sábado, 22 de dezembro de 2007

SONETOS 081E 082

Uma Amizade trama novo engenho
Que possa permitir a caminhada,
Às vezes, distraído, amiga eu venho,
Na busca solitária pelo nada.
O tempo tão distante fecha o cenho
E mostra a fina dor revigorada...

Falar deste teu braço, companheira
Que ampara em qualquer queda pela vida.
Depois de tanta luta costumeira,
Quem sabe nossa sorte remoída
Nos mostre que amizade verdadeira,
Das duras penedias, a saída...

Dos cálices perfeitos de cristal,
Uma amizade é dom fenomenal...

X


Ditoso sentimento que de outrora
Dissera minha sorte em teu tormento.
Ninando meu amor, mandando embora
Carinho que se foi do pensamento.

Aquela que gritara redentora
Morrendo bem distante, em frágil vento,
Não posso mais gritar que a vida chora
Causando nos teus olhos, sofrimento.

Do lodo onde surgiste, perla falsa,
Armando minha sina em tais frangalhos.
Amada minha, perdendo nau e balsa,

Apenas esperança suja e frágil.
Quebrando minha sorte em podres galhos.
Meu coração se mostra bem mais ágil...

X


Teu cheiro que me embala e que me excita
Alucinadamente me domina,
Desejo que na noite descortina
Debaixo do vestido. És tão bonita...

Amando boca a boca, tais palavras
No beijo que trocamos, nossos portos,
A mão qual camponesa, traça as lavras,
Acertos de destinos, antes tortos.

Teu corpo num silêncio, em fino véu,
As roupas atiradas sobre a cama,
Adentra teus caminhos o corcel,
Acende em meu delírio, nossa chama..

A voz tão rouca, doce, frouxa e mansa,
A nossa lua, pleno mel, se alcança!

X

Sentir esta emoção de estar contigo
Querida companheira, abrigo certo.
Permita que eu prossiga teu amigo,
Oásis que encontrei neste deserto.

Da sorte que tentei e não consigo,
Apenas em carinho me desperto
Se estou neste caminho que persigo,
Contigo minha amiga, aqui por perto.

O mundo tantas vezes me diz não.
Mas mesmo assim eu sei que vencerei,
Tu és do sofrimento, a redenção.

Tu és a minha glória e minha sorte.
Nesta amizade imensa, nossa lei,
Por certo estar contigo,é ser mais forte...

X

Quem tanto já cantara não encanta
Nem canta mais falando deste canto
Que sempre toca e quase sempre espanta,
Ficando tão sozinho no meu canto...

Vieste sem pedir sequer licença
Tomando tanto espaço que nem sonhas...
Amar demais passou a ser doença,
Daquelas cujas dores são medonhas...

De quem me queixarei se tudo mente,
Em quem colocarei as esperanças...
Tragando minha sorte totalmente
Não restam nem as sombras das lembranças...

Cativo já procuro liberdade,
Buscando um novo amor pela cidade..

X

Amigo, reconheço meus defeitos,
São vários e jamais irei negá-los.
Por mais que nós tentamos ser perfeitos,
Sabemos onde apertam nossos calos.

Quem traz todos os sonhos satisfeitos
E sabe do poder de decifrá-los
Conquista seus amores todos feitos
Com jeito, preparou-se pra encontrá-los.

Mas sabe que ninguém é tão correto
Que possa, todo mundo criticar.
Perdão nunca é demais, e mostra afeto.

Eu não procuro amigos sem pecados
Isso eu bem sei jamais irei achar,
E os erros dos amigos? Perdoados....

X

Desculpe meu amor, mas acontece...
Depois de tanto tempo eu percebi
Que a vida em nosso amor já se esvaece
E longe, bem distante, estou de ti...

Não adiantam rogos, sonho e prece
O amor que sempre tive, enfim perdi.
Somente este vazio agora cresce
Tomando o coração. Eu te esqueci...

Se pudesse mentir e te enganar
Mas não creio ser justo. Estou tão frio.
É duro te dizer: não sei amar...

Por isso meu amor, eu vou-me embora
Levando este meu peito tão vazio,
Bem sei que em tanta dor o amor já chora...

X

Todo começo, amor; inesquecível...
Porém, como dizer do nosso amor,
Que... desculpe, por mais que seja incrível,
Esqueci como tudo começou...

Um dia, tua mãe tinha saído;
Me falaste de um tombo em Paquetá,
Mostrando este sinal bem escondido...
Vontade de lamber e de assoprar...

Os beijos percorrendo o céu da boca...
As mãos se decorando, o corpo inteiro...
A voz ficando assim, sempre mais rouca.
Um amante latino verdadeiro...

Mas hoje nosso amor, sem ter remédio,
Morrendo sem revólver, simples tédio...

Homenagem a João Bosco e Aldir Blanc

X

Amigo não é rastro nem farol

É como um companheiro de viagem,

Não quero ser teu sol nem girassol

Não sou seu amo e nunca vou ser pajem.

Amigo nos ensina que o atol

Se perde em solidão. Distante margem

Impede que se veja o arrebol.

Mais fortes quando unidos, pensam, agem.

Por isso, companheira, já te peço,

Não deixe que se perca esta amizade.

Tanto te quero amiga, te confesso,

Mas não serei teu rastro nesta estrada

Permita que em nós dois, a claridade

Seja bem repartida e não roubada...

X

Dos laços que nos atam, bem mais fortes;
Em gestos, em ternura e mesmo em paz,
Mudando num segundo nossos nortes
Além de nossas forças, mais capaz,
Trazendo para os sonhos, boas sortes,
Mostrando o quanto sinto ser capaz,

No gesto mais sereno, teu apoio,
Me dando uma certeza de vitória.
Separa a podridão do triste joio,
Ampara na derrota, sorri na glória.

Ajuda meu caminho, em força plena,
Abrindo meu futuro em claridade.
Tua palavra amiga não condena,
Somente me demonstra uma amizade...

X

Falar que desta dor eu não me vingo,
Embora te disseste que não vinha,
Preparo meu sorriso de domingo
E mato esta tortura toda minha.

Se a noite que não veio se reclama,
Se o dia que sonhei não chegará.
Não vou ficar calado, de pijama,
Esperando o que vem, lado de lá.

Falar que neste mar eu não navego,
Falar que deste gosto nem sei mais,
Se a rosa que plantei eu não carrego
O resto que me trouxe foi jamais.

Mas sobra o teu sorriso, caro amigo,
No mundo que colhera joio e trigo.

X

No mundo giramundo vagabundo
Coração que batendo sem juízo
Não deixa de bater um só segundo
Fugindo do que chamam paraíso.

Se entorno meu desejo e nele inundo
O sonho que mais quero e sei, preciso,
O resto vai rodando até profundo
Paraíso onde sempre perco o siso.

Na construção dos corpos belo monte,
Nas garras, nas agarras, precipício.
Eu bebo teu prazer em rara fonte

Depois contrariando o Santo Ofício
Eu faço de teu rio em rica foz
O pecado que salva, a todos nós...

X

A tua estupidez vai destruindo,
Aquilo que se fora um grande amor.
Aos poucos meu castelo vai ruindo
Em sonhos tão distintos sem pudor.

Do tempo que passamos mais distantes
O nada sem motivos, desamor,
Tomando nosso mundo por instantes
Secando toda a fonte de calor.

Intrigas nos fizeram belicosos,
Espinhos espalharam entre nós.
Nos jogos mais difíceis perigosos

Amor não resistiu, insensatez.
Agora caminhamos, ambos sós,
Presente desta tua estupidez...

X

Noite azul, cabeleira exposta ao vento,
Rodando o velho trem pela cidade.
Nos bares as mulheres, pensamento,
O fogo tão intenso, mocidade.

Nas camas dos motéis novo rebento
Batendo na janela, ansiedade.
Cantando nos botecos o talento
De quem não teve sonho ou qualidade.

Nas mesas e cadeiras, se deseja
O riso de quem foi e não será.
Na boca o doce bafo de cerveja

Os olhos do passado no futuro,
Amor que um dia sempre chegará.
O nada que mais quero e assim procuro.

X

Esses ventos tão mansos que te tocam
Bem sei que te amornam calmamente.
Amores tão suaves te retocam
E formam um macio em tua mente...

Querida tão serena quanto a lua,
Depois de toda a noite morna e lenta
Ao ver tua beleza toda nua,
O coração se atiça e não agüenta

Rebentas nesse toque, quando atiço,
Fulguras nessa cama com ardor,
Esquece de qualquer um compromisso
E ferves como brasa em tal calor...

És fêmea que me morde e ganha o jogo
Da chama que incendeio no teu fogo...

X]


Entre nós, diferenças benfazejas.
Sem medo nem sequer uma disputa.
Quem ama não pretende alguma luta.
O que quero, nem sempre tu desejas.

Se somos diferentes não almejas
O sonho que trazemos se desfruta
Sem medo de morder a mesma fruta.
Se queres não procuro essas cerejas.

A vida se reparte e se completa.
Num ato meritório de um poeta,
Amor e compaixão, a forte liga

Que trazem antagônica certeza
De termos descoberto que a beleza
É ter na diferença sua amiga!

X

Vento solar e estrelas lá do mar
Toando nossa vida em cores tantas
Trilhando estas estradas sem chegar
Aos girassóis perdidos, velhas plantas.

Amor em festa e luto vai chegar
Cobrindo a nossa sorte em velhas mantas;
Levando uma esperança a se entregar
Na dança que me negas, onde espantas...

O tempo nunca pára e não espera.
Deixando um gosto azedo e nada mais.
Estrela que morreu sem primavera.

O girassol perdeu a sua cor,
Rainha, esta viagem foi jamais,
Morrendo o que podia ser amor...

HOMENAGEM A LÔ BORGES

X


Quando te chamava na noite sozinho
Se tanto sonhava, queria teu beijo;
Porém nunca vinhas; deixavas o ninho;
Noutras avezinhas, matavas desejo...

Amor tanto quero teu amor querido,
Eu já desespero, sem ter teu amor.
Do amor que te tenho; te falo, duvido;
É dele que venho, estou ao dispor...

Nas horas tristonhas amor me carinha
Nas horas risonhas, amor me maltrata.
Amor quero o canto, que a dor se avizinha,
Rolando esse pranto que rola em cascata.

Meu amor nem liga se sofro ou se rio...
Então dos amores, amores eu crio.

X

Os jasmins esquecidos não floriram,
O tempo da colheita se acabou...
Os olhos solitários nunca viram
O gosto do teu beijo... O que restou?

Amada como foste imprecavida...
Nossos erros cometidos por ciúmes...
De tanto que pediste, nossa vida
Esvai nesses jasmins já sem perfumes...

Mais tarde em nosso inverno que é fatal,
Talvez de tanto frio, amor renasça,
Tramando nesta peça outro final,
Sem medo, sem temer que amor se faça.

E possa novamente, em meu jardim,
Amor resplandecendo todo em mim!

X

Vida passa depressa minha amada,
E saiba que esse tempo não tem volta.
Mal vemos já raiou outra alvorada
Não adianta penas nem revolta.

Vivemos tantas coisas, nem sentimos...
Depois de tudo feito, nada importa
Por isso é que te peço, tanto vimos
Que não se necessita desta porta.

Abrindo o coração, viver em festa,
Por todos os momentos sem pensar.
O tempo de viver que já nos resta,
Que bom se reservássemos p’ra amar.

Não penses que na vida eu tenho pressa,
O que mais quero, amor, viver depressa...

X

Tu falas deste amor em amizade,
De tudo o que já fomos, nada além...
O dia vai perdendo a claridade
Matando a doce noite de meu bem...

As nuvens transbordaram tempestade,
E nada mais, por certo, a vida tem
Senão o gosto amargo da saudade,
Do tempo que se foi, restou ninguém...

Mas peço que bendigas nosso lar,
Que fales como fôssemos amigos,
Que tudo o que se teve, sem pensar,

Perdemos num momento de loucura.
Meus braços inda são os teus abrigos,
Clareie, por favor, a noite escura...

X

Na embriaguez voraz que nos assoma,
Delitos cometidos, mil pecados,
Luxúria que nos toca, já nos toma
Promessas são cumpridas, nossos Fados.

Dois corpos são um só em nossa soma,
Desenhos onde somos mais sugados
O mundo se fechando em tal redoma
Refaz outros caminhos desejados...

Num êxtase em mergulho, teu suor
Mistura-se em humores e salivas.
A vida nos parece bem melhor,

Na entrega tão urgente e tão carnal,
As horas se passando sempre vivas,
No amor que a gente faz, assim, total...

X

Teu corpo tão suado em belo brilho,
Desnuda maravilha suculenta.
Percorro teus caminhos, lindo trilho,
Na noite que se chega calma e lenta.

Depois da cantinela em estribilho
De
novo repetimos, mais atenta;
Sem nada que nos sirva de empecilho
Do frio que se sente a noite esquenta...

A tua pele assim, arrepiada,
Os olhos revirando, sem destino.
Na lúbrica presença extasiada,

Um gosto de magia e sedução.
Bendito nosso gozo em desatino,
Nos atos de loucura e de paixão...

X

Tentando adivinhar o que me guardas
Quando ao cruzar as pernas, me sorris.
Nas bocas escondidas, bem guardadas
Esta impressão que sobra: ser feliz...

Tu és a tentação em carnes, osso,
Desejos te reclamam, mas não notas.
Meu peito se entrincheira em alvoroço,
Pulsando bem além das suas cotas.

Reclamo o teu carinho, essa vontade,
Em toda essa volúpia, insensatez.
Na porta se escondeu felicidade,
Pergunto sem resposta: é minha vez?

E desconversas logo, nada dizes...
As tuas pernas são somente atrizes?

X

Desejo tão profano que nos move
Nas línguas que se buscam, destempero.
A vestimenta inútil se remove
Neste carinho enorme, com esmero.

Exploro cada ponto, sem perguntas,
A silhueta exposta, nua e bela.
As mãos que se percorrem, leves, juntas,
Toda a loucura em gozo se revela.

Degusto cada gole do teu ser,
Entranho teus mistérios e segredos.
Nesta cascata amada, teu prazer,
Delícias que me encharcam, boca e dedos...

Em cada gota encontro tal magia,
Inundação divina de alegria...

X

O tempo não se perde e nunca é tarde
Para quem procurar felicidade.
Se a noite é dolorosa e tanto te arde
Os olhos tão chorosos de saudade,

E o sonho em desespero causa alarde,
Roubando da alegria, a claridade,
Não pense que este mundo tão covarde
Impede conhecer toda a verdade.

Nós somos meros rios em viagem
Na
busca deste mar, eternidade...
Amor é fantasia, uma miragem

Que logo acabará, não tarda o dia.
Por isso é que persigo uma amizade,
Certeza de carinho, a garantia...

X


A morte da esperança, em primavera
Se
faz a cada instante, sem talvez.
Resíduo do que fora a minha espera
No tempo que se foi sem ter nem vez.

A sorte que não veio, a dura fera
Tomando o meu sentido em triste tez,
A dor que sem sorrisos, degenera
Um pouco a cada dia, a cada mês...

Mas nada me tocou, nem mesmo amor,
Sou resto do que nunca havia sido.
Agora, minha amada, ao teu dispor,

Bem sei que voltarás em meu inverno,
Depois de tanto tempo, nada, olvido...
Meu braço te recebe, sempre terno...

X

Mudarás cada passo desta estrada
Em que dizes amor em profusão,
Depois de tanto tempo resta nada
Daquilo que se fora uma emoção.

Jamais te negarei, ó minha amada,
A doce namorada, meu coração.
Porém logo que chegue outra alvorada,
Por certo eu ouvirei, teu duro não.

Mas saiba que te quero mesmo assim,
Em cada novo dia, outra festança.
Morrendo o teu amor tão grande em mim,

Eu sei que sorrirás um outro dia
Verás dentro de ti, em gozo e dança,
Outro semblante pleno de alegria...

X

Quando essa lua chega e se derrama

Cobrindo tal beleza inebriante

Na rubra sensação de intensa chama,

Começo esta viagem mais vibrante

Vestígios do que fora a velha trama

Que em guerras esculpiu um novo instante,

Meu corpo sem parar sempre reclama

A boca tão sedenta estonteante...

Eu quero conhecer teu território

Exposto sob o raio do luar.

Passado tão distante e merencório

Já morto não virá, isso eu garanto..

Pois vamos do momento desfrutar,

Senão a lua foge e quebra encanto..

X

Não posso conceber outro momento
Sem ter esta vontade de seguir,
Embora este futuro qual tormento,
Não deixe um sentimento assim fluir...

Se nada do que dizes, cego vento,
Consegue normalmente construir,
Do pão que me negaste, sofrimento,
Nem mesmo um novo engano a prosseguir...

Uma amizade apenas, nada mais,
Um verso abandonado no caminho
Na voz que se conteve na garganta.

Voltar uma ilusão, isso é demais
Pra quem já se cortou em tanto espinho
E, mesmo sem ter paz, de novo canta...

X

De onde pusera sonho barco e nau
Perdendo todo o rumo em desespero.
Fazendo de meu verso a pá de cal
Na qual nem me disfarço nem tempero.

Planando neste céu sou sol e sal,
Distante do que temo e não mais quero,
Meu sonho na alameda tropical
É quase uma paixão ou corte fero.

Não temo e nem pretendo essa piedade
Que é quase que um disfarce da alegria.
Se dane teu carinho, uma amizade.

Não quero mais saber de algum consolo.
Se tenho minha voz e a poesia,
Os pés em podre lama eu sempre atolo...

X

Faz tempo que te quero e nem me notas

Meus dias sem te ver são tão vazios

Amor tão sem limite, sem ter cotas,

Trazendo para os sonhos tantos cios.

Mas nada do que faço já te atrai

Meu canto vai perdido sem resposta.

Eu te amo, mas a vida te distrai

E mal te vejo, nunca estás disposta

A ouvir os meus chamados desmedidos,

Às emoções que vivem quarentena

Quem dera se me desse, enfim, ouvidos

Viríamos viver intensamente,

Ao longe minha mão sempre te acena,

Talvez tu venhas logo, de repente...

X

Um dia, percebendo esta menina
Deitada em minha cama, enlouqueci.
Na forma angelical que descortina
Um brilho sem igual, que nunca vi.

Tomando de surpresa minha sina
Estava tal princesa logo ali
Serena, delicada e tão franzina
Muito mais que sonhei e que pedi...

Depois, se levantou e foi embora
Qual fosse uma miragem, simples sonho.
Busquei o seu sorriso mundo afora

E nada de encontrar tal criatura,
Promessa de outro dia mais risonho...
Só nela, meu bom Deus, a minha cura...

X

A pele sensual, fina penugem;

O rosto tão macio, o gozo o gesto.

Movendo mansamente já ressurgem

Os medos deflagrados; sou teu resto...

Os brilhos dos teus olhos já refulgem

Nos sonhos que aos desejos eu empresto

E o corte tão profundo traz ferrugem

Na boca a sensação de um louco incesto...

Mas temo solitário em minha cama,

Que o vento que te rouba faz segredos.

Acende e vulcaniza toda a chama

Dormito lentamente no teu braço.

Vencido pelos trágicos degredos,

Agarro-me ao teu corpo e nem disfarço...

X

As flores de uma eterna primavera
Os frutos da amizade e do carinho.
Granando uma esperança; morta a fera
Libertam-se meus sonhos passarinhos...

Saber de cada corte. Quem me dera...
Não ser mais caminheiro tão sozinho.
O canto em liberdade, o que se espera;
Em toda a solidão há um caminho

Que traz esta sublime fantasia
De um dia, sermos todos como irmãos.
A terra cultivada em sintonia

Sem
fome, sede; Justa, harmonizada,
Não deixe que estes sonhos sejam vãos,
A sorte em nossas mãos, está lançada...

X

Tua presença sempre me fascina
E faz ferver desejos e loucuras.
Te quero a cada instante; uma menina
Clareia em força e luz, noites escuras...

Viajo no teu corpo, sede e sina,
Fazemos nossas santas diabruras;
A noite de prazer nunca termina,
Encontro na saliva, as minhas curas...

Deitados nessa noite sob a lua...
Tua presença em chama, fogo e brasa,
Tatuo meus segredos, pele nua

Total insensatez... Nos gritos roucos,
Desfruto de teu corpo, minha casa;
Amamos sem juízo, soltos... Loucos...

X

Cortaram tuas asas, anjo amado?
Fecharam os teus olhos, sonhos, brilho...
Desmoronando o monte do passado
Rompeu esta barragem, fecha o trilho
Tomando numa enchente todo o prado
Matando este desejo, nosso filho..

Amada não permita que esta amarra
Limite cada passo em rumo à sorte.
Apare em mansidão a dura garra
Cravada em teu pescoço bem mais forte
No corte da navalha e cimitarra
Promessa de vingança, dor e morte....

As asas renascendo a recompor
Os vôos sem limites deste amor...

X

Perdoe toda a farsa escancarada
Na face de quem mente sobre o amor.
A boca da verdade abandonada
Nos antros da vergonha neste andor.

Perdoe toda rosa estraçalhada
Nos dentes sem limites do pastor,
Mentira no Teu nome apregoada,
Nas taças folheadas de louvor...

Perdoe cada santo que emergindo
Dos pântanos obscuros das almas.
Da podre corrupção que se aspergindo

Em nome deste amor, que é tão perfeito,
Matando este cordeiro em novos traumas,
Se acham bem mais fortes no direito...

X

Amiga, se pudesse por instantes,
Falar de tantos sonhos que tivemos,
De todos os momentos mais constantes
Que em busca da verdade, nós vivemos.

Falando sem temores nem rompantes
De tudo o que bem sei que enfim queremos,
Do mundo onde sejamos viajantes
Dos sonhos que mais forte, saberemos...

Mas, tolo, mal percebo tais disfarces
Usados por aqueles que nos guiam.
Um lobo que se esconde em calmas faces

Devora uma esperança sem perdão.
Coitados dos cordeiros que se fiam
Nas mãos de tal senhor, vil e ladrão...

X

Me acumulaste sempre em tanto amor
Que trago este rosário de esperanças.
Sabendo de teu riso sedutor
Amiga me conduzo em tuas danças.

Nas águas destes rios, leves, mansas.
Certezas deste mar encantador.
Distante de guerrilhas, medos, lanças,
Na profusão intensa em bom calor.

Amiga, não me farto de teus dedos
Beatos, carinhosos e felizes.
Amores, amizades, teus segredos,

Na cura de tais males, cicatrizes.
Ilusões por certo mais presentes,
No amor em que vivemos, somos gentes...

X

AMIGA...


Plantar o que colhemos pela vida
E receber o fruto da amizade.
Quem pensa que essa sorte vai perdida,
Encontra em seu caminho a claridade.

Não veja como porta de saída
A que nunca soubeste na verdade,
Não perceba somente a despedida,
A fonte inesgotável de saudade.

Um jardineiro sabe como é bom
Receber o perfume de uma flor,
Demonstra seu carinho como um dom.

Porém nunca se admite minha amiga,
Que a mão que não plantou tenha o valor
E roubar a colheita enfim, consiga.

X

Nos descaminhos todos, sem ter hora
De chegar ou partir, sem compostura,
Vejo que talvez nunca foi embora
A dor que se fez trágica tortura.

Que me importa essa vida lá de fora
E se chora essa tétrica figura
Que há muito se mandou no mundo afora
Agora, que é bem tarde me procura.

Talvez inda proponha; minha amiga,
Falar do que passei e não passou,
Garante que inda gosta, mas nem liga.

Somente te garanto que a aflição
De ser o que não fui tampouco sou,
Maltrata o que restou de um coração.

X

Amiga, companheira ,par constante
No dia a dia sempre tão dileta,
Mostrando uma alegria deslumbrante
Que faz a nossa vida ser completa.

Estar ao lado teu a cada instante
É sorte em que esta vida se repleta,
No olhar tão mais profundo, radiante,
Indica a direção sempre correta.

Amiga em cada verso, amanhecer
Desta certeza plena que se faz,
O rumo onde pretendo percorrer

Caminhos mais tranqüilos pela vida.
Na força da amizade, imensa paz,
Pra todas desventuras ,a saída...

X

Há tempos te conheço, minha amiga,
E reconheço sempre teu carinho.
Nossa amizade feita em forte liga
Ajuda-nos nas curvas do caminho.

Permita Nosso Pai que assim prossiga,
E cada vez melhor, tal qual o vinho.
Que tudo que se queira se consiga
Que o mundo não me deixe mais sozinho.

Humilde e de joelhos, agradeço
A Deus por amizade tão sincera,
Em toda minha prece te ofereço

A gratidão enorme de te ter.
Nossa amizade, eterna primavera,
Uma brilho que me dá muito prazer...

X

Vagando teus recônditos caminhos,
No amor que te proponho, vivo e rijo,
Vibrando em avidez, tantos carinhos,
Guardando o teu prazer, esconderijo...

Cabelos soltos, olhos caprichosos
Que miram para o nunca, revirados.
Teus lábios carmesins, tão desejosos,
Nas fontes das delícias, mergulhados...

E vamos noite adentro, nestes jogos,
Que fazem explosões a cada instante.
Ouvindo deslumbrantes, raros fogos

Nesta lubricidade genial,
Sem rumo, sem juízo, a delirante
Viagem por teu corpo, sensual...

X

Aprisionados, loucos e desnudos,
Na embriaguez insana, pele em pele.
Momentos delicados, mais agudos,
Insaciado amor sempre compele.

E juntos caminhamos sem repulsa
Estradas extremadas pernas, seios...
Vontade sem limites, cedo pulsa
E nada nos detém, não temos freios...

Tomado por insânia em frenesi,
Requebros e meneios, teus quadris.
Recebo este calor que vem de ti,
Em teu gozo, querida, sou feliz...

Estamos lado a lado, a vida inteira,
Paixão que nos decora, verdadeira..

X

. Sentir teu toque, um bálsamo divino.
Tomando o meu desejo em forte gozo.
Num gesto mais profano te eternizo
Sou refém deste sonho mavioso.

Em chuvas, turbilhões, neve e granizo,
Não quero nem saber qualquer repouso,
Apenas no teu corpo mais preciso,
O toque sensual e desejoso...

Uma tortura imensa mais perfeita,
Revira nossos olhos, num segundo.
A boca não sacia, insatisfeita

E quer de novo o beijo da princesa.
Vibrando nos meus braços, mar profundo,
Que invado com meus barcos, indefesa...

X

Nossas noites, lençóis amarrotados,
Jogados sobre o chão do nosso quarto.
Desejos e carinhos delicados,
Amor que nos tomou. Eu não me aparto

De teus carinhos sempre apaixonados.
No gosto de teus lábios já reparto
Meus sonhos e malícias sem enfados.
Até que o dia surja, claro e farto...

Lençóis que derrubamos desta cama,
Mostrando esta volúpia, fome imensa...
Assim nos devoramos. Louca trama

Que traz efervescentes tempestades.
Secando toda a fonte, recompensa,
Sabemos traduzir saciedades...

X

Enfeito meu desejo, tatuagem,
Em tua pele brônzea, perfumada.
Fazendo no teu corpo esta viagem
De dia, tarde ou noite ou madrugada...

Traçando em tua cútis a colagem
Tão delicadamente desenhada.
Guardando na retina cada imagem
Da perfeição divina, abençoada...

Chegaste tão ligeira em minha vida,
Mal tive tempo, amor, de perguntar,
Apenas me entreguei sem nem pensar.

A marca da pantera, dentes, garras,
Aos poucos se entranhando... Sem saída,
Nesta delícia, amor; tuas amarras...

X

Adentro no teu quarto, em tua cama,
E roço tua nuca, em minha barba,
Provoco tua pele, nossa chama,
Tua defesa cede e assim desaba.

Subindo na parede, em viva rama,
A noite assim começa, assim acaba
No fogo que nos toma e cedo inflama,
No quarto, na tapera, lama ou taba,

Num alvoroço insano que não pára,
As mãos tocando os seios devagar,
O mapa do tesouro se escancara

E vamos num passeio ao infinito,
Sorvendo cada gota deste mar,
Na delícia deste encanto, nosso rito...

X

Sim, apague meu nome do caderno
Dos amores que guardas qual diário...
Amor que se julgavas ser eterno
Morrendo sem carinhos, temerário...

A vida se transforma em pleno inferno,
Os dias se arrastando. O calendário
Mostrando para sempre um frio inverno
Amor que assim se foi, sempre contrário...

Amor que se esfumou sem primavera,
Negando todo o bem de uma alegria.
Amor que maltratou, velha quimera,

Do sonho que pensara, só fracasso.
Morrendo em triste areia sem magia,
Não deixa nem a marca de um abraço...

Baseado em Risque Ari Barroso

X

Ao te encontrar bebendo por aí,
Rolando pelos bares , botequins,
Desculpe, meu amor, se assim sorri.
Meios não justificam-se nos fins.

Mas não pude conter minha alegria
Ao saber que quem sempre maltratou
Perambulando em dor, em agonia,
A vida, justiceira, se vingou...

O remorso te leva ao desespero...
Bem sei que este veneno que provei
Quando em traição eu te encontrei

Nos braços de um querido companheiro,
Feriste meu amor em dura lança.
Por isso essa alegria, uma vingança...

Baseado em VINGANÇA de Lupiscínio Rodrigues

X

Nos momentos, querida, em que te amei,
Inesquecíveis dias de ilusão.
Minhas palavras, versos dediquei
Com toda a força viva da emoção...

Nos sonhos mais divinos mergulhei,
Mesmo nesta inconstância, coração.
Agora bem distante, amor eu sei,
Que tudo não passou de uma paixão...

Meu castelo foi feito de carinho
Na praia dos meus sonhos, fina areia...
O mar levou, agora estou sozinho

Bem longe desta praia, deste mar...
Saudade, o que me resta em lua cheia
Por isso, tão somente recordar...

Baseado em NOSSOS MOMENTOS

X

É de manhã, o sol brilha no orvalho
Dançando em mil gotículas, cristal...
No quarto refletindo qual retalho
Decora o belo corpo magistral...

Ao ver este convite para a vida,
Levanto o meu olhar para te ver,
E sinto que encontrei a paz perdida
Nesta mulher vestida de prazer.

A chuva que caíra em meu passado,
Dando lugar ao sol maravilhoso,
No amor que pressenti ter encontrado,

Vontade de sair e passear,
Neste calor sereno e tão gostoso,
Certeza de poder de novo amar...

X

O meu amor é tanto, mas sozinho...
Quem me dera poder dizer a ela
De toda esta vontade de carinho.
À noite a solidão já se revela

Em cada brilho frio de uma estrela
Esta tristeza imensa que não passa.
Meu barco se perdendo, nau sem vela
A vida sem sentido se esfumaça...

Quem dera ter coragem de dizer
Do amor que me domina e não se cansa.
Assim talvez pudesse renascer
Nos olhos de quem ama, uma esperança...

Quem sabe, meu amor... Ah Quem me dera...
Veria, finalmente, a primavera!

X

As flores que mataste sem pudores,
Abandonadas, restos num jardim,
Não permitem perfumes e nem cores,
Mas nada representam mais em mim...

De todos os caminhos e louvores
Refeitos em desejos, sendo assim,
Singelos e perfeitos esplendores
Unidos noutro lábio carmesim...

Mas tudo o que ensinaste, de bom tom.
Amor não se permite sonhos mansos.
O mundo se transmuda e mostra o dom

Duma amizade plena em novo dia
Uma certeza imensa de remansos
Mostrando finalmente esta alegria...

X

Fazendo novamente a tentativa
De ser bem mais feliz em triste vida.
Uma palavra mansa e mais altiva
Mostrando ser talvez nossa saída.

Que toda uma tristeza já nos priva
Da sorte que queríamos perdida...
Mas eis que nos teus braços, alma viva
Percebo esta amizade bem vivida.

Querendo adormecer o sofrimento
Exalto em cada verso o teu carinho.
Depois de percorrido duro vento

Encontro, minha amiga, face a face,
Um delicado e doce, tinto vinho,
Que ao menos esta dor já se disfarce...

X

Como um farsante, o tempo me enganara;
Deixando um sentimento assim exposto.
Amar é discernir a jóia rara
Dessa bijuteria do desgosto.

Eu sinto em nosso amor, a raridade
Que vale toda a luta mais feroz.
Trazendo do brilhante a claridade
Faz o meu coração bater veloz.

Qual perla que crescera com a dor,
Amor que sempre foi ardido ungüento.
Ardis que prepararam com vigor
Por pouco não destroem sentimento.

Mas sinto que este amor é mais tenaz.
Vencer as tempestades, foi capaz...

X

Numa hora branda, plena de ternura
Caminho sob os raios do luar...
Sabendo que passamos tal tortura
Espero nesta curva o teu olhar.

Ouvindo num murmúrio, a mansa fonte
Que tantas vezes mata nossa sede,
Olhando para a lua no horizonte
Espero descansar em seio e rede...

A noite é calma e longa... A madrugada,
Trazendo a brisa mansa em calmaria,
Deitados, descansando nesta estrada
Aguardamos nascer de novo dia...

E peço teu amor, p’ra sempre, agora,
No brilho e maravilha d’uma aurora!

X


Nas torres em suplício, meus enganos;
Soltando minhas mãos, mergulho, tonto...
Os anos se passaram sem ter planos,
Sentindo essa tristeza já me apronto.

E salto sem temer sequer a morte,
Do alto dessas torres mais insanas...
Quem dera conhecer a melhor sorte
Aprisionado em torres tão profanas...

Não vejo outra saída para o caso,
Acaso não pressinto solução.
A vida vai chegando ao triste ocaso,
Apenas o que resta, o coração...

Amor que aprisionara-me na torre,
Em lágrimas sangrentas já se escorre...

X

A vida é um mistério, disso eu sei,
Muitas vezes sozinhos caminhamos,
Além de todo o sonho que vibrei
Descanso minhas costas, fogos, amos...

Distante do que fora a dura lei,
No mundo em que vivemos, nos amamos,
Mas tanto que em castigos eu sangrei,
Cansado deste rumo que tomamos...

Mas vejo em tua voz, querida amiga,
A sorte que talvez não encontrara
Nos rumos que por vezes eu tomara.

E sinto que isso pode me salvar,
Nesta ternura imensa e tão antiga,
Com tua amizade sempre irei contar...

X

Em luzes mais dispersas já floria
O corpo que sonhara, raro brilho.
Em mágicas delícias, harmonia;
De todos os prazeres, vivo trilho...

A pele que me toca, em alegria,
Mandando a solidão para um exílio,
Tal qual, em poesia eu pressentia,
Sem ter jamais sequer um empecilho...

Envolto em vibrações extasiantes,
Meus dias são mais doces, cristalinos.
Tomados pelos límpidos velinos,

Satélite que cerca tal planeta,
Vislumbro novos mundos radiantes,
Seguindo as tuas sendas, sou cometa...

X

Amigo, há quanto tempo necessito
Falar deste carinho que perdi...
Amor que se fizera tão bendito,
Depois de certo tempo... nem mais vi...

O canto em que louvara, mais bonito,
Perdendo todo encanto. Nada aqui
Senão meu triste olhar que no infinito
Procura pelo amor que recebi.

Na mortalha que cobre, solidão,
Percebo uma esperança de verdade.
Quem teve nesta vida, uma ilusão

Já sabe quanto é bom ter um abrigo,
Depois de toda a fúria, tempestade,
O braço solidário de um amigo...

X

UMA AMIZADE

Na canção em que louvo uma amizade
Cintilam esperanças sonhadoras.
Meu verso traduzindo uma verdade,
Dourando esta certeza, revigoras.

Passando pela força de vontade
O tempo vai passando, em outras horas.
Resplandece portanto em claridade,
Imagens tão felizes, redentoras...

Mostrando a limpidez deste meu canto,
Que emerge em noite clara, verso e luz,
Pintando nossa vida em tal encanto

Dos astros mais brilhantes, sonhadores,
Além desta vontade reproduz
Mais forte ,em amizade, meus amores...

X

Em tua carne doces opulências,
Belezas delicadas, mil delícias...
No brilho de teus olhos, florescências,
Sorrisos que inebriam, as malícias.

Tomando de teu corpo as inclemências,
Nos tentadores sonhos, as sevícias,
Propostas que traduzem indecências
Em lagos de carinho, tais carícias...

Teus seios, tentações maravilhosas.
Tomando a minha boca, quais romãs,
As horas que passamos, tão gostosas,

Em plena sensação de gozo e riso,
Entornam nossos fogos nas manhãs,
Abrindo em tuas sendas, paraíso...

X

O PODER DA AMIZADE

Vestido pelo linho da amizade,
Sentindo o calmo vento da esperança,
Bebendo todo o sonho, liberdade,
Atado pelo canto da aliança.

Sabendo da importância da verdade,
No coração pureza de criança,
Ao transbordar assim, sinceridade,
Meu olhar por instantes já te alcança.

Na força que demonstras, minha amiga,
Apoio para os dias infelizes.
Permite que meu passo enfim prossiga

Na busca pelo sonho que eu desejo.
Povoa minha vida em bons matizes,
Amiga. Ser feliz, enfim, prevejo...

X

Moreno carpinteiro, meu amigo.
Tantas vezes perdido em meu caminho,
Na busca por um colo, um bom abrigo,
Julgara-me tristonho e tão sozinho.

Às vezes nem sei mesmo se prossigo,
Por outras, me sentindo um passarinho
Contando tão somente, aqui, contigo,
Recebo o Teu abraço, o Teu carinho...

Quando as carnes cortadas, chagas puras, Quando os olhos perdidos, sem ter rumo.
Nas esquinas da sorte, só torturas,

O sangue se esvaindo, pobres sumos.
Te percebo companheiro e camarada,
A vida se transforma, abençoada....

X

Nos teus cabelos flavos, tanto encanto,
Entranho-me em teus laços, serpe audaz,
Saltando em teus novelos, sem espanto;
Minha boca te crava mais voraz.

Exalas tal perfume, frágil santo,
Queimando totalmente minha paz.
Tomado por teu gozo, meu quebranto,
No sacrossanto orgasmo que me traz.

Enroscado em teu corpo, flamejante,
Recebo o teu sorriso de bacante
Em lânguidas fornalhas, teu veneno.

É como se ao tocar purificasse
Mordendo e babujando a minha face,
Desfiladeiro louco e tão ameno...

X

Não deixo de pensar um só momento

Naquela criatura que eu amei.

Eu sei que não consigo, mas eu tento,

Amar não pode ser única lei...

Recebo o seu carinho, perco o vento;

A consciência afirma que tentei.

Escuto me chamar... Todo o momento,

Nos versos, nas canções que eu dediquei...

Saudades me tomando não me deixam...

Ah! Quem me dera nunca ter te visto.

Os olhos embotados sempre queixam,

Mas o que posso; Amor, se eu a perdi.

Necessito saber que eu inda existo,

Porém ninguém responde: Estou aqui!

X

Querida, te falar do imenso amor
Que trago e não consigo disfarçar,
Carrego dentro em mim, tal qual andor;
Num brilho tão difícil de encontrar..

Guardando para sempre o teu calor
Distante de meus olhos, perco o mar,
E morro todo dia; um sonhador.
Ao menos se pudesse te tocar...

A musa dos meus sonhos. Inconstante.
Mal sabe de meus versos, nem me vê.
Amor; um sentimento em que não crê.

Mas saiba que te busco em cada canto;
Em cada novo sonho, em todo instante.
Procuro a tua luz, maior encanto...

X

Menina fecha os olhos, devaneios;
E sonha com seu príncipe encantado.
As mãos delicadas sobre os seios
Num movimento manso, alucinado...

Depois, vai mansamente e sem rodeios,
Em busca do caminho tão sonhado,
Procura, num segundo os outros meios,
Prazer que tantas vezes foi pecado...

Menina vai se abrindo, sem segredos,
Os olhos revirando. Uma loucura...
Delícias desbravadas pelos dedos,

O príncipe chegando, devagar...
Num gesto de carinho e de ternura,
No delírio, começa a galopar...

X

Tua boca desliza sem juízo
Passando por meu peito, meus cabelos,
Até que vislumbrando o paraíso,
Molhando, devagar, todos os pelos...

Abrindo na volúpia de um sorriso,
Não ouve mais pedidos nem apelos,
De teus dentes, num átimo, matizo
Segredos tão difíceis de contê-los.

Na generosidade desta boca,
Meu sonho prazeroso realizado.
A voz que vai grunhindo, quase louca,

Soltando mil gemidos incontestes,
Rodando o pensamento inebriado,
Começa a retirar as tuas vestes...

X

Na caça pela casa que não vem
Depois de tanta curva, verso e lua.
Chegança de mais nada nem ninguém
Apenas a beleza exposta e nua

Na calçada do nada. Pego o trem;
Velha senha esquecida, continua
Estrada tão extrema sem alguém
Deitada sobre as pedras desta rua.

Deixar amor crescer e ser mais forte,
Beirando este caminho já sem volta.
Ao refazer o pão tramando a morte.

Ao se tornar o vinho entorna a vida.
No sangue que não causa mais revolta,
A noite das estrelas vai perdida...

X

Ah! Se soubessem, moços, o que eu sei...
Jamais se deixariam mais levar
Por todos estes sonhos que sonhei
Além desta esperança, naufragar...

Amores são farsantes, eu provei
Do gosto da saudade a me amargar.
Depois de tanto tempo, me entreguei
E somente essa mágoa a me tocar...

Amores mentirosos... Pobres moços...
Afastam-se do sol, buscam infernos.
Acreditam viver raros colossos,

Depois, somente a dor por herança;
Quem quiser se aquecer em pleno inverno,
Esqueça estes amores da lembrança...

X

Pode falar de mim o que quiser.
Qual fosse um marginal sem ter saída,
Meus olhos estarão onde estiver
Esta ilusão do amor, que é tão querida...

Vivendo da maneira que puder,
Sangrando sempre a dor da despedida,
Vibrando neste corpo de mulher
Assim irei levando a minha vida.

A corrente carrega e me transporta
Sem sequer perguntar se sou feliz...
Mas eu prefiro ser a folha morta

Abandonada neste velho rio
Do que ser tão somente um aprendiz
Que morre, devagar, triste e vazio...

X

Às vezes é preciso nervos de aço
Para enfrentar assim, a traição...
Parece que perdemos um pedaço
Daquilo que se fora coração...

Sentindo que me negas teu abraço
Depois de termos tido tal paixão
Percebo que da vida, em meu cansaço,
Somente sobrará um triste não...

Agora que te vejo pelas ruas
Andando bar em bar lembro meu bem;
Deitada em minha cama, carnes nuas...

E sinto uma vontade de morrer,
Talvez assim quem sabe, poder ter
A paz que procurei e nunca vem...

Feito baseado em Nervos de Aço Lupiscínio Rodrigues

X

Poder te desejar a cada instante
Ardentes, as palavras que me dizes,
Tocando o teu prazer inebriante
Qual fossemos crianças, aprendizes...

Na fome que me torna um navegante,
Buscado a proteção, velhas marquises,
Mergulho no teu corpo, delirante,
E somos como nunca, tão felizes...

Abrindo tua blusa, à luz da lua,
Beijando cada seio, devagar,
Aos poucos vais ficando toda nua...

No fogo do desejo, de repente,
Consigo num segundo desculpar
Àquela seduzida p’la serpente...

X

Sentir-me enlouquecendo nos teus braços, Qual fosse uma tenaz a me prender.
Rompendo sem limites os espaços
Profundos, delicados, do teu ser...

Vasculho teus caminhos, belos traços.
No amor que a gente gosta de fazer
Unindo nossos corpos, firmes laços
Que explodem num segundo de prazer...

Ouvir a tua voz rouca e macia,
Na lúbrica vontade, entorpecente.
Até que a noite traga um outro dia

Flagrando-te deitado em teu regaço,
E o sol já nos convide novamente
Matando nossa fome, sem cansaço...

X


A vida me levando na corrente
Que sempre traz a sorte que Deus quer,
Às vezes infeliz, outras contente,
Na espera do que der, do que vier.

Qual a folha caída em correnteza
Na
chuva que não pára de cair,
Levado pela vaga em incerteza
Sem
nada que me impeça de seguir.

Sou esmo, sou sem nexo, um eremita
Que teme toda a luz que se aproxima.
A sorte tão distante não se agita
Restando-me buscar somente a rima

Que faça da amizade uma esperança
De noite diferente, em plena dança..

X

Embaraço a visão quando te vejo
Nas ruas caminhando, passos lentos.
Demonstro, de repente meu desejo
Tomando para mim teus pensamentos

Na maçã destas formas, relampejo,
Nos azuis de teus olhos, por momentos
Sinto o poder celeste do azulejo
Num fascínio divino, tantos ventos.

Nos teus lábios trajetos para o céu,
Neste rubor delitos prometidos.
Sangrando meu fascínio abelha e mel,

Fome extasiante desde agora,
Tomando e lacerando meus sentidos,
Eu peço: por favor, vem e devora!

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