domingo, 23 de dezembro de 2007

SONETOS 105 E 106

Matéria que se faz em força bruta
Causando tantos males, invejosa,
A sorte se mostrando belicosa
Incide sobre nós, fomenta a luta.

Vibrando, até sorri, quanto executa
Em fúria tão venal, voluptuosa,
Fixando seu veneno em cada escuta,
Agarra meu destino, uma ventosa.

Futuro em suas mãos, logo restringe,
Cravando suas garras na laringe
Não deixa respirar, mostrando os dentes,

Somente uma esperança, mesmo tarde,
Formada pelo encanto da amizade
Craveja de brilhantes envolventes...

X

Um sentimento atroz e demoníaco
Tomara a minha vida em solidão.
Quem teve um grande amor paradisíaco
Não sabe mais singrar outra emoção.
Amor não é brinquedo pra cardíaco,
Nem morte pode ser a solução.

A dor que se aproxima traz novelos
Que enredam no meu peito em constrição.
Vazios são difíceis recebê-los
E mesmo converter em um perdão
A mão passa macia em teus cabelos,
Mas sinto no meu peito uma aflição

De quem já percebeu realidade;
Quem sabe restará tua amizade?

X


Deitando do teu lado, eu me recolho
E tramo mil vontades de prazer.
Na janela trancada com ferrolho
O vento vem sedento receber

Perfume que tu trazes, cada molho,
Vagando a noite inteira a nos dizer
Que a sorte nos mirando com seu olho
Garante sempre amor e bem querer...

Querida assim percebo e mal disfarço,
Ciúmes te garanto que ocultei
Em sentimento vago e tão esparso

Abraço fortemente enquanto entrego
Meu mundo nos teus laços, pois achei
Em ti, amor no qual enfim sossego...

X


Quem fala em sentimentos obsoletos
Ao referir assim à plenitude
Que faz dos corações bem mais inquietos
Não sabe quanto o amor tem atitude.

É nele que se encontram amiúde
As forças necessárias, bens completos,
Fazendo tanto bem para a saúde,
Efeitos desejáveis e diretos.

Um mundo que se mostra heterogêneo
Precisa da harmonia sem igual
Assim como faz falta um oxigênio,

Também amor se faz fundamental.
Não precisa ser decerto um gênio
Pra saber deste bem universal..

X


Perdoe se cometo um adultério
Falena; eu me entreguei em falsa luz.
A vida vai passando num mistério
Que embala nosso sonho e nos seduz.

Por vezes tanto eu quis sem ter critério
E assim, a dor se mostra e reproduz
O quanto desejei amor mais sério,
Porém a noite trouxe imensa cruz.

É certo que caminho mais descrente
De que um dia terei contentamento,
Mas voa, sem juízo, o pensamento,

E quer ser mais feliz, fazendo urgente
O que se necessita paciência.
Por isso, meu amor, peço clemência...

X

Não quero mais nem lágrimas nem riso.
Meu mote sempre foi teu belo encanto.
Mas saiba que sozinho, se preciso,
Percorrerei meu mundo sem um pranto.

Meu peito adormecendo sob a lua
Não sente uma amargura desfraldada
E sei que a vida assim se continua
Embora sem carinho, valha nada.

A fome que se mostra qual desculpa
Insana na procura de um instante
Sem mágoas, ou surpresas, quem me culpa

Também teve momento que, inconstante,
Soltou a nossa sorte em pleno vento,
Adormecendo, assim, o sentimento...

X

A lua refletindo luz tão pálida
Por sobre o corpo nu desta mulher.
Argêntea maravilha com mister
De ser minha rainha, doce e cálida...

A sorte que tivera quase esquálida
Refaz-se da maneira que eu quiser.
Na lua que te cobre, um bem me quer
Guardando uma esperança de crisálida...

Afloram meus desejos, em mansa lua,
Que emana sobre ti, como um cometa,
A força que trará tal borboleta

Maravilhosamente bela e nua
Cravando no meu peito a fina garra
Da deusa em perfeição, feita em Carrara

X

Meu coração imerso em catedrais
Dos
sonhos em longínquas, ledas datas.
Demonstra no vigor de serenatas
O quanto te queria bem demais.

Acordes dissonantes, sempre mais,
Adentram nas ogivas, colunatas
Deitando uma ilusão em velhas pratas,
Banquete que bem sei; terei jamais.

Mas vejo nestes sonhos, mãos suspensas
Que tocam o meu rosto com carinho.
Depois que tu partiste em desavenças,

O templo adormeceu, triste e sozinho.
Quem sabe voltarás em recompensas,
E a luz rebrilhará no nosso ninho...

X


Por que tu me deixaste? Em vão eu te pergunto...
A vida parecia um sonho mais contente.
Na paz que nos levava a amar eternamente!
Porém tu logo foste e mudei meu assunto.
Amor quando se quer é bom que seja junto.
Assim vivera um tempo enfim mais plenamente.

Mas Deus tempestuoso, em prantos me deixou
Somente esta agonia, um canto tão tristonho.
Agora sem ter rumo, incerto eu sempre vou,
Apenas me restando a lembrança num sonho...
A sorte de bendita, em dor se maculou.
O renascer da vida, amada eu te proponho...

Tu foste bem cedo, a vida inda me dói.
Mal sabes que no amor, a paz já se constrói...

X


Perdoe-me por nunca ter amado,
Não posso mais negar a realidade
De estar sempre sozinho. Um triste Fado.
Por isso eu peço, e tenho a liberdade,
De estar sempre comigo, do meu lado,
Além de todo amor, tua amizade...

As minhas fantasias, inconstantes,
Profundas incertezas já me tomam.
Às vezes ilusões tão delirantes
Que chegam, já me invadem e me domam.
Por outras tantas dores, por instantes
Em negra solidão depressa somam...

Um mundo que não sei se é bom, ruim,
Mas saiba, irei contigo até o fim...

X


A luz da rutilante e bela aurora
Transforma todo o dia em um mistério.
O brilho que depois se revigora
Promessa de esperanças lá d’etéreo.

Esplêndida manhã surge sonora
Por sobre todo o mundo, vasto império;
Toda a natura vibra mundo afora
Amor em plena aurora, um caso sério....

As bênçãos divinais não discriminam,
A todos os humanos trazem luz
E corações amantes se iluminam.

Aos loucos namorados, tanta gente..
Tal sorte benfazeja reproduz.
Qual sátiro profano, vou contente...

X

Aurora terminando, a vida passa...
A morte desafia e me persegue...
Quem fora caçador, se encontra caça,
Na fonte que se seca, vou entregue...

A vida se cansando, sangra, lassa...
Não haverá ninguém que me carregue,
Nos templos divinais, já se esfumaça
Qualquer que seja o sonho em que se apegue...

Aurora derradeira, vislumbrada,
Não deixe meus retalhos no caminho...
A vida que passei se fez marcada.

Sem lume vai secando meu jardim...
O tempo cruel fera traz sozinho
O mundo que remando, morre em mim...

X

Nas lilases auroras deste dia
Encontro-me sozinho, sem ter Lara.
Minha boca espumando poesia,
A esperança se mostra jóia rara.
Um resto em lusco fosco no meu dia.
Apenas ela chega e me antepara

Percebo, na verdade que; entretanto,
Teu braço, companheira, minha ponte
Com um futuro mágico, sem pranto,
A luz que se aproxima no horizonte,
Talvez no fim da vida, trague encanto.
Num túnel que se abrindo já me aponte

Num átimo o resplendor da claridade,
Envolto na potência da amizade...

X


Andar por tanto tempo sem destino,
Guardando no meu peito este segredo.
Morrendo pouco a pouco, desde cedo.
Sabendo que no fim, não extermino

A dor desta vontade de um menino
Que teve em cada queda, um mundo ledo, O gosto da saudade: amaro, azedo,
Mascarado em sorriso quase fino.

Se tanto me amofino e nada faço,
A culpa pode ser somente minha?
Se trôpego mal ando e me embaraço

Talvez tenha por sorte, na verdade,
O que resta de mim, em ti se aninha
Amiga. O que me resta. T’a lealdade...

X

As cores do desejo
Caleidoscopiamente
Reluzem qual lampejo
Tomando a minha mente,
Em teu corpo tracejo
Um verso mais contente

Que é feito da vontade
De ter o teu prazer
Em tal felicidade
Eu quero me perder,
Mostrando na verdade,
O nosso bem querer...

Amar em plena glória,
Certeza de vitória....

X

Sou manco, vou disforme, mas eu te amo.
Sou mero, nada tenho, sem futuro.
Se canto liberdade, eu temo um amo,
Se vago pelas ruas, vou escuro.
De tanta estripulia não reclamo,
O chão que sempre ampara é muito duro...

Caminho por savanas e cerrados,
Na busca do que fui e não achei.
Gritando por teu nome em altos brados,
Versejo meu destino em tua lei.
Pós todos os meus erros descontados
O que passeia aqui, o que sobrei.

Sou gauche nesta vida que nos cobra,
Rastejo te pedindo amor, qual cobra...

X

Amor nos surpreendendo em esperanças,
Repete os mesmos cantos, mesmas glosas,
Permite que sentindo umas mudanças
Refaça meu jardim em outras rosas.
Nos passos onde dou se não avanças,
Uma esperança trama versos, prosas...

Não quero carregar sequer desgosto,
Esse medo de ouvir mais forte o não.
Escondo tantas vezes o meu rosto,
E morro novamente em solidão.
Rei morto na verdade outro rei posto,
Resulta tanta dor de uma paixão...

Tu sabes que este amor cedo se esconde,
Procuro por seu rastro. Não sei onde...

X

Colhendo todo o sumo que me dás
Após nosso deleite extasiante.
Na busca primorosa sou capaz
De todo este torpor mais ofegante
Que a noite tão insana sempre traz
A quem em outro alguém se fez amante...

Sem fôlego depois destes passeios
Ao ver o teu olhar ensandecido
As mãos vão deslizando por teus seios,
Renovado caminho decidido
Em meio a tempestades sem receios
Um mar tão mavioso percorrido...

Estertorando em gozo, num deleite...
Nos doces e salgados, santo leite...

X


Em horas tão fagueiras
Convidas para a festa
Na dor damos rasteiras,
Alegria o que nos resta.

Na praia, nas palmeiras
Quem sabe na floresta,
As honras verdadeiras
A sorte enfim se atesta

E mostra, companheira,
Quanto a um carinho vale,
A mão demais certeira

Não deixa que se cale
A tal felicidade
No amor e na amizade

X


O sol que enfim já brilha
Trazendo uma esperança
Que faça da partilha
Um ato de aliança

Mostrando a maravilha
Que a vida assim alcança
Seguindo a doce trilha
Na qual a sorte avança

Em versos mais felizes
Em atos mais humanos,
Mudando gris matizes

Matando a falsidade,
Sepultando os enganos;
No poder da amizade!

X

Lembranças tão saudosas deste caso
Que nem o tempo pode transformar.
A lua vai nascendo neste ocaso
Banhando em pura prata o belo mar.
A vida não se faz e não quer prazo
Apenas no teu corpo navegar..

Bem sei que não vieste para a festa
Mas sinto que virás mais soberana,
Pois tudo o me encanta e que me resta
Nos olhos desta deusa já se explana
E vivo a procurar; lua e floresta,
Àquela a quem desejo e que me engana...

Não posso mais calar o sofrimento,
Buscando o teu amor, por um momento...

X


Nesse balé maldito, roda a vida,
Numa dança cruel, sem sentimento.
Não poderei jamais fugir, mas tento;
Quem sabe então verei uma saída...

Na contradança; o bem querer. Perdida
Uma alegria, o dia passa lento.
Não deixo de pensar um só momento
Na noite que se foi, na despedida...

Apenas vislumbrando uma farsante
Que escondes em sorrisos e disfarces.
Espelhas, na verdade tantas faces,

Num gesto mais cruel e provocante.
Jamais serei comparsa ou teu amigo.
Dançar em tal balé? Eu não consigo!

X

Balançando o coqueiro, eu peço a Deus
Que me dê um restinho de alegria.
Os dias que passei só foram teus,
Brincando no regaço de Maria.
Quem sabe claridade vê os breus
E conhece também manhas do dia.

Meus versos vão dizendo da paixão
Que é sempre tão traquinas e moleca.
Devora num segundo o coração,
Depois já sai sorrindo, esta sapeca.
Só restando o luar e o violão
Fazendo a gente logo de peteca.

Mas guardo disto tudo uma esperança
Vivaz como brinquedos de criança...

X

O tom em que pintara, não desfaço
Um semitom opaco, mas sincero,
Se o perto do mineiro dá cansaço,
Na curva do caminho eu não te espero...

A vida que me deu régua e compasso
Deixou já bem distante o quero-quero.
Menina, eu me aquecendo em teu abraço
Esqueço qualquer papo ou lero-lero.

Saudade dá coceira em meu nariz
Com cheiro desta lenha no fogão.
Eu sei que poderia ser feliz

Porém a vida sempre disse não.
Mas vivo no conforme Deus me quis,
Saudade maltratando o coração!

X


Bailarina que grácil me alucina
Nas curvas generosas se balança;
A boca que se mostra me domina,
Nos requebros gentis, sensual dança.

A fome dos desejos descortina
A noite que tateio nunca avança.
A mão que me promete nova sina.
Nos cabelos castanhos, laço e trança...

Os dedos já cobertos, finas luvas,
Atalhos esquecidos descobertos...
Meus olhos derrapando belas curvas.

Os sonhos erotizo e me agasalhas...
Nos botões da camisa que, entreabertos,
Penetram meus olhares qual navalhas...

X

A cabeça rodando: álcool, cerveja,
Nos velhos botequins... Tantas verdades...
Mentiras deslavadas? Se deseja
Em todos os momentos, liberdades.

Se eu não vejo; eu não creio. E que assim seja!
Sorrisos escondendo falsidades
Destilando em conhaque tais saudades.
Futuro que não vem, tanto se almeja.

Apenas uma sombra desfilando
Daquilo que passei há tanto tempo...
Amores que se foram, contratempo,

Mas resta uma lembrança, vez em quando,
De toda aquela festa semanal,
Na mesa deste bar, nosso ideal...

X


Quem fora mais forte
Se faz de repente
Sem rumo e sem norte
De tudo descrente,
Enfrentando o corte
Que fundo se sente.

Mas veja querida
Que a sorte que deu
Sentido pra vida
Já não se perdeu
Encontro a saída
No braço que é teu.

Na nossa amizade,
A felicidade!

X


Um porto onde decerto refugia
Em plena tempestade, o coração.
Moldando bem mais firme o dia a dia,
Deixando para trás a solidão.

Nos ermos mais longínquos nos conforta
Abrindo uma janela, traz o vento,
E assim em nossa vida, quando aporta
Expulsa o sofrimento, num momento.

Ajuda a carregar nossos destroços
Contém hemorragias, nos apóia.
Aperta bem mais forte nossos ossos
E mostra-se pepita, ou rara jóia

Na força soberana da amizade,
A vida vai ganhando qualidade...

X

Minhas costas lanhadas por vergastas
Marcando e destruindo o coração.
Amores decompostos, podres pastas
Deixando tão somente a podridão.
Não vês que sendo assim, de mim afastas
A sorte que escondeste num porão.

O sangue em que me banho, traz as moscas
Que invadem a comer minhas entranhas,
As luzes que percebo, fracas, foscas,
As dores que eu herdei, já são tamanhas.
Não sei destas vontades surdas, toscas,
Nem posso adivinhar o que tu ganhas

Trazendo para mim, desilusão,
Fazendo-me cativo, quase um cão...

X

Meus olhos se tornando quase pálidos
Numa ânsia sem limites, incontida.
Quem teve plenitude, traz esquálidos
Motivos pra seguir por toda a vida.

Meus dias que se foram, mais inválidos
Deixando toda a base destruída.
Quem dera se tivesse sonhos cálidos,
Assim talvez achasse uma saída....

Mas venho bendizer o teu apoio,
Que ajuda a ser mais forte e mais contente.
O tempo nos ensina trigo e joio,

E mostra como é rara uma amizade.
Por isso minha amiga, antes descrente,
Concebo meu futuro em liberdade...

X


As asas deste sonho, amor não corte.
Por mais que o tempo chegue e triste roa
Não deixe que este sonho morra à toa.
Meu canto necessita ser mais forte.

Embora sem temor sequer da morte,
Prefiro a placidez de uma lagoa.
Não basta que emoção já nos conforte
Preciso deste sonho que ressoa

Trazendo para mim, felicidade,
Que fora a companheira procurada,
Amada não destrua esta amizade

Depois que o amor passar, não sobra nada
Senão o que mais vale, na verdade,
Fazendo nossa senda iluminada...

X

A vida desafia e já nos doma,
Um coração que outrora foi guerreiro.
Agora se perdendo já se assoma
E mostra-se mais frágil, por inteiro.
Porém te entrego amor. Renove a soma
Vencendo o medo, velho carniceiro.

Os dias que formaram primaveras
Distantes deste inverno que hoje vem.
Parece que já foi em priscas eras
Por tanto tempo andei ser tem ninguém.
O peito em que se abriram tais crateras
Um fio de esperança agora tem.

Rebelde coração, sem rumo ou meta,
Explica, na verdade, o ser poeta...

X


A noite sem teus braços esfriava
E vinha em pesadelos, tal tortura.
Sozinho pelas ruas, eu cismava
Na insanidade imensa da procura.
A sombra da saudade me rondava
E nada prometia uma ternura...

O vento que batia na janela
Do quarto onde não tinha mais sossego.
Mentia ao coração: Deve ser ela!
Somente o vento vinha. Peço arrego,
E nesta poesia se revela
Perdão que assim te imploro. Quase cego

Sem as luzes divinas deste olhar,
Querida... Por favor, vem me buscar...

X


Qual árvore que perde tantos galhos,
Sem folhas num inverno rigoroso,
A vida me negando os agasalhos
Esquece de trazer amor e gozo.
Meus atos e palavras são tão falhos,
E nada me fará mais orgulhoso

Dos dias que passei em meu verão,
À sombra das palmeiras, solitário.
Agora é que percebo o quanto então
Amar era decerto necessário.
A vida sem sentido ou emoção
Espera pelo som de um campanário...

Mas resta no meu peito uma lembrança
Bem vaga de que tive uma esperança...

X

A vida se passou sem conformismo
Na luta interminável sem descanso,
À beira de um gigante e negro abismo.
Porém; agora eu vejo, nada alcanço
Senão a dor terrível por batismo.
Nem mesmo doce margem, ou remanso.

Angústias inundando em tempestade
Sem
chances de lutar ou de fugir.
E tudo o que queria, nesta tarde,
Um sol que assim pudesse refletir
Que pelo menos traga qualidade
À noite que, bem sei, irá surgir.

Um resto de esperança, uma amizade,
Tramando em fim de túnel, claridade...

X

Na mansidão serena em que tu dormes,
Às vezes um momento faz lembrar
Os velhos sentimentos, que disformes,
Não deixam de ferir e de tocar.
Amores que se foram, tão enormes,
Qual fossem uma força elementar

Não deixam em sossego quem sofreu.
Assim como um cometa mais errante
Em ciclos retornando em treva e breu
Por mais que a vida siga pra adiante
As dores ancestrais num sonho teu
Retornam e ferindo a cada instante

Não deixam que caminhe e que prossiga.
Liberte-se; eu te peço, minha amiga...

X


A vida colocando pá de cal
Em todas esperanças que trazia,
Num ato em desespero, sem igual,
Matando pouco a pouco, em agonia.

O golpe desferido foi fatal
Deixando para trás o que eu queria.
Na dor angustiante, uma ancestral
Certeza de que nada poderia...

Mas vindo bem distante um novo vento,
Assoma e toma a forma magistral
Que invade, sem pergunta o pensamento,

Demonstrando um resquício em claridade.
Na força que demonstra que a amizade
Retrata um santo Deus, fenomenal...

X

Serpenteando louca sobre mim,
Tocando cada poro com vontade.
A boca tão sedosa e carmesim,
Na fúria de quem quer saciedade

Irei contigo, amada, até o fim.
Já não me importa mais se a tempestade
Promete transbordar vibrando assim
Até que venha o gozo de verdade...

Qual náufrago que imerso em maravilha
Percorre
todo o mar, um timoneiro,
Vasculho de teu corpo cada trilha

Até saber de tudo, por inteiro.
No tato, no sabor, no olhar que brilha,
Ouvindo tua voz, sentir teu cheiro...

X

Às vezes também sou irracional
E arrasto meus defeitos pela casa.
Um verso que se mostra tão boçal
Negando ao passageiro vôo e asa.

Vou farto do mergulho que abissal,
De tanto que foi dado não me apraza.
Caminho pelas ruas, animal
Que morre num segundo, em chama e brasa.

Passado sem resquícios nem saudades,
Mortalha da ilusão que não mais trago.
A morte anunciando o seu afago

Avançando em intrépida vertente.
Eu deixo tão somente as amizades,
Embora tantas vezes mais descrent
e...

X

Quem busca, nas guerrilhas, pelas pazes
Não sabe quanto mata uma peçonha
Embora tal antídoto que trazes
A dor desta ferida é tão medonha.

A morte vem trazendo estas tenazes
Marcando uma esperança mais risonha.
Os dentes da pantera são vorazes,
Deixando com que a vida não se exponha.

Meus olhos destruídos pelo brilho
Feroz de quem tentei ter por amante.
Aborta um bom futuro, mata o filho,

E mesmo assim se quer mais deslumbrante
Assim é na amizade, uma traição,
Causando uma indefesa convulsão...

X

O meu desejo busca, alucinado,
O teu perfume doce e sedutor,
Deitar-me calmamente do teu lado,
Fazendo toda noite, insano amor.
Vibrando meu prazer extasiado,
Estou aqui, querida, ao teu dispor...

Sentir a carne dura da morena,
Os seios maviosos, boca, dentes...
Despetalando assim, essa açucena
Tocado por desejos mais prementes.
O vento tão distante já me acena
Estarmos bem juntinho... também sentes?

Brincarmos... mil carinhos e loucuras...
Ternuras e vontades são torturas...

X


Os meus ossos expostos no canteiro
Soltando minha voz neste terraço.
Inverno vem batendo derradeiro
E a moça que se foi, sequer abraço,
No mundo sem limites, passageiro,
Deitado no canteiro, meu cansaço.

O que se fora verso agora morre,
No vulnerável sonho da paixão,
Apenas o teu laço me socorre,
Resgata o que restou da podridão
Que pelas ruas foge e quase escorre
Deixando simples rastro sim ou não...

Louvando, meu amigo, os teus esforços,
Te entrego como prêmio, os meus destroços...

X


Não espero, da vida muito mais
Que ela possa me dar em tal ventura.
Amar? Eu tanto amei, até demais,
Num misto de tortura e de ternura.
Agora vou vivendo pela paz
Que é tudo o que desejo e que me cura...

Fortuna deste amor que nunca veio,
Saudades do que nunca, enfim, vivi.
Amada, na beleza do teu seio
O mar de amor imenso que perdi,
Eu tento segurar o meu anseio,
Mas veja, de repente estou aqui...

Mendigo teu carinho, amada minha.
Minha alma já não quer ser mais sozinha...

X


Quantas vezes esqueço de dizer
Coisas que bem sei são importantes.
Difícil tantas vezes perceber
Se a gente não pensar, ficam distantes.

Às vezes me empolgando com lazer
Achando que seriam triunfantes
Os gozos e as falácias do prazer.
Mas vejo que se foram, bem farsantes.

Da antiga companheira, abandonada
Num canto qual retrato na gaveta
Jogada, quase assim, amarelada,

Na tinta que termina da caneta.
Porém depois do amor, resta amizade
E eu reconheço ali a liberdade..

X

Seguindo par em par por arvoredos;
Nas águas cristalinas deste rio
Que desce em cachoeira por rochedos
Depois de ter nascido em frágil fio;
Guardado sob a terra em seus segredos.
Banhando um coração antes vazio...

As águas de teus olhos quando choras,
Saudades de quem foi e não voltou.
Os dias vão passando em duras horas,
Apenas tuas lágrimas deixou
Aquele amor que; triste, ainda imploras
Com toda uma esperança que restou...

Amor que sei que forte, inda resiste,
Neste meu coração, amargo e triste..

X

Bebendo da nascente, cada gota,
Tomando tuas fontes para mim.
A sede se sacia, a fome esgota
Na boca que me beija, carmesim,
Ao mesmo tempo invado cada toca
Do amor que vai intenso até o fim...

Os teus dentes, as unhas, firmes garras
Cravadas no meu corpo, teus anzóis.
Vou preso em tuas pernas qual amarras
Sob esse brilho imenso, olhar quais sóis;

No curso deste rio inebriante
Percorro tuas matas e magias...
E morro em cachoeira a cada instante
Nas ondas convulsivas que fazias...

X

Saudade de quem tive há tantos anos...
Estrela soberana de meus dias.
Agora na mudança desses planos
Apenas me restaram agonias.

Na catedral das dores, desenganos.
As noites invernais, bastante frias.
Meus olhos em vazios desumanos
Refletem tão somente as fantasias...

Quem sabe tu virás mais distraída,
Num sonho que parece uma miragem
Percebo que esta sorte já perdida

Talvez retorne em última viagem,
E traga quem pensei estar perdida...
Mas sinto: isto não passa de bobagem...

X

O canto de amizade em que se faz
Um monólito sonho que nos toma.
Sabendo que por isso sou capaz,
Eu multiplico sempre a bela soma

Da qual toda amizade já nos traz
Mundo que eternamente satisfaz.
Um passo bem mais firme se retoma
Distante de quem vive na redoma.

Não quero solidão como parceira,
Eu quero tão somente esta alegria.
Mostrada em teu sorriso, companheira.

Além de todo o canto que trazia
No peito escancarado de emoção,
Portando em tanto amor, dedicação...

X

Vencendo toda dor que nos afeta,
Contando com apoio de uma amiga,
Permite-se que a vida enfim prossiga
E vá em direção à nossa meta.

Esta verdade mostra-se completa,
Embora repetida e tão antiga.
A força da amizade é nossa viga
E trama uma manhã que se repleta.

Meus passos são mais firmes neste rumo,
Pois tenho a companhia de teus braços.
Ajudas a manter mais forte o prumo

Ditando muitas vezes, com teus traços
Avaliando assim quais os espaços
Nos quais com mais firmeza, eu já me aprumo.

X

Na agreste solidão de fim de amor
Adormece a menina que sonhara.
Esvaece na mulher com tal vigor
A vida que se fora bela e rara.
O que fazer do sonho sedutor
Que morreu boca seca e tão amara.

Brincando em carruagens e reinados,
Os olhos se esqueceram de sentir
Os dias que se foram enganados
Deixaram simplesmente de pedir
Momentos mais felizes e encantados
Roubando sem querer, o que há de vir..

Um batom, um salto alto, outro sorriso...
A porta escancarando um paraíso...

X

“Agora vou mudar minha conduta”;
Eu não suporto mais tanta mentira.
Se a vida se anuncia assim mais bruta
Metade da maçã já se retira
Raposa vai morrendo tão astuta,
Meu coração batendo não atira..

Conversas que tivemos tanto assim,
São frases esquecidas no boteco.
Chamando o seu amor só para mim
Jamais escutarei sequer um eco.

Por isso nada faço sem você,
Mendigo o teu carinho pelas ruas...
Procuro minha cura, mas cadê?
As camas vão ficando sempre nuas...

X

Mulher amada! Vivo esta magia
Das terras amorosas num estio.
A cútis calejada aos poucos cria
Um sonho delicado e bem macio.

Meus olhos embotados de tristezas
Se tornam meigos, mansos, companheiros.
Tu vês assim tantas belezas
Nascidos nos espinhos costumeiros...

Um príncipe se erguendo em seu castelo
Surgido nos barracos e taperas.
Num trono imaginário, num rastelo,
As flores numa eterna primavera...

Mulher amada; sonha eternidade
Distante desta rude realidade....

X


Se nunca mais terei amor igual
Ao que mostraste amada em sobremesa,
Por certo esta comida me fez mal
Matando o que restara da princesa
Forrada na ilusão de um ser boçal
Que morre sem saber da correnteza...

A casa alicerçada sobre a areia
Desaba na primeira ventania.
No rabo disfarçado da sereia
Escama se mostrando áspera, fria.
Maré que me afogava, nunca cheia,
Aos poucos foi secando até que um dia

Teu riso escancarado e sem disfarce
Abriu em ironia uma outra face...

X


Em toda sua glória, a formosura
Que se mostra, porém, tão perecível
Por mais que nos pareça ser incrível
Bem menos do que pensas, ela dura.

Um dia a noite chega e sem brandura
Irá matando um sonho. Tão falível
Esta ilusão que doura, indefinível,
Não tem eternidade, e não perdura...

Porém tua alma límpida querida,
Decerto manterá toda a beleza.
Tua amizade sempre põe a mesa,

E nela uma razão pra nossa vida
Mesmo sem mocidade, já perdida,
Manterás juventude, com certeza.

X


Mantendo estes teus olhos tão abertos
Envolves minha vida com teus braços.
Ocupas mansamente os meus espaços
E tramas venalmente tais desertos.

Os dias reticentes vão incertos,
Marcados por teus passos duros traços.
Penetram minha carne, frios aços,
Mortalhas em que os sonhos são cobertos.

Tu queres minha vida solitária,
Deixando em purgação meus sentimentos.
Cansado destes ritos, teus lamentos,

Procuro uma esperança solidária
Que trague ao fim do tarde, uma amizade
Indícios da manhã em liberdade...

X


A doce embriaguez que me domina
De bar em bar a noite desfiada.
Gosto de liberdade que alucina
No copo e na cerveja derramada.

Vermutes e conhaque e a calibrina,
Não resta nas garrafas quase nada.
Somente o beijo doce da menina
Deixando minha boca adocicada...

Meu mundo destruído e sem ter volta;
Os olhos fumegantes denunciam...
Porém em tua boca, esta revolta;

Amor se refazendo da fumaça
Reclames de jornais já me anunciam
O banco me convida, a mesma praça...

X


Amigo, eu percebi o teu valor
Na hora mais exata em que caía
Por terra meu castelo encantador.
Aí eu percebi, pois logo via

Que todos me deixavam. Morta a flor
Nem mesmo o meu canteiro resistia.
De todo o bem que sei que ainda havia,
A seca foi demais, morreu amor

E tudo o que chamavam de amizade.
Pois foi nesse momento, quase vão,
Que eu encontrei decerto esta verdade

Que mostra bem de perto a realidade.
Vieste com apoio ou compaixão,
Tal qual fosse um parente, mais que irmão...

X


Não quero assim perder tua amizade.
Às vezes sou cruel, eu reconheço.
Porém no meu caminho, este tropeço
Jamais irá mudar a qualidade

Daquilo que eu bem sei, traz claridade
E traz sempre esperança em recomeço.
Castigo, companheira, isso eu mereço
Mas não faças assim, por caridade...

Eu sei todo o valor do que sentimos
Também percebo em ti o braço forte,
Que guia com firmeza, traça o norte,

Dos sonhos que em conjunto perseguimos...
Desculpe se eu cometo algum engano.
Errar, tu sabes bem, isso é humano...

X



Tu falas, meu amor, em casamento.
Que pensas desta vida, eu te pergunto?
Gostoso é namorar, sem sofrimento
Não tem esse negócio de andar junto.

Reclamas quando eu mudo pro outro assunto;
Eu na verdade, digo: não agüento
Só comer mussarela com presunto
No almoço, no jantar, todo o momento...

Quem dera se na vida eu fosse um pato.
O bicho que eu mais gosto e mais admiro.
De resto, na verdade eu ando farto.

Perguntas: por que pato enfim, prefiro?
Eu te falo, isso nunca foi segredo:
Jamais cabe aliança no seu dedo...

X

Não vale tanto a pena trabalhar,
Eu sei que o meu esforço não compensa.
Quem leva a vida inteira a desfrutar
Já tem, no mesmo instante, a recompensa

Agir bem mais depressa do que pensa
É com certeza sair deste lugar.
Senão amiga, ficas hipertensa:
O derrame ou enfarte vais ganhar.

Cachorro sabe o duro que é ter dono
Não podendo sequer mais virar lata.
Melhor viver sozinho no abandono

Do que chicote firme que maltrata.
Patrão? Quem sabe tudo já descarta.
Pois quem cedo madruga... só tem sono!

X


Quem sabe com perícia demonstrar
Habilidades raras, mais prementes
Percebe como é fácil conquistar
Tomando-me em seus braços envolventes.

Na boca que me beija devagar
Perícia com que morde, mansos dentes.
Levando num segundo a flutuar
Rasgando todo o céu, no amor que sentes.

Querida caminhar sem ter descanso
Vagando pelos astros, meu destino,
Encontro o teu amor, e assim me lanço

Depressa em tua casa, no teu pátio...
Pois sei que em teu carinho eu me alucino,
Jamais alguém supera-te em felatio...

X

Embora teus carinhos, sei aos molhos,
Não posso desfrutar integramente.
Esmeraldinos, belos os teus olhos
Brilhantes a tocar, tão inocentes.

Futuros que me mostras são zarolhos
Rancores demonstrados, tolamente,
Tu serves de repasto a tais piolhos
Que vagam no teu cérebro, t’a mente.

Percebo a fetidez de cada flato
Que emanas em locais bem mais diversos.
Desculpe se descrevo este mau fato

Bendito quem não mente, salvador
De olfatos. Mas perdoe estes meus versos
Que enaltecem, por certo cada odor...

X


Amiga, Deus permita o teu deleite
Flambando uma emoção no dia a dia.
E peço, encarecido que me aceite
Revigorando um canto em fantasia.

Não quero ser somente o teu enfeite
Nem ser teu acalento quando esfria
Dos céus que se esparrama em branco leite
Percorro uma ilusão, seguindo a via

Que desemboca sempre no teu mar
E forra com estrelas piso e chão,
Desculpe se aprendi tão cedo amar

A quem se fez amiga e companheira.
Há tempos vou contendo esta ilusão
Que aflora, num momento, e vem inteira...

X

Em Lesbos, os sonetos mais perfeitos
De amores e de sonhos tortuosos.
Desejos que só foram satisfeitos
Em versos muitas vezes sinuosos.

Mostrando em decassílabos o amor,
Que Safo dedicava em raro tom,
A poesia fez-se em tal valor
Na imensidão do sonho, todo o dom

De quem ao demonstrar o seu talento
Criou legando para a eternidade
Na forma de expressar seu pensamento
Cantando sempre amor ou amizade.

Assim enaltecendo em poesia,
Eu agradeço a lésbica alegria...

X

Recordo-me de cada entardecer
Teus olhos deslumbrantes, qual safira
Que em mágico vislumbre pude ter
Nos meus enlanguescidos. Numa lira

Cantara esta emoção do bem querer.
Meu canto inebriado assim delira
Acordes sequiosos de querer.
Porém num triste dia, em revolta, ira,

Os teus olhos partiram p’ra além-mar.
Deixando tão somente estas espumas
E esta vontade louca de encontrar

De novo as maravilhas, esmeraldas.
Depois de naufragar milhões de escunas
Percebo o brilho raro que desfraldas...

X

“Puta que pariu,
Pisa no freio Zé”

César e Paulinho



Não entre em desespero, caro amigo.
A vida traz doridas fantasias.
Tu sabes que estarei sempre contigo
Lutando contra o mal, todos os dias.

Se um sonho mavioso, eu já persigo,
Também sei que este brilho tu querias,
Porém se condenado ao desabrigo
Terás com quem contar, disso sabias...

Mas vá mais devagar, pise no freio.
Que a vida mostrará uma saída.
Eu digo: não precisas ter receio

Compartilhamos sempre nessa lida,
Entendo na verdade, teus anseios,
Mas deixe que ela siga, vã, perdida...

X


Que o sofrimento seja sempre breve
Idílio aprofundando tanta dor.
No peito esfumaçado fome e neve
Resquício de quem fora um sonhador.

Que o vento da ilusão distante leve
Fornalha de esperanças, onde for
A mão de quem queria não se atreve
E deixa amortalhado um grande amor.

Sonhara em noites claras; um insone.
Aguardando o chamar do telefone
Mas nada, nada vem e nem virá.

As chagas vou expondo pouco a pouco,
E sinto: ficarei por tanto louco,
Apenas a amizade restará?

X


Qual sino que dobrasse dentro em mim
Saudades
vão minando a resistência
Relembro nos teus olhos inclemência
E o vago que deixaste em meu jardim.

Não posso mais fugir da penitência
Herdada pelo quanto quis assim.
A noite de minha alma chega ao fim.
O resto? Obnubilando a paciência...

Às vezes mitigando o sofrimento
Recordo de teus olhos, tua pele
Sorrio, nem que seja um só momento.

Mas logo a consciência me repele
E volto qual um náufrago sedento
Oásis da saudade assim compele...

X

A Musa que num sáfico romance
Se entrega destemida e mais audaz.
Percebe a maravilha de um nuance
Que traz felicidade e satisfaz.

Homérica vontade: ser feliz.
Em conchas repartidas, mar imenso.
A Musa desta Ninfa colhe o bis
Pensando noutro Phebo mais intenso.

As águas caudalosas vertem rios
Que invadem em cascatas, as montanhas,
Adoçam, aquecendo mares frios
Trazem fertilidade pr’as campanhas.

E assim destes fluidos derramados
Os mundos se tornando povoados...

X

Nos claustros dissemina-se a luxúria!
Muita vez em onânico romance
Aquilo que p’ra outrem mostra-se incúria
Para outros, do prazer única chance.
Nas faces mais venais em plena fúria
Inveja de quem tem a performance

Mais sublime num ato em que se faz
Com toda plenitude soberana
Caminho bem mais certo que ao nirvana
Se mostra verdadeiro embora audaz.
Um gesto corriqueiro em que se explana
Do que nossa Natura é mais capaz.

Nem sempre se é possível um dueto,
Por isso amor, em solo, eu me arremeto...

X


Permita-me distância em letargia
Da
infausta solidão que ora aproxima.
Sedento de beber da poesia
Em desagravo moldo cada rima.

Um verso que se faz pura alegria,
Na luta contra a dor, sempre se esgrima.
E a sorte que benquista enfim se fia
Na mão de quem nos toma em rara estima.

Meus olhos vagamundos quase errantes,
Aguardam pelos rastros deste encanto.
Em raios mais gentis e fulgurantes

Forrando meu destino em claridade,
Amiga eu quero ser qual helianto
Que busca todo o sol dessa amizade...

X

Ourives da esperança em sonho augusto
Amor se faz em lúdico garimpo.
Quem ama sabe ser, decerto, justo
Pois tem um coração deveras limpo.

Uma alma diamantina se eterniza
Ao crer nas diluências da emoção.
Porém uma alma cínica graniza
E forma em elo inóspito um senão.

Espadas adentrando as armaduras
Que usamos como forma de defesa,
Nas mãos de quem propaga amor, ternuras,
Impelem para longe da tristeza.

Expressando palavra e sentimento
Auguro meu futuro em calmo vento...

X

De um túmulo soturno assim surgia
Alvíssima beleza deslumbrante.
Alquímica mortalha que em magia
Num
átimo se mostra aqui, diante

Dos olhos de quem nunca mais veria
O dia renascer irradiante.
O beijo sacrossanto que daria
Sugando toda a vida num instante.

Noctâmbula insensata embriaguez
Levara-me a seus braços, turva senda.
Paisagem maviosa enquanto horrenda.

Levando em avalanche a lucidez.
Debruço-me num ato de loucura
E bebo todo o sangue com ternura...

X

Saudade crocitando no meu peito
Em lástimas e lágrimas se fez.
Alcançando ideais, insensatez
Matando pouco a pouco do seu jeito.

Sobrepesa e desfaz o que foi feito
Marcando minhas carnes, minha tez,
Deixando este cadáver que já vês
Deitado sem motivos no meu leito.

Saudade preparando um golpe atroz,
Ferrenho, sem defesas, mais profundo.
Um lobo que se mostra assim feroz

Com dentes afiados. Eis saudade.
Escárnio em que me afogo e assim me inundo.
Num irônico riso, a tempestade...

X

Arranco minha pele esmago os olhos,
E mostro uma nudez mal disfarçada.
Andando por caminhos com antolhos,
Durante tanto tempo não vi nada

Senão uma promessa que em abrolhos
Demonstra
uma dureza nesta estrada.
Que é feita um puro espinho, extorque os molhos
Das flores que morreram na invernada.

Meus versos são mais rudes e venais
Porém só se amenizam quando escuto
Um laivo de esperança que me traz

Palavra carinhosa e mais amiga.
Por vezes escondido no meu luto,
Teu canto assim permite que eu prossiga...

X

Depois de andar por negras, tristes brumas,
Em busca de esperança, flor tão rara.
Perdido sem ter rumo em tal seara,
Ouvindo imenso mar pleno de espumas.

Nas horas em que sonho, já te esfumas
E vais por outra senda, menos clara.
Estrelas de ilusões, dura tiara
Restando no meu peito só algumas...

Cortejos de falácias, desenganos,
Causando uma cruel, má perspectiva.
Disformes sensações. Apenas viva

A vaga sensação de claridade
Que doura a fantasia em novos planos
Na força de seus braços, amizade...

X

Viemos de um passado nebuloso
Aonde se calava a consciência
Em nome da moral e da decência
Fizeram deste povo um cão leproso.

Jogado nos porões da ditadura,
Dizendo que o prazer nos traz pecado.
Deixando o pensador quase calado,
Na noite pestilenta da tortura.

Calando toda a sorte de vontade
Em nome de uma falsa punição
Roubando a verdadeira cristandade

Que é feita em pleno amor, e no perdão.
Da corja que abortou uma amizade,
O restolho pior da humanidade...

X


Desta moral burguesa, a falsidade
Se faz a cada dia mais insana.
Distantes dos grilhões, a liberdade
Em versos e nos gestos já se explana
Mostrando que talvez uma amizade,
Verdade que se exprime soberana,

Não possa mais conter hipocrisia
Nem mesmo misturar-se com mentiras.
Ao me lembrar de Amanda que dizia
Dos corpos estirados pelos tiras,
Jogados pelas ruas, carnes frias,
Percebo que também tu logo atiras

Talvez não entendi palavra amiga.
Quem sabe se eu fingir, enfim consiga?

X


Em frases histriônicas, vergastas
Que flambam nossas costas em chibatas.
As horas sem porvir que foram gastas
Nas entranhas fomentam as cascatas

Doridas e portanto mais escusas
Fornalhas em cruel vicissitude.
Palavras que trocamos tão confusas
Marejam mascarando a juventude.

As hostes que embalaram nossos sonhos
Vestidas em vestal insensatez.
Adentram meus caminhos mais bisonhos
E matam esperanças de uma vez.

Porém o que me resta e não me turva,
O brilho da amizade salva a curva...

X


Meu ideal por certo já cintila
Nos olhos de quem soube ser amiga.
No passo em que permites que eu prossiga
Demonstras a amizade mais tranqüila.

Qual lume que irradias na pupila
De quem dentro dos sonhos já se abriga
Tu sabes do carinho em que esta viga
Se fez do chão barrento, de uma argila.

O mesmo Deus que um dia, soberano
Mostrou toda pureza e raro ardil,
Executando firme, um belo plano

Criando em espelhar caricatura
Um ser que talvez fosse mais gentil,
Dourou nossa amizade, com ternura...

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