quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

SONETOS 129

HISTÓRIAS DE UM REPENTISTA VOLUME 21

3400

De ti eu sou somente um helianto
Envolto pelos brilhos que me emanas,
Tua dolência em forma de um encanto
Em rara formosura traz-me ganas

De acompanhar-te sempre, em cada canto.
No amor que nos tomou, do qual ufanas.
Distante da má sorte e do quebranto,
Na sede e na vontade que me emanas.

Sentir teu corpo quente, em harmonias,
As mãos que me percorrem, mais macias,
O fogo de uma estrela bela, acesa...

Opulências divinas, rumos vastos,
Desejos e prazeres nada castos,
Tu és a plenitude da beleza...

3401


Trouxeste uma alegria a quem sangrava
Em dores escondidas num sorriso.
Que pena que esta sorte te enganava
Na promessa sincera, o paraíso...
Mas nada do que fomos resguardava
O sentimento imenso e tão preciso...

Agora que decolas, sem por que
Meu medo já se mostra mais ativo.
Procuro novamente e nada vê
Senão vagos espaços... Sobrevivo...
Não tenho nem portanto nem cadê
Apenas o meu mar, seco e cativo...

Não vejo mais estrelas, perco o céu,
Amarga em minha boca o que foi mel...

3402

O frio se perdendo bem distante
Enquanto em nossos corpos fogo intenso.
Bebendo desta fonte radiante
Penetro este horizonte e nele penso,

Amando o teu amor a cada instante
No riso satisfeito, recompenso
O dia que se fora torturante
E sinto nosso amor, enorme, imenso...

Não deixe que este canto um dia cale
A vida não perdoa quem vacila,
A cada novo dia, sempre fale

Do tempo de viver o nosso caso,
Se o homem, pois, foi feito de uma argila,
No amor a eternidade não tem prazo...

3403


Menina quero ter tua boleta
Sentir esta umidade num rocio.
Tocando para ti minha corneta
Percebo esta delícia feita em pio.

Beijando a tua cana meladinha,
Percebo que tu queres um pouquinho,
A bruta desenhada é toda minha,
Prometo que vou só bem de mansinho.

Podendo com vontade e com telão
Até que venha a borra que tu queres,
Cascalho vou colando neste chão,
Do jeito e da maneira que quiseres.

Na grelha minha língua se queimando
Boleta mais perfeita me mostrando...

3404

Caminho pelas ruas sem ninguém
Apenas a saudade é companheira
O frio da lembrança quando vem
Deixando para trás qualquer bandeira,

Aguardo em desespero por alguém
Que trague uma esperança costumeira,
Mas olho para o espelho e nada tem
Nem mesmo uma palavra corriqueira

Que fale de um amor ou da amizade
Que mostre uma alegria em meu caminho,
Vivendo tão somente sem carinho

Eu perco meu destino e liberdade,
No peito uma ilusão em desalinho
Repete
este estribilho: uma saudade!

3405



Eu sei que tu completas mais um ano,
E peço-te perdão por não poder
Trazer o peito aberto sem engano,
Pois vivo tão somente por viver.

Não tendo nos meus dias algum plano
Que possa novamente fazer ver
Que o mundo se mostrando mais humano
Permite, na verdade o bem querer.

Mas venho neste teu aniversário
Mostrar meus olhos tristes, embaçados,
Um velho sentimento temerário

Guardado nas gavetas dos meus sonhos,
Permite que se lance novos dados,
E os dias poderão ser mais risonhos...

3406

Como me queres? Santo ou pecador?
Eu não sei se te trago o meu poema...
Eu não sei se te beijo com furor...
Não sei se mostrarei a piracema,

Ou quem sabe virei tal qual andor...
Não sei se tua clara ou tua gema,
Não sei se transtornado ou cantador!
Não sei se circunflexo ou talvez trema...

Como me queres? Diga-me, te imploro!
Sutil e transparente, manso, rio...
Rápido e voraz, fera louca, cio...

Noite calma serena ou transtornada...
Que te devore inteiro, ou triste choro...
Sou do jeito que queres, minha amada...

3407


Das lágrimas já fiz o meu farnel,
Tristezas que carrego no bornal
Impedem que eu consiga ver o céu,
Deixando o meu caminho desigual.

Às vezes eu percebo quão cruel
É o tempo que me resta, sol e sal
Queimando minha pele, amargo fel
Bebido em noite insana, vou ao léu.

Mas tendo uma amizade que socorra,
Talvez a minha vida tenha jeito,
Impede em alegria que se morra,

Alimentando o sonho mais airoso,
Tocando com carinho o nosso peito,
Tornando o meu destino caprichoso...

3408

Amor que, noves fora nada vale
Recebe o que me deu em duplicata
Nas
noites que cantei, fiz serenata,
Pediste intimamente que eu me cale.

Quem ama não desama nem maltrata
Ao menos diz palavra que regale,
Mas vejo que somente esta cascata
Não serve pra inundar imenso vale.

Agora que termina este meu sonho
Nas minas, outras fontes vou beber,
Um brinde derradeiro eu te proponho

De tudo o que tivemos, o prazer
De ser o teu parceiro me fez bem,
Ao canto derradeiro, ao menos, vem...

3409

Disseste-me insincera que não quer;
Concebo tantas formas, novo estilo...
Não me dizes jamais coisa qualquer,
Lágrimas que choraste? Crocodilo...

Agora que me dizes teu affaire,
Nas luzes que brilhaste não rutilo...
Os teus fascínios vários de mulher,
Resplandecem, deixando-me intranqüilo...

Nas horas que te quis não me querias...
Agora simulando novo amor,
Pensavas aquecer as noites frias,

Na cama com um simples vibrador!
As mentiras sinceras que causei,
Fortuitas, não garantem que te amei!

3410


Catetos e co-seno, hipotenusas
Triângulos retângulos quadrados.
Meninas levantando suas blusas
Olhares mais famintos e safados.

Palavras balbucio vão confusas,
Jogando meus compassos, meus esquadros,
Perdido no porão buscando as Musas,
Encontro tão somente os meus pecados.

Na trigonometria desta vida
Distante do prazer, pela tangente
Percebo que não tenho mais saída.

Em tua geometria eu me perdi,
Agora o que fazer se estou descrente,
E nesta confusão cheguei a ti...

3411

Três quatro cinco seis sete oito nove,
Foi este o telefone que me deste,
Palavra mais sentida não comove,
No fundo não desejo amarga peste.

Até que a noite venha e me comprove
O quanto nada tive, tira a veste
Vontade de te ter, querida chove
Tua nudez faminta me reveste.

Um dois três quatro cinco seis sete oito,
Não quero na verdade ser afoito,
Mas um carinho eu sei que é bom demais

O telefone chama e ninguém vem,
Preciso urgentemente ter alguém,
Mas juro eu não te ligo nunca mais!

3412

Sonetos que soletro sem ter métrica
São meras serventias do que eu traço.
A noite sem mulheres passa tétrica,
Papel que joguei fora não amasso.
Menina da bundinha mais elétrica
Acerta minha sina e perco o passo.

Mugindo no meu pasto sou o gado
Aguado pelas mágoas do que tive.
Amiga vem chegando pro meu lado
E veja num momento o que revive
Do quase que não fora no passado,
Mas peço deste encanto já me prive.

A vida vai passando e não recosta
Deixando este perfume bom... de bosta...

3413

Navego um mar intenso de prazeres
Arcanjos encontrando no caminho
Bebendo desta festa em mil talheres
Adentro com certeza o belo ninho

Que sabes com fineza ofereceres
A quem se fez amante e de mansinho,
Percebe este prazer que tu mais queres.
Vibrando em frenesi, tanto carinho...

Banhando tuas praias com meus mares,
Encontro em tua tez belos altares
Aonde professando em prece insana

Recebo teus desejos sensuais,
Invado tuas sendas, catedrais
Erguidas para a deusa mais profana...

3414

Minha vida que fora tão perdida,
Ao encontrar-te livre como o vento.
Deixou a dor fatal em despedida,
E renasceu matando o sofrimento!

Não posso imaginar tua partida,
Nem deixo suplantar-me tal tormento.
A solidão se encontra adormecida.
Saudade não deixou nem um lamento!

Quero-te; amada, minha luz e glória!
A vida não repete velha história.
Quero ser teu eterno colibri.

Amo-te, bem sei, desde que nasci!
Eu encontrei em ti, deusa vivente,
A fonte dos desejos permanente!

3415

Meu peito vai molambo e sem sentido
No escambo de meus sonhos eu perdi,
O quanto não percebo revolvido
A podridão reflete sempre em ti.

O cais que já não tenho refletido
No mar que internamente não mais vi.
O caos em ladainha repetido
Está bem preservado, guardo aqui.

Crepúsculos; espreito dentro em mim.
Nas pústulas que levo; minhas bênçãos
Os dias que pensara serem sãos

Amparam cada passo para o fim,
Saudade vai queimando e já lateja
Dardeja uma ilusão que se deseja...

3416


Tocando tua boca com meus lábios
Procuro com carinhos desvendar
Caminhos que desejo, belos sábios
Até que a noite venha nos mostrar

O gozo delicado. Os astrolábios
Permitem descobrir e desfrutar
Prazer que não se encontra em alfarrábios
Enigma
divinal a desvendar.


Eu quero o mel que escorre em tuas pernas,
Bebendo cada gota. Na aguardente
Da vida nossas noites são eternas,

Girando em carrossel num pleonasmo
Amor que se mostrando mais ardente
Explode na vontade deste orgasmo...

3417


Nas estradas que passo, pela vida,
Meu passo, tantas vezes se claudica.
A morte vem em quando se faz rica,
Um corte representa a despedida..

A boca desdentada vem provida
Do veneno fatal que não se explica.
Pela rua que passo nasce erica,
Por quê? Não sei, pergunta a alma vencida.

Daninha; já não deixa nem alento.
Vasculho, pois porque tal excremento,
Não deixa em paz quem pode caminhar!

Não quero nem talvez possa chegar,
permita-me; meu Deus, um só momento,
Poder viver sem ter esse tormento!

3418


Meus versos são venenos bem dosados,
Perfumes que incendeiam depois beijam...
No fundo são meus sonhos desprezados,
As dores que me negas, sempre aleijam...

Meus versos corações desconsolados,
Por onde quer que passem, te desejam,
As formas que traduzem tantos lados,
Nas retas nos retângulos cortejam...

Meus versos são promessas esquecidas,
São pássaros que morrem sem ter asas,
Nas mangas tantas cartas escondidas,

Nos medos meus segredos são inversos,
As chamas que me queimam não têm brasas,
Mentiras verdadeiras são meus versos...

3419

Tão mansa e docemente te beijar
Com toda a sensação sutil e breve
Do vento que já veio conquistar
No toque de teus lábios sempre leve.

Refletes os meus sonhos, belo mar,
Na mão que te acarinha e já se atreve
Teu corpo, em mil delícias, explorar,
Que a boca te beijando, amor descreve.

Fazendo de teu corpo templo e rumo,
Meus lábios são pincéis em rara tela.
Beber de teu juízo todo o sumo,

Nesta beleza santa que revela,
Toda a certeza crua deste encanto.
Dizendo: meu amor eu te amo tanto...

3420

Caminhos delicados do prazer
Aberto aos nossos sonhos mais audazes.
Vontade de contigo conhecer
Momentos mais felizes e vorazes...

Além do nosso mundo, amanhecer
Nos teus braços, carinhos mais capazes,
Percorrendo em loucuras, todo o ser.
Nas asas deste amor, nós somos ases...

Infindável desejo não termina
Nem mesmo quando raia o novo dia.
Depois de conhecermos fonte e mina,

Jamais nos deixaremos, meu amor.
Agora que sabemos da alegria,
Eternamente juntos, destemor...

3421


Em trilhos bem mais fortes da esperança
Após espinhos tristes, pobre rosa,
Convido-te querida, para a dança,
Da vida em nosso amor, maravilhosa.

Um sonho tão gostoso não se cansa
Deixando quem se adora um tanto prosa.
Fazendo esta magia uma aliança
Da noite tão divina que se goza.

Eu quero sempre estar, amor, contigo;
Galgando nossos olhos, infinito.
Envolto nos teus braços, sempre em viço.

Tu és além do sonho que persigo,
Refletes novo mundo mais bonito.

3422


Querida companheira de viagem
Além destas estrelas, sonhos mares,
No manto destes astros a miragem
Formada pelos brilhos nos altares.

Embora nessa vida de passagem
São nossos os destinos, amor, pares.
Vibrando nosso amor, alta voltagem,
Iluminando os caminhos, os sonhares..

Tu és todo o meu bem que eu esperava
Depois de tantos passos sem sentido.
A lua que esta vida iluminava

Em toda a plenitude da emoção
Deixando o sofrimento em ledo olvido,

3423


Amores tão distantes do passado,
Em sonhos esquecidos, melodias...
Vivendo esta emoção de estar ao lado
Desta mulher, delícias, fantasias.

Percebo o quanto estou apaixonado
E quanto me envolvi, tuas magias...
Nas dores e tristezas, velhos Fados,
Ressurjo nos seus passos, alegrias...

Sentir suave toque, tua boca,
As mãos que se percorrem, maciez.
A voz enamorada fica rouca

E sinto-me feliz por ser só teu.
Amar-te é renascer toda vez
Que o teu amor reflete-se no meu...

3424

Eu preciso encontrar um certo alguém
Que seja simplesmente como tu.
A deusa tão perfeita deste bem,
Toda a delicadeza em corpo nu.

Alguém que seja assim, um sonho vivo,
De um dia bem melhor que irá chegar,
Há tanto sem amor, eu sobrevivo,
Que espero enfim, de novo, me entregar.

Desejo-te demais, além de tudo,
Tu és meu raro sonho, ser feliz.
Quem veio em versos tristes, vai, contudo,

Viver contigo amor que sempre quis.
Eu posso até quem sabe, amar enfim,
Mas jamais outro amor, tão belo assim...

3425

Contigo, meu amor, em Paquetá,
Na noite promissora em lua cheia,
Onde toda uma alegria chegará
No olhar desta mulher que me incendeia.

Num paraíso raro, brilhará
No rosto da alegria, esta candeia.
Certeza de esperança que virá
No canto da rainha, uma sereia...

Contigo, a noite inteira, minha ilhéu;
No sonho mais profano e delicado,
Estrela que no mar reflete o céu,

Areia prateada, eterna luz.
Por isso este meu canto apaixonado
Que em lua maravilhas reproduz...

3426


Sentir a maciez dos belos seios
Tocando com meus dedos, meu carinho.
Aumentam meus desejos, meus anseios,
E beijo-te com calma, de mansinho.

Olhares tão distantes mais alheios,
Entregas-te sem medos. Eu me alinho
A todas as vontades, devaneios...
Meus lábios nos teus seios, quando aninho

Um arrepio corre a tua pele.
Sorris, olhos fechados, mil desejos...
A ti, todo o meu corpo se compele,

E ao ter tua nudez em frente a mim,
Cobrindo-te, vorazes, loucos beijos,
Nós vamos mergulhando até o fim...

3427

As águas cristalinas deste rio
Descendo em cachoeiras, em cascatas,
Vertendo o coração que fora frio
Em múltiplas cantigas, novas matas,
Eu quero te encontrar, viver estio;
Na lua que nos toca, luzes, pratas...

Nos sons que nos embalam, alma e canto,
Nos tons tão verdejantes da esperança,
Nos dons que nos fizeram amar tanto,
Nos passos de mãos dadas, uma aliança,
Uma alegria intensa, teu encanto,
A vida do teu lado, calma, avança...

Tu és minha menina tão querida,
Meu verso nos teus braços ganha vida...

3428

Ter-te comigo sempre junto a mim,
É ter uma certeza gloriosa
De um mundo mais sincero. Sendo assim
Te espero minha bela rubra rosa
Pra sempre perfumando o meu jardim
Com tua força eterna e maviosa..

Digo-te, minha amada, com clareza
Que tudo que eu mais quero é ser feliz;
Por isso meu amor, tenha certeza ,
Pois, já que tu és tudo o que eu mais quis,
Teu passo que me mostra tal leveza
Que sempre me encantou e peço bis.

Tu tens este perfume inebriante
Que traz felicidade a cada instante...

3429

Falando desse amor assim tão belo
Que nesses pampas nunca ouvi igual,
No sonho em que me mostro e te revelo
Que a vida se mostrando natural
Impede que a tristeza em ser rastelo
Nos leve todo o brilho do quintal.

Quarando no varal, uma esperança
Regada com as chuvas do verão,
Não resta nem sequer uma lembrança
Do tempo em que passara rente ao chão,
Agora amar se faz uma aliança
Nas trovas de uma roda; chimarrão...

Pois tira um banco e senta venha, aqui,
A prenda mais bonita que já vi...

3430

Tocando levemente no teu seio,
Beijando o teu pescoço devagar,
Tomando já de assalto o teu receio,
Tantos caminhos bons vou explorar
Fazendo do desejo o meu anseio,
Em cada toque teu me arrepiar...

Descendo minha boca, sem temor,
Encontro a beleza desta fonte
Neste relevo lindo e sedutor
Eu escalo devagar o belo monte
Na sensação mais plena deste amor.
Adivinhando a glória no horizonte...

Chegando em cada porto, t'as virilhas,
Deslumbro em mago templo, maravilhas...

3431

Entrelaço teu corpo junto a mim,
Enlaço tuas pernas com as minhas.
Perfumes nas janelas, meu jardim,
Revoam aos milhares, andorinhas...
O dia vai passando... É bom assim...
Há quanto tempo eu quis; mas nunca vinhas...

Agora estás aqui, junto comigo.
Na transparência, bela camisola;
Se é noite ou se é de dia, já nem ligo,
O pensamento livre; sim, decola
Teus seios... tua pele.... meu abrigo.
Desejo em tempestade vem e assola...

E beijo tuas coxas torneadas
As horas em paixão... extasiadas...

3432

Caminhos tortuosos enfrentamos,
Neste desejo simples, mas audaz.
Dizer que simplesmente nos amamos,
Talvez sangrar a dor que a vida traz.

Nos versos onde em sonho nos beijamos
Com fúria e com ternura tão voraz
Mas saiba que no amor nos encontramos
Um sentimento vivo, manso, em paz...

Se sinto tua falta a cada dia,
Espero tua voz me acalentando,
Tua presença em forma de alegria

Denota quanto bem por ti já tenho.
Por isso é que aos poucos digo, venho
Neste crescendo raro, estou te amando...

3433

Sentindo o teu olhar por sobre mim,
Tão cuidadosamente me espiando.
Numa vigília mansa... é bom assim
É como se estivesse acalantando...

Depois de tanto tempo sinto, enfim,
Que a vida vai aos poucos se acalmando.
Eu te desejo tanto... até o fim...
Parece que inda estou; amor, sonhando...

Deitado em teu abraço, meu descanso
A noite se promete bem mais calma;
Encontro finalmente este remanso.

Ao ver-te adormecida, em paz, sorrio
Pois a tua presença, amor me acalma,
De um jeito delicado e tão macio...

3434

Se breve é toda a vida que vier
Amar é tão urgente, meu amor...
Nos braços delicados da mulher,
O cheiro, teu perfume sedutor,
Fazendo deste sonho o que bem quer,
Nos olhos, no sorriso tentador...

Instante é um arremedo dum eterno
Desejo de te ter junto comigo.
Não deixe que este ledo, amargo inverno,
Nos tome novamente. Assim te digo
Desta ternura imensa, amor tão terno
Que mostre além de tudo, o nosso abrigo.

Receba meu carinho em cada verso,
No sonho mais gostoso do universo...

3435

Não tenhas mais ciúmes, meu amor,
Sou teu. De ti jamais me afastarei.
Teu beijo carinhoso e sedutor
Por certo, tantas vezes me entreguei.

Ao ver o teu sorriso tentador
Não sabes quanto tempo imaginei
Amor da lua é sempre enganador,
Somente o teu amor, sei que terei..

Só peço que tu venhas para cá,
Deitar-te do meu lado, ser só minha.
Amor igual, jamais encontrará,

E podes ter certeza do que digo,
A noite que se chega e se avizinha,
Dará ao teu desejo todo abrigo...

3436


Querida, não precisa preocupar-se;
Se eu vejo a vida sempre em teu olhar,
Não uso subterfúgio nem disfarce
Sou claro como um raio de luar.

Esqueça o sofrimento, enfim, me abrace
E vamos para a rua festejar
Vivemos neste amor com tal enlace
Que nada poderá nos afastar...

Às vezes me ensimesmo. Sou assim,
Um pouco melancólico; querida.
Contigo; amada, irei até o fim,

Imerso neste mundo de prazer;
Na paz que a cada dia é mais sentida.
Tu és minha alegria de viver!

3437


Recomeçar a vida plena em paz,
Trazendo uma esperança a cada dia,
Viver além do mar, além do cais.
Singrando nosso sonho em poesia.
Nascer de teus desejos, sou capaz
Iluminado ao sol que mais queria,

Deixar todas as mágoas no passado
Fazendo deste sonho, nosso barco,
Estar me redimindo no teu lado,
O mundo com teus olhos, eu abarco
Cantando este momento enamorado
Que o dia enfim renasça um novo marco.

Eu te amo e nada mais importará,
Senão essa alegria que virá...

3438

Inhaca tão terrível eu carrego
Embora tome banho todo dia,
Eu lavo o tempo inteiro não sossego,
Porém a fedentina não varia.

A minha namorada já reclama,
Num ônibus espalho os passageiros,
De gambazinho a turma assim me chama
Embora nunca mude estes meus cheiros.

Um dia imaginei a solução
E fiz o meu pedido pr’uma estrela
Mais feliz disparou meu coração,
Somente por poder sentir e vê-la.

Agora eu me livrei da minha inhaca
Não tenho mais chulé, sou jararaca!

3439


Sobejos os caminhos quando feitos
Em paz e na amizade soberana,
Distante dos meus erros e defeitos
Minha alma com certeza não se engana

E faz dos sentimentos mais perfeitos
A divindade imensa que se explana
Nos versos e nos olhos nos proveitos
Que sabem com firmeza quem se ufana

Da glória em primavera, mocidade,
Na eterna juventude, bela fonte,
Abrindo um sol imenso no horizonte

Recende à perfeição de uma amizade
Que é trama que não guarda mais segredos,
Vencendo com firmeza velhos medos...

3440

Quero ser aprendiz de feiticeiro,
Fazer meus versos simples sem buril.
Cantar amor, meu sonho mais brejeiro
No meio da poeira, pueril...

Quero aprender da vida, por inteiro,
O que, bem antes, fora mais gentil.
Sem medo da batalha, amor primeiro
É feito de meu sonho a cada pio.

Minhas mãos calejadas não se calam,
Procuro em formas límpidas, meu sal.
Essas palavras soltas tanto entalam,

Que se não as escrevo, fazem mal.
Os perfumes qu’as almas sempre exalam,
Carrego bem comigo, no bornal...

3441

Meu canto é socialista, sim senhor.
Não quero mais injustas possessões.
Orgulho de poder viver amor
Sem temer mais quaisquer desilusões.

Somos iguais, dizia o Bom Senhor,
Tocando fundo em nossos corações...
Mas tantos imbecis sem ter pudor
Preferem os pecados aos perdões.

Sou feliz; tenho tudo que sonhei,
Tenho nos olhos amor e liberdade,
Meu sonho promissor já me faz rei

Quero compartilhar felicidade,
Eu assumo, entretanto, o quanto errei...
Nos olhos dos meus filhos, claridade!

3442

Uirapuru cantou, lembrei de ti.
Meus olhos são problemas sem remédio.
Chorar não mais irei longe daqui,
Trocando o sofrimento pelo tédio...

Rimei tantas palavras, me perdi.
Jogado nas escadas deste prédio
Encontro a solidão da qual bebi
Sendo franco, prefiro o teu assédio...

Não gosto do tumulto dessa rua,
Nem quero esse calor feito emboscada.
Eu te desejaria toda nua,

Depois, que se danasse, quero nada...
Eu fecho a persiana, tapo a lua.
Não quero nem manhã nem madrugada...

3443

Saudade. Libertar-me de ti. Quando?
Cavalgas todo dia meus martírios,
Sorvendo cruelmente meus delírios,
Me libertar de ti, sair voando...

Novos caminhos, livre irei buscando,
Procuro pelos campos, alvos lírios.
Nas procissões, minha alma traz os círios...
Mas a saudade sabe vir matando...

Muitas vezes, m’engana essa farsante,
Acredito esquecer mas, nesse instante;
Ressurge fatalmente, me tortura...

Momentos que, pensei, minha loucura
Tivesse terminado, eis que domina
Meu mundo e sem limites, me alucina...

3444

Quem sou? Por tantas vezes me pergunto,
O que Deus quis, fazendo-me tristonho,
Do desamor foi feito cada sonho
Não temo o tempo, fujo desse assunto;

Quisera ser semente, morro junto
Com todos os pomares, sou bisonho...
Meu barco, no oceano, nunca ponho;
Nas lamas de tais almas, me besunto.

Fracassos foram formas de reclame,
Quintais, jardins, nas flores, sou estame;
Procuro por comparsa, gineceu...

As farsas tomam todos os meus dias,
Recebo em troca, setas, vãs, vazias...
Quem sou? Alguém que em vida, feneceu...

3445

Tua visita aguardo toda tarde;
Não me cansarei, nunca dessa espera,
Pois bem sei que sentir essa cratera
Aberta no meu peito, cruel, arde...

Sinto teus passos, tremo sem alarde
Meu coração treslouca e desespera.
Mas mudo, fixo olhar, esta tapera
Vazia continua. Sou covarde!

Queria tanto teu amor, mas nada...
Tua ausência, mortalha abandonada
Por esperanças tolas; cicatrizes.

A minha boca sonha com teu beijo,
Mas te buscando tonto, nada vejo.
Restando o teu retrato, e nada dizes...

3446

Quem me dera; poeta fosse, enfim,
A solidão apenas brincadeira
Caminharia a minha vida inteira
Sem precisar fugir do amor assim,

Evaporar sem escapar de mim;
Na busca mais faminta e verdadeira,
Razões para a cantiga derradeira
Tocando em tua boca carmesim.

Dos lábios que sonhei; nada retive,
Esplendor com misérias já convive,
Exata dimensão em que se sonha,

Quem dera em cada verso de saudade
Sangrar com tal delírio e na verdade
Sorrir da fantasia mais medonha!

3447

Recebo em teu amor a primavera
Que sempre procurei, em sonho belo.
Depois de semear em longa espera,
Um novo mundo em versos te revelo.

Pousando no teu peito faço o ninho,
És bela flor tão rara e perfumada,
Quem dera se eu pudesse, cutelinho,
Beijar a tua boca, minha amada...

No gozo deste amor, a salvação
De quem por toda a vida já sofreu,
No pouso de teus braços, tentação,
Deste desejo intenso que é o meu.

E vamos sem limites, céu aberto,
Aguando com carinho, amor desperto.

3448

Desfeito pelos cantos de tristeza
Que por vezes se calam no meu peito.
Trazendo quase sempre essa certeza
De que amar, nunca mais, terei direito.

Nem ao menos poder ver a beleza
De sentir teu prazer tão satisfeito.
Espero que da noite uma leveza
Em tanto sofrimento dê um jeito.

Tudo se muda enfim, qualquer que seja
O resultado final desta mudança,
Encontrarei as dores desta inveja

Que, ao final dessa vida inda me alcança,
Mas, bem pior que a dor que inda lateja,
Seria perder toda uma esperança.

3449


Lealdade, decerto, não conheço.
Se tudo neste mundo, hipocrisia;
Amores que, sem pena, desconheço,
Matando qualquer uma fantasia.

Será que tanto mal ,assim, mereço?
Disfarças nesta tua melodia
Nos versos que bem tarde reconheço
O tempo que tivemos de alegria.

E dizes que passaste na procura
De amor que te fizesse mais feliz.
E dás à luz do sol a sombra escura

Transformas nosso amor em velho traste,
Ah! Querida, se tudo que eu já quis,
Morreu tão sem cuidados, por desgaste!

3450

Nas guerras pelo amor, em pleno cio,
Nos braços dessa amante, com tal crueza
Deitado sob os olhos da grandeza,
Invado o território mais vadio.

Abrindo em corredeiras, todo o rio,
No cio vou seguindo a correnteza
Que rompe com defesa e fortaleza,
Acaba com qualquer medo de frio.

Em atos de bravura, se defende,
Porém de nada serve na loucura
Do fogo que na chama fogo acende

E nos devora tanto que nem vemos.
Tais guerras cometidas, sem brandura
Sementes dos amores que vivemos...

3451

Mocidade vibrando em cada luta
Que temos contra os medos e a preguiça
Amor que nos transborda de cobiça
Ao mesmo tempo rude em força bruta....

A vida se demonstra tão astuta
E ao mesmo tempo mansa, nos atiça
Em busca desta rama mais noviça
Que brota em nossa vida, e se desfruta.

Quero todo o prazer desta vingança
Na Dança sem temer a contradança
Em todos meus grilhões espero a cura.

Tenaz e sem ter dúvida brilhante
A corda que me prende a ti, amante
A mesma que garante a noite escura!

3452

As nuvens que te viram, peregrinas
Esperam pelos brindes da saudade,
O mundo te negou diversidade.
Os ombros das montanhas, descortinas...

Não vejo nem desejo tais cortinas
Que me impeçam de ver a claridade.
Apenas não pressinto tal maldade
Nas bocas desdenhosas das meninas...

Assento todo sonho nas montanhas
Que sabem do destino dos passantes
As luas que te dei foram tamanhas

Eu sinto que não posso ser teu par,
Nem seremos sutis nem bons amantes

3453

Rolando nas esferas siderais
Meus sonhos aguardando por descanso
Todo o mundo em segundos eu alcanço
E penetro por ruas e quintais.

Revejo, nessas sendas imortais
Amores que deixara no remanso
por onde, em formas espectrais avanço
E não prosseguiria nunca mais.

espinhos circundando esta coroa,
Embora a tempestade já não doa
O risco de esperança sempre corta.

Vencido pelas luzes que não trago,
A fera que me caça sempre afago
E espero te rever à noite. Morta!

3454

Quando criança trouxe sua morte
Nas asas deste pobre passarinho
Esquece-se que tenho um novo ninho
Na muda dessas penas e da sorte.

O vento da saudade bateu forte
E não deixou mais nada aqui, sozinho,
No frio que devora, vou sozinho
Rumando o coração por via norte.

Mentiras se não matas viram pragas
Nas ruas que visitas sempre afagas
A boca das morenas mais bonitas...

Menino fui moleque e não disfarço
O marco que deixei em cada abraço
Saudades adoçando são aflitas...

3455

Angelical formato majestoso
Que sempre me iludiu, agora vejo.
Foram tantos momentos de desejo
E jamais esperava pelo gozo

De poder me sentir tão orgulhoso
Por roubar desta deusa um simples beijo!
Lembrando deste fato então versejo.
Meu mundo não se mostra tenebroso...

Nos céus que te procuro nunca estás,
Na mão que me acarinha mais audaz
Eu sinto essa presença que inebria...

Embora me pareça algum delírio
Em tuas asas alvas, puro lírio,
Mergulho na infinita fantasia!

3456

As asas deste amor sacro, imortal;
Em busca de momentos flamejantes
Domando o sentimento sensual
Promessas resolvidas por instantes

Não deixe que esta angústia tão venal
Impeça que ressurjam deslumbrantes
Os brilhos desta aurora matinal
Deixando para trás os delirantes

Temores entre farsas e mentiras.
No canto que mais longe já desfiras
Louvando com magia uma amizade

Alçando os espetáculos mais perfeitos,
Navegue pelos mares, singre os leitos
Dos rios que transitam liberdade...

3457

A liberdade mostra um claro dia
Distante de uma agônica altivez.
Mil vezes um vibrar em harmonia
Do
que viver cativo, como vês.

Um pássaro recende a poesia

Nos vôos que encetar num belo céu;
Se canta; na gaiola, é de tristeza;
Sem asas; nem abelhas, nem o mel.
Embora toda dor tenha beleza;
Traz-nos uma agonia em carrossel.

Da dor que gera dor; o que pensar?
Amor se reproduz em esperança,
Que resta-nos senão por isso amar,
Teus versos, nos meus versos, contradança...

3458

Teu corpo em minha cama, fogo intenso,
A tua xana exposta e mais sedenta.
Adentro tuas grutas teso e tenso,
Nas sendas da paixão mais violenta

Tua buceta aberta, eu me convenço
E quero te fuder enquanto agüenta
A fome deste amor que sei imenso,
A minha pica avança calma e lenta

Depois em movimentos mais velozes
Encontra inundações em gozo farto.
Na sede que matamos no meu quarto

Sentidos e palavras mais ferozes
Na porra que se escorre em tua boca
Certeza de meu gozo te treslouca...

3459

Encontro em nossos olhos este estábulo
Aonde confabulas com iguais
Rangendo teus quadris neste acetábulo
Já gasto por insanos rituais.

Mexendo tuas ancas com voraz
Desejo me engolindo por inteiro
A língua se fazendo mais audaz
Penetra teus segredos, sinto o cheiro

Dos rios que derramas sem sarcasmo
Bebendo de teu sumo cada gota
Angorá maravilha em teu orgasmo
Represa se arrebenta e perde a rota

Potranca ao cavalgar o teu corcel
Tu trazes para mim estrelas, céu...

3460

No cérebro pululam mil demônios
Dominam meus sentidos e me levam
Aos olhos tão pudicos dos campônios
Sorrisos que disfarço já se trevam.

Na morte escancarada nos meus cânceres
Nos cancros que carrego dentro da alma,
Apenas talvez mostrem ledos cárceres,
Porém só teu sarcasmo inda me acalma.

Entre chacais, serpentes e panteras
Os olhos monstruosos da verdade.
Matar com ironia as primaveras
Rompantes que traduzam liberdade,

Das jaulas que nos deram como herança
Orgasmos espalhando uma esperança...

3461

Prazeres clandestinos desfrutados
Nos corpos das vadias, noite afora.
Lançando minha sorte nestes dados,
Falsária, uma ilusão, já me devora.

Ousadas sensações em finos prados,
Rompantes que se mostram desde agora
Imundos corpos nus são inundados
Por tanta hipocrisia que decora

Impudicos sorrisos desfraldando
O verme que passeia em nossas veias.
E tudo o que mais quero se mostrando

Nas pedras e penedos, vasto mar.
Rasgando nossas roupas, logo ateias
Os fogos em que sinto me afogar...

3462

A morte que espreitando na tocaia
Faz festa com meus olhos taciturnos,
Recebo os teus carinhos mais soturnos
Na solidão imersa já se espraia

A lua que levanta a sua saia
E mostra nas virilhas, cais noturnos.
Revezo no seu corpo vários turnos
E bebo da argentina antes que saia

Desnuda pelos bares da cidade
Serpenteando nua meretriz.
Nos vícios mais infames, companheira.

Amada se tu fosses minha lua
Terias a magia desta rua
Exposta e sem vergonhas, verdadeira...

3463

Nossos pecados nos redimem
De toda estupidez em que se arrasta
A vida de quem bosta, já se afasta
Dos corpos que flutuam e me oprimem.

Por mais que as igrejas nos afirmem
Do quanto amor sincero inda não basta,
A carne que se come e se repasta
Reposta nas esquinas onde exprimem

Verdades tantas vezes libertinas,
Curtindo a pele doce das meninas,
Lavando em chafarizes nossas peles,

Helmintos que levamos dentro da alma
Nos ópios que tragamos; nossa calma
Embora pra quem veja, somos reles...

3464

Qual fora um libertino que se morda
E invada estas defesas indecentes,
Roendo com furor, rompendo a corda
Que mostras escondida entre teus dentes.

Roubei tuas palavras, fiz o nada
Do quanto recebi em opressão.
Na treva que me foi presenteada
Permito meu louvor, leda oração.

Falando do que tive e na verdade
Formiga em minha pele num afago.
Versando sobre a luz de uma amizade

Permito conhecer cumplicidade
Na placidez suave feita em lago,
A vida só me deu a tempestade...

3465

Pecados tão tacanhos; cometemos
E somos desta forma manchas, riscos.
Dos pântanos, delícias que bebemos
Em podres cicatrizes; mais ariscos.

Empunhando uma espada imaginária,
Clandestinos prazeres; vomitamos,
Sem noite que não seja temerária
Vendemos nossos sonhos e voltamos

Depois das facas, faces, risos, gozos,
Nos passos espelhando o meu destino
Palhaços, picadeiros desastrosos,

Oprimidos, vencemos; desatino
Nos invernais cadáveres comidos,
Libertos libertinos, esquecidos...

3466

Penélope; não quero. Nem Amélia.
Quero essa companheira venenosa...
Não quero mais suspiros de camélia.
Um cravo que se entranha nesta rosa.

Venenos encontrei na tal lobélia
A vida se tornou mais pavorosa...
Eu quero os desatinos da bromélia,
Nem precisa que sejas tão formosa...

Olorosas as flores que plantei,
No quadrado que chamo de jardim...
As entranhas da terra fecundei...

Nos meus olhos brilharam neste hibisco...
O perfume roubei deste jasmim...
Das estrelas eu fiz meu obelisco.

3467

Mefisto se mostrando mais audaz
Ao permitir teu riso, seio exposto
Fartura de desejos sempre traz
Um vômito jogado no meu rosto.

Não quero ser cativo ou capataz
Nem quero disfarçar em pleno agosto
Calor que sei jamais inverno traz.
Mas deixo o meu recado e já me encosto

Nos ombros desta bela meretriz,
Escancaradamente apaixonado
No podre de teus lábios sou feliz.

E venço a madrugada em pleno esgoto,
No corpo quase morto, abandonado,
Jogado pelas ruas, boquirroto...

3468

Estrelas que bebemos já perdidas
Encruzilhadas tantas; encontramos,
Esgotos demonstrando que as saídas
Distantes das que – loucos – desejamos.

Nos lodos enfrentados, nossas vidas
Envergam com os pesos destes ramos,
As perdas na verdade mal carpidas
Realçam o vazio que deixamos.

Mas amo cada fonte em sangradouro,
Tomando meus estúpidos venenos
Talvez inda me reste o teu tesouro,

Ancoradouro insano e insatisfeito,
Aguando com desejos mais serenos
Salvando de uma seca o velho peito..

3469

Perdeste teu condão, és falsa fada;
Encantos que mentiste nunca os vi.
Saíste tão sozinha, madrugada,
Fugiste pro jamais, estás aqui?

Nos teus olhos servis, embriagada
A rosa que plantei nunca pedi.
A boca que negaste não beijada,
Na sorte que predisse me perdi.

Não quero teu destino nem condão.
Quero o sincero riso que me negas...
Quero o fantasma doce que sugeres...

As mãos que me deliram sempre feres,
As ruas que fugiste não navegas.
A fada que morreu, meu coração!

3470

Olhos esmeraldinos, bandeirantes.
Nas mãos a cristalina juventude.
Aurífero pendão trazem brilhantes
Diamantina forma e atitude.

Qual turmalinas finges delirantes,
Vermelhidão rubi, dama e quietude,
Coralinas belezas mais constantes,
Nos píncaros prateias, atitude...

Refaço meus caminhos velha fênix
Em busca de teus seios de marfim.
Na moldura descreves um belo ônix.

És a contradição do âmbar, perfumes....
És a melhor porção que guardo em mim...
Responda: como não sentir ciúmes?

3471

Quando à noite, nos campos, olho o céu;
A beleza espalhada no universo,
Deus, Poeta, traduz seu maior verso
Nesses caminhos lácteos; belo véu.

Pintor, numa só cor, num só pincel,
Nos tons mais belos, raros e diversos
Num sopro, com matizes mil, dispersos
Pela imensidão mago menestrel

Apaixonado pela natureza,
Sua obra prima, filha natural.
Num momento de lúcida beleza,

Deixou-nos por amar a toda gente
A grandeza silente desse astral
Que faz sonhar, maravilhosa, a mente.

3472

Confesso meus defeitos, são cruéis!
Magoei-te por certo, bem o sei!
Na sorte tantas vezes, fui revés,
Nos sonhos que pensei, sempre era rei!

Não olhe assim de banda de viés,
Confesso que pequei, portanto errei!
Se fores nunca flores aos teus pés...
Nas horas que passamos, tanto amei!!!

Bem sei que não consegues perdoar!
Perdão não tem demora nem lugar!
Não quero este perdão, sempre educado!

Prefiro indiferença e solidão!
Perdão pra ser perdão tem que ser dado,
Com uma assinatura: coração!

3473

Distante do deserto que eu soubera
Há tempos em areias escaldantes,
A solidão carcome feito fera
Meus dias mais felizes, tão distantes.

A vida sem perdão já degenera
Os sonhos que pensara triunfantes
Rondando a minha cama esta quimera
Terrível dilacera por instantes

Prazeres que eu tivera há tantos anos...
Apenas na amizade soberana
Talvez encontre forças para a luta.

Deixando para trás os desenganos,
Uma palavra amiga e mais humana
Permite sossegar a força bruta...

3474

Nada mais sou! Só restam poucas horas...
Meus olhos tão pesados. Vou calado...
Não tenho amores loucos que me imploras,
Nem tenho fantasia, alucinado!

Não tenho nem preciso de demoras...
Nada mais estou. Resta o triste fado...
Nas tortas que pedi, quiçá de amoras,
O gosto que ficou amargurado!

Jamais pensei perder os meus desejos...
As loucas mascaradas juventudes...
Cordões umbilicais já se romperam...

A morte já me mostra os seus bafejos...
O céu vai cortando em amplitudes,
Meus medos em delírio converteram.

3475

Amada, há quanto tempo te procuro
Em todas as estâncias, campos, praças...
O chão em que plantei deveras duro,
Perdeu-se de teu rumo nas fumaças
Mas venho te pedir, em céu escuro
Que voltes e perdoes minhas farsas...

Querida, há tanta coisa por dizer,
Sou resto que caminha sem teu braço,
Não posso mais, por isso, me conter,
E falo em cada verso em que refaço
Meus passos pela vida, por saber
O quanto necessito teu regaço...

Volte minha amada, eu te proponho,
Sonharmos novamente o mesmo sonho.

3476


Menina como é bom poder tocar
A pele tão macia, carne dura.
Sentir de tua boca o paladar
Em nossa noite plena de ternura...

Estrela tão distante, estás aqui
Eu sinto o teu perfume por inteiro,
Amor tão delicado encontro em ti,
Deitada neste mesmo travesseiro...

Menina teu sorriso de sapeca,
Brincando com palavras me seduz...
Guria, minha prenda, uma boneca,

Irradiando bela fêmea, luz...
Tu és tão sedutora quando quer,
Menina desejada, uma mulher...

3477

As negras gralhas, resolutas pragas...
Agourentas tempestas e mordazes...
As noites vagueando, tornam vagas...
Os mantos que devoram, finas gazes,

Não posso percorrer luares, plagas,
As vastas cordilheiras incapazes
As gralhas verdadeiras nunca afagas,
São corvos que crocitam mais audazes...

Mortalhas que me vestes, negra gralha,
Deferem meus rancores e meus versos...
A cama que me deste, vil canalha,

Cosida com meus nervos e tendões...
Busquei a liberdade, tons diversos,
Cuspiste ferozmente corações...

3478

Chegando devagar em tua casa,
Abrindo bem mansinho, uma janela,
Um vento que te queima e já te abrasa,
Tua beleza intensa se revela

Deitando calmamente em tua cama,
Beijando tua boca, puro mel.
Ardendo nosso amor em tanta chama,
Levando-te comigo ascendo ao céu...

Embriagado estou de teu desejo,
E tenho-te menina, uma mulher,
Ao te abraçar bem forte já prevejo
Amor que sei eterno e que te quer

Comigo na viagem pela vida
A minha prenda amada e preferida...

3479

Feliz por nosso amor, canto e desejo.
Sou mais do que pensara ser um dia.
Um novo tempo em luz, amor, prevejo;
No brilho deste sol calor e guia.

Já me dissera um dia, um realejo
Que a sorte em minha vida, mudaria.
Sentindo o teu carinho, um relampejo
Riscou todo o meu céu em fantasia

Meu
incontido verso te alcançando
Alçando meu futuro no teu braço
Nos passos flutuando, em ti valsando

Na noite que, Deus queira, nunca acabe,
Meu riso que antes fora tão esparso
Numa alegria explode e já não cabe...

3480

A nobre porcelana em noite rara,
Irradiando a luz sobre este mar,
Pegadas que este sonho me mostrara,
Qual divindade surge em preamar.

A vida sem martírio se pintara
No verso que te fiz, sempre a adorar.
Ao ver tua beleza, fonte e lume,
Desvio meus fantasmas, morro em ti.

Amar além da vida o teu perfume,
É mais do que sonhara, estou aqui.
No doce que me deste de costume,
O mel que me inebria, eu consegui.

Naufrágios, bóias, mares, lua plena,
Na areia em que te encontro, a vida acena...

3481

Sentada em minha frente, provocante
Abrindo as suas pernas tão roliças
Permites que vislumbre neste instante
De renda um belo altar feito às cobiças.

Ao ver em transparência tal beleza
Meus olhos tão gulosos já te alcançam,
Penetro com fulgor tua defesa
Sentidos sem pudores logo avançam

Roubando desta deusa este troféu
Portal do paraíso escancarado
Invado com desejos, vou ao céu,
No gozo deste jogo desejado.

E encharco com meus rios, tua senda
Coberta em transparente e bela renda.

3482

Ferido pelos arcos deste amor,
Jamais deixei de ter uma esperança
Vivendo sem remorsos, tanto ardor,
A sorte se escondendo na lembrança.

Resisto sempre à dor, má companheira,
Embora meu destino mais nefando,
Sabendo que trarei a vida inteira,
Aos olhos e teus braços, sempre amando...

Desculpe estes meus versos atrevidos,
Não cabem mais palavras por dizer.
Amores que se foram, preteridos,
Retornam e maltratam todo o ser.

Mas tenho uma certeza que me guia
Amor demais, contudo, é fantasia...

3483

Amor que idolatrei por tanto tempo
Vendido nas esquinas encontrei,
Achara tão somente um passatempo
Aonde insanidade eu mergulhei.

De tantos contratempos que passara
Minhas passadas foram mais esparsas
Espessa nuvem cedo desfilara
Montando em meus caminhos sempre farsas.

Em velhas procissões o mesmo círio,
O corte tão profundo da navalha,
Empíricos desejos, um martírio
Que emana sofrimento a cada falha.

No cárcere, correntes e grilhões,
Nos bares, cabarés, loucas paixões.

3484

Amor que vem chegando devagar
Por tanto tempo triste, em amargura,
Esperei que este amor fosse encontrar
Desnudado, trazendo a noite pura...

Amor que não sabia como vinha
Porém de tanto amor não me contenho,
A lua que em meu quarto se avizinha
Retrata tanta dor que já não tenho.

Fechada essa janela de tristeza,
O peito se deleita de prazer.
Agora em minha vida, uma certeza,
Vontade de te amar e de viver...

Viver amor em toda plenitude,
Em cada novo passo e atitude...

3485

Eu perco meus sentidos em querer-te
Da
forma que sonhei mas não sabias.
Amor que em tal tristeza se converte
Nublando faz morrer as fantasias...

Se sentimentalmente vamos mal,
Decerto não vivemos nossos sonhos...
Amar a quem perdemos, afinal,
Converte nossos dias em medonhos...

Levamos nosso barco sem naufrágios,
Embora se arrastando até o cais...
Amores sem amores viram plágios,
Assim felicidade, nunca mais...

Melhor seguirmos outras primaveras,
Que transformarmos sonhos em tais feras...

3486

Nos jogos indecentes que tramamos
À noite em nossa cama, louca orgia
Do gozo feito em fúria que provamos
Querência sem limites; fantasia.

Joguete em tuas mãos, eu quero ser
Na insânia copulando a noite inteira,
Vertendo o sal em leite, com prazer,
Recebo o teu maná, te quero inteira.

Clitoriosamente apaixonado,
Critérios e mistérios esquecidos,
Orgástico caminho engalanado
Farturas e delírios são sorvidos.

Um colibri recebe em plena festa
O néctar que se esbanja em doce fresta...

3487

Sem embargo, saudade é o que me resta
Rasgando o que se fora uma roupagem,
Depois da dura, imensa rapinagem
O vago que hoje sou, saudade gesta.

No jogo das mentiras, velha festa,
Volvendo o meu olhar perco a miragem,
Dos sonhos que vendi, nenhuma pajem,
São páginas viradas, fecho a fresta.

Num deserdado mundo que não tenho,
Nas senhas que perdi nada retenho
Do quanto que não sou nem fui jamais,

Apenas do verdugo feito fêmea
Uma alma que julgara ser a gêmea
Agora uma saudade e nada mais...

3488

Eu vou me expondo assim, num só soneto,
Deixando sangrar cada poro meu;
Mostrando minha face, quis ateu
Mas nada sei, nem sonhos mais prometo.

Voltando ao meu passado, me remeto
Ao princípio da noite, mas morreu
O que foram as trevas, sinto o breu
Tomando cada crime que cometo...

Asmático sentido, me sufoca...
Acendo incensos, alma fica quieta,
Procura renascer da própria toca...

Mas quem sabe meu pálido caminho,
Que se disfarça, a mesa vai completa,
Posta sobre toalhas, branco linho...

3489

Um anjo que despenca lá do céu
Trazendo uma esperança pra quem sonha
Com mundo que não seja tão cruel
Mostrando uma alegria mais risonha,

A noite iluminada em raro véu
Permite que este brinde se proponha
A quem desempenhando o seu papel,
Impede que esta vida vá tristonha

E mostra num momento o quanto é bom
Uma amizade feita em mesmo tom,
Aniversariando neste dia,

Esta pessoa amada e tão gentil,
Espalha sobre a terra, esta alegria
Deixando para trás o mundo vil...

3490

A lua, predileta musa. Brilhas
Esparramando bênçãos pelas matas!
Teus clarões nas searas forram trilhas
Noctívago, permeio serenatas

Refletes verdejantes maravilhas.
Nas buscas insolentes, me maltratas...
Lua, das tuas mansas, belas filhas,
Uma dorme comigo e m’arrebata!

És flâmula tremulas bruxuleias,
Tecelã tantas formas, tuas teias,
Passeando sutil, sobre essa terra...

A quem planta, fulguras nos plantios,
A quem ama, incitando tantos cios,
Nos teus rastros, clareiras, mares, serra...

3491

Disforme, meritório de repulsa,
Travas e trevas, fóbicos rejeitos.
Vísceras em farrapos, trapos feitos,
Nas vestes, hostes, cobras,dor avulsa...

Nos seus olhos sanguíneos, luz pulsa
Vertendo pus, sorri, garras, nos peitos
Expostos; restos, fogo, cáries. Leitos
Procuras, mais lascivo, ris, expulsa...

Nos pântanos nos cântaros, servil;
Nos âmagos dos néscios, dos bacantes,
Caminha tortos passos, voas, vil...

Nos céus, seus pés por certo nunca mais...
Repousa nos políticos tratantes,
Descansa no Brasil, vil Satanás!

3492

Espumas o teu ódio em riso franco
Verdugo dos teus sonhos; infeliz,
Meu passo prosseguindo ledo e manco
Bebendo em tua boca o que mais quis

Gotejas teus venenos, mas estanco
Hemorragia insana e peço bis,
O dia amanhecendo claro e branco
Permite que eu te achaque; meretriz.

Teus méritos e métricas são tolos,
Nas bordas de teu sexo, sarros tantos,
Nos crimes que carregas; teus encantos,

Jogadas as sementes nestes solos,
Decerto brotarão ferocidade,
Gametas que trazemos, igualdade...

3493

Mentistes sobre o pão, negaste o vinho,
Vendeste este judeu crucificado,
Coroa que me deste, puro espinho,
No beijo traiçoeiro, o teu legado.

Mas não me deixe aqui, morro sozinho,
Eu necessito o riso escancarado
De quem se fez feroz em desalinho,
Mulher de brilho fácil és o meu fado.

Nas cinzas que me trazes, teus chicotes,
Na embriaguez sincera e comovida,
Minha alma; se inda existe, vai aos lotes

A cada nova esquina convertida
Nas mãos de quem açoita; o paraíso
Barganha em que me vendo sem aviso.

3494

Jogados contra o vento; em cinzas, feitos
Feitiços e feitios mais diversos,
Amamos nossos sonhos já desfeitos
Apenas revividos nestes versos.

Na podre hipocrisia dois eleitos
Nas tocas mais ferozes, quais perversos
Destinos esculpidos em trejeitos
Bastardos
tão unidos, mas dispersos.

No pão não repartido, na injustiça
A boca se entupindo de carniça
Jogada pelos donos do poder.

Escárnios, carnes podres, um banquete,
Na marca deste corte em canivete
O
gozo alucinante de um prazer.

3495

A cúmplice perfeita que encontrei
Irmãos nos mesmos sonhos esquecidos.
Reinados tão distantes, nossa lei
Tocando nas feridas dos vencidos.

Inglórias que tivemos e sangrei
Nos plasmas derramados convertidos
Em larvas canibais. Mergulharei
Nos poços que pensamos já perdidos

E deles beberei espuma e ódio
Nos louros da vitória em cada pódio
Açoda este cadáver insepulto

Fazendo da mortalha nosso culto,
Estigma que trazemos, podridões
Irmanam nossos lodos, corações..

3496

Viemos dos esgotos da cidade
Quais fossem ratazanas imergidas
Traçando com voraz sinceridade
O que restou de nós, amargas vidas.

Restolhos, nas escorias, liberdade,
Somamos nossos zeros nas saídas
Nas pedras, travesseiros de verdade
Das víboras da sorte, estas lambidas

Embora párias, vermes, miseráveis
Sabemos antever alguma sorte
Nas águas que bebemos, intragáveis,

Nos risos que se irrompem pela noite,
Gargalha em redenção amante morte,
Sobrevivência é quase um duro açoite.

3497


A cada aniversário eu já percebo
As rugas me tomando, sem disfarce,
De todos os presentes que recebo
Apenas o vazio. Recordar-se

Do quanto fomos livres e não somos,
Beber da nossa doce mocidade,
Os frutos que apodrecem, velhos gomos,
É perceber mais clara a realidade.

Mas mesmo que isto seja tão cruel,
A festa que tu fazes, companheira
Permite que esta vida em carrossel
Transforme
em ilusão mais verdadeira

O sentido de toda esta festança,
Um louvor em que acorde uma esperança.

3498

Recebo o sofrimento qual remédio
Pra todas as desgraças que cometo,
Melhor que simplesmente o velho tédio
Aonde tantas vezes me arremeto.
Apenas a saudade faz assédio
Na hipocrisia imensa, sujo inseto

Na bêbada ilusão de alguma luz.
Expio em chaga viva meus pecados.
Dos olhos quase cegos verte em pus
O
risco que corri; errôneos fados.

Restando-me somente a mesma cruz
Pesada em outros dias já passados

Nas costas de quem teve por ofício,
Amor, perdão e o fim do sacrifício.

3499

Meu sonho se tornando o derradeiro...
A morte me permite essa oração.
Entrego-me em teus braços, sou cordeiro
No sacrifício louco da paixão...

Um verme que campeia sorrateiro,
Omite-me palavras de perdão.
Talvez eu não mereça o verdadeiro
Sentido da palavra compaixão...

A solidão constela minha sorte,
Nas amplitudes todas, sou fracasso...
A boca que me oscula, fria morte,

Encobre e vai nublando tudo em volta...
Amor que já perdi, meu embaraço,
A dor dessa saudade me revolta!

3500

A primavera traz as suas flores
Assim como se fosse um grande amor
Que nasce nas tempestas e nas dores,
Mostrando o seu perfume encantador

Amada, nos caminhos onde fores
Permita este momento sedutor
Do céu que se renova em belas cores,
Recende à primavera e cada flor.

No viço destas folhas se renova
A vida se acasala em primavera.
De todas as delícias que se prova

Depois do duro inverno que enfrentamos
Amor em novo amor renasce e gera
Quais fossem; no arvoredo, fortes ramos.

3501

Menina que me deu certa esperança
De ter na vida lume e ver saída...
Versando por verdades, sem vingança,
A lida vinda pede nova vida...

Renovo meus amores- contradança
Meu leme não se parte na partida...
Confio nos meus fios sem fiança,
A mão que acaricia; concebida...

Menina que me nina nunca pára,
Não pare de trazer nova jornada.
Jornal que nunca lido se compara,

distante das sarjeta; bela estrada,
Amor sem sofrimento é coisa rara,
É jóia que se fez bem lapidada.

3502

Minha carcaça é feita de ilusões,
Castelos que criei na fantasia,
Tocado por imensos turbilhões
Não resta nada mais do que eu queria.

As sombras do que fomos- das paixões,
Retratam tão somente uma agonia.
Silêncios se transformam – turbilhões.
E a noite prosseguindo em sombras, fria.

O brilho desta lua nos vitrais
Permite que inda reste uma lembrança
Saudade que chegou não larga mais,

Promessa de um incauto amanhecer
Nos beirais adentra uma esperança,
Apenas aumentando o meu sofrer...

3503


Dançando nesta festa, amada que sonhei,
Como poder viver, me resta esta saudade...
Não quero mais saber de tudo o que passei
Se cultivei tristeza, amor é falsidade...

Meu olhar mais distante esperando essa lei
Que possa me trazer verdade e claridade...
Na dança que rodava, amada me fez rei...
Meu medo não passava... Amor era a verdade...

Quantas vezes eu tenho esperado essa sina...
Poder enfim achar caminhos a seguir...
Nas noites sem estrela, amor nunca combina;

Meu futuro é teu braço: amiga não me deixe...
Quero estar preso ao laço a noite é meu porvir,
Neste oceano belo, eu quero ser o peixe..

3504

Um verme passeando nos esgotos,
Em alimento encontra o desperdício,
Assim ao mergulhar num precipício
Alvejo meus caminhos, velhos, rotos.

Depois destes temíveis terremotos
Agora a solidão se mostra um vício,
Amor que imaginei; sonho fictício
Miragem esquecida, ares remotos.

Percebo que tu segues já meus passos,
Um cão mais vagabundo, meu reflexo.
Atados pela merda, nossos laços

Mudando o que pensara ter um nexo,
Talvez por não sobrar-te quase nada
Do nada que hoje sou; vida espelhada.

3505

Amor que traz na mística coroa
Estrelas diamantes e mentiras.
Às feras quando, amada tu me atiras
Meus sonhos em risadas; logo arpoa.

Extrema sensação – terrível/boa
Rasgando as emoções deixando em tiras,
Ao nada que teremos sei que aspiras,
Virando a cada curva esta canoa.

Porém mais persistente não desisto
E rio deste rio que me deste,
Na boca sorridente, doce peste

Mostrando que em verdade, ainda existo.
Persisto neste sonho faca e flor,
Que chamam – insensatos – puro amor.

3506

Espírito dormente da floresta,
Não deixe que maltratem suas filhas...
Das verdes esperanças pouco resta.
As matas se transformam parcas ilhas...

De máquinas vorazes, tudo infesta,
Matando tantas belas maravilhas.
A vida se fará mais indigesta
O mundo seguirá por tristes trilhas...

Acorda! Te implorando, meu futuro,
Num triste solilóquio quase pranto...
Não deixe adormecer um mundo escuro,

Nem deixe de viver cada segundo;
Na luta pelo vivo e doce encanto,
Da vida que trará um novo mundo!

3507

Criança que brincava, fundo corte.
As mãos tão carinhosas, pois maternas.
Num tempo que me achava, fosse forte,
Nas horas que passei, serenas, ternas...

Passados tantos dias, vejo a morte
Espero as ilusões, vidas eternas...
Não creio que ninguém vivo se importe,
As dores das lembranças que me infernas...

Chegando na metade do caminho,
O resto desta estrada é só descida...
Inverno que maltrata passarinho,

Cabelos, rugas, marcas não me deixam...
Epílogo fatal do que foi vida,
Meus olhos embaçados não se queixam...

3508

À dor em sua nobre serventia
Erijo meus altares. Minhas preces
Nos tronos da tristeza e da agonia
No quanto em ilusão; amada, teces.

Minha alma sem juízo e tão vadia
Vagando pelas luas, por quermesses
Encontra na amargura esta alegria
De amores insensatos que confesses

Sem medidas, mergulhos abismais,
Loucuras em paixões que não têm fim
Vasculho cada seixo dentro em mim

E
vejo tão somente os temporais
No fogo mais bravio; pura essência
No olho do furacão sem penitência.

3509

Meu cigarro esparrama-se em fumaça,
Como o sonho que tive e não tem jeito...
Dançávamos felizes, plena praça.
Floríamos jardins, amor perfeito...

O tempo traiçoeiro, sempre passa,
Sozinho vou dormir, imenso leito.
Nos bares me embriago, rum, cachaça,
Nas curvas da saudade é que te espreito...

Cigarro companheiro; não te largo,
Embora no final, tu trairás...
O gosto: doce beijo hoje é amargo.

Calado me esfumaço pela vida...
Nas horas mais difíceis peço paz.
Espero, sem sinal, a despedida!

3510

Nas farsas que tramamos pela vida
Rondando bares, noites, aguardentes
Cravando bem mais fortes nossos dentes
Fechando da esperança uma saída

Soubemos encontrar doce ferida
Criada pelos sonhos penitentes,
Rasgando as madrugadas quais dementes,
Deixando a que sonhara; em despedida.

Um pássaro que em trevas faz seu ninho,
Amigos, mesma súcia, mesmo bando.
Bebendo; sanguinários, todo o vinho

Que exalam os amantes descuidados,
Porões de uma existência penetrando,
Na trama abençoada dos pecados

3511

Quando te vi tão quieta e amuada
Sentada numa beira de caminho,
Nas curvas desta estrada empoeirada
Um pássaro ferido e tão sozinho.

Pensara que encontrara, num carinho,
Depois de tanto tempo sem ter nada
A vida sem sentido, amargurada
Amor que me fizesse passarinho...

Depois de certo tempo, eu percebi
Que nunca houvera amor, só falsidade.
As flores se murcharam. Conheci

A face que escondeste aquele dia,
Soubesse; meu amor, dessa verdade
Deixava-te na margem leda e fria...

3512

Amigo vai dizê presse coitado
Qui num tive vontade di matá
Um sujeito que é cabra disgramado
Qui num dêxa nem sór ir clariá

Todo tempo qui têve foi marcado
Pur vontáde bem triste di lutá
Contra nóis tudim, povo isfomiado
Lá no nosso sértão, Minas Gerá...

Apois eu falo, conto prás madami
Qui nus meus tempo sêmpe fui correto.
Num tem nêsse meu mundo quem recrami.

Prôs dotô sêmpe trago as minha figa,
Me disgosta tratá cum aninseto
Um bom minêro num suporta intriga..

3513

Amiga nesta data em que completas
Um ano a mais de vida eu te desejo
Estradas tão perfeitas e diletas
Num vento sempre forte e benfazejo.
-
Que cumpras teus destinos, tuas metas.
Aproveitando, agora deste ensejo
Que o amor que com certeiras finas setas
Inunda a tua vida sem ter pejo.

Que a sorte assim prossiga iluminando
Caminhos que escolheste para ti.
Que sempre tu persistas, triunfando

No sonho que se faz tão necessário,
É tudo o que desejo, amiga aqui,
Nos votos de feliz aniversário.

3514

Meu canto de amizade amortecendo
As dores que carrego no meu peito,
Um novo amanhecer; irei tecendo
Cantando mais feliz e deste jeito

Um vento que apascenta percebendo
Na luta que não cansa, satisfeito,
Os rios da esperança percorrendo
Nas fozes deste sonho, meu direito.

Renovo a cada dia meu louvor
Ao fato de poder ter nos meus passos
Ajuda que se mostra em esplendor

De
quem durante a vida tanto apóia
Ao estreitar da sorte velhos laços
Demonstra a perfeição de rara jóia.

3515

Liberdade: meu canto e minha agrura...
Meus sonhos procurando por altares,
Mergulho vastidão, perdendo altura,
Vasculho o bem do amor pelos luares.

Quem crê nessa esperança não perjura
Espera enfim, galgar belos lugares.
A liberdade é bela; uma pintura;
É fruta que precisa dos pomares

Estercados com sangue e com revolta.
Penetra e simplesmente exige cortes.
Cuidada com leveza, sua escolta

Tem de ser diariamente renovada.
Embora sedutora, traz as mortes...
A dor neste estandarte demarcada.

3516

Ao ver minha pobre alma desnudada
Tão desmedida em forma e conteúdo
Percebo que na vida não fui nada,
Um resto de promessa. Não me iludo

A voz de quem cantara anda cansada;
perdendo no caminho quase tudo
Não passo na primeira peneirada
O canto que sonhei prossegue mudo.

Zangão que nunca teve uma colméia
Palhaço necessita de platéia
Não sabe discernir a cada instante

A dura realidade, amarga e triste,
Porém este imbecil feito farsante
Na busca pelo amor inda persiste...

3517

Quanta luz irradia o teu olhar!
Belo farol guiando cada sonho,
Meu mundo sem teus olhos vai tristonho
Na busca desta brasa, meu luar.

Aurora dos amores sobre o mar
Deixando para trás o breu medonho,
Futuro iluminado sempre sonho
Nestes rastros magníficos do olhar.

Obumbrado em teu colo, minha amada,
Nas duras incertezas desta vida,
A sorte te mostrando transformada

Envolta nos faróis de teus olhares;
Andarilha manhã vê a saída
Fazendo de teus olhos meus altares.

3518


Quisera um canto lírico somente
Falando destas flores no jardim,
Colibris voando livremente
O mundo em primavera dentro em mim.

O rio em desafio, na corrente
Descendo até chegar o mar sem fim.
Um canto que assim fosse mais contente
De bocas e de um sonho belo, enfim.

Um canto que adormeça os pequeninos
E não deixe as meninas descansarem;
De amores e promessas, de destinos

Castelos e bruxedos temerários
Aonde se permita derrubarem
Os dias tão cruéis e necessários...

3519

Freqüento as tempestades; disto gosto,
Não nego quanto é bom ser improvável;
Desnudo meus desejos, vou exposto
A cada novo verso mais palpável.

Embora tantas vezes com desgosto
Não seja, com certeza palatável,
O quanto que se mostra no meu rosto
Nem sempre é o que se canta, demonstrável.

Vagando entre as estrelas mais amigas,
Ronronas pela casa em liberdade,
Da vida derrubamos várias vigas.

Apenas por querer e nada mais,
Em alvoroço almoço a santidade
E traço em podridão um velho cais...

3520

Viagens sensuais ao infinito
Orgásticas estrelas em orgia
Prazer
enaltecendo cada rito

Bacantes emoções em sintonia

O
corpo desta deusa tão bonito

Farturas que eu encontro e bem queria
Desnudo e na volúpia em louco atrito
Adentro o paraíso em harmonia.

Desejos que carnais são sacrossantos,
Altares, catedrais, preces, encantos
Movimentos vorazes dos quadris

Profanas sensações, nosso maná,
Na farta inundação que chegará;
Certeza de que sou, enfim, feliz...

3521

Criar constantemente uma ilusão
E dela ser servil o tempo inteiro,
Arcando com meus medos, solidão,
Não sinto da alegria sequer cheiro

Rasgando os teus espaços, amplidão
Gastei todas as cores do tinteiro,
Somente recebi dor, decepção,
O sonho que me resta, derradeiro,

Permite algum resquício de esperança
Nas chamas da amizade em temperança.
Quem sabe inda terei alguma chance

Mesmo que tão somente num nuance
Felicidade mostre a sua face,
Na estrada que amizade em paz mostrasse..

3522

Cansado desta imensa caminhada,
Nos ermos da floresta me perdi...
Espera-me o vazio, o resto, o nada...
Tantas vezes te aguardo e nada vi.

Minha tola emoção vai exilada,
Nos mares que velejo, me esqueci...
Sonhei com caravela prateada,
Mas somente naufrágios, eu vivi!

Cansado desta noite em solidão.
Procuro companhia nas estrelas.
A lua, enciumada, diz-me não.

E dela não recebo nem centelha,
Fazer o que? Nudez; tu me revelas,
A lua ruboriza, se avermelha.

3523


Não deixe que esta dor já te infernize
É nela que se aprende, com certeza,
Uma amizade é como uma marquise
Que serve em tempestade, de defesa.

Por mais que o céu inferne e assim granize,
O rio caudaloso em correnteza.
Supere, na amizade, qualquer crise
E a vida será bela com certeza.

Porém belo cultivo necessita,
E total confiança dia a dia.
Com lealdade é sempre mais bonita

E deixa bem mais forte quem se ampara
Nos braços de uma amiga que nos guia
Até felicidade que é tão rara.

3524


Há tempos que eu queria te falar
Do quanto é necessário ser feliz
Deixando o sofrimento por um triz
Perceba renascer cada luar

Nos braços de quem sempre soube amar,
A dor não deixa marca ou cicatriz,
O canto da esperança já me diz
De todo este caminho a se mostrar.

Tu tens este poder transformador
Que é feito em canto nobre e solidário
Por isso neste teu aniversário

Eu venho te contar do puro amor
No qual resistiremos, minha amiga
Aonde uma esperança já se abriga..

3525

De tanto que desejo sempre o bem
De quem na minha vida fez a festa
O tempo de viver e ter alguém
Durante tanto tempo nada resta.

O quanto que já quis e nada vem,
O sempre que desejo não se empresta
O medo da alegria não convém
Nem mesmo o quanto bem, o bem não gesta.

Olhando para a luz que não me guia
Vicejo nos teus olhos, fantasia,
Fantástica emoção trazendo anúncio

Do quanto amor se fez sem ter prenúncio
Parâmetros diversos, mesmo tom,
Amar e ser feliz, um simples dom.

3526


Na faca que cortando tem dois gumes
A boca escancarada de tocaia,
Bebendo da amizade os seus perfumes
A vida num momento já se espraia

Nas fráguas dos meus sonhos, belos lumes,
O quanto desejei sereia e praia,
Em troca recebi duros queixumes.
Amiga, somos dois da mesma laia

Por isso é necessário te dizer
O quanto nada tive e nem pretendo.
O medo de viver me convencendo

Ser impossível mesmo o tal prazer.
Agora que anoitece em nossa vida,
Permita que eu não faça a despedida

3527


Meu amor é fanática emoção.
Meus olhos não conseguem tanto brilho.
Passando por amor, vira obsessão.
É mais do que sonhar um novo filho.

Explode, com certeza, o coração.
Não deixa nem permite rumo e trilho...
Rebenta mais feroz do que paixão!.
Detona dinamite no rastilho...

Esse amor, endeusado e tão cruel,
Por certo vasculhou estrela e céu
Um resumo absoluto desta vida.

É ponto de chegada e de partida.
Espreito a divindade em meu dossel,
É sorte que me leva a despedida.

3528

Transbordo, nesta vida, de emoção.
O tempo que passamos, leva o vento.
Não quero desta dor, sequer fração,
Rasgando os infinitos, pensamento...

Meu peito sem coragem, coração,
Esquece todo medo, num momento.
Arrebenta as correntes da paixão,
Mergulho nos teus braços... Contento-me!

Sou pó, simples poeira sem destino.
As tempestades levam, fina areia.
Nos sonhos, vendavais, simples menino.

Espero traduzir-te nos meus versos,
Buscando teus carinhos, universos.
Encontro-te em meu mar, linda sereia.

3529

Nas emoções diversas que encontramos
Durante a nossa vida, eu te garanto
Que às vezes da alegria desfrutamos
Em outras; sentimentos frios, pranto.

Embora em mesmo arból, existem ramos
Que trazem fantasia ou desencanto.
Em todo sentimento que espalhamos
Felicidade imensa ou dor, quebranto.

Tu sempre demonstraste ser amiga,
Numa alameda feita em flores raras,
A quem necessitar, tu sempre amparas

Que Deus a cada dia te bendiga
Sabendo que hoje é teu aniversário,
Receba este meu canto solidário

3530

Minhas lágrimas, gritos e tormentas
Tolos. Vago espaços mais remotos;
Nas irradiações, rotações lentas.
Guardados os teus olhos, velhas fotos

Amareladas quedam-se esquecidas...
Os anjos, os arcanjos vão passando,
Proclamam tanto amor em pobres vidas.
Nas tormentas celestes, renovando...

Religiões, enigmas, convulsões
Das hiperestesias, dos portões
Abertos nos castelos do meu sonho...

Deliciosamente uma ambrosia
Regada ao néctar; lúbrica folia...
Transmudam meu delírio, enfim risonho.

3531


Hoje é feriado programado ao passeio
Pegamos apetrechos para sair da cidade
Fomos pro meu sertão Jaguaribano
Armar nossa tenda numa relva da saudade

Espalhamos a toalha para fazer a festança
Olhando o rio bem próximo e silencioso
Ao longe um amigo nos avistou veio cá
Uma viagem de barco o vento impetuoso

O sol já ia descendo seus raios frios
Deitamos naquela aragem anoitecendo
Que enviava sua lua com vigor e brio

Bem juntinhos observando as estrelas
O cansaço domina emoção e tempo
A noite foi longa de testemunha o vento

3532

Amiga me permita num soneto
Falar desta amizade soberana,
Os erros, e são tantos que cometo,
Em noite que se fez tão cega, insana,

Às vezes, sem limites me arremeto
E a vida maltratando, desengana.
Felicidade encontra um duro veto
Causando esta agonia desumana.

Mas vens com teus afagos e carinhos,
E mostras ser possível novo dia
Forrando meu caminho de alegria,

Retiras; das estradas, os espinhos
E deixas tão somente a bela flor,
Fazendo renascer em mim, o amor...

3533

Na força da amizade verdadeira
Encontro o meu caminho sempre aberto,
Depois de conhecer duro deserto
Percebo uma esperança alvissareira.

Minha alma tendo a luz como bandeira
Andando com teu passo aqui por perto
Meu mundo não será jamais incerto,
Tua presença sempre companheira

Permite que eu conceba em passo forte
Um novo amanhecer, mudando o norte,
Tecendo um horizonte mais sereno.

Um passo quando é dado com firmeza
Ajuda a vislumbrar esta beleza
Do mundo que se mostra, agora, pleno..

3534


As tênues borboletas, liberdade...
Nas asas delicadas, belas cores...
Voando, carregando veleidade
Trafegam, constelares, meus amores...

Lactescências lunares, qualidade
Ímpar, as borboletas buscam flores...
Nesse encontro sutil fragilidade...
Vital, mágico encontro, sem pudores...

Diluídas fantasias vaporosas,
Lepidópteros mostram o caminho..
Mesmo com os espinhos, belas rosas...

As asas mansas asas siderais,
Todo sereno encanto... Fazem ninho...
Ah! Vento te levou p’ra nunca mais.

3535


Quando chegar a morte, enfim, serei feliz.
Neste cadáver vivo a paz renascerá...
Quem na vida escapou, vivendo por um triz,
Com certeza, por sorte, um dia brilhará...

Procuro pela lua,a velha meretriz.
Sempre que rastejo, o trilho estava lá,
Sanguíneo tal letreiro indica-me, infeliz,
O rumo do meu sonho, onde a morte estará!

Se encontro podridão, Plutão, meu companheiro,
A boca que me beija, inválida se ri...
Abismo que mergulho, é meu, decerto, inteiro...

As noites que sonhei, são tolas, sepulcrais...
A morte, viva em vida, esteve por aqui...
Esperanças gentis, palavras tão banais!

3536

O vento balançando, ouvindo meu clamor...
As noites vão morrendo, espero um novo dia...
Não quero mais saber deste teu “grande” amor...
A vida se demora em cada sinfonia...

Os beijos que negaste, estranha fantasia,
Não deixam nem recado, expressam teu rancor.
A morte vai chegar, cessando essa folia...
Não pude perceber, frio se fez calor...

O medo que travaste, em versos se perdeu.
A lua que chegava, a sombra derreteu.
Amores mais sutis, cinzas do meu passado...

Um sino vai dobrando avisa que já fui...
Não quero mais saber. Preciso, o teu recado...
Castelo que encantado, amor depressa rui.

3537

Ainda não havia o sol se posto
E percebi teus passos nesta escada,
Sanando em mansidão cada desgosto
A tempestade em mim, apascentada.

Amiga ao conhecer teu belo rosto
A vida, num momento, deu guinada
Agora em calmaria, recomposto
Almejo percorrer em nova estrada

As flóreas sensações de primavera;
Rascunhos esquecidos do passado
Jogados na lixeira de minha alma.

Agora a placidez que me tempera
Permite que eu vislumbre um belo prado
Seguindo o meu caminho em paz, com calma..

3538


Minha alma aprisionada nos teus sonhos...
Vetusta e tão austera, morre encantos...
Os olhos que te miram, mais tristonhos
Servis, esperarão teus mansos cantos...

Os dias que passei, tão enfadonhos,
Decerto se tornaram belos, santos...
Matando pesadelos vis, medonhos...
Num átimo, se tornam acalantos...

Para amores, sonhares, fabulosos...
Minha alma aprisionada em teus desejos!
Perfumes delicados, olorosos,

Navego nos teus braços sem ter medo...
Minha alma procurando por teus beijos
Descobre, desta vida, seu segredo...

3539


Lancei ao fogaréu torpes desejos,
Carcaças e caraças, velhos cismas,
Os olhos morredouros sem lampejos
Nos medos que carrego; toscos prismas.

Pergaminhada, a pele, segue em pejos
Mergulho
no oceano em que me abismas

Amores me traindo em vãos ensejos
Insólitos batismos, ledos crismas.

Meus ossos apodrecem mesmo em vida,
Destroços que me matam pouco a pouco,
Restando alguns segundos, sem saída,

O mundo relegando-me à carcaça
Semeio tempestades, sigo louco,
Cadáver de um amor que inda acha graça.

3540

No gosto desta boca viperina
Furores, histerias, convulsões,
Na chaga que se fez intra-uterina
A linfa se esparrama aos borbotões.

Tua presença amarga e tão ferina
Veneno em que se encharcam multidões
Disforme, placentária e feminina
Profanas quem se entrega nas paixões.

A tua cusparada em minha cara,
Custou-me um velho sonho, ser feliz.
Tua alma apodrecida em tanta escara

Escória do que um dia pensei fêmea.
Porém te analisando, algo me diz
Que eu encontrei enfim, minha alma gêmea.

3541

Lambias, sorrateiro, todo o chão,
Venenos e vermífugos, verdugos.
Tão servil, adubavas o porão
Comias as espigas e sabugos.

Amores que vivera, lassidão...
Fermentos e fecálicos expurgos,
O cheiro das entranhas, podridão!
Serpenteando ruas, valas, burgos...

A noite em suas plêiades luzentes,
Trazia uma esperança de melhora.
Os braços dos canalhas envolventes,

Os vermes das vermelhas carnes podres...
Vivendo nos barracos toldos, odres...
A morte se prepara e, santa, aflora...

3542

Amiga tantas vezes trucidamos
Vestígios da pantera solidão,
Rasgando o ventre imundo penetramos
Roubando desta sorte o meu quinhão

Marcados pelos dias que passamos,
Adentro com vontade o furacão
E rasgo os seus olhares, velhos amos,
Que impedem a total revolução.

Não quero mais o gozo em falso guizo
Tampouco quero ver sua outra face
Deixando para trás qualquer aviso

Do podre que bebi insanamente
Que a vida assim jamais de novo embace
Na trôpega ilusão, divina mente...

3543

Mortalhas que carrego pela vida
No luto que eternizo em gozo pleno.
A carne que dourara, apodrecida
Promete após a morte um canto ameno.

Minha alma eviscerada vai perdida
Envolta em armadilhas, no veneno
De quem em ironia deu partida
Ao fim que necessito em manso aceno.

Nas tênues brumas vejo o teu olhar,
Crotálica mulher que se fez minha.
Molambo que hoje sou, ledo caminha

Aguarda este verdugo a trucidar.
Amores gargalhando com sarcasmo

3544

Vieste no poder de um vento forte
Vislumbro a sedução do teu olhar,
Viajas pelo vento, vens do norte
E trazes no teu peito o porto, o mar.

Permita que em teus braços eu me aporte
E faça do teu corpo meu altar.
O tempo cicatriza todo corte,
Não quero mais, amada, te deixar.

No mundo que é só nosso esta chegada
Em farta sedução me fez feliz.
Bebendo tua boca enamorada,

Mosaicos que penetro e peço bis.
O vento que te trouxe num desejo,
Decerto na bonança, benfazejo...

3545


Nos subterrâneos d’alma vivo cético
Não creio nos miasmas nem nas almas...
Na vida tal qual morte, um verter ético
Não podem transfundir lamas nem calmas...

Entretanto sentidos mais estéticos
Permitem-me sorver meus velhos traumas,
Trazendo meus fantasmas epilépticos.
Revejo nos escombros ratos, palmas...

Nas convulsões terrestres, pessoais,
Nos olhos explodidos nos orgasmos
As sombras dos desejos canibais,

Os vermes que passeiam nossas bocas,
Seus ovos, suas larvas, restam pasmos:
Estômagos, esôfagos são tocas..

3546

Nos velhos baluartes artes ar...
Vencidos meus propósitos, desanco...
O verbo que não vibro vem amar,
No marco que me torna basto e manco...

Porões que me empoeiras, pão pomar...
Na franja destas praias um mar branco.
Neste óstio que te ostenta és osmolar
de ferro e de granito, mesa e banco

Minha alma se aninhando em alma tua
tanta voracidade muda o norte
Se como te reclamo bela e nua

À parte deste aparte não perdôo
A vida me ressalva fundo corte.
As asas que pernoitam o meu vôo...

3547

Espreitas, esperanças, me confundo...
Declino de meus erros , meus acertos.
Se quero me concentro, vou ao fundo,
Os medos com certezas, vão despertos...

Nos mares que me deste não me inundo,
Nem vejo teus olhares, meus apertos...
Não sei se te terei, tão vasto mundo....
Nos erros que cometo, vãos, incertos.

Esperas e fornalhas, me acalentas...
Vasculhos teus sensores basculantes..
Os vasos se quebraram um pouco antes.

Temores e tremores não enfrentas...
Os meus sonhos jogados na lixeira
mostrando a tua face verdadeira...

3548

Torpes trevas, penumbras e calvários.
Meus miasmas sensíveis e enfadonhos,
Se quedam insolúveis, motes vários.
Nas varizes dessa alma: tramas, sonhos...

Nas derivas das rias; estuários.
Cálices de vinhoto são medonhos,
Nos charcos e nos pântanos, sudários...
Meus amores fanaram-se, tristonhos...

Involuo, termino quase feto.
Não vasculho verdades nem compêndios.
Reverso sou descrente me repleto...

Desorganizo formas e remédios,
Não debelo revólver nem incêndios.
As trevas tenebrosas seguem, tédios.

3549

Num lúbrico desejo te penetro
E faço de teu corpo meu altar,
Tu guardas num instante o rijo cetro
E sabe deste encanto desfrutar.

Prazeres que me dás ao entubar
Num remelexo intenso, tais misturas,
Depois o leite sente derramar
Neste ato de carinho que procuras.

Enlanguescente, olhando para mim,
Aguardo em nossas cevas floração
Fagulhas esparramas; vou ao fim
Depois de tua doce felação.

Na noite que se mostra em alegria,
Desejos se traduzem sodomia...

3550


Tens sorrateiramente as maldições.
Amaldiçoas dias e amofinas.
De ti só reconheço os teus senões
Palavras que proferes; sempre finas.

Envoltas em mentiras, emoções,
Não queres libertárias, libertinas,
Celeumas que tu crias, sem perdões
São vagas, são palavras lamparinas.

No lusco-fusco, idiota e mais boçal
Estapafúrdio ser, um quase zero,
Do que tu me ofereces, nada quero.

Resumo-te a um recorte de jornal.
Não serves nem sequer pra calendário.
Quem sabe te acharei no obituário?

3551

Cordilheiras gigantes, montes, cumes...
No salto extasiante da pantera,
Num laivo mais sutil, tantos ciúmes...
A febre desejosa da quimera...

Na mão que me açoitava, teus perfumes,
Os vértices, os prumos, minha espera,
Deliro mas não ouves meus queixumes.
Ah! Se tu fosses minha... Quem me dera...

Nos olhos vaticínios indefesos,
Traduzes as visões destes profetas.
Cativos meus amores morrem presos

Nos desejos ferozes, domadora...
Porquanto meus martírios quis ascetas,
Desmaiam em teus gozos, redentora!

3552

No tédio em que vivemos, minha amiga
A sorte é desdenhosa e com sarcasmo,
Impede que ilusão cedo prossiga,
Trazendo depois disso, algum marasmo.

Resquícios do que eu fora são jogados,
Chamados por alguns, simples entulhos.
Depois destes caminhos malfadados,
Apenas encontrando pedregulhos.

Recendo à podridão velho e brumoso,
O rastro que persiste neste chão
Mostrando o quanto o mundo é caprichoso
Ao permitir um ser que é feito em vão

E
tem como estardante uma incerteza,

Na eterna luta contra a correnteza...

3553

Nas mórbidas palavras em que teces
Teus sonhos mais profanos e ferozes.
Nos beijos que me dás e me apodreces
Matando os meus caminhos, tuas fozes.

Não quero nem sorrisos nem as preces,
Na noite solitária ouvindo vozes,
Distantes ilusões, sismos, quermesses,
Apenas minhas lendas mais atrozes.

Surcando imensidade com teus pés,
Voracidade plena em cada riso,
Ao espalhar a dor sem dar aviso,

Meus barcos já naufragam sem convés.
Disseste uma palavra ao bem do amor,
No viperino lábio, o teu licor...

3554

Gravada em minha pele, cicatriz
Tua presença amada e mais constante
Permite que eu me mostre tão feliz
E siga minha vida radiante.

Que toda esta alegria se agigante
E faça da emoção que tanto eu quis
Um sonho que deveras já me encante
É tudo o que mais quero e o verso diz.

Do amor que nos guiando traz a luz,
E nela um brilho forte e derradeiro.
Meu verso esta emoção já reproduz

E toca num instante, o mundo inteiro.
Sementes que espalhamos, poesia
Já frutificarão farta alegria...

3555


Tecendo meus tapetes de ilusão,
Transformo meu sorriso num lamento...
Mergulho meu amor em solidão,
Transporto tempestades, beijo o vento...

Quimeras, gargalhadas, solução?
Não vivo sem lamber o sofrimento...
A morte muitas vezes, o meu pão.
Os raios desta angústia, o firmamento...

Não falo das renúncias nem conquista...
Vou tresloucadamente mas tão lúcido...
Meus barcos não me gritam: terra à vista!

Opacos meus destinos, são bem parcos.
Espelho não reflete, pois translúcido...
Não sei nadar, procuro por teus barcos...

3556

Num campesino sonho, libertário
Igualdades; quisera e nada tive,
Na mórbida ilusão, um temerário
Caminho que tracei; mas não contive.

Um velho que passeia solitário
E tudo o que viveu, inda revive,
Ouvindo ressoar o campanário
Distante do que quis só sobrevive.

Do mundo que eu sonhei, da liberdade,
Pressinto que sobrou triste falência
Vigora tão somente uma indecência

Calando o que mais quis, mas na verdade
Resiste no meu peito uma esperança
Amizade e perdão em aliança.

3557

Gostoso poder ter tua xaninha
Molhada em minha boca e tão sedenta
Cheirosa caprichosa e meladinha
Ardendo em chama intensa, mansa e lenta.

Teu grelo se entesando, lambidinha
Tesuda em teu rabinho: vê se agüenta
Que a fome de prazer vem, arrebenta
Te faz em putaria toda minha.

Eu te quero safada e sem juízo,
Mexendo, rebolando os teus quadris
Comendo minha pica me engolindo.

Até que perca inteiro, todo o siso
E esporre com vontade, mas feliz
Num gozo divinal, perfeito e lindo...

3558

Não quero perseguir a minha sorte...
A vida se disfarça em aliada.
Nas farsas que criei a própria morte,
Se esparsa na manhã, falsa, cansada...

Não há porto, porteira que me importe,
Sigo torto, torturo tua estada.
Corto-me se inda aporto no teu norte.
Sou absorto. Sortida, ensolarada

A estrada que me negas, sem motivo.
Altivo ergo os meus ombros, redivivo...
Nas voltas, já comportas os teus atos...

Nos rogos tuas pragas meus regatos...
Sem regras tantas réguas meu resgate.
Procuro a liberdade antes que mate!

3559

Vontade de ficar aqui contigo;
O dia se arrastando, lento e denso.
Querendo me embrenhar em teu abrigo...
Em nada mais, te juro amor, eu penso...

Se faz sol ou se chove, já nem ligo;
Calor que encontro em ti, bem sei imenso;
E assim o dia passa, assim prossigo
Na placidez sereno, e mais intenso...

Redescobrir teu corpo e teus caminhos,
Beijando calmamente cada parte.
Anseios e desejos... teus carinhos...

A cada novo toque, a descoberta
Do amor que se faz tela, cenário, arte...
A porta está fechada e a alma aberta..

3560

.
Vivendo neste amor assim profano,
Numa insensata dança sem juízo...
Roçando pele a pele, amor insano,
Que leva-nos ao bom do paraíso,
Fazendo da loucura o nosso plano
Sincero de prazer e de sorriso.

Nas fronhas, nos lençóis, nos travesseiros
As marcas deste amor que nos completa.
Distantes dos desejos corriqueiros,
A forma do banquete predileta
Nos mostra sempre intensos, verdadeiros,
Até que a noite passe tão repleta...

E como do manjar angelical,
No templo mais gostoso e sensual...

3561

Estapafúrdias parcas me legaram
Destino tão cruel, e quase informe,
A dor do nunca ser vagueia enorme,
Os olhos da esperança me arrancaram.

Inconscientemente rebuscaram
Meu mundo enquanto o medo nunca dorme.
Caminho pelas ruas, ser disforme,
Apenas os teus passos decoraram

As galerias pútridas da mente,
Somente nas pegadas que deixaste
Ração que deste a um cão, um velho traste

Trazendo da alegria uma semente.
Amiga eu te agradeço amparo e braço,
Sabujo que te segue passo a passo...

3562


Parque, roda gigante, algodão-doce...
Brincando com desejos da criança.
O tempo se passou e o que era doce,
Num canto vai guardado, na lembrança...

Saudade num momento o sonho trouxe;
Só restam conta gotas de esperança.
Quem tinha liberdade, escravizou-se
Nas danças da saudade, contradança.

Menino vai correndo, liberdade;
As pernas vão traçando em cada passo...
Riachos de total felicidade.

Não sabe das angústias, do cansaço.
Roda tão gigante da saudade...
Meu filho. Vem; e dê um forte abraço!

3563

De repente, vivendo a fantasia
Eu encontrei meu rumo nesta estrada...
O mundo vai girando, a poesia,
Risonha se transforma nesta espada.

Penetra quem pensou que já podia,
Trazer de novo a vida destroçada...
Nos campos já se escuta a melodia,
Por tempos e milênios abortada.

Na boca desta gente, não se escuta,
Um grito que traduz velha mortalha...
O medo de enfrentar a força bruta,

Por certo não vingou, nem atrapalha...
Dos sonhos de igualdade já desfruta
O povo que gritou: Xô, some gralha!

3564


O tempo se mostrando assim, nublado
Durante as noites frias, duro inverno.
Amor que me deixou abandonado
Transforma a minha vida num inferno.

Vou sonhando contigo aqui do lado,
Trazendo para mim o gosto terno
De quem sabe do mel abençoado
Do amor que desejara ser eterno.

Porém a noite fria, a chuva fina,
Minha alma em desespero desatina,
Procura o cobertor que não me aquece.

A dor me dominando, inda persiste
Deixando a minha noite bem mais triste,
Só resta uma saudade feita em prece....

3565


Meus versos dolorosos são de mágoas.
No mundo vou passando sem amor.
Das luas da esperança nem as fráguas.
Nas ondas que mergulho, só pavor.

Quem dera navegar por mansas águas,
Quem dera me saber um vencedor,
Nas pernas das saudades, as anáguas
Impedem que eu penetre a bela flor.

Olhos empapuçados, ermos, frios.
Procuro tão somente um novo cais.
Meus dias sem sentido são vazios.

Meus versos dolorosos, meus queixumes.
A noite que passamos? Nunca mais.
No vento distraído, os teus perfumes...

3566

Bebendo do teu mágico licor,
Nas nossas madrugadas indecentes,
Vertendo enlanguescente, ousado amor,
Cravando bem mais firme nossos dentes,

Lanhando a nossa pele com fervor
Na chama feita em preces; penitentes,
À Baco com delícias, num louvor,
Trilhamos fantasias mais dementes.

Rolando nas calçadas, galerias,
Ouvindo a sinfonia das matilhas
Entornas em meu corpo maravilhas,

Dois cães que se lambuzam nas orgias
Rasgando o que restou de nossas vestes,
Nos pós de nossos corpos me revestes...

3567

Imagem tresloucante em noite imensa,
Resíduo deste sonho fátuo e frágil.
Amor que recebeste como ofensa,
Agonizando morre num naufrágio.

Na trágica ilusão a vida tensa
Bebendo a morte, insano e bom presságio,
Não tendo neste mundo quem convença
Meu mundo se perdendo, quem fora ágil

Percebe tão somente amargo fim.
E nada do que possam me dizer
Ainda me trará qualquer prazer.

Apenas a lembrança vive em mim,
De um dia que não pode nem devia,
Deixando como herança esta agonia...

3568

Espectros do que fomos me perseguem
E tomam meus anseios cerebrais,
Aos poucos; feramente, eles conseguem,
Eu não me livrarei deles, jamais.

Por mais que outros amores venham, neguem,
Esta presença insana de abissais
Cadáveres de ti que inda me seguem,
Perseguem com tais fúrias canibais.

Esmigalhando o sonho que eu tivera
De ter ao menos restos no jantar,
Sorrindo em ironia, amarga fera

Não deixa que eu prossiga, feito um amo
Do qual não consegui me libertar.
Uma voz sepulcral repete: eu te amo!

3569


No cárcere dos sonhos, dois cativos
Estúpidos se querem e se embrenham.
Por mais que permaneçam quase vivos,
Esperam fantasias que inda venham.

Os olhos disfarçando são altivos;
Algozes ilusões que fingem tenham
Somente seus grilhões tão permissivos.
Não tendo mais espaços que contenham.

Assim depois do quase fui feliz,
Minha alma inda vagueia meretriz
Por todos os bordéis e cabarés.

Enquanto sonhas lúbricos prazeres,
Esqueces no banquete os teus talheres,
Atados; dois amantes nas galés...

3570

Da tua boca sinto essa peçonha
Crotálica presença, escorpiônica.
Mordaz; uma beleza assim medonha,
Minha respiração se torna agônica.

Enquanto uma esperança ainda sonha
Minha alma se perdendo vai atônica.
Por mais que uma alegria se proponha,
A vida não será; jamais, harmônica.

Da fêmea demoníaca que enlaça
A cérvice de quem amou demais.
Aporta em tempestades tal desgraça

Negando ancoradouro, perco o cais.
O tempo do teu lado nunca passa,
Porém insano amor, eu quero mais...

3571


Noite se abrindo , mágicos pendores...
Nas esperas, cansaços e canções...
Vestida de ilusão, trazendo flores,
Destroça, mansamente, corações....

Noite, testemunhando meus amores,
Retrata nos seus brilhos, os perdões...
Quem pensa na beleza dos albores
Desconsidera o rumo das paixões...

Imagino um deserto, lua plena.
O vento acaricia um belo rosto.
A vida que sonhamos, tão serena...

Nos olhos dessa amada, fino gosto,
Os nervos, as entranhas, tudo exposto...
Imagino a ternura desta cena...

3572

Noite trazendo mágoas, não aguarda
Pela alvorada, passa muito lenta...
Serpenteia maltrata, pesa, enfarda,
A dor arrebanhando, violenta...

Noite cruel, vilã, u’a noite parda.
Nem o vento me acalma,nem alenta.
A noite vai passando, a manhã tarda!
Onda que nos penhascos se arrebenta!

Estropiado, morto, fatigado;
Arrasto meus chinelos pela casa...
Saudades e rancores, tudo arrasa!

Meu canto ecoa, vai desesperado!
Pisando tão sedento em dura brasa...
A noite se arrastando e eu parado...

3573


A vida chega e sangra sem perdão;
Dilacerando todo triste sonho.
Nada mais rutilando, resta o não;
O rumo deste barco é tão medonho.

Cicatrizes abertas; podridão.
Nas pernas que se quebram; eu me exponho.
A cada novo verso outra aversão.
Fui arrancado à fórceps, bisonho.

Amor que não teria, ledo parto.
Abortei das entranhas; meu futuro.
Das torpes cantilenas já me farto.

Perambulo vielas, salto o muro,
Talvez eu seja um verme; eu me procuro,
Do amor abandonado, eu me descarto.

3574

Qual embrião disforme vago o mundo,
Meus restos dilaceras sem promessas,
Navalhas penetrantes cortam fundo
Aborto em meus amores, às avessas,

Bem sei que não me queres, sou imundo,
Nos trapos que carrego, velhas peças,
Sem bote e naufragado, vagabundo,
Sorvido pelos vermes, sem ter pressas.

Mas não me deixe, amor; peço clemência,
Ao menos por favor, fique por pena,
Pois Deus, o criador deu-te incumbência:

Cuidar deste restolho. És meu timão,
Repare neste nada que te acena,
Impeça que me leve, a solidão!

3575


Meu amor por ti rola ribanceiras,
Sobe por montes, desce pela praia.
Vazando pelos rios, corredeiras,
Levanta levemente tua saia
Desfruta das loucuras verdadeiras,
Por cima do tomara sempre caia
As mãos são mais audazes, traiçoeiras...

Do mel que nos lambuza, gosto doce,
Nas pernas que tremulam, prazerosas.
Fluir nossa vontade, como fosse
Entrar neste jardim, roubar as rosas
Fazendo com que a vida se remoce
Nas horas de prazer, voluptuosas...

No fogo que nos queima, minha amada,
A chama do desejo, alimentada...

3576


Tanto tempo procuro por paragens,
Onde encontre descanso sepulcral...
Depois das ancestrais, torpes viagens,
Buscando meus caminhos neste astral,

Meus rios e meus mares, ondas, margens,
Espreitam por penhascos... Espectral
Reflexo desvirtua tais aragens
Que vagaram deserto magistral...

Criança sepultada no meu peito,
Olores putrefatos exalados...
Meu próprio funeral será perfeito.

Das ondas emanadas esotéricas...
Mulheres que deixei, virão histéricas
Amores que não foram bem cuidados...

3577


Ao chorar pelo amor que foi embora
Nas curvas deste frio minuano,
Não sabe como é bom te ter agora,
Sem medo, em meu carinho, sem engano.
A tarde desdenhada sempre chora
Quando se percebeu em abandono...

Menina aqui te espera tanto abrigo,
Numa tapera simples, mas repleta
Dos sonhos que te querem mais comigo,
Nos versos em que faço se completa
A vida que te peço e não consigo
Falar de outra maneira mais dileta.

Verão comigo traz eternidade,
Morena, meu amor é de verdade...

3578

Um mago, um querubim ou um fantasma
Penetra no teu quarto em noite clara,
E sentindo a presença de um miasma,
Vontade te atiçando se declara.

No ataque que simulas – crise de asma,
Fingindo-se coitada já se ampara
Derrama teus hormônios, cheiros, plasma
E o pobre do infeliz; logo depara

Com princesa desnuda que arquejando
Inclina-se com olhos desejosos,
O tempo mansamente vai passando,

E a moça que pensara nos seus gozos,
Perdendo o seu juízo, quase louca,
Vê vaporizador. Na sua boca...

3579

Menina; se ninasses quem te nina
A vida com certeza era mais bela
Vencendo o cedo medo que alucina
Estrela mais bonita se revela.

Janela do meu peito descortina
Cortina de minha alma sabe vê-la
Na bêbada ilusão que me domina,
Menina eu quero tanto, enfim, sabê-la.

Vem logo antes que a noite se arrependa
E esconda a lua cheia pondo venda
Nos olhos de quem bebe o brilho farto.

No trilho de seus raios, passo a passo,
Ninando quem te adora num abraço,
Farás outra menina no meu quarto.

3580


Minha musa morrendo... O quê que eu faço?
Não posso permitir que isso aconteça!
Sem a musa é possível que pereça
O sonho de sentir gostoso abraço.

Na morte desta musa, eu me desgraço,
Que em meu canto ninguém mais adormeça!
A vida só me dá dor de cabeça,
Sem musas meu poema vai pro espaço!

Velório desta musa pede rito.
Meu grito sem atrito no infinito.
Meu canto, seu quebranto, tanto manto...

Depressa, traz compressa tenho pressa!
Meu remo, meu remédio, outra remessa!
Ó musa vê se volta ao seu recanto!

3581


Nos campos mais formosos d’onde vens,
As águas violentas deste rio...
Escondes as malícias, más origens,
No prado verdejante deste estio.

Recebendo as mensagens dessas nuvens,
Espreito teu olhar tão manso e frio,
Quem prometia calmaria, aragens,
Demonstra um coração falso e vazio.

Nas cores maviosas deste abril,
Os olhos da pantera se disfarçam,
O céu emoldurado, belo anil,

Transmuda-se feroz quando sorris,
Destinos diferentes já se traçam...
Com outra, eu te garanto, fui feliz!

3582


Saltitante e feliz, a perereca
Pulava no arvoredo e não sabia
Que a sorte dum anfíbio qual peteca
Dum momento para outro já varia.
Ao ver um sapo boi, moça sapeca
Mergulha num segundo em água fria

O sapo ao ver a moça saltitante,
Fazendo um charme deu uma guinada,
A perereca quis ser sua amante,
Porém o sapo boi era de nada.
Mas dono de beleza deslumbrante
O sapo se escondeu na sapaiada.

A perereca soube num jornal,
Sapo-boi era metrossexual!

3583

Jamais necessitei de ti, amiga.
E disso com certeza fiz o ninho
Aonde esta amizade já se abriga
E trama noite e dia o seu caminho.

É preciso dizer que a forte viga
Que liga nossos mundos é o carinho;
Com toda confiança e sem intriga.
Eu posso, mas não quero ir mais sozinho.

Uma amizade é forte enquanto sabe
Que o caminho de outrem já não te cabe,
Embora seja bom o caminhar,

Os passos sempre vão independentes.
Os rumos escolhidos, diferentes,
Porém nossa alma sempre gemelar..

3584


Quem dera se eu pudesse te dizer
Do quanto desejei e nada veio,
Seguindo estas pegadas sei do veio
Aonde poderei ter teu prazer.

Não tendo mais temores nem receio
Da fonte desejosa vou beber,
Certeza de encontrar meu bem querer,
Matando minha fome em cada seio.

Bagunças meu coreto, com certeza,
E nadando a favor da correnteza
Eu chego mais depressa nessa foz

Aonde despencando em cachoeira
Delícia
transbordando na ribeira

Inunda em mar gostoso todos nós...

3585

Tentei fazer um verso diferente
Daqueles que costumo troviscar
Soneto que levasse a toda gente
Uma vontade louca de falar

Do nada, sobre o nada, nada urgente,
O manto que se embrenha em pleno mar.
Do canto da jibóia transparente,
Demente sem ter dente pra contar.

Nas flóreas resistências do vazio
Estúpida alcaçuz que não pariu,
O ardume da querência mais gentil,

Peneiro a tempestade que não veio,
Morena no teu seio me incendeio.
O resto a ponte velha já partiu...

3586

Os velhos mercenários vão mudando
Esquemas em seqüência, nas seqüelas
Dos pobres infelizes, retomando
As fúrias gigantescas, fartas velas.

De todas as misérias usurpando
Vendendo o bom Judeu em ricas telas,
Nas tetas destas cruzes vão mamando,
Nas águas e na areia, sempre “belas”.

Hipócritas vestidos de saiote
Barbado na barbárie viciado.
Casando até burguês divorciado,

Até no pobre Cristo dando o bote.
Amiga não se engane, é o diabo,
Debaixo do saiote, esconde o rabo..

3587


Eu vou morrer de câncer, com certeza.
Da fumaça que trago, o caranguejo
Fazendo no meu peito este festejo,
Encharca em nicotina a tal pureza.

Problema meu, se o corpo assim se lesa,
Farta dor e a dispnéia que prevejo
A punição perfeita em que eu almejo
Purificar minha alma sem defesa.

De todos os amores que eu já tive,
De todos os lugares onde estive
Eu guardarei somente o teu sorriso.

Embora destas mãos não necessite,
Eu peço; minha amada, que acredite,
Não quero nem saber de paraíso!

3588

Às vezes necessito de um carinho
Da moça que se fez enamorada,
Chegando no teu peito de mansinho,
Assim como quem quer o quase nada,

Encontro no teu colo o meu caminho,
Deixando esta princesa desnudada,
Prazer que tanto quero se adivinha
Satisfação imensa anunciada.

Roçando a tua pele bem morena,
Lambendo feito um cão vou esfaimado,
Até que o leite seja derramado.

Tu não reclamas deste desperdício,
A gente faz amor, a noite acena
Fazendo deste jogo o nosso víci
o...

3589

Comemorar o teu aniversário
É como traduzir felicidade.
Além do que parece necessário
Eu faço destes versos de amizade

Um mundo onde não seja temerário
Viver em santa paz; tranqüilidade.
Amor já reconhece itinerário
E busca no teu peito a liberdade.

Vivendo em harmonia, com certeza,
Deixando sempre em paz a natureza
Percebo a raridade da pessoa

Que faz a nossa festa, pois resiste,
Não deixando, decerto ninguém triste,
A vida vai levando, numa boa...

3590


Altares maltratados pelo gozo
Histriônico, audaz e sempre hedônico
Daquele que se fez maravilhoso
E morde um moribundo quase agônico.

Falar desta canalha é tão gostoso,
Não nego que isso seja só platônico,
Mas veja o quanto dói ser melindroso
Ou sinta a minha faca em corte harmônico.

Amar é ser liberto totalmente
De toda estupidez ou convenção,
Cravar na hipocrisia um fino dente,

Rasgando a carne em decomposição.
Beijar na boca fria da serpente,
E ter, além de tudo, compaixão!

3591

Fale baixinho, eu peço por favor,
Senão este menino não descansa,
A noite inteira, saiba, trabalhou,
Futuro quem não corre, não alcança.

Na mão deste moleque uma aliança
Dourada no suor trabalhador,
O medo se afastando da lembrança,
Menino vai mostrando o seu valor.

O filho do lixão agora ensina
E a todos, com vontade já domina
Na faca, canivete ou no fuzil,
(A mão deste menino é mais gentil)

E sempre carinhoso, mata a fome,
Correndo; pois senão o bicho come,
E leva pro congresso do Brasil...

3592

Beijar-te até secar a nossa fonte
Em mil tonturas versos e conquistas.
Deixando que o desejo em ti desponte,
Nas nossas bocas sábias quais artistas,
Teus seios delicados... tua fronte;
Passamos nossos corpos em revistas...

Meus lábios mensageiros do prazer,
Teus lábios explorando o corpo inteiro,
Os olhos revirando... posso ver
O nosso amor, sensível e matreiro...
Nas tuas profundezas me perder,
Esforço mavioso e derradeiro...

Depois deitar contigo... a noite é nossa,
Voarmos bem além do que se possa...

3953

Andávamos libertos pelas ruas,
Dois párias, vagabundos, cães sarnentos
As carnes quase expostas, semi-nuas
Os olhos procurando os alimentos.

À noite embriagados, sob as luas
Do amor e do desejo mais sedentos.
Nas asas das loucuras se flutuas
Verás toda a delícia destes ventos.

Jornais são nossas fronhas, travesseiros
Lençóis, toda a nudez sem ter castigos.
Nas valas e nas fendas bons abrigos;

Larápios, sem vergonhas, trapaceiros,
A vida quase morte por um triz,
E a puta sensação de ser feliz!

3594

De tanto que o Judeu já foi vendido
Agora não me espanta quase nada,
O sangue pelos homens convertido
Só serve para a grana bem cevada,

Esta loucura toda faz sentido?
Amor nunca se fez só na porrada.
Mentiras espalhadas por bandido
No jogo feito em carta bem marcada.

Se crês assim terás farto milagre
Senão a vida segue pro vinagre.
Enquanto o povo sofre sem dinheiro

Vendendo o vero amor, vil trapaceiro.
E Cristo, com certeza tudo vendo,
De novo, a cada dia, vai morrendo...

3595

Que o diabo nos livre dos pastores
Que vendem o judeu por qualquer preço,
Ovelha que se perde dos louvores
Talvez encontre Deus e sem tropeço.

Milagres são vendidos numa esquina,
O caso é de polícia na verdade,
Mas logo a multidão já se alucina
E deixa se levar sem ter maldade.

O Cão que me proteja desta laia,
A súcia vagabunda de uma igreja
Que em tentação a gente sempre caia,
Felicidade é tudo o que deseja

Aquele que conhece o grande Amigo
Que vive o tempo inteiro, aqui comigo...

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