Em meio a confusões, carros, fumaças,
Procuro pelo amor, em tramas, trilhos...

Do Rio de Janeiro solto o grito
Através da vidraça deste quarto,
Na busca pelo rastro do infinito,
Do sonho transtornado, vivo e farto.

No fundo do meu peito o podre fruto
Do tempo que passou, em verso e luto.

Homenagem a Jards Macalé

X

Vagando pelo espaço te procuro,
Em meio às solidões, mando meu grito.
O tempo que passamos, tão escuro,
Contrasta com amor mais infinito...

Um peito sofredor, demais agreste,
Sentindo tantos medos, sem porvir;
Invoca toda a força dum cipreste
E tenta bravamente, resistir.

Porém amor não sabe de colossos,
Desconhece essa luta e não se cansa;
De tudo que eu passei, um mero esboço,
No fim desta batalha já me alcança.

Amor sempre será o vencedor,
Os louros ao vencido: o esplendor!

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